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Escoamento dos esgotos 

O fluxo natural dos esgotos é por gravidade, isto é, os esgotos fluem


naturalmente dos pontos mais altos para os pontos mais baixos. As águas
residuárias provenientes das habitações, estabelecimentos comerciais e
industriais, instituições e edifícios públicos e hospitais, são conduzidas pelas
redes coletoras aos coletores tronco e interceptores.

As canalizações coletoras de esgotos sanitários recebem ao longo de seu


traçado, os coletores prediais (domésticos, comerciais, industriais etc.).

Cada coletor predial recebe e transporta os seus esgotos, à medida que no


interior das habitações os aparelhos sanitários vão lançando os dejetos
correspondentes às águas utilizadas para os diversos fins, O escoamento nas
canalizações das extremidades iniciais é bastante irregular, não só quanto às
vazões, como também quanto aos intervalos de tempo de funcionamento ao
longo do dia. A medida que os esgotos atingem condutos de maiores
dimensões, o fluxo vai se tornando contínuo e mais regular.

Pelo fato do escoamento dos esgotos ser por gravidade, as canalizações


necessitam de uma determinada declividade que possibilite o transporte das
águas residuárias até o seu destino final. O escoamento dos esgotos deverá
ocorrer sem problemas que impliquem em obstruções das tubulações ou
demais danos que prejudiquem o perfeito funcionamento de todas as unidades
que compõem o sistema de esgotos sanitários.

O dimensionamento hidráulico das canalizações é feito de forma que o esgoto


não chegue a ocupar todo o espaço interno da tubulação. O líquido atinge
apenas um determinado nível, inferior ao diâmetro interno da tubulação,
possibilitanto então, seu escoamento por gravidade, sem exercer pressões
sobre a parede interna do tubo.

Tipos de sistemas de coleta e transporte

Existem basicamente dois tipos de sistemas como soluções para o esgotamento


de uma determinada área:

 sistema individual
 sistema coletivo 

Os sistemas coletivos podem ser dos seguintes tipos:

 sistema unitário ou combinado


 sistema separador

Os sistemas separadores podem ser subdividos nas seguintes modalidades


principais:

 sistema convencional 
 sistema condominial

Sistemas individuais

Sistemas adotados para atendimento unifamiliar. Consistem no lançamento dos


esgotos domésticos gerados em uma unidade habitacional, usualmente em
fossa séptica seguida de dispositivo de infiltração no solo (sumidouro, irrigação
sub-superficial).

Tais sistemas podem funcionar satisfatoria e economicamente se as habitações


forem esparsas (grandes lotes com elevada porcentagem de área livre e/ou em
meio rural), se o solo apresentar boas condições de infiltração e ainda, se o
nível de água subterrânea se encontrar a uma profundidade adequada, de
forma a evitar o risco de contaminação por microrganismos transmissores de
doenças.

Sistemas coletivos

À medida em que a população cresce, aumentando a ocupação de terras (maior


concentração demográfica), as soluções individuais passam a apresentar
dificuldades cada vez maiores para a sua aplicação. A área requerida para a
infiltração torna-se demasiado elevada, usualmente maior que a área
disponível. Os sistemas coletivos passam a ser mais indicados como solução
para maiores populações.

Os sistemas coletivos consistem em canalizações que recebem o lançamento


dos esgotos, transportando-os ao seu destino final, de forma sanitariamente
adequada. Em alguns casos, a região a ser atendida poderá estar situada em
área afastada do restante da comunidade, ou mesmo em áreas cujas altitudes
encontram-se em níveis inferiores. Nestes casos, existindo área disponível cujas
características do solo e do lençol d’água subterrâneo sejam propícias à
infiltração dos esgotos, poder-se-á adotar a solução de atendimento coletivo da
comunidade através de uma única fossa séptica de uso coletivo, que também
atuará como unidade de tratamento dos esgotos.

Em áreas urbanas, a solução coletiva mais indicada para a coleta dos esgotos
pode ter as seguintes variantes:

 Sistema unitário ou combinado:  os esgotos sanitários e as águas de


chuva são conduzidos ao seu destino final, dentro da mesma
canalização.
 Sistema separador  os esgotos sanitários e as águas de chuva são
conduzidos ao seu destino final, em canalizações separadas.

Sistema unitário ou combinado

Neste sistema, as canalizações são construídas para coletar e conduzir as águas


residuárias juntamente com as águas pluviais.

 Os sistemas unitários não têm sido utilizados no Brasil, devido aos seguintes
inconvenientes:

 grandes dimensões das canalizações; 


 custos iniciais elevados; 

 riscos de refluxo do esgoto sanitário para o interior das residências, por


ocasião das cheias; 

 as estações de tratamento não podem ser dimensionadas para tratar


toda a vazão que é gerada no período de chuvas. Assim, uma parcela de
esgotos sanitários não tratados que se encontram diluídos nas águas
pluviais será extravasada para o corpo receptor, sem sofrer tratamento; 

 ocorrência do mau cheiro proveniente de bocas de lobo e demais pontos


do sistema; 

 o regime de chuvas torrencial no país demanda tubulações de grandes


diâmetros, com capacidade ociosa no período seco.

Sistema separador

Algumas cidades que já contavam com um sistema unitário ou combinado, há


décadas atrás, passaram a adotar o sistema que separa as águas residuárias
das águas pluviais, procurando converter pouco a pouco o sistema inicial ao
novo sistema.

Outras cidades que ainda não tinham sido beneficiadas por serviços de esgotos,
adotaram desde o início o sistema separador absoluto, no qual procura-se
evitar a introdução das águas pluviais nas canalizações sanitárias.

No Brasil, adota-se basicamente o sistema separador absoluto, devido às


vantagens relacionadas a seguir:

 o afastamento das águas pluviais é facilitado, pois pode-se ter diversos


lançamentos ao longo do curso d’água, sem necessidade de seu
transporte a longas distâncias; 
 menores dimensões das canalizações de coleta e afastamento das águas
residuárias; 
 possibilidade do emprego de diversos materiais para as tubulações de
esgotos, tais como tubos cerâmicos, de concreto, PVC ou, em casos
especiais, ferro fundido; 

 redução dos custos e prazos de construção; 

 possível planejamento de execução das obras por partes, considerando a


importância para a comunidade e possibilidades de investimentos; 

 melhoria das condições de tratamento dos esgotos sanitários; 

 não ocorrência de extravasão dos esgotos nos períodos de chuva


intensa, reduzindo-se a possibilidade da poluição dos corpos d’água.

 O sistema separador possui as seguintes duas modalidades principais:

 Sistema convencional 
 Sistema condominial

Sistema convencional

 A solução de esgotamento sanitário mais frequentemente usada para o se faz


através dos sistemas denominados convencionais.

As unidades que podem compor um sistema convencional de esgotamento


sanitário são as seguintes:

 canalizações: coletores, interceptores, emissários; 


 estações elevatórias; 

 órgãos complementares e acessórios; 

 estações de tratamento; 

 disposição final; 

 obras especiais.

Ao se estudar as alternativas de esgotamento sanitário de uma localidade, é


usual delimitar-se as bacias sanitárias a serem esgotadas. A bacia sanitária é a
área a ser esgotada, contribuinte por gravidade num mesmo ponto do
interceptor. 

Para a coleta, condução e destinação adequada dos esgotos sanitários gerados


na área em estudo, deverão ser estudadas alternativas diferentes. As soluções
de tratamento dos esgotos coletados, seja em estações localizadas em pontos
diferentes ou mesmo uma única estação de tratamento para atendimento a
toda a população, deverão ser concepções cuja solução mais adequada deverá
ser selecionada após criterioso estudo técnico-econômico de alternativas
possíveis para as diversas partes do sistema.
Partes constitutivas do sistema convencional

Ramal predial - Os ramais prediais são os ramais domiciliares, que


transportam os esgotos para a rede pública de coleta.

Coletor - Os coletores recebem os esgotos das residências e demais


edificações, transportando-os aos coletores-tronco. Por transportarem uma
menor vazão, possuem diâmetros proporcionalmente menores que os das
demais tubulações.

Coletor-tronco - Os coletores-tronco recebem as contribuições dos coletores,


transportando-os aos interceptores. Os diâmetros são usualmente mais
elevados que os dos coletores.

Interceptor - Os interceptores correm nos fundos de vale, margeando cursos


d’água ou canais. Os interceptores são responsáveis pelo transporte dos
esgotos gerados na sua sub-bacia, evitando que os mesmos sejam lançados
nos corpos d’água. Em função das maiores vazões transportadas, os diâmetros
são usualmente maiores que os dos coletores-tronco.

Emissário - Os emissários são similares aos interceptores, com a diferença de


que não recebem contribuições ao longo do percurso. A sua função é
transportar os esgotos até a estação de tratamento de esgotos.

Poços de visita - Os poços de visita (PV5) são estruturas complementares do


sistema de esgotamento. A sua finalidade é permitir a inspeção e limpeza da
rede. Podem ser adotados nos trechos iniciais da rede, nas mudanças (direção,
declividade, diâmetro ou material), nas junções e em trechos longos.

Elevatória - Quando as profundidades das fubutações fornam-se demasiado


elevadas, quer devido à baixa declividade do terreno, quer devido à
necessidade de se transpor uma elevação, torna-se necessário bombear os
esgotos para um nível mais elevado. A partir desse ponto, os esgotos podem
voltar a fluir por gravidade. As unidades que fazem o bombeamento são
denominadas elevatórias, e as tubulações que transportam o esgoto bombeado
são denominadas linhas de recalque.

Estação de tratamento de esgotos (ETE) - A finalidade das estações de


tratamento de esgotos é a de remover os poluentes dos esgotos, os quais
viriam a causar uma deterioração da qualidade dos corpos d’água. A etapa de
tratamento de esgotos tem sido negligenciada em nosso meio, mas deve-se
reforçar que o sistema de esgotamento sanitário só pode ser considerado
completo se incluir a etapa de tratamento.

Disposição final - Após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao


corpo d’água receptor ou, eventualmente, aplicados no solo. Em ambos os
casos, há que se levar em conta os poluentes eventualmente ainda presentes
nos esgotos tratados, especialmente os organismos patogênicos e metais
pesados. As tubulações que transportam estes esgotos são também
denominadas de emissários. 

Condições técnicas a serem satisfeitas pelos coletores

Algumas características técnicas relacionadas com o projeto e a construção das


canalizações de esgotos apresentam grande importância dos pontos de vista
técnico e econômico. 

Diâmetro mínimo: depende das condições locais e do consumo de água dos


habitantes. Para os coletores prediais, que são as tubulações que recebem
todos os esgotos sanitários gerados em uma edificação, condu zindo-o ao
coletor da via pública, o diâmetro mínimo adotado é igual a 100 mm. Para os
coletores públicos, o diâmetro mínimo deverá ser avaliado pelo projetista, após
diagnóstico das condições da região que se deseja atender. O diâmetro mínimo
é também igual a 100 mm, desde que as vazões de esgotos sejam compatíveis
com este diâmetro. As condições da região e os valores de consumo de água
de cada habitante serão elementos que conduzirão à definição do projeto.

Profundidade mínima: está relacionada com a possibilidade de esgotamento


de todos os compartimentos sanitários existentes na edificação, situados a uma
certa distância da frente do lote e em cota inferior à da via pública, e
relacionada também à proteção da canalização contra a ação de cargas
externas. O limite da profundidade mínima é freqüentemente estabelecido em
1,0 m. Quando as condições de traçado ou de topografia impuserem
profundidades inferiores ao mínimo recomendado, devem ser tomadas
precauções especiais (proteção contra a ação de cargas acidentais, emprego de
tubos mais resistentes — ferro fundido, por exemplo).

Profundidade máxima: deve-se também ter em conta no projeto, não


ultrapassar profundidades acima de um certo valor, aqui recomendado por
volta de 4,0 a 4,5m, conforme os serviços. 

Profundidade mais conveniente: os valores médios deverão estar em torno


de 1,50 a 2,50m. 
 
Profundidades elevadas: Quando o terreno possui uma baixa declividade, é
preponderantemente plano ou mesmo possui uma declividade contrária à
declividade da tubulação, esta tende a se aprofundarcom relação ao nível do
terreno. Em alguns casos, quando estas profundidades apresentam-se muito
elevadas, torna-se necessária a utilização de uma estação elevatória de esgoto
sanitário. São os seguintes os inconvenientes das valas profundas:

 Maior efeito da carga permanente (terra de reposição da vala);


 Ligações dos coletores prediais mais onerosas; 

 Aumento do custo de construção da rede.


Localização dos coletores em relação ao sistema viário

 Os coletores devem ser assentados, de preferência, do lado da rua no


qual ficam os terrenos mais baixos. 
 A existência de estrutura ou canalizações de serviços públicos, tais como
águas pluviais, redes de distribuição de água, adutoras, cabos elétricos,
telefônicos, etc., poderá, entretanto, determinar o deslocamento dos
coletores de esgotos para posições mais convenientes. 

 Para vias públicas com largura superior a 18,Om ou 20,Om, deverão ser
executados dois coletores (um de cada lado), de forma a viabilizar o
atendimento dos domicílios de ambos os lados com profundidades
convenientes.

Localização dos interceptores

Os interceptores podem ser localizados em:   

 vias sanitárias 
 fundos de vale tratados 

Vias sanitárias

Como os esgotos fluem por gravidade no sistema de coleta, os interceptores se


situam nos pontos mais baixos, ou seja, nos fundos de vale, correndo paralelos
aos córregos de cada bacia. Sua construção tem sido tradicional- mente feita
em conjunto com as obras de canalização dos cursos d’água e com a
implantação de vias sanitárias.

Aplicação

Áreas já urbanizadas, cuja reserva de faixas marginais e de eventual


implantação de áreas verdes ao longo do córrego é de difícil concretizaçao .

Vantagens

 Possibilidade de se realizar obras conjuntas;


 Redução dos custos de implantação. 

Fundos de vale tratados

A implantação de vias sanitárias não deve ser encarada como a única forma de
se poder executar interceptores de esgotos. Existem soluções ainda mais
econômicas para implantação dos mesmos, que não exigem que se executem
obras em concreto ou mesmo abertura de vias públicas ao longo dos corpos
d’água naturais, proporcionando as vantagens descritas a seguir. Estas soluções
somente poderão ser adotadas em áreas preservadas ou ainda não ocupadas
por grande número de edificações, cujas desapropriações são frequentemente
caras e difíceis. A preservação das margens do curso d’água com áreas verdes
ou matas ciliares é uma forma bastante atrativa de tratamento de fundo de
vale.

Vantagens

 Preservação natural do curso d’água, evitando-se o artificialismo do


concreto; 
 Independência da canalização, a qual muitas vezes demora a ser
implantada devido aos seus elevados custos; 

 Tratamento dos fundos de vale com criação de áreas verdes ao longo


dos córregos, introduzindo concepções de maior qualidade estética,
paisagística e econômica.

Sistema condominial 

O sistema condominial de esgotos tem sido apresentado como uma alternativa


a mais no elenco de opções disponíveis, ao alcance do projetista, para que o
mesmo faça a escolha quando do desenvolvimento do projeto.

No entanto, o sistema condominial é muito mais do que isto. O sistema


condominial de esgotos é, na realidade, uma nova forma de ver a relação entre
a população e o poder público, tendo como características uma importante
cessão de poder e a ampliação da participação popular. O sistema condominial
representa, portanto, um novo enfoque na prestação de serviços públicos, que
vem alterar a forma tradicional de atendimento à comunidade.

As partes integrantes do sistema condominial podem ser divididas em (a) ramal


intramuros, (b) rede básica e (c) tratamento e disposição final.

 Ramal intramuros. Entende-se por ramal intramuros a parte do


sistema que, por acordo comunitário, será executada no interior de uma
quadra, ficando os moradores que a ele contribuem responsáveis, tanto
pela sua execução, quanto pela sua correta operação e manutenção. 
 Rede básica. Por rede básica compreende-se a parcela do sistema
indispensável para a reunião de vários condomínios e, portanto, de
responsabilidade do agente promotor, o qual pode ser uma prefeitura,
um órgão municipal, uma companhia estadual de saneamento, ou outra
entidade. Trata-se da menor extensão de rede que pode ser imputada
como necessária ao equacionamento sanitário da comunidade, e nesta
situação assume caráter coletivo. Esta é a razão pela qual se diz que
qualquer extensão superior à rede básica não pode ser arcada pela
coletividade, devendo seus custos ser suportados por quem demandou o
acréscimo. Percebe-se assim que o sistema condominial não é uma
imposição de uma solução única, arbitrária, mas a busca do menor
investimento público, aqui compreendido como coletivo. O que se
estabelece, por uma questão de justiça, é que os custos adicionais,
advindos de soluções mais onerosas, sejam suportados pelos
beneficiários. 

 Tratamento. O sistema condominial destaca serem o tratamento e a


disposição final elementos indispensáveis de um sistema de esgotos
sanitários adequadamente concebido, de tal forma que não se pensa em
condominial sem esta parcela. A solução de tratamento e disposição final
a ser adotada deve ser sempre aquela que é executada com as demais
unidades do sistema, não se aceitando o seu adiamento.

Estações elevatórias 

As estações elevatórias de esgotos sanitários são instalações algumas vezes


obrigatórias nos sistemas de esgotamento de uma localidade. Os esgotos são
bombeados para que adquiram cota elevada, possibilitando seu lançamento em
estações de tratamento ou corpos d’água, ou para reniciar novo trecho de
escoamento por gravidade, quando se tem elevadas profundidades dos
coletores.

As elevatórias devem ser utilizadas, portanto, nos trechos em que, por razões
técnicas e economicas, o esgotamento por gravidade não se mostrar possível
ou recomendável. Tais instalações, além de apresentarem um custo inicial
elevado, exigem despesas de operação e, sobretudo, manutenção permanente
e cuidadosa.

Fonte: BARROS, Raphael T. de V. et al. Saneamento. Belo Horizonte: Escola de


Engenharia da UFMG, 1995. (Manual de saneamento e proteção ambiental para
os municípios).

Fonte: http://www.sanesul.ms.gov.br/default.aspx?tabid=220

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