Você está na página 1de 11

ARTIGOS ORIGINAIS

SIMBOLOGIA DOS SONHOS E


CULTURALIDADE

Ivan dos Santos Messias

Autor correspondente: Ivan dos Santos Messias - imessias@yahoo.com.br


*Professor na Pós-Graduação do Centro de Estudos Pesquisa, Extensão e Desenvolvimento Humano.
Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Graduação em Letras Vernáculas com Língua Inglesa
pela Universidade Católica do Salvador.

Resumo

Este artigo objetiva analisar os símbolos das manifestações oníricas destacando seu caráter tera-
pêutico e culturalista, pois cada comunidade tem chave própria para interpretar os sonhos, a partir
dos códigos de sua herança cultural. Os sonhos fornecem suportes significativos para o equilíbrio
e administração da vida. Para sustentar os argumentos sobre estados oníricos, são analisados con-
ceitos relacionados à Multiculturalidade, e alguns conceitos como arquétipo e Inconsciente Coletivo
da teoria de C. Jung – indicativos de que, embora os sonhos possuam aspectos universais, temas
comuns a todas as culturas - são interpretados pelas particularidades do cotidiano do sonhador e da
comunidade na qual está inserido. O presente artigo acrescenta aos estudos em Psicologia que as
expressões oníricas nem sempre atuam conforme as disposições internas do corpo, nem conforme
os arquétipos e símbolos, haja vista que são episódios ou instantes em movimento, com muitas
possiblidades criativas. Tal perspectiva solicita novas metodologias terapêuticas e interpretativas, so-
licita uma abordagem mais culturalista na investigação sobre os exercícios oníricos. Para a realização
deste estudo, foram investigados relatos, vídeos, enunciados de pessoas participantes da cultura
religiosa católico-afro-indígena no Brasil. A partir de relatos e códigos da cultura religiosa brasileira,
são analisados costumes específicos e práticas simbólicas da cultura brasileira no século XXI. A re-
lação sexual, a alimentação e a conduta cotidiana, por exemplo, são elementos culturais ligados aos
estados oníricos e são analisados a partir da teologia simbólica da cultura brasileira. O estudo conclui
que as imagens ancestrais e inconscientes fornecem ao organismo humano respostas para conflitos
e empecilhos na trajetória de vida. Daí há necessidade de gerar novas pesquisas, a fim de conhecer
mais rigorosamente os estados oníricos.
Palavras-chave: Arquétipo; Inconsciente coletivo; Culturalidade; Sonho.

• Artigo submetido para avaliação em 03/03/2016 e aceito para publicação em 03/03/2016 •


DOI: 2317-3394rpds.v5i1.852
SIMBOLOGY OF DREAMS AND CULTURALITY

Abstract
This paper aims to analyze the symbols of the dream expressions, highlighting their therapeutic and cultural
aspects, because every community has its own key for interpreting dreams, from the codes of their cultural
heritage. Dreams provide important supports for balance and administration of life. To sustain the arguments
about dream states, concepts related to Multiculturalism and some Jung`s concepts like Archetype and
Collective Unconscious are analyzed. It indicates that although dreams have universal aspects - themes
common to all cultures - they are interpreted by the dreamer’s daily specificities and the community in which
they live. This article adds to the studies in psychology that dream expressions do not always act in accordance
with the internal rules of the body, not as archetypes and symbols. They are episodes or moments in motion
with many creative possibilities. This perspective calls for new therapies and interpretative methodologies;
it requests more cultural approaches to research onto the dream activities. For this study, reports were
investigated, videos, statements of people participating in the catholic-african-indigenous religious culture
in Brazil. From reports and codes of Brazilian religious culture are analyzed specific customs and symbolic
practices of Brazilian culture in the twenty-first century. Sexual relations, food and everyday behavior, for
example, are cultural elements linked to the dream states and are analyzed from the symbolic theology
of Brazilian culture. The study concludes that the ancestors and unconscious images provide the human
organism responses to troubles. So that it is necessary to develop new researches to know better the dream-
states.
Keywords: Archetypes; Collective Unconscious; Culturality; Dream.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é analisar os desdobramen- Em suas pesquisas, o psicoterapeuta suíço,


tos dos sonhos, cujas funções incidem na conser- Carl Gustav Jung apresenta as manifestações oní-
vação e manutenção do corpo humano. Este texto ricas como fonte de inspiração, anunciadores de
não se interessa pela origem ou causa das mani- novas perspectivas; elemento divinatório, natural,
festações oníricas, nem pelos estímulos externos absorvente do passado, presente e futuro, restau-
e internos, tão pouco se eles têm causa divina e rador da saúde.(1) As manifestações oníricas nos li-
espiritual. Importa destacar o quanto os sonhos gam a todas as épocas de onde pertencemos sem
são relevantes no processo terapêutico, como for- barreiras temporais. Pelos sonhos viajamos, en-
ça psicológica, nos processos de equilíbrio e cura. contramos respostas para frustrações, doenças,
Portanto, as manifestações e vantagens dos esta- investimentos. Sem dúvida, os estados oníricos di-
dos oníricos terão atenção especial. Consequen- recionam ações, estruturam e estabilizam a psique
temente, será enfatizada a função terapêutica, o humana, anunciam realidades emancipatórias.
sentido, o sonho como imagem e metáfora, que Nesse sentido, o artigo de Kelly Bulkeley trata dos
qualificam as relações subjetivas e interpessoais. sonhos como fatores religiosos, ou seja, as pes-

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

25
soas atribuem suas expressões oníricas à presença “Deus morreu” – anunciava o filósofo alemão F.
de espíritos comunicadores. A autora empreende Nietzsche para caracterizar sentimentos, ceticis-
uma fenomenologia dos sonhos baseada na cul- mos, niilismos e práticas filosóficas do período
turalidade, na interpretação dada pelas pessoas dezenoventista. Esta frase nietzschiana é sequer
pesquisadas. antropocêntrica, ao contrário, há desdém à racio-
Este artigo, portanto, interpreta os sonhos se- nalidade iluminada; detecta uma Vontade, uma in-
gundo uma padronagem identitário-religiosa (cul- consciência instintivo-milenar e caótica que se as-
turalidade) diferente da tradição freudiana (posi- semelha aos desvarios das manifestações oníricas.
tivo-estrutural-antropocêntrica). Neste estudo, a Na metade do século XX, porém, Jung não só ex-
culturalidade significa um pensar com matizes es- pande as interpretações de Schopenhauer, Nietzs-
pecíficos, interpretação própria do mundo, dos fe- che e Freud como também atribui um caráter sim-
nômenos conforme os símbolos disponíveis, com- bólico, terapêutico aos estados mentais. “Qualquer
partilhados em um espaço seja religioso, afetivo ou psicólogo que tenha ouvido várias descrições de so-
econômico. nhos sabe que seus símbolos existem numa varie-
A história dos sonhos esteve, por séculos, ligada dade muito maior que os símbolos físicos da neu-
à revelação dos interesses divinos. As narrativas do rose”.(1:27) Sem dúvida, as explicações freudianas e
povo hebreu, por exemplo, tratam da importância da literatura que o revisa dão respostas e soluções
social dos intérpretes de sonhos, bruxos e profetas, para diversos problemas inscritos nas sociedades
ávidos para galgar poder político e emancipação; modernas, repressivas, maquinais dos séculos XIX
hajam vista as histórias de José que se tornou go- e XX. Tratam de desejos e recalques, a partir de ex-
vernador egípcio por inclusive interpretar sonhos periências do pacientes e “consulentes”. Sem dúvi-
do faraó. O caso emblemático na literatura mun- da são resultados a partir do empírico, mas subje-
dial é do anjo Gabriel que anunciou, numa visão, tivamente interpretado. Entretanto, o sonho não é
a vinda do Messias. Mas o glamour divino acabou um fenômeno que resulta dos estados emocionais
em certos espaços pelo menos. No século XVI, in- e orgânicos apenas. Os sonhos possuem códigos
trodução à Era Moderna, o Novum Organum, do silenciosos, secretos, são metáforas e metonímias
filósofo Francis Bacon tentava aniquilar as metafísi- apresentadas com inversões narrativas; produzem
cas. “O intelecto humano é semelhante a um espe- cultura religiosa, modos de vida, éticas, moralida-
lho que reflete desigualmente os raios das coisas des e reinvenção do cotidiano.
e, dessa forma, as distorce e corrompe”.(2) A par-
Os psicólogos evolucionistas têm usado novidades
tir desse período, tudo que estivesse ligado à reli-
em genética anatomia comparativa e psicologia
giosidade, à superstição, ao intelecto corrompido experimental para argumentar que a religião é for-
pelos “ídolos” e “escoras do intelecto” era alvo de matada por predisposições mentais que são pro-
desdém e descrédito, era desonesto epistemologi- gramadas dentro do cérebro humano por pressões
camente. Desde então, os fatos têm por natureza seletivas da evolução ( p. 73).
uma verdade chamada científica.
Esse argumento de Bulkeley(3) é pertinente consi-
Para interpretar os sonhos, o século XIX conso-
derando o fato de que não há religião fora da men-
lidou concepções mais psicológico-antropocêntri-
te humana. Mas o objetivo deste artigo não é con-
cas com análise da estrutura do objeto, sem trans-
frontar argumentos científicos e religiosos. Aqui,
cendê-lo conforme esboçaram metodologicamente
interessa fundar-se no fato de que os sonhos são
Aristóteles e Bacon antes do referido século. Sig-
manifestações universais, existentes. Todos so-
mund Freud seguiu posteriormente tais ensina-
nham, portanto, há um universalismo biológico,
mentos criando técnicas e análise das neuroses,
mas também metafísico, gerado inclusive pelos ti-
dos inconscientes e das manifestações oníricas.
pos de interpretação. A partir disso, é necessário

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

26
constatar os benefícios das manifestações oníricas vas soníferas são infinitas, diversificadas e englo-
e realizar uma fenomenologia da produção soní- bam capítulos, complementos e repetições por
fera. Os sonhos são um objeto científico porque vezes do cotidiano, do passado, do futuro sem
existem; são um fato mental como a linguagem, o necessariamente recorrer a símbolos universais.
desejo, a frustração, o amor, a dor, o desajuste psí- Logo a simbologia e a conotação são momentos,
quico, a alegria. são episódios seletivos dos estados oníricos. Tudo
está numa dimensão extra-pessoal, constituindo
uma dimensão dupla, de paridades mentais, numa
2 CONCEITUAÇÃO E PERIPÉCIAS complementariedade entre o pessoal histórico e a
DOS PROCESSOS MENTAIS inconsciência herdada milenarmente.
“Os arquétipos são imagens inconscientes dos
Os filósofos alemães Schopenhauer e Nietzsche
instintos”.(4:54) Ademais, os arquétipos não pos-
diziam que maior parte de nossas ações são in-
suem apenas uma imagem personificada como
conscientes. As comprovações vieram depois com
equivocadamente pensamos. Enganamo-nos ao
Freud e Jung, mediante pesquisas e práticas psica-
pensar que um arquétipo aparece apenas em for-
nalíticas através da hipnose, observação das com-
ma de monstros, batalhas, unicórnios, foices, ca-
plexidades esquizofrênicas, interpretação e análise
veiras, mulheres misteriosas. Jung(4:47) especifica os
dos sonhos mesmo com certos resultados espe-
tipos de arquétipo
culativos. Posteriormente, Carl Jung(4:53) estende o
conceito de inconsciente: arquétipos de transformação. Estes não são person-
alidades, mas sim situações típicas, lugares, meios,
O inconsciente coletivo é uma parte da psique que caminhos, etc, simbolizando cada qual um tipo de
pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo transformação. Tal como as personalidades, estes
fato de que não deve sua existência à experiência arquétipos também são símbolos verdadeiros e
pessoal, não sendo portanto uma aquisição pes- genuínos que não podemos interpretar exausti-
soal. Enquanto o inconsciente pessoal é constituído vamente, nem como σημεϊα (sinais), nem como
essencialmente de conteúdos que já foram consci- alegorias. São símbolos genuínos na medida em
entes e, no entanto, desapareceram da consciência que eles são ambíguos, cheios de pressentimentos
por terem sido esquecidos ou reprimidos, os con- e, em última análise, inesgotáveis.
teúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram
na consciência e portanto não foram adquiridos O caráter ambíguo e complexo dos símbolos os
individualmente, mas devem sua existência apenas torna inesgotáveis, difíceis de serem apreendidos
à hereditariedade. Enquanto o inconsciente pessoal
em sua totalidade. “O diagnóstico do inconscien-
consiste em sua maior parte de complexos, o con-
te coletivo nem sempre é tarefa fácil”.(4:55) O próprio
teúdo do inconsciente coletivo é constituído essen-
cialmente de arquétipos. Jung admite que “os conceitos de arquétipo e in-
consciente tem dimensão ainda imprecisa, plásti-
As imagens oníricas e arquétipos constituem o ca, artificial embora tenha sido comprovado pela
inconsciente coletivo, que é herdado e comum a experiência”. Tem razão. Embora seja difícil de
toda humanidade – um material inato e universal. captar conceitualmente, já não pode ser rebaixa-
O inconsciente coletivo se configura por conteúdos do à condição de material metafísico e abstrato,
que se diferem dos traumas, das ideologias e com- pois comprovadamente todos sonham. Pensando
plexos do inconsciente pessoal adquiridos na vida nisso, como definir e classificar os sinais, as me-
social e nos conflitos das relações humanas. táforas e metonímias na expressão dos bêbados,
O inconsciente coletivo é constituído por ar- esquizofrênicos, crianças os quais são exímios pro-
quétipos. Entretanto, é preciso salientar que nem prietários da linguagem com silenciamentos e ima-
toda imagem onírica é um arquétipo. As narrati- gens mesmo em estado de vigília? Isso pode ser

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

27
chamado de extensão da manifestação onírica, in- belecida com certeza no estado presente do nos-
consciente coletivo ou em qual classificação esse so saber é nossa ignorância acerca da natureza do
fenômeno se acomodaria? fato. Ou seja, como conhecer o inconsciente aní-
É necessário acrescentar às reflexões de Freud e mico”. Ignorar nesse caso não significa desconhe-
Jung que os componentes oníricos não se limitam cer manifestações, causas, efeitos, composição,
aos arquétipos nem à variedade de simbologias. tempo – todos princípios fundamentais da ciência.
Tais recursos são alguns dos patrimônios dos Isso não significa que tal abordagem seja imagina-
sonhos cuja extensão extrapola as definições ria e fictícia. O problema epistemológico se agra-
dadas por Freud e depois por Jung. Os arquétipos va quando Jung(4:108-109) afirma: “saber se a estrutu-
maternos e paternos, por exemplo, nem sempre ra anímica e seus elementos isto é, os arquétipos
se apresentam nos sonhos, pois os conteúdos tiveram origem de algum modo, é uma questão
oníricos se expandem além das narrativas metafísica e não comporta por isso uma respos-
clássicas, míticas, arquetípicas. Um sonho pode ta”. Parece ser contraditório, certo é que qualquer
sequer apresentar símbolos ou metáforas e se objeto tem como princípio a liberdade interna; tem
referir apenas ao cotidiano imediato do sonhador. a peripécia de escapar dos limites, determinações
Existe infinitude do objeto, inexiste limite criativo. e nomenclaturas aplicados mesmo pelos mais efi-
Logo, é arbitrário serem os sonhos classificados cientes e rigorosos métodos. Isso explica a revisão
apenas pela existência dos arquétipos, das metáfo- e a atualização constantes dos conceitos em todas
ras, dos símbolos, já que tais elementos nem sem- as áreas do conhecimento. Pouco a pouco vamos
pre se apresentam nas manifestações oníricas. percebendo a importância imediata de desvendar
tamanho problema. Termos mudam, sentidos são
“Durante toda a vida ao lado do pensamento
ampliados e revisados.
recém-adquirido, dirigido e adaptado possuímos
um pensamento-fantasia que corresponde a esta-
do de espíritos ancestrais”.(5:49) Após termos com-
preendido os conceitos Junguianos, percebemos 3 INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
que os símbolos são de fato inesgotáveis devido SOB ENFOQUE DA DIVERSIDADE
à vastidão de possibilidades criativas, sobretudo CULTURAL
curativas em suas orientações, sinais e advertên-
cias. Mas sua abertura e liberdade internas reque- Ter uma relação sexual maravilhosa nos sonhos
rem métodos de apreensão alternativos, em vez de normalmente não tem relação alguma com sexo.
desdém acadêmico quanto à suposta incapacidade Os símbolos são imagens que substituem outro
de ser objetificado. objeto, outro acontecimento. Os sonhos guardam
Para realizar ciência é preciso delimitar, concei- linguagem simbólica. Consequentemente, as con-
tuar o objeto, mas como conhecer princípios de dições orgânicas e psicológicas como mal estar
causalidade-efeito, dimensão e tempo se um ob- alimentar, frustração, recalque, neuroses são insu-
jeto como o inconsciente, por exemplo, tem movi- ficientes para justificar a natureza dos sonhos. Ou
mento incomum, impalpável, embora o sintamos, seja, uma noite em que alguém está alegre pode
percebamos sua presença? Creio que haja mais um produzir um sonho de tristeza, pessimismo e de-
problema de definição que de materialidade – fácil sastres. Uma alimentação inconveniente e estimu-
observar, difícil descrever e mensurar. Caso raro: lante pode gerar sonhos leves, otimistas, bem su-
o significado antecede o significante. O próprio cedidos. Visualizar facas, cães raivosos, assassinos
Jung(4:70) assume sua indefinição conceitual acerca tem significado positivo ou negativo depende do
dos materiais imprecisos como arquétipo, incons- contexto e dos códigos linguísticos de cada povo,
ciente e anima. “A única coisa que pode ser esta- de cada pessoa. Portanto, o hipérbato das imagens
ou inversão espaço-circunstancial é outra caracte-

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

28
rística da linguagem onírica, que precisa ser me- interpretação possível, dentro de uma cultura es-
lhor analisada, agora mais sob o olhar culturalista pecífica. Cada interpretação atende a seu círculo
e menos universalizante. social, gregário, identitário. As tradições epistemo-
Na pesquisa sobre significados dos sonhos sa- lógicas psicanalíticas, por exemplo, explicam os so-
grados, Bulkeley(3) anotou os sonhos de 42 mulhe- nhos ao seu modo: traumático, neurótico, arquéti-
res na graduação na Universidade Pública da Ca- pos, processos inconscientes. Entretanto, o fato de
lifórnia, nos Estados Unidos. Foram 316 sonhos estarmos dentro de uma tradição científica, argu-
sobre tristeza, felicidade poderes místicos, culpa, mentativa e racional não significa que possamos
inspiração, experiências artísticas. Maior parte as- interpretar absolutamente a natureza dos sonhos,
sociaram as mensagens como positivas, vozes de com metodologia ou direção única, universal.
espíritos protetores, anjos. Esses depoimentos e As narrativas oníricas, suas mensagens em códi-
relatos não são considerados puramente psicoló- gos produzem músicas, inventos, decisões, orien-
gicos, resultantes de repressão, idealização, proje- tações em geral para beneficiar pessoas. Einstein
ção, recalque e outros. A análise do conteúdo dos afirmava que o conhecimento decisivo vinha da ins-
sonhos místicos conclui que são extremamente piração, do silêncio, da imaginação e não do conhe-
positivos, com abundância de interações sociais cimento. O silêncio criativo é grande patrimônio da
amigáveis, emoções felizes, e boas perspectivas. linguagem onírica. Pensar, pesquisar, falar, escre-
Depois de ter sonhos de simbologia promisso- ver, definir, categorizar produzem conhecimento.
ra uma participante concede dinheiro a moradores Esvaziar-se ou silenciar produzem soluções cria-
de rua em gratidão ao sonho que fortaleceu sua fé tivas e fórmulas de que o conhecimento limitado
em Deus intensamente. Da mesma forma proce- precisa para estabelecer-se com autoridade impo-
dem, no Brasil, os participantes de religiões índio- nente. Enquanto os sonhos falam, os lábios per-
-afro-europeu; dão pequenas quantias em dinheiro manecem fechados. O intelecto consciente, antro-
aos que vivem nas ruas e praças em agradecimen- pocêntrico é um grão do Intelecto oculto, dentro do
to aos bons anúncios dos sonhos; vestem-se de organismo humano. Desde os primórdios egípcio-
branco, tocam o sino convocando bons tempos, -hebraico advertia-se para o refrear da língua, o es-
dão flores, frutas e alimentos aos mares, aos rios, cutar dos sinais no corpo, no mundo, na natureza.
à terra, como no Japão, Índia, EUA, Inglaterra dos O pênis mergulha na vagina, nos lábios e ânus;
druidas místicos. Eternamente, o sonho preconiza a língua enrosca-se em outra língua, são imagens,
a tradição, os rituais. A rainha Elizabeth da Ingla- metáfora, metonímias do silencioso para expressar
terra em 4 de junho de 2012, comemorou seu Ju- que existe uma necessidade de ligação, de cópu-
bileu de Diamante,(6) passeou de barco no rio Tha- la com hábitos de vida mais sadios. Na perspecti-
mes, vestida de branco; soltaram foguetes, soaram va religiosa afro-brasileira, pênis simboliza o deus
o sininho como se faz em celebrações de umban- Exu, o qual vive na terra e no universo para intro-
da brasileira – sinal de que estamos mais ligados duzir o sêmen da informação e copular com a terra
do que imaginamos em matéria de rituais traçados infernal dos humanos. Sexo simboliza ligação com
pelos sonhos. As culturas parecem antagônicas, o divino. Sonhos com relação sexual, casa, crian-
mas na verdade tem fundamentalmente práticas ça, assassinato, sangue, sequestro e nudez, por
semelhantes, antigas, mundialmente. exemplo, indicam necessidade de reequilibrar-se,
Sonhar que está sendo arrastado pela turbu- encontrar hábitos de vida harmônicos sadios, “di-
lência das ondas marítimas, não tem nexo apenas vinos”. Isso se realiza a partir de tratamentos com
com uma situação de caos e dificuldade na vida em remédios, folhas, terapias diversas, festas, ofertas
vigília como afirma Hartmann,(7) seguindo a ma- e rituais de encontro mais íntimo com os segre-
neira Freud de interpretar os sonhos. Esta é uma dos e mistérios ocultos da natureza. As narrativas

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

29
oníricas, portanto, produzem a etnicidade: a cul- giosos umbandista-candomblecista no Brasil. Pode
tura, a culinária, as roupas, o jejum alimentar e se- indicar traição, saúde, êxito, mudança, de acordo
xual. Pessoas se vestem de branco como a rainha com o contexto do sonhador. Aqui, o arquétipo (ou
da Inglaterra, evitam lugares inóspitos, cumprem imagem arcaica) foi utilizado para ampliar signifi-
silêncio filosófico-comportamental na condição de cados de novas necessidades pessoais. O vermelho
membros das religiões índio-afro-católico brasilei- e preto da cobra se referem a fogo, mas também à
ras. A palavra oculto significa o que está por ser terra. Tal simbologia se dirige à necessidade votiva
descoberto pela ciência. Assim avançam as desco- de proteção pelos elementos físico-químicos fogo-
bertas e pesquisas laboratoriais na ansiedade de -terra do deus Exu enviado por Omolu, deus da cura
descobrir o oculto, que existe na natureza e no pla- de doenças ósseas, sanguíneas e de pele. Este co-
no da ignorância humana. nhecimento não é patrimônio de africanos, brasilei-
“A Jurema quando nasce, a ciência ela já traz”. ros, pretos, brancos exclusivamente; é uma energia
Essa frase da música cantada no culto sagrado de telúrica da humanidade, adquirido através de exer-
Mestra Jurema Ritinha,(8) no Recife, revela que o co- cícios, disciplina, renúncias, perseverança, silêncio
nhecimento praticado pelos cultos com saberes mi- mental, sono, transe e sinais. Heráclito dizia que a
lenares, intuitivos, hiper-racionais são enunciados vida fala por sinais. Então cada sinal onírico solici-
do transe, da mente em sono profundo; são ta um tipo de ritual, seja uma oferta para a terra, ar,
templos de cura das doenças; lugares de conse- fogo, água, florestas. As ofertas podem ser flores,
lhos e orientações – casas de religiosos de Catim- frutas, verduras, alimentos em geral. Cada imagem
bó, Umbanda, Candomblé, Jurema, Nkisses, Exus, simbólica do inconsciente é interpretada como uma
Orixás, Caboclos, todos brasileiros, mas em todo o mensagem do elemento ar (Lemba), fogo (Zazi),
planeta é assim. Não importa o nome das práticas. Água (Logunedé), terra (Omolu).
A denominação varia conforme a região, a língua, E o ciclo se repete. Após tais imagens mentais
porém todos têm a mesma função: a de resguardar com Omolu e outros arquétipos, são realizadas te-
a dignidade, a saúde, a compreensão, a conduta rapias através de banhos, jejum sexual e alimentar.
ética, o equilíbrio das pessoas. Evidente que exis- São práticas filosóficas milenares, herança ocul-
tem falhas humanas, abusos, subjetividades inter- ta, eterna. As energias calor, eletricidade, água, ar
seccionando os processos de real equilíbrio. Cada compõem o organismo de todos os seres vivos
um desses espaços religiosos brasileiros guardam produzindo comunicação sobre profilaxias e inte-
semelhanças e diferenças de procedimentos entre ração com o meio ambiente. Segundo a referida
si. Esses cultos são ciência do presente, passado e tradição religiosa, os deuses são forças da nature-
futuro, nos quais as sacerdotisas e sacerdotes ope- za chamados Orixás estão em todos os seres hu-
ram com os estados mentais do sono, do transe manos: travestis, mendigos, ricos, gente de toda
e da vigília. Assim, nascem comunidades religio- cor, europeus, japoneses, norte-americanos, brasi-
sas, aparentemente heterogêneas, mas baseadas leiros. “O self possui uma religiosidade natural”.
na ancestralidade universal. (10:14)
Nos escritos Junguianos, a religião é a meta, o
Atualmente, quando alguém sonha com corda ideal humano, a fusão entre ego e self, entre cons-
transformando-se em cobra, repete uma narrativa ciente e inconsciente com seus símbolos arquéti-
mítica, bíblica, quando Moisés e Aarão, buscando pos e mitos constituindo a individuação, o ser inte-
liberdade diante do rei, lançam ao chão uma vara gral. Quem sabe seja uma idealização, porém em
que se transforma em cobra.(9) Uma narrativa uni- algum lugar e momento um ser integral deve se
versal que transpõe o tempo. Entretanto, a cobra se desenhar.
vermelha e preta tem um significado, se azul e dou- Nossa psique faz parte da natureza e o seu enig-
rada tem outro, de acordo com os códigos orais reli- ma é igualmente sem limites. Assim “não pode-

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

30
mos definir nem a psique nem a natureza – afir- exemplo de tamanha fartura dos Estados Unidos.
ma Jung. Podemos simplesmente constatar o que A atriz Patrícia Arquette interpreta uma investiga-
acreditamos que elas sejam e descrever da melhor dora policial que, ao dormir, visualizava todas as
maneira possível como funcionam”.(1:27) Os enig- cenas de crimes cometidos: assaltos, assassinatos,
mas da psique são infinitos, a começar pelo se- infidelidades conjugais, sequestros, tramas sórdi-
guinte sonho que me foi relatado por uma pessoa das. Com explosão de sucesso, a série foi exibida
cujo nome prefere manter em sigilo: ela caminhava de 2005 a 2011 pelas companhias NBC, CBS, Uni-
nua na praia, seguia para uma caverna e, em segui- versal Chanel e outras empresas midiáticas. Esse
da, ouviu o nome Iemanjá. Interpretou que a nu- boom empresarial demonstra o quanto o tema so-
dez seria necessidade de proteção e atenção com nhos é vigente, pragmático, já não cabem falácias
o corpo, com a saúde, por isso era preciso obser- de ser assunto de supersticiosos e povos atrasa-
var mais as ameaças à integridade física. O sonho dos. Ao contrário, é objeto científico, embora no
seria um aviso para usar preservativo sexual. Vivia Brasil haja pouca atenção e produções acadêmicas
essa tensão nesse momento. O mar, na tradição deste campo do conhecimento. Então, é preciso
religiosa brasileira, é a personificação da deusa Ie- estudar as manifestações oníricas, haja vista que,
manjá, responsável pelo enunciado de carinho, cui- segundo Segundo Milhorim et al(12:2) – “por meio
dado e manutenção da vida, buscando equilíbrio e de uma seleção sistemática nas bases Lilacs, SciE-
bem-estar diante das dificuldades existenciais nas LO e PePSIC, entre 2001 e 2011 – foram recupe-
quais todos estamos imersos. rados oito artigos. Constata-se, de forma geral, a
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que pequena quantidade de estudos destinados espe-
supõe nossa vã filosofia” – dizia Shakespeare(11) no cificamente ao tema”. Enfim, devemos método de
século XVI. Ainda na peça dramática, Hamlet, o apreensão em pesquisa ao tema sonhos, para me-
espírito do rei falecido vem avisar a seu filho “en- lhor abordá-lo, para gerar know how e renda. No
louquecido” e sucessor que tomasse cuidado com exterior, inúmeros são os artigos, livros, filmes, pu-
seus algozes, e lhe diz quais procedimentos adotar blicados acerca desse objeto para o conhecimento.
dali em diante. A literatura, o cinema, as novelas, Os sonhos podem ser chamados de religiosos,
as artes plásticas se responsabilizam mais que a mas fundamentalmente são terapêuticos, harmo-
ciência pelo tema sonhos-mente, destacando mui- nizadores, éticos, morais. Longe de ser uma moral
tas vezes seu papel de guardião, conselheiro, “an- essencial, castradora, eterna, mas uma moral mu-
cestral milenar”. tável que se faz e refaz conforme as circunstâncias
Existe uma lista infindável de filmes sobre o as- e desafios – uma moral telúrica, pragmática. O ob-
sunto, tanto nos Estados Unidos e Europa quanto jetivo é a adaptação, fortalecimento e mudança do
no Japão. O mundo desenvolvido já descobriu que corpo para o enfrentamento cotidiano. Abstinên-
o corpo é capaz de proezas, basta conhecê-lo, ou- cia momentânea de sexo e drogas, por exemplo,
vir, planejar. No quesito planejamento, os referidos tem mais caráter de manutenção da saúde integral
países têm sido bem sucedidos. Descobriram que e menos de aspecto religioso. As respostas estão
as complexidades desconhecidas do corpo pro- dentro dos seres humanos de qualquer lugar, estão
duzem lucro, cultura, arte e fórmulas científicas. na subjetividade silenciosa e meditativa – como
Da linha suspense dos filmes norte-americanos, anticorpos e células que se renovam para se de-
nascem os dividendos com a produção da indús- fenderem de agressões ao organismo e à coletivi-
tria cinematográfica norte-americana, tornando-a dade. Quem sonha reside em uma cidade, um ter-
mais opulenta, lucrativa e hegemônica em função ritório político e econômico, tem um corpo físico e
das pesquisas e experiências sobre sonhos. A te- psíquico para administrar. E, sem dúvida, o gran-
lessérie Medium, exportada para o mundo, é um de suporte filosófico, existencial e orgânico reside

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

31
nas expressões oníricas. Portanto, é preciso bem comum produz uma referência paradoxal, incerta,
administrá-las. dada a redoma do pensar e, consequentemente,
das palavras em relação ao objeto que indicam.
Imaginem a distância que existe entre metáforas
4 A LINGUAGEM dos sonhos e interpretação racional, consciente.
PLURISSIGNIFICATIVA DOS Há grande abismo e por isso incapacidade de in-
SONHOS terpretarmos os sonhos com nossos instrumen-
tos na vigília. Segundo Nietzsche, “a língua está
“Os símbolos, segundo Novaes e Rudge, são sig- construída sobre os mais ingênuos preconceitos [...]
nificantes de um pacto que constitui significados, e que o pensamento racional é um interpretar se-
ou seja, eles demarcam o conjunto das significa- gundo um esquema”.(16:228-229) Então há muito es-
ções atribuídas pela cultura na qual o homem irá forço a ser feito, desafios, pesquisas inclusive
inserir-se”.(13:5) Cada cultura tem uma chave para sobre linguagem onírica. A realidade é extensa,
abri-los. Há muitas culturas e povos diferenciados densa demais para caber no corpo, na história, na
na Europa, no Brasil, nos Estados Unidos, África e ciência moderna.
Ásia. Cada povo, cada corpo físico produz enuncia- A linguagem onírica dribla e contorna o estado
dos conforme seu entendimento e interpretação da de vigília ou consciência, para instaurar o novo real
vida. Portanto, não basta universalizar “cientifica- anunciado pelo enunciado. A frase de efeito surge
mente” a partir da experiência de Viena e Estados em meias palavras, incompletas (metonímicas), in-
Unidos. Em cada país existem vozes identitárias versas, com a fórmula necessária para a resolução
diferenciadas, com métodos e chaves interpretati- da equação, do conflito. O falar dos sonhos, além
vas próprios. Enfim, existem símbolos e sinais que de antitético, extrapola o cotidiano e o significante,
só podem ser compreendidos dentro de contextos pois é emendada e figurativa, de modo que o nexo
culturais, de grupos religiosos, por exemplo, que da vigília, da consciência é insuficiente para expli-
os consideram sinalizadores e tradutores de suas car o sentido da linguagem onírica. A complexida-
experiências. de revela uma distância entre a consciência que é
O exercício onírico funda-se em linguagem des- nova e os sonhos, que são antigos (instintivos). Os
viante, criativa, meditativa – cria um novo pensar sonhos revelam muitos sujeitos falantes. O Novo
que transcende as ideologias do estado de vigília e consciente entende mal o Velho onírico que trope-
o aprisionamento da língua. Ferdinand de Saussu- ça na estrutura mental ideológica e conservadora
re,(14) no Curso de Linguística Geral, advertia-nos do Novo ‘racional”. Há algo milenar que fala den-
sobre a incompatibilidade ou arbitrariedade entre tro de um corpo novo, sujeito recente. Aí ocorre a
signo linguístico e sentido (conteúdo). Essa é uma confusão, a distância espaço-temporal, aquilo que
discussão antiga. Em narrativas de sono, a pala- denominamos metáfora, abstração, códigos da lin-
vra ou significante se transmuta, movimenta-se, guagem, imprecisão. Como foi discutido anterior-
porque inúmeras palavras na vigília têm uma dire- mente, nem toda linguagem onírica é simbólica ou
ção sinuosa, incompleta. Nelson Rodrigues(15:13) no arquetípica. Por vezes trata diretamente dos con-
conto “O pediatra” mostra como o termo “miserá- teúdos do estado de vigília, apresentando-lhe solu-
vel” é sinônimo de “excelente”. A metáfora trans- ções e terapias diversas.
creve a realidade não percebida pela tradição do Não temos tido êxito em vencer as barreiras da
pensar. Instaura nova interpretação paralela à mu- língua, mas isso não significa que o objeto inexista.
dança imediata que ocorre, reescrevendo, desor- Nem sempre é possível denominá-lo precisamen-
ganizando o pensar tradicional. Enfim, a própria te, mediante eficiente método de apreensão.
língua produzida pelo estado de vigília, pelo falar

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS víduo, sem recusa por conhecer as potencialidades
do organismo humano infinito.
Sonhar é uma experiência humana universal. Os
sonhos dão estabilidade psíquica e organizam a
vida social dos indivíduos que compreendem seus REFERÊNCIAS
códigos. Embora seja um fenômeno planetário,
cada comunidade tem know how e métodos pró- 1. Jung CG. O homem e seus símbolos. 5ª ed.
prios para ler e decodificar os labirintos da lingua- Tradução Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro:
gem onírica de seus pares identitários. Portanto, Nova Fronteira; 1964.
universalizar a problemática e soluções em torno 2. Bacon F. Novum Organum (XLI). São Paulo:
dos sonhos, a partir de experiências locais de con- Abril Nova Cultural; 2000. (Os pensadores)
sultórios não é modo adequado de cientifizar uma 3. Bulkeley K. Sacred Sleep: Scientific
pesquisa. Alteridade deveria ser componente cien- Contributions to the Study of Religiously
tífico. O Outro existe, mesmo que não o conheça- Significant Dreaming. In: Barret D, Mcnamara
mos ou discordemos do modo como vive. P, editors. The New Science of the Dreaming.
Chap 3. P 3-71. Westport, Conn: Praeger
A ciência deve responder por que um corpo de Publishers; 2007. [Cited 2016, Feb 12]. Available
sangue, secreções e sonhos é capaz de sintetizar o from: http://www.kellybulkeley.com/pdfs/
passado, presente e falar do futuro. O corpo preci- sacredsleep.pdf
sa continuar sendo pesquisado, pois a mente pos- 4. Jung CG. Os arquétipos e o inconsciente
sui uma vasta realidade para ser melhor conhecida coletivo. [Trad. Maria Luíza Appy, Dora mariana
sem ser tachada de metafísica quando suas ex- R. Ferreira da Silva]. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes;
pressões forem desconhecidas. Chamemos de rea- 2000. (Obras Completas de C. G. Jung, v. 9/1).
lidade-físico-química, oculta, silenciosa. Analisar a 5. Jung CG. Símbolos da transformação. Trad.
linguagem onírica não deve ser apenas atribuição Eva Stern. Petrópolis, RJ: Vozes; 1986. (Obras
das umbandas, maçonarias e templos místicos. As Completas de C. G. Jung, v. 5).
imagens mentais desenvolvidas pela mente nos 6. The Diamond Jubilee Thames Pegeant. 2016.
mais diversos estados produzem soluções, curas, Disponível em https://www.youtube.com/
respostas para problemas individuais e coletivos watch?v=bmGqWdYEw_w
de uma comunidade. São por isso respostas 7. Hartmann E. The Nature and Functions of
ao presente e ao futuro; anunciam uma nova Dreaming. New York: Oxford Universal Press;
existência. 2011.

Disciplinas acadêmicas como História dos So- 8. Festa da Mestra Ritinha da Rua da Guia.
nhos ou Fenomenologia dos Sonhos, Literatura dos 2016. Disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=rvDlXV5DS44
Sonhos, Ciência dos Sonhos e afins seriam úteis
para elucidação de muitas questões e incógnitas. 9. Good News Bible: The Bible in Today`s English
Version. New York: American Bible Society; 1976.
Paralela à nossa civilização informatizada e quí-
mica existe outra “ciência”: a do transe, a dos so- 10. Jung C G. Psicologia e alquimia. Petrópolis, RJ:
Vozes: ????. (Obras Completas de C. G. Jung,
nhos, da Jurema – meditativa e silenciosa – mas
v. 12). Originalmente publicado em alemão em
aberta, livre para ser investigada. Tudo produzido
1944/1994.
pelos poderes inerentes ao corpo humano. Então
11. Shakespeare W. Romeu e Julieta; Macbeth,
é importante que as psicologias utilizem olhar an-
príncipe da Dinamarca; Otelo, o Mouro de
tropológico para melhor entender as propriedades
Veneza; Traduções de Cunha FCA, Mendes O.
das limitações psíquicas de um povo, de um indi- São Paulo: Abril Cultural; 1981.

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

33
12. Milhorin TK, Karin A, Casarini KA. Os sonhos 14. Saussure F. Curso de linguística geral. Tradução
nas diferentes abordagens psicológicas: de Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro
apontamentos para a prática psicoterápica. Blikstein. São Paulo: Cultrix; 2006.
Rev. SPAGESP. 2013[acesso em 14 fev.
15. Rodrigues N. A vida como ela é... O homem fiel
2016];14(1):79-95. Disponível em: http://
e outros contos. São Paulo: Companhia das
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
Letras; 1992.
arttext&pid=S1677- 9702013000100009.
16. Nietzsche F. Sabedoria para depois de amanhã.
13. Novaes B, Rudge AM. A função da linguagem
São Paulo: Martins Fontes; 2005.
em Bakhtin e Lacan. Tempo psicanál. 2007
[acesso em 16 fev. 2016];39:157-178. Disponível
em: http://www.cefetsp.br/edu/sertaozinho/
revista/volumes_anteriores/volume1numero2/
ARTIGOS/volume1, número2, artigo1.pdf

· Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador. 2016;5(1): 24-34 ·

34

Você também pode gostar