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Essa Entente

Victor Mota
A MULHER QUE NÃO CONSEGUIA ANDAR

1.

Foi preciso uma série de passos atrás para que Marisa pudesse andar. Dito de outro
modo, foi preciso muito exercício. De sangue circulando e a plenos pulmões,
levantou-se da cadeira, respondendo ao som retumbante de uma criança que a
chamava, ao longe. Marisa acreditava que, sentando-se virada a ocidente, mais cedo
ou mais tarde se levantaria. Sim, Marisa acreditava, como quem acredita em Deus
que, se estive virada para a América, um dia haveria de andar, tal como acreditava no
Bom Deus. A pouco e pouco, seria visitada na sua casa à beira-mar pelos seus cinco
netos, que jogavam à bola no pátio e apanhavam flores para lhe oferecer. Assim, à
medida que a voz de um deles, mais certamente da pequena Joana, se aproximava,
Marisa saiu da sua letargia e tomou vontade de andar.
2.

Muitos editores nem que lhe ofereça ouro aceitam. Tem de ser sarrabulho. Papas.
Foi assim que Guilherme passou as passas do Algarve para fazer chegar a sua
primeira trilha sonora de uma séria série de televisão, enquanto o seu amigo Harry se
encarregava do guião. Entretanto, Rui Carvalho entregava a sua primeira coleção de
poemas a um relutante editor que não tinha dinheiro sequer para matar as saudades de
tipografias. Enquanto isso, o tio das Pampas, aos 46 anos conseguiu arranjar uma
turma para o ouvir, dava duas horas por dia e tinha o resto do tempo para ler e
escrever. Não podia haver melhor vida!...
3.

Em Cardiff, como mais acima em Bergen, alunos ageitavam-se nas suas diversas
disciplinas para fazer estudos graduados ou pós-graduados em Lisboa, Coimbra e
Porto, quando se desenrolavam as Olimpíadas da Matemática. Enquanto isso, o
exército português tomava as Selvagens aos espanhóis, obrigando-os a descer em
direcção a Cabo Verde, onde o Capitão Oceano os esperava com sua armada de
Harleys.
4.

Enquanto isso, Sandrine Demeure, escultora, expunha primeiro na Tate Gallery,


mais tarde no Gugenheim, conseguindo enriquecer e inspirar o seu homem após sua
partida para o reino inspirador. Enquanto isso, visitei Michel Serres na sua casa em
Lile, juntamente com a minha Lily. Fomos de carro até Paris, passámos por Madrid e
Barcelona e depois de termos pernoitado na cidade onde Napoleão se auto-coroou,
“subimos” França acima. Depois descemos e visitámos as históricas cidades da Suíça,
onde era quase a mesma coisa que estar em Portugal.
5.

Nada do que escrevesse parecia resultar. Ainda bem. Talvez pudesse continuar. As
palavras de Forjaz de Melo, director da TVI, continuavam a inspirar-me. Nada de
especialmente especulativo me esperava no dia seguinte, talvez menos de mim e mais
dos outros. Eram três da manhã, não estava na minha oficina, estava tranquilamente a
meio do mundo. Nada de especial, o banal parecia-me extraordinário pela primeira
vez.
6.

Depois da minha excursão de variados anos, percebi que não tinha saído dos meus 14
anos, estava a morrer a ainda na idade da adolescência, a melhor e mais revoltosa
idade, onde os orgasmos não são líquidos.
7.

Saudades da confusão e sossego de Lisboa, dos artistas com calças às cores vivas,
tensos de inspiração, alegres de sossego. Quantas cidades em ti habitam?
8.

A minha casa, a cidade, o mundo, as viagens que não faço, os banhos que tomo, a
intersubjectividade, o sol clareando a alma, os olhos cegos de amor e gozo, a saudade
que arremata o estado cosmopolita. A frequência certa na rádio, para além de muitas
reticências eivadas de particularismos corporais, a imperfeita perfeição da paisagem e
do cego ego que nela se articula com a ligação para cima, onde se ajuntam telhas. A
bola roda.
9.

Há uma íntima fracção de tempo, uma concreta objecção diante do écrã, o mundo
todo aqui, na minha cabeça e na dos outros. Escrevo como terápica sabedoria, não sei
se Ernesto Sabato me ouvirá, agora que nem sei se pertence a este mundo. Rubores de
consciência face a um amigo percorrem-me a espinal-medula da alma, enquanto
regresso aos mesmos metros e ao mesmo solo onde há camadas de consciência, para
além de Deus a minha alma espartilha-se, o meu espírito tenta juntar os bocados.
Descubro que ser teólogo também é duvidar da divindade, pois esta se deixa,
enquanto parte de nós mesmos, sujeita à dúvida para que seja mais forte noutro
tempo. Esforço-me por ser mal intencionado, mas não dá resultado algum, apenas
sinto a perspectiva dos outros, enquanto, depois de descrever o mundo através de
mim mesmo, dando a minha perspectiva, evito que isto seja um diário, e que a sede
ética tome conta de mim...
10.

Uma caldeirada de nacionalidades, tudo au-point, mais americano ou nova-


iorquino que tudo o que lá se pode encontrar, de uma dia perdido tudo se salva, na
razão pretensamente mimética, à casca da noz, por entre as tábuas da lei humana,
enquanto se prepara uma forma de enlaçamento existencial que Edgar reafirmou no
púlpito, pela voz dos mestres para ser mestre com os outros, enquanto que as urtigas
já serviam para chá em vez de ser obstáculo à apanha de morangos. Enquanto isso,
Bruno Aleixo falava nos bonecos que ilustravam a nossa fantasia, eivada de Andrea
Boceli, em menos de dez anos a nação explodirá para gaudio de seus habitantes
medievais, tornando o Japão filho de um deus menor.
9. Tendo Estnes Monteiro decidido a deixar a sua pequena aldeia e rumado para a
Praia, percebeu que sempre que era imensamente feliz, outra gente era infeliz e que
uma coisa não tinha nada a ver com a outra, pois tempos diversos se juntam em um
tempo, ao ponto de trazer ao decima o melhor que há em nós. Nesta cidade, diversos
homens e mulheres, desconfio, se terão perdido, a meio do caminho pois talvez não
houvesse mais caminho para andar, enquanto que em outras cidades, ouvimos quatro,
cinco tiros disparados na nossa direcção, sendo que nenhum nos atingiu, tendo
chegado ao reino de Portugal depois de ter descido em geito de peregrinação a
pensínsula ibérica e aqui ter chegado por Terras de Espanha e Portugal.
10. Indo rio acima, descobri o signo peixes na mais inesperada das baías, projectando
o meu Ego para um promontório onde se ensinavam maneiras de viversas diversas,
mas que todas conduziam à felicidade, à consciência da felicidade, que é a melhor
forma de felicidade, anos depois de ter investido minhas energias no mais rigoroso
estudo dos clássicos.
11. Entretanto, no dia em que falecera o meu professor, tinha saudades do Chico e do
Vítor, os dois irmãos com quem nos divertíamos em pequenos, jogando râguebi,
ping-pong e futebol com caricas.
12. Regresso e retorno. Tara Perdida. Os anos passam, tudo se torna mais complicado.
Ser homem ou ser mulher, lá está, a referência a um local ou personagem fora de nós
fica sempre bem. Taigen procurou das imagens de sua mente os personagens dos
filmes que visionara e deslocou-se num foquetão ao planeta onde habitava, com isso
esqueceu a marca de massa escura que se alojara na sua mente.
13. Entre a acção e a filosofia, a antropologia e a sociologia, bem como a filosofia da
acção. Num vislumbre, acabaria por lhe ser retirado qualquer bem e reservado a
carpir as mágoas de suas conspirações solitárias. Ao lado disso, não lhe habitavam o
espírito aquelas feitas por grupos de supostos amigos. As coisas, os sentimentos,
estão confusos e pedes por mais confusão, pois não suportas a crueza violenta da
realidade.
14. Fecho os olhos e afirmo para mim próprio que não vivo mais. As palavras e as
imagens estão a mais na minha mente, os sentimentos começam a invadir-me e fico
atrapalhado pois não há pessoas perfeitas, pois quando o chegam a ser deixam de o
ser.
15. Gertrudes havia escrito trinta romances e picos e não chegara ainda a uma grande
edição e difusão. Continuava a tentar, mesmo sob a condenação bacoca dos outros,
mesmo que o país tivesse 145 de desempregados e que a terrinha era a pior coisa que
lhe podia ter aparecido. Ali, as pessoas não tinham mudado e não mudariam e mesmo
os mais jovens eram por vezes mais bacocos e vazios enquanto seres humanos que
metia dó.
16. Quase não trabalhara, mas haviam frquentado várias universidades, frequentado
doutoramento em Filosofia e outro em Antropologia e continuava vivo paraas curvas.
Sua mente espartilhava-se no espaço, para benefício dos outros (vampiros) que a seus
olhos o empobreciam. Pobres coitados! Quem não o conhecia, dizia que “era mais um
“, no entanto, pelo seu passado, suas esperanças, havia ficado projectado imensament
vivaz no espaço em volta, como quem esquarteja uma estátua.
17. Vai por ali, evita acolá. Todos lhe davam bitaites sobre o que havia ou não de
fazer quanto à sua vida. Entrementes, continuava pensando filosoficamente, o que
parecia ser altamente genial e desafiador num pobre país com assistência do FMI...
18. Estava mais perto da avó, que nos dias de sobrevivência e velhice ainda jogava ao
Euromilhões e se deslocava Albergaria para levantar o seu cheque. Enquanto isso,
Ricardo ignorava os factos e continuava obcecado pela escrita sociológica a que se
juntava sua carreira académica, como aliás, a de Daniel, que tinha amigos que não o
eram.
19. Os dias de amor e uma cabana acabavam. Os jovens tinham carro e emprego,
logo namorada. Quem não tinha carro, nem emprego não tinha namorada, pois isso
satisfazia-me como podia, se tivesse desejo. Ou então esquecia-se, no grupo de
amigos e virava para outras tarefas como escolher alvos pessoais para lhes foder o
juízo e as finanças. Brincadeiras de garotos.
20. Ao fundo de tudo. A noite nada lhe dizia, o dias nada lhe trazia. Instalara-se a
desolação no seu coração. Como podia, ao fim de tanto tempo, de tantas noites só,
alimentar ainda a chama do amor?
21. Custa-me mais a respirar. Depende do tabaco que compre. Hoje faço observações
pelo que não fiz, não faço nem farei, porque não sei bem o que faço, fiz e farei. Eu
espero por um prémio que me possa levar adiante nesta vida, quando não fiz nada de
especial para o merecer. Pessoa só publicou A Mensagem em vida. Vistas as coisas,
terei publicado mais. Tudo me aborrece, não consigo aprofundar nada, nem um livro,
um pensamento. A solidão é atroz e tento consciencializar-me de que poderá ser pior
se não me habituar.
Objectal

Acendi um cigarro. Atrás de mim, um vento enublava-se e prometia levar-me para


uma outra dimensão, uma dimensão sem tempo, sem espaço, onde a intimidade seria
eterna e onde podia acreditar ou convencer-me que estaria para sempre a sós com o
meu pensamento. Do lodo do rio Rejo, emergiu um cardápio de peixes que lá viviam
não sei como, talvez a botânica ou a biologia explicassem isso. Lá longe, antes de eu
saber, dois carros haviam colidido violentamente. Eu precisava de mais factos, mas
não podia viajar, sob pena de sair do lugar de inspiração em que estava metido. Era
simples concordar com as vozes interiore que gritavam imprecações violências e
palavras obscenas, afinal que tinha eu conquistado? Nada, nada me poderia consolar
naqueles dias em que me encontrava a sós comigo mesmo, numa vida feita de
pescada de rabo na boca. O eterno retorno às origens, remoendo-se minha almna em
sentido primários. Agora que estava prestes a alcançar a celebridade, só me apetecia
fugir pela estrada e percorrer caminho que nunca conhecera senão em sonho, nem
sequer em sonho. Uma criança gritava, estas eram as visões parcelas daqueles dias. O
cão estava sossegado. Como eu. O mundo autoremoínha-se para além das nossas
perspectivas pessoais, subjectivas e eu que havia sempre estado em solidariedade
para com o cão, estava-o agora mais do que nunca. Ao fim de tanto tempo, porque me
conheciam, estava de bem comigo próprio, encontrava sentido para as mil e uma
coisas que me iam surgindo no quotidiano. Cansado, bebia ainda café, mas sei que
podia estar longe, bem longe daqui, inventando e descobrindo mundos
inusitadamente estranho,mas por vezes adversos, sem que terminasse a minha jornada
desanimado e com sentido de derrota, um atleta passava e eu alimentava esse estado
de bicho da seda da escrita, aqueles sentir respirando em direcção a quelquer coisa
que nunca vem completamente, que se manifesta apenas através da subjectividade
dos sentidos e que nunca chega a nós com carácter objectal...
Meu desejo erótico também não se manifestava, parecia que seria qualquer coisa fora
de mim, muito fora de mim, enquanto, sequencialmente, diziam mal me mim porque
se mordiam de uma inveja primitiva e anaárquica. Não tinha de aguentar aquilo,
estava melhora na clareira onde poderia respirar e fazer sentido por mais uns anos.
Tinha provisões, a sirene da polícia que passava, tocada, o cento de fundo acolhia os
carros que passavam na ponte. E eu fechava a porta. De repente, olhando pela janela,
apercebo-me de que não estou perdendo nada, que não há mensagem nenhuma
especialmente dirigida a mim, que o mundo não é feito para mim e que eu tenho de
construir o meu próprio mundo, o que já acontece de uma certa maneira, mesmo com
o mal de solidão, apesar de com este mal, sobretudo devido a este mal...
A sirene da polícia toca de novo, agora mais intensamente, o cão uiva admirado,
como se fosse um lobo, ou até um lobisomem, ouve-se o estalar das teclas diante dos
meus óculos, de repende aparece alguém trazendo-me dinheiro. Eu aceito, afinal
ainda conto escrever Uma Teoria da Conformidade e o Curso de Filosofia para Tótós,
e não peqguei nestas obras porque, aqui no casulo, esperava pelo momento certo para
morder o espaço em branco, o écrã, o papel em branco, se quiseres. Quem seria essa
pessoa? Não a reconheci de imediato, mas seria talvez um polícia à paisana, intui pela
maneira como falava. Estava ali, naquele estado de quase loucura, mesmo que muitos
me achassem já louco, estava são que nem um pero, controlando várias variáveis para
que ao fim e ao cabo pudesse ser considerado com um autor de boa jornada, frutífera,
numa palavra, objectal, pois era isso que os meus contemporêneos entendiam como
uma vida vivida em todo o seu esplendor, o carácter objectal da realidade aliado à sua
manifestação do espírito social... Meses depois, regressaria a Odessa se para isso
tivesse coragem, bagagem, para inusitadas praias, regressando a cores e vítreas
esperanças de infância, com mais ponderão, ficando longe em casa, longe de duas
casas, apenas habitadas por mim, entre as quais me movia, esperando encontrar poiso
certo ao fim de tantos anos de desamores, viveria assim a vida de alguém que não o
meu íntimo reduto de homem, como que fazendo de dona de casa, caminhando ao
longo da linha, como antes, como muito antes, na pressa de chegar ao fim, a um fim
que não diria qual, esperando com minhas palavras ter sossego para me deitar em paz
e não ter comigo os fantasmas numa cama que não fiz, num depósito para o meu
corpo esbelto, à espera de ser visto, aguardando por um sinal de partida para outro
porto, para outra margem. Acintoso e amargo sabor esse o da meia vitória, tal como
se tivesse estado num degredo imperial, chegando a um novo porto, a uma nova
forma de esperar, a um novo contingente do qual me livrei. Olhando em redor, as
paoilas ameçavam-me o futuro, mas eu sei que o futuro não está escrito nos nossos
coração, sei que nossos corações colam-se às estrelas do céu tal como nossos lábios
outrora uns aos outros se colaram, por assim dizer, digo-te eu que não sou grande
coisa com mulheres embora não goste de outra coisa. Enquanto me dizias que era
necessário estar atento, eu regressei incoluntariamente a arcaicas concepções
herdadas de meus avós e bebi uma cerveja em nome do machismo, mas estava longe
de ti, por isso pouco te importava a minha atitude e eu prescrutei por cima do teu
ombro um outro homem que andava contigo, talvez me estivesses a trair, atrivi-me a
pensar, antes e depois do meu pensamento sobre ti, perdido no tempo, desgraçado nas
horas e a minha mente ameaçava quebrar quando te tinha longe, não sabia
verdadeiramente o que fazer, se quebrar se torcer, enquanto procuravas em teus
aposentos uma forma de ter o meu amor e o corpo de outro homem, cuja presença
não fosse tão literária quanto a minha, de facto era também um ser à espera de
qualquer coisa, que por vezes ficava imóvel retido na sua excelsa indididualidade,
outras fugia para a frente, como se tivesse uma bola para marcar golo dentro da
pequena área, como dizerm na giria futebolistica. Minha mente estava tanto aqui,
dentro deste meu oco depósito que é a minha cabeça, como acolá, entre dois ramos de
uma planta a que chamaria plátano, pois me faz lembrar o Canadá e tu dizer ainda
“pensas pelos outros?” eu digo que “não”, que estou numa forma estranha de reclusão
senti-mental, como se quisesse alguém com quem falar, entre duas carruagens de
comboio como se ainda por cima tivesse de falar sozinho toda a vida, pois ainda por
baixo decidi começar a dizer disparates sem medo que o roamntismo desaparecesse,
era uma aposta de risco, naqueles tempos sob assistência económica. Então, o velhote
vestiu como eu a camisola vermelha, pois estavam ficando frias aquelas noite de
verão e o Benfica estava ganhando e o Araújo Pereira estavam passando na tv
“Melhor do que Falecer” enquanto eu modestamente assentava estas coisas na minha
agenda, pois procurava alguma espécie de sanidade neste mundo que me dava tudo o
que e nada me pedia em troca, eu dizia ainda bem que as coisas têm um princípio e
um fim e enquanto isso, o Rafael fazia mais amigos, dar-lhe-ia dois ou três se os
tivesse, dos bons, entre os quais um poeta de vanguarda que saia comigo nas noites
de Lisboa, como nos bons velhos tempos. E Lisboa estav dentro de mim, aquela
mesma do Diário Popular, do Incrível e do jornal desportivo Off-Side, que ia pedir ao
tio Zé, depois foi sempre a memsmoa coisa, o apela do Deus, a provação, o pecado
mas também o misticismo, ainda bem que te vi ontem, pois durante horas ficaste
conversando com aminha mãe enquanto o meu pai te preparava um copo de vinho do
Luis...
Muitas coisas tinha para te contar antes que te fosses embora, para as tuas ocupações,
mas repara, fui-me esquecendo de ti e dali a pouco já estava com outras, havias de
reparar, entendes, conversámos um pouco, bebemos uns copos e acabábos desafiados
numa cama de motel, enquanto uns e umas ficavam sós, elas certamente porque
queria, pois vocês é que têm a faca e o queijo na mão, por assim dizer e os homens
encontram outras formas de dar vazão à sua força, e eu sou um deles, dizia, não posso
mais amar-te, isto está me tirando as forças, estou ficando sem sangue, parece que
minha alma está sendo consumida por um centrípeto desejo de euforia que não deixa
o corpo descansar e o esgota, pensamento após pensamento, no reino do sentimento...
Vivia assim na eminência da tua presença, para evitar ter de passar papel pela borda
da sanita, preocupado comigo e com o outro que viesse a entrar no meu espaço por
mim preenchido e a maior parte das vezes a tua ausência era tão avassaladora quanto
a tua presença, não digo isto em detrimento de ti, mas de mim, que não sabia dizer-te
frontalmente o que sentia na tua presença, com o receio primordial de te perder e que
com essa perdição ficasse também eu perdido para sempre. No dia em que te visitei,
lá perto do 13 de Maio, decidimos os dois a Fátima e contei-te que tinha algumas
dívidas junto dos bancos, ao mesmo tempo que te confessei que queria voltar a correr
para vencer os meus problemas cardíacos que finalmente assumi. E falámos até
entrar na escuridão da noite e foi a última vez, pois aquela mulher que no dia seguinte
veio ter comigo, começou a dizer mal de ti e não discutimos. E pensei no meu
velhote, descansando de cansado que estava e não conseguia imaginar pessos tão
cansada do mundo que ele e ao mesmo tão tolerante, se fosse outro dava-me um
chuto no rabo e mandava-me dizer prosa para outro lugar, enquanto isso eu persistia
em mim mesmo como em ti e como naquela mulher que me esparava na estão de
Corbeil, fumando um cigarro para adensar a situação de estar sem pessoa com quem
falar, enquanto eu ficava surdo do meu amor por ela e por ti... E assim, depois de me
teres dito na cara que precisava de falar contigo novamente para acertar umas coisas,
deixei-me estar onde havia estando sendo feliz bastante tempo e depois regressámos
os dois de Fátima, onde foras agradecer a Deus o facto de me teres conhecido,
enquanto isso eu quase me espatifei num carro que era do meu pai e no qual tu
andavas também, dizias-me que estava transviado dos bons caminhos da vida e eu
decididamente dizia que não, que substituía a falta e carência de amor com outras
mulheres, virtuais, o que me deixava fora do mundo bastante tempo, no leito
complicadamente aturdido. Depois, quando regressava a um pré-consciência
demasiado pesada, tinha comigo aquele livro maldito analisado pelo filósofo Foucault
e pensava que tinha resolvido todos os enigmas da existência humana, ali quando tu
me havias faltado e estava só na luz em pleno dia, quando queria deixar estar as
coisas da maneira como elas se haviam composto, deixando a escuridão e o silêncio
da noite compôr as coisas e as ideias no meu pensamento como toda a gente faz,
como tu e eu fazemos quando não estamos demasiado inquietos com a nossa sorte e
a dos outros, pois aí alguma relação de causa-efeito existe. Ali, nos bidonvilles,
estava muitos de nós e parece-me que neste propósito eu não deixava muita coisa ao
acaso, era um deles, desse povo apaixonado e que puxa as coisas para a frente porque
teme injustiças. Estavas a cear, só, desgostosa de teus efeitos na realidade, deixando
os pensamentos cair de um momento para o outro, no teu cérebro, fumando um ou
outro cigarro para queimar o tempo, ao mesmo tempo que vivias iludida com a morte,
a morte de si mesmo, numa doença mortal que só Kierkegaard poderia explicar
melhor se ainda estivesse vivo, contudo no seu texto teria dito tudo aqueilo que
havias precisado de saber. Bastaria que o lêsses logo nessa noite de verão, quando os
grilos deixassem de grilar. E então, aleijado por essa compulsão, eu torcia o meu Ser
e procurava dentro de mim mesmo as circunstâncias de dias e dias sem norte, nunca
procurando desajor a memória de Ti dentro de mim, de mim dentro de mim,
resgatando motivações mais ou menos patológicas, quando não sabia que estava
vivendo uma forma de desespero que me levaria quiçá a Ti, ao interior de ti mesma,
muito para além dos outros uqe desafiavam as vontades ínfimas, nos regressos de
cada um a si mesmo. No meu casinhoto iludia as formas de me reencontrar contando
que estarias bem, que estarias saudável, que me permitiria uma ou outra veleidade no
encontro de Ti Mesma, depois de ter feito coisas úteis para a decoração da casa onde
viviam meus pais, decidi por isso sair, sair de mim mesmo de forma a evitar um
aprisionamento de que tu mesma sofrias, aquèm do desejo incumprido, como se dar
ordem natural das coisas se se tratasse. Nesse dia, depois d emuitos cansaços,
ensaiava esquecer-Te mas como compreendia que as coisas da vida não são somente
desta, pois nossos desejos mais profundos se projectam no éter como quem precisa de
água, água que o corpo tem, eu tentava esquecer-te mas tu nem a mínima importância
ou palavra me dirigias, enquanto eu, aprisionado no desejo por Ti, continuava a
minha tarefa de Estra, de um forma ou outra, ligado a ti, espasmodicamente ligado a
Ti, enquanto de ti havia duvidado a maior parte do tempo porque me pedias em carta
para ser eu mesmo, em vez de um ser que tem certeza e que aloja as necessidade da
sua mente na mente dos outros e de Ti, ousei questionar e com isso pus a minha fé à
prova, como se de um copo de vinho, um delicioso copo de vinho se se tratasse,
acompanhado de boa e tradicional comida tudo menos requentada, acabada de fazer,
como eu próprio seria um Ser acabado de fazer se em ti tivesse mais segurança, mais
alento, mais determinação como quem decide uma final no último minuto, não
deixando ao adversário qualquer capacidade de reacção. Assim, dada a última
cerveja, deixei o álcool fazer o que bem entendia do meu corpo e tive mais uma vez
vontade de uma forma o doutra teria algum mérito quem chegasse primeiro, sendo
que as corridas são para acabar e assim também a inspiração por qualquer coisa de
novo, de inaudito, qualquer coisa que transcendesse a alma para a salvar da penúria e
do estertor. Assim, naquela tarde quente continuava como que ilustrado pelas
impressões da mente, tentando regressar a mim próprio, a um passado de mim
próprio que não me queria compromter, como quem tem medo de enlouquecer e se
agarra a Deus e aos homens para que tal não aconteça, quando estamos vivendo uma
liberdade própria de quem já enlouqueceu e tenta regressar a um vida normal, depois
de lhe terem tirado todos os bens e esquecia-te a ti também, pois o teu silêncio era
aterrador e o que sobrava eram palavras, assim, dizias-me para terminar de te chatear,
quando a terminação era não sei qual...Sabias bem que não gostava que me
chamassem maluco, só por pensar, só por não andar a dizer e a parguntar àquele e a
este o que se passava no mundo, quando suspeitava que havia gente com males
piores, que tinham mais obsessões do que um grupo de homens acicatados pelo ódio
ao seu semlhantes, e enquanto isso, não regressando a mim mesmo, perguntava-se
agora eternamente o que se passava com esses homens e mulheres, agora que te
julgavas Deus, agora mesmo que ultrapassavas o teu e os meus limites, como se
nunca houvesse amanhã nas nossas madrugadas e eu estava, com o coração
apertados, numa réstia e refùgio de mim mesmo, indagando como havia longe
sonhado em regressar a esse momento, a esse espaço protegido, a essas
contingências... Eu vestia-me diante de ti e perguntava-Te o que me ficava bem e tu
dizias, isto e aquilo, que “aquela camisa beje fica-te melhor enquanto eu coçava a
micose dos pés e me passavas a pomada, eu ficava ali, perto a janela, vendo o que o
mundo me oferecia, mil e uma coisas e mais alguma, enquanto a minha alma
trespassava o teu coração como um cupido eu olhava o teu corpo e esqeucia-me da
tristeza de viver só, recuperávamos um pouco de humanidade nesses dias em que não
estava assim tanto calor quanto era esperado. Levantava ainda algumas questões
manifestamente loucas como a minha preocupação lançada através dos dias de como
arranjar emprego, agora que me dedicava à escrita de um modo mais sistemático e tu
me davas alento e força para que chegasse assim ao fundo da tua alma, esquecendo o
percurso errático do meu pensamento sem Ti. Era assim que eram feitos aqueles dias
em que meti uma folga das gentes do sul, enquanto sorvia uma cerveja na aldeia, em
Riachos, pensando em Ti, pensando agora em tudo menos em mim, nos encontros e
regressos a si mesmo, para além de Ti, para além de tudo, ficando apenas um cenário
digno de pintor romântico, uma banda sonora que espelhava as nossas almas naqueles
tempos de modorna. Enquanto esperava por ti na estação de comboio, passaram por
mim dois ou três pedientes e dois ou três, ou quatro passgeiros que estava ali para o
mesmo propósito que eu, à espera do comboio de Godot, enquanto nos diferentes
graus da minha mente eu tentava satisfazer o desejo de união a Ti, mesmo estando
longe, mesmo tendo poucas hipóteses de te ver, por isso esperava, deixava passar o
tempo, aos solavancos, aos arranques inesperados, como se de um último fôlego
precisasse ainda de mim no teu coração, na Tua presença, na Tua transcendência.
Mesmo assim, no café da aldeia não me atrevia a entrar, como receio de Te encontrar
e que me chamasses de louco, louco por uma transcendência que se assinalava aos
altos e baixos no quotidiano, quando loucos eram todos aqueles normais que não se
atreviam a questionar a realidade, aceitando, aceitando tudo e nada construíndo de
novo para os outros, pois esse sentimento perseguia-me mesmo quando corria
defronte para ele, esse sentimento de atraiçoamento do Eu, das suas manifestações,
volições e responsabilidade. Era como se me tivessem arrancado o bocado de Ti que
em mim vivie, inesperadamente aflito por Te perder, conjuntamente com os teus
filhos que fizeras com outro. Não me desviei num um pouco e era mais do que isto
que tinha para te dizer, aqui, no recanto florido da minha alma de agora, do meu
sentimento de antanho, do meu comportamento daqueles dias instáveis e prolíficos.
Esses dias seriam os último ou os primeiros de uma série deles, nos quais procurava
libertar-me da Tua presença sem no entanto conseguir, pois tua presença avassalador
era viral e nada mais me faria perder o chão, enquanto de um lado para o outro, dois
duendes ditavam a nossa sorte
num hospital encravado em penhascos, em que apenas a natureza era lenitivo para os
males da mente, esses que são os mais difíceis de curar, tal como o hábito insanável
de abrir a janela para te ver sair quando ias para a escola, para o teu trabalho, para os
teus dias, mais tarde eu seria ousado e visitar-te-ia, porquanto não chegasse apenas a
minha presença para Te tirar dos maus hábitos mentais em que te tinhas instalado,
longe do campo, da simplididade das casas, da arrogância e autoconvencimento dos
bêbados. Iria, se me pedisses, de encontro a ti no meu carro, onde quer que estivesses
estarias à minha espera, isto de não ter quem espera por nós pode ser frustrante, ao
fim e ao cabo. Iria, pois em vez se ficar por cá, enquanto tu te deslocarias para outro
lugar onde nos encontraríamos, perto da falésia, no promontório das nossas
existências, particularmenteirritados por não podermos, como outros, mandar no
mundo, no nosso mundo. Ainda assim, fiqui mais um pouco, enquanto chovia sobre a
neve emprestada ao gato branco que dormitava suavemente perto de mim...Ali, acolá,
onde me deito, faço o traço dos destinos dos inimigos, da inveja que pingam, sem dar
atenção ao que são, ao que deixam de ser. É assim por vezes, quando damos
importância às pessoas, elas julgam-se com mais dignidade do que a que têm. Essas
pessoas, que falam da vida dos outros como se fossem dignas da verdade, estão
demasiadamente embutidas na realidade para perceber o que aos seus olhos não
passam de um monte de caca, para não dizer outra coisa. Ao invés, há pessoas que
vêm muito mais além, que sabem ver poesia e literatura onde há chatice e abjecção.
Essas são as pessoas que interessam, enquanto aquelas são as que passam pelo tempo
passando o tempo por elas sem que nada aconteça de diferente, de interessante, de
válido para os outros. Essas são as pessoas que mandam no país, pensando que
mendam nada significam para uma imensa maioria que tem estar silenciosa, tolerante,
na expectativa do que eles fazem, pois também elas estiveram na expectativa. Daqui,
seguiríamos para assunto mais interessante que tem a ver com a relação com o Ego, o
Ti e o tátá daquelas coisas que verdadeiramente interessam...Assim como se tivesse
trabalhando demais, resolvi abrandar, despachei o psicólogo e entrei d enovo no
casulo que me pertencia. Lembrava-me de ti, da vontade de falar contigo, das
inúmeras premissas que gerava o nosso diálogo, mesmo depois de emn cair e ter
recuperado os sentidos. Era estranho, minha mente partia-se aos bocadinhos e
precisava de concentração para que esse processo não chegasse ao fim, ao fim de
mim mesmo... Perguntas-me como estou, não sei, digo eu, tu pareces estar instalada
numa náusea eterna, vociferando por dentro, como se tua mente estivesse dentro de
uma caixa fechada filosófica daquel não pudesse libertar-se, mesmo que tentando,
batando contra as paredes de tal caixa, paciência digo eu, deves ter paciência porque
os lados dessa caixa são o tempo e não o lugar. O lugar, habitação do tempo, é o lugar
donde estou vendo os teus movimentos de protozoário. Fora da consciência de si,
tudo contei ao leitor, o pensado e o sucedido, deveria então com mais afinco ter
contado a quantas pernas foi preciso andar para fugir aos inimigos, da mente e do
corpo, sendo que, uns com trabalho se julgam injustiçados, outros sem ele se julgam
também. Continuando, deverei ter fugido de mim mesmo, quando outros sempre os
mesmos, me fechavam a porta,quando uma flor me indicava o caminho, quando ter
tudo era a mesma coisa do que ter nada. E assim, enquanto uns se acham no vitupério
de saber e falar acerca de tudo, não ousando calar sequer a verdade, outros há que
falam verdade sem que se saiba. Com o sabor do silêncio, os campos eram como que
admoestados a se manterem fiéis aos acontecimentos. O medo grassava nos corações
do solitário empregado do farol, enquanto mais ou menos depois da meia noite, no
enfiamento das raízes etérias, outras flores se erguiam no papel. Então, naquele crisol
de camélias onde me encontrava, desenvolviamente como uma àrvore, com as
sementes lançadas todo o semeador fica bem mais descansado, apesar de ser perigoso
todo o terreno fértil, quando a vida gera vida em bons pensamentos, deixara de
praticar yoga e corrida e os maus pensamentos ficavam retidos no goto da alma.
Então, um carro chegou e eu que não tenho carro, fiquei com inveja, mas teria
prefirido andar a pé se não fora o caminho percorrido até então, pretensamente
imaculado e invejado. A falésia tinha voltado, estava eu agora mais perto do abismo
como nunca, desejando não me lançar quando de certa maneira havia passado um
inferno e tinha outro para passar, um purgatório para purgar, um céu quiçá para viver.
O que mais me valia era o sentido da filosofia, dos outros, de mim próprio. O mundo
e as pessoas pareciam-me agressivas, mandavam-me trabalhar quando o amor e a
sorte não me surgia. Podia ter uma doença, mas talvez não a tivesse. Meu espírito
pedia para viver, mais e mais com mais intensidade... Um dia passado em Corbeil,
entre sono e vigìlia, outro na estação mais próxima, limpando o cú com um caco,
indo de um lado para o outro no metro, belas aventuras sem utilidade e sem
companhia, pudera dizer isto aos outros, enquanto a fixidez da razão me perseguia
como um diabo sociopata, me perseguia ao ponto d eme obrigar a cometer algum
impropério contra os outros, contra alguém que não me dizesse o que gostaria de
ouvir, enfim, numa manhã mais ou menos gloriosa juntavam-se duas três pessoas
num café, procurando estabelecer qualquer coisa de razoável. Entretanto, na hesitação
entre a net e a realidade virtual, as escolhas eram mais ou menos sensatas. Entre a
poesia e a prosa, o desgaste apresenta-se frutífero. Há que disfrutar das próprias
inomináveis coisas e defeitos que a vida nos traz, depois de passarmos uma fronteira
moral e conceptual, como se tivéssemos um pénis dentro do cérebro. Imagem
interessante essa, pois já nos chamaram tarados sexuais, certamente haverá quem
mais seja tarado e se preocupe mais com o desgaste dos cagalhões. Curioso...sabia
que Erasmo tinha o entestino grosso ligado ao cérebro?
Damásio explicaria este facto cientifico bem melhor do que nós, que apenas
queremos saber das descargas ocasionais que a TAP e a Ryanar efectuam, executam.
Resultado de muitas investigações, cheguei ao ponto de partida, pelo que deveria
poder continuar a pensar conceptualmente a relação entre Deus e a ciência, entre o
desejo e a trasncendência, entre a sexualidade e a religião, pois transcendente é o
desejo pagão. Pensava assim por binómios, repartia minha actividade entre a relação
entre sujeito e realidade, social e particular, trasncendente e terrena, procurando
honestamente as palavras mais adequadas. Encontrava assim na tontura dos dias, uma
repiração mais ou menos grave o perturbadora, procurando evitar a agressividade,
procurando zenizar a minha existência. Esperava assim naqueles dias de campeonato
do mundo de futebol, o regresso à capital do meu indagar. Não podes pensar isso de ti
próprio ou dos outros. Tás a perceber? Nada e tudo ao mesmo tempo acontece, antes
que a bola entre na baliza. Com toda esta conversa de emprenhar pelos ouvidos, furei
o tímpano e a ressaca de um futuro sobressaltado assaltou-me quando viajava, daqui
para além, regressando a mim mesmo numa festa de aldeia, por entre insultos de
gente que nunca viveu na cidade. Não podia dizer nada sobre ninguém, vivia em
conflito, todos faziam mais do que uma besteirada e na selva quem faz mais besteira
é o maior, de modo que esta anarquia desordenada parecia ser o contrário de uma
teoria da conformidade. A realidade estava além, ali fora, enquanto um pequeno
escritor tinha medo de mim, ainda que estivesse todo borrado de merda. Não havia
transcendência particular na imensa cor vermelho-negra de uma battata e de uma
mosca, vivia abandonado a mim mesmo, ainda na esperança de reencontrar o amor
perdido. Neste novo país pós-salazarista, todos tinham alguma opinião.Todavia, entre
correr e morrer, prefiro morrer a correr. No entanto, o verde da esperança desenhava-
se no horizonte e enquanto uns e outros lhe preparavam o terreno, por vezes somos
mais benvindos entre estranhos do que familiares.
Assim sendo, voltei àquele espaço onde proliferavam as moléculas de rock
progressivo, no teatro de operações sentimentos se misturavam e oscilavam entre a
regra e o preceito mais ou menos conservador, enquanto os bichas faziam paradas de
alto mediatismo. Assim, depois disso, as pessoas guerreavam devido à propriedade
privada como que tendo pudicos sentimentos acerca de sua intimidade. Enquanto
isso, relia o Memorial do Convento de Saramago e lembrava-me de novo o murro que
levei na Nazaré e que me partiu os óculos vindo de um pescador. Em todo o caso,
povoei o meu universo de vida, tendo chegado a dizer “quem és tu, miúda”? Tiago
tinha ido para Nova Iorque sem sair de Lisboa, percorrendo caminhos invulgares e
especiais. Ansiedade de te ver. Mas, quem és tu?
Passaram dias e dias, o retono a hábitos infames antigos permitia-me ver o meu
passado escondido na memória de uma vida passada. Muita gente esperava por mim,
havia uma supeita no ar e eu ensaiava outros voos, ainda que me sentisse sufocado de
palavras e emoções. Não é fácil sabermos de que é feito o mundo e estarmos sempre
a ser contrariados... Em vez de insistir nos quê e porquês da minha racionalidade
bacoca, resolvi lançar os olhos para um amigo que se sentia feliz entre a vinha e serus
pais, e havia abandonado de vez a grande cidade para se dedicar, assim sendo, à
agricultura. Era feliz, eu sabia, mesmo que não atendesse os meus telefonemas. Mas,
também, não era esse o tipo de amigo que procurava, eu procurava um conselheiro
sexual, para dissipar as dúvidas sobre minha orientação sexual e mais quejandas. Por
momentos senti intensamente a lança de Deus no meu coração transviado, e nenhuma
necessidade invadia o meu espírito, estava completo, no final da minha vida, tinha
ainda tanto por fazer, seria hora de passar o testemunho, estava com a alma suspensa
por um fio, andava de lá para cá como o Rei em Sintra, no Palácio da Pena,
arrependi-me por momentos por não ter sido padre, mas agora era já tarde, não me
queria ver metido em confusões, era um momento extensivo de libertação que sentia,
ouvindo One Republic, todas as emoções se misturavam naquela clareira, para onde
olhava todos os dias, o meu silêncio rebentava nos ouvidos dos surdos, curando-os de
suas maleitas e eu pedia-lhe emprestado o sexto sentido. Assim, naquele dia passei a
acreditar na mesma santa que minha mãe, a Nossa Senhora de Fátima e os meus
pensamentos foram sendo cada vez mais positivos. Mas não quero apenas falar de
mim. Vou introduzir alguns personagens no universo lácido e virtuoso de um passado
feito de choques e pequenas lutas, nada de importante em relação a outras, mas que
tem ainda assim, algo de humorístico. Afinal concluí que era minha mãe santa, foi
essa a conclusão a que cheguei ao fim de quase meia centena de vida. As minhas
disposições de espírito deviam-se essencialmente ao facto de não ter rendimentos
para a escrita, ou viver da escrita, cavva há muito tempo em busca do Santo Graal e
nada aparecia. Viria a ser um autor premiado pelo tempo? Sabia que havia muitos
como eu, na mesma corrida, e mais jovens, mais inteligentes, mais especializados,
com uma visão mais abrangente. Mas eu continuava na minha quinta, entretido com
pensamentos minimais e ligações pouco prováveis entre ter, ser e pertencer. Tinha o
pressentimento que muita gente não me queria bem, aqui ou na aldeia, mas fosse
como fosse, devido a motivos económicos, permanecia esperasnçoso quanto aos dias
fortuitos. Fosse como fosse, precisava de come;ar qualquer coisa de novo, agora que
parecia que a minha vida era o contar de uma biografia mais ou menos acidentada.
N\ao tinha necessidade de contar a minha vida, at]e porque a vizinha estava
aprendendo a escrever e ser famosa comigo, a partencer ao jetset de uma forma
inolvid]avel. Tinha a perce;\ao na minha narrativa e vida que estava pedindo
demasiado dos outros e eu pouco dava. Ou o contrario.
O GATO NEGRO

Um casal de gatos negro apareceu a minha porta no dia da Primavera de Praga.


Estava fumando um cigarro a soleira da porta. A minha cabeca deixara de funcionar
naqueles dias. So numa semana tinha estado quatro dias sem dormir, julgava/me
psicotico ou coisa parecida. Finalmente, era tempo de arranjar uma mulher e repartir
com ela as minhas riquezas patrimoniais. O gato tinha/me dado azar, ou coisa
parecida a isso. Passei entao noites em claro devido a esse gato que me aparecia em
sonhos. Dizem que os gatos conferem ma sorte a quem os observa. Talvez seja a
necessidade que temos de nao entrar em panico que nos faz preservar os gatos entre
nos. Do casal, junto, nada mais vi. So no final de historia me apareceu um deles, nao
sei se macho se femea. Quando os encontrei, no fundo da consciencia vigilante, um
deles tinha um lacinho amarelo para se distinguir do outro, como se fosse um
presente envenenado para quem tem olhar transviado e pose sobranceira diante dos
outros e nao sabe o caminho da humildade e sabedoria. O nosso dono virtual andava
as voltas ao destino, nem sabendo ele que lhe esperava uma morte cruel a fatidica...
A relacao entre os homens e os peixes naqueles tempos de guerra fetidica para
muitas familias desenrolava criando na mente das pessoas comuns a percepcao de
que os la;os entre pessoas animais seriam inisiveis. Mas, adiante, o tal gato de que
falamos apareceu/nos quando tomavamos um comboio para a capital, eis o desenlace
da nossa historia. Azar ou sorte, era o que estavamos para ver. Entre a razao e o
discurso academico e antropologico e o discurso do senso comum, preservador dos
medos que nos permitem viver melhor, abanava/se o pendulo das sorrtes humanas
dos individuos. Firmino, o nosso dono virtual daqueles dois gatos pretos, voltava por
vezes as costas as responsabilidades, entrevendo entrecortadas facetas de luz radiosa
na sua vida, por obediencia a principios cegos de voluptuosidade benfazeja. Os gatos
tem, assim uma heran;a cosmologica assignata as suas vidas e quotidiano. Nos por ca
preferimos o cao, mais carnivoro e feroz, menos deificado e fino que o gato. Poderia
ser uma analogia com o cunhado Ratov o que acontecera naquele cenario cinzento
dostoievskiano...Entre a irreverencia de que quer mudar o mundo, transfoma/lo a sua
imagem adolescente e entre aqueles que aceitam viver nele assim, aceitando o que se
lhes oferece e partir dai para mundos melhores, eis um dos grandes desefios da nossa
heranca cultural, ninguem pode renegar o seu passado, e isso que os outros veem, ha
uma heranca a preservar e isso e ja dar ao mundo aquilo que o Outro ve nele como de
coisa boa. Assim, no campo estavam a espera de Lucinda dois cagalhoes dos nossos
gatos pretos, um deles tinha um lacinho, era prenda de aniversario para Lucinda,
eheheheh....
Entre a tentacao do sado machismo e do homossexualismo, Firmino optava
compuilsivamente pelo heterosexxualismo, nao que nao soubesse estar diante das
mulheres, mas, como aconteceu no outro dia no baile, tinha levado duas tampas e
assim acondicionou o seu ego a uma hostilidade benfazeja e optou por nao investir no
sempre insatisfeito sexo contrario.Entre as preocupacoes ecologicas, humanitaria
quase, e a preocupacao consigo mesmo, Goffman, amigo intimo de Firmino,
partilhava tambem o desencanto das mulheres e dos gatos pretos, enquanto o cunhado
Ratov a prima Leires as possuiam todas sem que dessem sinal de esforco. nt\ao, nesse
mesmo recesso de ter a ver desejo sexual com gatos, Miriade, uma amiga algo
distante dos primeiros anos de vida de Firmino e Leires, encontrava/se agora no
coracao da rede que nunca para, que acumula e arrasta, que e a vida do planeta Terra.
Uma terra, pouca terra, o comboio la via, por entre pontes e vales, levando mais um
passageiro, Estnes. O mundo do futebol simpolizaza todos os items antropologicos da
sociedade e da universalidade> competicao pelo Bem. Ora, um mendigo arrastava o
desejo por entre a luz forte do dia, ferrea, luminosa mas, sem doendo, criminosa. Esta
e uma historia acerca do azar, dai os gatos pretos, mas um gato preto foi visto, andou
de comboio, ou de carro, enquanto este ficou para o fim aquele ficou pelo caminho, e
eram ambos bastante amigos do planeta que albergavam, com tracos de personalidade
unicos mas bemfazejos. Doceis no trato, tornavam/se agressivos quando se sentiam
ameacados na sua integridade, quando alguem os queria levar para o
apartamento...Ainda assim, Firmino vivia feliz com poucos bns, enquanto outros,
nem se diga como viviam... Nao e facil viver numa mundo como este quando nao
aprendemos ou nao sabemos lidar com mulheres e ganhar dinheiro, pelo trabalho.
Estnes era um destes campeos do nao saber, parecia mais um ET observando como os
homens cortejam e seduzem as mulheres e ganhar dinheiro para se manterem vivos e
com saude.
Nesta listagem de personagens, Emanuel queria ora ser policia ora
discojoquei,enquanto seu pai se preocupava em que ela trabalhasse com ele, tratasse
dos gatos, pois que agora um dos negros juntou/se a familia. Familia, disse ela.
Toina.Assim va a nossa historia, a vista e os olhares perturbam/se, confundimos
sentimentos e pensamentos, quando tudo parece estar na ordem, enquanto se da uma
tareia a vizinha, aspecto de gente. Nao podes contraria o trato das pessoas, a genetica,
eu creio e que ha pouca reflexao na nossa sociedade moderna e um impeto para o
consumo que favorece pequenos nichos de especulacao discriminando as familias que
nao consomem em grande escala e incentivando aquelas que consomem a consumir
mais. O gato preto perseguiu me ate a altura em que parti da aldeia, veio da cidade,
enfim, cada pessoa transmite o seu afecto a quem quer que ache bem fazer, talvez nao
interessem bastantes teoria a esse respeito, mas o certo e que cada vez mais aumenta
a pornografia e cada vez mais, correlativamente, as pessoas nao ousam mostrar os
seus sentimentos, sendo as relacoes entre as pessoas cada vez mais formais,
robotizadas...
A menina estava entao carente e as psicomotricidade apenas enganavam as
aparencia, mas noutro caso nada havia que enganar, o ser humano precisa de
imaginacao, esforco e emocao, senao esta espiritualmente morto, ou socialmente
morto, como diria Erica para mal dos seus pecados.Falo aqui de uma criatura que vi
nascer e crescer, de algu]em que andou rodeando a minha porta faminta de sexo e em
cuja conviv|encia n\ao ha nenhuma base de humanidade, depois dizem que nao vale a
pena saciar o desejo, nao parece haver nada de espiritual neste tipo de relacoes
humanas em que Toina se meteu. Cuidado com as pessoas que entram em vossa casa,
disse Toina. O mais certo e visivel e que Toina tinha acedido a recer o gato restante
na sua habitacao, mas este, ao ver a sua natureza cigana, ironicamente, fugiu de casa
e foi de encontro a sua natureza animal no campo que se estendia em frente. Ent\ao,
enquanto podia, decidi visitar a poetisa que me insultara e dar/lhe umas li;oes de
etica, porque afinal quem tinha ficado com os gatos era eu e Estnes havia ficado com
ela, eis aqui onde me envolvo e desenvolvo a minha argumentacao seguindo um
senhor Paulo e uma senhora Toina, que se passeavam mais ou menos fora e dentro, e
davam as suas quecas (fodinhas) no apartamento contiguop ao meu, isto acontece
com muita gente, eis a forma de foder uma pessoa e estar pensando noutra, tambem o
faco frequentemente, nao sei se sera erros ou havera alguem que explique isto, mas
creio que as pessoas estao desenvolvendo dois cerebros em vez de um puro e
saudavel, enquanto outros, que se dedicam a gestaop do espaco, o tem do tamanho de
uma ervilha. Entao, nesses dias, percebi que os mortos nao estao vivos e que o
passado se mantem no presente e manter se a no futuro, que nao e preciso construir
maquina do tempo coisa nenhuma, pois temos registos mais o menos esotericos ou
tecnologicos que nos permitem viajar no tempo e, em ultima analise, temos as
testemunhas e os testemunhos, escritos ou nao, da morte dos outros. Enquanto isso,
Erica tinha aulas de bom comportamento no Instituto de Higiene e Medicina Tropical
e o resultado de todas essas epocas mais ou menos temporas iria certamente ser
tragico, pois a origem de todas as coisas de mal em Elsa foi o seu fascinio pela morte
e desprezo visceral pela vida, sendo que venha o especialista em ciencias sociais e
humanas e diga que uma e outra sao a mesma coisa. Esta tudo dito. Agora ia uma
cerveja. Aos solavancos, Estnes percorria ao inves um caminho nao sinuoso, pois
enquanto envelhecia parecia melhorar na convivencia com as
pessoas/de/enche/o/saco. Puxa saco, como diz o brasileiro. Enquanto me esforcava
por regressar a normalidade, encontrei um sujeito na propriedade da minha mente que
me encontrou no cerebro, na mente, ou talvez ate, para ser mais sincero uma bala
alojada, que vinha dos meus tempos de Afeganistao, isto com propriedade so poderia
fazer/me merecer o Nobel, mas la chegariei depois de ultrapassar Joao Rosas, esse
gajo que escreve e nao encontra nenhuma critica social, enfim, o amor no seu melhor,
ou pior, o esquematismo das marcas mentais da sacralidade da percepcao. Esse amigo
entusiasmou me para continuar a minha obra, ainda que com parcos recurso, mas bem
se diga que a maior parte de quem quer ser escritor anda la para ser famoso e dar
umas quecas, eu nao minto que seja doutra maneira. Seja como for, enquanto havia
terminado Essa Entente e Objectal, preparava me para incluir nessa nova obra este
Gato, ou gatos, sendo que, nao gozando com o concreto, se tratavam de duas bestas
animadas geminadas, isto faz que pensar, um atras do outro a ver quem da mais, que
o combustivel talvez nao chegue a estacao de servico...
Assim, percebi que o homem que abraca o mundo e por ele rejeitado, pois afinal de
contas as pessoas apenas, digo eu, lhes interessam os seus sentimentos mesquinhos e
estamos em ferias, enquanto todos ou quase todos estao de papo para o dar, estao
mesmo porque tem os seus empregos garantidos. Pois eu agora estou a trabalhar e
mais tarde, daqui a dois ou tres meses gostaria de estar a trabalhar, mas estou
assignado a uma questao bem mais importante que e como se fosse uma missao e a
ela devo estar comprometido e assignado, enfim, a fartura e estilistica literaria esta se
acabando, e preciso combustivel para a fascinacao da obra, depois de objectal, virou
liquida e vai confundir se com as do rio Sena. Afinal, talvez seja este o segredo da
vida, ou da morte, que e a mesma coisa, o ser humano desfazer se em lagrimas ou
suor e misturar se, fundir /, com a agua, fonte de toda a vida. Continuando a falar da
personagem que mais interessa, seja Eu, como todos estarao pensando, entre teoria
social e critica literaria, ascensao social, resolvi antes ser um working class hero, que
me da forca para continuar a ascender socialmente, embora nao com dramas de
abracar o mundo com maus e bons pensamentos. Na compulsao orientada a fazer
algumas coisas mais ou menos legitimas, encontrei uma forma de me liberdar doas
macaquices que tenho na cabeca, ou que a mente atrai, como o esgoto atrai a merda,
merda de vida esta, que nem trabalho tenho para alimentar a minha escrita, por isso,
mesmo sem dinheiro valha mais a pena atirar me a importalidade de pes juntos, que
se ha de fazer. Entre a construcao de uma teoria, que esbocei em Uma Teoria da
Conformidade, dedicado a este governo que conseguiu reunir sensibilidades
discordantes para, mais ou menos, sair da crise, realtivamente, mas com certeza
CONSEGUIU MELHORAR A IMAGEM DO PAIS, ISSO NAO HA VOLTA A
DAR. ENFIM, SOMOS PESSIMISTAS COMO OS INGLESES, MAIS DO QUE OS
ESPANHOIS. Assim, decidi sair da galeria dos escritores e antropologos notaveis e
inscrever na galeria daqueles que fazem o que querem, seja, escrevem o que querem.
Tinha uma satisfação sem igual ao chegar a tal posto, filosoficamente. Sei que
perderia bastante do mundo virtual, mas ganharia certamente muito mais em exemplo
a demonstrar e do mundo real, com todas as suas riquezas, com todas as suas
dificuldades e contrariedades. Incoerencias e inconformidades. Por isso fazia sentido
fazer sentido pela conformidade, como um percurso biologico, subectivo, indivudual,
que termina da melhor maneira.

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