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3 Diagrama de Pareto

O desperdício constitui a grande preocupação de quem procura gerir


a qualidade. Por que ocorrem perdas? A experiência tem mostrado que são
poucas as causas de grande parte das perdas.5 Então, o primeiro passo na ges-
tão da qualidade é identificar as causas que determinam a maioria das perdas.
O segundo passo é eliminar essas causas para diminuir o desperdício. Mas de
que tipo são as perdas? Na indústria, são consideradas perdas:
• Produção de itens com defeito e/ou falha, necessidade de reparo e/ou
retrabalho.
• Despesas extraordinárias.
• Acidentes de trabalho, quebra de equipamento, furto.
• Falta de estoque, demora de entrega, erros na entrega.

Como se estabelece a ordem em que as perdas devem ser sanadas?


Existe uma ferramenta para isso: é o diagrama de Pareto.6

3.1. Para que serve um diagrama de Pareto?


O diagrama de Pareto apresenta a distribuição das perdas, por ordem
de frequência. O analista pode, então, estudar primeiramente as perdas

5
Para deixar claro que são poucas as causas que determinam a maioria das perdas, cunhou-se a
expressão “poucas são vitais, a maioria é trivial”. É comum dizer que, na análise de um diagrama
de Pareto, usa-se o princípio de Pareto, também conhecido como regra do 80/20. Isso porque
muitos acreditam que 80% dos problemas são explicados por cerca de 20% das causas de variação.
6
Esse diagrama também é usado para priorizar causas de outros tipos de fracasso – e não somente
perdas – e para priorizar causas de sucesso como, por exemplo, aumento de venda de determinado
produto.
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que ocorrem com maior frequência. O diagrama de Pareto estabelece,


portanto, prioridades, porque estabelece a ordem em que as perdas devam
ser sanadas.
Para fazer o diagrama:
• Determine o tipo de perda que você quer investigar como, por exem-
plo, peças com defeitos.
• Especifique o que você quer investigar. No caso do exemplo, po-
dem ser investigados em peças com defeito: tipo de defeito, locali-
zação do defeito, causas do defeito.
• Estabeleça, antes de começar a coleta de dados, o período de tem-
po em que isso será feito.
• Organize uma folha de verificação com as categorias do que você
decidiu investigar. No caso do exemplo, se você decidiu investigar
tipos de defeitos, escreva os tipos conhecidos em uma folha de
verificação como mostra o Exemplo 1.3 do Capítulo 1.
• Preencha a folha de verificação.
• Faça as contagens, organize as categorias por ordem decrescente de
frequência.
• Se algumas categorias tiverem frequência muito baixa, agrupe to-
das elas numa única categoria, sob a denominação “Outros”,7 e
coloque essa categoria na última linha da tabela.
• Calcule o total.

EXEMPLO 3.1: Pareto para defeitos em produtos


Na Tabela 3.1 são apresentados os tipos de defeitos encontrados em um
produto. Note que a categoria “Outros” fica na última linha, apesar de ter
frequência maior do que as anteriores.

7
A frequência de “Outros” pode ser maior do que a da categoria anterior. Isso se explica pelo fato
de essa categoria agrupar várias outras. No entanto, se a frequência de “Outros” for muito alta,
você provavelmente agrupou categorias que deveriam estar separadas.

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Parte 1 – Sete Ferramentas Estatísticas... | Capítulo 3 – Diagrama de Pareto

Tabela 3.1 – Distribuição dos tipos de defeitos encontrados


Tipo de defeito Frequência
Saliências 19
Asperezas 18
Riscos 12
Manchas 10
Cor 10
Outros 11
Total 80

Calcule as frequências, as frequências relativas, as frequências acumula-


das e as frequências relativas acumuladas. Para obter a frequência acumulada,
some a frequência da categoria com as frequências das categorias anteriores.

EXEMPLO 3.2: Cálculo das frequências acumuladas


Veja a Tabela 3.1 novamente. Para riscos, por exemplo, a frequência acumu-
lada é
19 + 18 + 12 = 49
e a frequência relativa acumulada é
23,8 + 22,5 + 15,0= 61,3.

Tabela 3.2 – Distribuição dos tipos de defeitos encontrados


Frequência Frequência Frequência
Tipo de defeito Frequência
relativa (%) acumulada relativa acumulada (%)
Saliências 19 23,8 19 23,8
Asperezas 18 22,5 37 46,3
Riscos 12 15,0 49 61,3
Manchas 10 12,5 59 73,8
Cor 10 12,5 69 86,3
Outros 11 13,8 80 100,0
Total 80 100,0

O diagrama de Pareto também é bastante usado em serviços. É ex-


celente ferramenta para analisar problemas de faltas de funcionários, de de-

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sistências de consultas, de reclamações em hotéis, de entregas erradas de


mercadorias etc.

EXEMPLO 3.3: Pareto para erros em serviços


Numa empresa que vende seus produtos por telefone, há funcionários para
registrar os dados dos clientes. Os erros cometidos nesses registros são tabe-
lados para análise. Veja a Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Distribuição de erros de registros


Frequência Frequência Frequência
Erro Frequência
relativa (%) acumulada relativa acumulada (%)
Nome do comprador 57 37,0 57 37,0
Endereço incompleto 52 33,8 109 70,8
No do produto 20 13,0 129 83,8
Hora da entrega 15 9,7 144 93,5
Outros 10 6,5 154 100,0
Total 154 100,0

3.2. Como se desenha o diagrama de Pareto?

• Trace um eixo horizontal. Divida esse eixo em tantas partes iguais


quantas são as categorias listadas na tabela.
• Trace um eixo vertical e escreva nele as frequências.
• Trace barras verticais, justapostas, com alturas iguais às frequências
das respectivas categorias.
• Desenhe as barras por ordem decrescente das frequências, ou seja,
da mais alta para a mais baixa. Só a categoria “Outros” deve ser
deixada em último lugar (à direita), independentemente da altura.
• Complete a figura colocando título, data e nome do responsável
pela coleta de dados.

EXEMPLO 3.4: Desenhos de diagramas de Pareto


Veja a Figura 3.1, feita com os dados do Exemplo 3.1 e a Figura 3.2, feita
com os dados do Exemplo 3.3.

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Figura 3.1 – Diagrama de Pareto para tipo de defeito

Figura 3.2 – Diagrama de Pareto para erros de registros dos dados de compradores

3.2.1. Como se desenha a curva de Pareto?


• Desenhe o diagrama de Pareto deixando espaço na parte superior.
• Para cada categoria, marque um ponto com abscissa igual ao ex-
tremo direito da base da categoria e ordenada igual à frequência
acumulada (ou frequência relativa acumulada da categoria).
• Ligue os pontos.

EXEMPLO 3.5: Desenho da curva de Pareto


Veja a Figura 3.3, feita com os dados do Exemplo 3.1. Note que mais de
60% dos defeitos são saliências, asperezas e riscos.

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Figura 3.3 – Diagrama e curva de Pareto para tipos de defeito

3.3. Como se analisa o diagrama de Pareto?


Lembre-se de que o diagrama de Pareto deve estabelecer priorida-
des, isto é, mostrar a ordem de frequência com que os problemas aparecem
para que sejam resolvidos nessa ordem. Usualmente se ganha mais traba-
lhando nas barras mais altas (ou seja, procurando resolver os problemas
que ocorrem com maior frequência) e não nas mais baixas. No entanto,
se determinado problema tem solução simples, mesmo que ocorra com
baixa frequência, elimine-o de imediato: é uma experiência, e ajuda a manter
o moral da equipe.
Alguns autores consideram que se deve usar a “regra dos 80/20”, isto
é, devem ser resolvidos os problemas até que se atinja a marca dos 80%. Mas
importante é verificar e testar diversas estratificações. Nem sempre o proble-
ma é abordado de maneira correta logo de início.

EXEMPLO 3.6: Diagrama de Pareto por estrato


Na Figura 3.4 são apresentados três diagramas. Note que as estratificações
feitas nos dois primeiros – por operador e por partida – não mostraram
onde estava o problema. A terceira classificação – por máquina – localizou
o problema.

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Figura 3.4 – Itens com defeito

É importante, porém, notar que problemas que aparecem com maior


frequência nem sempre são os mais importantes (por exemplo, um defeito
que aparece com frequência nem sempre impede o uso do produto). Então
estude o problema sob vários pontos de vista. Às vezes, interessa sanar os pro-
blemas que têm custo mais elevado para a solução – e não aqueles que ocorrem
com maior frequência. Contraponha dois diagramas de Pareto: um mostrando a
frequência dos problemas e outro mostrando o custo para a solução de cada
problema. Decida, depois, como estabelecer as prioridades.

EXEMPLO 3.7: Diagrama de Pareto para frequência e para custo


Veja os dados apresentados na Tabela 3.4 e na Figura 3.5. Ocorrem mais re-
clamações do tipo A, mas as do tipo C custam mais caro. É um problema de
gerência decidir que problema resolver primeiro – se o mais caro ou o mais
frequente –, mas os diagramas de Pareto exibem essas duas opções.

Tabela 3.4 – Frequência e custo das reclamações


Reclamação Frequência Custo
A 100 100
B 60 30
C 20 200
D 15 10

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Figura 3.5 – Frequência e custo das reclamações

Quebre grandes problemas ou grandes causas em problemas ou causas


específicas. Depois que você identificou um problema ou uma causa como a
mais importante, verifique se pode ser feita uma subdivisão em aspectos mais
específicos. Por exemplo, se você identificou que a causa da baixa velocidade
do automóvel está no “motor”, discrimine as partes do motor para saber em
que parte está o problema.
Quando os dados permitem, faça o diagrama de Pareto com colunas
empilhadas. Você pode descobrir, por exemplo, que a matéria-prima de de-
terminado fornecedor determina a produção de maior quantidade de itens
com defeitos.

EXEMPLO 3.8: Pareto para comparação de fornecedores


A Tabela 3.5 apresenta os tipos de defeitos encontrados em peças fabrica-
das com matéria-prima obtida de dois fornecedores. O diagrama de Pareto
empilhado mostra que a matéria-prima do fornecedor A determina a maior
parte dos defeitos.

Tabela 3.5 – Distribuição das peças segundo o tipo de defeitos e o fornecedor


Frequência
Tipo de defeito Fornecedor A Fornecedor B
A 50 12
C 35 10
E 20 6
D 12 6
B 7 3
Total

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Figura 3.6 – Distribuição das peças segundo o tipo de defeito e o fornecedor

3.4. Resumo
Do que vimos, é fácil entender que o diagrama de Pareto é uma téc-
nica simples para identificar os problemas que devam ser resolvidos priorita-
riamente. Em geral, o diagrama de Pareto é usado para ordenar os problemas
de acordo com a frequência com que ocorrem, mas também podem ser
feitos diagramas de Pareto para ordenar os problemas de acordo com o custo
de solução ou com a importância prática no uso do produto.

O diagrama de Pareto é um gráÀco de barras que evidencia a ordem em que devem ser buscadas as
soluções de problemas.

3.5. Exercícios
1. Faça um diagrama de Pareto para mostrar que, numa empresa, na produção do
operador A havia 8 itens com defeito; do operador B, 11; do operador C, 10; do
operador D, 11; do operador E, 9; do operador F, 9.

2. Faça um diagrama de Pareto para mostrar que, na mesma empresa e para o mes-
mos itens descritos no exercício anterior, havia 10 itens com defeito na produção
da máquina A; 40, da máquina B; e 8 da máquina C.

3. Compare os diagramas dos exercícios 1 e 2. Se os operadores fazem rodízio


nas máquinas e você estivesse procurando a causa do defeito, concluiria que
a causa da maior parte dos defeitos é uma máquina ou um operador?

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4. A Tabela 3.6 apresenta a frequência e o custo da recuperação de cada livro


com defeito, segundo o tipo de defeito, em 45 dos 2.000 livros produzidos em
determinado dia por uma gráfica. Faça um diagrama de Pareto para frequência
e outro para custo. Compare os diagramas.

Tabela 3.6 – Frequência e custo de recuperação de livros com defeitos


Tipo de defeitos Frequência Custo por unidade
Páginas em branco 5 0,15
Páginas rasgadas 2 0,15
Má plastiÀcação 8 3
Mau reÀlamento 10 6
Amarrotado 20 13,5
Total 45

5. Os defeitos de transistores podem ser divididos em cinco classes. Numa amostra


de 24 transistores foram observados 52 defeitos, distribuídos como mostra a
Tabela 3.7. Desenhe o diagrama e a curva de Pareto.

Tabela 3.7 – Transistores com defeito


Defeito Número
Não funciona 22
Amperagem incorreta 16
Torto 3
Defeitos externos 9
Tamanho incorreto 2

6. As reclamações no Procon em determinado ano sobre compras feitas pela


Internet foram assim enquadradas: 18% das reclamações sobre remessas de
pedidos em endereços errados, 22% por erro no produto pedido, 28% por não
entrega do produto, 18% por erro na quantidade pedida, além de algumas outras
reclamações. Faça uma tabela de distribuição de frequências e um diagrama
de Pareto.

7. Faça um diagrama de Pareto com os dados apresentados na Tabela 3.8. Use a


regra do 80/20 para dizer o que é realmente essencial.

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Tabela 3.8 – Principal causa do sucesso de uma empresa,


segundo pequenos empresários
Frequência
Causa do sucesso Frequência
relativa
Presença de um bom administrador 528 0,44
Bom conhecimento do mercado 312 0,26
Dinheiro próprio 204 0,17
Perseverança do dono 84 0,07
Aproveitamento das oportunidades 60 0,05
Capacidade de correr riscos 12 0,01
Total 1.200 1,00

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