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Victor Mota

Corações Imprevistos

Tender Edições
Corações Imprevistos
(Unpredictable Hearts)
Victor Mota

Corações Imprevistos
(Unpredictable Hearts)

Tender Edições
Corações Imprevistos
(Unpredictable Hearts)
Author Victor Mota
Acronym Joseph Taigen

Facebook Oficina do Saber


Blogue cefilo.blogspot.com e tender.blogspot.com
Canal Youtube: “Victor Mota Philosophy”

ISBN: 978 989 879025


Depósito Legal: Julho 2015
Copyright: Sandrina Ausina Mota

Diga NÃO à Copia Ilegal


À minha mãe, que de pequena se fez grande,
muito para alem da vox populi
Ao meu irmão,
que cumpriu a sua Maratona nos 50 primeiros
À minha irmã, que me aporta financeiramente
Ao Luís Gomes, In Vino Veritas
Aos pequenos
Ao Adelino
À Odete e ao João
À tia-prima Lena
A mim próprio, que preciso de ser salvo,
de uma maneira ou de outra
PRÓLOGO

Este romance foi escrito no meio da tempestade que assolou o verão de 2014 em Lisboa, tempos
ainda de crise económica e bulício frenético em Lisboa, por onde andei e recolhi impressões para a
sua feitura. Investi dinheiro que me fora atribuído num misto de reflexão filosofia e descrição da
realidade social das pessoas daqueles tempos e de mim mesmo naqueles tempos. Entre problemas
com a vizinha e mudanças radicais, ou não, na minha vida, pode se dizer que vivia o conflito ou
problema da relação entre o Eu e o Outro. Sentia que minha mãe e meu pai se apagavam pouco a
pouco, a distância, ou com a presença. Sabia que não podia mais estar, a não ser de visita, na aldeia
de meu pai e como não tinha dinheiro para estar em Lisboa, era aqui garantida a minha presença
com o beneplácito e benfeitoria da minha irmã que, seja lá o que fosse fazer, confiança em mim ao
ponto de me compreender bastante intuitivamente, apesar de ter dois filhos para criar, o dinheiro
não podia dar para tudo. Resolvi, então, dedicar-me à minha empresa de edição, tradução, ensino,
porque se até aqui lhe investira ingente esforço e dedicação, não iria agora entregar o ouro ao
bandido e viver de um emprego que não (me) queria. Desafiava o mundo e os outros pela minha
falta de sorte, à medida que pressionava cada vez mais os outros e a mim próprio para realizar os
meus sonhos. Pressionava-me mais a mim próprio do que os outros. Sabia que se alguém merecesse
finalmente alguma coisa naquela cidade, como um romance, uma vida economicamente bem-
sucedida, era eu. Nem mais nem menos. Minha irmã, que muitas vezes eu desconsiderara, era a
minha grande amiga e a única pessoa que sentia que em Riachos, eu apenas fazia figura de
espantalho. Um espantalho com ouro por dentro. De modo que arrisquei pedir-lhe ajuda para,
embora precariamente, estar vivendo em Lisboa, apesar de tudo enquanto escritor no activo e dono
de uma obra que julgo singular. Estamos em Outubro. Acabarei esta obra até Dezembro, se me
puser a isso. Restam-me dois meses para mais 100 páginas. Estamos em 2014. Mando este romance
para a impressora no dia 9 de Julho de 2015. Envolvido em vários projectos, a minha vida encontra-
se relançada. Ainda não arranjei emprego. Talvez daqui a uns tempos, como professor de Filosofia.
Entretanto, vivo com poucos meios, numa digna habitação, procurando ver através dos corpos, da
carne e dos líquidos do corpo, qualquer coisa para além de mim, que me projecte daqui para além…
Essa Entente
Foi preciso uma série de passos atrás para que Marisa pudesse andar direito. Dito de outro modo,
foi preciso muito exercício. De sangue circulando e a plenos pulmões, levantou-se da cadeira,
respondendo ao som retumbante de uma criança que a chamava, ao longe. Marisa acreditava que,
sentando-se virada a ocidente, mais cedo ou mais tarde se levantaria. Sim, Marisa acreditava, como
quem acredita em Deus que, se estive virada para a América, um dia haveria de andar, tal como
acreditava no Bom Deus. Pouco a pouco, seria visitada na sua casa à beira-mar pelos seus cinco
netos, que jogavam à bola no pátio e apanhavam flores para lhe oferecer. Assim, à medida que a voz
de um deles, mais certamente da pequena Joana, se aproximava, Marisa saiu da sua letargia e tomou
vontade de andar. Muitos editores nem que lhe ofereça ouro aceitam. Tem de ser sarrabulho. Papas.
Foi assim que Guilherme passou as passas do Algarve para fazer chegar a sua primeira trilha sonora
de uma séria série de televisão, enquanto o seu amigo Harry se encarregava do guião. Entretanto,
Rui de Carvalho entregava a sua primeira coleção de poemas a um relutante editor que não tinha
dinheiro sequer para matar as saudades de tipografias. Enquanto isso, o tio das Pampas, aos 46 anos
conseguiu arranjar uma turma para o ouvir, dava duas horas por dia.
Em Cardiff, como mais acima em Bergen, alunos ajeitavam-se nas suas diversas disciplinas para
fazer estudos graduados ou pós-graduados em Lisboa, Coimbra e Porto, quando se desenrolavam as
Olimpíadas da Matemática. Enquanto isso, o exército português tomava as Selvagens aos
espanhóis, obrigando-os a descer em direcção a Cabo Verde, onde o Capitão Oceano os esperava
com sua armada de Harleys.
Enquanto isso, Sandrine Demeure, escultora, expunha primeiro na Tate Gallery, mais tarde no
Guggenheim, conseguindo enriquecer e inspirar o seu homem após sua partida para o reino
inspirador. Enquanto isso, visitei Michel Serres na sua casa em Lille, juntamente com a minha Lily.
Fomos de carro até Paris, passámos por Madrid e Barcelona e depois de termos pernoitado na
cidade onde Napoleão se auto-coroou, “subimos” França acima. Depois descemos e visitámos as
históricas cidades da Suíça, onde era quase a mesma coisa que estar em Portugal.
Nada do que escrevesse parecia resultar. Ainda bem. Talvez pudesse continuar. As palavras de
Forjaz de Melo, director da TVI, continuavam a inspirar-me. Nada de especialmente especulativo
me esperava no dia seguinte, talvez menos de mim e mais dos outros. Eram três da manhã, não
estava na minha oficina, estava tranquilamente a meio do mundo. Nada de especial, o banal parecia-
me extraordinário pela primeira vez.
Depois da minha excursão de variados anos, percebi que não tinha saído dos meus 14 anos,
estava a morrer a ainda na idade da adolescência, a melhor e mais revoltosa idade, onde os
orgasmos não são líquidos.

Saudades da confusão e sossego de Lisboa, dos artistas com calças às cores vivas, tensos de
inspiração, alegres de sossego. Quantas cidades em ti habitam?
A minha casa, a cidade, o mundo, as viagens que não faço, os banhos que tomo, a
intersubjectividade, o sol clareando a alma, os olhos cegos de amor e gozo, a saudade que arremata
o estado cosmopolita. A frequência certa na rádio, para além de muitas reticências eivadas de
particularismos corporais, a imperfeita perfeição da paisagem e do cego ego que nela se articula
com a ligação para cima, onde se ajuntam telhas. A bola roda.
Há uma íntima fracção de tempo, uma concreta objecção diante do ecrã, o mundo todo aqui, na
minha cabeça e na dos outros. Escrevo como terápica sabedoria, não sei se Ernesto Sabbato me
ouvirá, agora que nem sei se pertence a este mundo. Rubores de consciência face a um amigo
percorrem-me a espinal-medula da alma, enquanto regresso aos mesmos metros e ao mesmo solo
onde há camadas de consciência, para além de Deus a minha alma espartilha-se, o meu espírito
tenta juntar os bocados. Descubro que ser teólogo também é duvidar da divindade, pois esta se
deixa, enquanto parte de nós mesmos, sujeita à dúvida para que seja mais forte noutro tempo.
Esforço-me por ser mal intencionado, mas não dá resultado algum, apenas sinto a perspectiva dos
outros, enquanto, depois de descrever o mundo através de mim mesmo, dando a minha perspectiva,
evito que isto seja um diário, e que a sede ética tome conta de mim...
Uma caldeirada de nacionalidades, tudo au-point, mais americano ou nova-iorquino que tudo o
que lá se pode encontrar, de uma dia perdido tudo se salva, na razão pretensamente mimética, à
casca da noz, por entre as tábuas da lei humana, enquanto se prepara uma forma de enlaçamento
existencial que Edgar reafirmou no púlpito, pela voz dos mestres para ser mestre com os outros,
enquanto as urtigas já serviam para chá em vez de ser obstáculo à apanha de morangos. Enquanto
isso, Bruno Aleixo falava nos bonecos que ilustravam a nossa fantasia, eivada de Andrea Bocceli,
em menos de dez anos a nação explodirá para gaudio de seus habitantes medievais, tornando o
Japão filho de um deus menor.
Tendo Estnes Monteiro decidido a deixar a sua pequena aldeia e rumado para a Praia, percebeu
que sempre que era imensamente feliz, outra gente era infeliz e que uma coisa não tinha nada a ver
com a outra, pois tempos diversos se juntam em um tempo, ao ponto de trazer ao decima o melhor
que há em nós. Nesta cidade, diversos homens e mulheres, desconfio, se terão perdido, a meio do
caminho pois talvez não houvesse mais caminho para andar, enquanto que em outras cidades,
ouvimos quatro, cinco tiros disparados na nossa direcção, sendo que nenhum nos atingiu, tendo
chegado ao reino de Portugal depois de ter descido em jeito de peregrinação a Pensínsula ibérica e
aqui ter chegado por Terras de Espanha e Portugal.
Indo rio acima, descobri o signo peixes na mais inesperada das baías, projectando o meu Ego
para um promontório onde se ensinavam maneiras de viver diversas, mas que todas conduziam à
felicidade, à consciência da felicidade, que é a melhor forma de felicidade, anos depois de ter
investido minhas energias no mais rigoroso estudo dos clássicos.
Entretanto, no dia em que falecera o meu professor, tinha saudades do Chico e do Vítor, os dois
irmãos com quem nos divertíamos em pequenos, jogando râguebi, pingue-pongue e futebol com
caricas.
Regresso e retorno. Tara Perdida. Os anos passam, tudo se torna mais complicado. Ser homem
ou ser mulher, lá está, a referência a um local ou personagem fora de nós fica sempre bem. Taigen
procurou das imagens de sua mente os personagens dos filmes que visionara e deslocou-se num
foquetão ao planeta onde habitava, com isso esqueceu a marca de massa escura que se alojara na
sua mente.
Entre a acção e a filosofia, a antropologia e a sociologia, bem como a filosofia da acção. Num
vislumbre, acabaria por lhe ser retirado qualquer bem e reservado a carpir as mágoas de suas
conspirações solitárias. Ao lado disso, não lhe habitavam o espírito aquelas feitas por grupos de
supostos amigos. As coisas, os sentimentos, estão confusos e pedes por mais confusão, pois não
suportas a crueza violenta da realidade.
Fecho os olhos e afirmo para mim próprio que não vivo mais. As palavras e as imagens estão a
mais na minha mente, os sentimentos começam a invadir-me e fico atrapalhado pois não há pessoas
perfeitas, pois quando o chegam a ser deixam de o ser.
Gertrudes havia escrito trinta romances e picos e não chegara ainda a uma grande edição e
difusão. Continuava a tentar, mesmo sob a condenação bacoca dos outros, mesmo que o país tivesse
145 de desempregados e que a terrinha era a pior coisa que lhe podia ter aparecido. Ali, as pessoas
não tinham mudado e não mudariam e mesmo os mais jovens eram por vezes mais bacocos e vazios
enquanto seres humanos que metia dó.

Quase não trabalhara, mas haviam frquentado várias universidades, frequentado doutoramento
em Filosofia e outro em Antropologia e continuava vivo paraas curvas. Sua mente espartilhava-se
no espaço, para benefício dos outros (vampiros) que a seus olhos o empobreciam. Pobres coitados!
Quem não o conhecia, dizia que “era mais um “, no entanto, pelo seu passado, suas esperanças,
havia ficado projectado imensament vivaz no espaço em volta, como quem esquarteja uma estátua.
Vai por ali, evita acolá. Todos lhe davam bitaites sobre o que havia ou não de fazer quanto à sua
vida. Entrementes, continuava pensando filosoficamente, o que parecia ser altamente genial e
desafiador num pobre país com assistência do F.M.I...ou...F.I.M?...
Estava mais perto da avó, que nos dias de sobrevivência e velhice ainda jogava ao Euromilhões e
se deslocava Albergaria para levantar o seu cheque. Enquanto isso, Ricardo ignorava os factos e
continuava obcecado pela escrita sociológica a que se juntava sua carreira académica, como aliás, a
de Daniel, que tinha amigos que não o eram.
Os dias de amor e uma cabana acabavam. Os jovens tinham carro e emprego, logo namorada.
Quem não tinha carro, nem emprego não tinha namorada, pois isso satisfazia-me como podia, se
tivesse desejo. Ou então esquecia-se, no grupo de amigos e virava para outras tarefas como escolher
alvos pessoais para lhes foder o juízo e as finanças. Brincadeiras de garotos.
Ao fundo de tudo. A noite nada lhe dizia, o dias nada lhe trazia. Instalara-se a desolação no seu
coração. Como podia, ao fim de tanto tempo, de tantas noites só, alimentar ainda a chama do amor?
Custa-me mais a respirar. Depende do tabaco que compre. Hoje faço observações pelo que não
fiz, não faço nem farei, porque não sei bem o que faço, fiz e farei. Eu espero por um prémio que me
possa levar adiante nesta vida, quando não fiz nada de especial para o merecer. Pessoa só publicou
A Mensagem em vida. Vistas as coisas, terei publicado mais. Tudo me aborrece, não consigo
aprofundar nada, nem um livro, um pensamento. A solidão é atroz e tento consciencializar-me de
que poderá ser pior se não me habituar.
Objectal

Acendi um cigarro. Atrás de mim, um vento enublava-se e prometia levar-me para uma outra
dimensão, uma dimensão sem tempo, sem espaço, onde a intimidade seria eterna e onde podia
acreditar ou convencer-me que estaria para sempre a sós com o meu pensamento. Do lodo do rio
Rejo, emergiu um cardápio de peixes que lá viviam não sei como, talvez a botânica ou a biologia
explicassem isso. Lá longe, antes de eu saber, dois carros haviam colidido violentamente. Eu
precisava de mais factos, mas não podia viajar, sob pena de sair do lugar de inspiração em que
estava metido. Era simples concordar com as vozes interiore que gritavam imprecações violências e
palavras obscenas, afinal que tinha eu conquistado? Nada, nada me poderia consolar naqueles dias
em que me encontrava a sós comigo mesmo, numa vida feita de pescada de rabo na boca. O eterno
retorno às origens, remoendo-se minha almna em sentido primários. Agora que estava prestes a
alcançar a celebridade, só me apetecia fugir pela estrada e percorrer caminho que nunca conhecera
senão em sonho, nem sequer em sonho. Uma criança gritava, estas eram as visões parcelas daqueles
dias. O cão estava sossegado. Como eu. O mundo autor movia-se para além das nossas perspectivas
pessoais, subjectivas e eu que havia sempre estado em solidariedade para com o cão, estava-o agora
mais do que nunca. Ao fim de tanto tempo, porque me conheciam, estava de bem comigo próprio,
encontrava sentido para as mil e uma coisas que me iam surgindo no quotidiano. Cansado, bebia
ainda café, mas sei que podia estar longe, bem longe daqui, inventando e descobrindo mundos
inusitadamente estranho, mas por vezes adversos, sem que terminasse a minha jornada desanimado
e com sentido de derrota, um atleta passava e eu alimentava esse estado de bicho da seda da escrita,
aqueles sentir respirando em direcção a quelquer coisa que nunca vem completamente, que se
manifesta apenas através da subjectividade dos sentidos e que nunca chega a nós com carácter
objectal...
Meu desejo erótico também não se manifestava, parecia que seria qualquer coisa fora de mim,
muito fora de mim, enquanto, sequencialmente, diziam mal me mim porque se mordiam de uma
inveja primitiva e anaárquica. Não tinha de aguentar aquilo, estava melhora na clareira onde poderia
respirar e fazer sentido por mais uns anos. Tinha provisões, a sirene da polícia que passava, tocada,
o cento de fundo acolhia os carros que passavam na ponte. E eu fechava a porta. De repente,
olhando pela janela, apercebo-me de que não estou perdendo nada, que não há mensagem nenhuma
especialmente dirigida a mim, que o mundo não é feito para mim e que eu tenho de construir o meu
próprio mundo, o que já acontece de uma certa maneira, mesmo com o mal de solidão, apesar de
com este mal, sobretudo devido a este mal...
A sirene da polícia toca de novo, agora mais intensamente, o cão uiva admirado, como se fosse
um lobo, ou até um lobisomem, ouve-se o estalar das teclas diante dos meus óculos, de repende
aparece alguém trazendo-me dinheiro. Eu aceito, afinal ainda conto escrever Uma Teoria da
Conformidade e o Curso de Filosofia para Tótós, e não peqguei nestas obras porque, aqui no casulo,
esperava pelo momento certo para morder o espaço em branco, o écrã, o papel em branco, se
quiseres. Quem seria essa pessoa? Não a reconheci de imediato, mas seria talvez um polícia à
paisana, intui pela maneira como falava. Estava ali, naquele estado de quase loucura, mesmo que
muitos me achassem já louco, estava são que nem um pero, controlando várias variáveis para que ao
fim e ao cabo pudesse ser considerado com um autor de boa jornada, frutífera, numa palavra,
objectal, pois era isso que os meus contemporêneos entendiam como uma vida vivida em todo o seu
esplendor, o carácter objectal da realidade aliado à sua manifestação do espírito social... Meses
depois, regressaria a Odessa se para isso tivesse coragem, bagagem, para inusitadas praias,
regressando a cores e vítreas esperanças de infância, com mais ponderão, ficando longe em casa,
longe de duas casas, apenas habitadas por mim, entre as quais me movia, esperando encontrar poiso
certo ao fim de tantos anos de desamores, viveria assim a vida de alguém que não o meu íntimo
reduto de homem, como que fazendo de dona de casa, caminhando ao longo da linha, como antes,
como muito antes, na pressa de chegar ao fim, a um fim que não diria qual, esperando com minhas
palavras ter sossego para me deitar em paz e não ter comigo os fantasmas numa cama que não fiz,
num depósito para o meu corpo esbelto, à espera de ser visto, aguardando por um sinal de partida
para outro porto, para outra margem. Acintoso e amargo sabor esse o da meia vitória, tal como se
tivesse estado num degredo imperial, chegando a um novo porto, a uma nova forma de esperar, a
um novo contingente do qual me livrei. Olhando em redor, as paoilas ameçavam-me o futuro, mas
eu sei que o futuro não está escrito nos nossos coração, sei que nossos corações colam-se às estrelas
do céu tal como nossos lábios outrora uns aos outros se colaram, por assim dizer, digo-te eu que não
sou grande coisa com mulheres embora não goste de outra coisa. Enquanto me dizias que era
necessário estar atento, eu regressei incoluntariamente a arcaicas concepções herdadas de meus
avós e bebi uma cerveja em nome do machismo, mas estava longe de ti, por isso pouco te importava
a minha atitude e eu prescrutei por cima do teu ombro um outro homem que andava contigo, talvez
me estivesses a trair, atrevi-me a pensar, antes e depois do meu pensamento sobre ti, perdido no
tempo, desgraçado nas horas e a minha mente ameaçava quebrar quando te tinha longe, não sabia
verdadeiramente o que fazer, se quebrar se torcer, enquanto procuravas em teus aposentos uma
forma de ter o meu amor e o corpo de outro homem, cuja presença não fosse tão literária quanto a
minha, de facto era também um ser à espera de qualquer coisa, que por vezes ficava imóvel retido
na sua excelsa indididualidade, outras fugia para a frente, como se tivesse uma bola para marcar
golo dentro da pequena área, como dizerm na giria futebolistica. Minha mente estava tanto aqui,
dentro deste meu oco depósito que é a minha cabeça, como acolá, entre dois ramos de uma planta a
que chamaria plátano, pois me faz lembrar o Canadá e tu dizer ainda “pensas pelos outros?” eu digo
que “não”, que estou numa forma estranha de reclusão senti-mental, como se quisesse alguém com
quem falar, entre duas carruagens de comboio como se ainda por cima tivesse de falar sozinho toda
a vida, pois ainda por baixo decidi começar a dizer disparates sem medo que o roamntismo
desaparecesse, era uma aposta de risco, naqueles tempos sob assistência económica. Então, o
velhote vestiu como eu a camisola vermelha, pois estavam ficando frias aquelas noite de verão e o
Benfica estava ganhando e o Araújo Pereira estavam passando na tv “Melhor do que Falecer”
enquanto eu modestamente assentava estas coisas na minha agenda, pois procurava alguma espécie
de sanidade neste mundo que me dava tudo o que e nada me pedia em troca, eu dizia ainda bem que
as coisas têm um princípio e um fim e enquanto isso, o Rafael fazia mais amigos, dar-lhe-ia dois ou
três se os tivesse, dos bons, entre os quais um poeta de vanguarda que saia comigo nas noites de
Lisboa, como nos bons velhos tempos. E Lisboa estav dentro de mim, aquela mesma do Diário
Popular, do Incrível e do jornal desportivo Off-Side, que ia pedir ao tio Zé, depois foi sempre a
memsmoa coisa, o apela do Deus, a provação, o pecado mas também o misticismo, ainda bem que
te vi ontem, pois durante horas ficaste conversando com aminha mãe enquanto o meu pai te
preparava um copo de vinho do Luís...
Muitas coisas tinha para te contar antes que te fosses embora, para as tuas ocupações, mas repara,
fui-me esquecendo de ti e dali a pouco já estava com outras, havias de reparar, entendes,
conversámos um pouco, bebemos uns copos e acabábos desafiados numa cama de motel, enquanto
uns e umas ficavam sós, elas certamente porque queria, pois vocês é que têm a faca e o queijo na
mão, por assim dizer e os homens encontram outras formas de dar vazão à sua força, e eu sou um
deles, dizia, não posso mais amar-te, isto está me tirando as forças, estou ficando sem sangue,
parece que minha alma está sendo consumida por um centrípeto desejo de euforia que não deixa o
corpo descansar e o esgota, pensamento após pensamento, no reino do sentimento...
Vivia assim na eminência da tua presença, para evitar ter de passar papel pela borda da sanita,
preocupado comigo e com o outro que viesse a entrar no meu espaço por mim preenchido e a maior
parte das vezes a tua ausência era tão avassaladora quanto a tua presença, não digo isto em
detrimento de ti, mas de mim, que não sabia dizer-te frontalmente o que sentia na tua presença, com
o receio primordial de te perder e que com essa perdição ficasse também eu perdido para sempre.
No dia em que te visitei, lá perto do 13 de Maio, decidimos os dois a Fátima e contei-te que tinha
algumas dívidas junto dos bancos, ao mesmo tempo que te confessei que queria voltar a correr para
vencer os meus problemas cardíacos que finalmente assumi. E falámos até entrar na escuridão da
noite e foi a última vez, pois aquela mulher que no dia seguinte veio ter comigo, começou a dizer
mal de ti e não discutimos. E pensei no meu velhote, descansando de cansado que estava e não
conseguia imaginar pessos tão cansada do mundo que ele e ao mesmo tão tolerante, se fosse outro
dava-me um chuto no rabo e mandava-me dizer prosa para outro lugar, enquanto isso eu persistia
em mim mesmo como em ti e como naquela mulher que me esparava na estão de Corbeil, fumando
um cigarro para adensar a situação de estar sem pessoa com quem falar, enquanto eu ficava surdo
do meu amor por ela e por ti... E assim, depois de me teres dito na cara que precisava de falar
contigo novamente para acertar umas coisas, deixei-me estar onde havia estando sendo feliz
bastante tempo e depois regressámos os dois de Fátima, onde foras agradecer a Deus o facto de me
teres conhecido, enquanto isso eu quase me espatifei num carro que era do meu pai e no qual tu
andavas também, dizias-me que estava transviado dos bons caminhos da vida e eu decididamente
dizia que não, que substituía a falta e carência de amor com outras mulheres, virtuais, o que me
deixava fora do mundo bastante tempo, no leito, complicadamente aturdido. Depois, quando
regressava a um pré-consciência demasiado pesada, tinha comigo aquele livro maldito analisado
pelo filósofo Foucault e pensava que tinha resolvido todos os enigmas da existência humana, ali
quando tu me havias faltado e estava só na luz em pleno dia, quando queria deixar estar as coisas da
maneira como elas se haviam composto, deixando a escuridão e o silêncio da noite compôr as
coisas e as ideias no meu pensamento como toda a gente faz, como tu e eu fazemos quando não
estamos demasiado inquietos com a nossa sorte e a dos outros, pois aí alguma relação de causa-
efeito existe. Ali, nos bidonvilles, estava muitos de nós e parece-me que neste propósito eu não
deixava muita coisa ao acaso, era um deles, desse povo apaixonado e que puxa as coisas para a
frente porque teme injustiças. Estavas a cear, só, desgostosa de teus efeitos na realidade, deixando
os pensamentos cair de um momento para o outro, no teu cérebro, fumando um ou outro cigarro
para queimar o tempo, ao mesmo tempo que vivias iludida com a morte, a morte de si mesmo,
numa doença mortal que só Kierkegaard poderia explicar melhor se ainda estivesse vivo, contudo
no seu texto teria dito tudo aqueilo que havias precisado de saber. Bastaria que o lêsses logo nessa
noite de verão, quando os grilos deixassem de grilar. E então, aleijado por essa compulsão, eu torcia
o meu Ser e procurava dentro de mim mesmo as circunstâncias de dias e dias sem norte, nunca
procurando desajor a memória de Ti dentro de mim, de mim dentro de mim, resgatando motivações
mais ou menos patológicas, quando não sabia que estava vivendo uma forma de desespero que me
levaria quiçá a Ti, ao interior de ti mesma, muito para além dos outros uqe desafiavam as vontades
ínfimas, nos regressos de cada um a si mesmo. No meu casinhoto iludia as formas de me
reencontrar contando que estarias bem, que estarias saudável, que me permitiria uma ou outra
veleidade no encontro de Ti Mesma, depois de ter feito coisas úteis para a decoração da casa onde
viviam meus pais, decidi por isso sair, sair de mim mesmo de forma a evitar um aprisionamento de
que tu mesma sofrias, aquèm do desejo incumprido, como se dar ordem natural das coisas se se
tratasse. Nesse dia, depois d emuitos cansaços, ensaiava esquecer-Te mas como compreendia que as
coisas da vida não são somente desta, pois nossos desejos mais profundos se projectam no éter
como quem precisa de água, água que o corpo tem, eu tentava esquecer-te mas tu nem a mínima
importância ou palavra me dirigias, enquanto eu, aprisionado no desejo por Ti, continuava a minha
tarefa de Estra, de um forma ou outra, ligado a ti, espasmodicamente ligado a Ti, enquanto de ti
havia duvidado a maior parte do tempo porque me pedias em carta para ser eu mesmo, em vez de
um ser que tem certeza e que aloja as necessidade da sua mente na mente dos outros e de Ti, ousei
questionar e com isso pus a minha fé à prova, como se de um copo de vinho, um delicioso copo de
vinho se se tratasse, acompanhado de boa e tradicional comida tudo menos requentada, acabada de
fazer, como eu próprio seria um Ser acabado de fazer se em ti tivesse mais segurança, mais alento,
mais determinação como quem decide uma final no último minuto, não deixando ao adversário
qualquer capacidade de reacção. Assim, dada a última cerveja, deixei o álcool fazer o que bem
entendia do meu corpo e tive mais uma vez vontade de uma forma ou de outra teria algum mérito
quem chegasse primeiro, sendo que as corridas são para acabar e assim também a inspiração por
qualquer coisa de novo, de inaudito, qualquer coisa que transcendesse a alma para a salvar da
penúria e do estertor. Assim, naquela tarde quente continuava como que ilustrado pelas impressões
da mente, tentando regressar a mim próprio, a um passado de mim próprio que não me queria
comprometer, como quem tem medo de enlouquecer e se agarra a Deus e aos homens para que tal
não aconteça, quando estamos vivendo uma liberdade própria de quem já enlouqueceu e tenta
regressar a um vida normal, depois de lhe terem tirado todos os bens e esquecia-te a ti também, pois
o teu silêncio era aterrador e o que sobrava eram palavras, assim, dizias-me para terminar de te
chatear, quando a terminação era não sei qual...Sabias bem que não gostava que me chamassem
maluco, só por pensar, só por não andar a dizer e a perguntar àquele e a este o que se passava no
mundo, quando suspeitava que havia gente com males piores, que tinham mais obsessões do que
um grupo de homens acicatados pelo ódio ao seu semelhantes, e enquanto isso, não regressando a
mim mesmo, perguntava-se agora eternamente o que se passava com esses homens e mulheres,
agora que te julgavas Deus, agora mesmo que ultrapassavas o teu e os meus limites, como se nunca
houvesse amanhã nas nossas madrugadas e eu estava, com o coração apertados, numa réstia e
refúgio de mim mesmo, indagando como havia longe sonhado em regressar a esse momento, a esse
espaço protegido, a essas contingências... Eu vestia-me diante de ti e perguntava-Te o que me ficava
bem e tu dizias, isto e aquilo, que “aquela camisa beje fica-te melhor enquanto eu coçava a micose
dos pés e me passavas a pomada, eu ficava ali, perto a janela, vendo o que o mundo me oferecia,
mil e uma coisas e mais alguma, enquanto a minha alma trespassava o teu coração como um cupido
eu olhava o teu corpo e esquecia-me da tristeza de viver só, recuperávamos um pouco de
humanidade nesses dias em que não estava assim tanto calor quanto era esperado. Levantava ainda
algumas questões manifestamente loucas como a minha preocupação lançada através dos dias de
como arranjar emprego, agora que me dedicava à escrita de um modo mais sistemático e tu me
davas alento e força para que chegasse assim ao fundo da tua alma, esquecendo o percurso errático
do meu pensamento sem Ti. Era assim que eram feitos aqueles dias em que meti uma folga das
gentes do sul, enquanto sorvia uma cerveja na aldeia, em Riachos, pensando em Ti, pensando agora
em tudo menos em mim, nos encontros e regressos a si mesmo, para além de Ti, para além de tudo,
ficando apenas um cenário digno de pintor romântico, uma banda sonora que espelhava as nossas
almas naqueles tempos de modorna. Enquanto esperava por ti na estação de comboio, passaram por
mim dois ou três pedintes e dois ou três, ou quatro passageiros que estava ali para o mesmo
propósito que eu, à espera do comboio de Goudot, enquanto nos diferentes graus da minha mente eu
tentava satisfazer o desejo de união a Ti, mesmo estando longe, mesmo tendo poucas hipóteses de te
ver, por isso esperava, deixava passar o tempo, aos solavancos, aos arranques inesperados, como se
de um último fôlego precisasse ainda de mim no teu coração, na Tua presença, na Tua
transcendência. Mesmo assim, no café da aldeia não me atrevia a entrar, como receio de Te
encontrar e que me chamasses de louco, louco por uma transcendência que se assinalava aos altos e
baixos no quotidiano, quando loucos eram todos aqueles normais que não se atreviam a questionar a
realidade, aceitando, aceitando tudo e nada construindo de novo para os outros, pois esse
sentimento perseguia-me mesmo quando corria defronte para ele, esse sentimento de atraiçoamento
do Eu, das suas manifestações, volições e responsabilidade. Era como se me tivessem arrancado o
bocado de Ti que em mim vive, inesperadamente aflito por Te perder, conjuntamente com os teus
filhos que fizeras com outro. Não me desviei num um pouco e era mais do que isto que tinha para te
dizer, aqui, no recanto florido da minha alma de agora, do meu sentimento de antanho, do meu
comportamento daqueles dias instáveis e prolíficos. Esses dias seriam os último ou os primeiros de
uma série deles, nos quais procurava libertar-me da Tua presença sem no entanto conseguir, pois tua
presença avassalador era viral e nada mais me faria perder o chão, enquanto de um lado para o
outro, dois duendes ditavam a nossa sorte num hospital encravado em penhascos, em que apenas a
natureza era lenitivo para os males da mente, esses que são os mais difíceis de curar, tal como o
hábito insanável de abrir a janela para te ver sair quando ias para a escola, para o teu trabalho, para
os teus dias, mais tarde eu seria ousado e visitar-te-ia, porquanto não chegasse apenas a minha
presença para Te tirar dos maus hábitos mentais em que te tinhas instalado, longe do campo, da
simplicidade das casas, da arrogância e autoconvencimento dos bêbados. Iria, se me pedisses, de
encontro a ti no meu carro, onde quer que estivesses estarias à minha espera, isto de não ter quem
espera por nós pode ser frustrante, ao fim e ao cabo. Iria, pois em vez se ficar por cá, enquanto tu te
deslocarias para outro lugar onde nos encontraríamos, perto da falésia, no promontório das nossas
existências, particularmente irritados por não podermos, como outros, mandar no mundo, no nosso
mundo. Ainda assim, fiqui mais um pouco, enquanto chovia sobre a neve emprestada ao gato
branco que dormitava suavemente perto de mim...Ali, acolá, onde me deito, faço o traço dos
destinos dos inimigos, da inveja que pingam, sem dar atenção ao que são, ao que deixam de ser. É
assim por vezes, quando damos importância às pessoas, elas julgam-se com mais dignidade do que
a que têm. Essas pessoas, que falam da vida dos outros como se fossem dignas da verdade, estão
demasiadamente embutidas na realidade para perceber o que aos seus olhos não passam de um
monte de caca, para não dizer outra coisa. Ao invés, há pessoas que vêm muito mais além, que
sabem ver poesia e literatura onde há chatice e abjecção. Essas são as pessoas que interessam,
enquanto aquelas são as que passam pelo tempo passando o tempo por elas sem que nada aconteça
de diferente, de interessante, de válido para os outros. Essas são as pessoas que mandam no país,
pensando que mandam nada significam para uma imensa maioria que tem estar silenciosa, tolerante,
na expectativa do que eles fazem, pois também elas estiveram na expectativa. Daqui, seguiríamos
para assunto mais interessante que tem a ver com a relação com o Ego, o Ti e o tátá daquelas coisas
que verdadeiramente interessam...Assim como se tivesse trabalhando demais, resolvi abrandar,
despachei o psicólogo e entrei de novo no casulo que me pertencia. Lembrava-me de ti, da vontade
de falar contigo, das inúmeras premissas que gerava o nosso diálogo, mesmo depois de cair e ter
recuperado os sentidos. Era estranho, minha mente partia-se aos bocadinhos e precisava de
concentração para que esse processo não chegasse ao fim, ao fim de mim mesmo... Perguntas-me
como estou, não sei, digo eu, tu pareces estar instalada numa náusea eterna, vociferando por dentro,
como se tua mente estivesse dentro de uma caixa fechada filosófica daquele não pudesse libertar-se,
mesmo que tentando, batendo contra as paredes de tal caixa, paciência digo eu, deves ter paciência
porque os lados dessa caixa são o tempo e não o lugar. O lugar, habitação do tempo, é o lugar donde
estou vendo os teus movimentos de protozoário. Fora da consciência de si, tudo contei ao leitor,
pensado e o sucedido, deveria então com mais afinco ter contado a quantas pernas foi preciso andar
para fugir aos inimigos, da mente e do corpo, sendo que, uns com trabalho se julgam injustiçados,
outros sem ele se julgam também. Continuando, deverei ter fugido de mim mesmo, quando outros
sempre os mesmos, me fechavam a porta, quando uma flor me indicava o caminho, quando ter tudo
era a mesma coisa do que ter nada. E assim, enquanto uns se acham no vitupério de saber e falar
acerca de tudo, não ousando calar sequer a verdade, outros há que falam verdade sem que se saiba.
Com o sabor do silêncio, os campos eram como que admoestados a se manterem fiéis aos
acontecimentos. O medo grassava nos corações do solitário empregado do farol, enquanto mais ou
menos depois da meia-noite, no enfiamento das raízes etéreas, outras flores se erguiam no papel.
Então, naquele crisol de camélias onde me encontrava, desenvolvidamente como uma árvore, com
as sementes lançadas todo o semeador fica bem mais descansado, apesar de ser perigoso todo o
terreno fértil, quando a vida gera vida em bons pensamentos, deixara de praticar yoga e corrida e os
maus pensamentos ficavam retidos no goto da alma. Então, um carro chegou e eu que não tenho
carro, fiquei com inveja, mas teria preferido andar a pé se não fora o caminho percorrido até então,
pretensamente imaculado e invejado. A falésia tinha voltado, estava eu agora mais perto do abismo
como nunca, desejando não me lançar quando de certa maneira havia passado um inferno e tinha
outro para passar, um purgatório para purgar, um céu quiçá para viver. O que mais me valia era o
sentido da filosofia, dos outros, de mim próprio. O mundo e as pessoas pareciam-me agressivas,
mandavam-me trabalhar quando o amor e a sorte não me surgia. Podia ter uma doença, mas talvez
não a tivesse. Meu espírito pedia para viver, mais e mais com mais intensidade... Um dia passado
em Corbeil, entre sono e vigília, outro na estação mais próxima, limpando o cú com um caco, indo
de um lado para o outro no metro, belas aventuras sem utilidade e sem companhia, pudera dizer isto
aos outros, enquanto a fixidez da razão me perseguia como um diabo sociopata, me perseguia ao
ponto d eme obrigar a cometer algum impropério contra os outros, contra alguém que não me
dizesse o que gostaria de ouvir, enfim, numa manhã mais ou menos gloriosa juntavam-se duas três
pessoas num café, procurando estabelecer qualquer coisa de razoável. Entretanto, na hesitação entre
a net e a realidade virtual, as escolhas eram mais ou menos sensatas. Entre a poesia e a prosa, o
desgaste apresenta-se frutífero. Há que disfrutar das próprias inomináveis coisas e defeitos que a
vida nos traz, depois de passarmos uma fronteira moral e conceptual, como se tivéssemos um pénis
dentro do cérebro. Imagem interessante essa, pois já nos chamaram tarados sexuais, certamente
haverá quem mais seja tarado e se preocupe mais com o desgaste dos cagalhões. Curioso...sabia que
Erasmo tinha o entestino grosso ligado ao cérebro?
Damásio explicaria este facto cientifico bem melhor do que nós, que apenas queremos saber das
descargas ocasionais que a TAP e a Ryanair efectuam, executam. Resultado de muitas
investigações, cheguei ao ponto de partida, pelo que deveria poder continuar a pensar
conceptualmente a relação entre Deus e a ciência, entre o desejo e a trasncendência, entre a
sexualidade e a religião, pois transcendente é o desejo pagão. Pensava assim por binómios, repartia
minha actividade entre a relação entre sujeito e realidade, social e particular, trasncendente e
terrena, procurando honestamente as palavras mais adequadas. Encontrava assim na tontura dos
dias, uma repiração mais ou menos grave o perturbadora, procurando evitar a agressividade,
procurando zenizar a minha existência. Esperava assim naqueles dias de campeonato do mundo de
futebol, o regresso à capital do meu indagar. Não podes pensar isso de ti próprio ou dos outros. Tás
a perceber? Nada e tudo ao mesmo tempo acontece, antes que a bola entre na baliza. Com toda esta
conversa de emprenhar pelos ouvidos, furei o tímpano e a ressaca de um futuro sobressaltado
assaltou-me quando viajava, daqui para além, regressando a mim mesmo numa festa de aldeia, por
entre insultos de gente que nunca viveu na cidade. Não podia dizer nada sobre ninguém, vivia em
conflito, todos faziam mais do que uma besteirada e na selva quem faz mais besteira é o maior, de
modo que esta anarquia desordenada parecia ser o contrário de uma teoria da conformidade. A
realidade estava além, ali fora, enquanto um pequeno escritor tinha medo de mim, ainda que
estivesse todo borrado de merda. Não havia transcendência particular na imensa cor vermelho-negra
de uma batata e de uma mosca, vivia abandonado a mim mesmo, ainda na esperança de reencontrar
o amor perdido. Neste novo país pós-salazarista, todos tinham alguma opinião.Todavia, entre correr
e morrer, prefiro morrer a correr. No entanto, o verde da esperança desenhava-se no horizonte e
enquanto uns e outros lhe preparavam o terreno, por vezes somos mais benvindos entre estranhos do
que familiares.
Assim sendo, voltei àquele espaço onde proliferavam as moléculas de rock progressivo, no teatro
de operações sentimentos se misturavam e oscilavam entre a regra e o preceito mais ou menos
conservador, enquanto os bichas faziam paradas de alto mediatismo. Assim, depois disso, as pessoas
guerreavam devido à propriedade privada como que tendo pudicos sentimentos acerca de sua
intimidade. Enquanto isso, relia o Memorial do Convento de Saramago e lembrava-me de novo o
murro que levei na Nazaré e que me partiu os óculos vindo de um pescador. Em todo o caso, povoei
o meu universo de vida, tendo chegado a dizer “quem és tu, miúda”? Tiago tinha ido para Nova
Iorque sem sair de Lisboa, percorrendo caminhos invulgares e especiais. Ansiedade de te ver. Mas,
quem és tu?
Passaram dias e dias, o retono a hábitos infames antigos permitia-me ver o meu passado
escondido na memória de uma vida passada. Muita gente esperava por mim, havia uma supeita no
ar e eu ensaiava outros voos, ainda que me sentisse sufocado de palavras e emoções. Não é fácil
sabermos de que é feito o mundo e estarmos sempre a ser contrariados... Em vez de insistir nos
quê e porquês da minha racionalidade bacoca, resolvi lançar os olhos para um amigo que se sentia
feliz entre a vinha e serus pais, e havia abandonado de vez a grande cidade para se dedicar, assim
sendo, à agricultura. Era feliz, eu sabia, mesmo que não atendesse os meus telefonemas. Mas,
também, não era esse o tipo de amigo que procurava, eu procurava um conselheiro sexual, para
dissipar as dúvidas sobre minha orientação sexual e mais quejandas. Por momentos senti
intensamente a lança de Deus no meu coração transviado, e nenhuma necessidade invadia o meu
espírito, estava completo, no final da minha vida, tinha ainda tanto por fazer, seria hora de passar o
testemunho, estava com a alma suspensa por um fio, andava de lá para cá como o Rei em Sintra, no
Palácio da Pena, arrependi-me por momentos por não ter sido padre, mas agora era já tarde, não me
queria ver metido em confusões, era um momento extensivo de libertação que sentia, ouvindo One
Republic, todas as emoções se misturavam naquela clareira, para onde olhava todos os dias, o meu
silêncio rebentava nos ouvidos dos surdos, curando-os de suas maleitas e eu pedia-lhe emprestado o
sexto sentido. Assim, naquele dia passei a acreditar na mesma santa que minha mãe, a Nossa
Senhora de Fátima e os meus pensamentos foram sendo cada vez mais positivos. Mas não quero
apenas falar de mim. Vou introduzir alguns personagens no universo lácido e virtuoso de um
passado feito de choques e pequenas lutas, nada de importante em relação a outras, mas que tem
ainda assim, algo de humorístico. Afinal concluí que era minha mãe santa, foi essa a conclusão a
que cheguei ao fim de quase meia centena de vida. As minhas disposições de espírito deviam-se
essencialmente ao facto de não ter rendimentos para a escrita, ou viver da escrita, cavva há muito
tempo em busca do Santo Graal e nada aparecia. Viria a ser um autor premiado pelo tempo? Sabia
que havia muitos como eu, na mesma corrida, e mais jovens, mais inteligentes, mais especializados,
com uma visão mais abrangente. Mas eu continuava na minha quinta, entretido com pensamentos
minimais e ligações pouco prováveis entre ter, ser e pertencer. Tinha o pressentimento que muita
gente não me queria bem, aqui ou na aldeia, mas fosse como fosse, devido a motivos económicos,
permanecia esperançoso quanto aos dias fortuitos. Fosse como fosse, precisava de come;ar
qualquer coisa de novo, agora que parecia que a minha vida era o contar de uma biografia mais ou
menos acidentada. Não tinha necessidade de contar a minha vida, até porque a vizinha estava
aprendendo a escrever e ser famosa comigo, a partencer ao jetesete de uma forma inolvidáavel.
Tinha a perceção na minha narrativa e vida que estava pedindo demasiado dos outros e eu pouco
dava. Ou o contrário.
O Gato Negro
Um casal de gatos negros apareceu a minha porta no dia da Primavera de Praga. Estava fumando
um cigarro a soleira da porta. A minha cabeca deixara de funcionar naqueles dias. So numa semana
tinha estado quatro dias sem dormir, julgava/me psicótico ou coisa parecida. Finalmente, era tempo
de arranjar uma mulher e repartir com ela as minhas riquezas patrimoniais. O gato tinha/me dado
azar, ou coisa parecida a isso. Passei entao noites em claro devido a esse gato que me aparecia em
sonhos. Dizem que os gatos conferem ma sorte a quem os observa. Talvez seja a necessidade que
temos de não entrar em panico que nos faz preservar os gatos entre nos. Do casal, junto, nada mais
vi. So no final de historia me apareceu um deles, não sei se macho se femea. Quando os encontrei,
no fundo da consciencia vigilante, um deles tinha um lacinho amarelo para se distinguir do outro,
como se fosse um presente envenenado para quem tem olhar transviado e pose sobranceira diante
dos outros e não sabe o caminho da humildade e sabedoria. O nosso dono virtual andava as voltas
ao destino, nem sabendo ele que lhe esperava uma morte cruel a fatidica...
A relacao entre os homens e os peixes naqueles tempos de guerra fetidica para muitas familias
desenrolava criando na mente das pessoas comuns a percepcao de que os la;os entre pessoas
animais seriam inisiveis. Mas, adiante, o tal gato de que falamos apareceu/nos quando tomavamos
um comboio para a capital, eis o desenlace da nossa historia. Azar ou sorte, era o que estavamos
para ver. Entre a razao e o discurso academico e antropologico e o discurso do senso comum,
preservador dos medos que nos permitem viver melhor, abanava/se o pendulo das sorrtes humanas
dos individuos. Firmino, o nosso dono virtual daqueles dois gatos pretos, voltava por vezes as
costas as responsabilidades, entrevendo entrecortadas facetas de luz radiosa na sua vida, por
obediencia a principios cegos de voluptuosidade benfazeja. Os gatos tem, assim uma heran;a
cosmologica assignata as suas vidas e quotidiano. Nos por ca preferimos o cao, mais carnivoro e
feroz, menos deificado e fino que o gato. Poderia ser uma analogia com o cunhado Ratov o que
acontecera naquele cenario cinzento dostoievskiano...Entre a irreverencia de que quer mudar o
mundo, transfoma/lo a sua imagem adolescente e entre aqueles que aceitam viver nele assim,
aceitando o que se lhes oferece e partir dai para mundos melhores, eis um dos grandes desefios da
nossa heranca cultural, ninguem pode renegar o seu passado, e isso que os outros veem, há uma
heranca a preservar e isso e já dar ao mundo aquilo que o Outro ve nele como de coisa boa. Assim,
no campo estavam a espera de Lucinda dois cagalhoes dos nossos gatos pretos, um deles tinha um
lacinho, era prenda de aniversario para Lucinda, eheheheh....
Entre a tentacao do sado machismo e do homossexualismo, Firmino optava compuilsivamente pelo
heterosexxualismo, não que não soubesse estar diante das mulheres, mas, como aconteceu no outro
dia no baile, tinha levado duas tampas e assim acondicionou o seu ego a uma hostilidade benfazeja
e optou por não investir no sempre insatisfeito sexo contrario.Entre as preocupacoes ecologicas,
humanitaria quase, e a preocupacao consigo mesmo, Goffman, amigo intimo de Firmino, partilhava
tambem o desencanto das mulheres e dos gatos pretos, enquanto o cunhado Ratov a prima Leires as
possuiam todas sem que dessem sinal de esforco. Nt\ao, nesse mesmo recesso de ter a ver desejo
sexual com gatos, Miriade, uma amiga algo distante dos primeiros anos de vida de Firmino e Leires,
encontrava/se agora no coracao da rede que nunca para, que acumula e arrasta, que e a vida do
planeta Terra. Uma terra, pouca terra, o comboio la via, por entre pontes e vales, levando mais um
passageiro, Estnes. O mundo do futebol simpolizaza todos os items antropologicos da sociedade e
da universalidade> competicao pelo Bem. Ora, um mendigo arrastava o desejo por entre a luz forte
do dia, ferrea, luminosa mas, sem doendo, criminosa. Esta e uma historia acerca do azar, dai os
gatos pretos, mas um gato preto foi visto, andou de comboio, ou de carro, enquanto este ficou para o
fim aquele ficou pelo caminho, e eram ambos bastante amigos do planeta que albergavam, com
tracos de personalidade unicos mas bemfazejos. Doceis no trato, tornavam/se agressivos quando se
sentiam ameacados na sua integridade, quando alguem os queria levar para o apartamento...Ainda
assim, Firmino vivia feliz com poucos bns, enquanto outros, nem se diga como viviam... Nao e facil
viver numa mundo como este quando não aprendemos ou não sabemos lidar com mulheres e ganhar
dinheiro, pelo trabalho. Estnes era um destes campeos do não saber, parecia mais um ET
observando como os homens cortejam e seduzem as mulheres e ganhar dinheiro para se manterem
vivos e com saude.
Nesta listagem de personagens, Emanuel queria ora ser policia ora discojoquei,enquanto seu pai se
preocupava em que ela trabalhasse com ele, tratasse dos gatos, pois que agora um dos negros
juntou/se a familia. Familia, disse ela. Toina.Assim va a nossa historia, a vista e os olhares
perturbam/se, confundimos sentimentos e pensamentos, quando tudo parece estar na ordem,
enquanto se da uma tareia a vizinha, aspecto de gente. Nao podes contraria o trato das pessoas, a
genetica, eu creio e que há pouca reflexao na nossa sociedade moderna e um impeto para o
consumo que favorece pequenos nichos de especulacao discriminando as familias que não
consomem em grande escala e incentivando aquelas que consomem a consumir mais. O gato preto
perseguiu me ate a altura em que parti da aldeia, veio da cidade, enfim, cada pessoa transmite o seu
afecto a quem quer que ache bem fazer, talvez não interessem bastantes teoria a esse respeito, mas o
certo e que cada vez mais aumenta a pornografia e cada vez mais, correlativamente, as pessoas não
ousam mostrar os seus sentimentos, sendo as relacoes entre as pessoas cada vez mais formais,
robotizadas...
A menina estava entao carente e as psicomotricidade apenas enganavam as aparencia, mas noutro
caso nada havia que enganar, o ser humano precisa de imaginacao, esforco e emocao, senao esta
espiritualmente morto, ou socialmente morto, como diria Erica para mal dos seus pecados.Falo aqui
de uma criatura que vi nascer e crescer, de algu]em que andou rodeando a minha porta faminta de
sexo e em cuja conviv|encia n\ao há nenhuma base de humanidade, depois dizem que não vale a
pena saciar o desejo, não parece haver nada de espiritual neste tipo de relacoes humanas em que
Toina se meteu. Cuidado com as pessoas que entram em vossa casa, disse Toina. O mais certo e
visivel e que Toina tinha acedido a recer o gato restante na sua habitacao, mas este, ao ver a sua
natureza cigana, ironicamente, fugiu de casa e foi de encontro a sua natureza animal no campo que
se estendia em frente. Ent\ao, enquanto podia, decidi visitar a poetisa que me insultara e dar/lhe
umas li;oes de etica, porque afinal quem tinha ficado com os gatos era eu e Estnes havia ficado com
ela, eis aqui onde me envolvo e desenvolvo a minha argumentacao seguindo um senhor Paulo e
uma senhora Toina, que se passeavam mais ou menos fora e dentro, e davam as suas quecas
(fodinhas) no apartamento contiguop ao meu, isto acontece com muita gente, eis a forma de foder
uma pessoa e estar pensando noutra, tambem o faco frequentemente, não sei se sera erros ou havera
alguem que explique isto, mas creio que as pessoas estao desenvolvendo dois cerebros em vez de
um puro e saudavel, enquanto outros, que se dedicam a gestaop do espaco, o tem do tamanho de
uma ervilha. Entao, nesses dias, percebi que os mortos não estao vivos e que o passado se mantem
no presente e manter se a no futuro, que não e preciso construir maquina do tempo coisa nenhuma,
pois temos registos mais o menos esotericos ou tecnologicos que nos permitem viajar no tempo e,
em ultima analise, temos as testemunhas e os testemunhos, escritos ou não, da morte dos outros.
Enquanto isso, Erica tinha aulas de bom comportamento no Instituto de Higiene e Medicina
Tropical e o resultado de todas essas epocas mais ou menos temporas iria certamente ser tragico,
pois a origem de todas as coisas de mal em Elsa foi o seu fascinio pela morte e desprezo visceral
pela vida, sendo que venha o especialista em ciências sociais e humanas e diga que uma e outra são
a mesma coisa. Esta tudo dito. Agora ia uma cerveja. Aos solavancos, Estnes percorria ao inves um
caminho não sinuoso, pois enquanto envelhecia parecia melhorar na convivencia com as
pessoas/de/enche/o/saco. Puxa saco, como diz o brasileiro. Enquanto me esforcava por regressar a
normalidade, encontrei um sujeito na propriedade da minha mente que me encontrou no cérebro, na
mente, ou talvez até, para ser mais sincero uma bala alojada, que vinha dos meus tempos de
Afeganistão, isto com propriedade so poderia fazer/me merecer o Nobel, mas la chegariei depois de
ultrapassar João Rosas, esse gajo que escreve e não encontra nenhuma crítica social, enfim, o amor
no seu melhor, ou pior, o esquematismo das marcas mentais da sacralidade da percepcao. Esse
amigo entusiasmou me para continuar a minha obra, ainda que com parcos recurso, mas bem se
diga que a maior parte de quem quer ser escritor anda la para ser famoso e dar umas quecas, eu não
minto que seja doutra maneira. Seja como for, enquanto havia terminado Essa Entente e Objectal,
preparava me para incluir nessa nova obra este Gato, ou gatos, sendo que, não gozando com o
concreto, se tratavam de duas bestas animadas geminadas, isto faz que pensar, um atras do outro a
ver quem da mais, que o combustivel talvez não chegue a estacao de servico...
Assim, percebi que o homem que abraca o mundo e por ele rejeitado, pois afinal de contas as
pessoas apenas, digo eu, lhes interessam os seus sentimentos mesquinhos e estamos em ferias,
enquanto todos ou quase todos estao de papo para o dar, estao mesmo porque tem os seus empregos
garantidos. Pois eu agora estou a trabalhar e mais tarde, daqui a dois ou tres meses gostaria de estar
a trabalhar, mas estou assignado a uma questao bem mais importante que e como se fosse uma
missao e a ela devo estar comprometido e assignado, enfim, a fartura e estilistica literaria esta se
acabando, e preciso combustivel para a fascinacao da obra, depois de objectal, virou liquida e vai
confundir se com as do rio Sena. Afinal, talvez seja este o segredo da vida, ou da morte, que e a
mesma coisa, o ser humano desfazer se em lagrimas ou suor e misturar se, fundir /, com a agua,
fonte de toda a vida. Continuando a falar da personagem que mais interessa, seja Eu, como todos
estarao pensando, entre teoria social e critica literaria, ascensao social, resolvi antes ser um working
class hero, que me da forca para continuar a ascender socialmente, embora nao com dramas de
abracar o mundo com maus e bons pensamentos. Na compulsao orientada a fazer algumas coisas
mais ou menos legitimas, encontrei uma forma de me liberdar doas macaquices que tenho na
cabeca, ou que a mente atrai, como o esgoto atrai a merda, merda de vida esta, que nem trabalho
tenho para alimentar a minha escrita, por isso, mesmo sem dinheiro valha mais a pena atirar me a
importalidade de pes juntos, que se ha de fazer. Entre a construcao de uma teoria, que esbocei em
Uma Teoria da Conformidade, dedicado a este governo que conseguiu reunir sensibilidades
discordantes para, mais ou menos, sair da crise, realtivamente, mas com certeza CONSEGUIU
MELHORAR A IMAGEM DO PAIS, ISSO NAO HA VOLTA A DAR. ENFIM, SOMOS
NOSTALGICOS COMO OS INGLESES, MAIS DO QUE OS ESPANHOIS. Assim, decidi sair da
galeria dos escritores e antropologos notaveis e inscrever na galeria daqueles que fazem o que
querem, seja, escrevem o que querem. Tinha uma satisfação sem igual ao chegar a tal posto,
filosoficamente. Sei que perderia bastante do mundo virtual, mas ganharia certamente muito mais
em exemplo a demonstrar e do mundo real, com todas as suas riquezas, com todas as suas
dificuldades e contrariedades. Incoerencias e inconformidades. Por isso fazia sentido fazer sentido
pela conformidade, como um percurso biologico, subectivo, indivudual, que termina da melhor
maneira.

Banco Novo
Enquanto me preocupava a questão de Josefina, lá no jornal, entrevia no espaço aéreo alguma coisa
incomodativa como um cisco no olho, estando a pernoitar no que parece ser a melhor instancia de
sono, dormir ao relento. Melhor do que estar numa caixa, sem respiracao, para além ou aquém
fumar...
Entretanto, puxei de um cigarro que alimentava a minha solidao e perdi o conto das formas sociais
ensaiadas para chegar a pessoa amada, confundindo com a escolha dos homens...depois de ter
experimentado cinco ou seis bancos, decidi mudar para um novo banco, um banco novo, o caso não
tem explicação e nem caiem as incidencias na estrutura social, como agua, não há que insistir em
ser normal, pois que agora havia conseguido o meu nicho de moralidade e eticidade pessoal.
Entao, Toina vivia frustrada por ver suas amigas serem maes e tinha metido na cabeça, apos
conversa com o psiquiatra, ou psicanalista, já não me lembro, que seria melhor ter sexo com
violencia podia assim ser que engravidasse o pior era criar uma criança, para quem não desenvolveu
a dotação para educar crianças, jovens, bébés, o que quer que se pense. Era um caso criminal
bicudo, esse de Toina ser acusada dos mais horrendos crimes contra o patrimonio e a humanidade,
há que dizê-lo com frontalidade. Mas pronto, temos até pena da pessoa que se julga muito boa e que
detem as chaves do Bem e do Mal e a propriedade de dizer tudo e mais alguma coisa de Estnes, seu
vizinho e inimigo de estimação, que vivia fora ou dentro de uma novela à distancia. Depois desse
dia, resolvi oferecer alguns dos meus livros ao José Malato, apresentador de televisão que a minha
mãe conhecia pessoalmente ou deixar alguns exemplares diversos para o programa Cartaz, mas
enfim, optei por moderar os meus esforcos e esquecer por momentos ficcão, filosofia, sociologia,
ciências exactas e antropologia...
Enquanto as lágrimas de Estoia secaram no seu rosto, os pés putrefactos solidificara e tornaram se
mármore eterno que de eterno ficara atrás da morte, para além da vida cigana do dia a dia, com a
obsessao das sujidade intrincadas nos entrefolhos do cú, quando a cara e o coração sujos, para não
dizer do polícia e do vizinho que a fornicou, estao reservados a talvez um vampiro que saiba avaliar
o espaco que tal criatura ocupa... Mas pronto, seja como for, acho que cheguei a uma conclusao que
julgo ser bastante, ou razoavelmente boa, ou sensata, ou seja, que Estoia, ou Toina, apenas tem
fome de picha, como todas as intelectuais, grande ou pequena, preta ou branca. Mas há excepções,
em cada caso há a sua importância certa e determinada. No ambito da ficção, Helena era intelectual
e não tinha fome, nem sequer de media. O tamanho para as intelectuais importa, ou não? Para mim,
não. Mas muito se fala em sexo hoje em dia, como lenitivo ate para a crise economica. Pouco se
fala do sexo tantrico, das misticidade do sexo, enfim questoes mais existenciais do que o orcamento
rectificativo.. Mas, para não ficar agarrado ao tema, vou despachar o problema economico e dizer
que, finalmente, vou para um banco novo, que me de mais do que eu lhe dou, que faca uma aposta
no meu futuro, mais do que no meu passado, que eu vou esquecendo...O tema desta escritica seria a
mudanca de sentido nas minhas parcas e pobres aventuras economicas, de facto estou agora mesmo
sentado num novo banco, ou banco nosso, diga-se em abono da veracidade fatidica dos
factos...Enquanto estava à espera da refeição, Pedro Estnes não sabia que iria comprar gato por
lebre, mas foi o que aconteceu, o gato perdedor, um dos dois, foi servido para refeicao e que
gostoso era, pois era bem posto de parte nos assuntos da familia, fosse porque dos três gatos, era o
que não tinha saido nem homem nem mulher, mas portador dos dois sexos, gostando assim de
conviver tanto com homens do que com mulheres, dai a sua felicidade, tinha 100 por cento de
homem, cem de mulher, o gato, por isso foi comido por Estnes, seu patrao...
Enquanto que as minhas perspectivas economicas estavam mais do que mas, dada a criatividade
excessiva que não favorecia a focagem de assunto de alta importancia economica, tinha a forte
compreensao e entendimento de que estava agarrado a hipotética fortuna do meu pai, vindo ela ou
não após a sua morte, tinha a impressão de que era altruista ao ponto de dar, com os meus
conhecimentos, atitude e palavras ditas, dava muito bom dinheiro a ganhar a muito boa gente que,
sendo ou não do jetesete televisivo, lucrava economicamente com as minhas palavras e ideias de
negocio...Nem justica divina fazia enxergar estas pessoas sem escrúpulos e Estnes veio em minha
ajuda, pois me encontrava em grande dificuldade, e o meu pai e outros criticos de mim não sabiam
ver que eu nunca dispusera de grandes montantes para poder investir num negocio que soubesse
levar para a frente, as minhas dívidas, dai ter de mudar de banco, para um Banco Novo em que já
estava sentado, fossem para suprir falta de perfeita alimentacao e complementar formacao excessiva
para um trabalho que nunca mais aparecia. Era reformado pensionista por invalidez por não
conseguir trabalho, mas continuava a ver uma forma de sobrevivier no trabalho e nada parecia
mostrar, entre a ilusao e o deslumbramento, o principio dessa novas era...

Entre o amor e as mulheres que conheci acidentalmente, há um fosso de que, confessionalmente,


tenho consciência, que envolve contemplações de mulheres ruivas e outras mais ou menos normas,
um terreno de cisao que inundou o meu quotidiano. Bem gostaria de deixar ao leitor algo de mais
itenerante ou interessante do ponto de vista contemporaneo, mas este e o meu estilo, aele
permanecerei fiel, um estilo criado e achado por mim, enquanto nas distraccoes de passeante e
pensarilho arranjei esta forma de dialogar com o leitor ou comigo mesmo, e devido a contingencias
de orcamento (baixo, muito baixo orcamento), creio não me ter saido nada mal...Pois, como diria a
um irmao em quem se confia disparates tamanhos de ingenuidade desnecessaria, passei a ter mais
cuidado com o que digo, porque neste pais a sinceridade parece ser gozada, enquanto a ratice e
promovida, mesmo que envolva dinheiro/merda/mal-cheirosa, neste paraiso de merda em que me
encontro recuso me a ficar assim, retido numa identidade bacoca que não nos leva a lugar nenhum
na nossa memoria, mas a entrar por friestas e nesgas de oportunidade que, mais tarde ou mais cedo
se revelariam nefastas...

O amor e a falta dele, o excesso de amor, eis as situacoes mais ou menos estaveis que podemos
encontrar, ou não podemos, de todo, pelo que estamos a espera de qualquer coisa de sideral, como
se buscassemos a morte a partir das estruturas, autoreferenciado nos a elas, sem ceder um passo,
como de nos afirmassemos pela ética. Num pais pequenos, os direitos fundamentais, como o afecto,
muitas vezes ficam para trás em troca de chantagem emocional. As pessoas, a maioria das pessoas,
não sente amor, mas apego a uma situacao mais ou menos dependente que as torna, na sua
respiração, doentes e viciadas em tudo o que e dos outros. Enquanto não se sente o amor, a
sociedade e criticada no seu geral porque há uma seria de individuos que pouco olham para o que
não tem de construido, alertando para os outros, como se tudo estivesse bem. As ossadas foram
transladadas para um cemiterio...muito havia a dizer acerca da historia de Estnes enquanto tocava
piano, ouvindo e reproduzindo a tristeza que o invadia quando seus pais deixaram este mundo,
enfim, conservadora e a memoria, enquanto que em termos de ascensao pessoal, social, nada vale
realmente a pena, regresso a mim mesmo, ao ponto de partida do desejo de mim mesmo, do desejo
de outrém. Foi assim que Estnes matou Estoia, a sua amada de longo tempo, matou a lembranca que
tinha desde cedo, porque afinal muita gente andava distraida, principalmente os amigos, entre
comas. Justificacoes, procuramos justificacoes para o nosso comportamento, nos os poucos que
pensamos milimetricamente como se cada sentença fosse uma cena, um frame, esta saturação do
visual geram um sentido dificil de descortinar, por isso os filosofos não gosta, normalmente, de
sexo, ordinariamente....Mas a vida continua, tentamos apagar de nossa mente pensamentos
prejudiciais a uma performance social, enquanto o que fica por fazer e curar a mente de frases e
conceitos mais ou menos perturbadores, mais ou menos benfazejos, que escondem muita mais
porcarria do que aquela que Armindo foi ganhando na cabeca, vicios mais ou menos inoculados...
A mente como maquina de producao de texto, quando o texto verdadeiro, aquel com porta e
comporta e composta a verdade, esta antes de qualquer accao, antes de qualquer facto, ai a merce
dos outros, do Outro, daquele que tenho mil e um pensamentos, mil e um desejos, entre os quais ou
mais basicos, depois os mais secundarioa, enquanto a percepcao social das desgracasa sento mentais
acaba por redundar num esforco de arte pictoria em movimento, onde o desejo e invadido por
sangue mais ou menos puro, mais ou menos branco, coracao que não esquece o que ficou para tras,
quando o seu sucesso seria odiar, anular o que se passou diante dos olhos, nesta engenharia arqui
rival de si mesmo, o Meu estilhacado, o Ego inchado e reduzido a diamente, a pedra que apenas se
desgasta com agua que pinga...
O que pensaamos, o que dizemos, a ponte que liga uma margem a outra, transportando desejos
comestiveis, analogias de regra industrial, benfazejas intencoes de promover o mundo a um mundo
melhor, esforco de alguns, que prescrevem ate a insanidade sob auspicios da perfectabilidade,
quando alguns so querem ser normais, gerando se um conflito arduamente saturado em outras
sociedades, de aniquilacao do desejo para que sejamos soldados da Fortuna...Se Lort desejava
mulheres, porque e que lhe dizxiam o contrario, talvez porque poara ter de comer tivesse de
alimentar as fantasias porcas dos outros, enquanto Oire, que encontrar anteontem naquele Inverno
de 72 uma esperanca de se reconciliar com as afanadas e despreziveis insanidades do seu corpo em
putrefaccao...Referente a um acto, estava sua mente presa a seu espirito, seu corpo inanimado preso
a uma cama de donde não mais saia porque lhe haviam, pois há gente desse, roubado uma saudavel
forma de ser, estigmas esses que proliferaram de uma maneira mais ou menos prolifica nas sebes e
nos tremocos...
Deslidado o misterio, Estoi saiu de casa para o inicio de mais uma rotina rotineira, onde
descarregava ou não as suas frustracoes, feitos que estavam os compromissos para com a libido. Da
cientista...
O mundo não mudou, o que se passa na minha cabeca tambem se passa, a mesma coisa mas de
outro modo retinente, na cabeca dos outros. Esperei tanto tempo para reunir condicoes para ter uma
realacao a serio e eventualmente criar uma crianca, que o tempo me traiu, insistia frequentemente
nas mesmas três ou quatro variáveis, quando muitas mais havia, mas também não estive a espera
que o mundo dissesse Sim, que a soiecade dissesse Sim, pode, para avancar para realizar as coiusa
que tinha eventualmente, por meu motu proprio, de realizar...
Nao interessa quem sejas, desde que sejas feliz no que fazes, não no que não fazes. Se fores feliz
continuamente, poderas suportar a adversidade mais atroz que te possa acontecer. Olha para mim,
eu sou como sou e sou feliz. Tenho pouco materialmente, mas sinto me bem porque descobri e
tenho feito essa descoberta cada vez mais abertamente, de que quem faz o que gosta esta imune a
qualquer critica, pois tem um fito, uma direccao, um caminho qwue so ele pode originalmente
percorrer. Ninguem lhe pode tirar isso, ainda que a maior parte das pessoas faca tudo, ate matar, o
futuro e fisicamente matar, para conseguir realizar se... estranha vivência esta, não diria da natureza
huma, mas da componente humana que há nessas pessoas...
Estou desempregado. As relações dão trabalho.
Encontrei uma forma de fazer aquilo que quero que e aquilo que devo fazer. Dai, chega de histerias,
stresses, preocupações. A verdadeira vida comecou agora mesmo, há poucos instantes,
jornalisticamente falando, quando essencialmente falando havia começado há bastante tempo.
A Formiga e o Elefante
Gosto particularmente de apreciar a pose e atitude dos jovens homens de negocios, que
materialmente tudo tem mas como seres humanos deixam bastante a desejar. Merecem eles viver a
vida que lhe e dada? Sim, para continuarem a fazer tolices. Por mim, com pouco vivo, endividado e
bem disposto e feliz de viver. Isso e bem mais importante do que ter todas as mulheres, a custo de
dinheiro, e o dinheiro, a custo de mulhres.Eles formigas. Eu elefante. Mas não tenho o ego inchado,
tenho um ego intermediario, que se contenta com as coisas simples e comezinhas da vida, como
saber dos outros, desejar o bem para os outros e para mim mesmo. Acho que tenho o direito de
continuar a ser feliz pelo que já passei e já agora, não sendo como eles (e elas), ter direito a uma
esposa e a bens materiais para comprar as coisas que sempre desejei. E continuar o travalho que
tenho feito com a minha vocacao.
Fazendo uma analogia com animais, estamos diante, para alem do mais, de uma formiga ofegante,
os meus amigos que já se foram e que não tem conversas nada interessantes, tudo em nome do
poder, ansia e desejo desmesurado de poder. Compreendo, todo o ser humano, divino, deseja o
poder. Nunca fui bom nesse tipo de coisa. Tenho, para alem do desejo de poder, como todas as
pessoas, PODERES. Mas não me vou gabar, comeco a chegar a superficie de mim mesmo. Quando
se vai ao psicanalista, a culpa e sempre dos outros, ou entao e apenas nosso, tanto que somatizamos
e almejamos as desgracas, as nossas e as dos outros. Sempre fui queixando me de mim proprio.
Porque hei de continuar a ir? Porque hei de queixar me de mim proprio, se os amales que me
afligem tem origem nos outros? Ainda assim, a etica e a compreensao, o entendimento e o respeito
pelo outro. Nada de mal fiz, efectivamente. Nem há mal em pensar, coisa que pouca gente faz nos
tempos de hoje. E continuarao a bater com a cabeca nas paredes ou a darem tiros a si proprios,
porque se confrontam com delemas que os ultrpassam. Ou entao tem uma perspectiva hedonista da
vida, o que e pior, coisa que não deixam rasto e nicotizam a existencia humana...
Entre quotidiano, tentacao de existir, desistir, andando, ofegando como uma formiga, tenho um
projecto de educacao, Paideia e de traducao para portugues da obra que marcou a minha juventude.
Essas sao as coisas que realmente interessam> a infancia, a adolescencia, as descobertas da
juventude. Sinto me jovem novamente quando percebo que e preciso esforco para conseguir as
coisas proprias e as dos outros, para alem das comezinhas dificuldaes e atribulacoes do quotidiano.
Para alem de ser teimoso e exigente com os outros, há qualquer coisa que mais interessa, não a
obediencia cega aos outros, mas o respeito por nos proprios. Nao consegui fazer melhor filosofia,
sociologia, antropologia que os outros. Esse sentimento e aspiracao faz me grande aos olhos e
interiores daqueles que se julgam detentores de uma verdade absoluto, porque querem o poder ou se
julgam detentores de uma verdade sobrenatual que tentam impingir aos seus semelhantes. O ensino
e assim coisa complexa, tarefa bem mais nobre do que a politica...Aristoteles não tinha
razao...Socrates tinha, mesmo que o metessem em trabalhos, por via das exigencias mesquinhas dos
casais de executivos que fazem tudo para agradar aos paizinhos e manter as coisas como sao,
hipocritamente, embora fazendo a maior das sacanices...
Um Mundo
(pouco) Diplomático
A transmissão do saber da se por natureza morte, há pessoas que não sabem parar, não tinha
necessidade de tudo isto, porque VENCI a partida, sem ser necessario nenhuma esforco. Mas fiz
muito esforco. Dai o meu merito. Nas relações humanas o caos impera e desencadeia se
aleatoriamente, sem que demos conto onde vai desaguar a nossa palavra, a nossa lingua, a nossa
necessidade de vitoria, seja de uma forma, seja de outra, seja de outra ainda, ou outras.
E dificil evitar falar de mim quando me encontro so, em termos amorosos, na necessidade de ter
uma mulher por ca, talvez em Franca, de onde vi, me desenrascasse melhor... O amor nunca
atrapalha, diz a cancao e eu nestes dias escrevo este Guia Turistico de Lisboa, porque parece, pelo
esgar do meu semblante ora sombrio ora luminoso deixa perceber. A fazer jus ao titulo, deveria falar
da falta de etica na cidade, ou no campo, pois conheco os dois contetxos, mas o que me traz aqui
sao as laminhas de sabedoria que se percebem na cidade, onde e dificil não usar violencia da
acessoria as relacoes. Deste modo, diria que o semblante dos outros ora pobre, ora rico, tambem me
parece nuns caso mais luminoso, noutros mais sombrio... Entretanto, daqui a pocuo, registando o
que acontece dos dias, não que este relato, este novelo, seja exclusivamente um relato dos dias, vai
para o ar o programa de Alvaro Costo, Portugal 3.0, enquanto que lembro vagamente,
assintosamente, caoticamente, de ter ido oferecer tres livros ao Jose Carlos Malato.
Deixaram me sozinho e eu venci sozinho, poderia dizer. Enquanto que certas pessoas, como
professores que tive, viviam do especular rebentamento, das brutas coisas e da vaidade do espirito,
eu trilhei o meu caminho humilde, quando não tinha necessidade de sequer os ouvir. Mas venci,
sozinho, quando ninguem esperava, de uma forma ou de outra sobrevi para dar o exemplo. Amigos
meus, nesta cidade não os tenho. Acho que exijo de mais das pessoas, seria melhor, em meu
beneficio, deixar correr as coisas, mas enfim, aqui ninguem se importa comigo, poderia cair num
canto e ir logo para a camara mortuaria, mas talvez não fosse porque não tenho dinheiro para tal e
falando poderia dizer que acrescentasse muito mais a literatura que não frequentei, a filosofia e a
antropologia e sociologia que frequentei. Nao sinto necessidade de voltar a estudar. Ler, sim.
Escrever, sempre. Este mundo diplomatico e um mundo pouco simpatico, a empatia e falsa e vale
de tudo, mesmo no dominio da antipatia, para se conseguir qualquer coisa, que não e do dominio do
egocentrismo, mas, numa palavra, da doidice generalizada. Anda assim, o mundo a toa, sem saber
por onde andar, por onde virar, quando acelerar. Mas tambem não sou eu que vou convencer meio
mundo. Tomara eu governar o Meu mundo...
Enquanto uns confundem vozes que se ouvem e falam de desprezo, outros mal sabem que e
preferivel ser encontrado do que encontrar...
Lisboa e a cidade onde vivo, o que não quer dizer que seja a minha cidade. Mas e, sera, sempre.
Para aqui vim estudar e trabalhar e embora não tenha desenvolvido actividade profissional
assinalavem, realizei em grande parte a missao que me atribui e continuo a realizar, cada vez mais,
coisas interessantes, sem grande s recurso, sem grandes conhecimentos de pessoas do ramo da
cultura. Afinal, o mundo diplomatico por parecer agreste, mas da os seus frutoi e e muito mais do
que um mal necessario.
Ince, o Gato Negro:
o Regresso
O prosseguimento da historia inicia se com Ince, o gato preto que ficou para as contas da vida,
olhando e correndo atras de uma gaivota quando o dia inicia. Poderia ser este um registo mais ou
menos autobiografio, mas não seria o mesmo que um registo ficcional, que desenvolve personagens
com afinidade comuns porque divergentes. Damos valor as coisas nossas quando não as temos e a
maior parte do tempo fugimos dessas coisas nossas como se fossemos escaladores sociais, que
buscam um mundo novo, uma casa e uma qualidadce de gente nova. Mas o misterio e a necessidade
esta em descobri coisas novas no mundo que se nos presta, que e já existente no presente, dai eu
poder lancar o conceito de filosofia do presente para qualificar algumas das nossas refelxoes aqui
exaradas.
O gato voltou de comboio, alojado secretamente num compartimento. Veio a encontrar uma
contrastante gatinha branca amarelada e ficou uns tempos junto ao Tejo, longe da agua. Enquanto
isso, corria mundo o ultimo trabalho dos Cold Play, cuja concepcao tinha origem no tradicional
portugues homem dos sete instrumentos... Era uma cena mais ou menos picaresca, mais ou menos
celebre antes do tempo, na sua seminal realizacao. Mas, enfim, eu, que nunca tinha tido problemas
com mulheres, estava agora extremamente carente e sob uma pressao cada vez maior que tinha de
gerir, pelo que resolvi acalmar os cavalos e levar uns tempos de low profile, quanto mais não fosse
por seres ferias de verao. Era nestes tempo que eu, como outros, sentia uma pulsao enorme para
realizar coisass e mais coisas, relacoes e mais ou menos economicas... Lembras te quando dizxias
que não precisavas de mim? Estarias disposta a deixar tudo para tras para ficar com outro, que
assumisse compromissos sem ter condicies, quando eu te apresentava o mundo na mao...E isso não
bastava, queria apenas seguranca economica e um homem que cumprisse com os seus deveres de
pai, não querias um amor de teor transcendente como o meu, mesmo que te sentisses atraida por
mim. Deitas te entao o amor fora em nome do que pensavas que os outros pensavam, o mundo
social...
No Porto Canal, a esta hora, acontece um mundo mais ou menos idiota com um Valter Hugo Mae
que mais parece pedofilo do que gay. Enfim, há pessoas que não sabem ver a linha que separa a
infancia da adolescencia e da idade adulta. Os sinos dobram, qualquer coisa acontece de inaudito.
Estou combinando ciencia com poesia e ninguem parece notar que o melhor esta para vir, enfim,
deixar os portugueses paroquianos com o seu senso de mistura que os leva idioticamente longe
demais.

Estnes e Ludovico:
O Marinheiro e o Pintor
Devia estar descrevendo Estnes e Ludovico, duas figuras masculinas. Porem, ocorre-me o desejo de
falar de duas figuras femininas, embora se possa virar a capa, virar a página do livro e encará-las
como figuras femininas, mudando ou não os seus nomes. Como diz a canção, os personagens, estes
quatro personagens são, uns, furtivos e emocionais, outros emocionais. Vivem a vida como uma
aventura no fio da navalha, enfim, muito haveria que dizer a este repeito, mas aa fuga, da
identidade, nomeadamente, não nos parece melhor estratégia para levar a nossa a avante, se
queisermos por as coisa sem termos de liberdades individuais, mas enfim este diállogo entre pessaol
e social parece-me um caixilho de segurança e contextual ao ponto de no fim, dos nosso inteentos e
fracassos, ruir ou simplesmente se evaporar. Não é a melhor bitola para alguém trilhar um caminho
na descoberto do Outro, seja o enamoramento seja a descoberta pessoa, nos termos de um ou
um@namorad@, seja a propria devindada, cuja conquista nos parece ser eivada de um caminho de
dor e asfalto, nos dispositivos mecênicos do desejo desenfreado, sua satifação, sua saturação, sua
realização. O mito do corpo são em mente são está na voga desde há seéculos e não apareceu
nenhum filósofo e visionário para demonstrar que este mito esta errado, pois talvez naão esteja, ou
talvez esteja profundamente errado, ao colocar desde já a pessoa humana sob um aliança entre
corpo e mente, esquecendo diversas outras dimensões, umas além, outras aquém de nós mesmos...
Para Estnes, a vida resumia-se a um lavar de lagrimas, lavar de sabonetes. Como artista, o
quotidiano era um processo longo e inacabado de depuração de uma ideia, que se concretizava num
objecto, uma ilusão onírica que terminaria numa instação, numa escultura, numa obra de arte. Daí
não ser fácil perceber o seu entendimento, pois os artistas têm uma idiosincrasia muito própria,
como diria Ernst Cassirer ou Schelling, podem apenas somente produzir uma obra em toda a vida,
nem que a obra seja a sua vida, então neste caso falemos daqueles que levam à prática uma religião
determinada em que, nas fissuras, se respira um ar de liberdade criadora, sustentando as estruturas
morais o quotidiano stressado, no ambito de uma dimensao ética, que tem necessariamente a ver
com o processo de recolha de elementos sentimentais. Mente sã em corpo são: daí a proliferação
mediática da arte da culinária, em que o se almeja é uma experiência existencial de apuramento dos
sentidos...o sentido do gosto (ou paladar), num gesto bemn primordia de comer, que equivale à
consequente ligação ao acto sexual. Nada de muito especial se quer fazer: apenas bom sexo e boa
comida. Para alimentar estas caprichosas mentes, há que acrescentar o carro, os desportos para
ricos, etc, etc.

A antropologia filosófica fornece respostas para este mundo e para o outro, desde mundo e do
outro,a cápsula onde qualquer ser vivo quer estar, permanecendo individualmente saciado com
imagens em movimento, ficções, fotos, determinações filosóficas com que se comprar e que lhe
aumentam a raiva pelos outros, o ressentimento, tido ao longo da sua história pessoal e grupal.
Assim é com os ciganos, os nazi, os negros, os brancos, os hebreus. Conseguir ou, pelo menos,
tentar, uma saída limpa para o universal do transcendente pode ter o seu preço. A ambição de poder,
é disso que se trata afinal, pode muito bem trazer um desprezo pelos seus, pela familia, em nome de
uma vanguarda, de pensamento ou de estilo de vida, que no final de contas, acaba por empobrecer o
indivíduo...
Coisas, Coisas e Coisas

Coisas, coisas e pessoas, o Mundo, eis o mundo, eis as pessoas com suas coisas, sem suas coisas,
para além de suas loisas. Eis o Unoveirso, que tudo contém, daí o contexto, daí a necessidade de,
dentro deste âmbito em que nos posicionamos, descrever, ligar, o mundano ao trasncendente, a
necessidade de não perder mão do real, sob pena de ficar retido na carapaça da ilusão, da desilusão.
Só que muitas vezes, a ficção é melhor do que a realide e na verdade, elas partilhar uma ligação
bem estreita tida pelo canal da consciência. Coisas do mundo, coisas do além-mundo, que pensamos
não existir como desculpa para viver mais intensamente, psicoticamente, obsessivamente. A
medicina vê patologia porque olha para a necessidade de ganhar dinheiro com o Outro, é uma forma
de cura viciosa, quando sabemos que os hospitais psiquiátricos e as religiões nada explicam sobre o
indivìduo, dizendo que ele tem um problema e que tem de se unir aos outros para ficar cada vez
mais psiquicamente dependente. Isto só gera sentimentos de grupo exacerbados que estão aliás,
como vários autores o dissem, desde Girard e alguns filósofos, o carácter violento da personalidade
e os conflitos grupais, a um nível, simbólico-políticos a outro. Os próximos capítulo poder-se-ão
chamar Halo e os Descartados, pois afinal parace que a literatura, que por vezes não é a vida, pode
por outra confundir-se com ela, assim, os encontros, de que é feita a maior parte da literatura, é feita
de Halo, ou seja, nada de transcendente ou ilusório, mas de presenças e ausência, assim como a
insistência que chateia do clube dos Descartados, ao qual confesso pertencer com quotas pagas
desde há algum tempo. Assim também, nada de transcendente nos anima, uma das funções da
ficcção confessional pode ser esta, negar que esite para além de nós uma força aterradora e que nos
amedronta, impedindo de gritar pelos direito básico, sendo que os outros nos serão concedidos à
medida que formos prosseguindo no caminho da profissional forma de encarar os outros, diferença
a cada um daqueles que se encontram connosco nos dias, e então, sendo que nos contexto da
economia capitalista, o acaso e o banal, não a banal, o psicanalítico banal, nos confundem por
vezes, mas decerto são o melhor registo para explicar a plasmacidade e potência da alma humana,
que se baixa ate o recesso porque quer mais e mais, decerto que todos queremos e por vezes de
tanto querer não conseguimos, não há ciência que nos ajude,m ou talvez haja, talvez a ciência nos
faço melhores seres humanos, medindo o que somos e o que fazemos, bem como o que dizermos,
sendo que não há mal nenhum nisso, enfim, cada qual porssegue diferentemente o seu destino, não
digo para ser feliz, pois talvez nem para todos seja esse o propósito da existência, porque então se
encontra no silvar do quotidiano nas orelhas uma boa dose de contentamento, quem sou eu para
dizer o que é a felicidade, não sei se estará nas mãos de um buda que ninguém viu ou de um xamã
que regula as forças sociais, ou de um Cristo que não sabemos se alguma vez se riu, enfim, ele lá
teria as suas razões, não me meto nesses assuntos, outras formas de acreditar em si mesmo e nos
outros surgiram recentemente, fazendo ultrassapar as antigas formas de acreditar, por um lado
negando aos homens a fé em si próprios, que umas vezes se torna excessiva e violenta, daí muita da
esquerda, nomeadamente a europeia, estar ultrapassada, por outro lado, abrindo canal para forças
superiorres e unindo os homens e mulheres entre si, sendo que este grafismo de inspiração seja
daquilo que mais perdura na história dos homens, que fazer contra isso, virá chegar aqui, ao
princípio da Europa, o secularismo, que poderá confundir muita gente, sendo que para uns a
filosofia ainda está muito chegada à teologia, e eu não vejo mal nenhum nisso, como não vejo mal
no seu afastamento. Assim, chegados à noite dos dias, não podemos continuar a ficcionar sobre os
personagens acima mencionados, talvez se acrescentem alguns, evidentemente sem grandes tramas
familiares e româncitas, enfim, tudo indivíduos desligados do sistema, que porcuram qualquer
coisa, ou nada procuram, que é também uma forma de valentia, ora porque uns desistiram pela
carga as circunstâncias e das disciplinas em que se meteram, ora porque outros, no acaso das
denominações circunstâncias conseguiram sobrevir ao mar alto e chegar, mais do que auma ilha, a
um continente plento de oportunidades e condições para dar razão e sentido a uma vida de
trabalhos.
Halo
De repente, nas necessitadas instâncias, decidi no âmago dos meus pensamentos, perguntar pelo
meu primo escultor, inquirindo pelo seu provável sucesso, perguntando se havia já patenteado
alguma exposição, mas lembrei-me que ele fazia instalções e que a sua obra não estaria à venda em
peças numa galeria, algumas talvez, mas a maior parte estaria agregada à própria natureza, como
derivação desta mesma, mera explicação humana dela. Assim, quanto a outro asunto, explicando o
título deste capítulo, podemos dizer que quando duas pessoas se encontra, o halo de cada uma
cruza-ze e talvez, sem grande mistério, seja isso que anima cada um de nós, a alma interior,
atravessada de influências benignas e malignas externas, que filtra pela elaboração mentla,
combinada com o registo dos sentidos, que tudo confunde, e ainda bem, para bem da
progressividade das instâncias que nos ultrpassam e que enriquecem a relatividade do que, no
quotidiano e em reflexão, somos. Mas quanto isso, não poderei contar grande coisa, não suo
psicanalista ou sexólogo, nem que fosse, mas que a eminência do encontro físico, um pouco como
Dom Juan, me satisfaz mais do que o próprio acto repetido, que tem a ver com factores que atribuo
a transcendentes gestos, outros atribuem à normalidade das coisas e das palavrass em julgamento.
Em certto sentido, o que é o amor, o verdadeiro amor, se o cruizamento de dois corpos e o contacto
físico, se outra coisa que se esquece de dia e se lembra nos sonhos, sendo que acho mais romântico
o sofrimento da falta, que se realiza, numa qualquer forma de canibalismo, em outro corpo, com
evidentes ou veladas transfusões de estados de alma. Adiante falarei dos Descartados, pois este
clube não é dos falhados, sendo que estes também amam, cultivam o amor em segredo e em
pequenos gestos de falta e insistência, de culpa e choro, sem que se importem com o que ficou para
trás, sendo que a sombra do amor os persegue e sustenta, substituindo a sombra solitária que habita
a nossa adolescência entre brumas e nevoeiro, cravejada de questões existenciais e que se prendem
essencialmente com o futuro. Não há resentimento do Descartado, levou com os pés por uma razão
que ultrpassa a da agressora, que em seus sonhos e devaneios próprios, não se explicou tanto ou tão
bem quanto o “futuro” Descartado. Assim, nas coisas do amor também tudo se torna cada vez mais
diícil. O amor romântico acabou, mesmo nos campo. Vivemos e intuimos fracções da realidade, na
ela no seu todo, porque esta se alterou significativamente, não só a realidade social, a das relações
de vária ordem entre as pessoas, mas também a realidade crua, não só da existência individual, mas
também a da própria natureza (as flores, os passarinhos, o seu canto). O Descartado vive animado
por um amor que não conceretizou mas que ironicamente lhe dá força para viver e gera
constantemente, dia após dia, sentido sobre o si, os outros, as surpresas do quotidiano, as injustiças,
a violência, a necessidade ampla da guerra. Esta realidade, na mente do Descartado, é talvez
fraccionada pelo diferencial passado e presente da evolução dos tempos, das circunstâncias, das
pequenas e grandes histórias. Certamente que o Descratado é um platónio, ainda existimos nestes
tempso de globalização e tudo o mais, mas o que será do homem sem ideias? Como poderá
enfrentar a fragmentação do que entendemento por real, que sempre nos surge dissimulado em
fracções que ferem a mente dos menos preparados. O Descratdo é, ironicamente, o mais forte,
porque se resigna, tal como o filósofo, a pensar, o Outro, a sociedade, Si-Mesmo, o que quer que
seja, isolado, Descartado do seu próprio amor, da sociedade, de certo modo, a não ser que entregue
a sua vida ao seus alunos, mas enfim, sempre há um ponto, isso mesmo, um ponto, em que a
vontade se amplifica e o Descartado passada a ser um Dom Juan ou, se tiver pressentidmento de
entendimento a dois, um chefe de família. Há que admirar aqueles que se lança ao precipício de um
casamento precoce, assim como quem sabe esperar e afinal nada acontece. Estamos, assim,
percebendo uma forma de banalização que gera sentido e cuja amplitude simplesmente transforma.
Por fim, tinha mais dois ou três pontos a mencionar, mas vou ficar por, para que o leitor preencha a
argumentação, se isso o satisfizer. Apenas menciono, para fim deste capítulo, que Halo seria, ou foi,
o título de uma canção doa nos 70-80-90, Depeche Mode, na minha opinião a melhor. E não falo
mais dos Descratados, pois terei de me desvincular do clube, já deixei de pagar as quotas, não
suporto falhados. Quanto ao meu futuro? Esgravatar como um protozoário, pleno de reflexos
instantâneo-mediáticos, alucinatório, que apenas satisfazem a frute decessidade de reprodução, que
se força, por prurido intelecto-miméticos, que podem ser excitantes apenas para uma série de
ciência ficção de que honestamente não farei parte a não ser como autor, embora com
desenvolvimentos diversos, diferentes.
O Silvo da Verdade

Os corpos e a ausência deles, ou dele. Enquanto pensamos que a relação perfeita seria sermos
trespassados pela impressão inicial, que conteria o todo da sequência da relação, engeitamos a
necessidade de perceber o sentido geral do amor, sabendo que há diversos tipos de amor. Contudo, a
fixação obsessiva num determinado tipo de amor poderá desfazer a atenção para com outro tipos de
amor? Não, certamente, talvez, para quem ama. Em bom sentido, será errado julgar ou diferenciar
quem a ama de quem não ama. Há sempre um tipo de amor, quanto mais não seja a si próprio,
disfarçado de ódio pelos outros, um agarrado amor às conviccções e à sua própria vida. Chamam-
lhe os especialistas amor-próprio, ou coisa assim. O que mais me entusiasma não é propriamente o
amor-próprio mas a entrega a outrem sob a forma física e daí em diante, com todas as
consequências. Prefiro aquilo que Sartre denominada de Inferno do que o Inferno de si mesmo, uma
forma d eaprisionamento que sufoca e intoxica, em nome de um desejo de paz universal que nunca
chega, tendo experiementado esta facção amorosa por condicionamentos divergentes. Queria estar
em casa, sabendo que a casa é o mundo, mesmo que me cuspissem na cara, preferia isso à paz
infernal de estar morto no aeroporto Charles de Gaule ou ter os ouvido estalando de quatro ou cinco
tiros em pleno centro de Paris. Escrevi a um antigo amor, fugindo de mesmo, como se precisasse de
a esquecer, de descarregar a consciência, para me armar em futuro chefe de família, afinal precisei,
como Wittgenstein, de ser um homossexual ressentido porque isso me daria teoricamente uma
vantagem cognitiva diante dos outros, quando afinal não levou a nada, ficou para trás a prosa,
sobrevivi para a eternidade, pressentindo êxito, quando a racionalidade que viviou a mente, como o
tabaco. Pensando que pensava bem, pensava mal, num mundo ilusoriamente divertido e tinha a
persistente impressão, primeiro, certeza, depois, de que estava a brincar com os outros. Contudo, os
outros estavam a gozar comigo, mas eu corria o risco de ser eu próprio, quando não sabia quem era,
nem saberia nunca, julgava que poderia conseguir a eternidade trasnformando-me e àgua e nisto
nada havia de novidade.
O Dilema
Dormitando no interior do comboio pejado de gente, Pedro Estnes assimilava tudo o que se docorria
a sua volta, procurando alhear se de modo que não intereferisse naquela cena que poderiamos
chamar de social. A sua presenca em Riachos era meramente para cumprir calendario, mas ahveria
sempre de voltar, naquel lugar de dor de cabeca de que estava cansa. Contudo, a sua fidelidade a
certos principios mantinha a visita regular aquele lugar...
Precisva de viajar e talvez o fizesse em breve, ainda que sozinho, para abrir horizontes e sair da
sufocante situacao em que as pessoas se metiam por aqueles anos em Portugal. O que animava as
pessaos era o risco e o gozo erótico sem fins, as mortes por avc proliferavam, os acidentes na
estrada tambem. Quase toda a gente se concentrava nas grandes cidade, como numa vencia
apocaliptica dos ultimos tempos de um seculo danado. De resto, quando ao espelho, olhava de
soslaio o seu aspecto corcovado, o seu cabelo grisalho, enquanto que longe, na América, um
mendigo se escondia dos criminosos de rua que proliferavam nos becos escuros. Que tinha uma
coisa a ver com a outra. Talvez nada, talvez tudo. No bairro onde vivia com Floribela, a sua amada,
muitas vezes os miuntacto dos gozavam com ele por não ter carro, por andar a pe, pois precisava de
o fazer, para a sua profissao e para melhorar, dia apos dia, a sua saude. Depois, no dia a dia, no
pouco dinheiro que tinha, procurava ter algum dinheiro trabalhando por conta propria, mas como
não havia conseguido ate entao e como se dependesse ainda de sua irma, equacionou uma vigem,
para trabalhar ou simplesmente aliviar a sobrecarga de um periodo extremamente fertil de sua vida.
Conhecia poucas pessoas fora de sua familia, mas havia certamente historia para contar acerca
delas... A pouco e pouco esquecia seu amigo Daniel, que seguira um outro caminho, enquanto que
Estnes, embora inicialmente teria seguido um caminho inicial, se distanciava a pouco e pouco dele e
da sociedade, como se Daniel representasse para ele a sociedade...Riachos, embora se afastando
sentimentalmente e fisicamente, aumentava em afecto psíquico, por entre as dores de peito e
estômago, por entre as noites mal dormidas e dos dias inquietos. A sua vida não podia ser somente
uma viagem entre Riachos e Lisboa e instancia em alguns dias nesses dois lugares, alternadamente,
podia ser outra coisa, algo que fora tapado e que se poderia abrir, a brecha de um edificio senti
mental que se construida em cerca de 20 anos. Assim, para mal dos seus pecados, havia descoberto
um metodo de meditacao e conhecimento que colocava num patamar alto as suas expectativas e dai
poderia ter conseguido um meio de sustento que varria as preocupações com dinheiro de uma vez
por todas e poderia alimentar o seu doutoramento em Filosofia. Mas como ficar com a filosofia e,
ao mesmo tempo, ir, com a antropologia Eterno dilema que vivia como se vivesse na corda bamba,
entre dois territorios. A idade o faria avançar para um deles, mais convictamente... Os dias
passavam se uns atras dos outros e quando nos distraiamos já havia passado um mês, a familia de
Estnes renovava se com novos elemntos e este parecia ficar para tras, agarrado aos seus
pensamentos insistentes como chicotadas, preso a dilemas, uns mais morais que outros, uns mais
minimos que maximos...Ir, ficar, desistir, insitir, quando o unico objecto, fosse onde fosse, fosse
viver o mais possivel, da maneira mais feliz possivel. Compreendeu que não adiantava arranjar
explicacoes para o que lhe acontecera nos dez anos anteriorres aquele de 1989. Ficara doente, em
coma, por motivos que tinham a ver com paralisia psiquica e dai muscular. Conseguira sair da cama
e agora o mundo esperava o para que pudesse voltar a ter uma vida normal. Tinha ainda mazelas
psiquicas, mas tinha intencao de deixar de ser pensionista, não havia outro caminho senao a luta
diaria em favor dese objetivo transcendente...
Parecendo ou não, o mundo, a estabilidade do mundo e do seu mundo, era como se fosse uma obra
de arte que tinha de ser retocada dia apos dia, nada se fazia de um dia para o outro. Enquanto isso,
Pedro Estnes pensava nos outros e suas atribulações, nos homem que foram para Africa combater,
nas mulheres que ficara, na identidade nacional, na lei e na ordem, na ameaca a uma vida normal na
sociedade actual...Parecia ter voltado ao normal de há vinte anos atras, com o mesmo vigor fisico e
psiquico, mas agora mais expeirmentado nas coisas da vida, na vida das coisas.
Nao devia fazer calculos a longo prazo, mas a medio, pois a sua vida não estava tracada, e ainda não
havia chegado aos 50...E assim, resolveu se deitar como todos esses problemas na cabeca. De
quando em vez, o espectro da dor da obsessao pelas coisas e pessoas voltava como um problema de
saude. Mergulhado na angustia, tecia consideracoes para consigo mesmo na ordem de estar
condenado a viver uma vida de pensamentos minimos e receios escatologicos. A fome chegava e a
vontade de sair de casa era pouca, naquele Setembro confuso, incerto, imporvável. Em refererencia,
nada de especial acontecia, desde que pusera em questão o amor volátil que sentira por Antonina,
uma colega de proffisao la no colegio. Enfim, não podemos agarrar o momento que passa. Ele
passa, instante após instante, sem que nos possamos ficar nele, como gotas de chuva no vidro da
janela. De uma maneira ou de outra, apetecia lhe continuar a jornada que o trouxera ate ali, aleijado
na alma ou inteiro no corpo, com os mesmos propositos que delinearam desde o princpio,
nubladamente não sabia que propositos eram esses, mas sabia que para alem das nuvens haveria
algo de bom e positivos onde podia repousar a cabeca. Algo melhor que aqueles dias de espera e
ansiedade. A sua Teoria da Conformidade ou Teoria Conformitatis, estava pronta a ser deitada no
papel em branco, pela segunda vez, agora de forma organizada.
Esquecera de facto a realidade anteririor aquela em que estava imerso, por diversas razões, mas
principalmente porque tinha uma visao demasiado ampla para que a pudesse naquele alugar aplicar.
O seu espaco era o mundo inteiro, e ainda sonhava com isso, ruminava dia apos dia sobre que locais
visitar que correspondessem ao seu mapa mental previamente existente e construido pelas vozes da
rua e da tv...
Fumava um cigarro naquele fim de tarde. O verao tinha acabado. Nao conseguira fazer nenhuma
conquista e que dizer da sua vida atribulada, onde não havia espaco para a criatividade, onde
qualquer esgar inocente se tronava num imenso lodaçal de dor e agonia...ir ou ficar, vir depois de ir
para ficar, este era o desafio de uma vida, inteiramente dedicada a qualquer coisa que não sabia
dizer bem o que. Naquele fim de tarde, comeco de noite, havia de sair para se distrai, mas havia ali,
naquele lugar, naquela sala, qualquer coisa de transcendente, enquanto se agarrava ao imanente
como se para provar aos outros que não estava louco, que ainda fazia mentalmente parte de um
mundo que era, afinal o dele...
Tambem o pequeno Cristovao tinha já a sua quota de maldade ao gozar o Abelardo, seja porque não
tinha Heloisa, nem tinha mister que se coadunasse com o contexto social, bla, bla, bla. Fora daquele
contexto familiar, havia muitas historias a espera de serem desveladas, mas eu não estava para isso,
dava um descanso a mim mesmo naqueles dias incertos. E como ter em boa conta pessoas que nos
poem abaixo sempre que podem, que nunca estao contentes. Enfim, o plano familiar de Lilly estava
certo, Pedro Estnes eram um daqueles casos em que lhe fora dado um chuto no rabo para fora da
familia...Era noite, aquelas manchas que não existiam incomodavam me como antes, muito antes de
forcar o meu corpo para fora daquela superficie leitosa. O meu fenomeno interior seria deixar a
escrita e dedicar /me a pintura, talvez foss emais terapeutico, talvez tivesse mais satisfacao e visao
da realidade, a minha realidade mental e a do mundo, la fora. Acabavo o cigarro. Minha cabeca
estava confusa, o espirito forcava o corpo a trabalhar, a não descansar. Contudo, suspeitava que se
me deitasse um pouco, mais tarde, talvez mais tarde, as coisas iriam ficar melhor. Mesmo antes de
acontecerem todas estas coisas, o mar esta calmo e contilante. La estava ela, de um lado para o
outro, verificando o gaz como uma maníaca. No meio de tudo isto, perguntava a mim ptóprio:
Estarei louco? Estarei a caminho disso? Um louco no meio da normalidade? Estará tudo louco? Se
não estiver, então porque me preocupo? Talvez porque não esteja e essa negação perturba-me,
porque deveria deixar cair a toalha no chão. De uma maneira ou de outra, Pedro Estnes julgava,
desconfiava mesmo, que lhe tinham feito feitiçaria. Como defender-se contra isso? Com a razão, a
voz da razão e tudo o mais que podia? Estava tonto perto da janela, quase a cair, sem ar. Sabia que
havia sido colocado naquela casa para morrer, mas isso nada significava, porque ele havia de
sobrevir, sovreviver. Sabia que, em frente à minha porta, havia um perigo a que teria de fazer face,
mais tarde ou mais cedo, por entre silêncios e impropérios e, embora tivesse saudades de casa,
permanceria ali mais alguns dias. Lembrava-me de Leonard Cohen e do modo como escrevemos a
diferença a partir do já existente. A isso chama-se arte, arte de dizer, pintar ou contar. O teclado
branco desafiava-me, mas eu queria algum descanso depois da luta que travara dentro da minha
cabeça. Era noite, dois namorados amavam-se no parque, eu tinha curiosidade e ficava pensando na
vida em geral, na minha solidão e enfim, nas variadas circunstâncias que nos fazem viver a vida.
Não tinha vontade de escrever, como se quisesse fechar um ciclo, o ciclo de vida de um escritor que
nunca fora famoso, que tentara e escrevera de facto alguma coisa e que se alegrava por deixar neste
mundo as suas palavras. Não havia muito mais a dizer, estivera prostrado com medo da morte e ela
quase a ensombrar-me os dias, tentando não enlouquecer sabendo que tinha um livro para escrever e
não conseguia desatar o novelo. Não havia nenhum grande amor concreto na minha vida, mas eu
não me importava, não estava já revoltado contra o mundo nem contra a falta de emprego e
condições para ter uma vida satisfatória. Talvez isso não fosse para mim, talvez estivesse mesmo
entrando nos cinquenta e precisasse de levar as coisas, o dia a dia, as pessoas em geral, de outra
forma, menos acometida e agressiva. Tinha virtudes, qualidade, mas tinha também enormes defeitos
que me prostavam e abatiam. Estava preocupado com a morte, a minha, a dos meus. Como podia
filosoficamente pensar nesse assunto? Estava então desistindo de escrever? Não sei, mas parecia
que me faltava assunto, à medida que compreendia mais e mais coisas, à medida que falhava,
tentava, conseguia. A pouco e pouco, as coisas tornavam-se cada vez mais perigosas, à medida que
tomava conhecimento daquilo que lhe dizia respeito. Afinal, estava com problemas de consciência e
pouco ou nada tinha feito para ofender os outros. Apenas tinha dito o que sentia, o que pensava.
Julgava que nada mais tinha a dizer aos outros, enquanto lhe parecia que o egoísmo tomava conta
do seu ser. Depois de ter estado prostrado dias e dias, não na rua por onde todos passavam, mas em
casa, como que se negando a viver uma vida social, não seja isto autocomiseração, procurava ter um
objectivo de novo na sua vida, a partir dos quarenta, contar novas histórias, ainda que não tivesse
aprendido, ou seja, cursado literatura. Sonhava agora passar o resto dos seus dias à beira-mar, ainda
que não se sentisse mal na casa que lhe haviam entregue. Sentia que ainda tinha alguma coisa a
dizer ao mundo, não que não fosse dele. Enquanto isso, o governo do seu país preocupava-se mais
com aqueles que estavam para vir, fosse de que maneira fosse, do que com aqueles que cá estavam
ainda.
Estnes deixou de se fazer de vítima para obter conhecimento acerca dos outros... Como não tinha
nenhum vínculo profissional nada tinha a perder na relação com os outros. Sabia que estas coisas
das relações entre as pessoas são como as digestões: envolvem ácidos, maus cheiros, muita
confusão, mas também o alimento para que possamos prosseguir em nossas jornadas da melhor
maneira. Vivia os tempos de verão fascinado com o Brasil, porém, decidiu rumar a Paris para aí se
instalar com uma loja de vinhos e pastelaria portuguesa. O barco onde seu irmão iria rumar com
destino ao Rio de Janeiro estava a partir. Era uma coisa muito portuguesa, essa da partida e da
saudade, que nada tinha a ver com a localização geográfica. Está-nos no sangue: apesar de sermos
tão poucos, transportamos o mundo aonde quer que vamos, dentro de nós, como que para o dar aos
outros, em sinal de testemunho e herança para a convivialidade dos povos e dos indivíduos que,
muitas vezes, não significa pacifiscmo, mas conflito de interesses, singulares e colectivos. As
culturais mundiais, como a nossa, estão assinaladas há várias décadas, as culturas nacionais são
coisa a que uma Catalunha e uma Escócia agora aspiram. A este ponto, o dilema do primo-irmão de
Estnes seria quanto tempo ficar no Rio, quanto tempo ficar fisicamente distante ou então, por outro
lado, esquecer para sempre Portugal, Lisboa, Coimbra, Leiria... Enquanto Estnes abria o seu
“Comme en Lisbonne”, seu irmão mais velho fugira de casa depois de ter um acesso de loucura e
disparar sobre a mulher e a filha de dezasseis anos. Era perseguido pela Interpol, nesse ano de
1973. Uma grande revolução para todos em Portugal, uma grande revolução na cabeça de Martinho,
esse jovem que fora sempre discreto e sempre medida na sua consciência os amibientes. Também
em Viana do Castelo, um homem fora descoberto de papo para o ar com uma faca espetada no
coração. A tv comentava: “não terá sido suicídio”... Assim sendo, a mãe e a irmã assasinadas eram
recolhidas a seus eternos lugares, enquanto a filha mais nova crescia, borbulhando o seu sangue de
uma forma mais ou menos apostólica. Para não contarmos apenas males de famílias, concentremo-
nos no caso de uma amiga de Estnes, que fora seu amor de adolescência e que se refugiara em Goa,
pois sempre quisera conhecer a Índia, mais do que os índios, pois demasiada concentração nas
pessoas nos evita das coisas e dos animais, que também são importantes para o mistério da essência
transcendente daquilo que pretendemos dizer.
O Mal de Imaginário

Diz-se que o antropólogo e escritor Machado de Assis sofria de uma Mal de Imaginário, como se
tivesse dificuldade em lidar com coisas concretas. Ora, isto pode ser explicado duzentos anos
depois: o excesso de realidade pode gerar uma devotada confiança no imaginário, construído ao
correr de uma vida de desconfiança das pessoas, da natureza humana, que tanto dá como tira. E
quando tira não volta a dar, por minha experiência; tem o sujeito de procurar o que foi negado
noutro lugar, noutro contexto, gerando uma economia das trocas simbólicas de que soube falar
Pierre Bourdieu.
Ora, a alma de Machado de Assis transformou-se num gato preto, o gato que todos rejeitam (menos
as gatas, pretas, brancas ou amarealas), cujo conhecimento aumenta conforme o grau de desprezo
por parte dos outros. Só que ele tem uma vantagem: onde os outros gatos julgam ter uma vitória, ela
nada vê, pois não julga, seja a natureza animal ou a humana. Outros acabam fisicamente na esquina
mais próxima, enquanto ele desenvolve as melhores ferramentas para se manter vivo. Enquanto
outros conspiram contra ele, ele descobre a Vida em todos os seus matizes e transmite o lado
positivo da vida. Sobre, portanto, tal como na reencarnação anterior, de mal de imaginário, que se
poderia alinhavar ao mal de montano (de Montaigne) de que fala Muñoz Molina e outros. E onde se
alimenta o Negro Gato de que falamos? Tem repasto à discrição em várias casas no lugar de Casas
Brancas, comunidade perdida no nordeste brasileiro, deslocando-se de quando em vez ao Rio, onde
goza de verdadeiros banquetes, mesmo para humanos, nas mais diversas casas dos mais nobres e
mais ricos das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. De quando em quando desloca-se de omboio
para Buenos Aires, onde ninguém o vê: atrás da sanita da casa de banho ou dentro do lixo, por
debaixo do lava-mãos.
O Suor da Verdade
Perdemos grande oportunidade de ganhar mil e um dinheiro e ainda nos chamam de Judas, pondo-
nos pendurados vivos no cimo de uma oliveira, no jardim das Oliveiras, ou então dando-nos comer
envenenado, como se comer fosse ou necessidade ou terapia, ou ambas as coisas. Não sei o que se
passa na América ou no norte da Europa, mas acho que por cá estamos indo depressa demais, como
que querendo complexificar as relações sociais, ao ponto de as criminalizar ou, pior ainda, abolir.
Estava cansado de estar junto dos pais, como que justifiacando a minha aliança com um gato preto
que passava frequentemente, depois do almoço, frente à porta de casa. Lá mais para o fundo, estava
a casa do jardim, onde pernoitava e fumava os meus cigarros, donde partiram bastantes dos meus
livros, comances, contos, novelas, etnoficção e prosa filosófica, bem como ensaios de teoria social.
Não desisti das relações sociais, só havia uma explicação: o secularismo estava grassando na
realidade social, dando trabalho que chegasse à religião católica. Proliferavam inúmeras correntes
de espiritualidade, nativas ou ocidentais e eu próprio, com o meu Método Taigen, havia dado os
primeiros passos no campo do aconselhamento e estudo espiritual. O Método Taigen era mais um
sistema de conhecimento, uma inferência a partir da minha experiência do mundo e dos outros, de
mim mesmo, do que propriamente algo a praticar. Era como que uma síntese, que ainda estava na
minha cabeça, da Teoria da Conformidade que tinha para escrever, essas seiscentas páginas de um
sistema filosófico dos e para os nossos dias. Naqueles dias, em que tinha levado pontapés de uns e
de outros na minha demanda de trabalho, sentia que havia sido enganado por diversa gente que
poderei um dia ficcionar, pois constituem cromos bastantes elucidativos de uma realidade social
bem picaresca. Pena é que alguns escritores ainda não descobrimos que vivemos há dois anos,
senão na Idade Média, pelo menos em regime ditatorial, imposto cá dentro, imposto a partir de fora,
desde o governo português até às instituições europeias. Vivia assim uma obessesão entre o excesso
de qualificações e a condição de pensionista, embora ainda não reformado, pois no mercado negro
poderia ainda ganhar algum dinheiro, o suficiente para prosseguir a minha actividade criativa. Sò
que pouca gente se havia exposto como eu, perdido tanto quanto eu e agora não sobrava sequer um
romance para apaziguar o meu coração revoltado para com a sociedade. Via defeitos em tudo e mais
alguma coisa, e isso poderia ser uma enorme virtude. Afinal, o gato negro era bastante arguto e
inteligente e sua sgacidade tinha a maior das utilidades, desse dinheiro o não era distinto. É mais
importante o dinheiro ou a vida? Para alguns, parece que o dinheiro. Tarde se apercebem, esses gato
que não são preto, nem branco nem preto mas cinzento, como se a própria actividade da respiração
fosse uma conspiração contra a humanidade...
Para mim, o suor da verdade equivale a antropologia, a ciência do genuíno, um campo do saber com
que me identifiquei muito tempo, profissionalmente até há quatro anos atrás. Dei bastante, sózinho
ou acompanhado. Podia ter dado mais se me tivessem dado a mão; mas as coisas neste país quanto
ao que respeita às ciências sociais está bastante pobre, embora tivesse tido um boom que, na minha
opinião de não-académico, não foi suficientemente bem aproveitado, au-delá dos governos de
direita e socialista. Avançou-se bastante no plano moral e da ética política, sobretudo no tempo de
Guterres e Sócrates. Ainda assim, embora asqueroso seja o presente governo, é suficientemente
condescendente para se interessar por questões sociais, pois sabe que a breve trecho, quiçá por
descuido, mais do que por mérito dos socialistas, salvo raras excepções, deixará de governar...

Aqui, ali, durante a noite, quando estava trémulo de desejo, lembro-me dos que me são próximos e
das relações entre sangue e desejo, da mimética dos sentimentos humanos, da aproximação dos
corpos, do facto de ter desejo mas não saber como e de como isso sabe bem ao lado de quem está
sempre no ram ram e se converte num animal que nada rende (à sociedade). Procuro, assim, a
ponta do novelo que trago para oferecer ao leitor...
Desisti de considerar perdida para sempre no tempo a minha obra, e o quanto isso tem a ver com a
sua celere celebridade...Pois o meu argumento, ou ponta de novelo é que fiz muito com pouco onde
outros fazem pouco com muito, deverei explicar que escrevem poucos livros porque estão tempos e
tempos a mastigar palavras e conceitos (estarão?) à espera que a sociedade inteira reconheça o seu
“valor”, para depois assim, naquela moderna toada, continuarem a sua triste trova. A minha conta é:
22 livros, de géneros já acima mencionados. Nunca me fixei num género pois queria inventar, mas
apercebi-me que se continuasse a inventar acabaria louco e sozinho; havia que preservar a minha
velhice, pois sei que na minha profissão, a idade traz o melhor, como de resto com o vinho. Desisti
de me candidatar a doutoramentos, por diversas razões, entre as quais a primeira seria monetária, a
segunda a falta de ética dos professores catedráticos ou possíveis orientadores, que encontrei.
Portugal é como uma aldeia: quando alguém tosse em casa, ouve-se no café. E mais não digo, pois
sei demasiado sobre este assunto para nele falar desbaratadamente sem retorno. As vozes são como
as nozes, não convem interpretá-las com palavras, senão nuca mais se vão embora. É melhor dar-
lhes um chuto no cú. Patologicamente, as vozes não se podem abafar. Mas elas são reais, nas
línguas dos outros e na mente de quem as ouve.

Inconsistências
O Natal aproximava-se e eu aproveitava a minha solidão para continuar o meu empreendimento de
tentar, sem falar, compreender a razão da existência de Ludovico e Estnes. Eram dois seres
distintos, embora estivessem ligados por um cordão quase umbilical. Pareciam aqueles frades que
se mortificavam ou aqueles presos Irmãos Metralha, que carregavam uma bola de chumbo. Durante
instantes, pensei que seria tempo perdido ocupar os meus pensamentos com tais seres, pois não
tinha o hábito de discriminar as pessoas. Eu tinha ido longe, demasiado longe, na minha prosa, e
havia regressado com lucidez, coisa de que poucos se podiam gabar. Enquanto isso, Choupon
Moting marcava ao Sporting, enquanto o Porto procurava vitória em Bilbao. Sentia novamente a
inspiração chegar, mas não era importante obrigatoriamente escrever para compreender a situação
sartreana daqueles dois seres geminados. Esquecendo-me destes dois personagens, pois não estava
para alimentar ódio a personagens reais, concentrei-me nos outros, os ficcionados, que mais
interesse tinham, pois a realidade estava para mim como para a ficção. Naquele tempo bebia
demasiado café e fumava um pouco mais, e minha mãe recriminava-me por isso e por ir demasiadas
vezes ao café, não sabia exactamente onde estava, passava naquele tempo no canal Panda o seriado
de O Principezinho e eu, bem como a apresentadora lá do Porto, Sara Rosa Araújo, ajudava-me a
passar as noites em que me encontrava sozinho, ao mesmo tempo que tinha saudades de Lisboa,
saudades de dormir acompanhado. Enfim, o Rio Ave e o Estoril haviam sido eliminados, ao mesmo
tempo que Fernando Santos anunciava os convocados para o próximo jogo da selecção. Não
forçava a inspiração, enquanto sabia que mais tarde ou mais cedo haveria de acabar este livro perto
das 200 páginas. Um desejo irreprimível irrompia através do meu ser, um desejo de ajudar o meu
país a melhorar, sentindo-me útil, trabalhando em prol do meu bem e dos outros. Estes sentimentos
ajudavam-me a sentir-me vivo, ainda que não tivesse uma relação, nem formal nem informal, com
alguém que se pudesse considerar minha namorada. A casa de Lisboa lá estava, lá tinha todos os
meus pertences e memórias, de uma forma ou de outra. Ainda assim, a pequena Matilde
desenvolvia-se extraordinariamente e eu alegrava-me com isso, enquanto que não fazia mal nenhum
aturar a minha mãe. Desejava intimamente que meus pais chegassem aos noventa anos, sendo
realista, neste país que muitos viam como “folgado”. Continuava, então, fazendo sentido ao que
(não) me ia acontecendo, de como podia ter outra vida, eternamente preso num desespero pleno de
Kierkegaard. Loeb e Sastre decidiram ir até Marrocos, onde foram tratados que nem uns reis. Sabia
que tinha de cumprir a multiplicidade do meu pensamento, inserido num povo com quem me
identificava e do qual eu era mero reflexo. Assim, encontrei-me com Sastre na estação de Santa
Apolónia, mais tarde com Loeb na estação do Oriente. Os dois parecia-me abatidos, como eu estava
também, naqueles dias de Inverno em que chovia bastante, sob o signo de escorpião. Lembrava-me
dos livros que havia roubado, o meu único pecado aos meus olhos. Percebia que um irmão pode ser
um inimigo, mesmo que se tenha dado provas. Viajámos, então até Faro, onde apanhámos um avião
que nos levou a Marraquexe. O tempo sem dúvida estava melhor, mas havia uma amostra grande de
pobreza para quem descesse ao mundo real. A memória do filme ecoava nos corredores e em
pequenos recantos sujos. Benedita havia ficado em minha casa em Lisboa, a casa que meus pai me
haviam oferecido mesmo não tendo eu aderido ao contrato social... Entretanto, sentia-me
endividado para com alguns dos outros, a minha irmã, o meu irmã, o meu exigente irmão (no bom
sentido), que poderia ter sido tão bom escritor quanto eu. A cena de ver o meu irmão em baixo,
gritando e chorando por este país era aterrorizante. Ao invés, não conseguia visualizar o mesmo
para a minha irmã, talvez por ser mais fraca fisicamente, embora pudesse parecer mais forte
mentalmente. Eu, que sempre incentivara os outros, encontrava-me em baixo, não conseguindo
melhorar a situação dos que mais amava. Alguma coisa, muita coisa, estava redundantemente mal.
Refugiava-me então, na literatura, pois pensava ser um meio para tornar as coisas mais fáceis,
incluindo o sofrimento humano do meu irmão e da minha irmã.
Encontrei-me com Benedicta num Domingo. Fomos até ao largo da biblioteca onde nos beijámos
intensamente. Caminhávamos um pouco pelos jardins e apanhámos um comboio rumo a sul, onde
viemos a encontrar Sastre e Loeb. Entretanto, estava já evitando o surto de Legionella que assolara
o país naquele tempo, mas teria de rumar a Lisboa o mais brevemente possível. Enquanto isso,
lembrava as pessoas que havia conhecido, emviagem lembrava-me das oportunidades perdidas e no
meu desejo de ficar por aqui, de cidade em cidade, fazendo um registo mais ou menos kafkiano dos
meus dias cinzentos. Tinha, para além das imagens nojentas que povoavam o meu cérebro, imagens
vívidas da verve dos sentimentos, das relações, mais do que o isolamente e a solidão. Esssas
impressões faziam funcionar a máquina de registo de imagens em movimento em que me havia
tornado. Mas, por mais força que fizesse para as evitar, elas não me saíam da mente. Então, que tipo
de mente tinha eu? E isso importava, se às etiquetas eu juntava mais fixação? O Luís, o Paulo, o
José Carlos, o João Carlos, a Wanda, a Fernanda, apenas dois por cento dos amigos que tinha tido...
O meu pai e minha mãe estavam já com cerca de setenta anos e eu desejava chegar à idade deles,
mas frequentemente tinha pensamentos negativos sobre a morte e muito mais coisas, obsessões que
não me largavam facilmente. Pensei vagamente fazer pornografia, mas era tarde para isso, uma cena
obscena que visitava o meu espírito de quando em vez, como se ali, no acto sexual, residisse todo o
mistério da existência humana, ao lado da violência e da morte, etc, enfim, tudo questões filo-
antropológicas que nunca mais me largavam. Entretanto, ficara a saber que o meu sobrinho
guardava cigarros. Tinha de lhe dar um sermão sobre a maioridade e a adolescência em que ele
entraria brevemente. Estava, então, preocupado com a morte dos meus pais, com a minha morte.
Sabia que pensando demasiado na morte, deixaria de viver a vida. Mas não me importava.
Pensamentos diversos cruzavam a minha mente confusa e focada em terminar este livro até final do
ano. Arranjei um bom argumento para explorar daqui em diante: um personagem, numa cidade onde
todos haviam morrido e cujos hologramas representavam os personagens que interagiam com esse
personagem. Falando ainda egoisticamente acerca de mim, posso dizer que estava mais preocupado
em acabar este livro e pensar no seguinte, mesmo que recebesse duras críticas, do que arranjar
trabalho.Pensava, ali perto do poço onde dispunha as minhas beatas, na solidão e na falta dela, na
Cristina, amiga de infância que nunca possuíra, em Lola, a empregada de café, nos problemas que
evitava com meu demasiado respeitoso comportamento. Sabia que havia pessoas que me queriam
ver na sargeta e eu ainda por cima era simpático com eles. Demasiado simpático. Meu pai decerto
quis que um homem, seu filho, ficasse no seu lugar, administrando suas terras e gerindo sua
propriedade. Poderei fazer esse papel... entre Lisboa e Riachos, mas preferia ir para longe, esquecer
as minhas palavras repetitivas, fazer algo de ousado, esquecer, esquecer, procurar procurando...viver
vivendo...
Saber que Pensa

Enquanto me preocupava com o seminário onde tinha estado Sastre e Estnes, alegrava-me por
estar procurando ser feliz à minha maneira, fazendo o melhor que podia com a minha vida, tentando
superar meus traumas, como Kierkegaard, lá no norte frio, enquanto por cá fazia tempo ameno.
Pensava de quando em vez que teria de me dedicasr à política em vez da literatura, talvez tivesse
mais proveito económico se tal acontecesse. Assim poderia comprar e ler os livros que quisesse,
sem a pressão por parte da minha mãe, do meu irmão e do meu pai para arranjar trabalho.
Entretando, o apetite por filosofia voltava de novo, bem como de poesia. Entretanto, o banco onde o
meu irmão havia trabalhado falira...
O meu olhar ia ficando cada vez mais sábio à medida que percebia a realidade por gradações,
graduações, camadas. Assim, os personagens poderiam cair da sua fantochada geral e um sentido de
humor me faltava em toda esta odisseia intimista. Talvez devesse preocupar-me com isso, em vez
dos hologramas, é que a ideia não iria simplesmente resultar. Puxava de uma cigarrilha. O meu
sobrinho poderia trilhar um caminho como o meu, tinha de arranjar forma de tornar tudo isto
cómico e divertido. Só me faltava cobrir este assunto, esta visada, na minha obra. Uma obra cómica.
Boa. Lembrava-me da música da minha dolescência, da aldeia de meu pai e minha mãe, do Tempo,
esse meu deus que eu percorria po dentro do meu sangue, das minha veias, da nascença de qualquer
coisa importante, do meu caminho, que se cruzava com o dos outros, entremedo com um pouco de
presento e queijo, acompanhado de um trago de vinho português. Ah! A cena do déja-vu, o medo de
falar, a vitória depois de um bom sentido de humor, com o diabo às costas, o peregrino que vai para
Santiago, os regressos, as armas e a violência, o sangue, a água, a respiração, o estar e o ser, o
pertencer. A profissão que escolhi, depois de ter sido antropólogo até aos 40 anos. O Miguel, a
Rosa. O Raúl. As saudades de não ter feito bem as coisas, o perfeccionismo, pois então, como e a
minha mente perseguisse o sangue que se esvai, voluntariamente, como quem entrega a vida à
amada, mesmo não sabendo o que mais fazer. A recordação de Susana. O amor, entretecido nos
dias, semanas e anos a fio. O meu irmão, o amor à minha irmã. A fatalidade positiva de ser o irmão
do meio. Tantas pessoas, tantos nomes, todos os nomes, todos os adjectivos, eis o que tinha diante
de mim, entre os meus olhos e minha fronte, desvelado o erro ético de querer existir. Era um
existencialista, naquele tempo, um malandro, um bon-vivant que queria ser rico. Mais um bafo,
mais uma morte, mais uma doença, a retórica servia afinal para qualquer coisa. Saltou-me a tampa e
procurava procurando naquela noite. Naqueles dias, procurava entreter-me com um argumento para
continuar a minha narrativa, enquanto o mundo seguia o seu curso. A pequena Matilde estava cada
vez mais irrequieta e também o Rafael descobria cada vez mais coisas. Tinha tido um desaguisado
com o meu irmão e com a minha irmã, mas procurava encher de sentido aqueles dias vazios. Era um
pessimista que procurava a redenção em pequenos gestos, pequenos olhares, pequenos
pensamentos. Deixara quase definitivamente Lisboa, onde estavam todos os meus livros, todos os
meus pertences. Nesses últimos dias fumava bastante e olhava a vida apocalipticamente. Porém, a
névoa de sofrimento ir-se-ia, em breve, definitivamente embora. Entre muitas coisas, pensavam que
era um monstro, um predador, um pedófilo, quando não era nada disso. Assuntos delicados de
pessoas preconceituosas que estavam ansiosas por me ver na prisão. Contudo, nada disso se
passava. Eu não estava em Lisboa porque não conseguia emprego por lá e nem conhecera ninguém.
Achava que estava melhor junto da minha família. Ponto. Passaram dois dias. O Inverno instalara-
se, severo, nas mentes e nos corações. Continuava sem grandes argumentos para escrever. Estava
bastante deprimido, não sabia o que fazer, enquanto lutava por não satisfazer o meu desejo sexual.
Queria conhecer alguém. Entretanto, a vida dos outros continuava. Perdera o rumo dos personagens
e a esta altura, não sabia, quer exacta quer vagamente, o que fazer. Não, não sabia mesmo. Lisboa
parecia-me bastante longínqua e por mim como que passara o tempo de lá estar. Aqui, apesar dos
problemas, ainda me sentia feliz. Os vizinhos falavam pouco. No café, falava-se pouco. As pessoas
estavam inundadas de problemas e anestesiadas pela indústria farmacêutica. A poética da vida era
vaga, incerta, quase inexistente. Na minha vida, não havia agora mulheres, bonitas ou feias.
Continuava no reduto familiar e meus planos para constituir família estavam adiados. Ainda assim,
era feliz. A pobreza tocava a todos, por isso eu me sentia privilegiado.

Liberdade e Solidão
Ainda assim, as coisas estavam difíceis para Teresa, que tinha duas filhas para criar e procurava um
homem para substituir o seu, pouco diplomático, canalizador de profissão. Nesses dias, o futebol
português dava cartas na europa e no mundo e o ex-primeiro ministro Sócrates era detido, passando
o seu séjour no Alentejo. Caso estranho: a porta trancou-se por dentro sem que ninguém estivesse lá
dentro para o fazer. Passei o resto da semana preocupado com o caso e adiei a minha ida a Lisboa.
Num ano, apenas tinha dado duas quecas. Era desumano não me aparecer nenhuma mulher. A
minha irmã chegou, tendo saído logo depois. Minha mãe revelou-se antipática para comigo, como
habitualmente. Estranhei o caso, mas como se tratava da minha mãe, aceitei a antipatia. O outros
pensavam que eu tinha Alzheimer, pior, que era o pior dos demónios. Aceitei tudo em minha
consciência. Apenas sabia que era um homem carente. De mulher. Seja como for, continuava a
alimentar o desejo através de bons pensamentos, tentando desligar-me dos maus e sabendo que
estes tambvém faziam parte da vida, sob pena de esgotar o prazer dos outros. Era Inverno, chovia
bastante no mundo, o Benfica jogava com o Znit de Leninegrado, contra Villas-Boas e Hulk. O meu
projecto de vida não era mais ter uma mulher, mas duas, uma para os dias úteis, outra para os fins
de semana. Procurva vários personagens, o entrelaçamento entre eles, o futebol, o fado, Fátima e a
política. Cristiano Ronaldo batia recordes, Messi também, o Papa visitava o parlamento europeu na
sua luta contra o laicismo, a religião era respeito pelo outro, enquanto outros regressavam a si
mesmos com a mesma constância com que lidavam com os outros. Enquanto isso, uma mulher
comunicara comigo, alterando as lógicas, as concretas e as abstractas, enquanto eu me dilacerava
entre ficar na casa dos pais e ir sozinho até Lisboa, onde me esperavam duas. Enfim, falei o que
desejo, o sentimento cumpre-se, o sentimento alastra geograficamente, enquanto o meu sobrinho ou
seria antropólogo ou arquitecto, como era desejo de meu pai. Os personagens tardavam, enquanto
havia muitos, pouco se perfilavam no horizonte longínquo. Nada mais importava, a minha memória
desenhava-se, articulada, complexa, necessária, sob o manto da memória. Era Natal e o sentimento
benfazejo invadia a minha mente. Estava dependente de uma vitória do Benfica para continuar a
minha narrativa paralamentar. Enquanto o meu sobrinha não chagava, eu escrevia sobre aquilo que
mais sabia. E o Benfica jogava. Enquanto isso, oferecia à biblioteca da minha aldeia um exemplar
da minha última obra, enquanto continuava esta, inspirado por gestos e desejos mínimos, no país
que nunca havia censurado o que havia escrito, enquanto Sòcrates lia livros de filosofia em francês
na prisão. Podia oferecer-lhe alguns dos meus, ele podia dar as voltas que quisesse que nunca
chegaria à riqueza da minha mente. Com ou sem dinheiro. Estar ali era como um mimo,
entrecortado por cortejos de voz e terra. Já não estava preocupado com os personagens, queria
chegar às 200 páginas antes do Natal. Liberdade livre, fora com a solidão. Era Natal. O meu
trabalho era escrever, podia não render economicamente, mas o inferno da fama não me perseguia.
Eu era o escritor do regime, ninguém me podia tirar isso. As minhas obras eram inconvenientes, au-
delá da ficção, para além do horizonte. Já não estava à beira-mar, tinha imensas saudades da praia.
Os tristes do café lá continuavam, bigodes por rapar, rascos, embededando-se. Vozes de burro não
chegam ao céu. Cão que ladra não morde.
O cante era património imaterial da humanidade. A capoeira? Talvez. Dizia a UNESCO. Deixou
de chover, estamos agora numa situação de comando em Lisboa, tem chovido muito, a meteorologia
era predictable. Os corações eram imprevistos. O céu levantava-se, era bento, sagrado, imortal. O
Rio Ave, de Vila do Conde jogava em Kiev. A Europa cristã estava unida, de uma ponta à outra.
Então, ouvi um pouco de Pedro Abrunhosa e deixei-me de tretas, tratando-se o caso de arregimentar
a vontade para uma tarefa que seria simplesmente procurar uma prova de vida para além deste
planeta. Consegui essa prova. Tenho-a no meio da minha tralha, do meu bordel, perdida de
propósito para sempre que a vida na terra ainda é feliz. Não sabia como começar, se pelo fim se
pelo princípio da amostra da infinidade das coisas. Das três ou quatro personagens que encontrei
naquele dia ao redor de uma Távola Redonda, nao sei o que mais peculiar deles todos era. Em
Dresden fora feliz. Continuava desarticulado o meu pensamento enquanto comia com eles à mesma
mesa. A comida estava truculenta, tal como a conversa. A conversa balançava entre a filosofia da
arte e sua sociologia. Enquanto todos me gozavam naquela mesa, Cristo defendia-me e sabia que
tinha reservado para mim um lugar nos céus onde tudo poderia fazer sentido. Pensava ainda
insistentemente com mulheres, mas não tinha nenhuma patologia séria. Sabia disso tanto como de
estar vivo naquele minuto. No mercado, tudo se vendia ao desbarato. Entretanto, o meu espírito
vagueava pelas nuvens da imaginação e as minhas estruturas mentais e culturais esboroavam-se
tanto quanto mais a elas me agarrava. Tinha receio de desaparecer com tudo istyo, o meu
pensamento e tudo aquilo que por mim pensado não era meu pensamento. Um fenomenal
sentimento de pertença invadia o meu coração, por vezes forte, outras vezes fraco, mas creio que
crescia de intensidade desde há algumas semanas. Desistira de contar histórias mesmo sabendo que
o melhor escritor é aquele que as sabe contar, entretanto, preenchia os meus dias vazios, sem
emprego e sem namorada, com café, tabaco e algum vinho. Lembrava-me da dupla Vitor Norte e
Paulo Pires em "Cinco Dias, Cinco Noites", onde também contracenava uma antropóloga.Os meus
dias tinham um fio de corência, ziguazagueando de um lado para o outro ao sabor dos sentimentos.
Sabia que o meu karma era ser escritor, contando histórias taravés provavelmente da minha história,
como se fosse o meu espírito um espelho reflector das experiências e sensações humanas. Pensava
que o velhote teria morrido, mas acredito que ainda estava vivo. Eu sofria à distância, como toda a
gente, pelos meus, não sabendo quando seria a minha hora. O meu sentimento era como uma
canção dos Heróis do Mar. A vida era um risco, havia que ser destemido, medidno todas as coisas
com cabeça, tronco e membros. Lembrava-me dos meus tempos do Bloco de Esquerda, quando
vivia numa cave, debaixo da terra, sentimentos misturados que não sabia bem onde me levariam.
Embora tendo perdido as estruturas, não quer dizer que (para os outros>) elas não existiam. A
dúvida invadia a minha vida e a morte era uma certeza. Vamos à vida que a morte é certa, como soía
dizer-se no campo. Aprendia lendo nos rostos, ainda que o meu rosto estivesse cheio de cicatrizes,
aprendendo a não julgar pelas aparências. Parecia que o espírito de Nova Iorque tinha invadido
Lisboa. Ainda bem. Quando se dizia à boca cheia alarvidades neste país, eu continuava
representando tudo. Sentia que não tinha muito mais a dizer aos outros, que a minha obra estava
concluída, que me bastava passar à máquina Uma Teoria da Conformidade. Escrevia por obrigação.
Enquanto isso, vivia certamente com incertezas e incoerências, enquanto evitava estar obcecado
pelo sucesso. Voltei ao convívio do papel branco e não sabia bem o que fazer, se avançar se recuar.
Mas, quanto a certezas, sabia que tinha de encontrar uma pessoa com quem partilhar os meus
sentimentos, enquanto a minha família me continuava a ajudar, especialmente a minha irmã, ao
mesmo tempo que quase desistia de procurar emprego. Lembrava-me que escrever era minha
profissão e não podia ser mais preguiçoso quanto a esse aspecto, só que entre escrever e trabalhar,
comprometer-me com um trabalho para sobreviver, não sabia o que fazer. Estava perdendo a
memória, talvez tivesse alguma doença degenerativa. Continuava a creditar em mim e nos outros,
ora acreditando com muita força, ora duvidando, julgando que daí não iria mal ao mundo. Por vezes
tratava mal os meus e queria arrepender-me com isso e continuar a minha demanda por ser uma
pessoa melhor. A verdade era uma árvore. O coração é a salvação e a perdição e terrível, que nunca
acabava, neste e noutro mundo. Procurava ver melhor o caminho. Estava escuro, mas sentia uma luz
ao fim do túnel, permitindo-me continuar o caminho. Sabia que não sobreviria a muitos mais
invernos. Enquanto eu sofria, os vizinhos riam. Iria continuar. A dor de cabeça não desaparecia.
CAPÍTULOS

Essa Entente _______________________________ 13


Objectal _________________________________ 19
Gato Negro ________________________________33
Banco Novo ______________________________ 41
A Formiga e o Elefante ______________________49
Um Mundo (pouco) Diplomático ______________53
Ince, O Gato Negro. O Regresso _______________57
Estnes e Ludovico: O Marinheiro e o Pintor ______61
Coisas, Coisas e Coisas -----------------------------------65
Halo --------------------------------------------------------- 83
O Silvo da Verdade -------------------------------------- 93
O Dilema -------------------------------------------------- 105
O Mal de Imaginário ---------------------------------- 115
O Suor da Verdade ---------------------------------------- 104
Inconsistências ---------------------------------------------- 109
Saber que Pensa ----------------------------------------
Liberdade e Solidão -----------------------------------
Impressão
pixartprinting

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