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DOMINA CONCURSOS

A Questão Nacional no Brasil: Entre Histórias e Historiografias

Segundo Schwarcz (1993) a criação no Brasil do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), cujo
papel seria a de “construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação,
ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos”, teve papel
importante na tentativa de conformação de uma “identidade nacional” brasileira, na medida em que
procura dar um status científico, institucional, para a história de um país em construção .

Contando com muitos apoiadores da corte, diferentemente do caráter do mérito que caracterizava o
cientificismo das instituições desse tipo na Europa, o IHGB buscava construir, a partir de suas
publicações, uma história “oficial”, cujo principal colaborador, não por acaso, seri a o próprio imperador.
Além de “exaltar a glória da pátria”, ainda sem uma identidade, um sentimento de pertencimento, o
instituto procurava homogeneizar diferenças na tentativa de construir uma origem que pretendia ser
comum, uma espécie de “história geral da nação”. Ocorre que essa perspectiva esbarra nas
peculiaridades do processo brasileiro, não exatamente pela suposta “unidade entre as elites”, mas por
uma disputa entre um sentimento local, regional, e uma perspectiva nacional de uma elite que, embora
dispersa geograficamente, via com temor as lutas de independência na América Hispânica que poderia
levar a uma radicalização de interesses muitas vezes antagônicos.

Na perspectiva do IHGB, qual seria então a história do Brasil? Que elementos mereciam dest aque, nessa
“glorificação do passado”?.

Na ausência de uma história do Brasil, o instituto organizou em 1844 um concurso para eleger o melhor
projeto para estabelecer “como escrever a história do Brasil”. O vencedor, naturalista alemão, Von
Martius, propôs uma “fórmula”, um modelo evolucionista, para compreender o papel específico que
caberia às três raças: ao branco caberia uma espécie de “missão civilizadora”. Ao índio uma
possibilidade de redenção de modo a “galgar a civilização”. Ao negro, restaria a de tração na medida em
que sua presença nas páginas da história seria um elemento de “impedimento do progresso e da
civilização” (p. 141)

A fórmula proposta pelo “ilustre cientista alemão” foi, em grande medida, seguida pelos primeiros
historiadores, como Adolfo Varnhagem, que procuravam justificar o massacre de indígenas como um
fator necessário à civilização e a presença africana como um lamentável episódio. No caso dos
indígenas, o autor, ainda segundo Schwarcz (1993, p 146) apesar de reconhecer “a serventi a do
bárbaro”, cujos hábitos alimentares, a agricultura, e os utensílios foram largamente utilizados pelos
primeiros colonos, a principal “virtude dos cristãos em sua missão civilizadora foi levar ao bárbaro ao
incivilizado, ainda que através da escravidão, hábitos civilizados, a religião, submetendo-os à razão”. O
interessante dessa “história Geral do Brasil”, é que havia, pelo menos se acreditava, uma fundamentação
científica da explicação histórica, que procurava entendê-la de modo “objetivo”, afastando qualquer
influência da contemporaneidade, do presente, na medida em que os fatos, deveriam ser narrados “tal
como efetivamente aconteceram” e que “escrever a história contemporânea nenhum historiador nacional
o deve fazer para não se expor a juízos temerários e a outros inconvenientes”.

No caso dos africanos, considerados “inimigos de toda a liberdade”, vieram ao Brasil, segundo
Varnhagem, pela proibição da escravidão indígena. Mas essa gente de “vigoroso braço”, a quem o autor
“se sente no dever de consagrar algumas linhas”, irá desaparecer, pela combinação das cores,
totalmente de nosso povo, na projeção do autor. (p.148)

Mas qual a relação entre o debate racial, étnico, com a questão da identidade nacional? O problema
colocado no presente, diferentemente dos nossos primeiros historiadores, é a vinculação entre nação e
cidadania, isto é, explicar a difícil construção de uma identidade nacional com o processo histórico
brasileiro e com o lugar reservado, na historiografia e na sociedade, aos três diferentes e complexos
grupos sociais aqui analisados.

O “descobrimento”, como mito de origem, e a independência, como elemento “patriótico”, “nacional”,


foram, e em certa medida ainda o são, defendidos a exaustão como elementos fundamentais da História
do Brasil. Mas os embates e combates sobre mitos e simbologias do passado possibilitaram a
construção de outros heróis, de outras representações da nacionalidade. O movimento romântico, por

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exemplo, eleva o índio a um lugar de destaque. O suposto descobrimento do bárba ro incivilizado a quem
a razão cristã europeia iria retirar da barbárie dá lugar a o novo herói idealizado, o índio virtuoso da
literatura de José de Alencar[1], o índio cortês, uma espécie de “bom selvagem” criado pelo poeta,
“portador de verdades e sentimentos superiores”. A natureza exuberante, igualmente idealizada por
Gonçalves Dias, em cuja “terra tem palmeiras onde canta o sabiá”, coberto por uma céu que tem mais
estrelas que qualquer outro, onde “os bosques tem mais vida”, e todo um discurso de valo rização do
“meu lugar” que tanto influenciará o nacionalismo militarizado dos anos 1930, do integralismo de Plínio
Salgado e do Estado Novo, até o ufanismo da ditadura militar no pós 1964, consubstanciado pela
expressão: “Brasil: ame-o ou deixe-o”[2].

A influência do modernismo, a busca por uma identidade, a explicação de um sentido para a história do
Brasil e seu lugar no mundo estarão presentes nas obras de diversos intelectuais. Segundo Bastos
(1988, p. 23), Gilberto Freyre “debate a questão nacional sobre três pontos principais: a raça, a cultura e
o regionalismo”. Questionando em certa medida a influencia de modelos explicativos deterministas, de
grande influencia no meio intelectual brasileiro na virada do século 19, Gilberto Freyre empenha -se na
desconstrução “de dois mitos”: em relação ao determinismo geográfico, Freyre procura demonstrar que a
região tropical não é naturalmente incapaz de “chegar à civilização”. Em outras palavras, o clima, a
vegetação, o relevo, não são impedimentos naturais ao desenvolvimento humano. O homem, no caso o
homem ibérico, adaptou seu projeto colonizador à realidade tropical. No caso do determinismo biológico,
Freyre discordava da tese de que a mistura racial, a miscigenação, gerava indivíduos “degenerados”,
uma espécie de sub-cultura. Ao contrário, o mestiço seria perfeitamente capaz de preservar o essencial
da cultura supostamente elevada, adaptando suas formas de vida e sociabilidade. (p. 27 -30)

Neste sentido, a questão nacional estava “em aberto”. Os mitos de origem de viam ser questionados, os
heróis reinventados e a nacionalidade, pensada de maneira homogênea, a partir de uma centralidade no
centro-sul, não poderia mais dar conta da complexidade brasileira. O regionalismo, o olhar para dentro,
“para si”, ganha força nesse contexto.

No entanto, esse “novo olhar” de Freyre gerou inúmeras controvérsias, a começar pela criação da ideia
de que no Brasil haveria uma espécie de democracia racial. Levando em consideração o sistema de
produção econômico – a monocultura e a grande propriedade baseada no trabalho escravo, e a falta de
mulheres brancas, Freyre atribui à necessidade um elemento fundamental para as formas de relações
sociais estabelecidas no Brasil escravista. Chega a dizer, por exemplo, ainda segundo Bastos (1988, p.
31), que a vida de um escravo brasileiro na sociedade agrário-patriarcal “pouco teve de cruel se
comparada a de um operário inglês nos meados do XIX”.

Essa perspectiva sociológica de analisar a história do Brasil, proposta por Freyre, fundamentada no
patriarcalismo e na circularidade cultural criados no trópico, foi muitas vezes denominada de luso -
tropicalismo (idem 33). Apesar das controvérsias, possibilitou a ênfase na discussão sobre o papel da
cultura para alem das perspectivas deterministas de superioridade racial, muito presentes no discurso
nacionalista exacerbado dos Estados-Nação de conteúdo fascista que terão grande força na Europa,
mas também na América, inclusive no Brasil.

Apesar da introdução de elementos novos para a definição da nacionalidad e brasileira, o debate em


torno da “questão nacional”, principalmente na literatura marxista, versará por outras questões, aqui
apontadas a partir da contribuição de Reis (2007). Segundo este autor, Nelson Wernec Sodré, por
exemplo, a questão central é explicar o desenvolvimento do Brasil a partir de modelos fundamentados
num outro tipo de determinismo: o evolucionismo econômico. Como “intelectual orgânico” do PCB, Sodré
formulará uma teoria sobre o desenvolvimento do Brasil a partir de estágios, de modos d e produção, a
começar pelo feudalismo, contextualizando a descoberta do Brasil na fase de transição do feudalismo
para o capitalismo. Haveria uma coexistência de dois modos de produção, o escravismo (predominante)
e o feudalismo. O primeiro seria predominante nas áreas litorâneas agroexportadoras, e as relações
feudais de produção existiriam nas áreas de sertão, fundamentadas na produção de subsistência.

A independência do Brasil marcou a vitória da classe senhorial que sufocou as rebeliões com projetos
mais radicais. Foi a permanência do predomínio escravista só superado pelo predomínio do Feudalismo
após o fim do tráfico e a generalização do trabalho do imigrante europeu irá “alastrar as relações feudais

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no Brasil”, uma vez que, fiel a ortodoxia da teoria “etapista” do PCB, “não poderia haver a passagem do
escravismo para o capitalismo sem a etapa intermediária, o feudalismo” (p. 79). Nesta perspectiva, a
burguesia brasileira assumiria o papel de sujeito histórico central, guia do proletariado na revolução
democrático-burguesa, num estágio imediatamente anterior ao socialismo. A tática de “aliança com a
burguesia nacional” definida pelo PCB nos anos 1930 se encaixava perfeitamente nesse esquema
explicativo. A questão nacional passava, portanto, pelos diversos estágios até a fase da substituição das
importações nos anos 1930, em que haveria duas saídas: ou a aliança com a aristocracia feudal
tradicional, se livrando da ameaça socialista, ou a incorporação por parte da burguesia do projeto do
partido.

Portanto, do ponto de vista do PCB, a questão nacional passava pela realização do projeto político do
partido a partir da perspectiva criada pela III Internacional Comunista, dando destaque a uma
compreensão histórica centrada no desenvolvimento das forças produtivas, da revolução democrática,
dirigida por uma burguesia supostamente identificada com as necessidades do povo brasileiro.

Apesar de anterior a de Sodré, a produção de Caio Prado Jr não é a de um historiador oficial do PCB.
Com uma postura mais independente, Prado Jr, mesmo influenciado pelo marxismo, irá ocupar-se com
questões de outra ordem, tecendo inclusive duras críticas aquilo que chama de vulgarização do
marxismo. Para o autor existe um sentido para a história do Brasil, e este sentido não será compreendido
por nenhuma teoria que não considere o caráter específico da história do Brasil. Numa interpretação
marxista mais crítica e produtiva, Prado Jr não se limitará a fazer uma história político -administrativa,
nem tão pouco centrará sua análise em longas descrições estatísticas tão comuns às produções
estruturalistas, apesar de ser acusado por muitos de economicista, principalmente por seus livros
publicados nos anos 1930 e 1940[3]

No entanto, em A Revolução Brasileira publicada em 1966, Prado Jr faz uma auto-crítica de sua
produção e também uma pesada crítica a linha teórica adotada pelos intelectuais influenciados pela
opção política do PCB, fragorosamente derrotada pelo golpe militar de 1964. Ao analisar a questão, Reis
(2007, p. 87), “o sonho da revolução democrático-burguesa terminou no pesadelo-realidade da revolução
autoritário-burguesa, e as elites retomaram a sua posição de conquistadores do povo brasileiro,
descendentes dos descobridores do Brasil”.

Para Caio Prado, o que ocorreu em 1964 foi um golpe como tantos outros, como Proclamação da
República de 1889, que de nada tem de revolucionário. Para ele,

“Revolução em seu sentido real e profundo, significa o processo histórico assinalado por reformas e
modificações econômicas, sociais e políticas sucessivas, que, concentradas em período histórico
relativamente curto, vão dar em transformações estruturais da sociedade e, em especial, das relações
econômicas e do equilíbrio recíproco das diferentes classes e categorias sociais” (PRADO JR, p.26 )

Nessa perspectiva, o modelo de revolução democrático-burguesa defendido pelo PCB era uma
adaptação vulgar da estratégia política criada nos anos de 1930, que não dá conta de compreender a
realidade brasileira, nem tão pouco o processo em curso da “revolução” br asileira, ainda incompleto e em
parte prejudicado pelo golpe militar em 1964. A revolução brasileira, na perspectiva de Prado Jr, teria
que modificar a base estrutural da terra, ainda concentrada e dependente do mercado externo, o caráter
ainda mercantil da produção econômica, rompendo com a dependência, desenvolvendo as forças
produtivas por um projeto nacional integrado, através de uma firme e planejada ação do Estado,
integrando a massa trabalhadora e o mercado interno. (p. 29-30)

Ainda na esteira do marxismo, na década de 1960 o grupo D‟Capital, formado por intelectuais da USP,
como Fernando Henrique Cardoso, procurava dar conta da questão nacional sob a perspectiva da “teoria
da dependência”, tese “gestada” na Comissão Econômica para a América Latina ( CEPAL) e que buscava
as razões históricas da dependência econômica do Brasil, as peculiaridades do caso brasileiro, visando a
superação da dependência na busca de um novo modelo de desenvolvimento (Reis, 2007, p. 215 -217).
A questão nacional, o desafio para o país e de seus intelectuais, estaria no desenvolvimento econômico,
na superação do subdesenvolvimento, no encontro com a modernidade.

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Se nos anos de 1960 e 1970 a produção historiográfica estava preocupada com a questão do
desenvolvimento como elemento de análise centrada em questões econômicas, na segunda metade dos
anos de 1970 outras questões ganhariam destaque. Na esteira do processo de redemocratização e do
(re) surgimento dos movimentos sociais, como as greves de operários que gerariam o “novo
sindicalismo”, a Central Única dos Trabalhadores e o PT, as ocupações de terra e o surgimento do MST,
entre tantos outros, a questão nacional passa a ser vista no plural. Ao lado do debate sobre classe (e as
revisões desse conceito), estarão na ordem do dia questões de cunho étnico e cultural, o resgate de
personagens esquecidos ou pouco estudados, como Zumbi e João Cândido, e movimentos sociais serão
revisitados com uma conotação mais valorativas, como é o caso de Canudos e a Cabanagem .

As tentativas em colocar movimentos sociais e personagens muitas vezes descritos como “socialistas”
nas páginas principais da história já haviam ocorrido desde os anos 1930, quando Caio Prado Jr (1978,
p.69) na primeira edição de Evolução Política do Brasil, descreve a Cabanagem como tendo "a glória de
ter sido a primeira insurreição popular que passou de simples agitação para a tomada efetiva do poder".
Mas é a partir da segunda metade dos anos de 1970 que a produção historiográfica, nacional e regional,
elegerá novos temas para a questão nacional.

Guimarães (2000), produz um ensaio em 1977 que procura recuperar a Cabanagem como movimento
de luta de classes e tenta associar o movimento dos cabanos com a Guerrilha do Araguaia, tendo como
foco o papel do PCB. No processo de redemocratização do país, a Cabanagem será resgatada como
movimento contra a opressão colonial, luta de “patriotas” contra a opressão externa (portuguesa), mas
também interna (o centro-sul). No discurso das esquerdas em luta contra a ditadura militar instaurada em
1964, esse discurso caia como uma luva na linha política geral do período. O anti-colonialismo de
ontem dá lugar ao anti-imperialismo de então. A memória escrita, como no livro de Salles (1992), e a
memória-monumento, como na obra desenhada por Oscar Niemeyer no “entroncamento” de Belém, são
exemplos desse novo olhar sobre o passado, onde a luta de classes tem foco conceitual fundamental .

Mas o debate no interior do marxismo acerca da luta de classes até então ainda estava em grande parte
preso ao “paradigma soviético”. Hobsbawm (1992, p.34) discutindo sobre “a consciência de classe”
afirma que pensadores considerados „revisionistas” pelo que denominou de “movimento comunis ta” eram
simplesmente ignorados, isolados ou mesmo detratados. Cita como exemplo o trabalho de George
Lukács, História e Consciência de Classe, publicada em 1923 mas só publicada na Inglaterra nos anos
1970. A partir da contribuição de Lukács, Hobsbawm apresenta o conceito de classe a partir de dois
elementos. O primeiro seria objetivo, “lugar de similaridade do indivíduo na produção”, e outro subjetivo,
a consciência de classe, fenômeno tipicamente industrial. Em outras palavras, adverte o autor, “no
capitalismo a classe é uma realidade histórica imediata, vivenciada, enquanto nas épocas pré -
capitalistas ela pode ser um conceito meramente analítico.” (p.37)

Esse debate sobre a questão de classe foi apresentado por REIS & SILVA (1989) quando da
interpretação política que estes fizeram do “Levante dos Malês”, movimento ocorrido na Bahia em 1835.
Tratados como “rebeldes primitivos” por se tratar de movimentos ocorridos em sociedades “pré -
industriais”, daí o uso do termo “pré-político” para designá-los, movimentos sociais de diversas origens e
lugares foram vistos dentro de uma perspectiva evolucionista a partir do trabalho de Hobsbawm (1976).
Indo numa perspectiva diferente, REIS & SILVA (1989, p. 99) partem do pressuposto de que esses
“rebeldes primitivos faziam a política que podiam fazer face aos recursos com que contavam, a
sociedade em que viviam e as limitações estruturais e conjunturais que enfrentavam”. Os autores
discutem, para além do lugar que o sujeito ocupa na produção (critério objetivo), as relações entre
classe, etnia e religião, no contexto da revolta de 1835, incorporando, portanto, elementos subjetivos em
sua análise.

Os historiadores passam a considerar com maior relevância a perspectiva de que as mudanças


estruturais de qualquer ordem, embora fundamentais, não podem ser usadas unicamente para explicar
os fenômenos sociais nem a totalidade das transformações ocorridas na história. O fim da escravidão,
por exemplo, não pode ser explicado unicamente pelas mudanças no sistema produtivo no interio r do
capitalismo, que impôs a necessidade de modernização das relações de trabalho, transformando os
escravos em consumidores dos produtos industrializados. Essa visão mecanicista carece de dados
empíricos e de fontes que lhe dê consistência, como bem demonstrou Chalhoub (1990).

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Consideram, portanto, as observações feitas por E. P. Thompson, ao discutir o conceito de classe, a


partir da dimensão heterogênea das atividades econômicas de grupos de interesse, em oposição a
interesses de outros grupos, a partir da consciência de uma identidade comum. Ao analisar o surgimento
da classe operária, procurou compreender o “fazer-se” da classe enquanto “fenômeno tanto da história
política e cultural quanto da econômica (Thompson, p. 17). E reforça seu argumento, ao a firmar que a
classe operária “não foi gerada espontaneamente pelo sistema fabril. Nem devemos imaginar uma força
exterior – a revolução industrial – atuando sobre um material bruto (...). A classe operária formou a si
própria tanto quanto foi formada” (idem, p.18).

Nesta perspectiva, recuperar movimentos e sujeitos sociais pela historiografia, numa posição de revisão
conceitual no interior do marxismo, coloca questões até então dispersas, como a relação entre classe,
cultura e etnia, na ordem do dia. A escravidão, os escravos, para ficar em um exemplo, deixam de ser
colocados dentro da perspectiva eminentemente econômica. O trabalho de Chalhoub (1990) sobre as
últimas décadas de escravidão na corte procura apontar as diferentes visões que os cativos tinham
acerca da liberdade, muitas vezes contraditórias entre si. Não se trata mais de olhar o escravo como uma
“infeliz realidade” nem tão pouco como o herói idealizado. Trata-se de vê-lo como um sujeito concreto e
buscar relacionar o seu lugar na produção a partir de diferentes perspectivas étnicas, culturais e sociais
colocando-o devidamente na história e na historiografia.

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