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Sobre a beleza: uma conversa com Bill Beckley Trechos de entrevista fits em jul e agosto de 1997 « publica de 1998 por Allvorth Presse The School of Visual Ars, Nowa York, como "Sunday afternoons —A conversation: Lose Bourgeois and Bill Becley and remarks on beauty by Louise Bourgeot.em Uncontrollable beauty [Beleza incontrokivel], editado por Bill Beckley e David Shapiro. primeira vez.em fevereiro Em minha escultura nao é uma imagem que busco, nao é uma Meu objetivo é reviver uma antiga emogio. Minha arte 6 um exorcis- mo, e beleza é uma coisa de que nunca falo. Acscultura me permite reexperimentar 0 medo, dar-Ihe um caréter fisico, a fim de poder atacé-lo. Hoje digo em minha escultura o que antes ni compreendia, Ela me permite reviver o passado, vé-lo em suas propor- des realistas e objetivas. O medo é um estado passivo, ¢ 0 objetivo & controle, estar vivo aqui e hoje. O movimento é do porque se 0 passado nao é negado no presente, vocé n ‘Como os medos do passado estio ligados as fungdes do corpo, eles reaparecem por meio do corpo. Para mim 2 escultura € 0 corpo. Meu corpo minha escultura A respeito de observar, em opos maneira oscilante. Primeiro vejo a beleza nas operagdes intelectuai mente — a perfeigio na logica, em aprender, compreender e convencer. Segundo, o prinespio de prazer pode produzir beleza por meio do corpo, do coragao € dos cinco sentidos. Por exemplo, o olhar de flerte ou 0 toque na pele podem gerar quase uma corrente elétrica, H4 também 0 cheiro do jardim sob a chuva, Na misica ou na vor de alguém um eco pode reviver a ‘emogio de um passado distante. Essas raras recordagées também podem r ativo e assumir 0 assivo para 0 ativo, 0 vive. o a eriar, experimento a beleza de da ser beleza. Enquanto meu cérebro experi ladle do subjetivo ¢ do objetivo, meu senso de beleza oscila entre os dois. Recuso-me a ese olher: Sou uma mulher de emogio que ainda tenta ser uma mulher de razao, Fico dividida entre .eaprendi a aceité-las ambas, Seduair & uma fus enta a duali¢ 357 harmoniosa das duas, ¢ & a maior de todas as artes. A escultura, minha raison d’étre, & motivada por minhas obsessivas e fracassadas tentativas de seduzir. Ha uma beleza incontrolivel na tentativa de se me de minha escultura. Ele désir de plaire. A arte vem da incapacidade de seduzir, Sou incapaz de me fazer amada. Ainda sou motivada por uma atragao pelo “outro”, que 6 uma beleza misteriosa. A sedugiio é uma forma de convencer. Sou uma sedutora incansavel. A beleza é a busca do “outro”, ir alguém valendo- ee Beleza? Parece-me que a beleza é um exemplo do que 0s fil6sofos ch de reificagao, considerar uma abst A beleza esta nu o & um substantivo. As pessoas tem expe riéncias. Quando elas sentem um intenso prazer estético, tomam essa experiencia ¢ a projetam no objeto. Experimentam a id beleza por si mesma nao existe. Colocando de outra form: . aS experiGncias siio tipos de prazeres que envolvem verbos. A fabicia ocorre em tomar a experiéneia “en gosto de X” e se referit a X como beleza, Kum process semelhante ao que T. $. Eliot disse sobre Wordsworth: “Wordsworth encontrava nas pedras os sermodes que ele plantara nelas”, Na verdade, beleza € ape i mam 20 como uma cois: série de experiéncias, ia de beleza, mas a as uma expresso mistific Muito bem colocado. Nao precisa me agradecer, porque foi dito por um historiador da arte, Jean-Louis Bourgeois. Mas o agradecimento se justifica, de toto modo. Aqui tenho uma demonstragio, uma demonstragdo vise quis dizer com beleza ¢ aprender, comproend uma recompensa pelo esforgo. E) nao temos registro visual, entao preci mesa] isto 6 um L, isto 6 um O, Isto Gum I, isto & um S, isto & um E, Lé-se Lourse. Entio hi umn signifieado nesse montoado de letras. Existe um valor simbélico e so do passado. Vooe ito Louise, mas na verdade primeito se lia tous, Foi umesoiea ada de nossa prépria emog 0. Ipavel do que r solucionar problemas, & vou demonstrat isso. Obviamente ei... [aranjando letras do alfaato nana ve qui muito importante em minha infancia, porque essas letras formavam nome de meu pai, ¢ estavam na porta — Louis Bourgeois. [sto nao é Louis, é Louise. E toda vez. que voce quisesse falar com meu pai veria isso na porta, Vocé lembra o endereco dessa porta? Sim, 174 Boulevard St. Germain, que é vizinho a Les Deux Magots € a0 Café de Flore, bem ali. Isso & um passado reconstruido. Como voce pode wer, quando esti juntos significam alguma coisa e tem de encontrar seu proprio higar. Para mim isso mostra que a beleza € uma coisa intelectual, mas também muito visual. Ento nao se pode dizer que a mistura disso tudo € apenas uma bagunga. Ela tem a possibilidade de um significado. Proust disse que nas manhis de domingo, quando comia uma madeleine, vinham-lhe lembrangas. Era 0 aroma, o aroma doce ¢ 0 sabor da madeleine ca também é terrivelmente que as faziam retornar, Mas é claro que a mis ‘importante. Na audigio hé também o sentido do tate, uma vez que 0 pianista toca as teclas. A audicao tem um poder enorme. Um rei da Espa- tha que era um tanto insano, s6 podia ser acalmado pela voz muito aguda ntor — um castrato, A beleza do “ouvido" o mantinha sto, aalmente so, mas pelo menos inofensivo. Mas para mim No visual vocé tem 0 simétrico e 0 assimétrico, € treita importante. A cor vem depois. Eu fago umn desenho © depots deseu di agio. Voce nio tem uma bro 0 que quis dizer nele. E 0 contritio da imi o conseiente no comego. Nao, é de todo inconsciente, Sou uma Ie haver escultores cegos, porque 0 tato 6 muito importante, de um certo ¢ bem, talvez. nao re o visual que conta mais inteng: escultora. Pod nee Hd uma frase de Breton: “A beleza deve ser convulsiva, ou ndo sera”. adilho, ou de qualquer forma, sem io umn troc Considero es: seriedade. Voce usou metdforas sexuais em seu trabalho, ndo? Usou imagens muito falicas. Digo isso num sentido positive, embora ultimamente tenha havido muita desconfianga do fillico. Voce 0 reivindica como seu a5 vo yAANNN eh ManNlN Mavi COMM) Hatele hele Fefvate fetta pn Roden Mapytetliorpre ene quae tue? nee vam fala pret e petite ete (L989) Bose cS atahe parte treonsoiente, Nao weanhege ben, nis meu ineons: create & peita sehagens EE é por ie que num nivel coniciente son Ue ta relagho econdiica apahonad pela ntciomalidade, f wee O que wna fominista teria a dizer sobre a belexa? Prmeiro devo the fuer algumas perguntas. O que voce quer dizer com isso? Quer dizer beleza passiva on ativa? Ha uma diferenga entre as dias —ser olhada porque 6 linda 6 u deve eriar beleza. Talvez tenhamos estado sob a percepgdo enganosa de que quando se é linda torna-se dificil criar belexa. Certamente, é um problema, Veja Cyrano de Bergerac. Era fei como 0 pecado. Mas teve o talento de escrever todas aquelas lindas cartas de amor. A beleza € a capacidade de, por meio de seu talento, agradar ao homem que ama. Mas isso depende de uma condigo muito importante. A condi- $40 € que exista talento. Tive um amigo, nio lembro seu nome agora, mas vou lembrar. Ele contou que tinha aulas de arte com outros trinta estudan- tes. A vida toda ele quis se destacar. Depois de um tempo ele percebeu que alguns dos alunos de sua classe eram muito melhores que ele. Quando chegou a essa conclusio, ele decidiu tomar outro caminho, Tornou-se marchand. Esse € mais um exemplo, le désir de plaire, o desejo de agradar. F seu filho? Ele quer agrad-lo para mostrar que o ama. Se ele sabe que vocé gosta de azul, usard azul em todos os desenhos, Acho que parte da confusdo é que beleza pode descrever tanto arte como pessoas. Algumas pessoas ndo querem ser consideradas objetos de arte. Sim, € voc@ também pode ter um belo cao, coi A, Mas COMO artista ve iD ae Keats escreveu sobre “Beleza e verdade”. Thomas Mann relacionou a beleza @ morte. A que voce associa a belezxaP Bem, primeiro é muito maior que isso. Remonta a Shakespeare, nao €? Ou antes? Voce deveria ter citagdes de Shakespeare. Que tal Romeu e Julieta, e todos os outros? Vocé associa 0 sexo @ morte? Nunca. Associo essa idéia a repre: amor, nao €? Talvez. seja uma coisa religiosa. Cristo morren por amor. Talvez seja uma tragédia religiosa. jada a0 fio © aculpa, A beleza 6 associ 361

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