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Lucas Löff Ferreira Leite
Porto Alegre, Novembro de 2017
SUMÁRIO
2. Lugar: murmulhos e destino 3
3. O solo no edifício ou o edifício no solo? 4
4. A cidade na arquitetura paulista 6
5. Imagens de Referência em ordem cronológica 7
6. Bibliografia 11
1
Interações projetuais do edifício com
o lugar na Escola Paulista Modernista
1
VILLAC, Maria Isabel.Sistema e criação do artefato abstrato. Composição, partido e programa: uma revisão crítica de
conceitos em mutação. Pag 123
2
ZEIN, Ruth Verde. Tese de Doutoramento, A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista -1953-1973. Pag 50.
2
justificavam as liberdades morfológicas tão significativas daquela produção. Por sua
vez, na escola paulista moderna o discurso esquivo das justificativas estéticas e
morfológicas através de analogias figurativas se embasava em manifestações
tectônica e de verdade estrutural, além de atuar recorrentemente de forma precisa
sobre a geografia e a natureza local. Através desses posicionamentos foi possível a
projetação de edifícios que reinterpretam e renovam as relações que o edifício
estabelece com o lugar e a sociedade na qual se insere, apresentando, para além
disso, a técnica como estética, poetizando de forma quase etimológica ao trazer a
poiesis como manifestação de beleza.
Assim geografia e natureza são temas trabalhados nas duas escolas, porém,
com peculiaridades coerentes com as práticas individuais de cada um dos grupos. A
seguir veremos como o tema do lugar, da geografia e da natureza são manejados na
concepção de projetos da escola paulista moderna.
2 . Lugar: murmulhos e destino
Na arquitetura da escola paulista modernista o corte é, geralmente, um
desenho muito potente, que sintetiza e resolve grande parte dos projetos. Talvez por
esse motivo o solo seja elemento compositivo significativo na concepção de tantos
edifícios dessa escola. Referente a esta consideração é importante lembrar que além
de compor a geografia e a natureza, o solo também compõe e contém a cidade.
Assim, ao se fazer manifesto como parte compositiva do edifício, traz consigo a
representação de todos - geografia, natureza e cidade - configurando nesses
edifícios um discurso político inerente ao projeto que versa sobre o viver no mundo e
em sociedade, e que, apesar de inerte por sua materialidade, se manifesta em
discurso vivo através dos usuários.
Podemos dizer que a interpretação dos murmulhos do lugar3, das vozes que
antecedem a concepção projetual, na escola paulista podem se manifestar de duas
formas: uma mais pragmática, que amolda o solo de maneira a alterar sua
morfologia e manipular diretamente a terra para compor a arquitetura; e outra mais
simbólica representada principalmente através da espacialidade e da tectonicidade
dos edifícios, que fala da cultura e das possibilidades sociais de uso, ocupação e
apropriação espacial. Algumas vezes essas duas maneiras de operar com o lugar se
entrecruzam, se fundem e se manifestam simultaneamente no edifício; outras vezes
carregam somente um dos dois atributos mas com potência inegável na
conceituação projetual.
3
Igor Fracalossi. "Imobilidade Substancial / Rafael Moneo" 20 Jul 2015. ArchDaily Brasil. Acessado em 1 Jun 2018.
<https://www.archdaily.com.br/br/770469/imobilidade-substancial-rafael-moneo> ISSN 0719-8906
3
3 . O solo no edifício ou o edifício no solo?
(...) Na verdade, o solo, a terra, pode ser
considerado como o inevitável primeiro
material com o que, em todo caso, é preciso
contar. (...)
Rafael Moneo.4
O conceito moderno de que os elementos arquitetônicos podem ser
reinventados a cada projeto possibilita na escola paulista a consideração do terreno
como um elemento de arquitetura que é moldado especificamente a cada nova
oportunidade de projeto. A tomada desse elemento como material construtivo,
assim como uma parede, ou uma laje de concreto, faz com que o terreno atue com
papel ativo no curso dos acontecimentos5 do espaço planejado. Por esse motivo a
representação do projeto em corte se apresenta como principal ferramenta projetual
- conforme comentado anteriormente - pois condensa e sintetiza as decisões de
projeto. Sophia Telles aborda o tema quando fala sobre Paulo Mendes da Rocha:
“(...) Um programa, uma estrutura, uma implantação deixam de ser
momentos isolados de um desenho que se organiza aos poucos, para
se tornarem cada um o sentido de todos os outros. Os procedimentos
não são reduções, mas condensações máximas das variáveis de um
projeto em uma única situação, quase sempre expostas, de uma só
vez, no desenho do corte.(...) “6
Apesar da consideração ser referente a Paulo Mendes da Rocha, a
equivalência no tratamento dos diversos condicionantes de projeto de forma
extremamente equilibrada resulta em um partido conciso em boa parte da
produção da escola paulista modernista. Para elucidar tal fato podemos citar no caso
de Vilanova Artigas a casa Baeta (1956-1957), a casa Rubens de Mendonça (1958-1959),
a segunda casa Taques Bittencourt (1959), o Ginásio de Guarulhos (1960-1962), a casa
Ivo Viterito (1962-1963), a casa Mendes André (1966-1967), a casa Elza Berquó (1967) e a
casa Martirani (1969-1974). Para além do mestre podemos citar os arquitetos Rodrigo
Lafévre e Sérgio Ferro com a casa de Hoeládio Capisano de (1960) e a casa das irmãs
Marieta e Ruth Vampré (1962), de Flávio Império a casa Simon Faustino (1961), de
Fábio Penteado, Alfredo Paesan e Teru Tamaki a sede social do Clube Harmonia
(1964-1965), também de Fábio Penteado e Teru Tamakio com a colaboração de Aldo
Calvo pode ser citado o Centro de Convivência Cultural (1967), de Joaquim Guedes a
Escola técnica da Congregação Salassiana (1967), de Marcos Acayaba a Casa Milan
(1974), entre outros.
4
Op. cit.
5
Op. cit.
6
TELLES, Sophia. A casa no Atlântico. Revista AU jun/jul 1995, pag. 71 à 79.
4
Em todos os projetos citados acima a moldagem dos terrenos -que já se
apresentam previamente em declive, ou aclive, por mais que sutis - se manifesta
como concepção projetual e tem reflexos na composição espacial dos ambientes.
São edifícios que criam seus partidos a partir de uma reinterpretação consciente da
natureza, e que acabam por atuar sobre o homem que ocupa este espaço. Para
refletir a respeito dos efeitos dos espaços no homem podemos tomar uma colocação
de Fernando Fuão a respeito de Heideguer:
(...) Para Heidegger o ser é o lugar também, o da sein é inseparável de
seu lugar, de seu topos. E esse topos fala, ele não é inócuo, não um
espaço abstrato, mas um vivo e compartido com outros seres vivos; ele
faz pensar (denken); dá o que o que pensar, dá o pensar, faz pensar um
determinado pensar. (...)
Desta forma os objetos arquitetônicos criados com tais princípios moldam
maneiras de habitar, maneiras essas que aproximam o homem de alguma forma do
estado prévio da natureza pré existente, dando voz aos murmulhos do lugar, e
fazendo com que estes ajam sobre os usuários que são acolhidos pelo edifício.
Quando, por um exemplo, no projeto o desnível do terreno é sutilmente suavizado
para ser ocupado por diferentes platôs, que em meios níveis se integram e
possibilitam a compreensão espacial através de um lançar de olhos, fomentam uma
noção espacial diversa da visão fragmentada que a casa do início do século
possibilitava, e conduz, portanto, a uma visão de mundo antes improvável, ao
possibilitar que através de tais indícios -os platôs- uma compreensão da topografia
que recebeu o edifício construído. Para além disso, a topografia remodelada em
platôs quase sempre acaba por agregar jardins internos, ou externos, que
participam vivamente do interior e do dia dia da casa, aproximando os usuários de
elementos naturais que, quase sempre, antecedem a chegada da construção no
terreno. Junto dos jardins, quando internos, aberturas zenitais possibilitam a conexão
com o céu, e, portanto, a entrada de luz natural.
Todas estas atitudes de tomada de partido no projeto estão ligadas a uma
leitura precisa do lugar onde se inserem, de outra forma não seria possível que
preexistências naturais participassem tão vivamente de composições modernas.
Portanto pode-se dizer que é recorrente no projeto de arquitetura na escola paulista
a existência de um diálogo dessa nova entidade, a construção que ocupa o sítio, e as
vozes que se manifestam previamente no lugar.
5
4 . A cidade na arquitetura paulista
Se para Rafael Moneo através do ato de projeto necessariamente há uma
violação do terreno, do solar7, podemos pensar que, como os terrenos compõem o
tecido da cidade, há uma violação da cidade em si na concepção da arquitetura. Mas
também é preciso lembrar que esta violação pode acarretar em um ato fundacional
que, apesar de violento, demonstre respeito e dialogue com o contexto urbano e o
sítio específico no qual se insere. Portanto as articulações que o projeto de
arquitetura estabelece com a cidade estão atreladas diretamente ao modo pelo qual
o ato fundacional se constitui, e que, através do lançamento do partido
arquitetônico, pode ser potencializador, ao fomentar conexões e eventos sociais,
estabelecer laços entre público e privado, ou segregador, ao afastar o edifício e seus
usuários do diálogo e do convívio com a cidade.
Na escola paulista modernista esse ato fundacional, que naturalmente viola
uma preexistencia, acaba por fomentar e ampliar as possibilidades apresentadas
previamente pelo terreno e pela cidade ao dar voz a anseios que vão além das
considerações naturais, abarcando potencialidades urbanas e sociais de exploração
das possíveis conexões espaciais público-privadas. Exemplos disso são os edifícios do
MASP projetado por Lina Bo BArdi (1957-1968), que reconstitui o terreno onde se
insere para dar a Avenida Paulista, além de um museu, uma praça que lança visuais
para o vale; da FAU-USP, projeto de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (1961-1968),
que ao eliminar os as posrtas e a possibilidade de fechar o edifício faz com que se
torne portanto continuidade da cidade; o Pavilhão do Brasil em Osaka de Paulo
Mendes da Rocha (1962) que parece vangloriar a questão da representatividade da
topografia nos projetos paulistas, além de trazer o asfalto da cidade como elemento
que compõe tal topografia, manisfestando mundialmente esse modus operandi
existente no pensamento da escola paulista; e a Estação Rodoviária de Jaú de
Vilanova Artigas (1973-1975)8 que conecta o centro da cidade à parte alta através de
um fluir de rampas que traz para dentro do edifício a cidade. Todos esses edifícios
têm em comum o prolongamento do âmbito público para a esfera privada do lote
onde se inserem, e, assim como no caso dos projetos apresentados no capítulo
anterior, têm no corte a condensação dos conceitos propostos pelo partido geral.
Parece pertinente a compreensão do conceito de fundo figura proposto por
Colin Rowe. Isso porque através dessas dissoluções entre público e privado a relação
fundo-figura estabelecida usualmente entre edifício e cidade se desmaterializa, e
assim como quando Colin Rowe apresenta diagramas da cidade de Veneza e neles
as catedrais aparecem como fundo participando da cidade, no caso destes três
edifícios ocorreria ao se fazer tal exercício. Esse fato parece ressaltar a idéia
manifestada por Vilanova Artigas quando comenta “A casa deve conter a cidade. A
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Igor Fracalossi. "Imobilidade Substancial / Rafael Moneo" 20 Jul 2015. ArchDaily Brasil. Acessado em 1 Jun 2018.
<https://www.archdaily.com.br/br/770469/imobilidade-substancial-rafael-moneo> ISSN 0719-8906
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O MUBE projeto de PAulo Mendes da Rocha (1989) e o Teatro Oficina projetado por Lina Bo Bardi também
elucidam tais considerações, porém não fazem parte do recorte temporal da presente pesquisa.
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cidade deve conter a casa.” que, para além da casa propriamente, fazia sentido que
estivesse fazendo referência aos edifícios e a arquitetura em si que deveriam se
relacionar francamente com a cidade onde se inserem. Então para além da questão
diagramática, possibilita à cidade uma apropriação fluida do espaço projetado para
os edifícios em questão.
5 . Imagens de Referência em ordem cronológica
Casa Olga Baeta - Vilanova Artigas - 1957
projeto de reforma de ângelo Bucci
MASP - Lina Bo Bardi - 1957
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Casa Taques Bittencourt - Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi - 1959
Casa Hoeládio Capisano - Rodrigo Lafévre e Sergio Ferro - 1960
FAU-USP - Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi - 1961 -1968
8
Casa Ivo Viterio - Casa Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi - 1962
Casa Ferraz Navarro - Paulo Mendes da Rocha -1962
Casa MArieta e Ruth Vampré - Rodrigo Lafévre e Sérgio Ferro - 1962
Sede Social do Clube Harmonia - Fábio Penteado, Alfredo Paesan e Teru Tamaki - 1964-1965
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Casa Mendes Andre - Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi - 1966 - 1967
Casa Elza Berquó - Vilanova Artigas - 1967
Escola técnica da Congregação Salassiana - Joaquim Guedes - 1967
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Casa Milan - Marcos Acayaba a - 1974
5. Bibliografia
Moneo R. “Inmovilidad Sustancial”: Contra la Indiferencia Como Norma. Anyway.
Ediciones ARQ. Santiago, Chile, 1995.
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