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Resumos de História do Urbanismo

26/09

Reflexão crítica em torno de conceitos-chave para a disciplina: urbano, urbanística e


urbanização.

História do Urbanismo e História Urbana.

A cidade é um polo centralizador de atividade humana, e pode por si ser estudado de formas
distintas, tendo em conta diferentes aspetos e vertentes, características que a compõem.

História do Urbanismo é a área de estudo da história que se dedica à explicações dos


fenómenos de atividade humana relativo a um tecido urbano (do ponto de vista arquitetónico,
mas contextualizado historicamente), desde a sua implantação, e ao longo do seu
desenvolvimento e transformações.

História Urbana é a área de estudo da história que se dedica à explicação dos fenómenos de
atividade humana relativos à cidade como polo de atividades políticas, económicas, sociais e
culturais.

A morfogénese e a gestão urbana.

Os modelos Top-down e bottom-up.

Os modelos top-down e bottom-up são dois termos, duas resoluções e definições


desenvolvidas para explicar a operacionalização da gestão e tomada de decisão dentro do
espaço urbano, numa tentativa de explicar as transformações no tempo longo. Não é lícito
hierarquizar seja do ponto visto hierárquico de importância qualitativa, estética ou funcional,
são adotadas em todas as civilizações, culturas, geografias e na extensão do tempo longo.

O sistema bottom-up, é um sistema que constrói um tecido urbano numa lógica de gestão e
tomada de decisão por múltiplas vontades e interações (tradições, costumes, uma cultura
coletiva), descentralizadas e desconexas. Um espaço que faz uso deste tipo de sistema é
orgânico, aditivo e informal, um espaço que se constrói às peças formando um todo, um ato
insconsciente, mas comunitário de “fazer cidade”.

O sistema top-down, é um sistema que constrói um tecido urbano numa lógica de gestão e
tomada de decisão por um promotor (poder público ou privado, singular ou comunitário) de
forma intenciona, formal e pré-determinada, uma ação prevista e pré-concebida que afeta
todos, é um ato consciente de “fazer cidade”.

Pressupostos fundamentais (a inexistência de modelos puros, a existência de ambos em todas


as culturas e tempos; a recusa de juízos de valor.
O entendimento de elementos histórico-urbanísticos é necessário a compreensão do
significado de certos vetores fundamentais. Pensar e analisar o urbanismo no tempo longo,
não é tarefa simples, não é a simples invocação de padrões ou a falta deles, mas uma reflexão
crítica e logicamente construída.

Deste modo é necessário visualizar a importância da inexistência de modelos puros, de


essencialismos, de totalidades e unidades, de rigidez das próprias implantações tendo em
conta critérios políticos, culturais, sociais, económicos, etc. Do ponto de vista urbanístico, ter
tais visões e premissas são falaciosas, é necessário abordar a análise histórica-urbanística com
pensamento crítico, com o entendimento da complexidade fruto da variedade de contextos e
características históricas do tema em estudo, da adaptibilidade e dinamismo que leva à
consagração de um modelo top-down como de um modelo bottom-up.

Outro ponto de extrema importância é o pensamento crítico sem a necessidade de


consagração de parcialidades ou construção de julgamentos pelas diferenças culturais, e da
existência de ambos os modelos de forma livre nas sociedades no tempo longo. Muito comum
em visões historiográficas mais tradicionais presentes já desde o séc. XVIII-XIX, mas já
ultrapassadas em meados do séc. XX, observações eurocentristas, colonialistas, racistas-
xenófobas que desconstruiam as diferentes abordagens e variedade cultural de outras formas
urbanísticas. A observação, análise deve ser feita livre de julgamentos, imparcial,
contextualizada de acordo com as características históricas-culturais do tema em estudo. A
existência dos dois modelos é imparcial, é natural e está presente em qualquer contexto e em
qualquer sociedade, independentemente da sua ideologia e do período temporal em análise.

Estrutura, forma e imagem.

Ferramentas essenciais ao estudo da História do Urbanismo.

A cidade como objeto de estudo, apresenta diversos problemas metodológicos, do ponto de


vista de como abordar o seu estudo. Um dos principais problemas é a escala, dimensão e
tamanho da cidade em comparação com quem a estuda. Esta questão apresenta diversos
problemas por si em graus mais densos, como questões de preservação/manutenção de
património e até da própria apresentação. Um investigador tem de ter em conta estas
dificuldades, a complexidade inerente à cidade, o facto de ser um património vivo e usado
constantemente requer uma atenção cuidada e medida.

A cidade como objeto de estudo das mais diversas áreas requer instrumentos de estudo
próprios que facilitam uma compreensão e análise própria das suas condições e características.

Os SIG (Sistemas de Informação Geográficos), instrumentos de hardware e software úteis para


recolha de dados geográficos que são úteis para a melhor compreensão espacial e
tridimensional do espaço em estudo. São exemplo os programas ArcGIS, GeoDa e Qgis, além
do Google Eart e GoogleMaps.

Essencial para o estudo da História do Urbanismo são as fontes históricas. Da maior


importância para compreender os diferentes momentos, desenvolvimentos e interações que
marcaram a atividade humana num determinado espaço urbano.
Outro ponto essencial para o desenvolvimento de estudos na área de História do Urbanismo é
a interdisciplinariedade com outras áreas de estudo complementares como a História da Arte,
Arquitetura e Arqueologia, de extrema importância para a melhor compreensão e melhor
interpretação de dados urbanísticos.

28/09

Urbanismo grego.

A Grécia, zona peninsular parte do Balcãs no sudueste europeu, tem uma geografia e clima
específico que acabou por determinar e influenciar a cultura grega como a conhecemos hoje
em dia. Do ponto de vista da geografia, é sobretudo composto por relevos acidentados, com
muitos relevos montanhosos e vales, mas com poucos espaços planos. Do ponto de vista do
clima, a grécia tem um clima mediterrâneo, geralmente os verões são quentes e secos, e
invernos rigorosos e chuvosos. Todas estas condições, embora sintéticas, combinadas com o
facto de na sua maioria terem terras inférteis, faz com que não seja um espaço muito propício
para a agricultura e pecuária. Como solução, desde cedo, os habitantes da grécia, viraram-se
para uma cultura predominantemente marítima, buscando recursos e matérias primas pelo
mar.

Na Antiguidade, sobretudo a partir do segundo milénio a.C., a Grécia era constituída por
territórios ao longo da Anatólia e Ásia Menor, como também ilhas no Mar Egeu (por exemplo,
Creta e as ilhas cíclades) e Mediterrâneo. A Grécia continental, é dividida em três partes, a
grécia da parte peninsular, mais a Norte, a península da Ática, e mais a sul, passando o estreito
de Corinto, a península do Peloponeso, e uma grande ilha próxima ao continente, Eubeia.

Nestes territórios desenvolveram-se duas culturas específicas durante a Idade do Bronze. A


cultura mais antiga, a cultura monóica1, floresceu na ilha de Creta a partir de 3400 a.C.,
alcançando o seu apogeu entre 1600 a.C. e 1400 a.C. Do ponto de vista arquitetónico,

Por volta do séc. XII a.C., a civilização micénica começa a entrar em declínio, ainda hoje sem
explicações e motivos claros. Apesar desta nebulosidade do ponto de vista explicativo, são
conhecidas algumas hipóteses dadas pelo recolhimento de dados arqueológicos, evidenciando
possíveis sucessivos desastres naturais, como terramotos, e invasões por povos ditos como
“bárbaros” vindos do Norte, como os Dórios. No entanto, alguns grupos resistiram e migraram
para a Ásia Menor, assegurando a sobrevivência da cultura micénica. No entanto, no
Peloponeso e pelo resto da Grécia continental, entrou-se num período de declínio,
denominado de Idade das Trevas.

Pouco se sabe sobre a Idade das Trevas. É um período altamente escasso de informações e de
vestígios arqueológicos.

Por volta do séc. VIII a.C., começa a notar-se um ressurgimento civilizacional.

1
O nome minóico deriva de uma referência ao mítico rei Minos, concedido pelo arqueólogo inglês do
séc. XX, Arthur Evans.
Extensão territorial: cidade/campo. Acrópole/Astu.

Uma perspetiva necessária para abordar a cidade grega, é a sua extensão. A extensão de uma
cidade grega, a sua integridade, a sua totalidade, até que ponto a cidade se expande. Esses
limites são altamente bem delineados. A cidade grega é unitária, é caracterizada por funcionar
como um todo, mas existe uma natural simbiose dualista entre o que esta é. Naturalmente
nasce de um ponto mais alto, de um ponto necessário e pragmático de defesa e proteção, a
acrópole, para proteger tanto os cidadãos como os outros elementos da sociedade, e à medida
que vai crescendo, vai-se expandindo para o campo, desenvolvendo a cidade baixa, a astu, que
com o tempo vai ganhar uma cintura muralhada.

Polis como sistema de vida, participação, rotatividade, aceitação da lei.

Pensar acerca da polis, envolver refletir sobre o carácter sistémico e organizacional para a
sociedade helénica. A polis, a cidade-estado, era a comunidade de famílias relacionadas por
ancestrais comuns que se organizavam num ponto comum. Era constituída por uma sociedade
hierarquizada. Diferenciando-se através dos diferentes níveis de direitos individuais de cada
indivíduo, no topo estavam os cidadãos. Eram os elementos mais importantes e prestigiados
socialmente, com mais direitos, mas também mais deveres sociopolíticos. Subdividiam-se em
três grupos geralmente, aristoi (ἄριστοι), aristocratas; perioikoi, camponeses; e
mercadores/comerciantes. Com menos prestígio e direitos havia os metecos (metoikos,
μέτοικος), estrangeiros de outros polis. Sem direitos, estavam as crianças, mulheres e escravos
(douloi).

Nas cidades da Hélade, os cidadãos eram a minoria2 da população absoluta das polis gregas, e
a estes convinha o dever de participar ativamente na vida sociopolítica da sociedade grega,
através da política. O resto da sociedade não podia participar na vida ativa política. Apesar da
variedade de sistemas políticos (como a tirania, oligarquia, etc), a democracia3 foi o sistema
mais original, criado pelos gregos no séc. VI-V a.C. em Atenas. A democracia grega era direta e
plesbicitária, e não representativa como nos dias atuais.

A Polis é o conjunto dos cidadãos (atenienses, espartanos/ transferível).

O sistema interligado e organizado de tal forma, pressupunha certos conceitos essenciais


definidores da politeia, a cidadania.

PLATÃO, LEIS: NÃO HÁ MAIOR BEM NUM ESTADO QUE O DE SERMOS CONHECIDOS UNS DOS
OUTROS.

2
Como prova desta questão, em Atenas em 430 a.C., dos 300 000 habitantes, cerca de 10% eram
cidadãos, havendo 120 000 familiares (mulheres e crianças), 50 000 metecos e 100 000 escravos.
3
Do grego demos (δῆμος), povo ou assembleia, e kratia (κρατία), poder ou regra.
A polis, a cidade-estado grega como uma comunidade restrita era altamente condicionada e
preservada. Os gregos eram bastante conscientes da importância da manutenção do tamanho
da cidade bem como da população, para a preservação do sistema democrático direto.

Teóricos e políticos bem como governantes sempre tiveram essa preocupação presente, com
promulgações de leis4 por exemplo.

Platão, na sua obra Leis dá-nos a conhecer um parâmetro definindo o número ideal de 5 040
cidadãos para o bem-estar da pólis. O mesmo autor fala-nos da importância do conhecimento
dos membros da politeia pelo comum cidadão, tendo assim em conta uma melhor escolha não
para o governo da polis, para a comunidade.

Aristóteles fala num tamanho ideal nas suas obras Ética a Nicómano e Política, citando que
10 000 habitantes era considerado o número ideal de cidadãos, a denominada pólis myriandos
de Hipodamo, que não seria possível formar uma pólis com 10 cidadãos nem com 100 000
cidadãos. Tais números tanto em pequeneza quanto em grandeza, ameaçam a autarcia própria
da sociedade helénica, com pouca capacidade para formar uma própria pólis, ou por outro
lado, ameaçando a subsistência e abastecimento de necessidades básicas.

A DEMOCRACIA PURA EXIGE O ENCONTRO FACE A FACE PARTICIPAÇÃO NOS ACTOS PÚBLICOS,
INSTITUIÇÕES E CERIMÓNIAS RELIGIOSAS.

PAUSANIAS: PÓLIS IDENTIFICADA COM ÁGORA, GINÁSIO, TEATRO: equipamento onde se forma
o espírito e o carácter dos cidadãos.

Pausanias foi um autor grego, nascido durante o séc. II d.C. na Ásia menor, viajou durante parte
da sua vida pela Grécia, e escrevendo o livro Descrição da Grécia. Obra de extrema importância
para o conhecimento da história e arqueologia da Antiguidade Clássica.

Muitas vezes o ideal foi ultrapassado, o sistema entrava em rutura por variadas razões. Uma
das principais razões era o ultrapassar do número ideal de cidadãos, desregulando o
funcionamento dos regimes políticos e afetando outros setores da sociedade. A partir desse
ponto era usada uma solução a partir do sistema original, a criação de colónias (neopolis). A
partir da polis original (paleopolis), eram enviados um grupo de colonizadores para ter uma
acão de ex nihilo, criando uma colónia num outro ponto. Eram movimentos civilizadores,
expedições liderados por oikistés (οἰκιστής, pl. οἰκισται), em direção a uma apoikia (ἀποικία),
uma colónia, que normalmente tinham como condições a proximidade ao mar e/ou rio, com
um sítio facilmente defensável, uma paisagem relativamente com valor estético5. O programa

4
Sólon formula uma lei,dificultando a promoção para o estatuto de cidadão, condicionando o estatuto a
cidadão ateniense quem fosse filho de pai e mãe ateniense.
5
O enquadramento de uma paisagem com valor estético, era uma característica relevante para a cultura
grega na generalidade. Havia uma valorização pelo estético, pelo belo (kálos, καλός, o bonito). Era
importante para a religião, para o enquadramento nos rituais religiosos.
de colonização transmitia os valores da sociedade grega, culturais (língua6, escrita, religião),
políticos (instituições e formas de administração), mas não sendo subsidiárias, acabando por
ser tratadas como autónomas e independentes. Como resultado foi criada uma rede de
colónias, um império informal.

Sabe-se que já se praticava desde o séc. VIII a.C. De origem top-down, o plano urbano de
fundação grego era ortogonal e regrado e caracterizado por ter zooning funcional, subdividido
entre espaços públicos, espaços religiosos e espaços residenciais.

O exemplo de Megara Hyblaea (2ªmetade do séc. VIII a.C.), na Magna Grécia (atual Sicília),
provavelmente fundada por colonizadores vindos de Megara (na zona da Ática, Grécia). Junto à
costa numa enseada protegida por encostas escarpadas, e junto a um rio, concedendo espaço
para um possível porto natural. Com o tecido urbano ortogonal, com duas vias mais extensas e
largas perpendiculares. O tecido residencial, formado por parcelamentos regularizados,
proporcionais. Os edifícios religiosos estão no ápice da enseada, separados do resto da cidade.
Com espaço muralhado que protege a vinda de inimigos por terra, e que deixa espaço para o
crescimento da cidade.

O exemplo de Poseidonia (finais do séc. VI a.C.), no sul de Itália, fundada por colonizadores de
Síbaris. Próximo da costa, a menos de 1km. Duas extensas e largas avenidas horizontalmente
(sentido N-S), e uma terceira menor horizontalmente, cruzadas por duas avenidas
verticalmente (sentido E-O) que subdivide por zonas a cidade. A zona pública está na zona
central, a zona religiosa com o templo de Neptuno e Ceres ao lado a oeste.

O exemplo de Metapontum (séc. VI a.C.), no sul de Itália, fundada por colonizadores de Síbaris
e Crotone. Entre dois rios, protegida e muralhada, com dois eixos principais que subidividem
funcionalmente a cidade, colocando ao centro as funções religiosas e civis, sendo ladeadas
pelas funções residenciais.

O exemplo de Selinous (séc. VI a.C.), na Magna Grécia (atual Sicília), fundada por colonizadores
de Megara. Junto ao mar Mediterrâneo, com uma encosta rochosa que protege dos ataques e
formula um ponto elevado, para construir a acrópole. A acrópole é dividida numa área civil e
religiosa. Circundada por uma cidade. Três eixos dividem a cidade, um vertical a partir da porta,
outros horizontais, que subdividem e definem as áreas residenciais.

O exemplo de Arkagas (c. 580 a.C.), na Magna Grécia (atual Sicília), fundada por colonizadores
de Gela7. É um exemplo máximo do modelo grego. Manipulação dos recursos hídricos para
intuitos utilitários e estéticos, fazendo a cidade estar rodeada de rios e aproveitando para
efeitos estéticos e de beleza. A cidade está sobre um planalto, utilizando as vantagens
topográficas locais. Divisão entre zona religiosa numa posição mais elevada e esteticamente
apelativa (visão dos templos por níveis) visivel da zona pública mais abaixo, e zona residencial
no centro do planalto.

A importância de Mileto.

6
Estes movimentos de colonização foram essenciais na expansão e transmissão da língua grega ao longo
da bacia do Mar Mediterrânea e Negro.
7
Gela por sua vez foi fundada por colonizadores de Rodes e Creta.
Na região da Jónia (Anatólia), atualmente parte da Turquia, fica a antiga grande e importante
cidade da Grécia Antiga de Mileto. É uma importante cidade para a história do urbanismo da
Grécia Antiga, visto que marca uma cisão e uma rutura na forma como conhecemos os
processos de re-urbanização das cidades gregas.

Este processo insere-se num contexto muito amplo de instabilidade política, social, económica,
mas sobretudo militar. Na Anatólia, as tensões entre os diferentes pólos civilizacionais iam
aumentando, resultando nas guerras meso-persas. Consequentemente, de 494 a.C. a 479 a.C.
foram destruídas várias cidades gregas ao longo da Jónica, incluindo a cidade de Mileto.

Em 479 a.C., após a expulsão dos persas pelos gregos, iniciou-se um esforço de reconstrução de
Mileto. Associado a este feito está a mítica figura de Hipódamo de Mileto. Denominado por pai
do planeamento urbano, era uma figura multifacetada sendo matemático, geómetra,
agrimensor, teórico e meteorologista, responsável pelo desenvolvimento do plano hipodâmico.
Ao longo dos tempos tem sido considerada uma personalidade controversa, mitografado por
alguns autores, como Aristóteles na sua obra Política como “o homem que inventou a arte de
planejar cidades”q1, mas hoje em dia desacreditado e desmitificado. Pensa-se ter planeado
Thourioi, o porto de Pireu (construído meados do séc. V a.C.) e Rodes (construído em 408). A
verdade no entanto, é que o espectro temporal de construção destas cidades é de 80 anos,
sendo altamente improvável que o tenha feito na totalidade.

Resultou um planeamento estritamente ortogonal e regularizado, uma lógica sistemática que


abrange toda a cidade onde todos os elementos se encaixam de forma matematicamente e
geometricamente estudada, aproveitando todo o espaço possível. A cidade é caracterizada por
um zooning distinto, demonstra estar dividida em três zonas distintas8, uma zona residencial a
Norte, no centro espaços públicos como a ágora e o buleutério, e ao sul, outra zona residencial
formada por blocos maiores. Quando a espaços sagrados, existia já previamente o santuário de
Apolo em Dídima (a cerca de 22km de Mileto), que tinha maior relevância.

O exemplo do Pireu, o porto da cidade de Atenas na Grécia Antiga. Construído em meados do


séc. V a.C. denota uma ortagonalidade própria que contrasta com os recortes da linha costeira
marítima.

O exemplo de Olinto (séc. V a.C., c. 432 a.C.),

O exemplo de Priene (séc 350 a.C.)

Os equipamentos da cidade grega.

A cidade grega era constituída por três tipos de equipamentos urbanos: domésticos, civis e
religiosos.

Os equipamentos urbanos domésticos na Grécia Antiga é a típica casa grega, a casa pátio.

Os equipamento urbanos civis na Grécia Antiga eram a ágora, o buleutério, o teatro e o


estádio.

A ágora

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Zonas distintamente marcadas por marcos de pedra, denominados de horoi.
O buleutério, era um edifício público concebido especificamente para albergar a bulé, as
reuniões do conselho da pólis. Definido por um ediífico de tamanho variável (variava consoante
o tamanho da cidade), mas suficiente para conseguir albergar a grande maioria dos cidadãos
da pólis, e portanto não standardizado. O modelo mais comum, tem dois espaços
quadrangulares numa base retangular, num primeiro, com um pórtico de entrada para um
pátio com um altar, e um segundo espaço coberto com fileiras de bancos em formas de U, com
um pódio e altar para o orador.

Os equipamentos urbanos religiosos na Grécia Antiga eram os templos.

Os templos

A época helenística: contexto(s).

Do cidadão ao súbdito; da polis à metrópole.

A instrumentalização da cidade como arma de glorificação e propaganda.

A cidade do rei e para o rei.

O sincretismo entre a cultura grega e a cltura oriental.

A geometrização dos traçados e a monumentalização do ambiente.

O carácter fictício da nova pólis: da ágora ao palácio do soberano.

Mausolo de Halicarnasso.

Os exemplos de Alexandria e Pérgamo.

A cidade romana. Os rituais de fundação. Exemplos da permanência dos traçados em cidades


atuais. A normalização do plano. "Solidez, poder e força": uma cidade retórica. Urbanização
como principal instrumento da romanização. A cidade romana: materiais e tipologias
construtivas (o arco, a abóbada, a cúpula). A multiplicidade de edifícios e a sua adaptação à
função.

Pragmatismo e tipificação. A importância dos revestimentos e participação de outras artes


(mosaico, pintura, escultura) na criação de ambientes majestosos e monumentais. Formas de
habitação: a domus e a insulae. A importância de uma rede de funcionários especializados no
funcionamento da cidade romana. Os exemplos do Curator Aquorum, do Vicomagistri ou dos
vigiles.

A desestruturação do Império romano: consequências no mundo urbano.


A cidade entre os séculos IV e VII: a adaptação a um novo modelo fruto da perda de autoridade
sobre o espaço urbano. O domínio progressivo da iniciativa privada.

A Alta Idade Média e um Ocidente ruralizado. Das invasões germânicas às invasões do século X
(Húngaros, Normandos e Muçulmanos).

O Ano mil: uma paz relativa; alterações climatéricas; inovações técnicas; introdução de novas
plantas. Uma Europa rejuvenescida que, de atacada passa ao ataque. As cruzadas, a
Reconquista, os novos territórios. O papel da igreja (cruzadas, ordens monástico-militares, paz
de Deus, etc) e do rei. A centralização do poder e a cidade como instrumento.

Continuação do estudo da cidade medieval: o crescimento das cidades existentes e a fundação


de cidades novas. Causas, sintomas e repercussões.

Cidade e fortificação.

Um dos principais elementos da cidade medieval era a componente militar-defensiva. A cidade


desde os primórdios da Idade Média, além de ser considerada um polo demográfico, político,
económico e social (e em certa medida, cultural), era também, um polo de segurança, ou pelo
menos, ambicionava tal preceito. Para este efeito, tanto a sociedade como a cidade medieval
eram altamente militarizadas.

Ao longo do séc. XIII esta conjuntura começa a mudar. Por volta dos meados do séc. XIII chega à
Europa receitas de como fazer pólvora. Ao longo desse mesmo século os usos da pólvora vão
sendo testados, aprimorados e conhecidos, sendo criados os primeiros engenhos
pirobalísticos. Desde inícios do séc. XIV são conhecidos usos em ambiente bélico, como na
batalha de Stanhope Park (1326) e na Guerra dos Cem Anos (1337-1453).

Na Península Ibérica sabe-se que o uso de engenhos pirobalísticos é antecessor ao


documentado na Europa Central, sendo já conhecido no mundo islâmico medieval. A
referência mais antiga é de 1108, com o uso de trons de fogo entre mouros de Túnis e mouros
de Sevilha. Do lado cristão ibérico, começaram a ser usados em meados do séc. XIII na hoste de
D. Sancho IV de Leão e Castela no cerco a Córdova (1280) e presentes em outras batalhas como
em Alicante (1331) e Algeciras (1342-1344).

Em Portugal, surgem as primeiras referências em 1381 no contexto da 3ªGuerra Fernandina, e


mais tarde no contexto da Crise Dinástica de 1383-1385 que surgem as referências mais
consistentes a engenhos pirobalísticos, nomeadamente feitos por Fernão Lopes.

“(…) e El-Rey partio de Samtarem e foromsse caminho Devora (…), e alli mandou fazer
emgenhos, e carros e bombardas e outros percebimentos de guerra.” Fernão Lopes, Crónica do
Senhor Rei Dom Fernando, Capítulo CXXXIV.

Para todos os efeitos, em termos de utilidade, a diferença entre os engenhos neurobalísticos e


pirobalísticos é altamente contrastante. Apesar dos primeiros engenhos pirobalísticos terem
sido muito rudimentares9, eram de extrema utilidade para fins poliorcéticos (destruição de
9
Por exemplo, era comum serem forjadas no campo de batalha, e serem utilizadas por escravos ou
prisioneiros de guerra devido ao risco de explosão. Primeiro, com pouca mobilidade, fixadas a reparos de
muralhas, portas de castelos, etc), com um carácter muito mais destrutivo e útil num contexto
bélico. Mais tarde, evoluindo tecnologicamente tornando-se mais móveis e seguras para
utilização no campo de batalha, e tornando-se cada vez mais importante em operações bélicas.

A partir de meados do séc. XIV e pelo prolongar do século XV e inícios do séc. XVI no Ocidente,
por conta dos efeitos causados pelos engenhos pirobalísticos, vai despoletar uma alteração nas
estruturas militares que estavam agora em risco e não estavam adaptadas para esta realidade.
Surge um interesse em renovar as estruturas e um momento de experimentação e
investimento dedicado a encontrar novos modelos de defesa. São possíveis identificar duas
fases de adaptação.

Numa primeira fase, adaptações breves, pontuais e económicas, sobretudo utilitárias, mas que
não alteraram a estrutura dos edifícios militares de índole medieval. Alterações como a
introdução de troneiras (aberturas para inserção de trons), sejam cruzadas ou recruzetadas.
Primeiramente na Europa central ainda na segunda metade do séc. XIV, como em 1365 na
fortificação do mosteiro inglês de Quarr (Wight), em França no Mont Saint-Michel em finais do
séc. XIV, em Espanha em meados do séc. XV, no castelo de Zafra (1441) e castelo de Nogales
(1458) segundo os relatos de D. Luís de Mora Figueroa. Terá acontecido em Portugal ainda no
reinado de D. Afonso V, e estendido-se pelo reinado de D. João II e parte do reinado de D.
Manuel I, por exemplo nas adaptações do castelo de Porto de Mós (1449-1450).

Numa segunda fase, dá-se a construção e reestruturação das estruturas militares.

Em Portugal, antes das intervenções nos castelos, regista-se a importante decisão de D. Manuel
I ter mandado Duarte de Armas percorrer o Norte de África e obter desenhos das fortalezas do
Norte de África (Azamor, Mamora, Sale e Larache) entre 1507-1508, e mandar percorrer o
reino e realizar o livro de Duarte de Armas (c.1509-1510), registando os castelos da raia seca.
Uma decisão bem ponderada, ajudando a estabelecer um balanço geral das estruturas
militares de defesa do reino, sabendo o quão bem o reino estava munido. A primeira
intervenção do ponto de vista cronológico foi a construção da Torre de Belém.

foi a construção do Paço da Ribeira, já em si com um torreão-baluarte de planta quadrada.

Na mesma lógica de experimentalismo, encontra-se a fortaleza de El Jadida, o fenómeno de


Mazagão. Após os múltiplos assédios e insegurança crescente na região após a perda de praças
portuguesas no Norte de África (por exemplo, Agadir em 1541), decidiu-se por fim criar uma
bolsa de reforma do sistema defensivo português, o primeiro fora da Europa. Situado numa
reentrância natural, num porto, em frente ao povoado de Mazagão pré-existente, portanto
protegido. O debate para a construção deste projeto foi um processo complexo e com muitos
intervenientes, envolvendo a corte de D. João III, não havendo certezas claras quanto a qual
arquiteto atribui-se o projeto.

madeiras, bancos ou pranchas.


Humanismo, Renascimento, 1ª Modernidade: contextualização histórica e conceptual.

Há uma certa tendência do ponto de vista da História de Arte de avaliar os movimentos


artísticos-culturais com uma certa tendência criativa para a recriação, para uma esbater de
ruturas e de renovações, visto que é bastante comum a mudança de ideários de tempos em
tempos, e com esta mudança uma recuperação de valores ou até criação de novos com visto os
antigos existentes.

Um olhar para a denominada Idade Moderna tendo em conta estes princípios é difícil
estabelecer a arte característica da Idade Moderna como “moderna”. Uma denominação mais
correta é então pensar como um primeiro modernismo, uma primeira fase de modernidade
definitivamente estabelecida.

O Renascimento insere-se neste conceito de 1ªModernidade, é um momento distinto na


História da Humanidade de recriação e de rutura com os conceitos artísticos-medievais
medievais.

A cidade e o urbanismo na 1ª Modernidade: monumentalização.

Nos inícios da primeira modernidade, há uma rutura nas conceções de urbanismo, na ideia de

Em Portugal um destes desejos de monumentalidade surge com D. Manuel I nos inícios da


centúria de 1500, na cidade de Lisboa. Lisboa nesta época era uma cidade cosmopolita, uma
centralidade no Ocidente, um centro comercial-económico do mundo conhecido europeu, mas
no entanto, apresentava uma linguagem arquitetónica tipicamente medieval. Consciente que
esta era uma imagem que já não fazia parte dos cânones da época, e que não era congruente
com um centro urbano que era por si centro de um império. A cidade vai abrir-se, vai-se
aproximar do rio, vai sair das muralhas em direção ao rio, a cidade torna-se cada vez mais
portuária e cada vez mais próxima do comércio. De forma a centralizar o poder, em tomar
controlo do que é seu, constrói a zona da Ribeira, traça a Rua Nova d’El Rei (desde o Rossio até
à Ribeira) até ao Paço da Ribeira (1498) e o Terreiro do Paço, e do outro lado o sítio dos
Remolares (Cais do Sodré atualmente), e nessa mesma faixa da costa do estuário do Tejo,
manda construir o Mosteiro dos Jerónimos (1502) e a Torre de Belém (1514). Constrói também
no Rossio o Hospital de Todos os Santos (1492). Estes acrescentos revelam uma tentativa de
monumentalizar, de tentativa de grandiodizar a cidade medieval lisboeta e redefinir a ideia
urbanística lisboeta para uma linguagem mais próxima de uma modernidade consagrada.
Escolhas deliberadas fazem chegar a estas conclusões, como o fachadismo da torre de Belém,
não apenas um simples bastião militar, mas um baluarte experimental (a torre que está anexa a
um baluarte) com uma linguagem expressivamente régia e formalmente indicador de poder e
definidor de uma ideologia, é a arquitetura em função de um ideário; ou até o mosteiro dos
Jerónimos construída paralelamente (as naves estão no mesmo eixo horizontal que a costa, em
extensão) à costa para monumentalizar Belém.

A atual Praça da República de Elvas (1511), antiga Praça Nova, mandada reestruturar por D.
Manuel I, amplia o espaço e liberta o espaço, criando um espaço liberto e amplo, novo com
Casa da Câmara, uma Sé em estilo manuelino (1517). Um fachadismo, uma imagem que
representa o rei e o seu poder, mais uma vez representados no espaço.
A cidade e o urbanismo na 1ª Modernidade: fortificação e cidade ideal.

Nos inícios da 1ªModernidade começam a nascer novas identidades, novas conceções,


repensamentos

As utopias

Antonio di Pietro Averlino “Filarete”, escreve o seu Trattato di architecttura10 (1464), dividido
em 25 partes. O “edifício do Vício e da Virtude” descrito no livro XVIII, edifício de planta
centrada que é uma definição de arquitetura por si, e um ideal de ensino. Poderá representar
as sete salas que devem ser atravessadas para aprender as sete artes liberais, e sete pisos
significando as três virtudes cardinais e as três virtudes teológicas (a própria estátua no topo
do edifício significa a virtude), ou até os sete pecados. Deveria estar no centro da Sforzinda.

Os tratados de arquitetura, são summas de arquitetura, compilações do conhecimento


existente sobre arquitetura.

De Re Aedificatoria (1485), incunábulo italiano de Leon Batista Alberti, estruturado em 10 livros


e sem gravuras, é o primeiro tratado de arquitetura impresso.

De Architectura (1486), tratado de Vitrúvio, estruturado em 10 livros, é o primeiro tratado de


arquitetura conhecido escrito no séc. I d.C., copiado ao longo de séculos por instituições
monásticas, até ter sido descoberto no mosteiro de Saint-Gall e editado para ser impresso em
Itália. Uma das edições mais conhecidas é a da Cesar Cesarino em 1521. É de extrema
importância para o conhecimento da arquitetura romana, e da mesma forma, precioso para os
humanistas do Renascimento.

Os tratados de arquitetura como afirmação de novas necessidades e de novas funções,


respostas. A função do urbanismo, do arquiteto, novas formas de organização.

O homem do renascimento, como o faz-tudo.

Trattato di architettura civile e militare de Francesco di Giorgio Martini, é o primeiro tratado de


engenharia militar.

I Quattro Primi Libri di Architettura (1554) de Pietro Cataneo.

A cidade e o urbanismo na 1ª Modernidade: capital

10
Este tratado foi dedicado ao Duque de Sforza.
A capital, do latim caput, a cabeça, um lugar de centralidade, de importância e relevância
distinta começa a ser construído a partir da 1ª Modernidade, apesar do conceito
contemporâneo nascer só no séc. XVIII.

Surge associada à ideia de estado, à dissociação entre o rei como centro do poder e
transferência desse poder para um centro administrativo.

Características da modernidade, aparecimento do conceito de estado independentemente das


perspetivas historiográficas.

Dissocicação entre o espaço onde está o rei e o espaço onde está administrativamente o
estado.

O termo capital surge como conceito no séc. XVII

Damião de Góis Lisboa como “caput mundi” (a cabeça do mundo)

Roma.

Durante a época romana e a época medieval, a Cristandade construiu a sua capitalidade em


dois principais centros do Ocidente, por um lado Jerusalém, e por outro e de forma mais
consolidada ao longo dos séculos, Roma. Jerusalém, a capital judaica, mas Roma, a capital
romana. Roma, a “cidade eterna” era assumidamente a capital do império em tempos
romanos, com uma espacialidade e monumentalidade que estava direcionada a um público,
uma imagem de poder próprio, um imperador que impõe o seu poder sobre o público, gerando
estruturas que o simbolizam, construindo uma identidade própria. Com fim do império
romano, a Cristandade medieval recebe Roma romana como herança, herda os edifícios pagãos
mas também os edifícios paleocristãos. Continua a ser uma cidade da maior importância e
relevância, centro da Igreja e do poder papal, mediador e modulador sociedade medieval, mas
tantas outras vão surgir, resultado dos sucessivos cismas e conflitos dentro das aristocracias
eclesiásticas. Chega-se assim ao séc. XVI com uma Igreja ameaçada e fragilizada pelas
diferentes vertentes ideológicas-religiosas que desfragmentam a unidade religiosa. O resultado
é uma Roma que perdeu alguma centralidade e simbolismo que teve no passado, e do ponto
de vista urbanístico, uma cidade medieval, limitada e condicionada por um urbanismo de cariz
bottom-up, resultado de séculos de falta de uma administração forte, sendo desorganizada,
incapaz de conter massas de peregrinos e a população que albergava.

Tenda em conta este contexto, o papado do movimento da Contra Reforma, especialmente do


Papa Nicolau V a Sixto V, vai impulsionar e investir na cidade de Roma, no intuito de construir
uma “Roma como caput mundi” (“Roma como a cabeça do mundo”), tentar tornar Roma como
cidade referência da Cristandade, do Ocidente (de modo definitivo). A ação de Sixto V, que
embora tivesse como papa durante apenas cinco anos, tratou de resignificar a cidade romana,
de usar a monumentalidade romana e trazê-la de volta da Antiguidade com o intuito de usá-la
para criar uma Roma definitivamente cristã-católica. Com a ajuda de Domenico Fontana,
reorganizou as ruínas romanas e os edifícios alto-medievais, reerguendo obeliscos romanos
abandonados (por exemplo, o obelisco de S. Pedro em 1586), criando eixos ligando todos estes
monumentos, criando uma nova rede, um tecido urbano de fácil identificação e de fácil
navegação, especialmente para peregrinos, que ao entrar pela Porta del Popolo (entrada norte
da cidade de Roma) através da piazza del Popolo facilmente podiam conhecer a cidade cristã-
católica.
Seguindo o papado de Sixto V, a força da Igreja na Europa foi-se deteriorando, contrastando
com o poder dos Estados europeus, que de forma independente, iam-se centralizando e
concentrando, aumentando o seu poder de forma certa.

França no séc. XVI.

Francisco I em 1527 está de novo em Paris. Vai residir no Louvre, renovando a antiga praça
medieval com um novo palácio e formando novos bairros residenciais articulando-se no tecido
urbano. O palácio articula-se com o rio Sena, que também ganha novos encanamentos e um
novo cais.

Le grand siècle, o séc. XVII como século de ouro francês.

Um dos exemplo desse momento na história, é a luta pela centralidade e concentração do


poder feito pelos monarcas franceses.

Henrique IV

Luis XIII cardeal Richelieu, Cardeal Mazzarino

Luis XIV, Jean Batiste Colbert

“O Estado sou eu” e consequências ao nível do universo palpável

Classissimo barroco (monumentalidade, equilíbrio, clareza, racionalidade). Fala-se em


classicismo francês e não em barroco francês (arquitetura tricolor, tijolo, pedra e xisto/chumbo,
cinza, terracota e bege)

As artes em função de glorificação do rei.

Centralidade e deusificação do rei. O rei como personalidade estatal.

Henrique IV

Investe em Paris sobre a forma de praças reais, a place royale. Resignifica as formas da
Antiguidade, a ideia de espaço aberto monumental e a estatuária como evocação de poder,
tornando-as em formas de dignificar e glorificar o monarca.

Portugal, estatuária pública só surge nos finais do séc. XVIII com D. José I, ex. praça do
comércio.
Perspetiva monumental, praças grandes, cenários monumentais.

Cenário, preparação como monumento paisagístico.

O palácio como ponte exaltação do príncipe. Exacerbar.

Uniformidade. Ruas com fachadismo uniforme, independente do que se passa no interior. As


ruas são objetos e projetos arquitetónicos, a rua é um espaço pensado e uniformizado. O
conceito top-down, mantém a ordem e impõe a arquitetura.

O exemplo da Place Royale de Vosges. É a praça mais antiga de Paris, junto da Bastilha de Paris,
começou a ser construída em 1605 no reinado de Henrique IV e inaugurada em 1612 em
celebração do casamento de Luís XIII e Ana de Áustria. Um espaço quadrangular fechado,
acessível por uma entrada, absolutamente simétrico, uniforme na linguagem arquitetónica
(classicismo francês, arquitetura tricolor). Um vazio de monumentalidade, uma espacialidade
que se destaca pelo cuidado. Em 1639 teve uma estátua equestre de Luís XIII, oferecida por
Richelieu. Nos finais do séc. XVIII começou a ter árvores e a ser transformado em jardim.

O exemplo da Praça do Delfim. Na parte norte da Île de la Cité em Paris, articulado com a Pont
Neuf, posiciona-se uma estátua equestre do rei a olhar para um espaço triangular segmentado,
a Place Dauphine. Mandada construir em 1607 por Henrique IV para o delfim (infante, e futuro
rei) Luís XIII (nasceu em 1601). É um exemplo de monumentalidade e de glorificação do rei
como absoluto, ao se impor na sociedade e na cidade de forma top-down, pensada e com uma
imagem uniformizada, uma ordem e linguagem própria (fachadismo11 e classismo francês,
arquitetura tricolor), a arquitetura de programa que se sobrepõe e destaca do resto do tecido
urbano, como espaço aberto e cuidado, ao contrário da cidade à época, de cariz medieval,
bottom-up e pouco cuidado.

O exemplo da Praça de França. Após a construção da Place de Vosges, Henriques IV pediu o


planeamento de um projeto de maiores dimensões, a Place de France, em 1607, desenhado
por Jacques Aleaume e Claude Chastillon, de um conjunto arquitetónico concêntrico com oito
ruas com bairros nomeados com as maiores províncias francesas (Picardie, Dauphiné,
Provence, Languedoc, Guyenne, Poitou, Bretagne, Bourgogne) e cruzando-se em ruas
secundárias (com as províncias secundárias) que culminava numa praça monumental que dava
acesso a uma porta. O projeto acabaria por ser abandonado em 1610, após o assassinato de
Henrique IV. Uma gravura de Claude Chastillon de 1610, mostra a escala e a dimensão do
projeto como também as escolhas de estética, que se assemelham aos projeto anteriores.

Richelieu, ministro de Luís XIII.

O exemplo do Palácio de Richelieu, e da vila de Richelieu.

Richelieu vai fundar a Vila Nova de Richelieu em 1633, projetada por Jacques le Mercier.

11
O fachadismo como perspetiva arquitetónica em que se dá maior importância à fachada nas
estruturas.
Faz lembrar as bastilles francesas.

É uma cidade dentro de uma lógica de arquitetura de programa, obedeen

e com uma compontente meramente teatral do ponto de vista urbanístico.

com muralhas e fosso.

Praças

Lotes para fidalgos.

É um ensaio de Versailles, num formato de menor dimensão e ruralizado, projetada para


albergar os dignatários do próprio Richelieu, concentrando e submetendo os seus vassalos.

Ensaio de poder, de uma lógica racional.

Em meados do séc. XVII, começa a aparecer a tipologia arquitetónica do jardim francês.

Aparecimento do paisagismo como arte. O verde como material de construção.

Modulação do espaço natural como espaço urbano.

Desenho do território como todo. Paisagem, pays sage, visão do território. A ideia de um
território ordenado, de ordenação urbana e vegetal.

O exemplo de Chateaux Vaux le Vicomte.

Nicolas Fouquet, ministro das finanças de Luís XIV, em 1657 manda construir a sua própria
residência fora de Paris, sendo terminada em 1661, havendo uma grande festa com os seus
súbditos. Um mês depois, Luís XIV, acusa este de usurpar os recursos financeiros, mas no
entanto, em final de contas, era um palácio maior e mais sumptuoso e faustoso que Versailles.
É considerado a principal inspiração para Versailles, é um ensaio para o que Luís XIV iria
mandar construir logo de seguida.

De pequeno palácio à caça à corte.

Originalmente um pavilhão de caça modesto quando foi construído em 1624, sendo o lugar
favorito de Luís XIII. Ainda dentro o mesmo reinado, em 1631-1636 fora ampliado criando
canteiros geométricos com o castelo como eixo central.

A mais significativa ampliação deu-se em 1661 por Luís XIV, sucessor de Luís XIII quando
assume o poder do reino, quase em resposta ao que tinha acontecido com Nicolas Fouquet,
usando a mesma equipa que trabalhou em Vaux-le-Vicomte em 1657-1661. O projeto de
transformação ficaria encarregado de Louis Le Vau como arquiteto, por Charles Le Brun como
decorador de interiores, de André Le Nôtre como arquiteto paisagista, tratando do
planejamento dos jardins com fontes ns, articulado com a hidráulica mecânica de Marly.
O modelamento da paisagem e do terreno, o jardim como elemento de disciplina do visual, e o
paisagismo como racionalidade aplicada ao espaço, gerando monumentalidade no plano
visível.

Entre 1678-1688, um significativo período de ampliação aconteceu em Versailles. A arquiteto


Jules Hardouin-Mansart foi responsável por triplicar o tamanho do palácio em largura. A
obrigação da proximidade da nobreza a Luís XIV, transformou Versailles não só no retiro rural
como no polo centralizador da máquina política-governamental francesa, transformando-se na
capital, em detrimento de Paris.

Criação do microcosmos.

O primeiro livro que aparece no termo capital, é uma crítica feroz a Versailles.

Paris.

Não fica de todo abandonada neste processo.

Conjunto de intervenções de melhoria urbana. Limpeza, abastecimento de água, esgotos,


instalação de sanitários, legislação, novas vias, reorganização das margens do Sena, Demolição
de muralhas medievais, plano regulador.

“Acupuntura urbana” (escola de Barcelona anos 90)

O exemplo da Place de Victoires

Malha urbana medieval existente, se se inserir um elemento inovador, poderá acontecer uma
regeneração urbana a partir desse momento.

O exemplo de Place Vendome ou Place Luis le Grand.

Arquitetura tipificada.

A dispersão do fenómeno da praça.


Em Espanha, a tipologia das praças reais, em características específicas. Em primeiro lugar, são
mais parecidas com fóruns12.

O exemplo da Plaza Mayor em Madrid. Espaço aberto já pré-existente, mas que no contexto de
tornar Madrid na capital espanhola, Felipe II vai em 1561 encarregar Juan de Herrera de
projetar a praça, sendo terminada em 1619 durante o reinado de Felipe III com Juan Gómez de
Mora. Com arqui

Filipe II pretende transformar Madrid na capital espanhola, pela proximidade ao Escorial.

Arquitetura de programa.

Arquitetura e urbanismo como unidade nesta época.

A arquitetura e urbanismo são pensadas como um só. Pensar o espaço, é pensar em tudo.

Salamanca 1729-1756?

A praça como ambiente isolado e disciplinado rodeado de irregularidade.

Plaça mayor de Valadolid.

Turim.

Praça com um castelo no meio.

Palácio tardo-medieval com uma fachada moderna. Barroquização, um cenário que se integra.

Crescimento urbano regrado a partir do séc. XVII-XVIII.

Rotunda do Marquês é um exemplo deste tipo. Convergência no marquês.

Capitalidade como obcessão em regração-

S. Petersburgo e Washington D.C. por exemplo também seguem esta regra.

Tafuri Costa crítica.

12
A diferença entre praça e fórum é sobretudo em dinâmicas de espacialidade, a praça é um elemento
dinâmico, naturalizado com o tecido urbano, que tem uma transição suave, mas em contraste, o fórum é
um espaço pensado em ser mais fechado, com introdução de entradas próprias (como portas por
exemplo).
Em Portugal, a evolução urbanística de Lisboa na época moderna.

Nos primeiros anos do reinado de D. Manuel I, de 1497-1498 a 1502, é iniciado em Lisboa um


conjunto de ações de carácter top-down arquitetónico-urbanístico com intuito de alteração da
estrutura e imagem da cidade. Medidas tomadas a cabo e integradas numa lógica de
centralização do poder régio, é coincidente cronologicamente com outras medidas de carácter
centralizador como as reformas dos forais, dos pesos e medidas, de justificação da moeda de
forma a uniformizar burocraticamente o reino.

Abandona os Paços da Alcáçova do Castelo de S. Jorge e direciona-se para as margens do Tejo.


Novo paço em 1505.

Deixa de ser o estreito exercício de obras pontuais (por exemplo, abertura de “ruas direitas” ou
“ruas novas”), mas trata-se agora de uma ação programática arquitetural, estruturada e
pensada dentro de uma lógica articulada a uma específica funcionalidade, estruturado acerca e
a partir das margens do Tejo, previsto em 1498-1499.

Em 1499, cartas de D. Manuel apresentam uma linguagem dotada de modernidade e decisão


racional “capaz de visualizar a cidade como um todo, através duma imagem conceptual com
um centro, onde cada ponto se submete a uma ordem de composição de conjunto”13, tendo
como ponto de centralidade e referência a Ribeira, futuro Terreiro do Paço.

No Terreiro do Paço, além do Paço Real, estavam os principais tribunais da Corte. Tribunal da
Fazenda, Tribunal da Suplicação, Conselho de Estado, Desembargo do Paço, Mesa da
Consciência e Ordens. Além da Casa da Moeda.

A Ribeira era por si um conjunto arquitetónico, 1513

A abertura da Rua do Cano Nova ou Rego, estendida e aberta como Rua Nova d’El Rei, grande
eixo urbano que atravessava a baixa lisboeta, ligando a Ribeira ao Roçio a par São Domingos
(Rossio). A denominação para este troço urbano tem claramente uma conotação ideológica, ao
associar o poder real e a imagem do rei às grandes transformações urbanas.

1515, iniciam-se as obras na Torre de Belém.

Há também toda uma componente de preocupação estética e de uniformidade, de


sistematização de elementos arquitetónicos, estabelecimento de concordâncias tipológicas na
configuração de uma linguagem e unidade programática. Por exemplo, a opção do uso de
arcarias de pedra com arcos de volta perfeita nas fachadas do Hospital de Todos-os-Santos e na
Rua dos Ferreiros. Por exemplo janelas de métricas rigorosas usadas na Praça da Ribeira como
no Hospital de Todos-os-Santos.

Um segundo programa urbanístico e de reordenamento urbano em Lisboa dá-se início em


1513 com a finalização do projeto da Praça da Ribeira como centro nevrálgico da cidade

13
CARITA, Helder – Lisboa Manuelina e a formação de modelos urbanísticos da época moderna (1495-
1521), p.54
lisboeta, como como centro de um Império. Numa nova conjuntura política e socioeconómica
era necessário novos equipamentos administrativos-comerciais portuários para suportar as
novas necessidades comerciais. Alfândega Nova, Armazéns Reais, Casa de Contos, Paço de
Madeira e Tercenas da Porta da Cruz são os novos edifícios, tendencialmente funcionalistas,
desprovidos de acentuações iconográficas. Igreja da Misericórdia No entanto, há
reestruturação de outros edifícios,.

Numa zona exterior à muralha fernandina, a Vila Nova de Andrade (também chamado de
arrabalde de Santa Catarina e mais tarde, Bairro Alto de São Roque). Em duas das propriedades
de um dos judeus mais ricos do período de D. Afonso V, Guedelha Palaçano, vai decorrer um
processo de urbanização iniciado em 1498 com a compra das propriedades à viúva e seguinte
urbanização e aforamento em 1513.

Hospital de Todos os Santos entre 1492 e 1504.

Lisboa.

Expansão do Bairro Alto. Loteamento privado. Intenção top-down. Lote de 30x60 com
arquitetura estabilizada. Programa porta, janela, balcão uniforme com escalas definidas e
proporções.

Desde D. Manuel I, há a intenção de capitalizar Lisboa.

Críticas de Francisco de Holanda. Falta de um palácio, falta de água, etc.

Durante D. João III há intervenções de pequena escala. Sobretudo uma continuidade nas
políticas de D. Manuel I. Por exemplo, na construção das Tercenas, Ferrarias e Fundições de
Cataquefarás, da Casa da Pólvora e das Portas da Cruz, junto da Praça da Ribeira.

Felipe II, Felipe I

Constroi Madrid e o Escorial.

Cartas à filha. Não acredita que tem um palácio ao pé do rio, mas que não o consegue ver.
Constroi o torreão.

Transformação do terreiro do Paço.

Felipe II

D. João V
Vai reformar na mesma linha de Paris. Lisboa renovada.

Abastecimento de água. Águas Livres.

Regularizar a Rua Nova del Rei (Rua do Ourives dOuro). Demolidas fachadas e a serem
construídas fachadas novas, um popular, toma atenção na ordem urbana, na desruptura de um
prédio com andares de altura diferentes.

A 1 de novembro de 1755, o terramoto (e sucessivas réplicas) e o maremoto atinge Lisboa,


destruindo e incendiando o tecido urbano medieval. Um evento que vai possibilitar e viabilizar
uma reforma urbana.

Urbanismo e Iluminismo, uma "critica da razão pura."

Iluminismo à portuguesa.

30/11

Cidade da Era da Indústria.

Contexto de finais do séc. XVIII e séc. XIX, pelo prolongar dos inícios do séc. XX.

Nova modernidade que trás nova urbanidade

Aparecimento de novas tecnologias, pe maquina a vapor

Aparecimento dos cortes das ruas e com plano subterrâneo

Esventramento da cidade e do subterrâneo

O exemplo de Paris.

Plano Haussman, Paris

O surgimento das grandes avenidas.

Avenidas de estação – 30m em Portugal, multiplicação por 10x

Ferro Fundido, iluminação

Caminho de ferro, anel de linhas de caminhos-de-ferro e de gares, curiosamente junto às


antigas portas da cidade.

Uma cidade que representa o sucesso da burguesia, a nova elite social que sai da Revolução
Francesa.
Les Grands Magazin, Galeries La Fayette

Grandes espaços privados de utilização pública, uma extensão do espaço público para o
interior de um edifício.

Os equipamentos públicos.

O prédio de rendimento comum, o apartamento. Verticalidade que promove a estratificação,


os pisos superiores são mais baratos, e os pisos nobres são os inferiores, o esforço da subida é
a razão, algo que mudará com a introdução do elevador.

O exemplo de Bruxelas.

Jules Anspach (1829-1879), ligação entre duas estações de caminho de ferro.

Nascimento da consciência e noção de património, discussão sobre o valor da preservação de


elementos isolados, passados a ser denominados de monumentos.

Carta de Veneza, 1964, II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos


Históricos pelo ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) estipula a Carta
Internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios.

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