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CHAVEIRO, Eguimar Felício; PELÁ, Márcia Cristina Hizim.

Práticas espaciais na metrópole


contemporânea: norma e vida em contraponto. In: Metrópoles: teoria e pesquisa sobre a
dinâmica metropolitana. ALMEIDA, M. G. de; OLIVEIRA, K. A. T. de; ARRAIS, T. A.
(orgs). Goiânia: Cânone Editorial, 2012.

P. 73 – (...) a luta pela existência marcando o cotidiano e a vivência de diferentes grupos


sociais; e mais outros tantos aspectos redundam, certamente, no fato de a metrópole
contemporânea ser expressão da complexidade espacial, reunindo num só termo, o grau
máximo de acumulação integrada do capitalismo globalitário e o movimento de sujeitos que,
em meio às contradições, desenvolvem práticas sociais que culminam na produção da vida.

P. 74 – Essas práticas sociais, transformadas em práticas espaciais, são conduzidas por


imersões no mundo cultural, investido de relações com a economia, com a política e com
outros campos que dizem respeito à vivência humana, lograda histórica e espacialmente.

P. 74 – (...) há, no interior da metrópole, formas específicas de práticas sociais que se


apropriam dos lugares, constituindo-os, ressignificando-os e transformando-os.

P. 75 – (...) a apropriação conflituosa de lugares da metrópole só ocorre por meio da


configuração espacial tecida pelos diferentes tipos de formas espaciais; a periferia proletária,
os centros de convivência, as novas centralidades, os parques urbanos, os shopping centers, os
anéis viários, os denominados prédios inteligentes, os monumentos, as passarelas, os grandes
armazéns e atacadistas, os estádios de futebol ou terrões, os templos religiosos, os
loteamentos populares, os condomínios fechados, as feiras populares, os espaços festivos e os
prostíbulos, dentre outros marcos espaciais.

P. 75 – Em cada prática espacial desencadeadas por um grupo de sujeitos, (...) estão presentes
componentes da economia, da política, da subjetividade, da ideologia, do contrapoder, da
resistência, da cultura, etc.

P. 76 e 77 – Chaveiro e Pelá, fazem uma síntese de três períodos que marcam a história das
cidades relacionadas ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil e no mundo: Do final do
século XIX até a década de 1930, foi um período conhecido como “Desejo de cidade”, nesse
período a cidade passou a ser vista como sinônimo de progresso irrefutável, enquanto as áreas
rurais passaram ser definidas como sinônimo de atraso. O período de 1950 ao início da década
de 1960, temos uma fase nomeada como a do “Direito à cidade”, nessa fase, o crescimento
das metrópoles e de seus problemas como a desigualdade social, fizeram emergir de um lado
movimentos sociais e ambientalistas que lutavam por mudanças sociais e por outro uma visão
hegemônica de grupos que viam com naturalidade a manutenção da desigualdade social,
exploração, etc. A fase atual é denominada como “Crise da Cidade”, onde a realidade de
desigualdades sociais, problemas ambientais, desemprego, etc. onde “a metrópole – como
realidade em crise, coincide com um processo demográfico de desmetropolização”.

P. 77 – Esse processo incidiu no arranjo espacial da metrópole de várias maneiras, com o


reesquadrinhamento do espaço intraurbano, à criação de novas centralidades, a separação de
novas classes sociais pelos arranjos espaciais, a constituição de ilhas de beleza – como as
praças temáticas - , sob a rublica do esteticismo de mercado.
P.77 – As várias contradições sociais no interior das metrópoles redundam no sentimento de
insegurança na cidade (...), Isso tudo gera um afastamento do sujeito da vida pública,
conduzindo-o a brutalizar a sua atitude individualista.

P. 77-78 – Esse afastamento tem vários sintomas, entre eles o desenraizamento, que ocorre
especialmente migrantes, ex-camponeses e operários são impedidos de usufruir de
determinados espaços, ainda que configurados como públicos.

P. 78 – Outras características também estão presentes nessa nova cidade: o intenso fluxo, os
ruídos e as estratégias esterilizantes, que transformam parques, monumentos e praças em
objetos de fotografias, mais do que de vivência.

P.80 – As principais características da vida diária na metrópole – fluidez promovida pela


entrada e saída de variáveis, dependência econômica da macroeconomia, tempo acelerado,
controle privado do solo e dos espaços, intersecção com outros municípios – impactam o
poder de ação de sua gestão.

P. 81 – Não basta apenas ler a cidade e seus arranjos relativos ao modo de produção, e dele
em relação aos modos de existência ou às diferentes táticas de vida dos grupos sociais. É
preciso gerar instrumentos interpretativos que a vejam como uma realidade sócio-histórica,
expressando a densidade de um tempo e revelando a cultura e as práticas espaciais de um
lugar.

P. 81 – (...) o grande desafio é enfrentar as sociodesigualdades da metrópole, ou o que se tem


denominado segregação socioespacial – característica nuclear da metrópole capitalista.

P. 81 – Ao ler a metrópole por essa via, as reflexões indicam que o modelo de


desenvolvimento econômico atual retira o direito à cidade de quem a construiu com seu
trabalho. A ausência de acesso se cristaliza na sua espacialização e nas condições de vida dos
seus sujeitos, especialmente dos trabalhadores. A alienação do trabalho se traduz como
contaminação da qualidade de vida.

P. 81 – O que caracteriza a espacialidade das periferias proletárias é, incialmente, o


distanciamento de seus sujeitos dos centros de consumo, Os seus sujeitos são compelidos a
consumirem toda sorte de mercadoria, todavia, sem condição de realizar o consumo, veem a
sua subjetividade entrar em uma grande cisão. O desejo de consumo contrasta com as
condições de fazê-lo.

P. 82 – A pulsão dos sujeitos e sua luta pela vida conseguem gerar nesses espaços, contudo,
misturas qualificadas das culturas de ex-camponeses e de migrantes, juntamente com a
autonomia corporal da juventude, de tal maneira que as suas trajetórias de informação, a
riqueza do terciário informal, as maiores oportunidades de se comunicar, transformam a
periferia proletária num rico acontecimento da criatividade e de invenção.

P. 83 – (...) nenhuma metrópole se repete em outra. A sua singularidade, tecida e bordada


numa gama de ações, de encontros de territorialidades, de conflitos sociais, de apropriação
dos espaços, de configuração dos lugares, é o seu sentido de pulsão, é por onde a vida se
desenvolve e se constitui. Em meio ao estrategismo ao modo da city marketing e ao
esteticismo performático que precariza a vida pública e cria espaços de medo, há atitudes de
criatividade, de insurgência, de comunicação que mostram as razões do insondável humano e
de seu rico repertório para agir em meio às pressões (e opressões).

P. 84 – No caso específico de Goiânia, expressão espacial de uma região que sofreu acelerada
transformação em sua estrutura socioeconômica – e deu um estado que verteu o seu território
em função da ligação direta com a economia globalizada por meio do agronegócio - , a
mesclagem e hibridação dos signos rurais e urbanos especificam a sua voz, a sua dinâmica e a
vida do sujeito que se relaciona com seus lugares. Embora singularizada, é cada vez mais,
universalizada. Nesses dois signos repousa o olhar que deseja interpretá-la.

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