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Lademir José Cremonini

A ONU COMO ATOR DA PAZ E O


PARADOXO DO VETO DO CONSELHO
DE SEGURANÇA: uma decisão imposta
pelos EUA e URSS em Dumbarton Oaks

EDITORA CRV
Curitiba - Brasil
2017
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: O Autor

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


CATALOGAÇÃO NA FONTE

C912

Cremonini, Lademir José.


Dilemas entre a ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança / Lademir José Cremonini.
– Curitiba: CRV, 2017.
140 p.

Bibliografia
ISBN 978-85-444-1803-1
DOI

1. Direito 2. Relações internacionais 3. ONU 4. Comercio exterior 5. Relações exteriores I.


Título II. Série.

CDD 327.172
327
CDU 327 341
341.123 341.23
327(042.3) 341.73
Índice para catálogo sistemático
1. Relações Internacionais - 327

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2017
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
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Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Mônica Pereira dos Santos (UFRJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP) Najela Tavares Ujiie (UTFPR)
Josania Portela (UFPI) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
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Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Paulo Romualdo Hernandes (UNICAMP)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.


Dedico este livro às pessoas mais
importantes deste momento em minha vida. Não só
por contribuírem com a construção deste trabalho,
mas por serem o sentido para que ele fosse iniciado
e concluído.

À minha amorosa esposa, Márcia Warken


Cremonini, que faz meus dias terem razão de ser
neste mundo enigmático, fortalecendo nossa família
com a fé e a bondade reveladas em suas ações.

Aos meus filhos, Nadiny e Leo Vitor, por


representarem os frutos de ouro colhidos nesta dimensão.

À professora Odete Maria de Oliveira, o farol que


me guiou nesta caminhada e que desejo avistar
sempre, para que meu andar seja mais seguro.

Obrigado por permitirem participar da vida de cada


um de vocês.
AGRADECIMENTOS

À Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ e


aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Direito, em
especial ao Coordenador Prof. Dr. Marcelo Markus Teixeira e toda sua equipe.
À Coordenadora da Biblioteca das Nações Unidas em Genebra, Cristina
Giordano, por sua atenção e desprendimento, disponibilizando os mais diversos
materiais para a pesquisa bibliográfica.
Aos participantes do Grupo de Pesquisa e de Estudos de Relações Inter-
nacionais, Direito, Poder, especialmente ao professor Giovanni Olsson, pelo
desprendimento em repassar os seus conhecimentos, inclusive dispondo de suas
obras bibliográficas para nossos estudos.
À minha família, pelo apoio e incentivo em todos os momentos.
A Deus, pela dádiva da vida e da força, concedidas para vivenciar e concluir
tão importante processo.
SUMÁRIO

PREFÁCIO  13

INTRODUÇÃO  19

CAPÍTULO I
ATORES INTERNACIONAIS E PODER: elementos de introdução  25

CAPÍTULO II
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E SEUS ÓRGÃOS  47

CAPÍTULO III
A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E O DILEMA ENTRE
O USO DO PODER E OS SEUS OBJETIVOS DE PAZ  75

CONSIDERAÇÕES FINAIS  99

REFERÊNCIAS  105

ANEXOS

ANEXO A  115

ANEXO B  123

ANEXO C  137
PREFÁCIO
O cenário contemporâneo encontra-se marcado por um conjunto de des-
conhecidos fenômenos e de seus inusitados efeitos, entre eles, destacando-se a
globalização1, multilateralismo, novos regionalismos2, redes transnacionais3 e
uma multiplicidade de emergentes atores não estatais4, assinalando-se ênfase
à relevância alcançada pelas Organizações Internacionais5, ao conquistar
significativos espaços de autonomia econômica, governança política e de
singular protagonismo junto a sociedade global.
Nesse sentido e em âmbito fenomenológico, a temática da presente obra
que temos a mais elevada honra e a grata satisfação de prefaciar, de autoria de
Lademir José Cremonini, nosso aluno e orientando do curso de mestrado em
Direito da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó),
situa-se dentro desse universo de conhecimento, ao selecionar como objeto
de pesquisa uma dessas coletividades internacionais – Organização das Na-
ções Unidas (ONU) – propondo-se a analisá-la sob a égide de seu complexo
protagonismo de poder e, de outro lado, abordando-a como um dos mais
importantes atores internacionais não estatais da atualidade.
Na realização de seu trabalho, o empenhado autor preocupou-se inicial-
mente em estudar a questão difusa do poder, conceitos e diferentes tipologias
e, em um segundo momento, a perquirir sobre os tipos de poder utilizados,
tanto pela ONU – vista como uma coletividade aberta e que congrega 193
associados estatais – como por um de seus polêmicos organismos, o criticado
Conselho de Segurança.
Na continuidade, por meio de concentrado viés analítico, Cremonini
passou a observar como a ONU e o seu Conselho de Segurança utilizam o
poder, nesse sentido privilegiando duas modalidades de análises, as acepções
conhecidas como o poder para (cooperação, diplomacia e consenso) e como
o poder sobre (dominação, subordinação, conflito de interesse), anotando,
dessa modo, que a primeira usa a forma simétrica do poder para, vale dizer,
do poder brando, enquanto que o segundo dá preferência a assimetria do poder
sobre, ou seja, de um poder duro6. Seu trabalho de pesquisa sinaliza-se por
esse último tipo de poder.

1 Ver: OLIVEIRA, Odete Maria de. Teorias Globais: elementos e estruturas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. v. I.
2 Ver: OLIVEIRA, Odete Maria de. Velhos e novos regionalismos. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009.
3 Ver: OLIVEIRA, Odete Maria de (Org.). Relações internacionais, direito e poder: atores não estatais na era
da rede global. Ijuí: Ed. Unijuí, 2016. v. III.
4 Ver: OLIVEIRA, Odete Maria de (Org.). Relações internacionais, direito e poder: cenários e protagonismos
dos atores não estatais. Ijuí: Ed. Unijuí, 2014. v. I.
5 Ver: CUENCAS CANCINO, Francisco. Tratado sobre la Organización Internacional. México: Editorial Jus, 1982.
6 Ver: OLSSON, Giovanni. O poder político e a sociedade internacional contemporânea: governança global
com e sem governo e seus desafios e possibilidades. Ijuí: Ed. Unijí, 2007.
14

Na concretização de sua investigação, o competente autor procura res-


ponder interessantes perguntas formuladas no seu investigativo horizonte
acadêmico: Como a ONU surgiu e evoluiu? Quais as diferenças entre os seus
objetivos declinados na Carta de constituição de 1945, sua atual estrutura
orgânica e a presente realidade de sua atuação, contando com mais de 70
anos de existência? Como essa coletividade funciona e se relaciona interna e
externamente? Quais os efeitos do poder para e do poder sobre usados pela
sua Assembleia Geral e pelo seu Conselho de Segurança? A Organização das
Nações Unidas cumpre os seus objetivos pacificadores declarados no Pacto
democrática de 45? O que se entende por poder de veto? Quais os efeitos do
uso do direito de veto pelo Conselho de Segurança à ONU?
Colocada assim brevemente as questões fundantes da pesquisa, episte-
mologicamente no primeiro capítulo, Cremonini munisse de um conjunto de
ferramentas teóricas – asserções, lineamentos, categorias, conceitos, classi-
ficações – servindo de apoio ilustrativo e de fio condutor para uma melhor
compreensão dos leitores, bem como de suporte necessário à construção do
edifício e da arquitetura da presente obra.
Encontrando-se, desse modo, solidamente alicerçado, com firmeza e
objetividade, o autor prepara-se para avançar em direção dos demais capítu-
los e com muita persistência e cuidado passa a analisar – a realidade – dos
efeitos do poder sobre usado pelo Conselho de Segurança, com a finalidade
de comprovar com segurança e na exata medida metodológica a procedência
ou improcedência de sua desafiante proposta inaugural.
Após exame minucioso, com maestria, Lademir José Cremonini passa
a relatar o resultado de sua investigação no terceiro e último capítulo, de um
lado, mostrando a grande lacuna existente entre o magno e grandiloquente
objetivo de paz ostentado pelo discurso da ONU e o resultado de sua atuação
prática, comprometida com a promessa de orquestrar e desenvolver uma
política de cooperação e de concerto pacificador entre os seus associados.
Já, de outro, por meio de evidências, elaboração de gráficos e de adequado
corpo de referências especializadas, o autor passa a mostrar o contraponto
da realidade do poder ditatorial no uso abusivo de vetos pelo Conselho de
Segurança. Em especial, essa forma inflexível e dominante da utilização do
poder sobre para satisfazer e assegurar os seus mais diversos interesses e van-
tagens, desconsidera os anseios dos associados, limitando tanto os objetivos
da coletividade quanto de sua agenda pactuada em torno da paz.
Trata-se, sem dúvida, de um trabalho inédito, bem articulado em sua
elaboração evolutiva e metodológica, cuja amplitude de sua pesquisa levou o
autor a visitar dependências da Organização das Nações Unidas em Genebra
(Suíça), onde teve acesso a sua ampla biblioteca, contando com materiais
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 15

especializados desde a sua origem até o momento atual e que foram de ex-
traordinária importância à concretização desta rica obra.
A ortodoxia do uso indiscriminado do poder de veto pelo Conselho de
Segurança, ocorrendo em ações afirmativas e negativas, magicamente podendo
desmembrar-se e surtir os mesmos efeitos por omissões dos Conselheiros,
provoca sérios prejuízos e muitos dilemas às resoluções e demais atos deter-
minativos da ONU, principalmente quanto ao cumprimento de seus objetivos
políticos de guardiã da paz de seus Estados-membros7.
Como bem anotado por Lademir José Cremonini, o modo sui generis de
atuação do Conselho de Segurança, caracterizando-se pelos resultados de temas
constates em resoluções vetadas ou negligenciadas pelo uso discricionário
do veto – poder sobre – contraria frontalmente o cumprimento dos objetivos
declarados na Carta da Paz de 1945 pela ONU.
O Conselho de Segurança, como observa o autor, apresenta estrutura
curiosa, repleta de muitas minúcias e sutilezas, muitas vezes ocupando-se na
materialização de interesses personalizados dos cinco Conselheiros perma-
nentes, o que impede o pleno, eficiente e esperado desempenho da ONU como
uma associação propulsora da paz, caracterizando-se como uma organização
internacional orgânica8, de vocação geral e natureza universal, objetivando
a aproximação, a cooperação e a sustentabilidade entre os seus associados.
Evidentemente, trata-se aqui de objetivos opostos e contraditórios entre si.
Além disso, o forte protagonismo do Conselho de Segurança não só intimida
e interfere, como ainda debilita e fragmenta a abrangente e humanista atuação
institucional da Organização das Nações Unidas, de vocação política de paz
e harmonia entre os seus membros, originando ainda intrigante fenômeno
dialético entre a própria organização internacional pacificadora denominada
ONU e o determinante protagonismo do poder de veto de um de seus próprios
organismo, o monocrático Conselho de Segurança.
Nesse sentido, o Conselho de Segurança – criado pela ONU – constitui
uma estranha realidade. Encistado no seu próprio cerne e ai coexiste de forma
contraditória e paradoxal, de um lado, tendo a sua estrutura expressa na Carta
de 45 e, de outro, orientando-se e se mantendo por meio do uso impactante do
poder de veto, cenário que fortalece o seu polêmico e extraordinário império
de poder e determinação.

7 Ver: OLIVEIRA, Odete Maria de. Organizações internacionais e a ONU: o paradoxo do poder de veto do
Conselho de Segurança. In: Mercadante, Araminta de Azevedo; Magalhães, José Carlos de. (Orgs.). Refle-
xões sobre os 60 anos da ONU. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. p. 193-239.
8 Ver: STOLT, Elton Diego. Organizações internacionais: a dialética de suas associações formais e informais.
In: Oliveira, Odete Maria de (Org.). Organizações internacionais e seus dilemas formais e informais: a
construção da arquitetura de resistência global. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012. p. 35-75.
16

O Conselho de Segurança – em sua longa trajetória de satisfação de


seus interesses – ao usar indefinitivamente o incomum mecanismo do poder
de veto em suas votações, com exclusividade apenas aos denominados Big
Five – Estados Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França, historicamente
instrumentalizado dessa forma pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial,
mantem a sua arena de força e domínio, impondo as suas próprias regras,
polarizando e pulverizando os objetivos da ONU, reconhecida organização
terceira geração, subtraindo o seu cenário e o protagonismo de importante
ator não estatal da paz, militando o desenvolvimento sustentável entre os
seus associados, atualmente mediante a importante e oportuna Agenda 2030.
Entre tantos méritos desta obra, não se poderá deixar de aqui anotar a
preocupação de seu autor, em torno do compartilhamento de sua busca sobre a
curiosa origem histórica do veto a seus leitores, observando que sua gênese tem
raízes em tratativas iniciais então patronizadas entre os presidentes dos Estados
Unidos e da Rússia, reunidos na Conferência de Dumbarton Oaks, tentando ali
definir uma forma sempre definitiva de manutenção do poder das potencias des-
ses dias, então tomados pelos efeitos dramáticos das grandes guerras mundiais.
Nesse sentido, surgiu entre as autoridades a ideia crucial e estruturante
do direito de veto, sutilmente imposto pelo pleno e eficaz conceito da unani-
midade dos votos dos cinco membros permanentes, tanto para agir como se
omitir nas votações desse fluido jogo. Tal pacto de decisão unânime pelo veto
configura o uso do poder sobre, um poder duro que passou a ser utilizado de
forma escusa e abusiva por esse polêmico Conselho de Segurança.
A Conferência de Dumbarton Oaks congregou várias aproximações e
reuniões entre os futuros associados permanentes, ocorridas quase no fim da
Segunda Guerra Mundial, entre os meses de agosto e setembro de 1944. Foram
nesses encontros que restou definido o que veria a ser uma das determinantes
interfaces da nova Comunidade Internacional: as Nações Unidas, o Conselho
de Segurança e principalmente o seu direito de veto. Melhor dizendo, o veto
constituiria uma fortaleza de poder, um cenário duro, uma imutável força,
estruturando o protagonismo pela unanimidade exclusiva do voto dos cinco
membros permanentes at eterno.
Essa forma de atuação do Conselho de Segurança tem sofrido muitas
críticas. Noschang (2012)9 tece circunstanciadas considerações nesse sentido,
abordando várias propostas de reforma da ONU, argumentando que ela só
poderá acontecer por expressa mudança de mentalidades e de vontades políticas
dos governantes e mais precisamente quando fizerem emergir uma poderosa

9 Ver: NOSCHANG, Patricia Grazziotin. Organizações internacionais de natureza universal: a Organização das
Nações Unidas – da crise à crise. In: Oliveira, Odete Maria de (Org.). Organizações internacionais e seus
dilemas formais e informais: a construção da arquitetura da resistência global. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012, p. 77-118.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 17

e necessária força coordenada nesse sentido. Caso contrário, assim como a


organização nasceu engessada, assim igualmente permanecerá.
São sábias e procedentes as palavras do mestre Cuevas Cancino10, ao
ponderar que no fluir e refluir das realidades, todas as épocas arrastam consigo
os seus próprios problemas e assim toda a elaboração internacional deverá
administrar e solucionar as suas dificuldades. Nesse viés, pode-se dizer, que a
ONU já nasceu marcada por uma série de obstáculos, limites herdados de sua
antecessora Liga das Nações, assunto abordado com profundidade pelo autor.
Com certeza, os leitores ficarão surpresos e satisfeitos com o conteúdo
criativo desta obra, em especial, com o revelador estudo sobre o uso do poder
duro – poder sobre – consistente no abrangente direito de veto. Trata-se de um
outro e diferente olhar sobre a ONU e o seu Conselho de Segurança. Trata-se
do olhar de nosso estimado professor Lademir José Cremonini. Enfim, trata-
-se de um olhar sobre as remanescentes, ainda desconhecidas e definitivas
decisões tomadas Na Conferência de Dumbarton Oaks.
Afinal e por derradeiro indaga-se: O que se entende por Dumbarton
Oaks? Pode ser definido como um dos bairros de Washington, capital dos
Estados Unidos, onde ainda encontra-se localizada uma interessante mansão,
que se tornou famosa pelo estilo de seus jardins do século 19. Construída em
1800, ficou conhecida como a residência de John C. Calhoun, senador e vice
presidente americano. Posteriormente, foi adquirida por outras autoridades e
após por um colecionador de arte, então doada para fundar a Dumbarton Oaks
Research Library and Collection, sob a direção da Universidade de Harvard.
Em 1944, a mansão de Dumbarton Oaks cedeu lugar à histórica realização
da Conferência de Dumbarton Oaks e que deu origem à criação da futura
Organização das Nações Unidas11.
Reconhecemos a importância deste livro e saudamos o seu autor pelo
grande empenho e conquista na realização desse original trabalho, que sem
medir esforços foi superando todas as dificuldades do caminho – degrau por
degrau – constituindo-se em significativa contribuição à Academia brasileira
e a todos os estudiosos e demais interessados nos instigantes assuntos apre-
sentados nesta obra, por isso, tornando-se leitura obrigatória.

Odete Maria de Oliveira


Titular de Relações Internacionais da UFSC e da Unochapecó
Pós-Doutora em Estudos Comunitários Europeus pela
Universidad Complutense de Madrid-Espanha

10 Ver: CUEVAS CANCINO, Francisco. Tratado sobre la Organización Internacional. México: Editorial Jus,
1982. p. 141.
11 Ver: <https://doaks.org>. Acesso em: 22 ago. 2017.
INTRODUÇÃO

A Organização das Nações Unidas (ONU), nos seus 71 anos de história, é


reconhecida como importante protagonista das relações internacionais, devido
a sua atuação nos debates e resoluções de diversos e intermináveis dilemas
vivenciados pela comunidade internacional.
O surgimento da ONU, em 1945, entre outras questões, marcou também
uma mudança importante no cenário da sociedade internacional, até então
dominado predominantemente pelos Estados, inaugurando o aparecimento das
Organizações Internacionais de segunda geração, com a função de organizar
de modo mais eficaz e com diversos mecanismos – consensuais ou não – as
relações internacionais, dominadas pelo modelo do realismo político – es-
tatocêntrico –, que utilizava todos os meios, principalmente a guerra, para
defender seus interesses e impor suas ideologias.
A ONU apresenta uma estrutura particular em se tratando de uma orga-
nização internacional. Os processos de discussões e votações estão divididos
em dois órgãos1: a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança (CS) – cada
um desempenha papel importante e distinto, com estatuto e competências
próprios. A Assembleia Geral, conhecida como o parlamento global, tem
hoje a participação de 193 Estados, debatendo e editando resoluções não
obrigatórias em diversos assuntos difusos de interesse global. O Conselho de
Segurança tem protagonismo único nas questões de desenvolvimento e ma-
nutenção da paz, com estrutura sui generis, com a participação de 15 países:
5 são permanentes, com direito a veto2, e 10, temporários, com mandatos de
dois anos, escalonados em cinco membros eleitos a cada ano.
O tema desta pesquisa incide sobre a ONU, abordando especificamente
o tipo de poder – poder sobre – que o Conselho de Segurança utiliza para
movimentar e desempenhar seu papel no atual sistema internacional. Apresen-
tando esse breve recorte contextual e epistemológico, o trabalho é alicerçado
por bases teóricas, conceituais e aspectos metodológicos.
Com o objetivo de proporcionar clareza desses encaminhamentos, a
apresentação introdutória será conformada no molde de tópicos.

1 A ONU possui outros órgãos, agências e fundos, com funções julgadoras e/ou executoras, devendo seguir
as diretrizes da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança, conforme matéria.
2 “Uma resolução do Conselho de Segurança é aprovada se tiver maioria de 9 dos quinze membros, inclu-
sive os cinco membros permanentes. Um voto negativo de um membro permanente configura um veto à
resolução. A abstenção de um membro permanente não configura veto” (VIEIRA, 2009, p. 6).
20

O tema medular – a Organização das Nações Unidas – é desenvolvido


no sentido de compreender sua estrutura e resgatar a sua origem. Desta forma,
estudam-se a sua antecessora – a Liga das Nações – e as primeiras conferências,
com relatos precisos, levantando-se os motivos e interesses que estiveram no
cerne da criação da ONU. Abordam-se, ainda, as atividades desenvolvidas
ao longo de seus 71 anos de existência, e seu comportamento no período da
Guerra Fria, bem como nos dias atuais.
Nesse espetro, a delimitação do tema concentra-se inicialmente em localizar
a ONU no âmbito do conhecimento das Organizações Internacionais e, nesse viés,
o seu reconhecimento como ator internacional não estatal de destacado protago-
nismo. Nessa sequência, passa-se a examinar o(s) modelo(s) de poder utilizado(s)
em seus órgãos – com o recorte do estudo na Assembleia Geral e Conselho de
Segurança –, resumindo-se à busca de definir o protagonismo da Organização das
Nações Unidas, importante organismo internacional e consolidado ator não estatal
das Relações Internacionais contemporâneas, sua atual estrutura organizacional,
seus distintos órgãos e o uso do poder em suas atribuições.
Nesse prisma, observando-se a estrutura da Organização das Nações
Unidas, e em especial o Conselho de Segurança, denota-se o uso de espe-
cífica tipologia de poder sobre nesse órgão. A fim de descrever esse poder,
apresenta-se a distinção entre poder sobre e poder para de Dyrberg (1997),
classificando o primeiro como assimétrico e o segundo como simétrico, en-
volvendo as denominadas “soma zero” e “soma positiva”.
Na concepção assimétrica do poder sobre, “o poder pressupõe conflitos
de interesses em torno de vantagens, estabelecendo relação de controle,
superioridade ou subordinação de um agente sobre o outro, no qual um
ganha na proporção da perda do outro, como um jogo de soma-zero”
(DYRBERG, 1997, p. 2).
Já na concepção simétrica do poder para, “[...] o poder é uma ‘capacidade
coletiva’ firmada sobre um consenso, em que todos podem ganhar como um
jogo de soma positiva. Concebe, portanto, um ‘poder para’, fundado na ação
ou estrutura coletiva e de natureza produtiva” (DYRBERG, 1997, p. 2-3).
Na atualidade em que se vive, a luta pelo poder entre os atores estatais
e não estatais estabelece-se na busca de dominação do cenário da nova reali-
dade global – financeira, econômica, tecnológica –, gerando protagonismos
complexos, como os das corporações transnacionais, às vezes, até obscuros,
como são as organizações terroristas e o crime organizado, chamando a atenção
para a necessidade de condução e gestão firmes – por meio de competente
organização política de vocação universal – a fim de tornar possível o antigo
e comum objetivo da humanidade: a paz entre as nações e os povos do mundo
e sua consequente prosperidade na construção do bem viver.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 21

Esse intento foi declarado e registrado com a criação da Organização das


Nações Unidas, oficialmente em 24 de outubro de 1945; na continuidade, a
maioria dos seus 51 Estados-Membros signatários do documento fundador
ratificaram a Carta de Constituição, hoje estruturada com seis órgãos prin-
cipais: Assembleia Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e
Social, Conselho de Tutela, Corte Internacional de Justiça e Secretariado
(ONUBR, 2016a).
Tal estrutura curiosamente não segue os objetivos declarados na Carta de
1945, nem seus órgãos – como faz o Conselho de Segurança, não adotando
padrão uniforme de atuação e determinação em relação a esses objetivos. Ao
contrário do que se poderia imaginar, os seus citados organismos possuem
composições orgânicas diferenciadas, consequentemente também formas
diferenciadas de uso do poder. Uns mostram-se democráticos (poder para);
outros, autoritários (poder sobre). Enquanto os primeiros utilizam a diplomacia
para a solução de disputas e controvérsias, os segundos se estabelecem pela
força ditatorial do uso de vetos.
Muitas são as minúcias e as sutilezas da estrutura da ONU, levando
a indagar: quais os efeitos do uso da tipologia conformada sob a égide do
poder sobre no Conselho de Segurança relativamente a um eficiente e pleno
desempenho da ONU?
Como o presente livro abordará, com ênfase, apenas um dos órgãos da
ONU – o Conselho de Segurança –, adota-se como categoria de análise o
conceito de poder sobre, para observar e apreender os efeitos de eficácia das
decisões desse organismo sobre a Organização das Nações Unidas, em con-
sideração ao dispositivo do poder de veto conferido ao mencionado Conselho
de Segurança.
O problema desta pesquisa reside nesta indagação: o uso do tipo de po-
der sobre que o Conselho de Segurança utiliza interfere na eficácia das ações
dessa importante organização para a consecução de seus fins, principalmente
para a manutenção da paz na sociedade internacional?
A hipótese observada para esse problema leva em consideração o dilema
do uso do poder sobre, entendendo que este dificulta sobremaneira a realização
dos objetivos de paz consagrados em sua Carta de Constituição, bem como
limitaria a força de seu protagonismo pacifista, de organização de concerto e
vocação universal de equilíbrio e cooperação entre os Estados e de seus po-
vos, circunstâncias que dificultam a execução dos objetivos da Organização
das Nações Unidas, considerada um dos importantes atores não estatais das
Relações Internacionais contemporâneas.
O objetivo geral deste trabalho consiste em abordar o protagonismo da ONU
como importante ator não estatal das Relações Internacionais contemporâneas,
22

sua atual estrutura e os efeitos do poder sobre usado nas atuações de suas funções.
Para alcançá-lo, o tema é estudado com base em três objetivos específicos, que
coincidem com a sequência de ordenação dos capítulos. O primeiro objetivo
consiste em apresentar um estudo de introdução sobre os atores internacionais
– conceito e tipologia; as Organizações Internacionais como atores não estatais
– antecedentes históricos, conceito, evolução e critérios de classificação; e a
questão do poder sobre, precedentes históricos e perspectivas contemporâneas.
O segundo versa sobre a ONU e seus órgãos, com abordagem histórica e de
evolução, que permitem compreender os objetivos e intenção da sua criação,
bem como as questões polêmicas que definiram a forma, composição e as atri-
buições dos seus órgãos. O terceiro aborda o fenômeno do poder e verifica que
a concepção do denominado poder sobre, tal qual utilizada pelo Conselho de
Segurança, limita e dificulta o seu protagonismo de ator não estatal, condutor
da paz entre os seus Estados-Membros e seus povos.
O tema desta pesquisa envolve-se com distintos assuntos: atores in-
ternacionais, estatais e não estatais, organizações internacionais, em que se
encontra inserida a ONU, bem como com a questão da tipologia de poder
usada pelos diferentes órgãos que a compõem. Seu estudo, por esse motivo,
requer ferramental teórico diverso para contemplar as diferentes categorias
conceituais, não apresentando marco teórico único ou teoria de base especí-
fica, mas abrangendo teorias e obras de autores clássicos e contemporâneos
renomados nesses assuntos.
A interdisciplinaridade do tema, contemplando os assuntos desta obra,
mesmo com substancial recorte, abrangerá diferentes referenciais teóricos,
sinalizados entre os atores internacionais, Organizações Internacionais, Or-
ganização das Nações Unidas, poder e a tipologia do poder sobre.
A pesquisa apresenta conceitos de diversos autores no decorrer do seu
texto, mas importante trazer neste momento alguns mais significativos:
– Ator internacional: “aquela unidade do sistema internacional (entidade,
grupo, indivíduo) que tem habilidade para mobilizar recursos que lhe permi-
tem alcançar seus objetivos e capacidade para exercer influência sobre outros
atores do sistema e que goza de certa autonomia” (BARBÉ, 1995, p. 117);
– Organizações Internacionais: “São uma associação, de três ou mais
Estados, criadas por meio de acordos internacionais, para atender objetivos
comuns, e dotadas de estruturas institucionais com órgãos permanentes,
próprios e independentes dos Estados-Membros” (BARBÉ, 2013, p. 192).
“São associações voluntárias de estados, criadas por acordos internacionais,
dotadas de órgãos permanentes, próprios e independentes, responsáveis pela
gestão dos interesses coletivos e capazes de expressar vontade juridicamente
distinta da dos seus membros” (DIEZ DE VELASCO, 1999, p. 43).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 23

– Poder sobre: “toda probabilidade de impor a própria vontade numa


relação social, mesmo contra resistências” (WEBER, 1994, p. 33).
A estruturação da pesquisa tem por princípio trilhar o melhor caminho
para que o objetivo principal seja alcançado, devendo ser elaborada de ma-
neira clara e dirigida.
O primeiro capítulo aborda o tema dos atores internacionais e o poder, a
fim de conhecer e classificar a ONU. Assim, expõem-se o conceito e a tipolo-
gia dos atores internacionais, os antecedentes históricos e morfológicos das
Organizações Internacionais, seu conceito, evolução e classificação. Nesse
mesmo capítulo, trata-se do poder sobre e do poder para, de seus preceden-
tes históricos e perspectivas contemporâneas, que possibilitam entender a
importância contemporânea do estudo do poder, como ele é utilizado pelos
diversos atores que compõem o cenário internacional e qual ou quais tipos
de poder são utilizados pelos órgãos da ONU.
O segundo capítulo tem o principal objetivo de conhecer mais profunda-
mente a ONU. Para isso, em primeiro momento, levantam-se dados históricos
a fim de compreender os motivos que originaram a criação dessa particular
organização. As descobertas demonstram o desejo de paz como antecedente
mais antigo, que resultou primeiro na criação da Liga das Nações, antecessora
das Nações Unidas; mas também evidenciam o desejo de criação de uma or-
ganização que garantisse a paz nos diversos continentes, cada qual com seu
guardião específico, que possui poderes além dos demais Estados participan-
tes. Como segundo aspecto, descrevem-se a composição e as atribuições dos
seis órgãos da ONU, para assim compreender como suas ações são levadas a
termo. Isso possibilitará concluir, juntamente com demais ingredientes, qual
tipo de poder o Conselho de Segurança utiliza.
O terceiro e derradeiro capítulo apresenta, no seu início, o tipo de poder
utilizado pelo Conselho de Segurança – poder sobre –, com fundamento nos
estudos do primeiro e segundo capítulos. Em seguida, com a finalidade de
desvendar os dilemas no cumprimento eficaz dos objetivos de paz entre os
Estados-Membros, apresenta-se o modo de atuação desse órgão, trazendo
as resoluções vetadas e aprovadas e temas negligenciados pelo Conselho de
Segurança, que mostram a existência e o uso do poder sobre, por meio do
veto, de ações afirmativas e da omissão.
A importância do método é no sentido da busca pelo conhecimento de
maneira organizada e focada. Assim, ao tratarmos do nível de abstração mais
alto e em perspectiva mais aberta, a presente obra adota o método indutivo,
“cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez
mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias
(conexão ascendente)” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 106). Em relação
24

ao nível mais concreto de pesquisa e em perspectiva mais específica, seguiu-


-se o método monográfico, que tem por objeto o estudo de certas condições
e instituições para alcançar a compreensão mais abrangente dos fenômenos.
Já a técnica utilizada envolve a coleta dos dados objeto da pesquisa, cor-
respondendo a “um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma
ciência” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 107). Adotou-se principalmente
a documentação indireta, notadamente através de pesquisa bibliográfica3.
Para atingir os objetivos o mais amplamente possível, dentro de limites
de tempo e de acesso a bibliografias particulares do assunto, no mês de abril
de 2016, uma visita às dependências da sede da ONU em Genebra na Suíça
foi de fundamental importância. Na ocasião, além de conhecer as diversas
e suntuosas instalações, com salas diplomáticas onde são realizados debates
que antecedem as reuniões ordinárias entre todos os Estados, que se realizam
no salão da Assembleia Geral, tivemos acesso à biblioteca, que possui inúme-
ras obras a abarcar desde a origem até o atual momento dessa organização.
A liberação de senha própria de pesquisa ao sistema on-line da biblioteca e
a pesquisa nas diversas estantes oportunizaram a seleção de obras que estão
dispostas na pesquisa e trouxeram informações relevantes para o estudo.
A obra justifica-se tanto por aspectos pessoais como acadêmicos, e vem
ao encontro da necessidade de compreensão da nebulosa teia de conflitos e in-
certezas que as relações internacionais enfrentam na atualidade. Nesse sentido,
o tema aqui proposto é relevante e atual, ensejando oportunidade de conhecer
melhor os aspectos da atual estrutura das Relações Internacionais e seus atores
estatais e não estatais – entre os quais está inserida a Organização das Nações
Unidas –, abordando sua natureza, especificidade, objetivos, função e o real
cumprimento de suas atribuições na qualidade de organização internacional
de vocação universal e de ator não estatal permanente e consolidado.
Este estudo e seu oportuno tema – visão inédita – oferecerão oportunida-
des de continuação e ampliação de análises sobre as Relações Internacionais,
atores, Organizações Internacionais e poder, não esgotando esses assuntos, mas
buscando contribuir de forma humilde e pessoalmente muito significativa, por
meio de auxílio de bibliografia especializada sobre esses importantes repertórios.

3 Na elaboração de livro, foram utilizados basicamente os seguintes subsídios metodológicos: OLIVEIRA, Olga
Maria Boschi Aguiar de. Monografia jurídica. 3. ed. Porto Alegre: Síntese, 2003. 200 p. | DEMO, Pedro. Pes-
quisa e construção de conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 214 p. | LAKATOS, Eva
Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
CAPÍTULO I
ATORES INTERNACIONAIS E PODER:
elementos de introdução
O presente capítulo objetiva abordar o tema atores internacionais, com
ênfase em sua conceituação e tipologia, concentrando-se nos estudos dos atores
não estatais, dos quais a Organização das Nações Unidas (ONU) constitui um dos
seus destacados e reconhecidos agentes de natureza universal. Buscará focalizar
essa temática desde uma visão clássica de ator internacional até o momento
contemporâneo e a multiplicidade de atores que transitam nesse novo cenário
global em rede. Esta abordagem tem o fim específico de reunir elementos teóri-
cos para servir de alicerce e fundamentação aos demais capítulos deste estudo.
Em seguida, adentra-se no tema das Organizações Internacionais, foca-
lizando função, natureza, elementos e conceito.
Do mesmo modo, como prólogo do estudo do poder, na sequência,
apresentam-se os conceitos de poder sobre e poder para, gêneros da espécie
poder, fundamentados principalmente nas concepções de Hobbes (2004) e
Weber (1994) para o poder sobre e de Arendt (1970a, 1985) e Parsons (1963)
para o poder para. Este estudo possibilitará a análise acerca da existência ou
não desses tipos do poder dentro do Conselho de Segurança e sobre como são
utilizados, vislumbrando-se, finalmente, suas consequências.

1.1 Atores internacionais: conceito e tipologia


A sociedade internacional contemporânea tem como um de seus prin-
cipais elementos uma grande diversidade de atores, que protagonizam ações
específicas e com fins específicos. Esses atores, seus interesses e objetivos,
emaranhados em um jogo de poder, podem definir os rumos a serem seguidos
por essa citada sociedade em que vivemos. Mas, o que é um ator internacional?

1.1.1 Discussão conceitual


Para Oliveira (2011), este tema é nebuloso nas Relações Internacionais, bem
como no Direito Internacional Público, visto que, durante longo período, a teoria do
estatocentrismo dominou os estudos dessa disciplina. No entanto, essa visão não se
encontra mais amparada junto à atual realidade globalizante, “configurada por uma
multiplicidade de novos atores e atores emergentes” (OLIVEIRA, 2011, p. 45)4.
4 “A realidade contemporânea da sociedade internacional, apresentando-se presentemente globalizante,
constitui-se de complexa e vasta rede de interações, relações de diversos tipos – redes de redes –,
26

Truyol y Serra (2008, p. 139), referindo-se às novas forças transnacionais


e aos novos indivíduos da sociedade internacional, observa que as variáveis
dominantes do Estado, nessa sociedade internacional que desconhece o es-
tatocentrismo e sua qualidade de centro de referência de ator privilegiado
das Relações Internacionais, já não se sustentam. Anotam que grupos sociais
também atuam nesse cenário internacional; chamados de pueblo internacional,
formam o elemento democrático da sociedade internacional.
Cervera (1991, p. 1), em primeira análise, sintetiza que ator é aquele que
atua e desempenha um papel em um contexto social definido previamente. As-
sim, de acordo com essa concepção genérica, a expressão “ator internacional”
assume a dimensão dinâmica da sociedade internacional, em uma realidade
internacional, sem deixar de dar atenção à ação que certos grupos sociais
produzem nessa sociedade. Deste modo, o conceito de “ator internacional”
está teoricamente ligado às noções de “interações” e “relações internacionais”.
Ainda, segundo Oliveira, “no sentido terminológico, a palavra ‘ator’ deriva
do latim – actore – significando o agente de ato, aquele que atua, interpreta,
que desempenha papel previamente definido” (2004, p. 183). Assim, seguindo
tal linha terminológica, um ator internacional

[...] é o agente do ato internacional, aquele que participa das relações


internacionais e da dimensão dinâmica da sociedade internacional, cuja
realidade é formada por um elenco de agentes sociais que a li atuam e se
relacionam, influenciando-se mutuamente e inteirando-se em cooperação
ou em conflito (OLIVEIRA, 2004, p. 183).

Pode-se também dizer, em síntese, que ator internacional é aquele que


atua e produz fluxos em âmbito internacional; em determinados cenários,
trata-se de agentes – grupos sociais e indivíduos – que interagem de diversas
formas e se encontram associados teoricamente às concepções de “relações”,
“influências” e “produção de resultados”.
Mas o assunto não é tão simples quanto parece. Inúmeras discussões bus-
cam definir claramente o conceito de “ator internacional”, ocorrendo de forma
evolutiva. Nesse sentido, segundo Oliveira (2011, p. 31-35), são apresentados
diversos critérios de definição de atores internacionais: a) critério de natureza
territorial – ocupação/dominação dos atores de um espaço geográfico, sendo o
Estado o mais importante ator; b) critério de natureza funcional – capacidade
e eficácia dos atores em funções básicas junto à sociedade internacional: são
exemplos os organismos internacionais, organizações não governamentais
e as empresas transnacionais; c) critério do grau de importância – divisão
conectadas por interessante multiplicidade de diferentes atores – agentes do ato internacional – conhe-
cidos como tradicionais, novos atores e atores emergentes” (OLIVEIRA, 2011, p. 11).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 27

dos atores em primários (principais) e secundários (menor protagonismo): o


Estado e algumas organizações internacionais supranacionais como figuras
primárias e, quanto aos secundários, os grupos sociais com capacidade de
atuação internacional – esse critério já foi muito criticado; d) critério do grau
de autonomia: relaciona-se à capacidade de decisão e atuação internacional,
sem a interferência ou mediação de outros atores internacionais; e) critério de
atores integrados: refere-se ao quadro de atores com fortes vínculos de estabi-
lidade entre seus componentes, juntamente com a supremacia dos interesses
coletivos sobre os particulares de cada um dos seus membros; f) critério de
atores agregados: possuem fraca estabilidade interna, limitada autonomia,
pouca independência de decisão e operacionalidade no âmbito internacional.
Entende-se que a questão conceitual de “ator internacional” está direta-
mente relacionada ao surgimento e tipo de atuação desses agentes, dificultando
uma abordagem mais precisa sobre esses protagonismos. Por outro lado,
observa-se que muitos desses atores, no seu estágio inicial de atuação, limitam
a compreensão de sua habilidade e capacidade em operar junto à sociedade
internacional (OLIVEIRA, 2011, p. 37).

1.1.2 Apresentação tipológica


No estudo da tipologia, observam-se várias classificações. A de Merle
(1981, p. 213) possui três grupos principais: o primeiro é o Estado, que se
mantém como ator estatocêntrico; o segundo são as organizações internacio-
nais, criadas pelos Estados, mas com autonomia própria; o terceiro grupo é
formado pelas forças transnacionais, que se mostram cada vez mais visíveis
no cenário internacional – as empresas transnacionais, por exemplo.
Oliveira (2014, p. 99) refere a classificação transnacional de Richard W.
Mansbach, que distingue os atores entre públicos e privados, estes, por sua
vez, divididos em seis tipos de agentes: atores governamentais interestatais
ou organizações intergovernamentais, atores não governamentais interesta-
tais, os Estados, atores governamentais não centrais, atores intraestatais não
governamentais, indivíduos e pessoas.
Para Oliveira (2014, p. 98-99), os parâmetros necessários para atender a
completude e complexidade da nova sociedade internacional devem atender
os modelos clássico, transnacional e eclético. O clássico é baseado no estudo
de Marcel Merle – Estados, organizações internacionais/intergovernamen-
tais e forças transnacionais –, que não leva em conta o papel do “indivíduo”
tido como ator; para esse autor, a ação internacional só pode ser percebida
e registrada através de manifestações coletivas. O parâmetro transnacional,
trabalhado por R. W. Mansbach, parte de uma visão transnacionalista, o
28

Estado e o território perdem importância (OLIVEIRA, 2014, p. 100). Por fim,


Oliveira (2014, p. 101) destaca o parâmetro eclético, de sua própria criação, o
qual considera a existência dos denominados atores tradicionais, novos atores
e atores emergentes, abordando a imensidade dos fluxos (fluidos e voláteis)
gerados pela tecnologia da informação instantânea, novos materiais e relações
virtuais, que criam um novo mundo digital e virtual, no qual relacionam-se
em rede, transcendendo limites e fronteiras e desconhecendo nacionalidades.
Ao classificar os atores, Oliveira (2011, p. 42) define que os atores tradicio-
nais são os Estados e seus desdobramentos estatocêntricos; já os novos atores são
as organizações internacionais, organizações não governamentais e as empresas
transnacionais; e, por fim, o terceiro grupo, dos atores emergentes, é formado
pelos movimentos sociais não globais e globais, grupos privados, grupos sociais,
indivíduos, opinião pública, partidos políticos, associações religiosas, sindicatos,
igrejas, movimentos de libertação nacional, mídia, crime organizado, terrorismo,
gênero, redes transnacionais e coalizões transnacionais, poderes erráticos.

Os atores não estatais apresentam-se com perfil totalmente autônomo


do controle dos governos centrais, a exemplo dos agentes subnacionais,
podendo emanar do âmbito da sociedade civil, como os movimentos
sociais; da economia do mercado, o caso das corporações transnacionais;
ou ainda de impulsos de cooperação política estatal, criando organizações
internacionais, ou além delas e independendo da direção estatal, como as
Organizações Não Governamentais (OLIVEIRA, 2014, p. 112).

Nota-se uma mudança de amplitude na classificação de “ator interna-


cional” no decorrer dos tempos. Primeiramente, entendidos e reconhecidos
somente os Estados; em seguida, abrindo-se o leque para os novos atores não
estatais; e, mais contemporaneamente, aos emergentes. Importante notar que
cada agente da sociedade internacional deve primeiramente ser analisado por
meio de critérios, principalmente de atuação, desempenho e influência, com-
preendendo sua capacidade, habilidade e poder de autonomia, para ser possível
sua definição e caracterização como ator internacional. E é a esse critério que
este livro filia-se, classificando a ONU como um novo ator internacional não
estatal5, exatamente pela sua atuação e desempenho em diversas áreas.
Essa classificação é de suma importância para as abordagens que serão
delineadas nos próximos capítulos, na perspectiva de entender a estrutura e
o funcionamento da ONU, por meio dos seus órgãos e nos mais diversos ei-
xos de atuação, bem como entender o poder que ela exerce por meio desses,
principalmente via Conselho de Segurança.
5 Para compreender o motivo dessa classificação, ver o item 1.2, que trata das organizações internacionais
como atores não estatais.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 29

1.2 Organizações internacionais como atores não estatais


As organizações internacionais (OIs) são formadas por Estados – governos
–, diferentemente das organizações não governamentais (ONGs), compostas
por indivíduos e grupos privados (BARBÉ, 2007, p. 190).
Em sua obra, Barbé (2007, p. 191) esclarece que utiliza o termo “orga-
nizações internacionais” referindo-se às organizações internacionais governa-
mentais, entendendo que, quando assim mencionado, trata-se das associações
formadas por governos; firma-se, pois, numa corrente acadêmica espanhola,
que tem essa como práxis já conhecida.
Assim, apesar de outros entendimentos, neste livro, utiliza-se a expressão
“organizações internacionais” entendendo-se as organizações internacionais
governamentais (OIs).

1.2.1 Antecedentes históricos


As OIs, atuantes no cenário da sociedade contemporânea, merecem
estudo quanto à sua evolução, de modo a melhor conhecê-las e entendê-las.
Para isso, necessário começar pela sua gênese.
Segundo Diez de Velasco (1999, p. 40), podem ser situadas em um mo-
mento histórico muito preciso, constituído em um longo período de relativa
paz, de grande progresso científico e técnico que a humanidade experimentou,
ocorrido desde o fim da guerra napoleônica até o início da Primeira Guerra
Mundial, ou seja, entre os anos de 1815 e 1914. Foi nesse período que se
desenvolveram as bases para o nascimento dessas organizações modernas,
com a realização das primeiras Conferências Internacionais e, principalmente,
com a construção de estruturas institucionais permanentes. Tais conferências
surgiram no início da diplomacia e com a produção de um novo instrumento
jurídico, o tratado multilateral, ocorrendo o primeiro registro desse fato com
a Ata do Congresso de Viena, em 9 de junho de 1815. Uma das diferenças
desse congresso em relação aos demais é que as ações dispostas na ata não se
encerraram por elas mesmas: houve um acordo para que novas negociações
fossem ocorrendo com periodicidade e ações concretas, primeiramente para
organizar a Europa e criar uma nova ordem europeia e, em seguida, resolver
questões de novos territórios não europeus surgidos com a expansão colonial.
Segundo Seitenfus (2012, p. 75), esse período tornou-se conhecido como
a “era dos Congressos” e fez surgir a diplomacia de alcance multilateral no
continente europeu. A partir de então, os problemas foram debatidos em seu
mais alto nível e, sobretudo, não foram objeto de deliberações unicamente
bilaterais, mas também coletivas.
30

Outros acontecimentos importantes sinalizam e confirmam a tendência


e necessidade da criação de organizações internacionais. Como exemplos, a
Conferência de Berlim em 1885, a Conferência de Paz da Haia em 1899, a
criação do Tribunal Permanente de Arbitragem em 1907 e o Tribunal Inter-
nacional Penal (DIEZ DE VELASCO, 1999, p. 40).
Merle (1981, p. 255) cita a Comissão Central para a Navegação do Reno,
datada de 1815, como a primeira entre as organizações internacionais. Mas, dada
a sucessiva criação de diversificadas OIs, estas tornaram-se um dos elementos
caracterizadores da sociedade internacional contemporânea. Para evidenciar a
perenidade das OIs, o autor menciona que, atualmente, ao tratar de relações
internacionais, deve-se necessariamente considerar a importância de organismos
como a ONU, as instituições especializadas, as reuniões da Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), os trabalhos
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o Pacto de Varsóvia etc.
Ao analisar os reflexos da criação dessas novas organizações, Merle
(1981, p. 255), afirma que, de fato, a multiplicação desses organismos criou,
por cima da rede tradicional das relações diplomáticas, um novo contorno de
comunicação, que oferece aos Estados um quadro permanente para o trata-
mento coletivo dos seus problemas. Nesse sentido, enfatiza que a passagem
das discussões do campo diplomático convencional para o campo das discus-
sões por meio de fóruns permanentes ocorreu de forma quase imperceptível.
Percebe-se que tanto Merle (1981) como Diez de Velasco (1999) men-
cionam as negociações diplomáticas como o espaço em que se formaram as
ideias que originaram o nascimento das OIs. Nas reuniões diplomáticas, que
eram realizadas em momentos estanques, percebeu-se a necessidade de órgãos
para garantir agendas permanentes de negociação e também para cuidar da
execução das decisões tomadas nessas sessões.
Disso, uma dúvida parece naturalmente surgir: as OIs são planos diplomáticos
ampliados, extensão das negociações dos Estados? Se isso se confirmar, a clas-
sificação das OIs como ator internacional não estatal estaria incorreta, principal-
mente pela impossibilidade de autonomia, elemento necessário a um ator. Assim,
é necessário um pouco de empenho sobre esses conceitos para clarear o assunto.
Para responder a tal dúvida, quanto à autonomia das OIs, volta-se para o
período em que o ator principal das relações internacionais era hegemônico,
ou seja, quando o Estado dominava o palco internacional, basicamente no
século XIX e início do século XX – ponto culminante desse status.

1.2.2 Principais elementos


Pastor Ridruejo (2015, p. 703-704) observa que, se a sociedade interna-
cional era unicamente de justaposição de Estados soberanos, na atualidade,
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 31

por mais que essa estrutura ainda permaneça, deve-se notar também outros
dois tipos de sociedade: aquela baseada em interesses comuns e a sociedade
parcialmente organizada. Alerta, ainda, para a necessidade de não se subesti-
mar, de modo algum, o impacto da presença das organizações internacionais
na sociedade internacional contemporânea e no direito internacional.
Esse reconhecimento da existência de mais atores no cenário internacional
contemporâneo – um deles, as organizações internacionais –, não só por parte de
Ridruejo (2015) mas também por outros autores como Diez de Velasco (1999),
Merle (1981), Barbé (1995, 2007, 2013), entre outros, comprova que os Estados
abriram mão de parte da sua autonomia, repassando-a às OIs, criadas por eles
mesmos. Essa transferência de atribuições estatais às OIs, na teoria, configura,
objetiva o bem comum – cooperação –, buscando benefício a todos os Estados
integrantes de uma OI, com a finalidade de resolver assuntos estratégicos e
específicos, dependendo do objetivo de cada uma dessas coletividades.
Nota-se que, se Estados aceitam mitigar seu poder ao criar as OIs, no
entanto, reservam participação indireta ao conceder-lhes funções limitadas e
definidas nas suas cartas de constituição, não lhes permitindo autonomia plena.
Ridruejo (2015, p. 705) anota que o caráter interestatal de uma organização
internacional supõe que os órgãos mais importantes são de composição in-
tergovernamental, ou seja, estão compostos por representantes dos governos
dos Estados-Membros. No entanto, existem outros órgãos, como a secretaria
geral, que obviamente não representam um governo específico; igualmente
órgãos judiciais, formados por pessoas independentes que atuam de forma
pessoal, e órgãos parlamentares eleitos, inclusive por votação direta entre os
cidadãos dos Estados-Membros, etc. Essa complexa estrutura, comum nas OIs,
proporciona autonomia e independência em relação aos Estados-Membros, se
não em todos os órgãos, na maioria deles, dando vida própria às OIs.
Merle, ao estudar os aspectos comuns das OIs, afirma que “são cria-
das e constituídas por Estados e animadas por representantes dos governos
qualificados para agir em nome desses Estados” (1981, p. 257). Outro ponto
importante para o autor é o fato de que existe uma ausência de delegação de
poderes nos órgãos, principalmente administrativos, que garante a permanência
efetiva da instituição. Como exemplo, cita os “secretariados”, que não passam
de peças administrativas encarregadas das tarefas de ligação e de execução,
mas sem autoridade possível de impor-se aos Estados-Membros, restando
somente exercer autoridade moral – e isso somente quando as circunstâncias
possibilitam essa atitude, normalmente quando o equilíbrio de forças oferece
um campo de influência a uma personalidade também influente. Merle arre-
mata dizendo que, “em seu conjunto, as OIs são, portanto, dominadas pelos
Estados que as fundaram e que são seus membros exclusivos” (1981, p. 257).
32

Essas afirmações resultam em uma asserção cabal: essas instituições


nada mais seriam que uma extensão da vontade de seus membros, os Estados,
em que o poder de decisão está nas mãos dos delegados mandatados pelos
governos desses Estados.
Observando-se as referidas alegações, é possível afirmar que as OIs não
podem ser consideradas atores internacionais, pelo fato de expressarem a vontade
dos Estados, os quais são, sem discussão, considerados atores internacionais
e protagonistas principais do dinâmico ambiente da sociedade internacional.
No entanto, Merle continua sua análise para responder à questão “São as OIs
‘atores’ do sistema internacional?” (1981, p. 261). Para tanto, busca soluções
oferecidas pelo direito internacional, que já se debruçou sobre esse assunto,
definindo-o diante da sentença6 decretada pelo Tribunal Internacional de Justiça,
na data de 11 de abril de 1948, que tratava da indenização das perdas sofridas
a serviço das Nações Unidas: ficou definido que esta gozava da personalidade
internacional e capacidade necessária ao exercício das suas funções.
Essa qualidade de sujeito é um ponto favorável às OIs, mas, ainda segundo
Merle (1981, p. 261), os juristas manifestavam reticências, o que revelava
a dificuldade para resolver tal questão, especialmente pelo fato de que, para
se falar de um ator das relações internacionais, seria necessário que as OIs
fossem capazes de cumprir um papel específico, sem a influência direta dos
Estados-Membros. Para comprovar essa ocorrência, Merle (1981) sugere
uma análise sistêmica, de input-output e feedback, medindo a capacidade de
decisão e o poder de influência específico das OIs.
Ao analisar as OIs, Merle (1981, p. 263) constata que elas não são bem do-
tadas de capacidade de decisão, visto que, na maioria dos casos, só dispõem de
um poder declaratório de recomendação e, em alguns casos, considerado fictício,
já que, para sua real efetivação, dependem de acordos prévios ou posteriores dos
Estados interessados. Exceção a essa regra é o poder do Conselho de Segurança
da ONU, o único a dispor, em teoria, de capacidade impositiva de suas decisões,
o que não significa perfeição desse órgão, dada a existência do emprego do veto
pelos membros permanentes desse Conselho, que fragiliza sua atuação.
Ridruejo (2015, p. 629) cita os meios não judiciais (políticos) de solução
de controvérsias: negociações diplomáticas, bons ofícios, mediação, inves-
tigação dos fatos e conciliação. Com relação às negociações diplomáticas,
o fim da lide se dá entre os próprios Estados; nos demais casos, a lide se re-
solve por meio da atuação de um terceiro. Lembra também da possibilidade
de recorrer à ajuda das organizações internacionais; porém, na realidade, os

6 Ao julgar o direito, para a ONU, de apresentar uma queixa destinada a cobrir os prejuízos causados pela
perda de um dos seus agentes (no caso, o conde Bernadotte, mediador da ONU, na Palestina, assassinado
no exercício das suas funções), a Corte Internacional de Justiça teve de se pronunciar sobre a personali-
dade jurídica da ONU (MERLE, 1981, p. 261).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 33

órgãos dessas organizações limitam-se a recomendar a aplicação de algum


meio tradicional – jurisdicional ou não – ou eles mesmos fazem o papel de
terceiro na solução da controvérsia por meios tradicionais não jurisdicionais.
Todavia, não se pode, segundo Merle (1981), prender-se a um enfoque pura-
mente formalista. Mesmo sendo correto dizer que uma organização internacional
não consegue impor uma decisão a um dos seus membros, a organização pode agir
por meio de uma série de procedimentos oblíquos que atinjam com eficácia o fim
esperado. “O caráter facultativo das ‘recomendações’ não implica necessariamente
sua ausência de efeitos [...]” (MERLE, 1981, p. 264); não são somente obrigações
jurídicas que modificam as relações: as questões morais, o discurso reiterado de
recomendações sobre princípios e atitudes a serem seguidas pesam nas decisões
futuras dos Estados repreendidos – é o peso moral que acaba vencendo.
Ademais, nada nasce pronto. O Estado7 não foi sempre o ator principal das
relações internacionais, ele evoluiu naturalmente e transformou-se no “Leviatã”,
nos termos de Thomas Hobbes8. De forma semelhante, as OIs, criações recentes9,
também devem evoluir, o que já se vê em muitos casos, como, o melhor exemplo, a
União Europeia, com poderes supranacionais e órgão judiciário próprio e adulto. Em
números, também observa-se o crescimento dessas entidades: “atualmente, o número
de OI em atividade é superior ao de Estados soberanos, sem levar em consideração
as sociedades e instituições não governamentais” (SEITENFUS, 2012, p. 36).
Cada vez mais, os Estados experimentam um constante enfraquecimento,
principalmente pelos desafios oriundos da globalização. Não somente as OIs
diminuem seu poder, mas os demais atores internacionais surgem e reforçam-se
constantemente – como as corporações transnacionais, que não respeitam nem
mesmo os maiores Estados mundiais. Nesse novo cenário internacional, é com
cooperação em vários setores, formação de blocos estatais, criação de organizações
especializadas – como a União Postal Universal (UPU) –, etc. que os Estados
buscam manter seu domínio de ação e decisão no cenário internacional, ou pelo
menos exercer um contrapoder à nova cena internacional que se desenha.

7 “A organização das sociedades humanas foi impregnada, a partir de meados do século XVII, pelo modelo do
Estado que alcançou seu apogeu no século XIX e, apesar dos prematuros anúncios de seu declínio, constitui
modelo exclusivo de organização dos agrupamentos humanos. Percebido por muitos como sendo uma simples
categoria histórica e um fenômeno passageiro destinado a desaparecer, o Estado adquiriu, no século XX, ao
contrário, densidade e se multiplicou esquartejando a totalidade da face da Terra” (SEITENFUS, 2012, p. 35-36).
8 A contribuição ímpar de Hobbes vem da criação do Estado-Nação, o que ele identificou semelhante à figura
da mitologia grega do Leviatã, o qual teria o “monopólio da violência legítima”, para administrar as lutas
pelo poder entre os seus indivíduos, entre estes e o Estado, bem como as lides entre os próprios Estados
(OLSSON, 2014, p. 138-9).
9 Contudo, para fazer frente à complexidade crescente das relações internacionais – extraordinária teia que
envolve múltiplos aspectos e interesses –, os Estados decidiram criar novas instituições decorrentes dos
liames permanentes que surgem entre eles e que fossem capazes de levar adiante ações de interesse
comum. Portanto, essas organizações constituem um elemento novo externo aos Estados, detentoras de
uma existência objetiva de natureza internacional. Em outras palavras, o fenômeno que nos interessa é
algo decorrente da vontade do Estado mas que se encontra além dele (SEITENFUS, 2012, p. 35-36).
34

Desta forma, com estrutura própria, bem como pelos reflexos da sua atuação
na sociedade internacional contemporânea, as OIs, mesmo que representando
Estados, podem ser consideradas independentes destes, como atores interna-
cionais não governamentais. Apesar de criadas pelos Estados, possuem auto-
nomia de decisões, sedes próprias, agendas e ações particulares – muitas vezes
antagônicas às de alguns dos Estados-Membros –, evidenciando sua autonomia.

1.2.3 Conceito e evolução


A morfologia das OIs – por constituir um fenômeno complexo – traz
uma dificuldade de construção conceitual, como se observa no pensamento
de Ridruejo (2015, p. 703), que nota a necessidade de uma análise sob várias
óticas disciplinares nas quais esse ator atua – por exemplo, conhecimentos
de Relações Internacionais, Ciências Políticas, Direito Internacional, entre
outras áreas –, buscando sua melhor compreensão.
Oliveira (2005, p. 203) destaca o tardio surgimento das organizações
internacionais no marco do sistema de Estados e, de outra parte, anota que, em
consequência das suas diversificadas características e por tratar-se de sujeitos
em crescente evolução, destacando-se sua classificação em primeira, segunda
e terceira gerações10, apresentam dificuldades para os autores em torno de
consenso acerca de um estatuto conceitual global.
10 Assim, para problemas de ação coletiva entre os Estados e suas economias em constante contato, são
criadas as primeiras Organizações Internacionais. Estas OIs de primeira geração, como as Uniões Admi-
nistrativas e as Comissões Fluviais, estão ligadas às necessidades de escoamento de mercadorias entre
diferentes territórios e ao uso comum de rios na Europa. São consideradas de primeira geração em razão
de não possuírem órgão e função política, mas apenas função operacional, sendo exemplo de OIs conhe-
cidas após o advento da ONU como Agências Especializadas. No mesmo século XIX, quando floresceram
essas OIs de primeira geração, ficaram marcantes as Conferências Internacionais, fenômeno cuja multipli-
cação depois do Congresso de Viena de 1815 passou a implicar sobremaneira a Liga das Nações. O final
do século foi marcado por fase descendente dos ciclos de Kondratieff, e o acordo imperialista desaguou
em grandes diferenças entre as potências e dificuldades na manutenção da paz. Nesse cenário, surgiram
as Conferências de Haia, marcadas para ocorrerem em 1899, 1907 e 1915 – não tendo esta última se efe-
tivado em consequência da eclosão do conflito internacional. A Liga das Nações foi o resultado institucional
das negociações do pós-Primeira Guerra Mundial, em 1919, fazendo parte do Tratado de Versalhes, que
definiu os termos de paz e a tentativa de uma nova arquitetura de poder e ordem no sistema internacional.
Ela inaugurou uma era de OIs de segunda geração, tendo, portanto, sido influenciada pelas estruturas
institucionais inicias no século anterior, relevante na sua formação, no seu histórico e na sua crise (COSTA,
2015, p. 185-186). Muito significativa foi a articulação, já na década de cinquenta, da integração dos países
da Europa ocidental com a constituição das Comunidades Europeias. Desde a sua origem possuidoras do
instituto da supranacionalidade, essas comunidades podem ser consideradas como OIs de terceira gera-
ção, dando impulso ao fenômeno do regionalismo para integração regional em praticamente todo o mundo,
a partir da década de 1960. Apesar de sua especificidade e importância adquirida na arena internacional,
a integração europeia ainda é um campo muito fértil de debate acerca das características de sua institucio-
nalização, podendo ser considerada tanto uma OI sui generis como uma Confederação de Estados, algo
como os “Estados Unidos da Europa” (COSTA, 2015, p. 192-193).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 35

Outro ponto importante para definição das OIs, segundo Ridruejo (2005,
p. 704), é a necessidade de verificação de certos elementos característicos que
devem fazer parte dessa definição, sendo um consenso entre os doutrinadores
a existência de seis objetivos: caráter interestatal; base voluntária; órgãos
permanentes; autonomia para tomada de decisões; competências próprias;
cooperação internacional institucionalizada11. E é a essa corrente que Barbé
(2013, p. 192) se filia, dizendo que as organizações internacionais são uma
associação, de três ou mais Estados, criada por meio de acordos internacio-
nais, para atender objetivos comuns, e dotada de estruturas institucionais com
órgãos permanentes, próprios e independentes dos Estados-Membros.
Seitenfus, tratando da formação das OIs, anota que são “uma associa-
ção voluntária entre Estados, constituída através de um tratado que prevê
um aparelhamento institucional permanente”, bem como dotada “de uma
personalidade jurídica distinta dos Estados que a compõem”; já quanto ao
motivo de criação, elas têm o “objetivo de buscar interesses comuns, através
da cooperação entre seus membros” (2012, p. 56-57).
Para Diez de Velasco, organizações internacionais “são associações
voluntárias de Estados, criadas por acordos internacionais, dotadas de órgãos
permanentes, próprios e independentes, responsáveis pela gestão dos interesses
coletivos e capazes de expressar vontade juridicamente distinta da dos seus
membros” (1999, p. 44). Ao construir esse conceito de “OI”, o autor também
adere à corrente dos que optam em observar alguns elementos essenciais
comuns nessas organizações; no entanto, diferentemente de Ridruejo (2005,
p. 704), menciona somente quatro características essenciais: uma composição
essencialmente entre Estados; uma base jurídica geralmente convencional;
uma estrutura orgânica permanente e independente; e autonomia jurídica12.
Nesse contexto, este estudo, a fim de entender o uso do poder no Conselho
de Segurança, abraçará o conceito desenvolvido por Barbé (2013, p. 192), já
delineado anteriormente. A escolha justifica-se devido ao conceito de Barbé
(2013) atender os elementos característicos das OIs.

1.2.4 Critérios de classificação


Quanto à classificação das OIs, pode-se dizer que, como em outros as-
pectos dessas organizações, o tema é complexo, devido à grande diversidade
desses organismos.
Para Diez de Velasco (1999, p. 48), a necessidade dessa análise é para
fins pedagógicos e com o intuito de agregar determinadas organizações em

11 Ver mais sobre os seis objetivos característicos das OIs na obra RIDRUEJO, José Antonio Pastor. Curso de
derecho internacional público e organizaciones internacionales. 19. ed. Madrid: Tecnos, 2015. p. 704-707.
12 Ver a definição de cada característica em DIEZ DE VELASCO, Manuel. Las organizaciones internacio-
nales. 12. ed. Madrid: Tecnos, 1999. p. 44-47.
36

grupos que possuem coincidência de alguns aspectos predominantes e em


determinado momento histórico, ressalvando que se tem conhecimento da
variedade híbrida de algumas OIs. Assim, o autor apresenta as seguintes
classificações: por seus fins, gerais e específicos; em razão da composição:
organizações de âmbito universal ou regional; e segundo suas competências:
organizações de cooperação e de integração ou de unificação.
Ridruejo (2015, p. 712), levando em conta as opiniões mais relevantes
e fundamentadas, propõe três grandes critérios de classificação: o primeiro
refere-se à participação: organizações universais e restringidas; o segundo é
matéria que versa sobre a cooperação: organizações com competências gerais
e competências específicas; e, em terceiro, quanto aos métodos de cooperação:
organizações de coordenação, de controle, operacionais e de integração13.
Com os elementos característicos das OIs, bem como os critérios de clas-
sificação definidos, resta analisar onde a ONU, objeto principal deste estudo,
enquadra-se. Assim, a análise será embasada nos elementos característicos
e nos critérios de classificação lecionados por Ridruejo (2015), devido a sua
amplitude e abrangência14.
Portanto, observando-se as características das OIs, tem-se que a ONU é uma
Organização Internacional, pois possui todos os elementos necessários para tal
reconhecimento, ou seja, é uma associação de Estados, com adesão facultativa à
carta de constituição, permanente (com sedes administrativas para a manutenção
das atividades), possui competências próprias dispostas no tratado de criação
e, por fim, exerce atuação internacional de forma institucionalizada a fim da
cooperação internacional para alcançar diversos objetivos, sendo que o principal
é a manutenção da paz mundial15. Quanto a sua classificação, visualiza-se que
a ONU é uma organização “universal”, tem abrangência mundial e “compe-
tências gerais”, por tratar de diversos assuntos que envolvem seus membros,
por meio de seus seis órgãos. No terceiro critério – método de cooperação –,
sua classificação atinge todos os métodos: coordenação, controle, operacional
e integração, relativamente pela amplitude que alcançou desde sua criação –
possui atualmente inúmeras agências, fundos e programas16.
Esses elementos de definição das OIs conformam teorias iniciais para
os próximos pontos estudados.
13 Ver mais sobre os critérios de classificação das OIs na obra RIDRUEJO, José Antonio Pastor. Curso de de-
recho internacional público e organizaciones internacionales. 19. ed. Madrid: Tecnos, 2015. p. 712-715.
14 A escolha dos seis elementos característicos apontados por Ridruejo (2015, p. 712), a nosso ver, apresenta
melhor definição e amplitude da divisão, principalmente por conter o requisito da cooperação, que é um dos
atributos do poder para, conforme veremos no item 1.3.
15 Ver mais sobre a ONU no capítulo II.
16 Ver mais sobre a ONU no capítulo II.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 37

1.3 A questão do poder

1.3.1 Precedentes históricos


O fenômeno do poder, como algo fluido e não visível, requer que se faça ampla
reflexão sobre suas diversas perspectivas, para então percebê-lo e desvendá-lo sob
seus copiosos aspectos. Trata-se de algo que se desenvolveu desde os primeiros
momentos da humanidade, quando o poder másculo do homem sobrepunha-se à
feminilidade da mulher; em alguns aspectos, esse poder ainda perdura até os dias
atuais, ensejando debates de gênero contemporâneos nesse sentido.
Arendt também reconhece a existência do poder desde a Antiguidade:
“coincidem elas também com os termos usados desde a antiguidade grega
para definir as formas de governo como o domínio do homem sobre o homem
de um ou de poucos – na monarquia e na oligarquia, dos melhores ou dos
muitos na aristocracia e na democracia” (1985, p. 23-24).
Aristóteles, prosélito de Platão, ao descrever o Estado e seu governo, ob-
servou o comportamento do poder utilizado pelas tradicionais figuras estatais:
“enganam-se os que imaginam que o poder de um rei ou de um magistrado
de República só se diferencie do de um pai de família e de um senhor pelo
número maior de súditos e que não há nenhuma diferença específica entre
seus poderes” (1998, p. 1).
Nos escritos bíblicos, a luta pelo poder está presente em inúmeros mo-
mentos, entre Deus, representando o bem, e Satanás, o Dragão, a Serpente
etc., que é a figura do mal, como se observa em Apocalipse: “[...] aconteceu
então uma batalha no céu. Miguel e os seus anjos guerrearam contra o Dragão.
[...] Esse grande Dragão, a antiga Serpente, é chamado Diabo ou Satanás”
(12:7-9, 1990, p. 1.528).
No campo político, o poder foi observado e descrito por Maquiavel na sua
obra mais insigne, O Príncipe. Nela, retratou os íntimos modus operandi dos
príncipes para alcançar e/ou manter o poder (MAQUIAVEL, 2012, p. 107-108).
Já a partir das ideias de Hobbes (2004) e de Weber (1994), o poder teve ênfase
e produção teórica valiosa, mantendo-se vivo e importante durante a passagem
do período moderno ao contemporâneo. A contribuição ímpar de Hobbes (2004)
vem da criação do Estado-Nação, identificando-a semelhante à figura da mitologia
grega do Leviatã, o qual teria o “monopólio da violência legítima”, para administrar
as lutas pelo poder entre os seus indivíduos, entre esses e o Estado, bem como as
lides entre os próprios Estados. Weber (1994), por sua vez, identificou o poder
dentro de uma sociedade, alcançando diversos níveis entre mais fortes e mais
fracos e entre suas diversas formas – burocrática, carismática etc. –, e variadas
dimensões –, política, econômica, jurídica etc. (OLSSON, 2014, p. 138-139).
38

Foucault (1999a), em primeiro momento, não tinha a intenção clara


de estudar o tema do poder; sua obra foi-se formando, tornando-o um dos
mais importantes autores do assunto. Sua pesquisa sobre a loucura, a fim de
descobrir o surgimento da clínica médica, evoluiu e conseguiu, por meio de
uma análise própria e com abordagem genealógica, chegar a uma conceitu-
ação que possibilitou dar conta da constituição do sujeito na trama histórica
(FOUCAULT, 1999a, p. 7). Sobre a existência do poder, Foucault (1999a, p. 7)
anota: “[...] não acho que fui o primeiro a colocar esta questão. [...] Quando
agora penso nisto, pergunto-me de que podia ter falado, na História da Lou-
cura ou no nascimento da Clínica, senão do poder”. Mas o autor não só falou
de “poder” como tradicionalmente o assunto era tratado pelos da direita e da
esquerda – “pela direita, estava somente colocado em termos de constituição,
de soberania etc., portanto em termos jurídicos; e, pelo marxismo, em termos
de aparelho do Estado” (FOUCAULT, 1999a, p. 7) –, adentrou “nas malhas
mais finas da rede do poder” para entender a “mecânica do poder”. Esse foi o
grande diferencial de Foucault (1999a), ver o microfuncionamento do poder17,
nos mais diversos meios em que ele atua.
A partir dessa perspectiva de análise, descobrem-se a cada momento
novos contornos do poder nas mais diversas áreas. Foucault (1999b), ao
pesquisar a arquitetura dos hospitais e das prisões, utilizou a ideia de Jeremy
Bentham do “panopticon”, local fechado, que ao mesmo tempo estava visível
aos olhos dos vigias. Foucault (1999b, p. 210) também descobriu algo seme-
lhante ao “panopticon”, era o que ocorria nos dormitórios da Escola Militar
de Paris, em 1751: cada aluno ficava em quartos envidraçados, podendo ser
visto durante a noite sem ter contato com os demais estudantes, nem mesmo
com os empregados. Segundo Foucault (1999b), Bentham utilizou o termo
“panopticon” e descobriu uma forma fácil de exercício do poder, que vigia
mesmo quando não se está vigiando. Isso é utilizado em vários locais, como
hospitais, prisões, fábricas e escolas. Esse é o poder clássico, que não é o único.
Foucault (1999a, p. 221-222) viu o poder como uma questão muito mais
complexa, densa e mais difusa. Nesse ponto é que passou a observar o poder
nos microlugares, como nas fábricas, onde a divisão do trabalho para o sur-
gimento da Revolução Industrial foi inevitável; bem como na modernização
dos exércitos, ocorrida após uma reestruturação do poder interno – hierarquia
em forma de pirâmide –, existente nos mais diversos organismos ou corpos
sociais, que se sustentam mutuamente por meio dessas distribuições de poder,
o que os possibilita a continuidade da manutenção do poder.
17 Ver mais em FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Trad. Roberto Machado. 14. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1999.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 39

1.3.2 Perspectivas contemporâneas


Na contemporaneidade, os estudos sobre poder fortalecem-se sobrema-
neira devido a certas variáveis, como os conflitos entre Estados; também pelo
protagonismo de novos espaços abaixo na hierarquia, e à sua margem; e pelo
surgimento dos emergentes atores não estatais. Essas variáveis ganham um
olhar mais apurado dos pesquisadores. Tais interações necessitam obrigato-
riamente de poder. Mas o que é poder nos dias atuais? Como é esse poder?
O contexto desse tema é amplo, enigmático e mutável. O assunto não
é de fácil compreensão. Diante da difícil elucidação dos fatos concretos que
envolvem as relações internacionais, necessário focalizar as interações entre
atores estatais e não estatais entre Estados no cenário internacional e seus
contornos no decorrer da evolução. As mudanças nos meios que definem o
poder e como é utilizado ao longo dos tempos e na contemporaneidade estão
entre os principais fatores a serem observados.
A reflexão sobre tais alterações pode se dar com base em alguns fatos
empíricos: países que possuíam um arsenal bélico superior aos demais Estados
no século XIX, por exemplo, Estados Unidos da América (EUA) e a Rússia,
eram possuidores de poderes de pressão sobre os demais. Na atualidade,
principalmente com o avanço da telemática e das redes18, e consequentemente
de um novo processo de globalização, esse mesmo poder bélico não é por si
só suficiente para determinar a hegemonia estatocêntrica, ou seja, um Estado
pode ser superior belicamente a outro mas depende ou interdepende dos de-
mais nos aspectos econômicos e financeiros, por exemplo.
O poder sempre se fez presente no mundo, como mencionado anterior-
mente. Sempre também foi muito debatido e analisado pelo homem, tanto no
aspecto individual, de ser humano, quanto de grupo ou sociedade – Estado –,
mesmo não sendo tratado como tema próprio. Todos querem entender o que é
o poder e como é exercido exatamente para dominar ou manter-se protegido
dos dominadores. Essa perspectiva refere-se ao aspecto prático do poder.
Registram-se, nesse viés, as anotações de Olsson (2007, p. 46) ilustrando
que, além do aspecto prático (practical), há o moral (moral) e o valorativo
(evaluative). “O contexto ‘prático’ significa que o interlocutor quer conhecer
os ‘poderes’, seus e dos outros, tendo em vista a utilidade prática que pode
resultar em seu favor ou não” (OLSSON, 2007, p. 46). O sentido moral está
intimamente ligado à inclusão e participação do indivíduo na sociedade sob
a dimensão de responsabilidades íntimas morais daquele grupo. “Significa o
âmbito de atribuições de responsabilidade perante a sociedade” (OLSSON,
2007, p. 47). O terceiro aspecto está atrelado à posição hierárquica de cada

18 Ver CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
40

um em uma sociedade, às posições diferenciadas na quantidade de poder que


os indivíduos possuem sobre seus semelhantes da mesma sociedade. “Este
debate envolve não apenas ‘quanto’ poder há, mas essencialmente ‘como’
e por qual motivo ele está atribuído aos sujeitos” (OLSSON, 2007, p. 49).
Verificar como o poder se dá na sociedade parece ser um caminho interes-
sante para entendê-lo. Assim, há quem desejou medir o poder de cada Estado
com fórmulas, sendo a mais conhecida a criada por Ray S. Cline, também
denominada Equação do Poder: P = (C+E+M) x (S+W) – em que P: poder;
C: massa crítica; E: capacidade econômica; M: capacidade militar; S: saber;
W: vontade (HENRIQUES; PARADELO, 2006, p. 113).
Outros autores classificam o poder em poder duro (hard power) e poder brando
(soft power). Essa classificação foi usada por Joseph Nye Junior em sua obra, de
2002, O paradoxo do poder americano. O citado autor também usa o termo “poder
inteligente”, que de forma simples congrega a combinação do poder brando e do
poder duro, em busca de alcançar os objetivos desejados. Nye afirma: “[...] poder
inteligente é um termo que eu desenvolvi em 2003 para contrariar a percepção
equivocada de que o poder brando por si só pode produzir política externa eficaz”
(2009, p. 1). E declara que “o poder é a capacidade de afetar o comportamento
dos outros para conseguir o que se quer” (NEY JUNIOR, 2009, p. 1).
Para explicar o seu pensamento, Nye Junior (2009, p. 1) indica a exis-
tência de três formas básicas capazes de afetar o comportamento dos outros
para conseguir o seu intento: coerção, pagamento e atração. Em seguida,
associa essas formas com o poder duro e o poder brando: poder duro é o uso
de coerção e de pagamento; poder brando é a capacidade de obter resultados
preferidos através da atração. No entanto, em alguns casos, não é possível
utilizar somente um dos meios, por isso, se um Estado pode definir a agenda
do outros ou moldar as suas preferências, pode economizar muito em cenouras
e paus19. Mas, não sendo possível, haverá a necessidade de estratégias inteli-
gentes combinando ambas as ferramentas. Em síntese, existindo a necessidade,
é mais inteligente utilizar o poder duro e o poder brando conjuntamente, a
fim de afetar o comportamento dos outros para conseguir o que se deseja.

1.3.3 O poder sobre e o poder para


Outros conceitos relevantes são as categorias de poder sobre, entendido
como conflitual, e poder para, significando poder consensual. Segundo Olsson
19 Trata-se de um ​dito popular originário da língua inglesa que se refere ao sistema em que você pode
recompensar em alguns momentos ou recorrer a ameaças com punição em outros. Na linguagem fi-
gurada, entende-se que se pode recorrer a recompensa (oferecendo cenouras) ou a métodos mais
violentos (pauladas) (Disponível em: <http://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/carrot-and-stick>.
Acesso em: 19 nov. 2016).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 41

(2007, p. 148), “pode-se reconhecer que Weber foi um dos primeiros teóricos
a sistematizar o poder como uma categoria conflitual”20; já o poder consensual
“remonta a Aristóteles”21.
Na concepção assimétrica (poder sobre), “o poder pressupõe conflitos
de interesses em torno de vantagens, estabelecendo relação de controle, supe-
rioridade ou subordinação de um agente sobre o outro, no qual um ganha na
proporção da perda do outro, como um jogo de soma-zero”. Já na concepção
simétrica (poder para), “o poder é uma ‘capacidade coletiva’ firmada sobre
um consenso, em que todos podem ganhar como um jogo de soma positiva.
Concebe, portanto, um poder para, fundado na ação ou estrutura coletiva e
de natureza produtiva” (DYRBERG, 1997, p. 2-3).
Do ponto de vista de como o poder se expressa em uma sociedade, tem-
-se a classificação de poder pela interação ou constituição, apresentada por
Barnett e Duvall (2005, p. 9). Quando o poder se dá pela interação, funciona
por meio de relações comportamentais, que, por sua vez, afetam a capacidade
dos outros para controlar as circunstâncias de sua existência; nessa concepção,
o poder se torna um atributo que um ator possui e pode usar conscientemente
como um recurso para moldar as ações ou condições da ação dos outros. Nas
relações sociais de constituição, o poder funciona por meio de relações sociais
que analiticamente antecedem as posições sociais e até mesmo os próprios
sujeitos (atores); são as relações sociais que organizam as posições sociais e
que fazem originarem-se novos atores, com capacidades e interesses próprios.
As relações constitutivas não podem ser reduzidas a atributos de ações ou
interações de atores preexistentes. Aqui, o poder é basicamente social, que
constitui, que faz brotar. Assim, o trabalho dos constitutivistas busca exami-
nar e analisar como as relações sociais são responsáveis pela ​​ produção de
determinados tipos de atores (BARNETT; DUVALL, 2005).
O conceito de “poder” enraizado no comportamento de interação aponta
para exercício do controle sobre os outros atores; ele é, então, poder sobre. Já
o conceito de “poder” ligado a relações sociais de constituição, em contraste,
considera que são as relações sociais que definem quem são os atores e quais
as capacidades e as práticas que estão socialmente habilitados a realizar. Esse
conceito, com foco na produção social de atores, constitui o poder para, se-
gundo os autores citados (BARNETT; DUVALL, 2005, p. 9-10).
20 Para Weber, poder é “toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra
resistências” (1994, p. 33).
21 Na obra aristotélica, não existe expressamente o termo poder para, mas intrinsicamente observasse a sua exis-
tência. Aristóteles (2006), ao afirmar que o “homem é um animal cívico”, entende que tem o poder da palavra e
que naturalmente se integra às famílias, cidades, Estado. Assevera que “As sociedades domésticas e os indiví-
duos não são senão as partes integrantes das Cidades, todas subordinadas ao corpo inteiro, todas distintas por
seus poderes e suas funções, e todas inúteisquando desarticuladas” (ARISTÓTELES, 2006, p. 5).
42

Ressalta-se que “essa nomenclatura e a primeira tentativa de dissociar as


visões de ‘poder para’ e de ‘poder sobre’ foi desenvolvida por Hanna Fenichel
Pitkin” (GOEHLER, 2000, p. 42).
Pitkin (1972, p. 276 apud GOEHLER, 2000, p. 42), analisando o poder
com uma abordagem wittgensteiniana, anota que, para um melhor entendimento,
o que deve ser observado não é o que é o poder, mas sim o que significa a pa-
lavra “poder”. Esclarece que sua origem etimológica vem do francês pouvoir
e do latim potere – significando “ser capaz”. Para a autora, “o poder significa
capacidade, potencial, habilidade e recursos”. Mas alerta: é importante fazer
uma distinção entre dois tipos de poder: o poder para e o poder sobre.
O poder para ou poder consensual teve relevante importância para Arendt
(1985), que, ao estudar a violência, obrigou-se a tratar do poder para a fim
de contrapor o pensamento tradicional que liga a violência ao poder. Afirma
a autora: “mencionei a relutância geral para tratar a violência por si mesma
como um fenômeno, e devo agora qualificar essa afirmação” (ARENDT, 1985,
p. 35). Arendt critica a existência de “um consenso entre os teóricos políticos
tanto da esquerda como os da direita de que a violência nada mais é do que a
mais flagrante manifestação de poder” (1985, p. 35). Assim, desvela a neces-
sidade de separação dos conceitos de “violência” e “poder”, principalmente
por demonstrar que o poder é consensual, não sendo preciso o uso da violência
para sua existência. Já a violência ocorre, ao contrário, sem consenso, sem
critérios e em proveito individual do mais forte.
Para Arendt, o poder para “[...] corresponde à habilidade humana de não
somente agir, mas de agir de forma concertada. Poder nunca é uma propriedade
de um indivíduo; ela pertence a um grupo e permanece existindo somente ao
longo do tempo em que o grupo permanece unido” (1970a, p. 40).
Esse poder consensual pregado por Arendt chama a atenção de Haber-
mas (1997, p. 187), que, em sua teoria, apresenta como ponto principal a
comunicação, ou o agir comunicativo, afirmando que, para se ter consenso,
a comunicação entre os indivíduos de um grupo é imprescindível. Assim,
Habermas (1997) observa nas asserções de Arendt o poder comunicativo, o
poder que nasce do discurso do consenso, da troca de ideias e da comunicação.
Já Parsons (1963, p. 235), teórico que se preocupava fundamentalmente
com o funcionamento das estruturas sociais, de maneira inusitada, trata o poder
como um meio circulante22, análogo ao dinheiro, dentro daquilo que é chamado

22 “Power is here conceived as a circulating medium, analogous to money, within what is called the political
system, but notably over its boundaries into all three of the other neighboring functional subsystems of a
society (as I conceive them), the economic, integrative, and pattern maintenance systems. Specification of
the properties of power can best be approached through an attempt to delineate very briefly the relevant
properties of money as such a medium in the economy” (PARSONS, 1963, p. 235).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 43

“o sistema político”. Sua analogia identifica o poder circulando dentro do sistema


político, como o dinheiro circula no sistema econômico. O autor faz toda uma
construção e explicação do sistema econômico, utilizando o que denomina inputs
(entradas) e outputs (saídas) – fatores de produção e resultados alcançados. No
sistema econômico os recursos de entrada ou fatores de produção são a terra, o
trabalho, o capital e a organização; enquanto no sistema político são a avaliação
de eficácia, o controle de produtividade, a demanda estruturada e a padronização
de legitimação23. Por outro lado, as saídas são, no sistema econômico, as ações
da renda; no sistema político, a saída de poder24 (PARSONS, 1963, p. 234 e ss.).
Parsons (1963) explica, também, a estabilidade monetária e como se sus-
tenta efetivamente, mesmo sendo a moeda um meio simbólico, que permite uma
melhor medida de troca, inclusive amplificando as possibilidades de interação
social. Ela própria não possui utilidade no consumo primário, nem valor de uso25.
Utiliza essa explicação para, em seguida, relacionar o dinheiro – um dos elemen-
tos do sistema econômico – com o poder, considerando-o como um elemento da
sociedade política e que também circula de forma semelhante à de seu análogo.
Para este estudo, um dos pontos importantes é o pensamento de Parsons
(1963), que, diferentemente da abordagem tradicional, não considera poder ou
mesmo exercício de poder, por exemplo, quando alguém faz algo simplesmente
por ameaça de força superior26. Para Parsons (1963)27, o poder é a capacidade
generalizada de garantir o cumprimento das obrigações vinculativas por unidades
de um sistema de organização coletiva, quando as obrigações são legitimadas
com referência à sua relação em metas coletivas e onde, em caso de não cum-
primento, há uma possibilidade subsidiária de aplicação de sanções negativas.
Nessa concepção, é indispensável que a obrigação imposta pelo poder
consensual resulte na produção de objetivos coletivos, em um jogo de soma
positiva. Parsons (1963) assevera a necessidade de legitimação, que é neces-
sária para conceber o poder como simbólico, visto que o destinatário de uma

23 “Here the resources are not land, labor, capital, and organization, but valuation of effectiveness, control of
productivity, structured demands and the patterning of legitimation” (PARSONS, 1963, p. 236).
24 “Again we will hold that the logic is strictly parallel to the economic case, i.e. that there should be a set of
political categories strictly parallel to those of the factors of production (inputs) on the one hand, the shares
of income (outputs) on the other” (PARSONS, 1963, p. 234).
25 “It is symbolic in that, though measuring and thus ‘standing for’ economic value or utility, it does not itself
possess utility in the primary consumption sense-it has no ‘value in use’ but only ‘in exchange’, i.e. for pos-
session of things having utility” (PARSONS, 1963, p. 237).
26 “The capacity to secure compliance must, if it is to be called power in my sense, be generalized and not
solely a function of one particular sanctioning act which the user is in a position to impose, and the medium
used must be ‘symbolic’” (PARSONS, 1963, p. 237-238).
27 “Power then is generalized capacity to secure the performance of binding obligations by units in a system
of collective organization when the obligations are legitimized with reference to their bearing on collective
goals and where in case of recalcitrance there is a presumption of enforcement by negative situational
sanctions-whatever the actual agency of that enforcement” (PARSONS, 1963, p. 237).
44

obrigação fica com nada de valor mas garante uma expectativa de no futuro
gozar de benefícios coletivos consensuais acordados. O simbolismo do poder
é o mesmo do dinheiro, apoiado sobre bases de legitimação. Por conseguinte,
em sistemas de poder, essa base é o fator paralelo à confiança na aceitabilidade
e no consenso para alcançar objetivos coletivos; enquanto que, no sistema
econômico, é a estabilidade da unidade monetária28.
Em resumo, Parsons (1963) abandona a tradicional imagem do poder como
conflito, não possibilitando análises do contrapoder ou poder de resistência,
ou outras questões como influência e eficácia, etc.; aborda-o, pois, como um
consenso que resultará em benefícios comuns a todos. Seu conceito de “po-
der” assim se expressa: “A capacidade generalizada de garantir a eficiência de
obrigações vinculantes entre unidades em um sistema de organização coletiva,
quando as obrigações são legitimadas com referência a sua relevância para
objetivos coletivos” (PARSONS, 1963, p. 306).
Ressalta-se que Parsons (1963) e Arendt (1970a) conjugam pensamentos
muito semelhantes, no sentido de afirmar que o poder deve ser consensual,
e esse consenso só poderá ser alcançado com interação social, cooperação,
associação, etc. Nesse ponto, Habermas (1997, p. 187), ao referir-se à afirma-
ção de Arendt (1970b, p. 45) de que “o poder nasce da capacidade humana
de agir ou de fazer algo, de se associar com outros e de agir em afinação
com eles”, observa que isso somente “pode formar-se em esferas públicas,
surgindo de estruturas da intersubjetividade intacta de uma comunicação não
deformada”. E, assim, completa o pensamento de Arendt (1970b) anotando
que o consenso, o agir, a comunicação, a associação são pontos que resultam
em um poder legítimo, portanto, diferentemente dos contratualistas, cujos
maiores expoentes são Thomas Hobbes e Max Weber. O novo paradigma do
poder será exercido de forma consensual e não violenta; é um poder para,
em contrapartida à posição clássica do poder sobre.
Olsson e Salles (2015, p. 484), ao discorrerem sobre essas duas noções,
anotam que “a introdução dessas categorias constitui uma autêntica revolução
epistemológica no estudo do poder [...], e não se trata de dois fenômenos dis-
tintos, mas sim do mesmo, em duas feições diversas, ou em outras palavras,
duas espécies do mesmo gênero”. Essa afirmação é de relevante importância
didática, porque revela a existência de um tema, que é o poder, dividido na
interface de poder sobre e poder para.
28 “Secondly, I have spoken of power as involving legitimation. This is, in the present context, the necessary
consequence of conceiving power as ‘symbolic’, which therefore, if it is exchanged for something intrinsi-
cally valuable for collective effectiveness, namely compliance with an obligation, leaves the recipient, the
performer of the obligation, with ‘nothing of value’” (PARSONS, 1963, p. 306).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 45

Mesmo sendo espécies do gênero poder, são antagônicos e com formas de


exercícios diferentes. No poder sobre, prevalece a superioridade de um sobre
outro, um obriga o outro, mesmo com resistência a fazer ou deixar de fazer algo
em proveito de um, nos termos de Hobbes (2004, cap. XIII) é a “guerra de todos
contra todos”. Esse tipo de poder sobre aparece principalmente nas relações in-
ternacionais entre Estados, nas sociedades ditatoriais, no momento da exigência
de tributos não recolhidos, na execução de penas pelas autoridades judiciárias etc.
No poder para, prevalece o consenso de um sobre outro: o um, em
comum acordo, exerce poder sobre o outro para fazer algo que resultará em
benefício de ambos. Esse tipo de poder aparece nas associações de bairros,
famílias, escolas, condomínios, cooperativas, organizações internacionais etc.
Não obstante os exemplos suprarreferidos, não é regra geral um gênero
ser exclusivo em um determinado local. O que se quer dizer é que em um
determinado ambiente, como uma escola, poderá ter a prevalência do poder
para mas, em determinados casos, observar-se-á também a existência de poder
sobre – e o inverso também pode ser verdadeiro.
Em uma sociedade democrática e de direito, construída em consenso com
a maioria, tem-se a predominância do poder para. Por exemplo, quanto ao paga-
mento de impostos: consensualmente, desejou-se que o governo recolha impostos
para construção de rodovias, as quais seriam de todos e para o bem de todos; esse
recolhimento de impostos será um exercício de poder para, que o Estado exercerá
sobre seus contribuintes; estes pagarão e também serão proprietários das rodovias
construídas com o resultado da arrecadação dos tributos. Mas, nesse mesmo
exemplo, se alguém não recolher o seu tributo, o Estado poderá, mesmo contra
a vontade do contribuinte, exercer o poder sobre, expropriando bens, aplicando
penas alternativas etc., valendo-se do poder sobre que lhe foi conferido.
É nesse prisma que o presente trabalho dissertativo analisará a existên-
cia desses dois tipos de poder dentro do Conselho de Segurança da ONU,
observando se as concepções dos denominados poder sobre e/ou poder para,
na forma utilizada pelo citado órgão, limitam e dificultam o protagonismo da
ONU como ator não estatal, condutor da paz entre os seus Estados-Membros.
Realizada a abordagem teórica apresentada neste capítulo, passa-se ao
próximo discorrendo sobre a ONU: seu surgimento e evolução, para entender
sua estrutura, atividades, formas de trabalho e tipo de poder ou poderes que
seus órgãos utilizam.
CAPÍTULO II
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS E SEUS ÓRGÃOS
2.1 Abordagens históricas e de evolução
Para conhecer a Organização das Nações Unidas (ONU) – atualmente
visível como fórum permanente de discussões entre Estados –, importa indagar:
como surgiu? Qual a sua natureza? Quais as conformações e os arranjos políticos
internacionais que motivaram a sua estrutura? Muitas perguntas são necessárias
para conhecer, com mais profundidade, a estrutura dessa organização.
Truyol Y Serra (1966, p. 51) vê a Organização das Nações Unidas como o
intento mais ambicioso de organização internacional que até o momento se levou
a efeito. Não só pela quantidade de Estados-Membros mas, principalmente, pela
capilaridade geográfica, constituindo-se a primeira organização de alcance mundial.
E isso só foi possível por meio de um laborioso processo29, descrito e apresentado
neste capítulo, citado pelo autor sob perspectivas doutrinal e institucional.
Quanto à perspectiva doutrinal, Truyol y Serra (1966) observa que a
ONU foi primeiramente concebida como uma ideia, transformando-se depois
em um programa de ação, com a finalidade de superar a ação internacional,
considerada insatisfatória. Esse pensamento de criação de uma organização
internacional atuou como força motriz para a criação da Organização das Na-
ções Unidas, preparando seu advento e sua configuração. A segunda perspectiva
desse processo, a vertente institucional, mostra os sucessivos esforços práticos
para criação desse organismo, no contraditório modelo em que atualmente se
conformou (TRUYOL Y SERRA, 1966, p. 52).

2.1.1 A paz como antecedente mais antigo


A criação de organizações internacionais, ou de uma organização interna-
cional global, foi prenunciada pelo [...] filósofo Confúcio (561-472 a.C.), que
anteviu uma organização internacional como fator de PAZ e CONCÓRDIA,
ao declarar: “O perfeito sistema do Direito das gentes repousa na constitui-
ção de uma Associação Internacional. Todos os Estados que a compusessem
deveriam enviar delegados escolhidos entre os mais virtuosos e capazes”
(ARAÚJO, 1971, p. 13).

29 Ver mais sobre a morfologia das organizações internacionais na obra TRUYOL Y SERRA, Antônio. La Organi-
zación Mundial en perspectiva histórica: idea Y realidad. In: ONU, año XX, 1946-1966. Madrid: Tecnos, 1966.
48

Truyol Y Serra (1966) segue o mesmo entendimento, dizendo que o pro-


blema de uma organização internacional não é de hoje. O principal intento a ser
atingido se reduz ao objetivo de alcançar a paz nas suas relações recíprocas entre
Estados, regidas pelo Direito Internacional. Ele observa – historicamente – que
os impérios eram uma forma primária e elementar de organização internacio-
nal, em especial os impérios chamados – impropriamente – universais. Esses
impérios pretendiam assegurar a paz geral mediante a submissão comum dos
povos dos respectivos âmbitos espacial territorial, geralmente pelo caminho da
conquista. A pax romana no Ocidente e a pax sinica no Oriente são exemplos
clássicos de tal legitimação (TRUYOL Y SERRA, 1966, p. 52-53).
Tanto o cristianismo como o islamismo tentaram construir uma paz
duradoura em todos os continentes. Segundo Araújo, “se aprofundarmos o
estudo do Cristianismo, veremos que o mesmo se resume numa lição de Paz,
numa esperança de Concórdia” (1971, p. 16). Já o islamismo agia por meio
da guerra, mesmo pretendendo uma unidade em seus domínios; “a religião
pregada por MAOMÉ tinha como objetivo a guerra santa contra os infiéis,
guerra que somente poderia terminar de duas maneiras: ou estes (os infiéis)
aceitariam os ensinamentos do profeta de Alá ou seriam exterminados impie-
dosamente” (ARAÚJO, 1971, p. 16).
Seitenfus (2012, p. 78), em seus estudos, identificou já a partir do século
XIV ideias –incipientes e de escasso alcance – primeiro de Pierre Dubois30
e, em 1464, de George de Podiébrad, Rei da Boêmia, com um projeto de
manutenção da paz na Europa, como as precursoras das organizações inter-
nacionais. Leciona o autor que, a partir do século XVI, novos estudos foram
divulgados por William Penn, Jean-Jacques Rousseau, os abades São Pedro
e Gregório, e, ainda, pelo importante trabalho de Emmanuel Kant sobre a paz
perpétua (SEITENFUS, 2012).
Araújo, em estudo mais minucioso, traz outras contribuições para a ideia
de criação de uma organização internacional, como a teoria de “DANTE ALI-
GHIERI, no seu ‘DE MONARQUIA’, publicado em 1315” (1971, p. 17-19),
que propugnava pela criação de uma monarquia universal, em que todos os
reinos e repúblicas, embora com a manutenção de suas autonomias, deveriam
render-se à direção e à jurisdição de um monarca universal. Cita também outros
autores: Marsílio de Pádua, que sonhava com a paz universal no seu Defensor
Pacis publicado em 1324; igualmente Antonio Marini, com o projeto de união
30 “Na Idade Média, aparece PIERRE DUBOIS, publicista francês que propõe no seu ‘DE RECPERATION TER-
RAE SANCTAE’ (1305) a criação de uma associação de estados soberanos e independentes e com igualdade
de direitos que deviam se comprometer a assegurar a Paz sob pena de severas sanções, entre as quais a
excomunhão maior. Na associação de Estados prevista por DUBOIS todos os monarcas se reuniriam em
assembleia para resolverem os litígios que, eventualmente, surgissem” (ARAÚJO, 1971, p. 16).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 49

de todos os Estados cristãos em uma federação, onde um Congresso, sediado


em Basileia, decidiria as controvérsias, podendo admitir novos membros, de-
clarar guerra, firmar a paz e aplicar sanções; Emeric Crucê, com seu livro Le
Nouveau Cineê, de 1623, que propunha a criação com bases federativas de uma
organização não só dos Estados cristãos, mas também dos turcos, dos Estados da
Ásia e da África; Sully, que na sua obra Grand Dessein lança a ideia da criação
de uma organização com finalidade de combater os turcos e destruir o poderio
dos habsburgos. Com caráter federativo, englobando todas as monarquias e
repúblicas, e com um Conselho representativo de todos os participantes, o
Abade de Saint Pierre, em 1713, com o Projet Pour Rendre la Paix Perpétuelle
en Europe, pregava uma organização para a Europa, visto que as negociações
diplomáticas entre diversos países já não eram suficientes para manutenção da
paz, que somente seria alcançada se todos os Estados da Europa se unissem em
uma confederação, com a direção de um senado representativo e rotativo de
todos os membros. A sede sugerida seria uma cidade da Holanda; os conflitos,
dirimidos por arbitragem e obrigatórios; os Estados que recorressem à guerra
sofreriam sanções levadas a cabo por um exército da própria organização.
Além desses projetos, digam-se, práticos, também muitos autores podem
ser considerados adeptos ao sonho de igualdade, uniformidade, união e paz
no mundo, como “Erasmo de Rotterdam, Thomas More, Grotius, Puffendorf,
William Penn, Jeremias Bentham, Brunet e Kant” (ARAÚJO, 1971, p. 19).
Para Truyol Y Serra (1966, p. 53), não é uma causalidade, que, a partir do
século VXII, quando o Sistema Europeu de Estados se consolidou, depois da paz
de Westfália31 e dos Pirineus, tenha-se observado uma crescente preocupação
doutrinal com o problema da organização internacional. Isso se observa pelo
número de projetos de paz perpétua e de organizações internacionais, que,
em alguns casos, se estendem ao âmbito europeu e, em outras, ao mundial.
As ideias foram copiosas. Mas dois pontos antagônicos são percebidos
nos diversos projetos de Organização Internacional aqui citados: de um lado,
buscavam criar uma única nação por meio da dominação dos povos – po-
der sobre; doutro, tentavam-no pela união e cooperação de seus membros,
consubstanciando-se a ação do poder para.
Truyol Y Serra (1966), referindo-se à prática da legitimação de um poder
universal pela dominação, diz que a própria história nos ensina que essa fór-
mula, por fundar-se em uma dominação e hegemonia, resulta precária, pois o
império caduca com a própria força que lhe deu origem. E é nesse cenário que
surge a ideia da necessidade de uma Organização Internacional fundada na
cooperação voluntária das sociedades políticas particulares, a qual resulta em

31 Para ver mais sobre a Paz da Westfália, consultar o livro BEDIN, Gilmar Antônio. A sociedade internacio-
nal e o século XXI: em busca da construção de uma ordem mundial justa e solidária. Ijuí: Unijuí, 2001.
50

uma fórmula de federação, com um vasta estrutura em função do tamanho da


responsabilidade assumida. “En esta tradición, e como resultado histórico hoy
por hoy el más relevante, se sitúa la Organización de las Naciones Unidas”
(TRUYOL Y SERRA, 1966, p. 53).

2.1.2 A sociedade das nações como antecedente mais próximo


Nesse contexto, surge o protagonista mais objetivo, Woodrow Wilson,
que, após a Primeira Guerra Mundial, propôs a criação da Liga das Nações
ou Sociedade das Nações (SDN), uma associação geral dos Estados, com
garantias de independência política e territorial, tanto para os grandes Estados
quanto para os menores (ARAÚJO, 1971, p. 21). Mercadante e Magalhães
(2005, p. 9) anotam que a Sociedade das Nações “marcou uma etapa decisiva
na organização do mundo, tendo como mérito incomparável o de retirar a
questão da organização da paz do domínio teórico e passar à prática, centro
das preocupações governamentais”.
Em 8 de janeiro de 1918, o então presidente norte-americano Woodrow
Wilson dirigiu-se ao Congresso Nacional para anunciar os seus catorze pon-
tos32 para o restabelecimento da paz. E a SDN estava prevista no ponto 933 de
Wilson, como OI encarregada pela identificação e resolução das ameaças à
paz e à segurança internacional. Ela acabou por ser fundada, por um Pacto, no
decurso da Conferência de Paz de 28 de abril de 1919 e foi incluída no Tratado
de Paz de Versalhes. O Pacto da Sociedade das Nações oficializou a associa-
ção dos Estados aliados durante a Guerra de 1914 (Inglaterra, França, Itália
e Japão), e admitiu a Alemanha em 1926 e a URSS em 1934, após aprovação
de uma maioria de dois terços da Assembleia (XAVIER et al., 2007, p. 19-20).
O ideário utópico de muitos tornava-se realidade. Mas por que a SDN
não prosperou? O estudo sobre a sua constituição, seus pontos fortes e limites

32 1. Evacuação e restauração da Bélgica sem qualquer restrição à sua so­berania; 2. Evacuação do território
Francês, restauração das regiões invadidas e reparação dos prejuízos causados à França em 1871, relati-
vamente à Al­sácia-Lorena; 3. Evacuação do território Russo e livre regulação dos seus destinos po­líticos;
4. Retificação das fronteiras Italianas, conforme o princípio das naciona­lidades; 5. Possibilidade de um
desenvolvimento autônomo para os povos da Áus­tria-Hungria; 6. Evacuação da Romênia, da Sérvia e do
Montenegro e concessão à Sérvia de uma comunicação marítima; 7. Limitação da soberania Otomana às
regiões genuinamente Turcas, com autonomia para todas as outras nacionalidades e garantias internacio-
nais para o livre-trânsito nos Dardanelos; 8. Independência da Polônia com livre acesso ao mar; 9. Criação
de uma SDN, oferecendo garantias mútuas de independência política e de integridade territorial, não só
aos grandes como aos pequenos Estados; 10. Regulação imparcial das questões coloniais; 11. Garantias
recíprocas para a redução dos armamentos; 12. Supressão, na medida do possível, das barreiras eco-
nômicas, igualdade comercial para todos os Estados; 13. Liberdade de navegação; 14. Publicidade dos
Tratados e consequente abolição das alianças secretas entre os Estados.
33 “Uma Sociedade geral das nações deveria ser formada por meio de convenções formais, tendo como fim assegurar
garantias recíprocas de independência política e territorial, tanto aos pequenos como aos grandes Estados”.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 51

indicará possíveis visões e conteúdos para analisar no próximo capítulo o


Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, abordando o
protagonismo da ONU e os dilemas no cumprimento eficaz dos objetivos de
paz, causados pelo uso do poder sobre nesse órgão.
Quanto aos problemas enfrentados pela Sociedade das Nações, um dos seus
primeiros equívocos foi ter sido criada no momento final de uma guerra; pior do
que isso, discutida no Tratado de Versalhes, em Paris, que tinha o fim principal de
tratar da responsabilização à Alemanha34, que havia dado início ao conflito, tendo
sido derrotada ao final. Os vencidos não tiveram autoridade para participar das
disposições do pacto, assistiam e aceitavam os termos dos vencedores – não que
isso fosse injusto. No entanto, esses fatos não proporcionaram a reconciliação,
somente a continuidade – camuflada – dos desentendimentos iniciais, tanto que
novamente a Alemanha, em 193935, provocou o início da Segunda Guerra Mundial.
Nas palavras de Xavier et al., “o fosso entre vencedores e vencidos saiu
reforçado na estruturação da SDN, desde logo na limitação dos Estados fun-
dadores da Organização então criada aos ‘amantes da paz’ excluindo, na sua
fase inicial, os vencidos da Primeira Guerra Mundial” (2007, p. 23). Para
Seitenfus, “a Alemanha, que esperava do Tratado de Versalhes e do Pacto da
Liga a expressão de uma paz sem vitória, imediatamente tem frustradas suas
expectativas” (2012, p. 265-266). Araújo, apreciando o preâmbulo36 da Carta
da SDN, pergunta em tom irônico: “Como poderia uma OI garantir a Paz e a
segurança entre as nações se de início já regrava diferenças entre seus membros,
dividindo os Estados em dois grupos os vencedores e os vencidos na última
guerra?” (1971, p. 24). Outro ponto questionado por Araújo (1971, p. 24), e que
impossibilitaria a consecução de garantir a paz e segurança, é a não participação
dos Estados Unidos e a União Soviética. Esses questionamentos mostram que,
em seu surgimento, a SDN não observou o mínimo de igualdade necessária para
que essa OI fosse protagonista de acordos para a manutenção da paz.

34 “De facto, como materialização mais concreta dos termos de Versalhes, constava a responsabilização da
Alemanha pelo eclodir do conflito, sendo obrigada a uma indenização de guerra a todos os Estados rivais,
à perda das suas colónias, marinha de guerra e força aérea, redução do exército a um máximo de 100.000
homens e ao seu território em cerca de 30% (relati­vamente ao início da guerra)” (XAVIER et al., 2007, p.
23). “Cessão de territórios, renúncia às colônias, desarmamento, pesadas reparações de guerra, definição
de um corredor polonês a dividir o território alemão, são algumas das condições que levaram vozes impor-
tantes na Alemanha a considerar Versalhes como um simples acerto de contas, augurando dificuldades na
sua aplicação” (SEITENFUS, 2012, p. 267).
35 “O episódio da ocupação alemã do território livre de Dantzig, em primeiro de setembro de 1939, que
determinou, dois dias depois, o início da Segunda Guerra Mundial, foi o ponto de ruptura da política de
contemporização dos países democráticos” (SEITENFUS, 2012, p. 314).
36 “No preâmbulo da ata de sua constituição foram fixados os objetivos principais da LEIGA: garantir a paz e se-
gurança internacionais; a cooperação entre as nações; a integridade territorial e a independência política de sus
membros por meio de compromissos de jamais recorrerem a à guerra; observância do Direito Internacional
como norma de conduta efetiva dos governos e respeito às obrigações pactuadas” (ARAÚJO, 1971, p. 24).
52

As anotações de Araújo (1971) também abarcam outro importante ponto:


a afirmação de que as dificuldades da evolução da SDN encontram-se na
não participação dos EUA como Estado-Membro. Mas como assim? O seu
principal impulsionador fora o seu próprio presidente, Woodrow Wilson.
Apesar dos esforços de Wilson para aprovar, no Congresso norte-americano,
a entrada do seu país na Liga, seus adversários republicanos, em maioria,
votaram contra37. Eles “sustentavam que o referido projeto implicaria na re-
vogação da DOUTRINA MONROE38 e levaria, em consequência, os Estados
Unidos a participarem de todos os conflitos estranhos ao continente ameri-
cano” (ARAÚJO, 1971, p. 23). Por isso, muitos autores sugerem que a SDN
é mais europeia do que mundial, como leciona Truyol Y Serra (1966, p. 61),
anotando que a não participação dos Estados Unidos da América, e outras
circunstâncias, resultou em uma organização predominantemente europeia.
Um terceiro ponto crucial para o fracasso da SDN tem relação com a falta de
aplicação de sanções, tanto pelo caráter de resolução de conflitos por arbitragem
quanto pela facilidade dos membros em saírem da organização. O modelo de sanção
da SDN foi amplamente discutido em dois pontos antagônicos: a possibilidade de
sanção militar contra os desobedientes e a proposta de sanções não militares. “A
percepção francesa propugnava uma SDN militarizada, imperativa e que pudesse
efetivamente vir a ser um instrumento de constrangimento a eventuais agressões”
(SEITENFUS, 2012, p. 264). Essa proposta defendia a criação de força militar que
ficaria sob o controle na SDN. A outra proposta, e que restou vencedora, trazida
pelos britânicos e apoiada pelos EUA, descartava o militarismo supranacional e
pregava “uma sociedade voluntarista, baseada no princípio da boa-fé e da boa-
-vontade dos Estados-Membros”39 (SEITENFUS, 2012, p. 264).
Quanto à questão de saída de membros, a SDN não fazia restrições:
“basta que este deposite um aviso-prévio de dois anos e preencha todas as
suas obrigações internacionais (art. 1º, § 3º) para retirar-se da associação40”

37 Durante vários meses, o presidente se esforça para convencer legisladores e opinião pública do acerto de sua
política externa. Ora, os ventos do isolamento parecem predominar. Em setembro de 1920, Wilson sofre um ata-
que que o torna paralítico. Logo a seguir, o Tratado de Versalhes é votado no Senado e não consegue alcançar
a maioria de 2/3 necessária à sua aprovação. A SDN parece ser natimorta (SEITENFUS, 2012, p. 272).
38 A Doutrina Monroe teve início no momento em que o presidente norte-americano James Monroe, em visita ao
congresso do seu país, em 2 de dezembro de 1823, emitiu esta mensagem: “Julgamos propícia esta ocasião
para afirmar como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes ameri-
canos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser conside-
rados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência europeia” (BORGA, 2016, p. 17).
39 “Assim, todos os Estados-Membros da SDN ‘concordam em que, se entre eles surgir uma controvérsia suscetível
de produzir uma ruptura, submeterão o caso seja ao processo da arbitragem ou a uma solução judiciária, seja
ao exame do Conselho’ (art. 12, § 1º). Um Estado-Membro que porventura não venha a acolher nenhuma forma
indicada para a solução pacífica do litígio não poderá recorrer à guerra contra o outro Estado litigante caso este
tenha se conformado com a decisão judiciária ou do Conselho (art. 13, § 4º)” (SEITENFUS, 2012, p. 279).
40 “Conjugada à ausência de sanção material para os infratores, esta disposição do Pacto libera de qualquer
ameaça os eventuais agressores que são Estados-Membros da associação. A consequência prática foi o
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 53

(SEITENFUS, 2012, p. 275). Nessa perspectiva, caso algum Estado não


estivesse satisfeito com a SDN, ou não fosse atendido em suas contendas,
poderia deixar de ser membro, sem maiores sanções.
Para Seitenfus, “a lacuna maior do Pacto foi a incapacidade de aplicar san-
ções a eventuais infratores das regras estabelecidas” (2012, p. 317). No mesmo
sentido, Truyol Y Serra (1966, p. 61) anotam que não é estranho que a sociedade
genebrina tenha sido impotente para impedir a Segunda Guerra já que Alemanha,
Itália e Japão, entre outros países, retiraram-se da sociedade por não ver satisfeitas
suas reivindicações, bem como pela não entrada dos EUA na organização.
Um último ponto a ser citado, não exaurível das causas dos problemas da
SDN mas importante para as análises futuras, diz respeito ao poder. O Pacto
da Liga das Nações, ao adotar a regra da unanimidade para as decisões do
conselho, paralisou, de certa maneira, a organização. Seitenfus (2012, p. 317),
referindo-se à regra da unanimidade para as decisões da Liga das Nações,
anota que isso resultou no poder de veto aos membros do Conselho. Assim,
qualquer membro que o integrasse, de forma transitória ou permanente, pos-
suía condições objetivas de bloquear o sistema.
Em resumo, um conjunto de variáveis, com problemas de cunho funcional
da Organização, somado às conjecturas do sistema internacional da época, como a
queda da bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro de 1929, que jogou a economia
capitalista para uma profunda depressão, impulsionando iniciativas multilate-
rais, que ajudaram na volta do nacionalismo e fortalecimento do comunismo na
URSS, culminou com o fim do desejo de que uma Organização Internacional
mantivesse a paz no mundo. Para Seitenfus, apesar dos esforços para uma nova
prática das relações internacionais, “notou-se que as velhas práticas da medíocre
diplomacia de prestígio, de falsos problemas e da afirmação do nacionalismo,
continuaram conduzindo a ação dos Estados” (2012, p. 318). Em síntese, outros
pontos importantes citados por ele como marcantes da derrota da SDN são “a
ausência dos Estados Unidos da Liga, a incapacidade desta em transformar-se em
algo fora e acima dos Estados, o retorno da diplomacia secreta e o egoísmo dos
Estados – baseado nos princípios do chamado interesse nacional” (2012, p. 318).
E acrescentamos que não havia experiência anterior de mesma proporção.
Nesse contexto catastrófico, principalmente pelo evento da Segunda
Guerra Mundial, extinguiu-se a SDN. “Tristemente, sua 21ª Assembleia, em
18 de abril de 1946, pôs fim à primeira experiência de uma verdadeira orga-
nização internacional de caráter universal. A SDN nasceu com a guerra e pela
guerra foi morta” (SEITENFUS, 2012, p. 317-318). No entanto, a experiência

encorajamento à agressão, pois bastava o Estado agressor retirar-se da Liga para que não fosse alcançado
pelo princípio da segurança coletiva. Ou ainda, um Estado que não estivesse satisfeito com as condições
da Liga poderia se auto-excluir. O primeiro a fazê-lo foi o Brasil, em 1926” (SEITENFUS, 2012, p. 275-276).
54

da SDN, apesar dos seus equívocos, mostrou para o mundo a necessidade de


algo ainda melhor e maior, uma OI mais participativa e representativa, mais
dinâmica e mais efetiva. Assim, antes mesmo do fim da SDN, e com seus
exemplos, fundaram-se as bases para a criação da ONU, que herdou, além do
seu patrimônio41, as experiências de seus sucessos e seus fracassos. Oliveira,
sobre esse tema em específico, anota que a ONU foi herdeira da Sociedade das
Nações, “tanto de seu acervo natural e modelo teórico como de seus próprios
resíduos e dificuldades” (2005, p. 193).
A importância da SDN é reconhecida pelo seu pioneirismo e desejo de
promoção da paz entre os povos. Mercadante e Magalhães expõem que a SDN
“marcou uma etapa decisiva na organização do mundo, tendo como mérito
incomparável o de retirar a questão da organização da paz do domínio teórico
para passar à prática, centro das preocupações governamentais” (2005, p. 9).
Observando os pontos positivos da SDN, Xavier et al. descreve:

Por mais aspectos negativos que se identifiquem no percurso da SDN, há


um aspecto positivo que, por si só, é suficientemente convincente como
argumento válido: a consciência, na vivência dos povos e dos Estados,
de uma necessidade histórica e moral em se associarem os Estados num
fórum comum de discussão e resolução de problemas e interesses comuns
a toda a Humanidade, como sendo a manutenção da paz e a promoção da
cooperação internacional nas questões econômicas e sociais (2007, p. 25).

Outro ponto relevante encontra-se na importância de a SDN ter criado a


Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prosperou e continua atu-
ante até os dias atuais. Para Xavier et al., “o balanço da existência e vigência
da SDN é francamente positivo, em larga medida porque das causas do seu
fracasso emergiram novas abordagens, sem esgotar a fé no poder e influência
das OIs” (2007, p. 26).

2.1.3 Uma trajetória de tentativas e suas confluências


A Organização das Nações Unidas, instituída oficialmente em 24 de
outubro de 1945, não constitui uma criação do acaso. Historicamente, teve
base na ideia da necessidade de existência de uma Organização Internacional
universal, com fins políticos, gerindo interesses comuns, sem influências de

41 “La Sociedad de Naciones se disolvió formalmente el día 18 de abril de 1946. Los vencedores de la se-
gunda guerra mundial no quisieron revitalizar un organismo altamente desprestigiado y preferirán crear una
organización nueva, las Naciones Unidas; los bienes de aquélla, sin embargo, fueron transferidos a esta
última Organización” (RIDRUEJO, 2015, p. 738). “Com a eclosão da segunda Guerra Mundial, em 1939, a
SDN cessou de fato a sua atividade regular. A dissolução de jure obedeceu à convocação de uma sessão
da Assembleia, em Genebra, entre os dias 8 e 18 de Abril de 1946, onde formalmente se transferiram os
bens e recursos da extinta SDN para a já criada ONU” (XAVIER et al., 2007, p. 27).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 55

alianças militares. O mundo do pós-guerra principiava a materialização prática


desse desejo, durante anos reduto exclusivo de teóricos e acadêmicos, naquele
momento, determinado muito mais pela totalidade oficial de nove milhões
de mortos, resultado de quatro anos de uma lamentável guerra mundial. Tal
escopo desenvolveu campo propício para o nascimento da ONU.
As nefastas consequências socioeconômicas colocaram os EUA no centro
do mundo político internacional de então, já que a Europa estava absolutamente
dividida entre Estados capitalistas liberais, Estados fascistas e a Rússia comunista.
A entrada em cena dos Estados Unidos repercutiu não apenas na última fase do
conflito, em que desempenhou papel decisivo, como já abordado anteriormente,
sobretudo no pós-Primeira Guerra Mundial e segue até os dias atuais.
A esperança mantida e as tensões sempre presentes fizeram com que, em
14 de agosto de 1941, fosse firmada a Carta do Atlântico, ratificada por 26
Estados em 1 de janeiro de 1942, associando-se outros 21 Estados até março
daquele ano. Em 1943, ocorreu o ingresso da China à Carta, na Declaração de
Moscou. Posteriormente, outra Conferência Internacional, de grande impor-
tância, foi realizada em São Francisco, em 1 de março de 1945; os trabalhos
dessa conferência concluíram em 26 de junho daquele ano e foram aprovados
em Assembleia Geral no mesmo dia. “Desta Conferência de São Francisco
nasceu a Carta das Nações Unidas, que entrou oficialmente em vigor a 24 de
Outubro de 1945 (o dia oficial da ONU), após ter sido ratificada por 2/3 dos
51 Estados fundadores” (XAVIER et al., 2007, p. 29).
Quanto à origem das Nações Unidas, Meisler (1997, p. 2) anota que a
sua criação foi sendo consolidada por meio de algumas conferências extra-
ordinárias, realizadas em Dumbarton Oaks, entre o final de agosto e início
de outubro de 1944; e em São Francisco, do final de abril até o final de junho
de 1945. Meisler (1997) cita também a presença limitada, em números mas
não em poder, de Estados na Conferência de Dumbarton Oaks: Grã-Bretanha,
Rússia, Estados Unidos e China foram os países participantes. No entanto, em
São Francisco, cinquenta governos, quase todos beligerantes e contrários ao
Eixo, reuniram-se para ratificar a Carta da ONU, imposta pelos Big Four42.
Ridruejo (2015, p. 739), apresentando abordagem histórica e crítica para
a instituição da ONU, cita a Declaração dos Aliados de 12 de junho de 194143,
firmada no Palácio de Saint James de Londres, cuja principal ideia consensual
– para construção de uma paz duradoura – era a necessidade de cooperação
voluntária de todos os povos livres do mundo. Já em 14 de agosto de 1941,

42 Os quatro grandes: Grã-Bretanha, Rússia, Estados Unidos e China.


43 “En el transcurso de la segunda guerra mundial (1939-1945), los países aliados que combatían contra las
potencias del Eje sintieron la necesidad de la creación de una organización intergubernamental que velase
en el futuro por la paz y seguridad internacionales” (RIDRUEJO, 2015, p. 739).
56

o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e o primeiro


ministro britânico, Winston Churchill, firmaram a Carta do Atlântico, que
enunciava a ideia de que todas as nações do mundo deviam renunciar ao uso
da força, por razões espirituais e práticas, bem como todos deveriam promover
a máxima colaboração entre as nações no terreno econômico.
Ridruejo (2015, p. 739-740), no entanto, anota que somente em 1 de janeiro
de 1942 é que se verificou pela primeira vez a referência direta às Nações Uni-
das44: na Declaração escrita em Washington por Estados Unidos, Reino Unido
e União Soviética. Mas o propósito nítido e expresso de criação de uma nova
organização internacional, as Nações Unidas, com base no princípio de igualdade
soberana e com finalidade de manter a paz e segurança internacionais, apareceu
pela primeira vez na Declaração de Moscou, de 30 de outubro de 1943, subscrita
pelos ministros de Assuntos Exteriores dos Estados Unidos, União Soviética,
Reino Unido e China e, no mesmo ano, reafirmada em Teerã, pelo presidente
dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e os primeiros ministros Josef
Stalin, da União Soviética, e Winston Churchill, do Reino Unido.
No entanto, os contornos oficiais para a criação da nova organização in-
ternacional que se prenunciava foram definidos na Conferência em Dumbarton
Oaks45: entre os dias 21 de agosto e 28 de setembro de 1944, reuniram-se nessa
conferência os representantes de Estados Unidos, União Soviética e Reino
Unido; e, entre 29 de setembro e 7 de outubro do mesmo ano, os represen-
tantes de Estados Unidos, Reino Unido e China46. Na referida conferência,
tratou-se dos temas centrais sobre a organização mas não se firmou acordo
quanto ao modo como seriam tomadas as decisões no Conselho de Segurança,
assunto resolvido na conferência seguinte, realizada em Yalta, entre os dias 3
e 11 de fevereiro de 1945, da qual participaram Franklin Delano Roosevelt,
Josef Stalin e Winston Churchill. A regra então consagrada foi a de decisão
44 Na conferência de Dumbarton Oaks, ao se definir o nome da nova organização, houve um desacordo entre
Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha: Roosevelt queria levar o nome da aliança do tempo de
guerra das Nações Unidas para a cruzada do pós-guerra de garantir a paz permanente; Gromyko argu-
mentou que não era prudente adotar um nome dos tempos de guerra para os tempos de paz e propôs
outros nomes, como Organização de Segurança Internacional ou União Mundial; Cadogan, representante
da Grã-Bretanha, surpreendeu Stettinius ao anunciar que seu governo não era favorável ao nome Na-
ções Unidas. Porém, em meio a tantas questões polêmicas e pela relutância de Stettinius em não ceder,
Gromyko e Cadogan aceitaram o nome Nações Unidas, guardando energia para outras discussões que
julgavam mais preciosas (MEISLER, 1997, p. 9-10).
45 Dumbarton Oaks é uma mansão isolada, com vários hectares de jardim esculpido em terra alta, acima
de Georgetown, no noroeste de Washington. A Universidade de Harvard, que tinha recebido a mansão
como um presente do Embaixador Robert Woods Bliss e sua esposa, em 1940, concordou em emprestar
a propriedade ao governo dos EUA para o resto do verão de 1944 (MEISLER, 1997, p. 5).
46 Nota-se que, no primeiro momento da conferência, participou a União Soviética e não participou a China
e, no segundo momento, inverteu-se a participação. Para saber mais sobre a escolha da China para ser o
Fourth Policeman – à época ainda um país emergente – e por que a União Soviética negou-se a compar-
tilhar a mesa com ela, ver Meisler (1997, p. 7).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 57

unânime dos membros permanentes, também conhecida como poder de veto.


Foi também em Yalta que ocorreu a definição de convocação para o dia 25 de
abril de 1945 da Conferência das Nações Unidas (RIDRUEJO, 2015, p. 740).
Ridruejo (2015, p. 740) cita, ainda, que a Conferência de São Francisco,
realizada entre os dias 25 de abril e 26 de junho de 1945, teve como anfitriões
as quatro grandes potências de Dumbarton Oaks e 46 Estados participantes
como convidados. Assim, mesmo os convidados opinando e propondo várias
emendas, os quatro gigantes aprovaram o que desejavam, cedendo somente
em assuntos menores. Em 25 de junho, a Carta foi aprovada por unanimidade,
e assinada por todos os participantes no dia seguinte, juntamente com o Es-
tatuto do Tribunal Internacional de Justiça. Ambos os instrumentos entraram
em vigor no dia 24 de outubro daquele ano.
Meisler (1997, p. 3), por meio de abordagem pormenorizada e cronológica,
afirma que a ONU representa uma ideia norte-americana, e sua estrutura segue
hoje os planos preparados por diplomatas norte-americanos durante a Segunda
Guerra Mundial. Mesmo antes de os Estados Unidos terem entrado na guerra,
o presidente Roosevelt havia solicitado ao Secretário do Estado, Cordell Hull,
para preparar uma equipe do Departamento de Estado para o planejamento
da paz. Expõe o autor supramencionado que Roosevelt falou muitas vezes da
necessidade de Quatro Policiais – os Estados Unidos, a União Soviética, a
Grã-Bretanha e a China – para comandar o mundo do pós-guerra47. Quando
a Conferência de Dumbarton Oaks48 foi anunciada, Roosevelt explicou o que
tinha em mente: se algum agressor enlouquecesse e saísse em busca de novos
territórios ou invadisse seus vizinhos, a nova organização iria impedi-los,
antes mesmo que começassem a agir (MEISLER, 1997).
Roosevelt e Churchill escolheram os convidados, apesar de Churchill
desejar que a França fosse chamada a participar e não a China, visto não acre-
ditar na ideia de a China vir a tornar-se uma potência que comandaria a Ásia no
pós-guerra, substituindo a hegemonia do Japão, conforme pregava Roosevelt.
Para manter a China na Conferência de Dumbarton Oaks, Roosevelt concordou
em também incluir a França como o Fifth Policeman (MEISLER, 1997, p. 7).

47 “The policemen would operate out of a station house run by an international organization, but it would be
the strength and unity of the policemen that gave that organization its vitality. He did not mind fitting his
scheme into the framework of some kind of league of Nations, but he envisioned a league of awesome
power” (MEISLER, 1997, p. 3).
48 Ver Meisler (1997, p. 5-6) para saber dos meandros mais íntimos da Conferência de Dumbarton Oaks:
quem estava à frente dos trabalhos, como eram bajulados os convidados dos EUA e outros fatos curiosos,
como a ida da delegação para Nova Yorque em um fim de semana para conhecer a cidade, o que incluiu a
visita à boate Billie Rose após a meia-noite, quando lá encontravam-se garotas seminuas.
58

2.1.4 Questão polêmica: a composição do Conselho de Segurança


Sobre a composição do Conselho de Segurança, Hilderbrand (1990, p. 122)
anota que a primeira questão debatida foi a criação de um assento permanente para
a França, uma nação que os britânicos, em particular, apoiaram com veemência.
Stalin, no entanto, não concordava; o motivo seria a pouca contribuição dos
franceses para a construção da paz no momento da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, na Conferência de Dumbarton Oaks, acabou-se por aquiescer à
proposta britânica, tendo sido reservado um assento permanente no Conselho de
Segurança para a França49. Nesse mesmo sentido, houve também uma sugestão
norte-americana para que o Brasil50 tivesse um assento permanente no Conselho
de Segurança, principalmente por ser o único país latino-americano que possuía
tropas militares lutando na Segunda Guerra Mundial. Tal sugestão não foi aceita
pelos demais participantes, justificando-se que seriam dois representantes de
um mesmo continente – Estados Unidos e Brasil.
Duas questões foram consenso desde o início das conversações. A primeira
foi a criação do Conselho de Segurança, ideia dos norte-americanos, que pro-
puseram que cinco membros permanentes com poder de veto51 e alguns outros
delegados rotativos compusessem um Conselho de Segurança com a autoridade
para manter a paz e a segurança internacionais. Ao contrário da Liga das Na-
ções, que só tinha o poder de impor sanções por unanimidade, esse Conselho
de Segurança poderia usar “todos os meios necessários”, incluindo a força mi-
litar, para impedir a agressão. A segunda questão, igualmente consensual entre
Stettinius52, Cadogan53 e Gromyko54, foi a necessidade do estabelecimento de

49 A França não teve o assento imediato; ver as causas em Hilderbrand (1990, p. 123).
50 A pedido de Roosevelt, que estava esperando moldar um novo campeão latino-americano tal como a China na
Ásia, Stettinius sugeriu que o Brasil fosse um membro permanente do Conselho de Segurança como o sexto
“policial”. Cadogan e Gromyko se opuseram, e o assunto foi arquivado. Roosevelt, no entanto, disse a Stettinius
que o Brasil ainda era uma carta na manga para as negociações em Dumbarton Oaks (MEISLER, 1997, p. 9).
51 “As potências vencedoras da guerra corriam o risco de serem compelidas a acatar iniciativas coletivas para a
manutenção da paz, mesmo contra a sua vontade expressa, caso as decisões fossem tomadas baseando-se em
qualquer cálculo majoritário ou proporcional, no âmbito do órgão restrito. Não bastava, então, fazer parte de um
órgão decisório restrito. Era necessário, igualmente, que as potências – de maneira individual ou coletivamente
– pudessem controlar o rumo de suas decisões. A solução será adotada na Conferência de Yalta, que reuniu,
em janeiro de 1945, Churchill, Roosevelt e Stalin. Trata-se de diferenciar os países membros do Conselho em
permanentes e transitórios. Qualquer decisão emanada deste órgão não deveria sofrer oposição de um membro
permanente. Portanto, os membros permanentes deveriam agir de forma unânime para que uma decisão viesse
a ser adotada. Surge assim o chamado poder de veto” (SEINTENFUS, 2012, p. 330-331).
52 Edward Reilly Stettinius Jr. serviu como Secretário de Estado de 1 de dezembro de 1944 até 27 de junho
de 1945, sob presidências de Franklin Delano Roosevelt e Harry S. Truman. Como Secretário de Estado,
supervisionou o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa e a criação das Nações Unidas (Disponível em:
<https://history.state.gov/departmenthistory/people/stettinius-edward-reilly>. Acesso em: 7 set. 2016).
53 Representante da Grã-Bretanha.
54 Gromyko, 35 anos, nomeado embaixador da União Soviética apenas um ano antes da Conferência de
Dumbarton Oaks, foi um dos três homens mais importantes nas negociações ocorridas em Dumbarton
Oaks (MEISLER, 1997, p. 6).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 59

uma Assembleia Geral que abrangesse todos os membros, debatesse questões


e aprovasse orçamentos, mas sem poder de execução – um secretariado de
funcionários internacionais e corte internacional de justiça. Mas a unanimidade
entre o Kremlin e os norte-americanos esgotou-se nesses dois pontos.
Os debates entre os membros principais da ONU foram delicados nos
mais diversos assuntos. Segundo Meisler (1997, p. 7), o desejo de criação das
Nações Unidas chegou perto de ter um fim prematuro por duas questões que
pareciam triviais, mas que ocasionaram preocupações aos norte-americanos. Os
problemas foram agravados em Dumbarton Oaks e mais tarde em São Francisco,
por suspeitas anglo-americanas das verdadeiras intenções russas quanto a novas
guerras; e, de outro lado, por um receio soviético de que os norte-americanos e
os britânicos utilizassem as Nações Unidas contra eles no mundo do pós-guerra.
A primeira polêmica foi a proposição de Gromyko sobre os votos na Assem-
bleia Geral: ele pretendia que todas as dezesseis repúblicas da União Soviética
tivessem um assento, pois a União Soviética temia estar irremediavelmente der-
rotada na Assembleia Geral, dominada tanto pelo bloco da Grã-Bretanha e seus
domínios quanto pelo bloco dos Estados Unidos e seus aliados latino-americanos.
Stettinius, representante dos Estados Unidos, chamou a proposta de uma bomba,
e temeu que isso pudesse arruinar
​​ a chance de se construir uma organização inter-
nacional. Roosevelt ponderou que, “se a União Soviética queria dezesseis votos,
os Estados Unidos deveriam ter quarenta e oito” (MEISLER, 1997, p. 10). Com
tantas disparidades de pensamento, esse assunto ficou para resolução posterior.
A segunda questão, debatida até os presentes dias entre os diversos membros
não permanentes do Conselho de Segurança, diz respeito à unanimidade entre seus
membros permanentes. Inicialmente, União Soviética e EUA tinham a posição
de que todo e qualquer assunto deveria ser aprovado pelo Conselho de Segurança
por unanimidade dos membros permanentes; no decorrer das discussões, as ideias
mudavam entre os membros – eram os contornos das negociações. Por exemplo,
os norte-americanos mudaram de opinião, aderindo ao pensamento dos britânicos,
que não imaginavam a possibilidade de que um membro da Big Five pudesse
vetar, por exemplo, uma resolução caso fosse uma das partes na controvérsia.
No entanto, mesmo com muito esforço do próprio presidente norte-americano
Roosevelt, não foi possível mudar a posição do Kremlin. Assim, essa foi mais
uma questão não definida na Conferência de Dumbarton Oaks, sendo resolvida
somente mais tarde, em Yalta, na Crimeia Soviética, com a presença pessoal de
Roosevelt, que acabara de ser empossado para um quarto mandato como presi-
dente dos EUA em janeiro de 1945 (MEISLER, 1997, p. 10).
Em Yalta, Roosevelt juntou-se a Churchill e Stalin na esperança de sua-
vizar as últimas disputas durante os meses finais da guerra. Assim, Stettinius,
então Secretário de Estado no novo mandato de Roosevelt, apresentou a nova
60

proposta norte-americana com o apoio britânico: todos os Big Five teriam o


direito de veto mas nas questões processuais do Conselho de Segurança, no
caso de uma disputa pacífica, o membro do Conselho abster-se-ia na votação
se fosse parte nessa disputa. Já que o Conselho de Segurança tinha os objeti-
vos aplicados para os conflitos, não para arbitragem de questões pacíficas, os
soviéticos – sem muito debate e por meio do Ministro das Relações Exteriores,
V. M. Molotov – aceitaram a nova fórmula (MEISLER, 1997, p. 13).
Em Yalta, outra questão também ficou melhor acertada: a União Soviética
já não mais exigia um voto para cada uma das suas dezesseis repúblicas na
Assembleia Geral, como havia solicitado em Dumbarton Oaks, mas ficaria
satisfeita com quatro assentos. Para o desespero de sua delegação norte-ame-
ricana, Roosevelt ofereceu três votos, que representariam a União Soviética,
a Ucrânia e a Rússia Branca e, em contrapartida, solicitou que os Estados
Unidos também tivessem três votos. O compromisso foi aceito, embora a
possibilidade de três votos norte-americanos na ONU parecesse tão absurda
que, de volta a Washington, os Estados Unidos logo abandonariam a ideia,
contentando-se com um voto (MEISLER, 1997, p. 14).
A Conferência de São Francisco, aberta em 25 de abril de 1945, contou
com a participação de 50 Estados55. São Francisco, uma das cidades mais
cosmopolitas da América do Norte, teve que lidar com um enorme afluxo
de povos: 1.726 delegados e seus assistentes, um secretariado de 1.058 fun-
cionários internacionais, 2.636 jornais e radiorrepórteres, e uma equipe de
suporte de quase 500 homens, incluindo os operadores de telefone e telégrafo,
voluntários dos Escoteiros e da Cruz Vermelha. A conferência teve a tarefa
de escrever a carta que colocaria as grandes ideias em crescente retórica – foi
mais objetiva que as Conferências de Dumbarton Oaks e Yalta, quando as
decisões cruciais foram decididas (MEISLER, 1997, p. 15).
Mesmo não sendo aquele o local destinado a discussões pontuais, elas
voltaram à tona, e a Conferência de São Francisco chegou perto do seu fim
antes mesmo de começar. Os motivos foram basicamente dois: semanas antes
de começar a conferência, houve a notícia de que o chanceler Molotov, da
União Soviética, não participaria, e Washington sentiu-se agredido com essa
decisão, que somente foi reconsiderada após a morte de Roosevelt56, em 12
55 A Carta foi assinada em 26 de junho de 1945, pelos representantes dos 50 países. A Polônia, que não es-
teve representada na conferência, assinando-a mais tarde, tornou-se um dos Estados-Membros originais,
totalizando 51 Estados-Membros (Disponível em: <http://www.un.org/en/sections/history/history-united-
-nations/index.html>. Acesso em: 7 set. 2016).
56 Em 12 de abril de 1945, Roosevelt morreu enquanto descansava na sua casa de campo, em Warm
Springs, no estado da Geórgia. O vice-presidente, Harry S. Truman, assumiu o cargo. Cinco meses de-
pois, a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim (FRANKLIN Delano Roosevelt. In: BRITANNICA Escola
Online. Enciclopédia Escolar Britannica. 2016. Web, 2016. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/
article/482395/Franklin-Delano-Roosevelt>. Acesso em: 5 set. 2016).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 61

de abril – Stalin desejou fazer um gesto em memória de Roosevelt e mostrar


ao povo norte-americano o desejo de prosseguir cooperando com os Estados
Unidos; o segundo ponto reergueu o delicado assunto dos votos dos mem-
bros permanentes da Assembleia Geral, principalmente a questão de votos
para a Ucrânia e a Rússia Branca: os delegados latino-americanos negaram a
aprovação a esse modelo, a não ser que os EUA apoiassem um assento para
a Argentina – esse foi um ponto sensível, já que a Argentina fascista trocava
figurinhas com a Alemanha nazista e não havia declarado guerra ao Eixo até
dois meses antes da Conferência de São Francisco (MEISLER, 1997, p. 16).
Outro problema que voltou a rondar a Conferência de São Francisco foi
o mesmo que assolou Dumbarton Oaks: o veto dos cinco grandes. Embora a
União Soviética houvesse concordado com a fórmula norte-americana em Yalta,
Molotov agora insistia para que fosse alterada, objetivando que qualquer um dos
Big Five pudesse vetar até mesmo a discussão de uma disputa pacífica. Quando
os soviéticos resistiram contra todos os esforços para mudar esse ponto de vista,
o senador Vandenberg57 escreveu em seu diário: “Todos nós sabíamos que tínha-
mos chegado na ‘hora zero’ desta grande aventura” (MEISLER, 1997, p. 17).
A questão ficou tão complexa que em meados de maio a conferência
parecia condenada. Molotov e Eden voltaram para seus países, Harriman e
Bohlen retornaram para Washington. De acordo com Robert E. Sherwood,
dramaturgo e biógrafo de Hopkins, todos estavam “com um sentimento de
desespero nos seus corações” (MEISLER, 1997, p. 17).
Para resolver o dilema do poder do veto para todas as atividades do Con-
selho de Segurança, levantado pelos russos, Truman, após sugestão de Bohlen,
conversou com Harry Hopkins58 para empreender uma nova missão: ir a Moscou
e negociar diretamente com Stalin a saída para esse problema. Em Moscou,
várias noites foram dedicadas a discussões sobre a Polônia, o voto da Argentina
e as relações soviético-norte-americanas em geral. O veto não foi discutido até a
sexta e última reunião, em 6 de junho. Hopkins e Molotov debateram suas duas
posições antes de Stalin. Stalin, em seguida, discutiu o assunto com Molotov,
em russo. Tornou-se claro para os norte-americanos que Stalin estava buscando
esclarecimento de um problema que ele não tinha entendido. Stalin comentou
com Molotov que lhe parecia “uma questão insignificante”, disse que eles deve-
riam aceitar a posição norte-americana do poder de veto dos Big Five. Hopkins
telegrafou a Truman imediatamente com a notícia de que a Conferência de São
Francisco tinha sido salva (MEISLER, 1997, p. 17-18).

57 O senador Arthur Vandenberg era membro da delegação nomeada por Roosevelt para a Conferência de
São Francisco. A delegação tinha, ainda, o secretário Stettius; dois membros da Câmara dos Represen-
tantes; o decano da Faculdade Bernardo presidente Tom Connally (do Texas, Democrata); da Comissão
de Relações Exteriores do Senado, o senador Arthur Vandenberg (de Michigan, republicano); e o ex-
-governador republicano Harold Stassen de Minnesota, a serviço na marinha (MEISLER, 1997, p. 15).
58 Hopkins tinha servido Roosevelt como Secretário do Comércio, chefe do Works Progress Administration –
o programa de empregos New Deal durante a depressão de 1930 (MEISLER, 1997, p. 17).
62

Em São Francisco, as nações menores começaram a se irritar com a pers-


pectiva de uma ONU dominada por cinco países, com poder de veto. A Austrália
liderou uma unidade para adicionar mais limites para o uso do veto, mas em
uma conferência decidiu manter a fórmula de veto de Yalta, por 20 votos a 10,
com quinze abstenções e cinco ausências. E, em 25 de junho, exatamente dois
meses após a cerimônia de abertura, a Conferência de São Francisco aprovou
por unanimidade a nova Carta da ONU (MEISLER, 1997, p. 18-19).
Os Estados Unidos ficaram encarregados de receber e guardar os ins-
trumentos formais de ratificação – foram eles o primeiro país a depositar
oficialmente os documentos, em 8 de agosto de 1945. A Carta entraria em
vigor, de acordo com o artigo 110, quando todos os Big Five e uma maioria
dos 51 membros originais depositassem as suas ratificações. Isso aconteceu
em 24 de outubro de 1945, quando a União Soviética, a Ucrânia, a Rússia
Branca e a Polônia (admitida na ONU como membro original) entregaram, ao
mesmo tempo, as suas ratificações para os Estados Unidos. Juntamente com
os demais países que já haviam entregado suas ratificações anteriormente,
James F. Byrnes, o novo Secretário de Estado dos EUA, certificou que todos
os requisitos do artigo tinham sido satisfeitos: “A Carta das Nações Unidas
é agora uma parte da lei de nações [...]”, disse ele (MEISLER, 1997, p. 20).
Segundo Meisler (1997, p. 21), em 29 de janeiro de 1946, o Conselho
de Segurança, reunindo-se com a presença de onze membros, em Londres,
escolheu por unanimidade Trygve Lie, de 49 anos de idade, ministro das
Relações Exteriores da Noruega, como o primeiro Secretário-Geral das Na-
ções Unidas, uma escolha rapidamente ratificada pela Assembleia Geral. Os
norte-americanos teriam preferido Lester B. Pearson, o embaixador canadense
para Washington, um distinto e admirado diplomata que se tornaria primeiro-
-ministro do Canadá, posteriormente laureado com o Prêmio Nobel. Mas a
União Soviética não queria um secretário-geral de um país tão aliado aos Esta-
dos Unidos e à Grã-Bretanha. Naqueles primeiros dias, muito antes do afluxo
de dezenas de Estados infantis da África e Ásia, a ONU contava apenas com
Estados Unidos, China, países da América Latina, os vencedores da Europa,
os domínios britânicos e alguns países do Oriente Médio como membros.

2.2 Objetivos
A Organização das Nações Unidas faz parte do rol de Organizações Inter-
nacionais de natureza universal, permitindo que todos os Estados pertencentes e
reconhecidos pela sociedade internacional possam, se desejarem, participar como
seus membros (NOSCHANG, 2012, p. 77). A ONU constitui importante ator não
estatal, caracterizado como coletividade internacional de fins políticos, natureza
universal, gerindo interesses comuns de paz e desenvolvimento sustentável dos
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 63

povos e seus Estados, sem influência de alianças militares. A maioria dos 51


Estados-Membros signatários do documento fundador da Organização ratificaram
a Carta da ONU, que atualmente conta com 19359 Estados-Membros representados
no órgão de gestão, a Assembleia Geral (NACIONES UNIDAS, 2016).
Segundo Sorto, “trata-se de organização com personalidade jurídica in-
ternacional, alcance universal, vocação política e tendo por objetivo capital a
preservação da paz entre os Estados, fomentando a solução pacífica dos conflitos
internacionais” (2005, p. 67). Silva e Casella (2012, p. 106) anotam que, pela
natureza inerente do sistema internacional, em que os sujeitos são interdepen-
dentes – “e par in parem non habet jurisdictio” –, nasce a necessidade de que
um terceiro faça o papel de intermediação por meio de mecanismos pacíficos
de controvérsia, como mediação ou outros do gênero, ou esse terceiro ainda
poderá julgar lide, na forma de arbitragem ou tribunal internacional permanente.
Assim, o objetivo da ONU, como ensinam Xavier et al. (2007, p. 30), não
é voltado somente a evitar a guerra entre os povos, muito embora haja uma
associação natural da ONU com a manutenção da paz. Deverá, ainda, envolver-
-se com os mais diversos problemas das sociedades, como saúde, educação,
cultura e finanças, assim como preleciona o artigo primeiro da Carta – questões
múltiplas que possam interferir no bom convívio da comunidade internacional.
Segundo Araújo (2005), atualmente, a ONU possui permeabilidade em uma
variedade de assuntos internacionais, e por essa amplitude possui vários organismos
internacionais para viabilizar uma ação mais concreta, chamados de agências.

As atividades da Organização das Nações Unidas são de grande amplitude, pois


que a sua ação abrange uma área imensa no conjunto internacional. Destarte,
para que possa exercer suas diligências, a organização se vale de cooperação
de vários organismos criados por acordos intergovernamentais e a ela vincu-
lados e que aspiram a melhorar as condições econômicas, sociais, culturais,
educacionais e sanitárias de todos os Estados (ARAÚJO, 2005, p. 368).

Coutinho (2007), quando aborda o papel da ONU, é eloquente em dizer


da sua importância para o mundo e de como é notável sua existência, tendo
em vista que promove o respeito pelos nossos direitos, protegendo nosso
habitat e assegurando a nossa sobrevivência.

Todos os dias, mesmo sem uma atuação visível, a ONU promove o respeito
pelos nossos Direitos, protege o nosso habitat, assegura a nossa sobrevivência,
potenciando a construção de um mundo sustentado num desenvolvimento que
tenha em conta aspectos econômicos, sociais e ambientais. Em suma, a ONU

59 A República do Sudão do Sul formalmente se separou do Sudão em 9 de julho de 2011, como resultado de
um referendo internacional monitorado, realizado em janeiro de 2011, admitido como novo Estado-Membro
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 14 de julho de 2011 (NACIONES UNIDAS, 2016).
64

está “infiltrada” em várias áreas do nosso quotidiano. Frequentemente, o seu


trabalho passa-nos despercebido, na azáfama do tempo que passa a correr. As
suas áreas de atuação são muito diversas: Direitos Humanos e, mais especifica-
mente, os Direitos das Crianças e das Mulheres; desenvolvimento sustentável;
combate à fome e à pobreza; saúde; educação; proteção das comunidades
autóctones; proteção do ambiente; o uso das telecomunicações; proteção
dos refugiados; promoção da paz, entre outras (COUTINHO, 2007, p. 181).

A Carta de Fundação da ONU estabeleceu que a comunicação entre seus


membros seja em seis idiomas, os idiomas oficiais da organização: inglês, francês,
espanhol, árabe, chinês e russo – que coincidem exatamente com os idiomas dos
cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, os Fifth Policeman. Tam-
bém criou, para atender seus diversos objetivos, seis órgãos principais: a Assembleia
Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho
de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado (ONUBR, 2016a).
Para Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 31), a Carta da ONU, elaborada
como um tratado multilateral e ratificada pelos Estados-Membros, tornou-se
uma Constituição para o estabelecimento da Organização das Nações Unidas.
Como a maioria dos criadores de Constituição, os autores procuraram criar
um documento que facilitasse o desenvolvimento de uma infraestrutura ad-
ministrativa, a atribuição de responsabilidades, a concessão e circunscrição
dos poderes, a demarcação de jurisdições. Em resumo, o documento deveria
organizar os trabalhos que são típicos de uma Constituição Nacional.
Também comum a todas as Constituições é a enunciação, geralmente
em linguagem própria, com muitos princípios e objetivos a serem alcançados
pela organização. Esse modo de escrever a Carta mostrou-se coerente para
possibilitar interpretações novas de acordo com as mudanças que ocorrem
naturalmente em uma sociedade internacional. Embora a Carta seja um do-
cumento extenso e detalhado, seus idealizadores criaram um documento que
foi flexível e adaptável às alterações de acordo com as condições e os tempos
de mudança, e a história das Nações Unidas indica que eles atingiram os seus
objetivos gerais (ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005).
Por exemplo, ao longo dos anos, a Constituição dos EUA desenvolveu-se
em grande parte por meio do processo executivo, legislativo e de interpretações
judiciais. Da mesma forma, a Carta das Nações Unidas evoluiu através da inter-
pretação pelos seus membros e por seus órgãos principais, especialmente a Assem-
bleia Geral, o Conselho de Segurança, o Secretariado, e do Tribunal Internacional
de Justiça. Usos e costumes, em que mandatos são insuficientes ou ambíguas,
têm sido forças importantes na formação de ambos os sistemas constitucionais
nacionais e do sistema das Nações Unidas (ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005).
Com essa conformação, a ONU – agora com 71 anos de existência –, trans-
formou-se em reconhecido ator não estatal, caracterizado como coletividade
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 65

internacional de fins políticos, natureza universal, gerindo interesses comuns de


paz e desenvolvimento sustentável dos povos e seus Estados, acompanhando
as novas necessidades e tendências da sociedade contemporânea globalizada.
Esses objetivos são levados a termo primeiramente pelos seus seis órgãos60, e
com o auxílio dos denominados braços, que são fundos, programas e agências
especializadas em auxiliar na execução dos seus fins, distribuídos na sede
principal, em Nova Iorque, e em sua sede europeia, em Genebra, além de
instituições localizadas em outros Estados – principalmente pela abrangência
de atuação que sua Carta lhe atribuiu e para pôr em prática as decisões dos
seus órgãos, especialmente as da Assembleia Geral e do Conselho Econômico
e Social (NACIONES UNIDAS, 2016).

2.3 Estrutura organizacional

2.3.1 Assembleia Geral


Começa-se o estudo dos órgãos da ONU pela Assembleia Geral (AG),
que tem sua composição e organização estatuídas a partir do artigo 9º61 da
Carta da ONU. Em linhas gerais, é formada por todos os membros das Nações
Unidas, cada um com direito a um voto, reunindo-se em sessões anuais regu-
lares e em sessões especiais exigidas pelas circunstâncias. As atribuições da
Assembleia abarcam todas as questões e assuntos que influenciam na eficácia
da execução das finalidades da Carta da ONU.
Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 39) anota que a Assembleia Geral é o
único dos seis principais órgãos das Nações Unidas em que todos os Estados-
-Membros estão igualmente representados pelos seus delegados e possuem
um voto para cada membro. Os esforços por algumas das grandes potências
para mudar essa forma de representação, ou seja, alterar para um sistema de
votação que representa sua participação maior e, portanto, votos ponderados,
nunca foram aceitos pelas pequenas e médias potências. A igualdade tradicional
de todos os Estados, grandes e pequenos, nos termos do Direito Internacional
e como participantes em conferências internacionais, fornece a legitimidade
para a continuação da igualdade de votos. Tal igualdade permeia o trabalho
da Assembleia, incluindo a exercida por suas sete comissões principais, em
cada um dos quais todos os membros estão representados. As principais co-
missões da Assembleia são: Política e de Segurança; Econômica e Financeira;

60 Atualmente, encontram-se em atividade cinco órgãos, já que as funções do Conselho de Tutela foram
suspensas devido à independência de todos os territórios tutelados (NACIONES UNIDAS, 2016).
61 “Artigo 9.1. A Assembleia Geral será constituída por todos os Membros das Nações Unidas. 2. Cada Mem-
bro não deverá ter mais de cinco representantes na Assembléia Geral” (BRASIL, 1945).
66

Social; Humanitária e Cultural; de Tutela (o trabalho da Comissão de Tutela


foi suspenso com a independência do último território na década de 1990);
Administrativa e Orçamentária; Legal.
A análise dos pontos da agenda começa geralmente em uma dessas comis-
sões temáticas, em que os assuntos são amplamente debatidos, restando para a
Assembleia Geral, em sessão plenária, debater apenas aspectos mais críticos.
Cada vez mais, como em órgãos legislativos – o Congresso dos EUA, por exem-
plo –, o relatório de um comitê é aceito em sessão plenária com apenas debate
superficial. A Assembleia Geral também utiliza várias comissões processuais
e órgãos subsidiários no desempenho das suas funções de tomada de decisão.
Ainda segundo Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 39), a natureza parlamen-
tar da Assembleia Geral das Nações Unidas torna-se evidente ao se observar
o seu modus operandi. Funciona de maneira semelhante ao Congresso dos
EUA: com conflitos de interesses paroquiais62, devendo desempenhar papel
de tentar harmonizar essas questões regionais, com disputas de classe, credo
e diferenças raciais. Ambos, tanto a AG como o Congresso norte-americano,
devem lidar com as regras processuais que muitas vezes complicam em vez
de acelerar o processo de tomada de decisão. O sistema federal dos EUA
produz um anexo para os direitos dos estados mais ou menos da mesma ma-
neira como a Assembleia Geral da ONU produz quando analisa questões de
interesse global. No entanto, o papel principal de um parlamento deve estar
na preocupação com a liberdade de debate, em que as questões podem ser
discutidas; as decisões, tomadas; os orçamentos, aprovados; os impostos,
determinados; operações administrativas, supervisionadas.
Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 44) anota que a competência da AG para
discutir, debater e votar alcança qualquer problema do mundo ou da própria
organização que a maioria dos membros considera importante. As únicas
exceções a esse amplo poder são a cláusula doméstica de jurisdição (artigo
2º63) e a limitação na Assembleia relativamente às questões examinadas pelo
Conselho de Segurança (artigo 1264). As tomadas de decisões são pela maioria,
uma melhoria em relação ao modelo de votações da Assembleia da Liga das

62 Em busca de analogias, as qualidades parlamentares da Assembleia podem ser encontradas para se


parecer com os parlamentos da Europa continental, com suas coalizões multipartidárias, rivalidades ide-
ológicas e centros de deslocamento de poder, mais perto do que o modelo britânico compacto ordenado
(ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005, p. 39).
63 “Artigo 2º, § 7º – Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em as-
suntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a subme-
terem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará
a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capítulo VII” (BRASIL, 1945).
64 “Artigo 12.1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou
situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembléia Geral não fará nenhuma re-
comendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança a solicite”
(BRASIL, 1945).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 67

Nações, que exigia a unanimidade para a maioria das ações. O artigo 1865 da
Carta das Nações Unidas prevê que as decisões sobre questões importantes66
serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes;
todas as outras questões exigem apenas uma maioria simples.
No que tange à efetividade das decisões tomadas na AG pelos membros
da ONU, tem-se na literatura, bem como na observação prática, a falta de
poder coercitivo eficaz nesse órgão. Suas resoluções têm objetivo de indicar
o pensamento da maioria dos membros da ONU sobre um determinado as-
sunto discutido e votado, com atuação mais diplomática, mas não têm poder
de aplicar sanções a quem quer que seja (BRASIL, 1945).
Na página oficial das Nações Unidas, a Assembleia Geral é intitulada como o
órgão representante, legislativo e deliberativo da ONU, e é o único com represen-
tação universal dos seus 193 Estados-Membros. Reúnem-se, pois, todos os anos,
em setembro, durante a sessão anual, realizada no Salão da Assembleia Geral,
em Nova Yorque. Durante seus primeiros dias, ocorrem as discussões gerais,
com participação de todos os chefes de Estado (NACIONES UNIDAS, 2016).
A tarefa inicial da Assembleia a cada ano é eleger um presidente e sete
vice-presidentes, que servem por um ano. Tornou-se tradicional escolher como
presidente um diplomata internacional líder de um importante Estado de mé-
dio poder, geralmente a partir do Terceiro Mundo. As vice-presidências são
divididas entres as cinco grandes potências e as áreas geográficas do mundo
para garantir o seu caráter representativo e uma justa repartição do prestígio.
Em 1963, o número de vice-presidentes foi aumentado de treze para dezessete,
assim abrangendo os países da Ásia e da África, um do Leste da Europa, três
da América Latina, dois da Europa Ocidental e de ‘outros Estados’ (Canadá,
Austrália e Nova Zelândia), e mais um de cada membro permanente do Con-
selho de Segurança (ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005, p. 45).
Xavier et al. (2007, p. 52) anota que a AG é um dos órgãos soberanos
das Nações Unidas, com seu funcionamento e competências definidos no
Capítulo IV da Carta. A primeira sessão da AG aconteceu em Londres, em
65 “Artigo 18.1. Cada Membro da Assembléia Geral terá um voto. 2. As decisões da Assembléia Geral, em
questões importantes, serão tomadas por maioria de dois terços dos Membros presentes e votantes. Essas
questões compreenderão: recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais;
à eleição dos Membros não permanentes do Conselho de Segurança; à eleição dos Membros do Conselho
Econômico e Social; à eleição dos Membros dos Conselho de Tutela, de acordo como parágrafo 1 (c) do
Artigo 86; à admissão de novos Membros das Nações Unidas; à suspensão dos direitos e privilégios de
Membros; à expulsão dos Membros; questões referentes o funcionamento do sistema de tutela e questões
orçamentárias. 3. As decisões sobre outras questões, inclusive a determinação de categoria adicionais de
assuntos a serem debatidos por uma maioria dos membros presentes e que votem”.
66 “Questões importantes incluem as mencionadas no artigo 18: recomendações de paz e segurança; elei-
ções para os três Conselhos da ONU; admissão, suspensão e expulsão de membros, de tutela e orça-
mentais perguntas, e as questões que a Assembleia decide por maioria de votos são ser considerado
‘importante’” (ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005, p. 42).
68

10 de janeiro de 1946, presidida por Paul-Henri Spaak67, para a estruturação


e organização de todos os órgãos das ONU. A AG é constituída por todos os
Estados-Membros das ONU, com igualdade de um voto para cada membro,
independentemente das características do país – ta­manho, riqueza etc. – ou
do número de representantes acreditados na delegação, no máximo cinco.
Essa participação plural de todos os membros da ONU na AG é uma sin-
gularidade desse órgão, assim considerado o mais representativo em âmbito
internacional. Para Seitenfus (2012, p. 156-157), por reunir todos os Estados-
-Membros em perfeita igualdade jurídica, a Assembleia Geral possui a maior
representatividade dos interesses coletivos internacionais. Ao contrário do caráter
restrito existente no Conselho de Segurança, a universalidade culmina na ampla
legitimidade das suas resoluções. No entanto, o autor alerta que “[...] o valor a
ser identificado nas recomendações da AG se situam no campo político e moral.
Assim, a Carta da ONU, em seus artigos 10 a 1468, não permite que a AG possa
vir a impor suas decisões aos Estados-Membros” (SEITENFUS, 2012, p. 157).

67 Mr. Paul-Henri Spaak, ministro dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, foi eleito o primeiro presidente da
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 16 de janeiro de 1946. Chefe da delegação belga na Confe-
rência de São Francisco e na Comissão Preparatória da Organização das Nações Unidas, foi eleito vice-
-presidente desta (NACIONES UNIDAS, 2016).
68 “Artigo 10. A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem dentro das
finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com as atribuições e funções de qualquer dos órgãos
nela previstos e, com exceção do estipulado no Artigo 12, poderá fazer recomendações aos Membros
das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança ou a este e àqueles, conjuntamente, com referência a
qualquer daquelas questões ou assuntos.
Artigo 11.1. A Assembléia Geral poderá considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção
da paz e da segurança internacionais, inclusive os princípios que disponham sobre o desarmamento e a
regulamentação dos armamentos, e poderá fazer recomendações relativas a tais princípios aos Membros
ou ao Conselho de Segurança, ou a este e àqueles conjuntamente.
2. A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da segurança
internacionais, que a ela forem submetidas por qualquer Membro das Nações Unidas, ou pelo Conselho
de Segurança, ou por um Estado que não seja Membro das Nações unidas, de acordo com o Artigo 35,
parágrafo 2, e, com exceção do que fica estipulado no Artigo 12, poderá fazer recomendações relativas a
quaisquer destas questões ao Estado ou Estados interessados, ou ao Conselho de Segurança ou a ambos.
Qualquer destas questões, para cuja solução for necessária uma ação, será submetida ao Conselho de
Segurança pela Assembléia Geral, antes ou depois da discussão.
3. A Assembléia Geral poderá solicitar a atenção do Conselho de Segurança para situações que possam
constituir ameaça à paz e à segurança internacionais.
4. As atribuições da Assembléia Geral enumeradas neste Artigo não limitarão a finalidade geral do Artigo 10.
Artigo 12.1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou
situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembléia Geral não fará nenhuma re-
comendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança a solicite.
2. O Secretário-Geral, com o consentimento do Conselho de Segurança, comunicará à Assembléia Geral,
em cada sessão, quaisquer assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que
estiverem sendo tratados pelo Conselho de Segurança, e da mesma maneira dará conhecimento de tais
assuntos à Assembléia Geral, ou aos Membros das Nações Unidas se a Assembléia Geral não estiver em
sessão, logo que o Conselho de Segurança terminar o exame dos referidos assuntos.
Artigo 13.1. A Assembléia Geral iniciará estudos e fará recomendações, destinados a:
a) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o desenvolvimento progressivo do
direito internacional e a sua codificação;
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 69

Nota-se que esse órgão possui o antagonismo particular e que sugere a


existência do poder para. Suas decisões são altamente democráticas, cons-
trutivas e com aceitação espontânea. Esse modelo, mesmo sendo defendido
por muitos autores, como Parsons e Arendt, entre outros citados no capítulo
I, recebe críticas extremas, principalmente pela falta da possibilidade de
aplicações de sanções para quem descumpre decisões tomadas em conjunto.

2.3.2 Conselho de Segurança


O Conselho de Segurança da ONU tem sua composição, funções, atribuições
e regras de voto determinadas nos artigos de 23 a 32 da Carta da organização. Ele
possui a responsabilidade primária de manutenção da paz e da segurança interna-
cionais. É composto por 15 membros (cinco permanentes e 10 não permanentes),
cada um tem um voto, embora os cinco permanentes tenham poder de veto.
Para Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 55), a principal responsabilidade
das Nações Unidas é manter a paz. Essa função foi cooptada principalmente
pelas grandes potências por meio da organização do Conselho de Segurança.
No entanto, por mais de quarenta anos, esse Conselho não teve sucesso pleno
em seu intento, recebendo pedidos de mudança. No final de 1980, um novo
modelo de cooperação entre as grandes potências foi experimentado, permi-
tindo ações unificadas a fim de melhor lidar com as crises no Afeganistão, Irã
e Iraque, Camboja e outras áreas problemáticas. Por exemplo, quando o Iraque
invadiu o Kuwait em 1990, o Conselho foi capaz de agir com unanimidade em
condenar a agressão iraquiana e autorizar ação militar coletiva para expulsar
o agressor (ZIRING; RIGGS; PLANO, 2005, p. 56).
O poder das grandes potências no Conselho de Segurança é revelado
na composição dos seus membros, que são quinze. Cinco países – China,
França, Reino Unido, União Soviética e Estados Unidos – foram designados
pela Carta como membros permanentes. Com o fim da União Soviética, a sua
cadeira permanente foi preenchida pela Rússia. Esse fato provocou discussão
da possível inclusão de outros estados, como Japão, Alemanha ou a Índia,
como membros permanentes, mas nenhuma tentativa séria de alteração da
Carta seguiu. Dez membros (originalmente seis) não permanentes são eleitos

b) promover cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e
favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos,
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
2. As demais responsabilidades, funções e atribuições da Assembléia Geral, em relação aos assuntos
mencionados no parágrafo 1(b) acima, estão enumeradas nos Capítulos IX e X.
Artigo 14. A Assembléia Geral, sujeita aos dispositivos do Artigo 12, poderá recomendar medidas para a
solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja sua origem, que lhe pareça prejudicial ao bem-
-estar geral ou às relações amistosas entre as nações, inclusive em situações que resultem da violação dos
dispositivos da presente Carta que estabelecem os Propósitos e Princípios das Nações Unidas”.
70

pela Assembleia Geral para mandatos de dois anos, escalonados em cinco


membros eleitos a cada ano.
Durante os primeiros anos da Organização das Nações Unidas, as potências
ocidentais elegeram uma maioria no Conselho. Em virtude de um acordo de
cavalheiros em 1946, dois assentos eletivos do Conselho foram designados
para a América Latina, um para a Europa Ocidental, um para Europa Oriental,
um para o Oriente Médio e outro para a Comunidade Britânica – arranjo que
assegurava para o Ocidente uma maioria. No final dos anos 1950, pressiona-
dos pelas exigências de representação asiática e africana, os Estados Unidos
conseguiram mudar o assento alocado para a Europa Oriental, transferindo-o
para a Ásia. Esta mudança acabou por ser apenas um calmante temporário.
Em seguida, uma emenda à Carta proposta em 1963, adotada e ratificada
em 1965, ampliou o Conselho de onze para quinze membros, aumentando os
membros eletivos de seis para dez, o que mudou a maioria necessária para
uma decisão de sete para nove votos. Pela resolução da Assembleia, os dez
assentos não permanentes são agora distribuídos da seguinte forma: cinco
lugares para a Ásia e África, um para a Europa Oriental, dois para a América
Latina e dois para Estados ocidentais europeus e outros. A forte concorrência
nas eleições para a Assembleia e as demandas por “representação por área”
demonstram que um assento na mesa do Conselho é uma das honrarias mais
cobiçadas e garantia de poder entre os membros das Nações Unidas (ZIRING;
RIGGS; PLANO, 2005, p. 56-57).
Nos termos da Carta, todos os Estados-Membros são obrigados a adotar
as decisões do Conselho, sob pena de sofrer sanções de diversas formas, como
econômicas, diplomáticas, etc., bem como a utilização do uso da força para
obrigar a aplicação dos termos decididos pelo Conselho (BRASIL, 1945). O CS
atua para identificar ameaças à paz ou atos de agressão; quando estes ocorrem,
sugere que as partes em conflito cheguem a um acordo por meios pacíficos,
bem como recomenda métodos de ajustamento ou termos do acordo. Mas,
em alguns casos, recorre a sanções e, até mesmo, tem o poder de autorizar o
uso da força para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais
(NACIONES UNIDAS, 2016).
No mesmo sentido, Ziring, Riggs e Plano (2005, p. 57) anota que o
Conselho de Segurança, no âmbito da Carta, possui duas possibilidades para
resolver disputas: de forma pacífica (Capítulo VI) ou com uma ação mais im-
positiva, com ações militares inclusive (Capítulo VII). Sempre que possível,
o Conselho tem lidado com situações nos termos do Capítulo VI da Carta, em
vez de considerar a ação coletiva ao abrigo do Capítulo VII, mesmo quando
ambos os lados da controvérsia utilizam ações militares recíprocas.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 71

A Guerra da Coreia (1950-1953) e as hostilidades do Golfo Pérsico (1990-


1991) foram duas exceções a esta regra geral de tentar evitar uma ação militar da
ONU. A divisão no Conselho de Segurança sobre o uso renovado de força contra
o Iraque em 2003 foi em grande parte causada por uma maioria de membros
do Conselho de Segurança, incluindo três dos membros permanentes, optando
pelos procedimentos mais diplomáticos do Capítulo VI; no entanto, uma minoria,
liderada pelos Estados Unidos, argumentou a necessidade de medidas militares
nos termos do Capítulo VII. Essa controvérsia foi resolvida quando os Estados
Unidos, insistindo que havia justificação jurídica suficiente para lançar uma
guerra contra o Iraque, lideraram uma coalizão para a batalha sem aprovação
final do Conselho de Segurança, o que gerou desconforto para a organização.
As técnicas que o Conselho emprega para aplicação dos Capítulos VI
ou VII variam de caso para caso: dependem de cada situação, das questões
políticas envolvidas, do grau de unidade no Conselho, da extensão do perigo
para a paz e a relação da controvérsia e dos litigantes aos membros do Conse-
lho, em particular os membros permanentes. As técnicas que o Conselho usa
para tratar de assuntos de paz e segurança incluem deliberação, investigação,
recomendação, mediação, conciliação, interposição de uma presença de paz
e, em casos extremos, sanções econômicas ou militares.
Outras funções do Conselho são eletivas ou de fiscalização e foram
concebidas pelos autores para permitir que as grandes potências mantivessem
algum controle sobre questões organizacionais. Essas funções são comparti-
lhadas com a Assembleia Geral, incluem a eleição de um secretário-geral, a
admissão de novos membros, a eleição dos juízes do Tribunal Internacional
de Justiça, a privação e restauração dos direitos e privilégios dos membros,
a expulsão de membros. O Conselho de Segurança também supervisionou o
Conselho de Tutela, que foi suspenso após o último território tutelado – Palau
–, declarado independente em outubro de 1994.
Observa-se, assim, que esse órgão possui duas características bem pecu-
liares, que foram objetiva e propositadamente criadas pelas grandes potências:
a primeira é a existência de somente 15 membros que decidem sobre questões
cruciais de segurança internacional representando os 193 países membros
da ONU; a segunda é a existência da necessidade de unanimidade entre os
cinco membros permanentes – o poder de veto –, que se autointitularam “os
guardiões ou policiais de seus continentes” (MEISLER, 1997, p. 7).
Nesse contexto, observam-se também duas questões distintas e que po-
dem levar à compreensão acerca da existência do uso do poder sobre nesse
órgão: de início, percebe-se que as decisões são tomadas sem consulta aos
193 membros da ONU; em seguida, vê-se a existência da pressão superior,
um poder maior, que obriga a aceitação das decisões autoritariamente tomadas
72

pelos 15 membros do CS. Importante notar que o poder de veto dos cinco
países centrais impede qualquer ação da ONU em relação a qualquer um deles.
Esses indícios serão melhor trabalhados no próximo capítulo, para com-
provação ou não do uso do poder sobre por esse órgão.

2.3.3 Conselho Econômico e Social


O Conselho Econômico e Social tem sua composição, funções, atribuições
e regras de voto enumeradas nos artigos de 61 a 67 da Carta. Em síntese, esse
Conselho é responsável por questões econômicas, sociais e ambientais, por
meio de estudos que estejam em conformidade com as resoluções da ONU,
principalmente tomadas pela Assembleia Geral. Ele não tem poder de deci-
são, mas pode fazer acordos e sugerir medidas cabíveis quando evidenciada
a necessidade de ajuste em algumas dessas áreas. Seus membros, em número
de 54, são escolhidos pela Assembleia Geral; 18 deles são renovados a cada
ano, e cada membro possui um voto (BRASIL, 1945).

2.3.4 Conselho de Tutela


O Conselho de Tutela, ou Conselho de Administração Fiduciária, foi
criado para atender a política de tutela da ONU concernente a territórios
administrados por seus membros. A composição, incumbências e forma de
decisão (voto) estão estabelecidas nos artigos de 86 a 89 da Carta. Trata-se de
um órgão de vigilância e acompanhamento dos processos de independência
dos territórios, na época, ainda tutelados.
O Conselho de Tutela foi originado em 1945 e tinha como missão, nos
termos do Capítulo XIII da Carta das Nações Unidas, supervisionar os 11
territórios tutelados, colocados sob a administração de 7 Estados-Membros,
com a finalidade de garantir que adquirissem sua autonomia e independên-
cia. Em 1994, todos os territórios sob tutela tinham conseguido autonomia e
independência; assim, o Conselho de Tutela suspendeu suas operações em 1
de novembro daquele ano (NACIONES UNIDAS, 2016).

2.3.5 Corte Internacional de Justiça


A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judicial das Nações Unidas,
com sede no Palácio da Paz em Haia, Holanda. É o único dos seis principais órgãos
que ainda não está em Nova Yorque. Sua função é resolver, de acordo com o Direito
Internacional, as disputas legais que lhes forem apresentadas por Estados individuais
e emitir pareceres consultivos sobre questões jurídicas que os organismos e agências
especializadas da UNO requererem (NACIONES UNIDAS, 2016).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 73

A Carta da ONU, nos artigos de 92 a 96, dispõe sobre a instituição da


Corte e seu poder de decisão; caso este não seja acatado por seus membros
– que são os signatários da Carta da ONU –, desencadeiam-se providências
a serem tomadas pelo Conselho de Segurança. A forma de organização, com-
petência e do processo da Corte Internacional de Justiça está disposta no seu
Estatuto, anexo à Carta da ONU.
A sua composição é caracterizada por quinze juízes independentes,
escolhidos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança, com voto
igualitário. Salienta-se, ainda, que o processo na Corte dá direito à representação
das partes por meio de agentes, auxiliados por consultores e advogados, de
modo que todos participam efetivamente dos debates e têm ciência de todos
os atos do processo (BRASIL, 1945).

2.3.6 Secretariado
Esse órgão é chefiado ou dirigido pelo Secretário-Geral, que coordena
dezenas de milhares de funcionários internacionais que trabalham em dife-
rentes locais em todo o mundo, realizando atividades diárias estipuladas pela
Assembleia Geral e outros órgãos principais. O Secretário-Geral é o Diretor
Administrativo da Organização (NACIONES UNIDAS, 2016).
As formas de escolha dos funcionários do Secretariado, do Secretário-
-Geral, bem como outras questões de funcionamento e organização desse órgão,
estão estabelecidas nos artigos de 97 a 101 da Carta da ONU, cabendo inferir
que este é um órgão administrativo e que não possui autonomia decisória,
restando a ele o cumprimento integral das decisões da Assembleia Geral, do
Conselho de Segurança, de outros órgãos ou diretorias.
CAPÍTULO III
A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS E O DILEMA ENTRE O USO DO
PODER E OS SEUS OBJETIVOS DE PAZ
Este capítulo analisa a atuação do Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas, abordando o protagonismo da ONU e os dilemas no cumpri-
mento eficaz dos objetivos de paz, causados pelo uso do poder sobre nesse órgão.
Primeiramente, observar-se-á a morfologia desse órgão central, pensado
para dar vida longa a uma nova organização internacional, criada com ob-
jetivo principal de garantir a paz e segurança internacionais, e sem cometer
os mesmos erros de sua antecessora, a Liga das Nações. A origem da ONU
objetivou atender os anseios daquele momento, em que o mundo encontrava-
-se em guerra, reformulando o mapa geopolítico internacional. A nova matriz
hegemônica internacional – com os vencedores da Segunda Guerra Mundial
–, entre outras questões, definiu a formação de uma organização com partici-
pação de toda a sociedade internacional por meio da Assembleia Geral – com
participação paritária, universal, tratando de diversos assuntos de interesse
internacional – e um controle sobre questões de guerra por meio do Conselho
de Segurança – com função pontual de garantir a paz e a segurança interna-
cionais, utilizando todos os meios necessários possíveis, inclusive militares.
Em segundo lugar, buscou-se compreender a estrutura do Conselho de
Segurança, exercendo o poder sobre – teorizado por Hobbes e Weber, devido
o corte epistemológico realizado neste estudo. Infere-se que a atuação do Con-
selho de Segurança – sem acompanhar a evolução da sociedade internacional
contemporânea – encontra-se engessada, truculenta e criticada pelos países
periféricos. A alteração realizada em 196569, aumentando os membros não

69 A reforma no Conselho de Segurança aconteceu somente após longa negociação e, principalmente, para
cumprir o que a própria Carta previa no artigo 23.1 referente à distribuição geográfica dos membros não per-
manentes do Conselho de Segurança, que deve ser equitativa. Luck (2006, p. 113) cita que muitas atividades
importantes da ONU podem ter sido freadas pela divisão da Guerra Fria, mas o afluxo de novos membros
para a organização continuou com muita força. Estimulados pela facilitação do processo de descolonização
da ONU, os membros mais que dobraram entre 1945 e 1963, passando de 51 para 114. Apenas três africanos
e três países asiáticos foram representados em São Francisco, desta forma a nova composição exigia uma
alteração na escolha dos seis assentos não permanentes para que a distribuição continental fosse correta.
América Latina e Europa pareciam estar super-representadas no Conselho, em detrimento da nova maioria.
Os soviéticos sugeriram redistribuir os seis assentos não permanentes observando a nova estrutura, mas,
por outro lado, Washington viu duas opções nada atraentes: a ampliação do Conselho ou assistir os assentos
de seus amigos latino-americanos e aliados europeus ocidentais passarem para os africanos e asiáticos. Na
sessão da Assembleia Geral XVIII, em 1963, depois de oito anos de frustração, a questão da alteração da
76

permanentes de seis para dez, não alterou à obrigatoriedade de unanimidade


dos cinco membros permanentes, o que causa ineficiência nos trabalhos da
ONU a fim de manter a paz no mundo.
Para uma análise e confirmação do uso do poder sobre no Conselho de
Segurança, é importante observar o trabalho realizado por esse órgão e como
o poder é por ele utilizado.

3.1 Conselho de segurança e o uso do poder sobre


O Conselho de Segurança tem, tanto na forma de seleção das matérias
quanto nos critérios de votação, paradigmas desenhados pelos quatro partici-
pantes de Dumbarton Oaks. Mais que isso, o modelo de autoproteção que os
vencedores da Segunda Guerra Mundial vislumbraram ante as ameaças que
poderiam vir a sofrer foi o desejo da continuação da aliança militar da época.
Segundo Oliveira, “para as grandes potências – vencedoras da Segunda
Guerra Mundial – muito mais do que as iniciativas de paz coletiva expressadas
na carta de São Francisco, importava conservar o poder de decisão em favor
de seus interesses – direito de veto” (2005, p. 220). No entanto, nas discussões
das propostas para a criação do novo organismo, em suas entrelinhas, iniciava-
-se a disputa Leste-Oeste, do sistema bipolar dos EUA versus a URSS, que
se estabeleceu posteriormente, resultando na Guerra Fria.
Pode-se, ainda, concluir que o arquétipo desse órgão teve o condão
de proporcionar a proteção simultânea dos Estados Unidos e dos Estados
do Ocidente por um lado, defensores do capitalismo, e da URSS por outro,
desejando resistir com seu regime comunista70. Dessa disputa, originou-se a

Carta para permitir o alargamento do Conselho finalmente veio à tona. No início daquele ano, a primeira reso-
lução da Organização de Unidade Africana (OUA) solicitou oficialmente a expansão do Conselho por meio de
uma emenda à Carta. Por esse ponto, havia pouca dúvida de que uma grande maioria na Assembleia Geral
apoiaria o aumento dos membros, mas os cinco membros permanentes do Conselho – cujo voto positivo seria
necessário para alteração da Carta – ainda não estavam de acordo. Isso constatou-se em 17 de dezembro
de 1963, quando da votação do assunto naquele órgão: somente a China foi favorável, a França e a União
Soviética votaram não, enquanto Reino Unido e Estados Unidos se abstiveram. Os países interessados, prin-
cipalmente o bloco afro-asiático, não desistiram de seu intento, e a Resolução 1991 da XVIII Conferência, para
expandir o Conselho de Segurança de 11 para 15 membros, aumentar o Conselho Social e Econômico de 18
a 27 membros, consequentemente alterando a maioria necessária para passar as questões não processuais
de sete e nove votos, passou facilmente, por uma votação de 97 a 11, com quatro abstenções, na Assembleia
Geral. Porém, conforme regulamento da organização, qualquer dos membros permanentes do Conselho de
Segurança poderia acabar com o intento caso não se ratificassem as alterações até 1º de setembro de 1965.
No entanto, nenhum dos países levou a discussão adiante. Primeiro, a União Soviética, em seguida, China,
França, Reino Unido, e, finalmente, os Estados Unidos cederam; e a primeira alteração substancial ocorreu
no Conselho de Segurança (LUCK, 2006, p. 113-114).
70 “Após a Segunda Guerra Mundial, entrou em acentuado declínio o idealismo que muitas delegações acre-
ditaram existir durante a Conferência de São Francisco. Já nos primeiros meses de 1946, a Guerra Fria se
anunciava no horizonte. Em resposta à provocação de Stalin, de que não era possível uma ordem inter-
nacional pacífica entre os mundos capitalista e comunista, Churchill fez seu famoso discurso da ‘cortina
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 77

regra da unanimidade entre os quatro participantes da reunião de Dumbarton


Oaks, mais a França, incluída como o quinto policial mundial, formando o
conjunto de países detentores do poder de veto nas matérias que envolvem
conflitos sugestivos de perigo para a paz e a segurança internacionais.
Segundo Luck (2006, p. 10), no momento de criação da ONU, para evitar a
anemia política que resultou na morte da Liga das Nações, foram pensadas formas
que dariam um especial direcionamento e vida longa para a nascente organização.
Nos debates iniciais, quatro temas destacaram-se, todos relacionados com as ca-
racterísticas especiais do Conselho de Segurança: primeiro, tal Conselho incluiu
todas as grandes potências e, em particular, serviria para incorporar o poder e o
dinamismo norte-americanos na nova estrutura; segundo, aos Estados mais pode-
rosos, foram dados direitos e responsabilidades especiais, relativos à manutenção
da paz e da segurança internacionais; terceiro, o novo Conselho deveria ser de
tamanho limitado, para evitar uma igualdade exagerada entre grandes e pequenas
potências que caracterizaram a regra do consenso no Conselho da Liga das Na-
ções; quarto, o Conselho teria a autoridade para fazer cumprir as suas decisões,
enquanto que os seus membros tinham a capacidade e a experiência para esmagar
os agressores através do uso coletivo de força, se necessário – o Conselho repre-
sentaria a peça central dessa tentativa mais ousada, buscando institucionalizar a
segurança coletiva71 em âmbito mundial. Essas premissas tiveram seu lugar na
Carta, no entanto, a questão das decisões tomadas pelo Conselho de Segurança
e o domínio pleno sobre a segurança mundial foram exagerados, abrindo espaço
para críticas, já iniciadas em São Francisco, e que se prolongam até os dias atuais.
Luck (2006, p. 22), tratando das medidas que podem ser tomadas e que
constam no Capítulo VII da Carta da ONU, anota que elas variaram de acordo
com o momento e o mapa geopolítico. Durante os primeiros quarenta anos de
trabalho do Conselho, que correspondem aproximadamente aos anos da Guerra
Fria, a média de Resoluções do Capítulo VII aprovadas foi de uma a cada

de ferro’ em Fulton, Missouri, estado de origem do presidente Harry Truman. Entre um e outro pronuncia-
mento, George Kennan, diplomata norte-americano em Moscou, expedia a Washington seu não menos
conhecido ‘telegrama X’, precursor da doutrina de contenção global do comunismo. A paz simbolizada pelo
multilateralismo da ONU contrastava com a paz do ‘mundo real’, movida pelos interesses estratégicos das
potências vitoriosas e suas relações de poder. Nem os Quatro Policiais de Dumbarton Oaks pareciam des-
tinados a permanecer unidos. A China nacionalista do Koumintang, por exemplo, foi excluída de todas as
conversações sobre questões europeias. A Grã-Bretanha entrou em declínio, agravado com a progressiva
dissolução de seu Império, a começar pela perda da Índia, independente desde 1947. Os Três Grandes
rapidamente deixavam de ser uma tríade. Tomava corpo a bipolaridade entre EUA e URSS, as superpotên-
cias da nova era” (GARCIA, 2013, p. 72-73).
71 Segundo Costa (2013, p. 241) Segurança Coletiva é definida como um arranjo institucional entre Estados para
se fortalecerem mutuamente quanto as suas seguranças, tentando garantir estabilidade em temos políticos,
econômicos e sociais. De modo abrangente, Segurança é entendido como um sistema forjado por Estado ou
grupo de Estados como forma de garantir, manter ou alcançar seus interesses, que no limite é sua própria
sobrevivência. Segurança Coletiva é, portanto, um mecanismo parte do sistema de segurança de um Estado.
78

dois anos (22 em 44 anos). Desde 1990, em contraste, o Conselho invocou o


Capítulo VII em uma média de cerca de dezoito resoluções por ano (mais de
uma resolução por mês). O ponto crucial e que possui mais críticas, segundo o
autor, é o de que o capítulo VII abre com uma modesta mas poderosa afirmação.
De acordo com o artigo 3972, é o Conselho de Segurança que “determinará a
existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão, e fará
recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas [...] a fim de
manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais” (LUCK, 2006, p. 22).
Já nos termos do artigo 9973, “o Secretário-Geral poderá chamar a atenção
do Conselho de Segurança para qualquer assunto, que em sua opinião possa
ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacional”, mas só o Conselho
tem autoridade para tomar qualquer providência. Da mesma forma, a Assembleia
Geral poderá discutir quaisquer questões de segurança que lhes forem submetidas
– artigo 11.274 –, mas, se o Conselho estiver tratando do mesmo assunto, a Assem-
bleia “não deve fazer quaisquer recomendações a respeito dessa controvérsia ou
situação, a menos que o Conselho de Segurança o solicite” (LUCK, 2006, p. 22).
Seguindo a observação de Luck (2006, p. 23), tem-se que o Capítulo VII
não faz referência ao Tribunal Internacional de Justiça ou a quaisquer diretri-
zes ou padrões pelos quais o Conselho deveria guiar-se para decidir sobre a
existência ou não de uma ameaça ou sobre a necessidade de uma ação coletiva
qualquer. Assim, o que ocorre são decisões políticas, tomadas por meio dos
votos dos Estados hegemônicos, não necessariamente por referência a uma
autoridade superior ou conjunto de normas. A única observação na Carta da
ONU é com relação à advertência geral, artigo 24.275: o Conselho deve “agir
de acordo com os objetivos e princípios” enunciados na Carta.
Os fundadores estavam principalmente preocupados com a necessidade
de unir forças para opor-se a Estados agressores da época. Necessário recordar

72 “Artigo 39. O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz
ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas de acordo com
os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais” (BRASIL, 1945).
73 “Artigo 99. O Secretário-Geral poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto
que em sua opinião possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais” (BRASIL, 1945).
74 “Artigo 11.2. A Assembléia Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da
segurança internacionais, que a ela forem submetidas por qualquer Membro das Nações Unidas, ou pelo
Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja Membro das Nações unidas, de acordo com o
Artigo 35, parágrafo 2, e, com exceção do que fica estipulado no Artigo 12, poderá fazer recomendações
relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou Estados interessados, ou ao Conselho de Segurança
ou a ambos. Qualquer destas questões, para cuja solução for necessária uma ação, será submetida ao
Conselho de Segurança pela Assembléia Geral, antes ou depois da discussão” (BRASIL, 1945).
75 “Artigo 24.1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus Membros conferem
ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais
e concordam em que no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade o Conselho de Segu-
rança aja em nome deles. 2. No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de acordo com
os Propósitos e Princípios das Nações Unidas. As atribuições específicas do Conselho de Segurança para o
cumprimento desses deveres estão enumeradas nos Capítulos VI, VII, VIII e XII” (BRASIL, 1945).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 79

que o artigo 39 é muito mais amplo, apresenta um espectro de preocupações


que se estende desde a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz
ou ato de agressão; abrange a noção de intervenção precoce, de caráter di-
plomático, político, econômico ou militar; e, ainda, estabelece a autoridade
de definir as precauções que deverão ser tomadas nos termos do artigo 4076,
segundo o qual o Conselho pode convidar as partes interessadas a aceitar as
medidas provisórias que julgar necessárias ou desejáveis, em um esforço para
evitar um agravamento da situação (LUCK, 2006, p. 24).
Desta forma, o Conselho de Segurança possui na atualidade 15 mem-
bros: cinco permanentes – China, França, Federação da Rússia, Reino Unido
da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e Estados Unidos da América; e 10 não
permanentes, renovados a cada dois anos pela metade: atualmente, ocupam os
assentos Angola (2016), Egito (2017), Espanha (2016), Japão (2017), Malásia
(2016), Nova Zelândia (2016), Senegal (2017), Ucrânia (2017), Uruguai (2017)
e Venezuela (2016). Dos 193 Estados-Membros das Nações Unidas, 67 nunca
foram escolhidos para participar como membros do Conselho de Segurança (UN,
2016f). Assim, durante o ano de 2016 pelo menos, os detentores de qualquer
decisão sobre os assuntos de segurança internacional são esses Estados. Outros
Estados até poderão ser chamados a participar da discussão, caso lhes seja de
interesse, mas sem direito a voto – artigo 3277 da carta das ONU (BRASIL, 1945).
Esse modelo de decisão, antidemocrático, polarizado, incompatível até
mesmo com os princípios defendidos pela maioria dos países da ONU – princípio
da democracia –, tem causado movimentos frequentes para uma reforma do
Conselho de Segurança. Para Hertz (1999, p. 85), o debate sobre a necessidade
de democratizar a ONU tem-se fixado em duas questões pontuais: “(a) o processo
decisório dentro da organização, e (b) a representação de atores não estatais”.
A questão da democratização do processo decisório, por sua vez, passa a) pelo
equilíbrio de poder entre a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança, b) pela
necessidade de expandir o Conselho de Segurança e mudar o sistema de veto,
e c) pela necessidade de estabelecer critérios mais claros sobre os assuntos de
competência do Conselho de Segurança, inclusive redefinindo o papel da Corte
Internacional de Justiça e chamando-a a participar das decisões do Conselho
de Segurança em casos específicos (HERTZ, 1999, p. 85).
76 “Artigo 40. A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá, antes de fazer as
recomendações ou decidir a respeito das medidas previstas no Artigo 39, convidar as partes interessadas
a que aceitem as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis. Tais medidas provi-
sórias não prejudicarão os direitos ou pretensões, nem a situação das partes interessadas. O Conselho de
Segurança tomará devida nota do não cumprimento dessas medidas” (BRASIL, 1945).
77 “Artigo 32. Qualquer Membro das Nações Unidas que não for Membro do Conselho de Segurança, ou
qualquer Estado que não for Membro das Nações Unidas será convidado, desde que seja parte em uma
controvérsia submetida ao Conselho de Segurança, a participar, sem voto, na discussão dessa controvér-
sia. O Conselho de Segurança determinará as condições que lhe parecerem justas para a participação de
um Estado que não for Membro das Nações Unidas” (BRASIL, 1945).
80

Quanto ao tema da participação de atores não estatais, Hertz enfatiza


que a “democratização da ONU deve incorporar formas de representação da
sociedade civil, seja enquanto atores coletivos – organizações, movimentos,
e associações de diferentes tipos, seja enquanto indivíduos” (1999, p. 87).
A forma atual de decisão e de trabalho do Conselho de Segurança, por si
só, representa o uso do poder sobre, delineado nos estudos de Hobbes e Weber
e apresentados no capítulo I. Ora, observando-se os debates e as votações ocor-
ridas no Conselho de Segurança, verificar-se-á com clareza o uso desse poder.

3.1.1 O poder do veto


De início, observam-se no gráfico 1 os vetos dos membros permanentes
do Conselho de Segurança nos anos de 1946 a 2015, com um resultado de 104
vetos da URSS/Rússia e 79 dos EUA, enquanto China, França e Inglaterra
aparecem com 8, 15 e 28, respectivamente, evidenciado a bipolaridade dos
dois gigantes e o controle das decisões, nesse órgão, por ambos.

Gráfico 1 – Vetos no Conselho de Segurança dos


membros permanentes – 1946 a 2015

Fonte: Elaborado pelo autor com dados disponíveis em: <http://research.


un.org/en/docs/sc/quick/veto>. Acesso em: 1º out. 2016.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 81

Segundo Xavier et al. (2007, p. 60), o direito de controle adquirido pelas


grandes potências tem relação direta com a vitória da Segunda Guerra Mundial.
Os vitoriosos concederam-se o privilégio de serem membros permanentes com
o benefício do veto, que determina, em última instância, o processo de tomada
de decisão no CS. Isto significa que cada um dos cinco membros permanentes
pode proibir uma ação, mesmo que os restantes catorze sejam a favor.
Para a URSS, inicialmente, o veto lhe proporcionou proteção nas ações da
ONU, visto que, em números de membros, seu bloco era minoritário. Garcia anota
que, “com o poder de veto, os P-578 teriam assegurada imunidade jurisdicional
nos casos de aplicação coercitiva de sanções e poderiam controlar decisões do
Conselho de Segurança que implicassem o uso da força” (2013, p. 69). Nesse
contexto, os 104 vetos da URSS/Rússia evidenciam que ela utilizou o direito ou
poder de veto no Conselho de Segurança de forma consistente, impossibilitando
a ação e o desejo dos demais membros, principalmente da maioria ocidental.
Segundo Garcia (2013, p. 73), as primeiras divergências mais sérias na
unidade das grandes potências refletiram-se no trabalho e nas votações tanto
na Assembleia Geral como no Conselho de Segurança. O bloco ocidental, em
maior número e liderado pelos Estados Unidos, lograva aprovar, pelo voto
igualitário, resoluções de seu interesse na Assembleia Geral. No entanto,
no Conselho de Segurança, a União Soviética recorria ao veto para impedir
decisões que não eram do seu interesse. Nos anos de 1946 a 1965, ocorreram
mais de 100 vetos da delegação soviética.
Tal ação da URSS/Rússia, bem como dos EUA, registra alguns motivos
pontuais que devem ser observados. Seitenfus (2012, p. 355-356) destaca
que a impossibilidade de solução jurídica para o problema da definição dos
requisitos exigidos para novos Estados serem admitidos na ONU – que seria,
em verdade, um problema político – fez com que a URSS usasse de forma
contínua seu poder de veto ao analisar o ingresso desses membros. Por isso, a
totalidade dos vetos do Conselho de Segurança provém da URSS e da grande
maioria oposta ao ingresso de novos membros.
Bosch (1994, p. 49) também registra que, durante a primeira década
da ONU, muitos dos vetos soviéticos no Conselho de Segurança resultaram
da sua oposição a propostas dos demais membros permanentes em relação
à admissão de novos Estados. Não necessariamente eram contra a admissão
de países sugeridos pelos EUA, mas os vetos tinham a pretensão de exercer
pressão para que os países79 indicados por ela também fossem admitidos na

78 Os cinco policiais: EUA, URSS/Rússia, China, França e Grã-Bretanha.


79 Os países que a URSS desejava que fossem admitidos eram Albânia, Bulgária, Hungria, Romênia, Áustria
e Ceilán – agora, Sri Lanka.
82

ONU, normalmente barrados na Assembleia Geral, sob o argumento de que


não possuíam as condições exigidas no artigo 4º80 da Carta.
Os Estados Unidos, no entanto, não utilizaram seu poder de veto no
Conselho de Segurança durante longo tempo81, até porque os norte-americanos
eram muito mais atuantes na Assembleia Geral, onde tinham a maioria dos
membros a seu favor – países ocidentais –, vencendo as decisões com larga
maioria82. Com a entrada de novos membros – orientais em maior número –,
a situação alterou-se, obrigando os norte-americanos a utilizar o mecanismo
do veto no Conselho de Segurança; o primeiro foi em 1970, mais especifica-
mente em 17 de março, na sessão nº 1534: a questão referia-se à situação na
Rodésia do Sul83, atual Zimbábue. Desde então, o veto tem servido basicamente
para defender interesses particulares dos próprios membros permanentes do
Conselho de Segurança e de seus aliados ou protegidos84.
No gráfico 2, observam-se os vetos utilizados por Rússia/URSS, EUA e
China para evitar que novos membros entrassem na ONU. No caso da Rússia/
URSS, como já mencionado, a maioria dos bloqueios para admissão de novos
membros foi como protesto contra a não aceitação, pela Assembleia Geral, dos
Estados que ela indicava para ingresso. Já quanto aos EUA, os vetos tinham
motivações diversas, como a não concordância de acessão do Vietnã à ONU,
sabidamente por ser inimigo de guerra85. Por sua vez, a China somente vetou
um pedido de admissão; o motivo, segundo Nogueira (2012, p. 35), teve relação
com a não aceitação, por Bangladesh, de implementação das resoluções da
Assembleia Geral de retirada das forças armadas do território do Paquistão e
a libertação e repatriação dos prisioneiros de guerra.

80 “Artigo 4. 1. A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz
que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e
dispostos a cumprir tais obrigações” (BRASIL, 1945).
81 Ver os vetos no Conselho de Segurança por ordem cronológica inversa no anexo 2.
82 Seitenfus (2012, p. 358) afirma que, nos primeiros anos de atividade da ONU, existia uma forma razoável
de equilíbrio nas decisões, no entanto a harmonia foi “rompida em razão da Guerra Fria, da divisão dos
membros permanentes do Conselho de Segurança em dois blocos em torno dos Supergrandes e da utili-
zação sistemática do direito de veto contra o direito da maioria”.
83 A Rodésia, atual Zimbábue, começou a ser povoada por colonos ingleses ao final do século XIX por meio
de expedições de cunho imperialista (GONTIJO, 2012).
84 Como exemplo de proteção, citam-se as resoluções vetadas pelos EUA quando tratava-se de interesses de Israel.
85 A Guerra do Vietnã se estendeu de 1959, quando começaram os combates de guerrilheiros comunistas no
Vietnã do Sul (na época, uma ditadura apoiada pelos Estados Unidos), até que os últimos militares deixassem
a capital, Saigon, em abril de 1975. A tomada da cidade hoje chamada Ho Chi Minh pelas forças comunistas
do Vietnã do Norte lançou as bases para a reunificação vietnamita e foi a maior derrota militar da história dos
EUA – que se envolveram no conflito em 1961, temendo o avanço do comunismo. Para norte-americanos e
vietnamitas, foi uma guerra custosa, sangrenta e divisiva. O conflito marcou a história do Vietnã no século
passado, deixou o País em ruínas, causou milhões de mortes e ainda desperta debates. As disputas têm
raízes na rivalidade da Guerra Fria. O antigo Vietnã do Sul dependia da ajuda econômica e militar dos EUA,
enquanto o Vietnã do Norte recebia apoio da União Soviética e da China (LE, 2015, p. 1).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 83

Gráfico 2 – Admissão de novos membros

Fonte: Elaborado pelo autor com dados disponíveis em: <http://research.


un.org/en/docs/sc/quick/veto>. Acesso em: 1º out. 2016.

O gráfico 3 evidencia outras resoluções vetadas no Conselho de Segurança,


selecionadas segundo a quantidade por assunto. A utilização do poder de veto,
a princípio, se mostra a fim de atender os objetivos de manutenção do desenho
geopolítico existente em 1945, ou seja, a manutenção da hegemonia dos cinco
membros permanentes em suas regiões geográficas, principalmente a disputa entre
EUA – apoiado pela Inglaterra e a França – e URSS/Rússia, apoiada pela China.
84

Gráfico 3 – Resoluções vetadas por tema

Fonte: Elaborado pelo autor com dados disponíveis em: <http://research.


un.org/en/docs/sc/quick/veto>. Acesso em: 1º out. 2016.

Algumas dessas questões não aprovadas no Conselho de Segurança


também foram discutidas e analisadas na Assembleia Geral. Por exemplo, a
questão do Oriente Médio, incluindo a Palestina: a Assembleia Geral analisou
e aprovou inúmeras resoluções a favor da desocupação do território palestino
por Israel, a mais impactante foi a de nº A/67/PV.44, firmada em 29 de no-
vembro de 2012, na sexagésima sétima sessão, adotada mesmo após os vários
votos negativos dos EUA, protegendo Israel, no Conselho de Segurança. Um
deles foi em 2011, no sexagésimo sexto ano, sessão 6484, em 18 de feve-
reiro: o objeto do projeto de resolução referia-se ao término das atividades de
assentamentos israelenses no território palestino. Esse projeto de resolução
relembra inúmeras outras resoluções já aprovadas na Assembleia Geral, e
até mesmo algumas do próprio Conselho de Segurança, reiterando que as
atividades de assentamentos nos territórios árabes ocupados eram ilegítimas
e um obstáculo para a paz. Elas reclamavam a cessação imediata e completa
dessas atividades de assentamento por parte de Israel. Esse projeto cita também
um parecer consultivo expedido pela Corte Internacional de Justiça, em julho
de 2004, que exprimia: “os assentamentos israelenses no território palestino
ocupado (incluída Jerusalém Oriental) foram estabelecidos de forma contrária
ao Direito Internacional” (NACIONES UNIDAS, 2011, p. 3.).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 85

A votação desse projeto de resolução, que pretendia a retirada imediata dos


assentamentos israelenses do território palestino, e que estaria configurando,
intrinsecamente, o reconhecimento da Palestina como Estado, teve um único
voto contrário, no entanto, sua aprovação foi impedida, pelo poder de veto.
Foram 14 votos a favor – Bósnia e Herzegovina, Brasil, China, Colômbia,
França, Gabão, Alemanha, Índia, Líbano, Nigéria, Portugal, Federação da
Rússia, Sudáfrica, Reino Unido de Grã-Bretanha e Irlanda do Norte – e um
contra – Estados Unidos de América (NACIONES UNIDAS, 2011, p. 4).
Conforme a regra do veto, prevaleceu o uso do poder sobre.
Na Assembleia Geral, no entanto, onde se observa o uso do poder para,
o projeto de resolução86 nº A/67/PV.44 foi aprovado por maioria87 e com uma
decisão histórica, concedendo à Palestina a condição de Estado observador
não membro da ONU. O projeto aprovado, entre outras questões, “reafirma
o direito do povo palestino e da livre determinação dos povos, incluindo o
direito a um Estado Palestino independente” (NACIONES UNIDAS, 2012,
p. 1-2). Essa resolução da Assembleia Geral não finda a questão mas sinaliza o
caminho desejado pela maioria dos membros da ONU, em contraponto à von-
tade de um Estado – Israel – defendido no Conselho de Segurança pelos EUA.
Oliveira, em brilhante estudo sobre o antagonismo existente entre a Assem-
bleia Geral – identificando o paradigma do idealismo – e o Conselho de Segu-
rança – com paradigma do realismo –, anota que “os princípios desses modelos
incompatíveis entre si, passaram a constituir as regras máximas da Carta” (2005,
p. 222). Essa afirmação tem o condão de evidenciar a dicotomia existente entre
a Assembleia Geral – com emprego de uma norma justa que fizesse reinar a paz
na comunidade internacional de Estados – e o Conselho de Segurança – que
garantiria a proteção de todos os Estados-Membros por meio do uso da força
estatal, sem subordinar-se aos votos de Estados-Membros não permanentes, ou
seja, comandado apenas pelas “decisões das grandes potências e vontade suprema
de seus interesses pelo uso do direito ao veto” (OLIVEIRA, 2005, p. 222-223).

3.1.2 O poder das ações afirmativas


O poder sobre aparece também em ações afirmativas do Conselho de
Segurança, por meio das suas resoluções, declarações, notas à imprensa, etc.
O seu poder sobre pode ser observado, por exemplo, no caso da Resolução nº

86 A Resolução A/RES/67/19 pode ser observada na íntegra no endereço <http://www.un.org/en/ga/search/


view_doc.asp?symbol=A/RES/67/19&referer=http://www.un.org/en/ga/67/resolutions.shtml&Lang=S>.
87 A votação seguiu: 138 nações votaram a favor, 41 abstiveram-se, e nove – Israel, Estados Unidos, Canadá,
República Checa, Panamá, a Ilha de Palau, Nauru, Ilhas Marshall do Pacífico e Micronésia – votaram
contra o projeto de resolução (UN, 2016b).
86

67888, aprovada em 1990, por 12 membros da ONU89, que, pela primeira vez na
história do Conselho de Segurança, autorizou o uso da força contra um Estado
– o Iraque – na conhecida Guerra do Golfo90. Em resumo, a Resolução autoriza
os Estados-Membros a cooperar com o Governo do Kuwait, fornecendo suporte
adequado para qualquer ação, e utilizar todos os meios necessários para defender
e aplicar a Resolução 660, também daquele ano, e todas as resoluções pertinentes
subsequentes, a fim de restaurar a paz internacional e a segurança na região.
A resolução, entre várias determinações, permite o uso da força, mesmo
não utilizando esses termos91, contra o Iraque. Dessa forma, observa-se que
a decisão de intervenção no Iraque, tomada por 12 membros da ONU, sem
consenso nem mesmo entre os 15 integrantes do Conselho de Segurança,
caracteriza-se pelo uso do poder sobre, tanto pela tomada de decisão como pela
imposição daquela sobre um dos Estados-Membros, com o uso de ação militar.
Arraes (2004, p. 118), em estudo sobre a Guerra do Golfo e a nova ordem
mundial, resume que o fim da Guerra Fria e do bloco comunista constituiu para os
Estados Unidos a sua terceira conquista: começou com a Primeira Guerra Mun-
dial, quando o adversário fora o modelo monárquico autoritário, centralizado na
88 “O Conselho de Segurança, recordando e reafirmando suas resoluções 660 (1990), de 2 de agosto de 1990,
661 (1990), de 6 de agosto de 1990, 662 (1990), de 9 de agosto de 1990, 664 (1990), de 18 de agosto de
1990, 665 (1990) de 25 de agosto de 1990, 666 (1990), de 13 de setembro de 1990, 667 (1990), de 16 de se-
tembro de 1990, 669 (1990), de 24 de setembro de 1990, 670 (1990), de 25 de setembro de 1990, 674 (1990),
de 29 de Outubro de 1990 e 677 (1990), de 28 de Novembro de 1990, observando que, apesar de todos os
esforços das Nações Unidas, o Iraque se recusar a cumprir a sua obrigação de implementar a resolução
660 (1990) e as resoluções pertinentes aprovadas posteriormente, e as que se faz referência no parágrafo
anterior. Consciente dos seus deveres e responsabilidades nos termos da Carta da Organização das Nações
Unidas para a manutenção e preservação da paz e da segurança internacional. Determinada a assegurar o
cumprimento integral das suas decisões. Atuando sob o Capítulo VII da Carta. 1. Exige que o Iraque cumpra
integralmente a resolução 660 (1990) e todas as resoluções pertinentes subsequentes, e decide, em tempo
que mantém todas as suas decisões, permitir ao Iraque uma última oportunidade para fazê-lo; 2. Autoriza os
Estados-membros a cooperar com o Governo do Kuwait, a menos que o Iraque, antes de 15 de janeiro de
1991, cumpra as resoluções conforme estabelecido no parágrafo 1 acima, para usar todos os meios neces-
sários para defender e aplicar a resolução 660 (1990) e todas as resoluções pertinentes subsequentes a fim
de restaurar a paz internacional e a segurança na região; 3. Solicita a todos os Estados que forneçam suporte
adequado para as ações empreendidas no âmbito do parágrafo 2 acima; 4. Os pedidos que os Estados man-
tenham o Conselho de Segurança regularmente informado sobre a evolução das ações empreendidas nos
termos dos nos 2 e 3 acima; 5. Decide continuar atento ao assunto.” (RESOLUÇÃO 678 do CS. Disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/678(1990)>. Acesso em: 23 out. 2016).
89 A Resolução do Conselho de Segurança nº 678 foi aprovada com 12 votos favoráveis, 2 contra (Cuba e
Iêmen) e 1 abstenção (China). (RESOLUÇÃO 678 do CS. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/
view_doc.asp?symbol=S/RES/678(1990)>. Acesso em: 23 out. 2016).
90 Em 1990, o exército do Iraque invadiu o Kuwait, ambos situados junto ao golfo Pérsico (uma grande exten-
são de água que existe no Oriente Médio). Em janeiro de 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU)
enviou um exército com soldados de muitos países para expulsar os iraquianos. A guerra que eles trava-
ram ficou conhecida como Guerra do Golfo (Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/article/482193/
Guerra-do-Golfo>. Acesso em: 26 out. 2016).
91 Caso notório de ambiguidade foi o da Resolução 678 (1990), em que se utilizou a expressão “to use all
necessary means” porque a URSS quis evitar o termo “uso da força” (UZIEL, 2010, p. 120-121).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 87

Alemanha; na Segunda Guerra Mundial, o nazifascismo, novamente localizado na


Alemanha; e, por terceiro, o comunismo, defendido pela União Soviética. Ao final,
os EUA não possuem adversários: é natural o exercício de sua liderança sistêmica.
A aprovação da Resolução 678, aprovada em 2 de agosto de 1990, sinali-
zou um novo momento de consenso entre os P5 da ONU, liderados novamente
por EUA, como o experimentado durante a criação da Carta, em 1945, com a
união dos aliados da Segunda Guerra Mundial. A sincronia, pelo menos nesse
tema, proporcionou também a aprovação da Resolução 687, em 3 de abril
de 1991, que disciplinou, em síntese, o fim do conflito, com o cessar fogo e
a imposição de inúmeras obrigações ao Iraque, entre elas, a necessidade de
eliminação de armas químicas, biológicas e mísseis de longo alcance.
Esse tema renasceu após o ataque às Torres Gêmeas92, em 11 de setembro
de 2001, e o início da caçada ao terrorismo, empregada principalmente pelos
norte-americanos. Com o consenso no Conselho de Segurança de que o Iraque
não havia respeitado as determinações condicionadas em 1991, aprovou-se a
Resolução 144193, em 8 de novembro de 2002, que foi o embasamento legal,
segundo os EUA e a Inglaterra, para retomar o uso da força contra o Iraque
em 2003, deflagrando a guerra, ou a invasão ao Iraque94, sem a determinação
clara do Conselho de Segurança, mas sob seu conhecimento.
Esse poder sobre desempenhado pelo Conselho de Segurança mostrou-se
visível, principalmente, após o declínio da URSS e sua extinção. Nos novos
tempos, a bipolaridade existente nos primeiros tempos da ONU – entre o bloco
democrático liberal, conduzido pelos EUA, e o comunista, liderado pela URSS –
desaparece, e o Conselho de Segurança experimenta uma nova forma de trabalho,
com decisões produzidas com o impulso mais vigoroso do unipolarismo norte-
-americano, mesmo que ainda se observem nas decisões resquícios da divisão
anterior, até mesmo pela familiaridade das ideias partilhadas por longo tempo.
92 Em 11 de setembro de 2001, o grupo terrorista Al Qaeda jogou dois aviões contra as torres gêmeas do
World Trade Center, nos EUA. Quatro aeronaves caíram em solo norte-americano naquele dia, deixando
quase 3 mil vítimas. (Disponível em: <http://www.dw.com/pt-br/2001-atentado-terrorista-%C3%A0s-torres-
-g%C3%AAmeas-nos-eua/a-18708622>. Acesso em: 28 out. 2016).
93 Parte da Resolução 1441 de 2002: “Agindo ao abrigo do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, 1.
Decide que o Iraque tem incorrido e continua a incorrendo em grave violação das suas obrigações sob
as resoluções pertinentes, incluindo a resolução 687 (1991), em particular por não cooperar com os
inspetores das Nações Unidas e da AIEA e por não levar a cabo as medidas previstas nos parágra-
fos 8-13 da resolução 687 (1991)” (RESOLUÇÃO 1441. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/
view_doc.asp?symbol=S/RES/1441(2002)&referer=http://www.un.org/en/sc/documents/resolutions/2002.
shtml&Lang=E>. Acesso em: 26 out. 2016).
94 Guerra do Iraque, também chamada de Segunda Guerra do Golfo Pérsico (2003-11), foi conflito que con-
sistiu em duas fases: a primeira delas foi uma breve guerra, de março a abril de 2003, em que uma força
combinada de tropas dos Estados Unidos e Grã-Bretanha (com pequenos contingentes de diversos outros
países) invadiu o Iraque e derrotou rapidamente forças militares e paramilitares iraquianas; ela foi seguida
por uma segunda fase mais ampla, com uma longa ocupação liderada pelos EUA ao Iraque, que durou até
2011. (Disponível em: <https://global.britannica.com/event/Iraq-War>. Acesso em: 28 out. 2016).
88

No gráfico 4, observa-se a quantidade de resoluções aprovadas no Con-


selho de Segurança por ano, ficando visível um aumento vertiginoso a partir
dos anos 1990, momento do término da Guerra Fria.

Gráfico 4 – Resoluções aprovadas pelo Conselho de


Segurança entre 1945 e setembro de 2016, por ano

Fonte: Elaborado pelo autor com dados disponíveis em: <http://www.


un.org/es/sc/documents/resolutions/>. Acesso em: 1º set. 2016.

A média de Resoluções aprovadas até 1989 foi de 14,68 por ano, enquanto
nos anos de 1990 a 2015 alcançou-se a média de 62, um aumento de 432 por
cento nas ações do Conselho de Segurança (UN, 2016g).
Os assuntos tratados e aprovados pelo Conselho de Segurança até 1990
resumiam-se a questões menores do cenário internacional – utilizando proce-
dimentos mais diplomáticos (Capítulo VI), executando as funções eletivas e de
fiscalização, como a eleição de novos membros, a eleição dos juízes do Tribunal
Internacional de Justiça, a privação e restauração dos direitos e privilégios dos
membros, e a expulsão de membros –, até porque, quando envolviam assuntos
complexos, ocorriam os vetos, como visto nos gráficos de 1 a 4.
A aplicação dos procedimentos previstos no artigo 41, capítulo VII, estão
em maior evidência a partir do término da Guerra Fria, podendo ser a aplicação
de sanções ou o total uso da força. As medidas de sanções, nos termos do artigo
41, abrangem uma ampla gama de opções de aplicação que não envolvem dire-
tamente o uso da força armada. São medidas que vão desde sanções econômicas
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 89

e comerciais abrangentes até medidas mais específicas, tais como embargos de


armas, proibição de viagens e restrições financeiras ou de commodities. Desde
1966, o Conselho de Segurança estabeleceu 26 regimes de sanções95.

Gráfico 5 – Decisões do CS relacionadas com sanções, por ano

Fonte: UN (2016c).

As sanções aplicadas estão relacionadas com os temas de embargo de


armas, proibição de exportação de armas por Estado de destino, embargo de
armas químicas e biológicas, medidas de não proliferação, restrições sobre mís-
seis balísticos, congelamento de bens, restrições financeiras, apoio financeiro
público para as restrições comerciais, embargo de óleo e petróleo, embargo
comercial, restrições de negócios, proibição do comércio de bens culturais,
embargo de diamante, embargo de bens de luxo, embargo de madeira, proibi-
ção do carvão vegetal, embargo de precursores de drogas, embargo sobre os
recursos naturais, proibição ou restrições para viajar, sanções ao transporte e

95 Rodésia do Sul, África do Sul, a ex-Iugoslávia, Haiti, Iraque, Angola, Serra Leoa, Somália, Eritreia, Libéria,
República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Sudão (2), Lebanon, RPDC, Irã, Líbia (2), Guiné-
-Bissau, CAR, Iêmen e Sudão do Sul, bem como contra ISIL (Da’esh) e Al-Qaeda e aos talibãs (2). (UN.
2016. Disponível em: <https://www.un.org/sc/suborg/en/sanctions/information>. Acesso em: 31 out. 2016).
90

aviação, proibição de serviços de abastecimento de combustível, restrições


da representação diplomática ou no exterior, conforme gráfico 6.

Gráfico 6 – Decisões relacionadas com sanções do


Conselho de Segurança, por medida

Fonte: UN (2016c).

As sanções foram direcionadas a regimes: Al-Qaeda/Talibã, República


Central Africana, DPRK, DRC, Guiné-Bissau, Irã, Iraque, ISIL (Da’esh)/Al-
-Qaeda, Líbano, Líbia, Somália/Eritreia, Sudão do Sul, Sudão, Talibã e Iêmen.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 91

Gráfico 7 – Decisões relacionadas com sanções do CS em relação ao regime

Fonte: UN (2016c).

Há também as denominadas operações de manutenção da paz, as quais


muitas vezes referem-se aos mesmos locais que sofreram ou sofrem sanções. Elas
são realizadas com mandados de natureza diferente, que vão desde os métodos
tradicionais de resolução de conflitos pacificamente, acordo com o Capítulo VI da
Carta, como a promoção da reconciliação, a assistência com a implementação de
um acordo de paz, mediação e bons ofícios; até uma ação mais enérgica em con-
formidade com as disposições do Capítulo VII, em que é autorizada uma variedade
de medidas, incluindo o uso da força sob o artigo 42 da Carta (UN, 2016d).
O gráfico 8 demonstra as operações de manutenção da paz, bem como
missões avançadas ou observadores, que o CS estabeleceu, por região.
92

Gráfico 8 – Operações de manutenção de paz do CS, por região

Fonte: Elaborado pelo autor com dados disponíveis em: <http://www.un.org/es/sc/repertoire/


subsidiary_organs/peacekeeping_missions.shtml#cat1>. Acesso em: 31 out. 2016.

Cada operação de paz é comandada por um organismo criado com tarefa


e missão próprias, dependendo do problema de cada local, conforme anexo C.
De uma equipe de apenas 120 homens desarmados em 1948, as operações de
manutenção de paz cresceram e se transformaram ao longo dos anos. Desde
então, as Nações Unidas contaram com 71 missões de paz, com um papel
fundamental na configuração da ordem e segurança mundiais.
Em meio às incertezas da primeira guerra árabe-israelense de 1948, quando
as Nações Unidas não completavam nem três anos de existência, foi iniciada
a primeira missão de paz. A operação contava com 120 homens desarmados,
vestindo uniformes variados, que monitoravam uma trégua instável (ONUBR,
2016b). Hoje, quando a ONU completa 70 anos, vê-se que essa semente
cresceu e se transformou em 71 forças bem armadas, que abrangem centenas
de milhares de tropas e policiais de vários dos Estados-Membros doadores.
Equipados com veículos aéreos não tripulados (VANTs) para reconhecimento
do terreno, as forças desfrutam de um mandato vigoroso, que permite o uso
da força para proteger os civis (ONUBR, 2016b).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 93

A manutenção da paz internacional e segurança é um dos três principais


pilares da ONU, juntamente com a promoção do desenvolvimento e a garantia
da observância dos direitos humanos. Com um nome que ainda não designava
a referência geográfica, a Organização de Supervisão da Trégua das Nações
Unidas (UNTSO) configurou-se como o primeiro esforço de manutenção da paz
mundial (ibidem). Atualmente, o Departamento de Operações de Manutenção da
Paz (DPKO) da ONU conta com uma equipe de aproximadamente 125 mil fun-
cionários. A maioria encontra-se em campo, com um efetivo de mais de 106 mil
homens e mulheres uniformizados, provenientes de 122 países e distribuídos em
16 operações em andamento pelo mundo. Incluindo na primeira delas a UNTSO,
criada em 29 de maio de 1948 e renovada anualmente, como um triste e irônico
lembrete sobre a dificuldade de alcançar uma paz duradoura (ONUBR, 2016b).
Essas intervenções para manutenção da paz são, na verdade, ações impo-
sitivas da ONU, tomadas pelo Conselho de Segurança, e possuem legitimidade
no artigo 42 da Carta das Nações Unidas. Elas proporcionam autoridade ao
Conselho de Segurança para o exercício, por meio de forças terrestre, aérea,
naval ou outras ações necessárias, da manutenção ou restabelecimento da paz
e da segurança internacionais.
O Conselho de Segurança autorizou o uso da força militar para acabar
com a agressão de um Estado contra outro em somente duas situações até
1990 – a Guerra da Coreia em 1950 e a agressão, em 1990, do Iraque contra
o Kuwait. Após 1990, o CS autorizou o aumento do uso da força, de acordo
com o Capítulo VII da Carta, em circunstâncias diferentes e com diferentes
graus de intensidade. Então, aprovou vários bloqueios navais para impor
sanções (no Iraque, na ex-Iugoslávia, no Haiti e em Serra Leoa). Houve uso
da força para operações de manutenção da paz das Nações Unidas [como
na ex-Iugoslávia, Somália, República Democrática do Congo, Kosovo e Timor
Leste, e nas entidades regionais (como a Missão da CEDEAO na Costa do
Marfim, MICECI; a Força da União Europeia na República Democrática do
Congo, EUFOR RD Congo; e da Missão da União Africana para a Somália,
AMISOM)]. Também, autorizou o uso de todas as medidas necessárias (na So-
mália, Haiti, Ruanda, Zaire Oriental, Albânia, Bósnia e Herzegovina, Timor
Leste, Bunia, República Democrática do Congo, Libéria e Iraque) (UN, 2016e).

3.1.3 O poder da omissão


No Conselho de Segurança, observa-se também o uso do poder sobre em
casos que são de sua competência para tratar mas acabam não sendo levados
nem mesmo ao debate. Em alguns casos, a Assembleia Geral procura de todas
as formas impulsionar a ação do Conselho de Segurança para determinados
assuntos que possuem consenso majoritário na ONU mas que, por questões
94

que poderiam afetar algum ou alguns membros do CS ou afins destes, não


são postos na ordem de discussão.
Lukes (1980, p. 13-14) ao analisar o poder e criar a teoria tridimensional
do poder as visões unidimensional, bidimensional e tridimensional, anota que
na visão bidimensional além de se observar o poder de decisões concretas,
classicamente conhecida, deve-se observar também o poder das não decisões
que em última análise são decisões de não agir.
Para Lukes “uma análise satisfatória, pois, do poder bidimensional envolve
o exame tanto da tomada de decisão, quanto da não-tomada” (1980, p. 15).

Assim, a não-tomada de decisão é ‘um meio pelo qual demandas de mu-


dança, na existente alocação de benefícios e privilégios na comunidade,
podem ser sufocadas antes até de serem enunciadas; ou mantidas encobertas;
ou eliminadas antes de ganharem acesso à relevante arena das tomadas de
decisões; ou, falando todas estas coisas, mutiladas ou destruídas na etapa de
implementação da decisão no processo de política’ (LUKES, 1980, p. 15).

Essa não tomada de decisão chama-se de poder de omissão e que podem


ser observados em pelo menos dois casos emblemáticos, o primeiro refere-
-se aos embargos contra Cuba, onde foram 25 resoluções aprovadas pela
Assembleia Geral em favor do término dos embargos dos Estados Unidos
contra Cuba96, iniciados em 196097. A última resolução foi aprovada em 26
de outubro de 2016. Diferentemente das demais 24 votações anteriores, essa
não teve nem um voto negativo, visto que o resultado foi de 191 votos contra
a imposição do bloqueio e duas abstenções (Estados Unidos e Israel) – nas
demais votações, EUA e normalmente Israel votavam contra.
Na votação da vigésima segunda Resolução, Jorge Montaño, representante
do México, disse que seu país vinha expressando sua posição para o fim do
bloqueio por mais de duas décadas, o qual não foi apoiado por lei. Ele disse
também que quaisquer tipos de sanções somente poderiam ser impostas por
meio do Conselho de Segurança; como tal, a sua delegação votaria a favor da
resolução – isso era o mínimo que seu país poderia fazer para condenar algo
que estava acontecendo por mais de 40 anos (UN, 2013).
No entanto, essas votações na Assembleia Geral não geraram obrigação,
exatamente pelo fato de que tal questão está sob abrigo das matérias do Conselho

96 “Em 1962 os Estados Unidos da América instituíram um bloqueio naval contra a República de Cuba – Nação
insular localizada a menos de 200 quilômetros da costa norte-americana e que passara por uma revolução
socialista três anos antes – após a descoberta da instalação de mísseis nucleares soviéticos em território
cubano. Muitos consideram esse momento como o mais próximo que a humanidade já chegou de uma guerra
nuclear devido ao grande mal estar gerado entre as duas potências diante da questão” (TEMAS, 2016).
97 Em 1960, todas as empresas norte-americanas em Cuba foram nacionalizadas sem indenização; assim
os EUA rompem relações diplomáticas com Havana e impõem um embargo comercial em resposta às
reformas de Castro (BBC, 2016).
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 95

de Segurança, o qual nunca se pronunciou sobre o assunto, até porque o principal


interessado – EUA – possui voto positivo obrigatório, não fazendo sentido o envio
de matéria em relação à qual se sabia antecipadamente o resultado. A inércia do
CS sinalizou e conferiu legitimidade para que os EUA continuassem com os em-
bargos contra Cuba, inimigos declarados e sempre em iminente perigo de guerra.
O segundo é o caso do genocídio em Ruanda no ano de 199498, que da
mesma forma renderam críticas à atuação do Conselho de Segurança. Mesmo
com duas missões da ONU na região – Missão de Assistência das Nações
Unidas para Ruanda (UNAMIR), nos anos de 1993 a 1995 e 1996 a 1999, e
Missão de Observação da Uganda das Nações Unidas e do Ruanda (UNOMUR),
nos anos de 1993 a 1995 –, após a morte do presidente Ruandês Habyarimana,
em 6 de abril de 1994, em um acidente aparentemente orquestrado, eclodiria
uma onda de extermínio de motivação étnica, política e indiretamente eco-
nômica, em que morreriam mais de oitocentas mil pessoas, maioria Tutsi, e
três milhões se deslocariam internamente ou para países vizinhos – menos de
duzentos mil Tutsis sobreviveram ao massacre (PATRIOTA, 2010, p. 110).
Segundo Patriota (2010, p. 107), o Conselho de Segurança analisou essa
questão em Ruanda em 20 de abril de 1994, quando existiam duas opções
não coercitivas a serem tomadas: a primeira seria o envio de tropas ao País
em quantidade suficiente para impor um cessar-fogo e restabelecer a ordem;
a segunda seria reduzir a capacidade da UNAMIR, ou retirá-la do País. A de-
cisão foi de reduzir para 270 homens a composição da UNAMIR.
Essa omissão do Conselho de Segurança foi, em grande parte, produzida
pelos EUA, que não se interessaram pelo assunto em Ruanda, consequentemente o
Conselho de Segurança não se mostrou apto para resolver a questão sem tal apoio
e, mais que isso, sem o impulso e uso das forças armadas dos norte-americanas.
Segundo Benitz (2008, p. 25), o presidente Bill Clinton, ao escrever
sobre a crise em Ruanda em sua autobiografia, anotou que as preocupações
estavam com a Bósnia, a Somália e a oposição no Congresso às ações militares
em lugares distantes, consideradas não vitais aos interesses nacionais norte-
-americanos. Nem Clinton nem qualquer membro de sua equipe de política

98 A origem das tensões em Ruanda pode ser conhecida com mais profundidade na obra de Patriota, que em
um dos trechos anota: “O acirramento das tensões tradicionais entre a maioria Hutu e a minoria Tutsi na
região africana dos ‘grandes lagos’ data da época colonial. Primeiramente os alemães (de 1908 até 1916),
e posteriormente os belgas – que ocuparam a área durante a I Guerra Mundial e viriam a administrá-la sob
um mandato da Liga das Nações depois transferido para a ONU – se serviram da população Tutsi (ou Watusi
como foi conhecida), criadora de gado e guerreira, para dominar as terras do então chamado Ruanda-Urundi.
Governados como parte do Congo belga até 1960, Ruanda e Burundi se 109 A INVOCAÇÃO DO CAPÍTULO
VII APÓS A GUERRA DO GOLFO tornariam independentes em 1962. Um sistema de coexistência que
perdurara por centenas de anos seria desagregado pela política colonial de favorecimento do grupo que, por
seus traços finos e estatura esguia, foi considerado por Gobineau como aparentado aos arianos. A rivalidade
racial latente se intensificaria com o surgimento de uma elite administrativa Tutsi e com a institucionalização
de um sistema de designação étnica na documentação de identidade individual” (2010, p. 108-109).
96

externa avaliaram adequadamente a necessidade de enviar tropas para deter


o massacre. O presidente norte-americano confessou que o fracasso em tentar
acabar com as tragédias de Ruanda tornou-se um dos maiores arrependimentos
de sua presidência. Benitz acrescenta que, em relação aos EUA, “apesar do
massacre de quase um milhão de pessoas, a intervenção não tinha interesse
estratégico e o público nunca exigiu ação” (2008, p. 25).
A política norte-americana estava mesmo passando por mudanças. Se-
gundo Patriota (2010, p. 107), a embaixadora norte-americana, Madeleine
Albright, sabia dos problemas de Ruanda, mas pensava em fazer deste país
o primeiro teste da nova política presidencial, a PDD-25 – que limitava as
possibilidades de envolvimento dos EUA em conflitos que não afetassem
interesses vitais dos norte-americanos e assumia uma postura mais restritiva
em relação a operações de paz da ONU, de modo geral.
O CS mostrou-se dependente dos EUA, visto que, mesmo atento ao
assunto, nada fez para evitar o genocídio, de antemão avisado. A autoridade
traz também obrigação, e o CS, único órgão internacional com atribuição
determinada para manter a paz, não agiu de forma consistente para cumprir
seu papel, utilizando seu poder sobre para ficar omisso ao flagelo ruandês.

3.2 Dilemas no cumprimento eficaz dos objetivos de paz


O Conselho se Segurança possui duas características bem peculiares, que
foram objetivamente e de forma propositada talhadas pelas grandes potências:
a existência de somente 15 membros que decidem sobre questões cruciais de
segurança internacional, representando os 193 países membros da ONU; e a
existência da necessidade de unanimidade entre os cinco membros permanentes
– o poder de veto –, que se autointitularam “os guardiões ou policiais de seus
continentes” (MEISLER, 1997, p. 7). Nesse contexto, observa-se o trabalho do
CS com decisões tomadas sem consulta aos 193 membros da ONU; em seguida,
anota-se a existência da pressão superior, um poder maior, que obriga a aceitação
das decisões autoritariamente tomadas pelos 15 membros do CS, tanto para
agir como para se omitir. Nota-se que o poder de veto dos cinco países centrais
impede qualquer ação da ONU que possa reverter-se contra ações de seus in-
teresses. Esse modelo de decisão refere-se ao uso do poder sobre nesse órgão.
Os desenlaces referidos demonstram que a ONU não foi construída
democraticamente. Ao contrário, propositalmente organizada para que cada
continente tivesse um guardião, todos interligados e vigiados entre si pelo
poder de veto. Para Seitenfus (2012, p. 328), ao contrário da Liga das Nações
– em que os Estados eram colocados num mesmo plano jurídico –, a nova
organização, a partir do Conselho de Segurança, permite o acesso às instân-
cias decisórias somente a um pequeno e seleto grupo de países que possuem
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 97

condições, principalmente bélicas, de garantir hegemonia em seus respectivos


continentes, “uma decorrência natural do desenlace da guerra”.
O principal motivo de criação da ONU foi a necessidade de evitar uma
nova grande guerra99, como a que estava em curso na época de sua criação,
por meio da escolha não aleatória de guardiões da paz. A Liga não foi reestru-
turada para atender os novos arranjos globais, principalmente por não ter os
EUA como participantes daquela organização. Assim, melhor criar um novo
estatuto, conforme os desejos dos iminentes vitoriosos da Segunda Grande
Guerra, do que reformar o estatuto antigo e desprestigiado.
Seitenfus, em referência à Conferência de Moscou – onde reuniram-se
Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, e declararam ao final o desejo
de criação de uma “organização internacional baseada no princípio da igual
soberania de todos os Estados pacíficos, pequenos ou grandes, como objetivo
de manter a paz e a segurança internacionais”100 – conclui que “a ONU nasce
da guerra e será construída para combater a guerra” (2012, p. 326).
As mudanças ocorridas no sistema geopolítico internacional após o
termino da Guerra Fria apresentam dificuldades para que o sistema da ONU
permaneça como desenvolvido inicialmente. O fim do sistema bipolar deixou
nas mãos dos EUA, agora unipolar, a obrigação de tratar de conflitos que
ameaçam a paz mundial. As diversas ações do Conselho de Segurança, princi-
palmente após 1990, demonstram que o CS agora mobiliza-se principalmente
em temas que envolvem interesses norte-americanos.
Os casos da Resolução 789 da Guerra do Golfo em 1990 e, mais tarde,
sua continuação com a Guerra do Iraque, promovida sob a legalidade da
Resolução 1441, de 2001, demonstraram claramente a prevalência da ação
dos EUA e, como coadjuvante, Inglaterra. Outro exemplo apresentado foi o
genocídio em Ruanda, onde houve a omissão do CS em promover as medidas
necessárias para impedir o massacre anunciado. Faltou ação dos EUA para
mobilizar os demais Estados-Membros em arcar com o ônus da segurança
internacional, já que a eles não era interessante naquele momento o envio
de tropas militares e demais meios necessários para promover a paz naquele
infeliz, pobre em recursos minerais e abandonado local.
O uso do poder sobre pelo Conselho de Segurança evidencia-se também
no caso das 25 resoluções aprovadas pela Assembleia Geral da ONU para
dar fim aos embargos norte-americanos a Cuba. Neste caso, o assunto nem
chegou a ser levado a plenário do CS, já que era conhecida a posição dos
EUA, e seu voto é necessário para aprovar qualquer ação desse órgão. Seus

99 Noschang, sintetizando os motivos para criação da ONU, anota que a Segunda Guerra, sua evolução e
atrocidades “[...] demonstraram que não poderia acontecer uma Terceira Guerra Mundial, pois o mundo
não suportaria um novo conflito com armamentos tão pesados e que destruíssem o planeta” (2012, p. 87).
100 A ONU como criada ao seu final não atende os desejos aqui pronunciados.
98

interesses internos não permitiam imparcialidade dentro do CS, mesmo com


o apelo reiterado da comunidade internacional – por meio da Assembleia
Geral – para que os embargos a Cuba fossem cessados.
Assim, o Conselho de Segurança da ONU atua com poder sobre pela via
do veto, da ação e da omissão. Esses pontos são extremamente relevantes já
que o ideário das Nações Unidas pela manutenção da paz fica fragilizado com
o uso do poder sobre no CS ao decidir-se sobre as questões internacionais mais
relevantes para o objetivo principal da obtenção da concórdia. Hertz (1999,
p. 86) dispõe que a atuação do CS tem sofrido diversas críticas tendo em vista
a influência de interesses particulares e deliberações informais. A autora cita
o exemplo da Guerra do Golfo Pérsico, onde teriam prevalecido os interes-
ses e a liderança dos EUA. Anota, entre outras questões, a necessidade de
democratização do processo decisório no Conselho de Segurança e a criação
de um gatilho automático que obrigue o Conselho a discutir determinados
assuntos – neste último exemplo, evitaria a omissão.
Várias outras críticas e sugestões de mudança para o CS são indicadas
por diversos estudiosos no assunto; no entanto, como este livro tem objetivos
próprios e definidos, optou-se em somente frisar a existência desses debates,
alinhados que estão com os apontamentos existentes nesta obra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o propósito de estudar a ONU e, mais especificamente, o poder


exercido pelo seu Conselho de Segurança, o presente trabalho inicialmente
tratou de classificar essa organização entre os atores internacionais. Com ên-
fase em sua conceituação e tipologia, identificou-a como ator não estatal das
Relações Internacionais, constituindo-se em destacado e reconhecido agente
de natureza universal, com protagonismo singular.
Esse resultado foi alcançado, em primeiro ponto, após o estudo dos
atores internacionais na sociedade contemporânea, que tem como uma das
principais características a existência de grande diversidade de atores que
protagonizam ações específicas e com fins específicos. Esses agentes, seus
interesses e objetivos, emaranhados em um jogo de poder e de acordo com
o grau de protagonismo, definem os rumos a serem seguidos pela referida
sociedade internacional contemporânea.
Em seguida, como segundo ponto, adentrou-se no tema das Organizações
Internacionais, focalizando função, natureza, elementos e conceito respectivos.
O debate inicia-se no sentido de verificar se as OIs são atores internacionais
distintos ou não dos Estados que as criam. Definiu-se que as OIs, com estrutura
própria, bem como pelos reflexos da sua atuação na sociedade internacional
contemporânea, são consideradas – mesmo que constituídas por Estados, deles
independentes – atores internacionais não governamentais. Isso pelo fato de
que, apesar de serem criadas pelas unidades estatais, possuem autonomia de
decisões, sedes próprias, agendas e ações particulares – muitas vezes antagô-
nicas às de alguns dos seus Estados-Membros –, evidenciando sua autonomia.
O embasamento teórico sobre as OIs possibilitou a verificação do enquadra-
mento da ONU como organização internacional, definindo-se que, segundo os ele-
mentos característicos das OIs, a ONU é uma Organização Internacional, pois possui
todos os elementos necessários para o seu reconhecimento, ou seja, é uma associação
de Estados, a adesão à Carta das Nações é voluntária, além de permanente – inclusive
com sedes administrativas para a manutenção das atividades –, possui competências
próprias dispostas na Carta de criação e, por fim, exerce atuação internacional de
forma institucionalizada com a finalidade de motivar a cooperação internacional
para alcançar diversos objetivos – o principal, a manutenção da paz mundial e o
desenvolvimento sustentável dos povos e sem influencias de alianças militares.
Quanto a sua classificação, visualiza-se, numa análise da ordem internacio-
nal vigente, que a ONU é uma organização universal – por ser de abrangência
mundial e competências gerais –, visto possuir atribuições em diversos assuntos
100

requeridos por seus membros e por meio de seus seis órgãos. Quanto à finalidade
de cooperação, sua classificação atinge todos os métodos – de coordenação,
controle, operacional e de integração –, isso pela amplitude que alcançou desde
a sua criação, possuindo atualmente inúmeras agências, fundos e programas.
Quanto à abordagem do poder, fixado como segundo recorte de estudo,
foram adotados os conceitos desenvolvidos Hobbes e Weber de poder sobre.
Na contemporaneidade, os estudos sobre poder fortalecem-se sobremaneira
devido aos conflitos principalmente entre Estados, mas também pelo prota-
gonismo de novos espaços abaixo e à margem dessa instância. Esses novos
espaços ganham um olhar mais apurado dos pesquisadores; neles, observam-se
interações que, para existir, necessitam obrigatoriamente de exercício de poder.
As mudanças nos meios que definem o poder – como o poder é utilizado – ao
longo dos tempos e na contemporaneidade são o principal fator a ser observado.
No caso do poder sobre, teoria dos contratualistas, prevalece a superioridade
de um sobre outro: um obriga o outro, mesmo com resistência, a fazer ou deixar de
fazer algo em proveito do um. Esse gênero de poder aparece principalmente nas
relações internacionais entre Estados, dentro de Estados ditatoriais, no momento
da exigência de tributos não recolhidos, na execução de penas pelas polícias, etc.
E, neste estudo, observa-se o uso desse poder no Conselho de Segurança da ONU.
A Organização das Nações Unidas, contando atualmente com 193 mem-
bros, historicamente teve base na ideia da necessidade de existência de uma
Organização Internacional universal, com fins políticos, gerindo interesses
comuns de seus associados. O mundo do pós-guerra principiava a materiali-
zação prática desse desejo, durante anos reduto exclusivo de teóricos e acadê-
micos, naquele momento, determinado muito mais pela totalidade oficial de
nove milhões de mortos, resultado de quatro anos de uma lamentável guerra
mundial. Tal escopo desenvolveu campo propício para o nascimento da ONU.
As nefastas consequências socioeconômicas colocaram os EUA no centro
do mundo político internacional de então, já que a Europa estava absolutamente
dividida entre Estados capitalistas liberais, Estados fascistas e a Rússia comunista.
A entrada em cena dos Estados Unidos repercutiu não apenas na última fase do
conflito, quando desempenhou papel decisivo, como já abordado anteriormente,
sobretudo no pós-Primeira Guerra Mundial e que continua até os dias atuais.
O Conselho de Segurança tem, tanto na forma de seleção das matérias quanto
nos critérios de votação, paradigmas desenhados pelos quatro participantes de
Dumbarton Oaks. Mais que isso, o modelo de autoproteção que os vencedores da
Segunda Guerra Mundial vislumbraram ante as ameaças que poderiam vir a sofrer
foi o desejo da continuação da aliança militar da época, liderada pelos EUA. No
entanto, nas discussões das propostas para o novo organismo, iniciava-se – nas
entrelinhas – a disputa Leste-Oeste, do sistema bipolar dos EUA versus URSS,
que se estabeleceu posteriormente, resultando na Guerra Fria.
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 101

Conclui-se, também, que o arquétipo desse órgão teve o condão de pro-


porcionar a proteção simultânea: dos Estados Unidos e Estados do Ocidente
por um lado, defensores do capitalismo, e da URSS por outro, desejando resistir
com seu regime comunista. Originou-se, assim, a regra da unanimidade entre os
quatro participantes da reunião de Dumbarton Oaks, mais a França, formando
o conjunto de países detentores do poder de veto nas matérias que envolvem
conflitos sugestivos de perigo para a paz e a segurança internacionais, dispostos
no Capítulo VII da Carta de Fundação. Eles pretendiam guardar protagonismo
mais abrangente nas questões de paz; assim, para outros assuntos, foram criados
os demais órgãos, que possuem poderes, no entanto, menos efetivos.
Atendo-se ao recorte deste estudo, observa-se que a Assembleia Geral é
o órgão de gestão da ONU, também conhecido como parlamento global. Tem
função de debater e editar resoluções, não obrigatórias, em diversos assuntos
difusos de interesse global. A AG é constituída por todos os Estados-Membros
da ONU, com igualdade de um voto para cada membro, independentemente
das características do país – ta­manho, riqueza, etc. – ou do número de re-
presentantes acreditados na delegação – no máximo cinco. Essa participação
plural de todos os membros da ONU na AG é uma singularidade desse órgão,
considerado o mais representativo em âmbito internacional. Os termos dos
artigos 10 a 14 da sua Carta não permitem que a AG possa vir a impor suas
decisões aos Estados– Membros. Essa contradição particular reforça a con-
clusão do uso diferenciado de poder em suas ações, já que suas decisões são
altamente democráticas, construtivas e com aceitação espontânea.
O Conselho de Segurança, por sua vez, produz protagonismo único nas
questões de desenvolvimento e manutenção da paz, com estrutura sui generis
de 15 Estados participantes: 5 permanentes, com direito a veto; e 10 tempo-
rários, com mandatos de dois anos, escalonados em cinco membros eleitos
a cada ano. Observa-se, assim, que esse órgão possui duas características
bem peculiares no que se refere ao modo de decisão, e que foram objetiva e
propositadamente criadas pelas grandes potências: a existência de somente
15 membros que decidem sobre questões cruciais de segurança internacional,
representando os 193 países membros da ONU; e a existência da necessidade
de unanimidade entre os cinco membros permanentes – o poder de veto –, que
se autointitularam os guardiões ou policiais de seus continentes.
Outra questão que merece atenção são os termos da Carta, os quais definem
que todos os Estados-Membros são obrigados a adotar as decisões do Conselho, sob
pena de sofrer sanções de diversas formas – econômicas, diplomáticas etc. –, bem
como o uso da força, para obrigar a aplicação dos termos decididos pelo Conselho.
Neste contexto, observam-se também duas questões distintas e que podem
levar à compreensão quanto ao uso do poder sobre nesse órgão: de início,
percebe-se que as decisões são tomadas sem consulta aos 193 membros da
102

ONU; em seguida, nota-se a existência da pressão superior, um poder maior,


que obriga a aceitação das decisões autoritariamente tomadas pelos 15 mem-
bros do CS – importante notar que o poder de veto dos cinco países centrais
impede qualquer ação da ONU mediante qualquer um deles.
O Conselho de Segurança tem, tanto na forma de seleção das matérias
quanto nos critérios de votação, paradigmas desenhados pelos quatro parti-
cipantes de Dumbarton Oaks. Mais que isso, o modelo de autoproteção que
os vencedores da Segunda Guerra Mundial vislumbraram diante das ameaças
que poderiam vir a sofrer foi o desejo da continuação da aliança militar da
época. Nesse contexto, observa-se o trabalho do CS com decisões tomadas
sem consulta aos 193 membros da ONU; em seguida, vê-se a existência da
pressão superior, um poder maior, que obriga a aceitação das decisões auto-
ritariamente tomadas pelos 15 membros do CS, tanto para agir como para se
omitir. Nota-se que o poder de veto dos cinco países centrais impede qualquer
ação da ONU que possa reverter-se contra ações a seus interesses. Esse modelo
de decisão refere-se ao uso do poder sobre nesse órgão.
Assim, o Conselho de Segurança da ONU atua com poder sobre pelas
vias do veto, da ação e da omissão. Esses pontos são extremamente relevantes
já que o ideário das Nações Unidas pela manutenção da paz fica fragilizado
com o uso do poder sobre no CS ao decidir-se sobre as questões internacionais
mais relevantes para o objetivo principal da obtenção da concórdia. A ação
do Conselho de Segurança pela via do veto paralisa e prejudica a ONU em
assuntos que não sejam de interesse para qualquer um dos Estados com direito
a veto, ou aos seus aliados políticos, econômicos etc.
Em uma análise dos vetos dos membros permanentes do Conselho de
Segurança nos anos de 1946 a 2015, chegou-se ao resultado do uso de 104
vetos da URSS/Rússia e 79 vetos dos EUA, enquanto China, França e Inglaterra
aparecem com 8, 15 e 28, respectivamente, evidenciando-se a bipolaridade
dos dois gigantes e o controle das decisões, nesse órgão, por ambos.
Para a URSS, o veto, inicialmente, proporcionou uma proteção nas ações
da ONU, visto que, em números de membros, seu bloco era minoritário. Caso as
decisões fossem por maioria, as ideias do Ocidente seriam sempre privilegiadas.
Nesse contexto, os 104 vetos da URSS/Rússia evidenciam que ela utilizou o direito
ou poder de veto no Conselho de Segurança de forma consistente, impossibilitando
a ação conforme desejo dos demais membros, principalmente a maioria ocidental.
O bloco ocidental, em maior número e liderado pelos Estados Unidos, lograva
êxito em aprovar, pelo voto igualitário, resoluções de seu interesse na Assembleia
Geral. No entanto, no Conselho de Segurança, a União Soviética recorria ao veto
para impedir decisões que não eram do seu interesse. Nos anos de 1946 a 1965,
foram mais de 100 vetos da delegação soviética. Os vetos soviéticos no Conselho
de Segurança resultaram, na maioria, da sua oposição a propostas dos demais
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 103

membros permanentes em relação à admissão de novos Estados. Não necessa-


riamente eram contra a admissão de países sugeridos pelos EUA, mas tinham a
pretensão de exercer pressão para que os países indicados por ela também fossem
admitidos na ONU, normalmente barrados na Assembleia Geral, sob o argumento
de que não possuíam as condições exigidas no artigo 4º da Carta.
Com a entrada de novos membros – orientais e africanos em maior
número –, a situação alterou-se, obrigando os EUA a utilizar o mecanismo
do veto no Conselho de Segurança. O primeiro veto norte-americano foi em
1970; as motivações foram diversas, como a não concordância de acessão do
Vietnã à ONU, sabidamente por ser inimigo de guerra. Por sua vez, a China
somente vetou um pedido de admissão.
A utilização do poder de veto se mostra a fim de atender os objetivos de
manutenção do desenho geopolítico existente em 1945, ou seja, a manutenção
da hegemonia dos cinco membros permanentes em suas regiões geográficas,
principalmente a disputa entre EUA – apoiados por Inglaterra e França – e
URSS/Rússia – apoiada pela China.
O poder sobre aparece também nas ações afirmativas do Conselho de
Segurança, por meio das suas resoluções, declarações, notas à imprensa etc.
Seu poder sobre pode ser observado, por exemplo, no caso da Resolução
nº 678, aprovada em 1990, por 12 membros da ONU. Pela primeira vez na
história do Conselho de Segurança, autorizou-se o uso da força contra um
Estado, o Iraque, na conhecida Guerra do Golfo. Observa-se que a decisão
de intervenção no Iraque, tomada por 12 membros da ONU, sem consenso
nem mesmo entre os 15 integrantes, caracteriza-se pelo uso do poder sobre,
tanto pela tomada de decisão como pela imposição daquela sobre um dos
Estados-Membros, com o uso de ação militar.
Esse poder sobre desempenhado pelo Conselho de Segurança mostrou-
-se visível principalmente após o declínio da URSS e sua extinção. Nos novos
tempos, a bipolaridade existente nos primeiros tempos da ONU – entre o bloco
democrático liberal, conduzido pelos EUA, e o bloco comunista, liderado pela
URSS – desaparece, e o Conselho de Segurança experimenta uma nova forma de
trabalho, com decisões produzidas com o impulso mais vigoroso do unipolarismo
norte-americano, mesmo que ainda se observem nas decisões resquícios da divisão
anterior, até mesmo pela familiaridade das ideias partilhadas por longo tempo.
O uso do poder sobre pela via da omissão do Conselho de Segurança tam-
bém é visualizado em casos que, apesar de serem de sua competência, não são
levados nem mesmo ao debate. Citam-se dois casos pragmáticos do uso dessa
prática: a questão das 25 resoluções aprovadas pela Assembleia Geral em favor
do término dos embargos dos Estados Unidos contra Cuba, iniciados em 1960.
As votações na Assembleia Geral não geraram obrigação, exatamente pelo fato
de que essa questão está sob abrigo das matérias do Conselho de Segurança, o
104

qual nunca se pronunciou sobre o assunto, até porque o principal interessado –


EUA – possui voto positivo obrigatório, não fazendo sentido o envio de matéria
em relação à qual se sabia antecipadamente o resultado. A inércia do CS sinali-
zou e conferiu legitimidade para que os EUA continuassem com os embargos a
Cuba, inimigos declarados e sempre em iminente perigo de guerra. Da mesma
forma, críticas se fizeram à atuação do Conselho de Segurança no caso do
genocídio de Ruanda em 1994, devido à omissão do CS, produzida em grande
parte pelos EUA, que não se interessaram pelo assunto; consequentemente, o
Conselho de Segurança não se mostrou apto a resolver a questão sem o apoio
e, mais que isso, sem o impulso e uso das forças armadas dos norte-americanos.
O CS mostrou-se dependente dos EUA, visto que, mesmo atento ao assunto,
nada fez para evitar o genocídio, de antemão avisado. A autoridade traz também
obrigação, e o CS, único órgão internacional com atribuição determinada para
manter a paz, não agiu de forma consistente e efetiva para cumprir seu papel,
utilizando seu poder sobre para ficar omisso ao flagelo ruandês.
Portanto, o uso do poder sobre no Conselho de Segurança afeta sobre-
maneira a efetividade da ONU, nas ações pelo veto, pela ação e pela omissão,
necessitando assim ser revisto, já que a sociedade internacional contemporânea
sofreu profundas alterações no sistema geopolítico e, principalmente, no nasci-
mento de novos atores, como as empresas transnacionais e os grupos terroristas.
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ANEXOS
ANEXO A
DECLARAÇÕES E CONVENÇÕES
APROVADAS NA ASSEMBLEIA
GERAL ENTRE 2000 E 2015
2015
Declaración con motivo del septuagésimo aniversario de las Naciones
• A/RES/70/3
Unidas (23 de octubre de 2015)

Documento final de la reunión de alto nivel de la Asamblea General


sobre el examen general de la aplicación de los resultados de la
• A/RES/70/125
Cumbre Mundial sobre la Sociedad de la Información (16 de diciembre
de 2015)

Agenda de Acción de Addis Abeba de la Tercera Conferencia


• Internacional sobre la Financiación para el Desarrollo (Agenda de A/RES/69/313
Acción de Addis Abeba) (27 de julio de 2015)

Declaración de Doha sobre la Integración de la Prevención del Delito y


la Justicia Penal en el Marco Más Amplio del Programa de las Naciones
• Unidas para Abordar los Problemas Sociales y Económicos y Promover A/RES/70/174
el Estado de Derecho a Nivel Nacional e Internacional y la Participación
Pública (17 de diciembre de 2015)

Declaración Universal sobre el Logro de un Mundo Libre de Armas


• A/RES/70/57
Nucleares (7 de diciembre de 2015)

Declaración política sobre el fortalecimiento de la cooperación entre las


• Naciones Unidas y las organizaciones regionales y subregionales (5 de A/RES/69/277
mayo de 2015)

Directrices de las Naciones Unidas para la protección del consumidor


• A/RES/70/186
(revisión de 2015)(22 de diciembre de 2015)

Marco de Sendai para la Reducción del Riesgo de Desastres 2015-2030


• A/RES/69/283
(3 de junio de 2015)

Marco de Sendai para la Reducción del Riesgo de Desastres 2015-2030


• A/RES/69/283
(3 de junio de 2015)

Reglas Mínimas de las Naciones Unidas para el Tratamiento de los


• A/RES/70/175
Reclusos (Reglas Nelson Mandela) (17 de diciembre de 2015)
Continua...
116

Continuação
2015

Transformar nuestro mundo: la Agenda 2030 para el Desarrollo


Sostenible – documento final de la cumbre de las Naciones Unidas para
• A/RES/70/1
la aprobación de la agenda para el desarrollo después de 2015 (25 de
septiembre de 2015)

2014

Convención de las Naciones Unidas sobre la Transparencia en los


• Arbitrajes entre Inversionistas y Estados en el Marco de un Tratado (10 A/RES/69/116
de diciembre de 2014)

Documento final de la reunión plenaria de alto nivel de la Asamblea


• General conocida como Conferencia Mundial sobre los pueblos A/RES/69/2
Indígenas (22 de septiembre de 2014)

Modalidades de Acción Acelerada para los Pequeños Estados Insulares


• A/RES/69/15
en Desarrollo (Trayectoria de Samoa) (14 de noviembre de 2014)

Programa de Acción en Favor de los Países en Desarrollo Sin Litoral


• A/RES/69/137
para el Decenio 2014-2024(12 de diciembre de 2014)

2013

Declaración de Lima sobre el Desarrollo Alternativo (18 de diciembre


• A/RES/68/196
de 2013)

Declaración del Diálogo de Alto Nivel sobre la Migración Internacional y


• A/RES/68/4
el Desarrollo (3 de octubre de 2013)

2012

El futuro que queremos – documento final de la Conferencia de las


• Naciones Unidas sobre el Desarrollo Sostenible RIO + 20 (27 de julio A/RES/66/288
de 2012)

Declaración de la Reunión de Alto Nivel de la Asamblea General sobre


• el Estado de Derecho en los Planos Nacional e Internacional (24 de A/RES/67/1
septiembre de 2012)

Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 117

Continuação
2011

Declaración con ocasión del quincuagésimo aniversario del primer


vuelo espacial tripulado y del quincuagésimo aniversario de la Comisión
• A/RES/66/71
sobre la Utilización del Espacio Ultraterrestre con Fines Pacíficos (9 de
diciembre de 2011)

Declaración de las Naciones Unidas sobre educación y formación en


• A/RES/66/137
materia de derechos humanos (19 de diciembre de 2011)

Declaración política de la Reunión de Alto Nivel de la Asamblea General


• sobre la Prevención y el Control de las Enfermedades No Transmisibles A/RES/66/2
(19 de septiembre de 2011)

Declaración política de la reunión de alto nivel que celebró con


motivo del décimo aniversario de la aprobación de la Declaración
• y el Programa de Acción de Durban «Unidos contra el racismo, A/RES/66/3
la discriminación racial, la xenofobia y las formas conexas de
intolerancia» (22 de septiembre de 2011)

Declaración política sobre el VIH y el SIDA: intensificación de nuestro


• A/RES/65/277
esfuerzo para eliminar el VIH y el SIDA (10 de junio de 2011)

Protocolo facultativo de la Convención sobre los Derechos del Niño relativo


• A/RES/66/138
a un procedimiento de comunicaciones (19 de diciembre de 2011)

2010

Declaración de Salvador sobre estrategias amplias ante problemas


• globales: los sistemas de prevención del delito y justicia penal y su A/RES/65/230
desarrollo en un mundo en evolución (21 de diciembre de 2010)

Plan de Acción Mundial de las Naciones Unidas para combatir la trata


• A/RES/64/293
de personas (30 de julio de 2010)

Reglas de las Naciones Unidas para el tratamiento de las reclusas


• y medidas no privativas de la libertad para las mujeres delincuentes A/RES/65/229
(Reglas de Bangkok) (21 de diciembre de 2010)

2009

Documento final de la Conferencia sobre la crisis financiera y económica


• A/RES/63/303
mundial y sus efectos en el desarrollo (9 de julio de 2009)

Continua...
118

Continuação
2008

Convenio de las Naciones Unidas sobre el contrato de transporte


• internacional de mercancías total o parcialmente marítimo (11 de A/RES/63/122
diciembre de 2008)

Declaración de Doha sobre la financiación para el desarrollo:


documento final de la Conferencia internacional de seguimiento sobre la
• A/RES/63/239
financiación para el desarrollo encargada de examinar la aplicación del
Consenso de Monterrey (24 de diciembre de 2008)

Declaración de la reunión de alto nivel del sexagésimo tercer período


• de sesiones de la Asamblea General dedicada al examen de mitad de A/RES/63/2
período del Programa de Acción de Almaty (3 de octubre de 2008)

Declaración política sobre las necesidades de África en materia de


• A/RES/63/1
desarrollo (22 de septiembre de 2008)

Declaración sobre el sexagésimo aniversario de la Declaración


• A/RES/63/116
Universal de Derechos Humanos (10 de diciembre de 2008)

Protocolo Facultativo del Pacto Internacional de Derechos Económicos,


• A/RES/63/117
Sociales y Culturales (10 de diciembre de 2008)

2007

Declaración de la reunión plenaria conmemorativa de alto nivel dedicada


• al seguimiento de los resultados del período extraordinario de sesiones A/RES/62/88
sobre la infancia (13 de diciembre de 2007)

Declaración de las Naciones Unidas sobre los derechos de los pueblos


• A/RES/61/295
indígenas (13 de septiembre de 2007)

2006

Convención Internacional para la protección de todas las personas


• A/RES/61/177
contra las desapariciones forzadas (20 de diciembre de 2006)

Convención sobre los derechos de las personas con discapacidad (13


• A/RES/61/106
de diciembre de 2006)

Declaración de la reunión de alto nivel del sexagésimo primer período de


sesiones de la Asamblea General sobre el examen mundial amplio de mitad
• A/RES/61/1
de período de la ejecución del Programa de Acción en favor de los países
menos adelantados para el decenio 2001-2010 (19 de septiembre de 2006)
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 119

Continuação
2006

• Declaración política sobre el VIH/SIDA (2 de junio de 2006) A/RES/60/262

2005

Convención de las Naciones Unidas sobre la Utilización de las


• Comunicaciones Electrónicas en los Contratos Internacionales (23 de A/RES/60/21
noviembre de 2005)

Convenio internacional para la represión de los actos de terrorismo


• A/RES/59/290
nuclear (13 de abril de 2005)

Declaración de las Naciones Unidas sobre la Clonación Humana (8 de


• A/RES/59/280
marzo de 2005)

• Documento Final de la Cumbre Mundial 2005 (16 de septiembre de 2005) A/RES/60/1

Principios y directrices básicos sobre el derecho de las víctimas de


violaciones manifiestas de las normas internacionales de derechos
• A/RES/60/147
humanos y de violaciones graves del derecho internacional humanitario
a interponer recursos y obtener reparaciones (16 de diciembre de 2005)

Protocolo Facultativo de la Convención sobre la Seguridad del Personal


• A/RES/60/42
de las Naciones Unidas y el Personal Asociado (8 de diciembre de 2005)

2004

Convención de las Naciones Unidas sobre las inmunidades


• A/RES/59/38
jurisdiccionales de los Estados y de sus bienes (2 de diciembre de 2004)

2003

Acuerdo entre las Naciones Unidas y la Organización Mundial del


• A/RES/58/232
Turismo (23 de diciembre de 2003)

Convención de las Naciones Unidas contra la Corrupción (31 de octubre


• A/RES/58/4
de 2003)

2002

Declaración de las Naciones Unidas sobre la Nueva Alianza para el


• A/RES/57/2
Desarrollo de África (16 de septiembre de 2002)
Continua...
120

Continuação
2002

Ley Modelo sobre Conciliación Comercial Internacional de la Comisión


• de las Naciones Unidas para el Derecho Mercantil Internacional (19 de A/RES/57/18
noviembre de 2002)

Protocolo Facultativo de la Convención contra la Tortura y Otros Tratos o


• A/RES/57/199
Penas Crueles, Inhumanos o Degradantes (18 de diciembre de 2002)

• Un mundo apropiado para los niños (10 de mayo de 2002) A/RES/S-27/2

2001

Convención de las Naciones Unidas sobre la cesión de créditos en el


• A/RES/56/81
comercio internacional (12 de diciembre de 2001)

Cooperación entre las Naciones Unidas y la Organización para la


• A/RES/55/283
Prohibición de las Armas Químicas (7 de septiembre de 2001)

Declaración de compromiso en la lucha contra el VIH/SIDA (27 de junio


• A/RES/S-26/2
de 2001)

Declaración sobre las ciudades y otros asentamientos humanos en el


• A/RES/S-25/2
nuevo milenio (9 de junio de 2001)

Estatuto de la Escuela Superior del Personal del Sistema de las


• A/RES/55/278
Naciones Unidas en Turín (Italia) (12 de julio de 2001)

Programa Mundial para el Diálogo entre Civilizaciones (9 de noviembre


• A/RES/56/6
de 2001)

Protocolo contra la fabricación y el tráfico ilícitos de armas de fuego,


sus piezas y componentes y municiones, que complementa la
• A/RES/55/255
Convención de las Naciones Unidas contra la Delincuencia Organizada
Transnacional (31 de mayo de 2001)

2000

Acuerdo de relación entre las Naciones Unidas y la Comisión


• Preparatoria de la Organización del Tratado de prohibición completa de A/RES/54/280
los ensayos nucleares (15 de junio de 2000)

Convención de las Naciones Unidas contra la Delincuencia Organizada


• A/RES/55/25
Transnacional (15 de noviembre de 2000)
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 121

Continuação
2000

Declaración de Viena sobre la delincuencia y la justicia: frente a los


• A/RES/55/59
retos del siglo XXI (4 de diciembre de 2000)

• Declaración del Milenio (8 de septiembre de 2000) A/RES/55/2

• Declaración política (10 de junio de 2000) A/RES/S-23/2

Nacionalidad de las personas naturales en relación con la sucesión de


• A/RES/55/153
Estados (12 de diciembre de 2000)

Protocolo contra el tráfico ilícito de migrantes por tierra, mar y aire,


• que complementa la Convención de las Naciones Unidas contra la A/RES/55/25
Delincuencia Organizada Transnacional (15 de noviembre de 2000)

Protocolo facultativo de la Convención sobre los Derechos del Niño


• relativo a la participación de niños en los conflictos armados (25 de A/RES/54/263
mayo de 2000)

Protocolo facultativo de la Convención sobre los Derechos del Niño


• relativo a la venta de niños, la prostitución infantil y la utilización de A/RES/54/263
niños en la pornografía (25 de mayo de 2000)

Protocolo para prevenir, reprimir y sancionar la trata de personas,


especialmente mujeres y niños, que complementa la Convención de las
• A/RES/55/25
Naciones Unidas contra la Delincuencia Organizada Transnacional(15
de noviembre de 2000)

Fonte: UN. Disponível em: <http://www.un.org/spanish/documents/


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ANEXO B
LISTA DOS VETOS DO CONSELHO
DE SEGURANÇA – ORDEM
CRONOLÓGICA INVERSA
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
Carta datada de 28 de fevereiro de
2014 do Representante Permanente
29 July da Ucrânia à Organização das Russian
S/2015/562 S/PV.7498
2015 Nações Unidas dirigida ao Presidente Federation
do Conselho de Segurança (S /
2014/136)
8 July Russian
S/2015/508 S/PV.7481 A situação na Bósnia e Herzegovina
2015 Federation
China
22 May
S/2014/348 S/PV.7180 Médio Oriente – Síria Russian
2014
Federation
Carta datada de 28 de fevereiro de
2014 do Representante Permanente
15 March da Ucrânia à Organização das Russian
S/2014/189 S/PV.7138
2014 Nações Unidas dirigida ao Presidente Federation
do Conselho de Segurança (S /
2014/136)
China
19 July
S/2012/538 S/PV.6810 Médio Oriente – Síria Russian
2012
Federation
4 China
February S/2012/77 S/PV.6711 Médio Oriente – Síria Russian
2012 Federation
China
4 October
S/2011/612 S/PV.6627 Médio Oriente – Síria Russian
2011
Federation
18
Situação no Médio Oriente, incluindo
February S/2011/24 S/PV.6484 USA
a questão palestina
2011
15 June Russian
S/2009/310 S/PV.6143 Geórgia
2009 Federation
China
11 July
S/2008/447 S/PV.5933 Paz e Segurança – África (Zimbabwe) Russian
2008
Federation
Continua...
124

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
12 China
January S/2007/14 S/PV.5619 Myanmar Russian
2007 Federation
11
Situação no Médio Oriente, incluindo
November S/2006/878 S/PV.5565 USA
a questão palestina
2006
13 July Situação no Médio Oriente, incluindo
S/2006/508 S/PV.5488 USA
2006 a questão palestina
05
Situação no Médio Oriente, incluindo
October S/2004/783 S/PV.5051 USA
a questão palestina
2004
21 April Russian
S/2004/313 S/PV.4947 Chipre
2004 Federation
25 March Situação no Médio Oriente, incluindo
S/2004/240 S/PV.4934 USA
2004 a questão palestina
14
A situação no Médio Oriente, incluindo
October S/2003/980 S/PV.4842 USA
a questão palestina
2003
16
A situação no Médio Oriente, incluindo
September S/2003/891 S/PV.4828 USA
a questão palestina
2003
20
A situação no Médio Oriente, incluindo
December S/2002/1385 S/PV.4681 USA
a questão palestina
2002
30 June
S/2002/712 S/PV.4563 A situação na Bósnia e Herzegovina USA
2002
14-15
A situação no Médio Oriente, incluindo
December S/2001/1199 S/PV.4438 USA
a questão palestina
2001
27-28
A situação no Médio Oriente, incluindo
March S/2001/270 S/PV.4305 USA
a questão palestina
2001
25
A situação na ex-República Jugoslava
February S/1999/201 S/PV.3982 China
da Macedónia
1999
21 March A situação nos territórios árabes
S/1997/241 S/PV.3756 USA
1997 ocupados
07 March A situação nos territórios árabes
S/1997/199 S/PV.3747 USA
1997 ocupados
10
January S/1997/18 S/PV.3730 América Central: esforços para a paz China
1997
17 May A situação nos territórios árabes
S/1995/394 S/PV.3538 USA
1995 ocupados
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 125

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
02
A situação na República da Bósnia e Russian
December S/1994/1358 S/PV.3475
Herzegovina Federation
1994
11 May Russian
S/25693 S/PV.3211 A situação em Chipre
1993 Federation
31 May A situação nos territórios árabes
S/21326 S/PV.2926 USA
1990 ocupados
17 Carta datada de 03 de janeiro de 1990
January S/21084 S/PV.2905 a partir da Nicarágua ao Presidente USA
1990 do Conselho de Segurança

23 France
December S/21048 S/PV.2902 A situação no Panamá UK
1989 USA
07
S/20945/ A situação nos territórios árabes
November S/PV.2889 USA
Rev.1 ocupados
1989
09 June A situação nos territórios árabes
S/20677 S/PV.2867 USA
1989 ocupados
17
A situação nos territórios árabes
February S/20463 S/PV.2850 USA
ocupados
1989
11 Cartas de 04 de janeiro de 1989 a
January S/20378 S/PV.2841 partir da Líbia e Bahrein ao Presidente France
1989 do Conselho de Segurança

14 UK
December S/20322 S/PV.2832 A situação no Médio Oriente USA
1988 USA
10 May
S/19868 S/PV.2814 A situação no Médio Oriente USA
1988
15 April A situação nos territórios árabes
S/19780 S/PV.2806 USA
1988 ocupados
08 March UK
S/19585 S/PV.2797 A questão da África do Sul
1988 USA
01
A situação nos territórios árabes
February S/19466 S/PV.2790 USA
ocupados
1988
18
January S/19434 S/PV.2784 A situação no Médio Oriente USA
1988
09 April UK
S/18785 S/PV.2747 A situação na Namíbia
1987 USA
Continua...
126

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
20 UK
February S/18705 S/PV.2738 A questão da África do Sul
1987 USA

28 Carta de 17 de outubro de 1986 pela


October S/18428 S/PV.2718 Nicarágua ao Presidente do Conselho USA
1986 de Segurança
Carta datada de 22 de julho de 1986 a
31 July
S/18250 S/PV.2704 partir da Nicarágua ao Presidente do USA
1986
Conselho de Segurança
18 June Denúncia de Angola contra a África UK
S/18163 S/PV.2693
1986 do Sul USA
23 May S/18087/ UK
S/PV.2686 A situação na África Austral
1986 Rev.1 USA
Cartas de 15 de abril de 1986 a France
21 April S/18016/ partir da Líbia, Burkina Faso, Síria e UK
S/PV.2682
1986 Rev.1 Omã ao Presidente do Conselho de
Segurança USA
06 Carta datada de 04 de fevereiro de
S/17796/
February S/PV.2655 1986 da Síria para o Presidente do USA
Rev.1
1986 Conselho de Segurança
30
S/17769/ A situação nos territórios árabes
January S/PV.2650 USA
Rev.1 ocupados
86
17
S/17730/
January S/PV.2642 A situação no Médio Oriente USA
Rev.2
1986
15 UK
November S/17633 S/PV.2629 A situação na Namíbia
1985 USA

13
A situação nos territórios árabes
September S/17459 S/PV.2605 USA
ocupados
1985
12 March
S/17000 S/PV.2573 A situação no Médio Oriente USA
1985
06
September S/16732 S/PV.2556 A situação no Médio Oriente USA
1984
Carta datada de 29 de março de 1984
04 April
S/16463 S/PV.2529 a partir da Nicarágua ao Presidente USA
1984
do Conselho de Segurança
29
S/16351/
February S/PV.2519 A situação no Médio Oriente URSS
Rev.2
1984
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 127

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
27-28
S/16077/
October S/PV.2491 A situação em Granada USA
Rev.1
1983
Cartas de 01 de setembro de 1983
dos EUA, a República da Coreia,
12 Canadá e Japão ao Presidente do
S/15966/
September S/PV.2476 Conselho de Segurança e Carta URSS
Rev.1
1983 datada de 02 de setembro de 1983
da Austrália para o Presidente do
Conselho de Segurança
02 August A situação nos territórios árabes
S/15895 S/PV.2461 USA
1983 ocupados
06 August S/15347/
S/PV.2391 A situação no Médio Oriente USA
1982 Rev.1
S/15255/
26 June
Rev.2 (as S/PV.2381 A situação no Médio Oriente USA
1982
corrected)
08 June
S/15185 S/PV.2377 A situação no Médio Oriente USA
1982
04 June S/15156/ Questão relativa à situação na região UK
S/PV.2373
1982 Rev.2 das Ilhas Falkland (Islas Malvinas) USA
20 April A situação nos territórios árabes
S/14985 S/PV.2357 USA
1982 ocupados
02 April A situação nos territórios árabes
S/14943 S/PV.2348 USA
1982 ocupados
Carta datada de 19 de março de
02 April
S/14941 S/PV.2347 1982 a partir da Nicarágua ao USA
1982
Secretário-Geral
20
S/14832/ A situação nos territórios árabes
January S/PV.2329 USA
Rev.1 ocupados
1982
31 August S/14664/ Denúncia de Angola contra a África
S/PV.2300 USA
1981 Rev.2 do Sul
France
30 April
S/14462 S/PV.2277 A situação na Namíbia UK
1981
USA
France
30 April
S/14461 S/PV.2277 A situação na Namíbia UK
1981
USA
France
30 April S/14460/
S/PV.2277 A situação na Namíbia UK
1981 Rev.1
USA
Continua...
128

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
France
30 April
S/14459 S/PV.2277 A situação na Namíbia UK
1981
USA
30 April A questão do exercício pelo povo
S/13911 S/PV.2220 USA
1980 palestino de seus direitos inalienáveis
Cartas de 22 de dezembro de 1979
11-13
dos EUA para o Presidente do
January S/13735 S/PV.2191 URSS
Conselho de Segurança dos Estados
1980
Unidos e Irã questão refém
7-9 Carta datada de 03 de janeiro de
January S/13729 S/PV.2190 1980 de 52 países ao Presidente do URSS
1980 Conselho de Segurança
A situação no Sudeste da Ásia e suas
16 March implicações para a paz e segurança
S/13162 S/PV.2129 URSS
1979 internacionais China e Vietname
disputa de fronteira
Telegrama datado de 03 de janeiro
15
de 1979 a partir do Kampuchea
January S/13027 S/PV.2112 URSS
Democrático ao presidente do
1979
Conselho de Segurança

31 France
S/12312/
October S/PV.2045 A questão da África do Sul UK
Rev.1
1977 USA

31 France
S/12311/
October S/PV.2045 A questão da África do Sul UK
Rev.1
1977 USA

31 France
S/12310/
October S/PV.2045 A questão da África do Sul UK
Rev.1
1977 USA
15
November S/12226 S/PV.1972 Admissão de novos membros Viet Nam USA
1976

19 France
October S/12211 S/PV.1963 A situação na Namíbia UK
1976 USA
29 June A questão do exercício pelo povo
S/12119 S/PV.1938 USA
1976 palestino de seus direitos inalienáveis
23 June
S/12110 S/PV.1932 Admissão de novos membros Angola USA
1976
Solicitação da Líbia e Paquistão por
25 March conta da grave situação resultante
S/12022 S/PV.1899 USA
1976 de recentes desenvolvimentos nos
territórios árabes ocupados
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 129

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
06
February S/11967 S/PV.1888 A situação nas Comores France
1976
26
O problema do Médio Oriente,
January S/11940 S/PV.1879 USA
incluindo a questão palestina
1976
08
December S/11898 S/PV.1862 A situação no Médio Oriente USA
1975
30
Admissão de novos membros
September S/11833 S/PV.1846 USA
República Democrática do Viet-Nam
1975
30
Admissão de novos membros
September S/11832 S/PV.1846 USA
República do Sul do Viet-Nam
1975
11 August Admissão de novos membros
S/11796 S/PV.1836 USA
1975 República Democrática do Viet-Nam
11 August Admissão de novos membros
S/11795 S/PV.1836 USA
1975 República do Sul do Viet-Nam
France
06 June
S/11713 S/PV.1829 A situação na Namíbia UK
1975
USA

30 France
October S/11543 S/PV.1808 Relação entre a ONU e África do Sul UK
1974 USA
31 July S/11400 (as
S/PV.1788 A situação em Chipre URSS
1974 amended)
26 July
S/10974 S/PV.1735 A situação no Médio Oriente USA
1973
22 May Pergunta sobre a situação na Rodésia UK
S/10928 S/PV.1716
1973 do Sul USA
Consideração de medidas para a
21 March S/10931/
S/PV.1704 manutenção e reforço da paz e da USA
1973 Rev.1
segurança na América Latina
29 S/10805/
Pergunta sobre a situação na Rodésia
September Rev.1 (as S/PV.1666 UK
do Sul
1972 amended)
10
September S/10784 S/PV.1662 A situação no Médio Oriente USA
1972
25 August Admissão de novos membros
S/10771 S/PV.1660 China
1972 Bangladesh
Continua...
130

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
Consideração de questões
relacionadas com a África do qual
04 o Conselho de Segurança está
February S/10606 S/PV.1639 atualmente apreendidos e aplicação UK
1972 das resoluções pertinentes do
Conselho a situação na Rodésia do
Sul
30
Pergunta sobre a situação na Rodésia
December S/10489 S/PV.1623 UK
do Sul
1971
Carta datada de 12 de dezembro de
13
S/10446/ 1971 dos EUA para o Presidente do
December S/PV.1613 URSS
Rev.1 Conselho de Segurança quanto à
1971
questão de Índia e Paquistão
Carta datada de 04 de dezembro de
1971 da Argentina, Bélgica, Burundi,
05
Itália, Japão, Nicarágua, Somália, o
December S/10423 S/PV.1607 URSS
Reino Unido e os EUA ao Presidente
1971
do Conselho de Segurança relativas à
questão Índia Pakistan
Carta datada de 04 de dezembro de
1971 da Argentina, Bélgica, Burundi,
04
Itália, Japão, Nicarágua, Somália, o
December S/10416 S/PV.1606 URSS
Reino Unido e os EUA ao Presidente
1971
do Conselho de Segurança quanto à
questão de Índia e Paquistão
10
Pergunta sobre a situação na Rodésia
November S/9976 S/PV.1556 UK
do Sul
1970
17 March S/9696 and Pergunta sobre a situação na Rodésia UK
S/PV.1534
1970 Corr.1 & 2 do Sul USA
Carta datada de 21 de agosto
de 1968 do Canadá, Dinamarca,
22 August França, Paraguai, Reino Unido e
S/8761 S/PV.1443 URSS
1968 EUA ao Presidente do Conselho
de Segurança sobre a situação na
Checoslováquia
04
S/7575/
November S/PV.1319 A questão Palestina URSS
Rev.1
1966
21
S/6113 (as
December S/PV.1182 A questão Palestina URSS
amended)
1964
17 Carta datada de 03 de setembro de
September S/5973 S/PV.1152 1964 da Malásia para a presidente do URSS
1964 Conselho de Segurança
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 131

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
13
S/5425/
September S/PV.1069 A situação na Rodésia do Sul UK
Rev.1
1963
03
September S/5407 S/PV.1063 A questão Palestina URSS
1963
22 June
S/5134 S/PV.1016 A questão entre Índia e Paquistão URSS
1962
18 Carta datada de 18 de dezembro de
December S/5033 S/PV.988 1961 de Portugal para o Presidente do URSS
1961 Conselho de Segurança a respeito Goa
30
November S/5006 S/PV.985 Pedidos de adesão Kuwait URSS
1961
Queixas de Kuwait no que respeita à
07 July
S/4855 S/PV.960 situação decorrente da ameaça do Iraque URSS
1961
para a integridade territorial do Kuwait
Carta datada de 13 de julho de 1960,
13
S/4578/ do Secretário-Geral ao Presidente do
December S/PV.920 URSS
Rev.1 Conselho de Segurança a situação
1960
no Congo
3-4
S/4567/
December S/PV.911 Pedidos de adesão Mauritânia URSS
Rev.1
1960
Carta datada de 13 de julho de 1960,
17
do Secretário-Geral ao Presidente
September S/4523 S/PV.906 URSS
do Conselho de Segurança sobre a
1960
situação no Congo
26 July S/4409/ Telegramas datado de 13 de julho de
S/PV.883 URSS
1960 Rev.1 1960 da URSS ao Secretário-Geral
26 July Telegramas datado de 13 de julho de
S/4411 S/PV.883 URSS
1960 1960 da URSS ao Secretário-Geral
09
S/4130/
December S/PV.843 Admissão de novos membros Viet-Nam URSS
Rev.1
1958
09
S/4129/ Admissão de novos membros
December S/PV.843 URSS
Rev.1 República da Coreia
1958
Carta datada de 22 de maio de
1958 a partir do Líbano e carta
datada de 17 de julho de 1958 a
22 July S/4055/ partir da Jordânia ao Presidente da
S/PV.837 URSS
1958 Rev.1 Instância do Conselho de Segurança
por Líbano e Jordânia respeitante
a interferência em seus assuntos
internos da República Árabe Unida
Continua...
132

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
Carta datada de 22 de maio de
1958 a partir do Líbano e carta
datada de 17 de julho de 1958 a
18 July S/4050/ partir da Jordânia ao Presidente da
S/PV.834 URSS
1958 Rev.1 Instância do Conselho de Segurança
por Líbano e Jordânia respeitante
a interferência em seus assuntos
internos da República Árabe Unida
Queixa da URSS em uma carta
ao Presidente do Conselho de
S/3995
Segurança de 18 de Abril de 1958,
(incorporating
02 May intitulado Medidas urgentes para pôr
the S/PV.817 URSS
1958 fim aos voos de aviões militares dos
amendment)
EUA armado com bombas atômicas
S/3998
e de hidrogênio na direção das
fronteiras da União Soviética
09
Admissão de novos membros
September S/3885 S/PV.790 URSS
Viet-Nam
1957
09
Admissão de novos membros
September S/3884 S/PV.790 URSS
República da Coréia
1957
20
February S/3787 S/PV.773 A questão entre Índia e Paquistão URSS
1957
Carta datada de 27 de outubro de
04 1956 a partir de França, Reino Unido
S/3730/
November S/PV.754 e EUA ao Presidente do Conselho URSS
Rev.1
1956 de Segurança sobre a situação na
Hungria
Carta datada de 29 de outubro de France
30 S/3713/
1956 dos EUA para o Presidente do
October Rev.1 (as S/PV.750
Conselho de Segurança relativas à UK
1956 amended)
questão palestina
Carta datada de 29 de outubro de France
30
S/3710 (as 1956 dos EUA para o Presidente do
October S/PV.749
amended) Conselho de Segurança relativas à UK
1956
questão palestina
15
December S/3510 S/PV.706 Admissão de novos membros Japão URSS
1955
Telegrama datado de 19 de junho de
20 June S/3236/
S/PV.675 1954, da Guatemala ao Presidente do URSS
1954 Rev.1
Conselho de Segurança
Carta datada de 29 de maio de 1954
18 June
S/3229 S/PV.674 da Tailândia para a presidente do URSS
1954
Conselho de Segurança
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 133

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
29 March S/3188/
S/PV.664 A questão Palestina URSS
1954 Corr.1
22
S/3151/
January S/PV.656 A questão Palestina URSS
Rev.2
1954
19
September S/2760 S/PV.603 Admissão de novos membros Camboja URSS
1952
19
September S/2759 S/PV.603 Admissão de novos membros Laos URSS
1952
19
September S/2758 S/PV.603 Admissão de novos membros Vietnam URSS
1952
18
September S/2754 S/PV.602 Admissão de novos membros Japão URSS
1952
16
September S/2483 S/PV.600 Admissão de novos membros Líbia URSS
1952
Pergunta de um pedido de
09 July
S/2688 S/PV.590 investigação de alegada guerra URSS
1952
bacteriana
03 July Pergunta de um pedido de investigação
S/2671 S/PV.587 URSS
1952 de alegada guerra bacteriana
06
February S/2443 S/PV.573 Admissão de novos membros Itália URSS
1952
30 Queixa de invasão armada de Taiwan
November S/1894 S/PV.530 (Formosa); Queixa de agressão sobre URSS
1950 a República da Coreia
12
Queixa de bombardeio por forças
September S/1752 S/PV.501 URSS
aéreas do território da China
1950
06
Queixa de agressão sobre a
September S/1653 S/PV.496 URSS
República da Coreia
1950
18
S/1408/ Regulação e redução dos
October S/PV.452 URSS
Rev.1 armamentos e forças armadas
1949
18
S/1399/ Regulação e redução dos
October S/PV.452 URSS
Rev.1 armamentos e forças armadas
1949
11
Regulação e redução dos
October S/1398 S/PV.450 URSS
armamentos e forças armadas
1949
Continua...
134

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
13
September S/1337 S/PV.443 Pedido de adesão Ceylon URSS
1949
13
September S/1336 S/PV.443 Pedido de adesão Áustria URSS
1949
13
September S/1335 S/PV.443 Pedido de adesão da Irlanda URSS
1949
13
September S/1334 S/PV.443 Pedido de adesão da Finlândia URSS
1949
13
September S/1333 S/PV.443 Pedido de adesão Itália URSS
1949
13
September S/1332 S/PV.443 Pedido de adesão Transjordânia URSS
1949
13
September S/1331 S/PV.443 Pedido de adesão Portugal URSS
1949
07
September S/1385 S/PV.439 Pedido de adesão Nepal URSS
1949
08 April Pedido de República da Coreia
S/1305 S/PV.423 URSS
1949 Membership
15
December S/PV.384 S/PV.384 Pedido de adesão Ceylon URSS
1948
notificações idênticas datadas de
25
29 de setembro de 1948 a partir de
October S/1048 S/PV.372 URSS
França, Reino Unido e EUA para o
1948
bloqueio Secretário-Geral Berlin
18 August
S/PV.351 S/PV.351 Pedido de adesão Ceylon URSS
1948
Carta datada de 26 de maio de
1948 do Presidente da Comissão
22 June
S/836 S/PV.325 de Energia Atómica à Presidente do URSS
1948
Conselho de Segurança transmitir o
Terceiro Relatório da Comissão
Carta datada de 12 de março de 1948
24 May
S/PV.3038 S/PV.303 do Chile para os eventos Secretário- URSS
1948
Geral da Checoslováquia
Carta datada de 12 de março de 1948
24 May
S/PV.303 S/PV.303 do Chile para os eventos secretário-geral URSS
1948
em questão preliminar Checoslováquia
Continua...
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 135

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
10 April
S/PV.279 S/PV.279 Pedido de adesão Itália URSS
1948
01
October S/PV.206 S/PV.206 Pedido de adesão Itália URSS
1947
01
October S/PV.206 S/PV.206 Pedido de adesão da Finlândia URSS
1947
15
A questão grega, sobre a situação em
September S/552 S/PV.202 URSS
questão preliminar do norte, Grécia
1947
15
S/552, S/ A questão grega, sobre a situação no
September S/PV.202 URSS
PV.202 norte da Grécia
1947
21 August
S/PV.190 S/PV.190 Pedido de adesão Áustria URSS
1947
21 August
S/PV.190 S/PV.190 Pedido de adesão Itália URSS
1947
19 August Os incidentes de fronteira gregos
S/486 S/PV.188 URSS
1947 questão grega
19 August S/471 and Os incidentes de fronteira gregos
S/PV.188 URSS
1947 S/471/Add.1 questão grega
18 August
S/PV.186 S/PV.186 Pedido de adesão Portugal URSS
1947
18 August
S/PV.186 S/PV.186 Pedido de adesão da Irlanda URSS
1947
18 August
S/PV.186 S/PV.186 Pedido de adesão Transjordânia URSS
1947
29 July Os incidentes de fronteira gregos
S/PV.170 S/PV.170 URSS
1947 questão grega
25 March
S/PV.122 S/PV.122 Incidentes no Canal Corfu URSS
1947
20 Telegrama datado de 24 de agosto de
September S/PV.70 S/PV.70 1946 a partir da República da Ucrânia URSS
1946 Soviética Socialista ao Secretário-Geral
29 August
S/PV.57 S/PV.57 Pedido de adesão Portugal URSS
1946
29 August
S/PV.57 S/PV.57 Pedido de adesão da Irlanda URSS
1946
29 August
S/PV.57 S/PV.57 Pedido de adesão Transjordânia URSS
1946
26 June
S/PV.49 S/PV.49 A questão Espanhol URSS
1946
Continua...
136

Continuação
Membros
Data Projeto Origem Assunto Permanentes
que vetaram
26 June A questão prejudicial questão
S/PV.49 S/PV.49 URSS
1946 espanhola
26 June
S/PV.49 S/PV.49 A questão Espanhola URSS
1946
18 June
S/PV.45 S/PV.47 A questão Espanhola URSS
1946
16 Carta dos chefes das delegações
February S/PV.23 S/PV.23 libanesas e sírias ao Secretário-Geral, URSS
1946 datada de fevereiro 1946.

Fonte: Disponível em: <http://research.un.org/en/docs/sc/quick/


veto>. Acesso em: 2 out. 2016. Tradução do autor.
ANEXO C
ORGANISMOS E MISSÕES
DE PAZ DA ONU
Missão de Observação das Nações Unidas em Angola (MONUA) –
1996-1999; Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola (UNAVEM
III) – 1993-1995, 1996-1999; Missão de Verificação das Nações Unidas em
Angola (UNAVEM II) – 1989-1992, 1993-1995; Missão de Verificação das
Nações Unidas em Angola (UNAVEM I) – 1985-1988, 1989-1992; Grupo de
Observadores das Nações Unidas na Aouzou Gaza (UNASOG) – 1993-1995;
Operação das Nações Unidas no Burundi (ONUB) – 2004-2007; Missão das
Nações Unidas na República Centro-Africano (MINURCA) – 1996-1999,
2000-2003; Multidimensional Integrado Estabilização Missão das Nações
Unidas na República Centro-Africano (MINUSCA) – 2014-2015; Missão das
Nações Unidas na República Centro-Africano e no Chade (MINURCAT) –
2004-2007, 2008-2009, 2010-2011; Operação das Nações Unidas na Costa
do Marfim (UNOCI) – 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Es-
tabilização Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo
(MONUSCO) – 1996-1999, 2000-2003, 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011;
Operação das Nações Unidas no Congo (ONUC) – 1959-1963; Missão das
Nações Unidas na Etiópia e Eritréia (UNMEE) – 2000-2003, 2004-2007;
Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL) – 2000-2003, 2004-2007,
2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Missão de Observação das Nações Unidas
na Libéria (UNOMIL) – 1993-1995, 1996-1999; Multidimensional Integrado
Estabilização Missão das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) – 2012-2013;
Operação das Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ) – 1989-1992,
1993-1995; Grupo de Assistência da Transição das Nações Unidas (UNTAG)
– 1975-1980, 1989-1992; Missão de Assistência das Nações Unidas para o
Ruanda (UNAMIR) – 1993-1995, 1996-1999; Missão de Observação da
Uganda das Nações Unidas e do Ruanda (UNOMUR) – 1993-1995; Missão
das Nações Unidas na Serra Leoa (UNAMSIL) – 1996-1999, 2000-2003,
2004-2007; Missão de Observação das Nações Unidas na Serra Leoa (UNOM-
SIL) – 1996-1999; Operação das Nações Unidas na Somália (UNOSOM I) –
1989-1992, 1993-1995; Operação das Nações Unidas na Somália (UNOSOM
II) – 1993-1995; Missão de Observação das Nações Unidas na África do
Sul (UNOMSA) – 1989-1992, 1993-1995; Força de Segurança Interina para
Abyei Nações Unidas (UNISFA) – 2010-2011, 2012-2013; Nações Unidas-
-Africano Missão da União em Darfur (UNAMID) -2004-2007, 2008-2009,
138

2010-2011, 2012-2013; Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS) –


2004-2007, 2008-2009, 2010-2011; Antecedência Missão das Nações Unidas
no Sudão (UNAMIS) – 2004-2007; Missão das Nações Unidas no Sudão do
Sul (UNMISS) – 2010-2011, 2012-2013; Missão das Nações Unidas para o
Referendo no Sara Ocidental (MINURSO) – 1989-1992, 1993-1995, 1996-
1999, 2000-2003, 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Escritórios
da Missão das Nações Unidas no Afeganistão e no Paquistão (UNGOMAP) –
1985-1988, 1989-1992; Autoridade Provisória das Nações Unidas no Camboja
(UNTAC) – 1989-1992, 1993-1995; Missão antecedência no Camboja das
Nações Unidas (UNAMIC) -1989-1992; Missão de Observação das Nações
Unidas na Índia e no Paquistão (UNIPOM) – 1964-1965; Militar Grupo de
Observadores das Nações Unidas na Índia e no Paquistão (UNMOGIP) – 1946-
1951, 1952-1955, 1956-1958, 1959-1963, 1964-1965, 1966-1968, 1969-1971,
1972-1974, 1975-1980, 1981-1984, 1985-1988, 1989-1992, 1993-1995, 1996-
1999, 2000-2003, 2004-2007, 2008– 2009, 2010-2011, 2012-2013; Missão
de Observação das Nações Unidas no Tajiquistão (UNMOT) – 1993-1995,
1996-1999, 2000-2003; Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste
(UNMIT) – 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011; Missão de Apoio das Nações
Unidas em Timor Leste (UNMISET) – 2000-2003, 2004-2007; Administração
Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET) – 1996-1999,
2000-2003; Grupo de Observadores das Nações Unidas na América Central
(ONUCA) – 1989-1992; Missão de Observação das Nações Unidas em El
Salvador (ONUSAL) – 1989-1992, 1993-1995; Missão de Verificação dos
Direitos Humanos na Guatemala das Nações Unidas (MINUGUA) – 1996-
1999; Missão de estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH)
– 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Polícia Civil Missão das
Nações Unidas no Haiti (MIPONUH) – 1996-1999, 2000-2003; Missão de
Transição das Nações Unidas no Haiti (UNTMIH) – 1996-1999; Apoio à
Missão das Nações Unidas no Haiti (UNSMIH) – 1996-1999; Missão das
Nações Unidas no Haiti (UNMIH) – 1993-1995, 1996-1999; Nações Unidas
força de paz no Chipre (UNFICYP) – 1964-1965, 1966-1968, 1969-1971,
1972-1974, 1975-1980, 1981-1984, 1985-1988, 1989-1992, 1993-1995, 1996-
1999, 2004-2007, 2000-2003, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Missão
de Observação das Nações Unidas na Geórgia (UNOMIG) – 1993-1995,
1996-1999, 2000-2003, 2004-2007, 2008-2009; Nações Unidas Missão de
Administração Provisória do Kosovo (UNMIK) – 1996-1999, 2000-2003,
2004-2007, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Grupo de Apoio à Polícia
Civil – 1996-1999; Missão de Observação das Nações Unidas em Prevlaka
(UNMOP) – 1996-1999, 2000-2003; Administração Transitória das Nações
Unidas para a Eslavónia Oriental, Baranja e Sirmium Ocidental (UNTAES)
– 1996-1999; Missão das Nações Unidas na Bósnia-Herzegovina (UNMIBH)
DILEMAS ENTRE A ONU: o poder de veto do Conselho de Segurança 139

– 1993-1995, 1996-1999, 2000-2003; Operação da Restauração confiança das


Nações Unidas (UNCRO) – 1993-1995, 1996-1999; Força de Desdobramento
Preventivo das Nações Unidas (UNPREDEP) na antiga República jugoslava
da Macedónia – 1993-1995, 1996-1999; Força de Proteção das Nações Unidas
(FORPRONU) na ex-Iugoslávia – 1989-1992, 1993-1995; Emergência da Força
das Nações Unidas (UNEF II) no Oriente Médio – 1972-1974, 1975-1980;
United Nations Truce Organização de Supervisão (UNTSO) – 1946-1951,
1952-1955, 1956-1958, 1959-1963, 1964-1965, 1966-1968, 1969-1971, 1972-
1974, 1975-1980, 1981-1984, 1985-1988, 1989-1992, 1993-1995, 1996-1999,
2000-2003, 2004-2007, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Militar Grupo de
Observadores do Irã das Nações Unidas e do Iraque (UNIMOG) – 1985-1988,
1989-1992; Missão de Observação do Iraque-Kuwait Organização das Nações
Unidas (UNIKOM) – 1989-1992, 1996-1999, 2000-2003; observadores da
ONU implantado em Beirute – 1981-1984; Interim Força das Nações Unidas
no Líbano (UNIFIL) – 1975-1980, 1981-1984, 1985-1988, 1989-1992, 1993-
1995, 1996-1999, 2004-2007, 2000-2003, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013;
Grupo de Observação das Nações Unidas no Líbano (UNOGIL) – 1956-1958;
Nações Unidas forças de observação da (UNDOF) – 1972-1974, 1975-1980,
1981-1984, 1985-1988, 1989-1992, 1993-1995, 1996-1999, 2004-2007,
2000-2003, 2008-2009, 2010-2011, 2012-2013; Missão de observação das
Nações Unidas (UNSMIS) República Árabe Síria – 2012-2013; e Missão de
Observação das Nações Unidas no Iêmen (UNYOM) – 1959-1963.
Fonte: UN, 2016. Disponível em: <http://www.un.org/es/sc/repertoire/subsidiary_
organs/peacekeeping_ missions.shtml#cat1>. Acesso em: 31 out. 2016.
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipografia: Times New Roman 11,5 | 12 | 16 | 18 pt
Arial 6,5 | 8 | 9 pt
Papel: Pólen 80 g/m² (miolo)
Royal Supremo 250 g/m² (capa)

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