Iracema (Haroldo de Campos)

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+ que poderia co sentidos”, como “tarefa da Este o Barthes que, a meu ver, mais so- licita a posteridade, mais desgarra para o futuro, Sem es- 11, IRACEMA: UMA ARQUEOGRAFIA DE VANGUARDA* Porentura ndo haveré no caosincriado do pen samento hursano uma nova forma de poesia um no omeno de verso? Jost 08 ALENCAR, 11 jun 1856 Taso, com a morte do pos liso © 8 dealoagio do in- teresse modern da obra de arte para a reflexio sobre a mesma obra de arte; em Lukées, no Lukacs de 1935, que revé em clave Teoria do Romance, jo do mundo com o sentido tao de Po), 0201182 replicate 127 s do Tempo ¢ do Cronotopo no Rot 1865), de José de fo preexcuida (1 smo fincarevolutivo daqu tes distncias astronémico~ a metéfora de Ja e de recepgio). Le (a expressio ¢ Jr.), Alencar leu de Chateaubriand ¢ de pontiinea, recapitula dizado naif de escritor, em Co (1873). Se nao sentido (Lucfola ¢ Senhora sio suas tent ccodidas para enfrentar as relagdes existe lo dinheiro, encontrando na mulher objetifica ‘makés por exceléncia: a prostituta forgada, c ponderével) coerente de liberdade abriu-se segundo a linha de menor fencia do ideol6gico, aquela que melhor the permitia cexercer sua factividade romanesca (tao fecunda cm obra \gbes efetivamente duradouras): 0 recuo 6pica, para o funt ia folclorica do romanesco, 0 UR-EPOS. Utopia Regressiva ou Revolucdo Filologica? Nio se tratava de uma mera “utopia regressi {que nesse arco de retorno, nessa volta imagindria as oF gens, havia um contetido conereto, travado, em termos da praxis literdria do tempo: desde logo, 0 problema de fun uma lingua literdria nacional, t6pico manda mais ampla, a pesquisa da forma de expressa ‘do importante e persistente seria para o eseritor bra (como Antonio Candido o sustenta em seu estudo de sobre o “raiar” de Clarice Lispector, trabal onde a atualidade da questo se repropée em mento do romance pés-modernista, contra o bast regionalistas da década de 30). Criar uma nova expressio cera criar liberdade, ¢ a baliza negativa dessa liberdade esta- va justamente no purismo vernacular portugués. Se alguma vez o politico conservador ¢ ex-ministro da Justiga do Impé- rio (1868-1870) se proclama subversivo € quando assume a acusacio, que Ihe & movida por Pinheiro Chagas, de * reigdo contra a gramética de nos 4 de ser larga e profunda, como a imensidade dos 1 1s a que pertencemos”, Seu de Jracema (outubro de 1870), uum matiz io ao “estran difficile ~, de defesa 20 texto,) © autor esertores na transt dose @ ver na gramai terdvel, a que o escritor se hé Argumenta: “Cotejem-se demas om as regras que predominavam no periodo da formacig dessas linguss, © S¢ conhecerd a transformacio OF que passaram todas sob a ago dos poctas ¢ prosado- ". Defende o caldeamento poilingic como forma de vi- 40 do portugues do Br Compre nto esquecer que © igbes d08 recap © perdido no m xerce sobre 0s costumes do pow: no Brasil, a0 contro, oes ‘de novas icias e um elemento ba civilieaio na agio de nossas 0 Hibridismo ea Operagdo Tradutora Estudando as ori inguagem, M. gundo esclarece, pode incluir a “translagio” de verses ‘cos em prosa). E acrescenta (Os embries da prosa romanesesaparecem nut mundo pla ifnico, na época helenstica, na Roma imperial ¢ na oc sintegragio ¢ da queda da cenralizagio idcoligica da rej mediev. ‘mesmo modo, nos tempos novos,» floragdo do romance esté sempre ‘ionada com a decomposicio dos sistemas verbai ideoldyicos estivelse, ‘contraparte, relaciona-se com 0 reforgo ea ntencionalzagi do pur guismo, tanto nos limites do proprio daleto iteriio como fora dele (Sobre 6 Discurso no Romance"), Elegendo 0 “cronotopo” fabular de raiz follé cema recua para a pré-historia do epos: articula-se como um “mito de origem”, exposto, do ponto de vista estrutural, fem termos de raconto simbélico de aventuras, e mat de momentos idilico-pastorais (Brito Broca falou em dadeiras pastorais, em que hé muito de conto de fada”, re- ferindo-se a essa fase da produgio alencariana, na qual Jra- cema, a meu ver, € 0 Gnico texto verdadeiramente exponen. cial). Nesse sentido, pod: nologica” (préxima do em modo “sério-estético” (a “carnavalizagio” desse para digma se dé em Macunatrray onde a fabula se deixa trans vestir de farsa, assumindo’6 “modo parédico”). Todavia, é no plano do significante ~ plano que segundo penso, ven- do-o da perspectiva operacional da “fungio poética”, deve entendido de modo abrangente, envolvendo tanto a ma da expressio” como “forma do contetdo” -, 6 nesse plano do significante, justamente, que o texto da “lenda” alencariana se deixa atravessar de smo" nna acepeio bakhtiniana, A intervefigio’ di Tiiguagem “em estado selvage tada como progfama para tomada de consciéncia critica do fazer poético br rompe 0 estatuto do “monologismo épico”, Marca-se também aqui um momento de “romantizagéo do epos” via linguagem, enquanto reeducagio do pocta brasileiro através do aprendizado do “estado da natureza” via escritura tupi- nizada. E este o momento de “provocagdo experimental” 4 (Bakhtin) em Fracema, que a reprojeta no futuro, resguta do-a dos arcanos do “distanciamento épico™ onde a in vera Alencar com trago augura, fascinado pela reeuper: 1 se Aquelas “criang: ), Nesse plano, Alencar se con igués candnico € ex-metr6pole ~ ao influxo do pa exprimir que vé pai da “raga america ). Diz 0 romancista, enut 0 seu programa: Sem divida que o poeta brasileiro tem itis, embora rodes © groseiras, Jos Undios: mas nessa grande dfeldade; ada ‘2 Singelera prmitiva da faa; ndo represente as imagens ¢ pensamento indigenas senso po ‘aturais na boca do selagem. O cone pe des de sua vida E ne rufna a pure a “fantasia et ga) da “expresso selvagem”, Al teaubriand, que, em Atala, professara © style indien, temeroso de que seu de Tracema, intuitiva vismo” de combate em que gem entendida co lo da natureza’ “veraccl ¢, antecipadoramente, de uma 10 impulso violento (este 0 preceito da traducéo {agots se “arog” wim, amorace a Ihelreco © virgen bora ‘201 bags do sma, consmando sea entree mo tant do oto, Sed a /sedor, os olor, avrg 0 seo” & compare na erro Proengy ans ques erin A “condo shag de Ings co frat miss o 0 apoio em Rudolf Pannwitz), Seu tupi até certo wentado” (pelo menos tendo em conta 0 que ‘oso Cimara Jt. sobre a estrut sobre 0 portugués: prolifera em metaforas desencapsuladas a partir de semantemas aglutinados; des- dobra-se em s{miles que reproduzem, icasticamente, , pode-se dizer ‘contrafagdo” escritural, 0 que nos f tava, a indiciar, como “suplemento” estranhante (extra- gantc) a rasura da “origem” promovida pela repressividade da cultura colonizadora (lembre-se, neste passo, a Joaquim Norberto, ial, rica de onomatopéias. inhada como sintoma de radicalida- registra: “E algumas das virtudes da ccondigdes; a influéncia nacional ja se f muito mais suave do no a tessitura “ equagdes de six Sehcooge vat pe especiti les” comparativos), 0 passo imediato sio as “met as fonicas” ou “parafonias” (os “anagramas” na ace Ssureana do termo) que equacionam e magnetizam se. persas ¢ redistribuidss no ente observou que a chave ca” (de Araripe Jr. a 0 Santiago), seré io ir mais Irecema.. Este daso& siete pr sto que se poe : Tonge, para pereeber que Iracema as 0-eripto- grama “abi sncariano de tupinismos, mas, ainda, que se deixa reconfigurar no tex BBs Toi (assim, por exemplo, 0 ‘Mais répida que a ema selvagem”, orena, quando Ihe introduz a cor praiar-se; ¢ o trago visual de seu es lar-se a0 contato de u era concreta por excelé: Dai decorre a oposi vo", na polémica travada com Pinheiro Chagas: rt-0 meu gost, porém, em vez de robustecero estilo da umulagio de oragbesligadas 1 anus re ndo 0 pensameato difus el estilo conjuntive-¢tic alinhavado de conjungées") por uma mples e concisa” a “separagio dos per impressées varias lo que Alencar exibe no “P6s-es- {As pedreras erm os mais finos rus ‘fas, olhos-de-g (©/mar,além de muito pe um dos téstesourns dae E a defesa da escrtura assndétia, pr axis contra ahi no plano. da inform operagio tradutora. Alencar, agindo como tradutor lingual), mostea como fazer para trasladar o est no moderno, Apresenta um trecho da “westida & moderna’ classica) um fr mento” (vestir, trajar), o que releva, na primeira tragdo, 6 a compactacio do texto em meni to para seis), a fim de torn: prosa sineopai festar. Tudo isto conver edo” estranhante: molde quanto possa & ‘ecm procurat, numa estruturs fase recursos de eufona, expressividade © impresividade, uma porta € que seus achados res mente a0 espinito, a0 carter eas S6 que a idéia de “fidclidade”, reguladora na citag termos benjaminianos de” varia 0 autor de Tracema A transgressio hibri tugués candnico. A etapa mais radical desse projeto hetero- gldssico serd levada a cabo por Guimardes Rosa, em “Meu Tio, o Iauareté”, verdadeira ultimagio da “revolugdo gica” de Jracema, onde a virgem selvagem que corr nas matas do Ipu, © depois amamenta seu filo com 0 dos seios sangrados pelos a igre: da com % que ruge ¢ esturra em Um olho lexicogréfico poder descobrir o nome “Saguareté”, verbetado como “o grande devorador”, numa nota alencariana; um ai er ias fonicas poder encontrar Moat do sofrimento” = numa c ido engendrado ¢ a, enfatizada por Araripe Jr. de de- dar-the forma, ¢, no apelo final, “Remua- tem “oximorescament recimento”, orientada para o objeto ¢ st pira.a julgamentos universal ma outra “

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