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Apresentagio Saudamos com evidente prazer o aparecimento desta Revista de Historia Regional, projeto e realizacio de um grupo de jovens € competentes historiadores do Niicleo de Hist6ria Regional que en- globa professores ¢ pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, bem como de outras instituigdes de ensino superior. E ja nao era sem tempo, tendo em vista 0 avango quantitativo e qualita tivo da pesquisa hist6rica em nfvel local/municipal no Brasil, a partir do final do anos Setenta. Em pouco mais de duas décadas aprofundou- seo conhecimento de nossa Hist6ria vinculada ao meio rural brasilei- ro € suas raizes agrérias. ‘A iniciativa agora concretizada vem cobrir uma lacuna que se tomara particularmente sentida a partir do momento em que se fundaram Universidades “interiorizadas” propiciando a emergéncia de uma comunidade académica mais numerosa, mais jovem, moder- na € dindmica, voltada para as suas raizes culturais e para a pesquisa cientifica cada vez mais aperfeicoada. Na medida em que os cursos de pés-graduacao ganham corpo e se ampliam, torna-se patente a sua capacidade de irradiacdo. Descentraliza-se, cada vez mais, a pro- ducao do conhecimento ¢ isto € muito bom. O surgimento do Ni cleo de Historia Regional, voltado para a sua Zona da Mata, é fruto pois de um longo trabalho de maturagio intelectual, aliado ao esfor- o no sentido de formar seus pesquisadores, mestres ¢ doutores, segundo a melhor tradi¢ao da metodologia da Hist6ria e de suas preocupagées tedricas, ontem e hoje Neste primeiro numero, temos a oportunidade de conhecer 6 que de melhor foi produzido nos tltimos anos: Monica Ribeiro de Oliveira preacupada com a formagao do mercado interno ¢ suas relagdes com a produgio agroexportadora na Zona da Mata; Anderson Pires, autor de uma tese importante sobre a formacao do capital agrario entre 1870/1930, permite-nos penetrar na complexidade da economia centrada no café e em suas instncias de intermediagao financeira; Claudia Maria Ribeiro Viscardi apresenta um trabalho pio- neiro sobre a Forga Piblica de Minas Gerais evidenciando controle das suas fontes e das suas hipéteses, numa visio abrangente da His- tOria Social; Maria Tarcflia Ferreira Guedes aborda com sensibilidade € inteligéncia, no contexto do movimento modernista, o estudo do Grande Hotel de Ouro Preto; Alexandre Mansur Barata volta ao tema do movimento republicano (1870/1910), enfocando o papel signifi- cativo da magonaria; Marcos Olender, arquiteto ¢ historiador, faz uma incursao pertinente e necessfria na relacio entre arquitetura, histéria e vida; Ignacio Delgado analisa aspectos da ideologia empresarial mineira no meado do século atual ¢ suas aspiraces de independén- cia econémica; Maraliz de Castro V. Christo tece um painel significa- tivo sobre a pintura em reas cafeeiras e Vanda Arantes uma andlise pertinente sobre a arquitetura da industrializacao. Temos, assim, diante de nés um amplo painel da producio historiogrifica mineira mais recente, enfocando temiticas ricas e va- riadas e trazendo a contribuicio mais atual, através da revisio historiogrdfica feita de forma critica e construtiva. Da hist6ria agraria rica e profunda de Anderson Pires & historia de cunho politico de Cléudia Maria Ribeiro Viscardi ou de Alexandre Mansur Barata, pas- sando pelas preocupacées de uma hist6ria social multifacetada ¢ atual como a de Maria Tarcilia Guedes, de Marcos Olender e de Igndcio Delgado, entre outros, nota-se uma preocupacio séria com a produgao historiogrifica, com a possibilidade de novos enfoques, mas, sobretudo, o interesse em desenvolver 0 trabalho universitario, de gerar e renovar conhecimentos com seriedade e indiscutivel do- minio do fazer historia. ‘Saudamos este primeiro ntimero na certeza de que cle se assenta em sélidas bases: 0 programa de estudos e pesquisas do Nucleo de Historia Regional, a competéncia e entusiasmo de scus pesquisadores a comprovada credibilidade de seus editores. Pessoalmente, sinto- me envolvida no projeto. Entre 1977 € 1980, dirigi o Programa de Historia da Agricultura Brasileira no Centro de Pos-Graduagao em De- senvolvimento Agricola da Fundacao Getilio Vargas/RJ, entio sob os auspicios da SEPLAN/Ministério da Agricultura; a partir de 1980 até recentemente, e na companhia de Ciro Flamarion Cardoso, coube-me também conduzir a linha de pesquisa em Historia Agraria, montada em moldes regionais ¢ assentada uma tipologia de fontes municipais, em Ambito nacional. Pudemos, assim, gracas 20 incansivel trabalho de nossos alunos, avangar os estudos do mundo rural brasileiro (o trabalho escravo, 2 produgao de alimentos, os sistemas de uso € posse da terra, a estrutura fundidria, a fronteira agricola, os mercados intemnos) e con- cretizar a realizagdo de mais de cinqtienta teses de mestrado e douto- rado. Dizfamos, entio, que estévamos interessados em revelar 0 “lado oculto da lua”, sempre encoberto pela Casa-Grande, pela agricultura nobre de exportacao, pelos processos geradores de acumulagao. Mes- mo ao estudarmos as fortunas, interessava-nos saber porque éramos pobres, como se agitava o mundo das senzalas, como se manisfestava 2 expropriaciio da terra e do direito de trabalhar. ‘A Revista de nossos historiadores da Zona da Mata mineira refle- te varias daquelas preocupacoes, especificamente evidentes nos tra- balhos de Anderson Pires e de Ménica Ribeiro de Oliveira. Outros virllo, por certo, traduzindo novas e velhas preocupacées ¢ revelan- do ricas perspectivas de abordagens sempre renovadias. Maria Yedda Leite Linbares Professora Titular Emérita/UFK)

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