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A Filosofia e sua Importância nos Dias Atuais

1. Introdução

2. O desejo da Filosofia e as novas maneiras de pensar

2.1. Face à técnica

2.2. O desejo da Filosofia

3. Filosofia e Necessidade

3.1. Noções de "útil" e de "inútil"

4. Filosofia e Sabedoria

4.1. Definições de Sabedoria

4.2 Situação da Filosofia no mundo contemporâneo

5. Atividades Propostas

6. Bibliografia

Introdução

Vive-se hoje sob a influência de novas tecnologias, de novas técnicas e descobertas

científicas sofisticadas e em crescente sofisticação. Neste aspecto, a informática e a
engenharia genética são exemplares. A cada nova descoberta no campo tecno-científico,
as relações entre o homem, a máquina e a natureza são passíveis de transformação. O
mundo contemporâneo traduz-se numa situação paradoxal: o novo convive com os
conceitos e valores tradicionais, nem sempre capazes de explicá-lo e de
compreendê-lo. O real, de simples, tornou-se complexo. A vida passou a ser valorizada
em termos do prático, do interesse, da necessidade. O efêmero e o útil determinam a
conduta humana em meio às guerras, às crises econômico-sociais, às doenças, às
misérias e aos desastres ecológicos. Neste contexto, como encontrar um lugar para a
reflexão filosófica? É possível, face à perplexidade e à complexidade do mundo
contemporâneo, haver lugar para a Filosofia, entendida como um saber desinteressado,
desvinculado da vida prática e imediata e definido como a busca de sabedoria? Pode a
Filosofia, na atualidade, dar respostas às questões colocadas pelos avanços tecno-
científicos, pelas guerras, pela miséria, pela pobreza? Definir a Filosofia como a busca
de sabedoria não é um ideal caduco nos dias atuais? Neste sentido, a Filosofia,
procurando responder às questões próprias deste tempo, instala-se nas academias, nas

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ruas, nos cafés, na praça pública, nos cursos particulares, nas conferências, nos livros,
nos best-sellers. Nos dias atuais, a era da Filosofia se mescla à época da ciência e da
técnica e sua busca pela sabedoria se traduz num saber profundamente interessado no
caminho, na existência do homem, constituindo-se significativamente em liberdade e em
criação.

O Desejo da Filosofia e as Novas Maneiras de Pensar

Interessante é refletir sobre a existência de novas maneiras de pensar, provocadas pelo

surgimento das telecomunicações, da informática. Face às exigências e à mudança
contínua dos dispositivos informacionais, verifica-se a necessidade de repensar a
relação entre o homem, o trabalho e a inteligência. Neste contexto, a técnica torna-se o
objeto de reflexão da Filosofia. E, se ela constitui a metafísica do nosso tempo, segundo
Heidegger, pergunta-se se ainda é possível entender a Filosofia como a busca de um
saber desinteressado e se não se deve, então, buscar outros ideais, objetos e desejos
para esse saber não técnico.

Toda a situação da Filosofia no mundo contemporâneo pode ser entendida à luz do texto
"Face à Técnica" de Pierre Lévy, extraído de sua obra As Tecnologias da Inteligência.
O futuro do pensamento na era da informática, p. 7:

Face à Técnica

"Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das

telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria
inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos
informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem
são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais
conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as
antigas divisões entre experiência e teoria. Emerge, neste final do século XX, um
conhecimento por simulação que os epistemologistas ainda não inventariaram.

Na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais onde está em jogo a
transformação do mundo humano por ele mesmo. A incidência cada vez mais pregnante
das realidades tecnoeconômicas sobre todos os aspectos da vida social, e também os
deslocamentos menos visíveis que ocorrem na esfera intelectual obrigam-nos a
reconhecer a técnica como um dos mais importantes temas filosóficos e políticos de
nosso tempo. Ora, somos forçados a constatar o distanciamento alucinante entre a

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natureza dos problemas colocados à coletividade humana pela situação mundial da

evolução técnica e o estado do debate "coletivo" sobre o assunto, ou antes do debate
mediático. "

No mundo contemporâneo, apesar de ser constatada a presença da Filosofia em praça

pública, e, também pelo fato de haver um desejo crescente por ela, observa-se uma
reação contrária tanto a ela, quanto ao seu próprio desejo. Razão pela qual é pertinente
questionar-se, mais uma vez, se o ideal de sabedoria da filosofia tradicional é caduco
ou não em nossos dias. Analisa-se, então, a oposição do nosso mundo a ele a partir do
texto "O desejo da Filosofia", extraído da obra de Alain Badiou intitulada "Para uma
nova teoria do sujeito", p. 12 - 13:

O Desejo da Filosofia

"E creio que o desejo de filosofia é assim. Há na filosofia um grande desejo de

universalidade. A filosofia se dirige a todo pensamento, sem exceção. Ela não é
nacional, mas internacional. Ela quer ultrapassar toda cultura particular, toda tradição.
Seu verdadeiro destino não é a sala de conferência, mas a rua, a praça pública, o mundo
inteiro. Já no Ménon, Platão mostra que até mesmo um escravo possui as Idéias
matemáticas. A filosofia se dá para todo pensamento; ela se dá para o Príncipe e para o
escravo.

Mas essa universalidade não é dada. Ela supõe uma ruptura, um engajamento, uma
aposta. A universalidade está ligada a uma decisão arriscada, onde há um acaso. O
desejo filosófico é como um lance de dados. O próprio Platão fala de conversão, de
encontro repentino.

É por isso que o desejo de filosofia é desejo de universal e, também, sentimento da

potência singular do risco e do acaso. Há os grandes sistemas dogmáticos; mas há
também a Aposta de Pascal, o brusco despertar crítico de Kant, o encontro na rua entre
Kierkegaard e Régine.

Creio, pois, que há quatro componentes do desejo da filosofia:

* A revolta, a recusa em ficar instalado e satisfeito.

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* A lógica, o desejo de uma razão coerente.

* O universal, a recusa do que é particularmente fechado.

* A aposta, o gosto pelo encontro e pelo acaso, o engajamento e o risco.

Ora, acredito que o mundo contemporâneo, o nosso mundo, é oposto a esse desejo, o
nosso mundo não quer e não gosta da filosofia. Porque esse mundo é oposto aos quatro
componentes do desejo de filosofia.

Nosso mundo não gosta da revolta nem da crítica. É um mundo que crê na gestão e na
ordem natural das coisas. Desde o desmoronamento da idéia comunista, este mundo não
oferece nenhuma perspectiva de revolta. Ele pede a cada um para adaptar-se. É um
mundo do simples cálculo individual.

Nosso mundo não gosta da lógica nem da coerência racional. Ele está submetido à
comunicação, às imagens. Ora, o mundo das imagens, o mundo da mídia, é instantâneo e
incoerente. E um mundo muito rápido e sem memória. Um mundo em que as opiniões
são ao mesmo tempo extremamente móveis e extremamente frágeis. Sustentar
firmemente uma lógica do pensamento é, portanto, muito difícil.

Nosso mundo não gosta da universalidade. Ou melhor: a única universalidade que ele
conhece é a do dinheiro. E a universalidade daquilo que Marx chamava de equivalente
geral. Fora da universalidade do mercado e da moeda, cada um está encerrado em sua
tribo. Cada um defende sua particularidade. Nosso mundo justapõe a falsa
universalidade do capital e o gueto das culturas, das classes, das raças, das religiões.
Desejar um pensamento universal é, portanto, muito difícil.

Nosso mundo não gosta da aposta, do acaso, do risco, do engajamento. E um mundo

obcecado pela segurança, é um mundo onde cada um deve, o mais cedo possível,
calcular e proteger o seu futuro. E um mundo da carreira e da repetição. Um mundo
onde o acaso é perigoso. Um mundo onde não devemos nos abandonar aos encontros."

Mas também não se pode interpretar o desejo da Filosofia no mundo contemporâneo

como sendo um desejo pela Filosofia? como uma busca de um saber não voltado para o
imediato, para as necessidades práticas de todos os dias, para o capital; não pode ser a

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Filosofia, nos dias atuais, uma entre as demais formas do homem se relacionar com o
mundo à sua volta? Urge, pois, rever a relação da Filosofia com a necessidade,
tomando-se esta não como uma necessidade contingente e sim como algo necessário e
importante para repensar o cotidiano do homem contemporâneo.

Filosofia e Necessidade

Buscando responder às antinomias e às perplexidades do nosso século, a filosofia pode

ser considerada como uma das chaves de compreensão do homem e do mundo no qual
está inserido. Como chave de compreensão, pode-se entendê-la como um saber
desinteressado, teórico, não voltado para as necessidades vitais e imediatas do homem.
Neste aspecto, os filósofos e a própria Filosofia foram objeto de críticas, acusados de
alienação e de desinteresse pela vida que passa. Mas não se pode dizer que a filosofia
seja uma forma de saber alienado. Ao contrário, pode-se tomá-la como um saber
necessário, útil, prático e vinculado à existência, porque as idéias não estão apartadas
da vida, nem tampouco os filósofos, convivendo as suas idéias com as dos demais
homens. Desta maneira, a necessidade da Filosofia se revela importante por não se
prender ao aqui e agora do instante, sobretudo por ser uma forma de saber racional cuja
tarefa básica está radicada na atividade própria da natureza humana, ou seja, o
conhecer. Como forma de conhecer, de colocar corretamente os problemas, a Filosofia
torna-se vital para os homens em sua vida prática, levando-os a dar sentido à sua
existência e a responder às questões do seu tempo. Deste modo, o saber filosófico,
embora teórico e reflexivo, é uma prática, por implicar uma ação destinada a dar
sentido à existência finita e temporal dos homens. Nisto se fundamenta e se radica, pois,
toda a necessidade que o homem e o mundo possuem deste saber útil que é a Filosofia.

No texto "Noções do "útil" e do "inútil", extraído da obra de Eduardo Prado de

Mendonça intitulada O Mundo Precisa de Filosofia, p. 132 - 133, busca-se esclarecer o
significado destes termos, para melhor compreender a relação entre Filosofia e
necessidade.

Noções de "Útil" e de "Inútil"

"Há uma questão de termos, que devemos esclarecer, enfim, para que se compreenda a
questão em todo o seu alcance. Que quer dizer "útil"? E que quer dizer "inútil"?

"Útil" significa tudo aquilo que tem um fim noutro, e não em si mesmo. Um lápis é útil,
porque o seu fim é escrever; uma tesoura é útil, porque o seu fim é cortar etc. Ninguém

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faria um lápis ou uma tesoura como objeto estético, isto é, apenas para serem
contemplados. Ora, pelo próprio conceito de "útil" podemos verificar que ele não pode
ser considerado como um critério por excelência para o julgamento dos valores, pois o
que é "útil" não tem valor por si, mas só tem valor por aquilo a que serve. O "útil" é
sempre instrumento, é sempre meio, é intermediário, e vale por aquilo a que se dirige:
não vale por si. Como, pois, elevar o "útil" a um critério primordial da vida humana, se
ele para ter significação fica na dependência de outro?

O que por vezes nos impede de valorizar o inútil é não termos sobre ele um conceito
preciso. Ou então o uso vulgar da palavra "inútil", sempre considerada no seu aspecto
pejorativo, é esquecida no seu aspecto nobre e dignificante. Se a palavra "útil" significa
o que tem um fim noutro, a palavra "inútil" significa o que não tem um fim noutro. Ora,
aqui está todo o problema: "o que não tem um fim noutro" pode ser entendido de duas
formas, pois "não tem um fim noutro" porque não tem finalidade alguma; ou, então, "não
tem um fim noutro" porque tem um fim em si mesmo.

Em geral, empregamos a palavra "inútil" para significar o que não tem finalidade
alguma. A palavra "inútil", no entanto, não significa apenas isto. Significando aquilo
que tem um fim em si mesmo, coloca-nos diante de um conceito que, efetivamente,
define ao lado do conceito de "útil" o outro aspecto da vida humana. O homem pratica
atos úteis e inúteis. Os atos úteis são aqueles que estão dirigidos a um fim externo ao
que os pratica. Os atos inúteis, no sentido de atos que têm um fim em si mesmos,
definem a vida humana na ordem da perfeição e da liberdade.

A existência lúdica manifesta-se na infância, mas não é específica da infância. Será,

quando menos, da infância de todas as idades. O esporte, a excursão, o turista, são
formas de vida lúdica. O homem necessita fundamentalmente para o seu equilíbrio
psíquico, e até mesmo orgânico, destes momentos de distensão, de desligamento da
perspectiva prática da vida. Esta forma de existir tem o seu fim em si mesma. Ela se
cumpre na própria medida em que ela se realiza no próprio indivíduo".

Se a Filosofia é necessária hoje, resta ainda saber se o seu ideal de sabedoria persiste
ou não; se adquiriu novas feições ao longo do pensamento ocidental; se sofreu
transformações ocasionadas pelas mudanças sócio-culturais ocorridas desde a
concepção grega de sabedoria. Deve-se, pois, recolocar a questão da sabedoria e toda
a sua feição nos nossos dias.

Filosofia e Sabedoria

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Desde o início do pensamento ocidental, o ideal da Filosofia caracterizou-se como uma

busca de sabedoria. Face à valorização da ciência e da técnica, a uma vida em contínua
mudança e transformação, pergunta-se se esse ideal não se tornou caduco e sem sentido.
Por isso é preciso se interrogar sobre o significado filosófico de sabedoria e sua
importância para a vida prática. Há diferentes pontos de vista sobre a noção de
sabedoria. Assim, na acepção cartesiana, o termo Sophia aparece em sua dimensão
existencial e prática, por ser um conhecimento exato das crises. Além disso, pode
significar tanto a disposição prática de agir de modo racional e correto quanto uma
virtude, nos termos de Sócrates, de Platão. Por fim, pode-se entender este termo como a
capacidade de discernimento de alguém que coloca seus pensamentos e suas ações sob
a determinação de princípios racionais. Destas acepções, conclui-se ser a sabedoria
tanto prática quanto teórica. Todavia, a concepção da Filosofia como sabedoria não
satisfaz a todas as filosofias: os defensores do pragmatismo, do utilitarismo a contestam
em nome da utilidade para a vida dos homens concretos. Apesar de todas essas críticas,
notadamente as concernentes à evolução cultural e histórica dos saberes, observa-se a
importância da sabedoria filosófica para analisar o homem e o mundo contemporâneo,
por ser a filosofia uma entre as chaves das práticas e dos saberes científicos e não
científicos vigentes em nossos dias.

Para ilustrar o texto acima, algumas definições de sabedoria assinalam as modificações

que este termo, em relação com a Filosofia, sofreu ao longo do pensamento ocidental,
não deixando, entretanto, de ter todo um aspecto ligado à vida prática.

Definições de Sabedoria

"Sócrates precisa em muitas ocasiões que a sabedoria como bem supremo é acessível,
desde que seja feito esforço para compreender, e, tomar assim posse de um poder do
qual cada um deve descobrir em si o princípio; a determinação da conduta em função de
exigências essenciais torna-se então condição de uma felicidade durável. Numa tal
perspectiva, a sabedoria verdadeira, propriamente filosófica, não pode ser confundida
nem com a habilidade prática dos artesãos, nem com a eficácia dos homens políticos,
nem com o oportunismo dos defensores do poder..." ( Henri Pena Ruiz. Philosophia.
Paris: Bordas, 1986, p. 245).

"Que esta palavra filosofia significa o estudo da sabedoria, e que por sabedoria não se
entende apenas a prudência nos negócios, mas um perfeito conhecimento de todas as
coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta de sua vida, quanto para a
conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes;..." (Descartes, lettre de
l'auteur à celui qui a traduit le livre. Principes de la Philosophie. Oeuvres et Lettres de
Descartes. Paris: La Nouvelle Revue, 1937, p. 419).

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"A dificuldade própria da filosofia como busca da sabedoria é solidária do problema

do engajamento, no sentido amplo que Sartre dava a esta palavra. Trata-se de saber
como, em cada época da História, o projeto de uma tal sabedoria pode se implicar
numa situação concreta e aí se traduzir por aspirações cuja satisfação histórica 'não
esgota' o projeto filosófico geral de um poder do pensamento e de ação: este último é
por natureza 'aberto', como a própria vida" (Henri Pena Ruiz. Philosophie. Paris :
Bordas, 1986, p. 250).

A partir dessas definições de sabedoria, professadas por filósofos do pensamento

antigo, moderno e contemporâneo, verifica-se que a Filosofia sempre teve por objetivo
o ideal da sabedoria. Todavia, não se pode dizer que o termo de sabedoria tenha tido
em todos os momentos históricos o mesmo significado. Mas qualquer que tenha sido o
seu significado, é possível afirmar que toda definição de sabedoria considera a vida
prática.

Ainda que, nos dias atuais, a Filosofia enquanto sabedoria não possa ser declarada uma
forma de saber caduco, é importante determinar novas tarefas, novos ideais para ela, tal
como foi exposto por Alain Badiou, no texto abaixo, intitulado "Situação da Filosofia
no mundo contemporâneo", extraído de sua obra Para uma nova teoria do sujeito, p. 16 -
17:

Situação da Filosofia no Mundo Contemporâneo

"Mas se a filosofia é uma filosofia conservadora e acadêmica, se ela sacrifica a revolta

e a aposta, não terá tampouco a força de resistir às pressões negativas do consenso da
mídia e do cálculo securitário.

Precisamos então, nós, filósofos, de outra coisa. Nós queremos e desejamos proteger e
salvar os quatro componentes do desejo de filosofia. É preciso ir além da filosofia
hermenêutica e além da analítica. Mas conservando o que a hermenêutica pôde dizer de
admirável sobre o sentido da existência, sobre o tempo ou sobre o poema. E
conservando o que a filosofia analítica pôde dizer de admirável sobre a linguagem,
sobre a lógica e sobre a ciência.

Pode-se dizer isto de outra maneira.

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* A filosofia deve preservar seu senso crítico e sua revolta. Isto quer dizer que ela deve
preservar o projeto de acompanhar uma política libertadora, uma política de
emancipação. E que não deve aliar-se a uma ordem mundial do capital, que é na
realidade uma desordem inumana.

* A filosofia deve preservar o desejo de uma razão e de uma lógica. Isto quer dizer que
ela deve pensar a ciência como sendo um pensamento. Que ela deve distinguir a ciência
da técnica produtivista. Que deve pôr-se sob a égide da matemática contemporânea,
conhecê-la e nela se inspirar.

* A filosofia deve preservar o sentido de universalidade. Isto quer dizer que ela deve
assumir a multiplicidade das culturas. Que deve ter como exemplo seu próprio conceito
universal de atividade artística, sua própria relação universal com as formas sensíveis
da Idéia. Que não deve encerrar-se em um esquema ocidental ou em qualquer outro
esquema.

* A filosofia deve preservar o sentido da aposta e do risco. Isto quer dizer que ela deve
estar ligada à experiência dos encontros, das decisões, das rupturas subjetivas. Que
deve estar ligada à escola dos acasos da paixão, das conversões, das perturbações. Que
deve ser não apenas um pensamento do que é, mas um pensamento do que surge, do que
é improvável, indecidível.

No fundo, a filosofia só pode resistir no mundo tal como é se souber discernir as

experiências que são heterogêneas à lei deste mundo: as experiências políticas radicais,
as invenções da ciência, as criações da arte, os encontros do desejo e do amor.

É disso apenas que ela deve se nutrir. Quer dizer, daquilo que tem a estatura de um
evento para o pensamento.

É preciso para isso um âmbito filosófico, um âmbito conceitual capaz de estruturar o

desejo de filosofia. Capaz de acolher os eventos do pensamento. Capaz também de não
ceder às tentações da opinião."

Atividades Propostas

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1.Debater as preocupações filosóficas face às tragédias do mundo contemporâneo

(guerras, fascismo, desrespeito aos direitos humanos, fome, miséria, desastres
ecológicos). São estas tragédias "provas" da inutilidade da Filosofia, de todo um
fracasso do humanismo filosófico? Como falar de sabedoria em meio a todas essas
tragédias? 2.Procurar despertar nos jovens, nos alunos, o interesse pela Filosofia,
mostrando-a como uma forma de saber prático, saber este profundamente interessado na
vida dos homens, dos indivíduos, dos povos, das minorias...

Bibliografia

1.BADIOU, Alain. Para uma nova teoria do sujeito. Conferências Brasileiras. Rio de
Janeiro: Relume - Dumará, 1994. 2.CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia - São Paulo:
Ática, 1996. 3.DESCARTES, René. Lettre de L'auteur à celui qui a traduit le livre. Les
Principes de la Philosophie. Oeuvres et Lettres de Descartes. Textes presentés por
André Bidoux. Paris: La Nouvelle Revue Française, 1937. 4.LEVY, Pierre. As
tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Rio de
Janeiro: Editora 34, 1993. 5.MENDONÇA, Eduardo Prado de O Mundo Precisa de
Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1996. 6.RUIZ, Henri Pena. Philosophie. La dissertation.
Méthode. Exemples. Exercices. Paris: Bordas, 1986.

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