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Pelo resto da vida Alexandre levaria consigo um punhal, mesmo à noite, para evitar o destino

do pai.
Teria Dario da Pérsia enviado o assassino para impedir o ataque de Filipe à Ásia Menor? Se foi
ele mesmo o responsável, errou o cálculo.8 Alexandre usou o assassinato como pretexto para se
livrar de seus potenciais rivais, tomou o trono e lançou uma expedição para garantir as fronteiras
da Macedônia ao norte e a lealdade das cidades-Estados gregas ao sul.9 E então estava pronto para
enfrentar Dario. Cruzou o Helesponto com grande força militar, invertendo o caminho que o
exército persa havia tomado quando invadira a Grécia gerações antes. Alexandre iniciava a
conquista da Pérsia.
Antes de enfrentar o exército inimigo, ele fez um desvio para passar por Troia. Mas não o fez
por razões militares. Apesar de bem situada, perto da estreita via navegável entre a Ásia e a
Europa, Troia havia perdido toda a importância que um dia tivera. Alexandre tampouco foi lá
para capturar Dario. Ao fazer da cidade seu primeiro destino, ele explicitou uma outra motivação
para conquistar a Ásia, encerrada no texto que ele nunca largava: a Ilíada de Homero.
Homero era o meio pelo qual muitas pessoas haviam se aproximado de Troia desde que as
histórias da Guerra de Troia se tornaram um texto fundamental. Com certeza, foi o que me fez ir
a Troia. Na infância, eu tinha lido uma versão para crianças da Ilíada, antes de me habilitar para
traduções mais fiéis. Quando estudei grego na faculdade, cheguei a ler trechos no original, com a
ajuda de um dicionário. As famosas cenas e personagens desse poema épico jamais me
abandonaram desde então, inclusive seu início, que abre com o exército grego sitiando Troia há
nove anos e Aquiles se retirando da batalha porque Agamêmnon tomou para si sua cativa, Briseís.
Sem seu melhor combatente, os gregos são pressionados pelos troianos. Mas então Aquiles
retorna à batalha e mata Heitor, o troiano mais importante, e arrasta seu corpo ao redor das
muralhas da cidade. (De acordo com outras fontes, Páris se vinga e mata Aquiles com uma
flechada no calcanhar.) Também me lembrava da guerra entre os deuses, com Atena lutando ao
lado dos gregos e Afrodite ao lado dos troianos. E a estranha história anterior de Páris, que coroa
Afrodite como a mais bela deusa e recebe Helena, a esposa de Menelau, como recompensa, o que
desencadeia a guerra. A imagem mais impressionante de todas era, é claro, o Cavalo de Troia com
soldados gregos escondidos em seu interior, embora eu tenha me dado conta, para minha
surpresa, depois de ler traduções mais exatas, de que a última parte da guerra não constava da
Ilíada, mas apenas brevemente da Odisseia.
Quando penso na história de Troia na Ilíada, há uma cena que se sobrepõe a todas as outras
em minha memória. Heitor volta da batalha que está sendo travada mais abaixo na cidade e
procura a mulher, Andrômaca. Ela não está em casa porque saíra em busca de notícias dele.
Heitor enfim a encontra perto do portão da cidade. Andrômaca lhe implora que não arrisque a

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