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61022 - Introdução à Economia (2020/2021)

Parte I – Economia

2. A Procura

Margarita Arantes Salgueiro de Carvalho

A Procura de Margarita Carvalho é disponibilizado sob a


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Índice [2. A Procura]

2. A Procura

 Leitura das páginas 97 a 113.

Nota: Para efeitos de ilustração gráfica de alguns tópicos aqui abordados foi usada como

bibliografia adicional: Mankiw, N. Gregory (2008) Principles of Economics, 5th Ed., South-

Western Cengage Learning, Mason. [capítulos 4 e 5].

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A Procura – Definição

 Curva da procura: é a representação gráfica da procura, o que evidencia a lei


da procura; é o lugar geométrico dos pontos de consumo desejados do bem,
para cada nível de preço.

 Lei da procura: é a relação inversa entre o preço de um bem e a quantidade


procurada, isto é, se o preço do bem aumentar, a quantidade procurada desse
bem varia inversamente.

‒ Lei da Procura Decrescente: quando o preço de um bem aumenta, ceteris


paribus, os consumidores tendem a consumir menos desse bem. De forma
similar quando o preço baixa, ceteris paribus, aumenta a quantidade
procurada.

‒ O declive da curva é negativo.

3
A Procura – Definição

Porque é que a quantidade de bem tende a diminuir com o aumento do


preço? Ou vice-versa?

A lei da procura negativamente inclinada reflete dois efeitos fundamentais: o


efeito substituição e o efeito rendimento.

 Efeito substituição: quando o preço de um bem sobe, o consumidor


procura substituir o consumo desse bem, por outros produtos similares (ex.:
se o preço da carne de vaca sobe, substitui por frango, o que faz diminuir a
quantidade procurada da carne de vaca).

 Efeito rendimento: quando o preço sobe, o consumidor ficará mais pobre do


que anteriormente, pois para obter a mesma quantidade de bem necessita
de utilizar mais quantidade de moeda.

O aumento do preço do bem - e pelo efeito rendimento - irá provocar uma


diminuição tanto da quantidade do bem em questão, como da quantidade

4 dos demais bens.


Lei da Procura – Exceções

Existem exceções à Lei da Procura:

 Bens Giffen;

 Bens de Luxo.

Para este tipo de bens as curvas da procura têm inclinação positiva.

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Procura e Utilidade

Uma outra fundamentação da lei da procura está ligada à lei da utilidade


decrescente. Segundo esta lei a utilidade diminui à medida que aumenta a
quantidade consumida de um bem.

À medida que o consumidor consome mais unidades de um bem, ceteris paribus,


é normal que o “valor” que atribui às últimas unidades seja menor que o “valor”
atribuído às primeiras unidades.

Deste modo, a curva da procura dá-nos o preço máximo que o consumidor está
disposto a pagar, por cada unidade adicional consumida, que corresponde à
utilidade marginal conferida por essa unidade.

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Curva da Procura Individual

A tabela seguinte resume alguns pontos da curva da procura de cones de gelado


de um consumidor. De notar que outros fatores que podem influenciar as decisões
do consumidor, tais como o rendimento, a publicidade, o preço de outros bens,
entre outros, são mantidos contantes (é a hipótese ceteris paribus).

Preço do cone de gelado Quantidade de cones procuradas

$0,00 12

$0,50 10

$1,00 8

$1,50 6

$2,00 4

$2,50 2

$3,00 0
7
Curva da Procura Individual

A representação gráfico da tabela anterior permite-nos perceber como as


quantidades procuradas de gelados variam com o preço, sendo que consideramos
que apenas o preço varia.

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Da Procura Individual à Procura do Mercado

Para explicarmos o funcionamento do mercado no seu conjunto (e não apenas o


comportamento de um consumidor individual), precisamos de conhecer a procura
total por parte de todos os consumidores.

Para conhecer a procura de todos os consumidores, somamos as quantidades


procuradas por cada consumidor individualmente, para cada nível de preços
possível.

O gráfico correspondente a esta informação designa-se por curva de procura do


mercado.

A curva de procura do mercado relaciona a quantidade total procurada de um bem


ou serviço com o seu preço, no pressuposto de que os preços dos outros bens, o
rendimento dos consumidores, os gostos e todos os outros fatores que afetam a
procura permanecem constantes.

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Da Procura Individual à Procura do Mercado

Vamos supor agora uma economia apenas com dois consumidores: a Catherine e
o Nicholas. A partir das curvas individuais de procura podemos obter a curva de
procura agregada (que representa a possível procura de todos os consumidores) –
a procura do mercado.

Preço cone de QD Catherine QD Nicholas QD C+N (Mercado)


gelado
$0,00 12 7 19

$0,50 10 6 16

$1,00 8 5 13

$1,50 6 4 10

$2,00 4 3 7

$2,50 2 2 4

$3,00 0 1 1

10
Da Procura Individual à Procura do Mercado

Graficamente, a curva da procura do mercado corresponde ao somatório


horizontal das curvas de procura individuais. Assim, a curva de procura do
mercado é encontrada quando adicionamos, a cada preço, as quantidades
procuradas por cada um dos consumidores individuais.

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Determinantes da Procura

Além do preço do bem, há outros fatores que influenciam a quantidade procurada


do bem. Na representação da curva da procura, esses fatores são:

 Mudanças do rendimento do consumidor (bens normais versus bens inferiores)

 O preço dos bens e serviços relacionados com o bem em causa (bens


substitutos versus complementares);

 Os gostos ou preferências dos consumidores;

 A dimensão da população (mercado) de consumidores;

 As expetativas dos consumidores;

 Outros fatores que afetem a disponibilidade ou a capacidade dos consumidores


para adquirir um determinado bem.

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Determinantes da Procura

Em geral, quando falamos de Procura, estamos a referir-nos não à quantidade


procurada para um determinado preço em particular, mas sim a toda a curva de
Procura.

Por exemplo, quando dizemos “a procura de carros é mais elevada em Portugal do


que em Espanha”, estamos a dizer que para todos os preços admissíveis, a
quantidade procurada de carros é sempre maior em Portugal do que em Espanha.

O mesmo é dizer que a curva de procura de carros para o mercado português


situa-se à direita da curva para o mercado espanhol.

Pelo contrário, quando dizemos “a quantidade procurada de carros aumentou em


virtude da queda registada no preço deste produto em 5%”.

Geometricamente, trata-se da passagem de um ponto da curva de Procura para


outro, este último correspondendo agora a um preço mais baixo do que o inicial.

Trata-se de um movimento ao longo da curva de procura.


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Determinantes da Procura

É importante diferenciar entre variações na procura e variações na quantidade


procurada:

 A variação na procura ocorre quando se verifica deslocações da curva para a


direita (aumento da procura) ou para a esquerda (diminuição da procura)
resultante de alterações nas variáveis (rendimento, preço de outros bens,
preferências....) que não o preço do bem em causa.

 A variação na quantidade procurada ocorre quando se verifica uma mudança


no preço do bem em causa. Aqui, as deslocações ocorrem ao longo da curva (a
curva não se move).

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Determinantes da Procura

Assim, teremos:

Deslocações da curva da procura

 Uma deslocação na curva da procura, tanto para a esquerda ou direita…

 …causada por alterações que modifiquem a quantidade procurada a cada


preço. Usualmente são variações no(s):

‒ Rendimento do consumidor

‒ Preços dos bens relacionados

‒ Gostos

‒ Expetativas

‒ Número de compradores

Deslocações na curva da procura (ou variação na quantidade procurada)

 Movimento ao longo da curva da procura...

 …causado por uma variação no preço do produto.


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Determinantes da Procura

Deslocações da curva da procura de gelados D1 para D2 e para D3.

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Determinantes da Procura

Classificação de bens por efeitos provocados por variações no rendimento

 Bem normal: um bem no qual, mantendo o resto constante, um aumento de


rendimento provoca um aumento na sua procura. Ex. gelados.

 Bem inferior: um bem no qual, mantendo o resto constante, um aumento de


rendimento provoca um decréscimo na procura. Ex. viagens de autocarro.

‒ Ex. No gráfico anterior, se considerarmos que houve um aumento de


rendimento e D1  D2, então trata-se de um bem normal. Ao invés, se
houve um aumento de rendimento e D1  D3, então trata-se de um bem
inferior.

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Determinantes da Procura

Classificação de bens por efeitos provocados por variações nos preços de


outros bens:

 Bens substitutos: dois bens para os quais o aumento no preço de um leva a


um aumento na procura do outro. Ex. sumo de laranja e sumo de maçã,
cachorros e hambúrgueres, …

 Bens complementares: dois bens para os quais o aumento no preço de um


leva a uma diminuição na procura do outro. Ex. café e açúcar, computadores e
software, …

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A elasticidade-preço da procura

Vimos pela Lei da Procura que a quantidade procurada varia (no sentido inverso)
em função do preço, contudo é também importante saber a intensidade dessa
variação.

A Elasticidade-preço da procura (EpD) é uma medida de quanto a quantidade


procurada de um bem responde a uma mudança no preço desse bem.

 Ou, é a variação percentual na quantidade procurada dada uma mudança


percentual no preço.

Determinantes da EpD:

 Disponibilidade de substitutos próximos

 Necessidades versus Luxos

 Definição do mercado

 Horizonte de tempo

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A elasticidade-preço da procura

Isto é, a procura tende a ser mais elástica:


 Quanto maior o número de substitutos próximos.
 Se o bem for um luxo.
 Quão mais ‘estreita’ for a definição do mercado.
 Quão mais longo for o período de tempo.

Assim, podemos falar em:


 Procura elástica: quando a elasticidade-preço é elevada, isto é a quantidade
procurada responde fortemente às variações do preço.

 Procura rígida (inelástica): quando a elasticidade-preço é fraca, ou seja a


quantidade procurada responde fracamente às variações do preço.

20
A elasticidade-preço da procura

A elasticidade-preço da procura é dada pela fórmula:

∆%
∆%

Ex. Se o preço de um gelado aumenta de 2,00 € para 2,20 € e a quantidade


adquirida cai de 10 para 8 cones, então a elasticidade-preço da procura seria
calculada como:

8 10
10 0,2
2
2,20 2 0,10
2

Podendo interpretar-se dizendo que quando o preço do gelado sobe 1%, a


quantidade procurada desce 2%.

NOTA: Aqui estamos a calcular a elasticidade no ponto, sendo que podemos também obter a
elasticidade no ponto médio (dividindo a variação pelo ponto médio).
21
A elasticidade-preço da procura

Tipos de Procura consoante a sua elasticidade:

Procura perfeitamente inelástica:

 Quantidade procurada não responde a


variações de preço.

 |EpD| = 0

Procura inelástica:

 Quantidade procurada não responde


fortemente às mudanças de preços.

 |EpD| < 1

22
A elasticidade-preço da procura

Procura com elasticidade unitária

 Quantidade procurada por mudanças


na mesma percentagem que o preço.

 |EpD| = 1

Procura elástica

 Quantidade procurada responde


fortemente a mudanças no preço.

 |EpD| > 1

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A elasticidade-preço da procura

Procura perfeitamente elástica

 Quantidade procurada muda infinitamente


com qualquer alteração no preço.

 |EpD| = +ꝏ

Porque a elasticidade-preço da procura mede o quanto a quantidade procurada


responde a variações no preço, ela está estreitamente relacionada com o declive
da curva da procura.

24
Relação entre a elasticidade-preço da procura e
receita total
Quando se estudam as variações da oferta ou da procura, uma das variáveis
utilizadas é a receita total.
A receita total é a quantidade paga pelos consumidores e recebida pelos
produtores do bem (RT = P × Q).
Como varia a receita total à medida que nos deslocamos ao longo da curva da
procura? A resposta depende da elasticidade-preço da procura.

25
Relação entre a elasticidade-preço da procura e
receita total
Com uma curva da procura inelástica, um aumento do preço leva a uma
diminuição na quantidade mas proporcionalmente menor. Assim, o rendimento
total aumenta:

26
Relação entre a elasticidade-preço da procura e
receita total
Com uma curva da procura elástica, um aumento do preço leva a uma diminuição
na quantidade mas proporcionalmente maior. Assim, o rendimento total diminui:

27
Relação entre a elasticidade-preço da procura e
receita total
A inclinação (declive) de uma curva da procura linear é constante, mas a sua
elasticidade não é:

28
Relação entre a elasticidade-preço da procura e
receita total

29
Elasticidade-preço cruzada

A elasticidade-preço cruzada da procura é usada para medir o quanto a


quantidade procurada de um bem reage a variações no preço de um outro bem.

É calculada como a variação percentual na quantidade procurada de um bem


(bem 1) dividida pela variação percentual no preço de outro bem (bem 2):

∆%
∆%

Diz-nos se os bens são complementares ou substitutos:

 Ep2D > 0 : bens substitutos

 Ep2D < 0 : bens complementares

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Elasticidade rendimento da procura

Elasticidade-rendimento da procura mede o quanto a quantidade procurada de


um bem responde a uma mudança no rendimento dos consumidores.

É calculada como a variação percentual da quantidade procurada dividida pela


variação percentual no rendimento:

∆%
∆%

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Elasticidade rendimento da procura

Tipos de bens consoante a resposta a variações no rendimento

 ErD > 0 : Bens normais

 ErD < 0 : Bens inferiores

Rendimento mais elevado aumenta a quantidade procurada de bens normais, mas


diminui a quantidade procurada de bens inferiores.

 Bens que os consumidores consideram como ‘necessários’ tendem a ser


rendimento-inelásticos

‒ Exemplos incluem alimentos, combustíveis, vestuário, utilidades e


serviços médicos.

 Bens que os consumidores consideram como ‘luxos’ tendem a ser


rendimento-elásticos

‒ Exemplos incluem automóveis desportivos, peles e alimentos caros.

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