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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

Alcimar Ferreira da Silva Gomes

RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E NEOLIBERALISMO:


METAMORFOSES E PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO

PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL


2021
ALCIMAR FERREIRA DA SILVA GOMES

RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E NEOLIBERALISMO:


METAMORFOSES E PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado a


Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Campus de
Arapiraca, Unidade Educacional Palmeira dos Índios,
como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Dra. Silvana Márcia de Andrade


Medeiros

PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL


2021
ALCIMAR FERREIRA DA SILVA GOMES

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E NEOLIBERALISMO:


METAMORFOSES E PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Serviço Social da


Universidade Federal de Alagoas/ Unidade Educacional de Palmeira dos Índios, como
requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Banca Examinadora:

__________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Silvana Márcia de Andrade Medeiros
(Orientadora – Curso de Serviço Social/Unidade Educacional Palmeira dos
Índios/Campus Arapiraca/ Universidade Federal de Alagoas – UFAL)

__________________________________________________________________
Prof.ª Ma. Adielma Lima do Nascimento
( Examinadora interna – Curso de Serviço Social/Unidade Educacional Palmeira dos
Índios/Campus Arapiraca/ Universidade Federal de Alagoas – UFAL)

__________________________________________________________________
Prof.ª Dra. Sueli Maria do Nascimento
(Examinadora interna EXTERNA - Curso de Serviço Social/Unidade Educacional
Palmeira dos Índios/Campus Arapiraca/ Universidade Federal de Alagoas – UFAL)

Palmeira dos Índios-AL, 26 de maio de 2021.


Aos meus avós, Eunice e José gomes Neto,
À minha esposa.

Dedico, com amor.


AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dando oportunidade de cursar Serviço Social, pois acredito
que existe um propósito para tudo que acontece conosco.
Aos meus avós (Eunice Ferreira e José Gomes Neto) que me criaram fazendo o
melhor por mim, mesmo quando tudo faltava. Agradeço por ter oportunizado meus
estudos. A eles minha eterna gratidão.
À minha esposa Adevânia, pelo apoio nos momentos de dificuldades, por
sempre acreditar no meu potencial e por fortalecer minha esperança com relação ao
curso quando as minhas já estavam se desfalecendo.
À minha prima Daesy, pelo incentivo e suporte nos períodos iniciais.
Aos professores (as) desse curso que contribuíram para o meu desenvolvimento
acadêmico e pessoal através da dedicação de cada um, repassando o conhecimento
acadêmico.
“A questão social não é senão as
expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e de
seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento
como classe por parte do empresariado e
do estado. É a manifestação, no cotidiano
da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia, a qual passa a
exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão”. (Carvalho e
Iamamoto, falta o ano)
RESUMO

Na atualidade há uma ofensiva do capitalismo sobre as conquistas dos trabalhadores. O


presente trabalho monográfico aborda a crise capitalista e a reestruturação produtiva,
identificando os impactos sobre o mundo do trabalho. Tem como objetivo analisar a
dinâmica da sociedade burguesa e as características das crises continuadamente
presentes e como elas repercutem e intensificam precarização das condições de vida e
trabalho. Em especial, estuda o processo de reestruturação produtiva no contexto de
capitalismo flexível e neoliberalismo. Como fundamentação teórico-metodológica
optou-se pela perspectiva materialista histórico dialético de Marx que apreende o objeto
em uma perspectiva de totalidade apreendendo suas determinações históricas. Foi
utilizado a pesquisa bibliográfica. O estudo revela que o impacto da reestruturação
produtiva afeta direta e indiretamente a organização do trabalhador enquanto classe
socialmente integrada nas relações que envolvem o trabalho. Observa-se, a necessidade
de ampliar novas formas de relações de trabalho, no sentido de garantir a equidade e o
direito ao trabalhador.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Crise capitalista. Reestruturação Produtiva.


Neoliberalismo. Precarização.
ABSTRACT

Nowadays there is an offensive by capitalism on the workers' conquests. This


monographic work addresses the capitalist crisis and the productive restructuring,
identifying the impacts on the world of work. It aims to analyze the dynamics of
bourgeois society and the characteristics of crises that are continually present and how
they impact and intensify precarious living and work conditions. In particular, it studies
the process of productive restructuring in the context of flexible capitalism and
neoliberalism. As a theoretical-methodological basis, we opted for Marx's dialectical
historical materialist perspective, which apprehends the object in a perspective of
totality by apprehending its historical determinations. Bibliographic research was used.
The study reveals that the impact of productive restructuring directly and indirectly
affects the organization of the worker as a socially integrated class in the relationships
that involve work. It is observed that there is a need to expand new forms of labor
relations, in order to guarantee equity and the right to the worker.

KEY WORDS:Work. Capitalist crisis. Productive Restructuring. Neoliberalism.


Precariousness.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10
2 A ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E AS CRISES 12
2.1 Os fundamentos da sociedade burguesa 12
2.2 As crises e as contradições do capitalismo 21
3 ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E
26
NEOLIBERALISMO: PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO
3.1 As bases do fordismo e keynesianismo 26
3.2 As bases da acumulação flexível: reestruturação produtiva e neoliberalismo 33
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 52
REFERÊNCIAS 54

ANOTAÇÕES DE SUELI NO CHAT


Sueli Nascimento
11:28
Mercadoria força de trabalho: apontamentos sobre o consumo do tempo de vida pelo capital -
Albani de Barros https://drive.google.com/file/d/13FeOY-rgfW-mPAivwj8H_7lbcfpJ6SbX/view?
usp=sharing
Precarização: Degradação do trabalho no capitalismo - Albani de Barros https://1drv.ms/b/s!
BG5TeGYqCwL8aitWzBvM4hsYSjc?e=ToMhnEvfFUWdaU2N0ti6AA&at=9
Sueli Nascimento
11:32
Atribuições e competências profissionais revisitadas: a nova morfologia do trabalho no Serviço
Social – Raquel Raichelis http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS202-AtribuicoesPrivativas-
Vol2-Site.pdf

Sueli Nascimento
12:01
LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro
de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a
legislação às novas relações de trabalho. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2017/lei/l13467.htm
1. INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico intitulado “REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E


NEOLIBERALISMO: METAMORFOSES E PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO
TRABALHO”, tem como objeto de estudo o processo de reestruturação produtiva no
contexto de capitalismo flexível e neoliberalismo; suas transformações, metamorfoses,
no decorrer do tempo, suas contradições que são próprias, intrínsecas ao seu
desenvolvimento; crises que são causadas pelas interrupções do processo de acumulação
e queda das taxas de lucro e, especificamente, os impactos da reestruturação produtiva
sobre o mundo do trabalho.
NÃO HÁ A PROBLEMÁTICA POR ISSO CONFUNDE OS OBETIVOS
A crise econômica iniciada em 1970 fez com que o sistema capitalista
reorganiza-se a produção no interior da fábricas com o objetivo de retomar o
crescimento econômico e as altas taxas de lucro. Dessa maneira, no desenvolvimento
dessa pesquisa, intenciona-se discorrer sobre os fundamentos da sociedade burguesa, as
crises, em especial a de 1970; reestruturação da produção, neoliberalismo e as
consequências do capitalismo flexível no mundo do trabalho, por exemplo, precarização
das condições de trabalho e retiradas de direitos. Como também, demonstrar as
estratégicas desenvolvidas pelo capitalismo com o objetivo de desmobilizar a
organização da classe operária, representada pelos sindicatos.
Tem como objetivo analisar a dinâmica da sociedade burguesa e as
características das crises continuadamente presentes e como elas repercutem e
intensificam a precarização das condições de vida e trabalho. A relação capital/trabalho
é instável, baseada em interesses opostos que se intensificam na atualidade devido a
retirada de direitos da classe trabalhadora e ao mesmo tempo exploração da força de
trabalho. Pode-se estabelecer como objetivos específicos: conhecer o processo de
reestruturação produtiva da indústria dos países centrais; demonstrar as formas de
precarização do trabalho criadas pelo capitalismo flexível (o trabalho responde até aqui)
ESTES OBJETIVOS SÃO LEVEMENTE APRESENTADOS; compreender a
importância dos sindicatos na conquista de direitos trabalhistas adquiridos no processo
de lutas da classe operária; evidenciar a ofensiva do capitalismo para desmobilizar a
organização sindical e expor os desafios enfrentados pela classe trabalhadora na
ofensiva neoliberal e as possibilidades de superação do atual modo de produção.
O tema escolhido justifica-se pela importância de desvendar os determinantes
das condições de precarização do trabalho e desmonte dos direitos e do aumento do
desemprego.
Inicialmente, houve a motivação de apreender o contexto que promove o
enfraquecimento das entidades sindicais representativas da classe operária OU CLASSE
TRABALHADORA. Entretanto, para compreender esse fenômeno é preciso apreender
os fundamentos do capitalismo, as transformações ocorridas de forma global que
condicionam as mudanças na relação entre capital e trabalho. Entender o desmonte da
organização sindical, compreende o modo de produção capitalista, transformação com
os meios de produção, suas crises, a precarização e flexibilidade das relações de
trabalho, ou seja, necessário é entender a crise estrutural do capital.
O trabalho estrutura-se em duas seções. Na primeira seção, objetiva-se realizar
uma aproximação introdutória aos fundamentos da sociedade burguesa e das crises
constitutivas deste modo de produção. Inicialmente, buscou-se analisar a dinâmica do
sistema capitalista que impulsionam processos de mudanças constantes no
desenvolvimento das forças produtivas. Em seguida, situou-se as crises capitalistas e o
incessante movimento de restauração capitalista, impactando diretamente o universo do
mundo do trabalho.
Na segunda seção é abordado o processo de reestruturação produtiva no
contexto de capitalismo flexível e neoliberalismo. Buscou-se explicitar as causas que
influenciaram a reestruturação e os impactos causados no mundo do trabalho.
Especificamente os que estão ligados direta e indiretamente a organização do
trabalhador enquanto classe socialmente integrada nas relações que envolvem o
trabalho, buscou-se compreender o neoliberalismo e características intrínsecas como
precarização e capitalismo flexível.
A proposta teórico-metodológica adotada tem uma finalidade de apreender as
determinações históricas, sociais e materiais do objeto estudado, Utiliza como
procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica a partir da leitura principalmente
dos seguintes autores/as: na primeira seção, Netto e Braz (2006), Marx e Engels (2010),
Silva (2016), Medeiros (2008), Omena (2019), Bezerra (2010); na segunda seção,
Antunes (2006), Gounet (1999), Jorge (2011), Paulo Netto e Braz (2006), Santos
(2013), Behring e Boschetti (2017), Bedin e Nielsson, Hobold (2002) dentre outros.
Assim, o presente estudo insere-se na apropriação do tema, tendo em
vista a importância de desvendar os principais impactos da reestruturação produtiva
sobre o mundo do trabalho e, assim, contribuir para ampliação deste debate, aberto a
novas demandas e críticas ao sistema vigente. Possibilita, ainda, a abertura de novas
reflexões voltadas para fortalecer a intervenção do Serviço Social, pautada no
compromisso ético-político da profissão estabelecido no o Código de Ética Profissional
do assistente social que define princípios norteadores da atuação do profissional, por
exemplo, “Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo e Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial
de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes
trabalhadoras”. (Código de Ética do/a Assistente Social, 1993, p. 24)

2. A ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E AS CRISES

O objetivo desta primeira seção consiste em abordar os fundamentos da


sociedade burguesa e as crises constitutivas deste modo de produção. Inicialmente,
busca analisar a dinâmica do sistema capitalista que impulsionam processos de
mudanças constantes no desenvolvimento das forças produtivas. Em seguida, situa-se as
contradições e crises capitalistas e o incessante movimento de restauração capitalista,
impactando diretamente o universo do mundo do trabalho, submetido a incontáveis e
profundas metamorfoses.

2.1. Os fundamentos da sociedade burguesa ou será os fundamentos do


desenvolvimento capitalista

Anterior ao modo de produção capitalista vigorava o sistema feudal de produção


com base no trabalho dos camponeses/servos, vinculados às atividades agrárias. Havia a
propriedade privada da terra como fundamento da riqueza dos senhores feudais e do
poder da Igreja. Os produtores detinham restrita parcela daquilo que era produzido e
responsabilidades de pagar tributos na utilização de meios de produção dos seus
senhores e arar e cultivar primeiro a terra deles. Os camponeses não vendiam sua força
de trabalho pelo pagamento de um salário, porém sua condição era de submissão1
[penso que esta citação está deslocada, sem sentido na discussão] aos senhores feudais
que se apropriam da sua força de trabalho e produtos.
Houve a criação e uso de técnicas e ferramentas como o arado de ferro, moinho
de água, arreios para cavalos, adubo calcário para o solo que possibilitou o
desenvolvimento das forças produtivas e o impulso à criação de excedente, favorecendo
o intercâmbio de mercadorias com o comércio. Silva (2016) estabeleceu as distinções
em relação às sociedades de classes pré-capitalistas escravista e feudal no contexto
europeu: “Nesse contexto, a grande novidade histórica do feudalismo está no fato de
que – diferentemente de tudo o que ocorrera nas relações entre o escravo e o seu senhor
– os servos ficavam com uma parte da produção e, assim sendo, interessava aos servos
aumentá-la (LESSA; TONET, 2011, p. 62 apud SILVA, 2016, p. 79). Prossegue o
autor:

No feudalismo, os trabalhadores produziam tudo que precisava, desde


alimentos até roupas e móveis. Com a retomada do comércio nas cidades,
artesãos, junto as suas famílias e aprendizes de ofícios, começaram a produzir
somente para a venda. Os artesãos eram donos da matéria-prima, dos meios
de produção e do produto do seu trabalho. O produto que eles fabricavam
começou a ser destinados para ao mercado, e não somente para suprir as
necessidades dos seus lares. Entender esse momento histórico é fundamental
para compreender como a forma capital surge, pois, Marx (2010, p. 177)
afirma que “a circulação das mercadorias é o ponto de partida do capital. A
produção de mercadorias e o comércio, forma desenvolvida da circulação de
mercadorias, constituem as condições históricas que dão origem ao capital”.
(SILVA, 2016, p. 95)

A manufatura é a fase da especialização do trabalho, da divisão técnica do


trabalho, da departamentalização. Corresponde a fase em que os meios de produção são
separados, desvinculados do trabalho e transformados em capital. Silva salienta que a
manufatura é a “fase intermediária do artesanato e da grande indústria, período que se
concentram o capital usurário e o capital comercial através das rotas marítimas
comerciais”. (2016, p. 97)

1
Cabe destacar as Leis dos Pobres criadas a partir do século XIV. De acordo com Bizerra (2016, p. 58),
“[...] é interessante anotar que o poder político centralizado elaborou a legislação sanguinária que vigeu
do século XIV ao XVIII, voltada para disciplinar os camponeses que foram brutalmente expulsos de suas
terras, por via da dissolução dos séquitos feudais, e arrancados de seu modo de vida costumeiro; mas que,
por não serem absorvidos pela nascente manufatura, não se adaptaram à nova disciplina que se instaurava,
convertendo-se, segundo Marx (1988, p. 265), ‘em massas de esmoleiros, assaltantes, vagabundos, em
parte por predisposição na maioria dos casos por força das circunstâncias”.
Marx e Engels, no Manifesto Comunista (2010, p. 41), apresenta esse contexto
em que “[...] a própria burguesia moderna é um produto de um longo processo de
desenvolvimento, de uma série de transformações no modo de produção e de
circulação”.2
Na Revolução Industrial generalizou-se a separação das classes trabalhadores
dos meios de produção. Inicialmente na manufatura os processos de trabalhos
individuais tornaram-se trabalho social combinado, subordinado ao capital que controla
o processo de trabalho,3 o trabalho e o produto realizado. A produção de mercadorias é
ampliada e bastante superior aos períodos anteriores, ao tempo que cresce a produção de
riqueza e de miséria.

Daí a missão civilizadora de o capital tornar possível a criação de uma massa


de bens e serviços, em quantidade e qualidade capazes de atender a todas as
necessidades da sociedade. Todavia, a criação e a expansão das necessidades
humanas só podem realizar-se sob a forma de mercadorias, estando sua
produção voltada para a troca e criação de mais-valia, não para satisfazer as
necessidades humanas. Desse modo, a capacidade de revolucionamento
constante das forças produtivas depara-se, paradoxalmente, com a
instauração inédita da miséria em massa, que atinge segmentos além dos
inaptos ao trabalho e vagabundos, cuja vulnerabilidade de massa não é
resolvida pela intervenção social-assistencial, de caráter repressivo e restrito.
(MEDEIROS, 2008, p. 29)

A grande indústria é o apogeu do desenvolvimento da maquinaria para elevar a


produtividade do trabalho e ampliar o número de trabalhadores assalariados.

Reputando a grande indústria como a configuração mais desenvolvida da


produção no contexto de revolução do meio de trabalho, Marx (1985a, vol. II,
cap. XIII, p. 22-39) apresentou como efeitos imediatos da produção
mecanizada sobre o trabalhador: a apropriação de forças de trabalho
suplementares, como o trabalho feminino e infantil, o prolongamento da
jornada de trabalho e a intensificação do trabalho. A maquinaria, ao tornar a
força muscular dispensável, passou a utilizar membros de maior
flexibilidade, e, também, mais adaptados ao despotismo na fábrica, como as

2
“A organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não satisfazia
as necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena
burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes
corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina. A própria manufatura
tornou -se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande
indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários
da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos” (MARX;
ENGELS, 2010, p. 41). Rever o lugar dessa citação
3
Segundo Paulo Netto e Braz (2006, p. 58) o processo de trabalho abrange: “os meios de trabalho; os
objetos do trabalho e a força de trabalho”. “O conjunto desses elementos designa-se por forças
produtivas”.
crianças e mulheres. O aumento do número de assalariados, incorporando
todos os membros da família, modificou o tempo necessário de reprodução
do trabalhador individual e sua família e, em consequência, desvalorizou a
força de trabalho. Assim, aumentou a mais-valia absoluta, ampliando o
número de trabalhadores e o grau de exploração. Essas condições de
subordinação do trabalho de mulheres e crianças desmistificaram a relação
capital-trabalho ao perderem a aparência de contrato entre pessoas livres,
além de exporem questões como as altas taxas de mortalidade dos filhos dos
trabalhadores. (MEDEIROS, 2008, p. 37)

Logo, o modo de produção capitalista que impera atualmente de forma global


teve sua consolidação entre os séculos XVIII e XIX. Segundo Paulo Netto e Braz (2006,
p. 95) “[...] durante cerca de setenta anos, no decurso do século XX, teve a concorrência
de experiências de caráter socialista, atualmente não se confrontam com nenhum desafio
externo à sua própria dinâmica: impera na economia das sociedades mais desenvolvidas
(centrais) e vigora na economia das sociedades menos desenvolvidas (periféricas) [...]”.
Dessa forma, o modo de produção capitalista funda-se na exploração do trabalho
e move-se para obtenção de lucros, como força motriz. “O lucro do capitalista, porém,
não se deve a diferenças entre preços de compra e preços de venda, ocorrentes na esfera
da circulação: o lucro do capitalista provém de processos ocorrentes na esfera da
produção” (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 97). Este excedente econômico
expropriado pelo capitalista, também pode ser denominado de mais-valia.

A força de trabalho, durante a jornada de trabalho, produz mais valor que


aquele necessário à sua produção/reprodução, valor esse expresso no salário;
assim, mesmo pagando o valor da força de trabalho, o capitalista extrai da
jornada de trabalho do trabalhador um excedente (a mais-valia, fonte do seu
lucro). Numa palavra, do valor criado pela força de trabalho, a parte que
excede o valor de sua produção/reprodução é apropriada pelo capitalista – a
relação capital/trabalho, personalizada na relação capitalista/proletário,
consiste, pois, na expropriação (ou extração, ou extorsão) do excedente
devido ao produtor direto (o trabalhador): é nessa relação de exploração que
se funda o MPC. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 101).

Segundo Paulo Netto e Braz (2006, p. 118), o capital é uma relação social, pois
subordina a força de trabalho. Para realizar o movimento esperado na obtenção do lucro,
ele circula na esfera social por diversos segmentos, interagindo de forma intensa com os
sistemas comercial e financeiro.

É com D (capital sob a forma de dinheiro) que se inicia a produção


capitalista. Seu possuidor, o capitalista (que pode ser um sujeito
individual/uma pessoa ou coletivo/uma sociedade constituída por várias
pessoas), compra M, isto é, um conjunto de mercadorias, para dar curso a um
processo de produção (P) que se conclui quando está pronta a mercadoria que
o capitalista pretende vender (M’); quando essa mercadoria é vendida (dizem
os economistas: quando ela se realiza), o capitalista obtém D’ (recupera o
dinheiro que investiu, acrescido da mais-valia). (PAULO NETTO; BRAZ,
2006, p. 98, grifo dos autores).

Nesse processo de produção de mercadorias a força de trabalho é uma


mercadoria especial, que se distingue das demais, uma vez que apenas ela cria valor
superior ao que custa: “[...] o capitalismo paga ao trabalhador o equivalente ao valor de
troca da sua força de trabalho e não o valor criado por ela na sua utilização (uso) – e
este último é maior que o primeiro” (ibidem, p. 100, grifo dos autores).
A força de trabalho é, portanto, uma mercadoria. Ao mesmo tempo essa precisa
se reproduzir e para isso recebe um salário, valor esse que é inferior ao valor produzido
pelo trabalhador nas atividades jornadas de trabalho. Logo, o salário proporciona a
reprodução da força de trabalho suprindo necessidades básicas e também sociais. O
salário varia de acordo com a conjuntura econômica: quando a taxa de desemprego está
alta a tendência do salário é diminuir uma vez que existe o exército industrial de
reserva.
A organização dos trabalhadores desenvolveu-se para enfrentar os interesses
capitalistas.

Ao longo da evolução do capitalismo, constatou-se que o melhor instrumento


para os trabalhadores evitarem que os salários caiam abaixo do seu valor é a
sua organização classista e política: quando dispõem de sindicatos fortes e
partidos políticos que os representam, os trabalhadores adquirem condições
para negociar favoravelmente o preço da única mercadoria que possuem (a
sua força de trabalho). E quanto mais cresce o poder de suas lutas e de suas
organizações, mais podem pressionar o Estado (que, enquanto Estado
burguês, é um poder a serviço do capital) para intervir na regulação dos
mínimos salariais. Considerando-se os países capitalistas centrais a partir do
último quarto do século XIX, verificou-se que em geral o salário atende às
necessidades da reprodução fisiológica dos trabalhadores; quanto às
necessidades de natureza histórico-social, somente as lutas organizadas dos
trabalhadores, através dos seus sindicatos e partidos, tiveram êxito no sentido
de obrigar os capitalistas a reconhecer algumas delas como legítimas
(PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 103-104, grifo dos autores).

O enfrentamento desses interesses através da organização dos trabalhadores


submete-se às condições relacionadas ao desemprego e poder de barganha nas
negociações. São acontecimentos e correlação de forças que se complementam pelo fato
de fazerem parte do próprio movimento do sistema capitalista. O desemprego e baixos
salários são causas para que a classe trabalhadora se organize, através dos movimentos
sindicais e políticos para pressionar também o Estado, que representa a classe burguesa,
para que assegure condições de reprodução através de regulações e das políticas sociais,
que atendam demandas que não afetem as condições da produção capitalista.
Para Paulo Netto e Braz (2006), no modo de produção capitalista,
ideologicamente foi criado valores, ideias que têm feito com que o trabalhador não
perceba, não consiga diferenciar no cotidiano a exploração que imposta pela condição
salarial, ou seja oculta a exploração e subordinação do trabalho. Apresentam na
mercadoria o trabalho concreto (trabalho útil) como sendo aquele que produziu valor de
uso e que se torna trabalho abstrato como trabalho geral e valor de troca. Este último
significa o mascaramento do real valor do dispêndio de tempo e energia que o trabalho
do proletariado dispôs. O produto que inicialmente, depois da produção, é concreto;
passa a ter um valor abstrato no momento de troca. É neste ponto que se situa a
expropriação do trabalhador. O salário representa o preço da força de trabalho e
corresponde ao tempo de trabalho necessário para reproduzir-se socialmente, na outra
ponta existe o tempo de trabalho excedente que produz o valor excedente. Daí decorre a
taxa de mais-valia, que encobre a produção de mercadorias.

A experiência cotidiana dos trabalhadores não lhes permite apreender a


distinção entre trabalho necessário e trabalho excedente: na jornada de
trabalho não há nenhuma divisória perceptível entre ambos – sob esse
aspecto, o trabalho assalariado (“trabalho livre”) é mais ocultador da
exploração que o trabalho servil e o escravo. Com efeito, para o escravo, a
identificação da exploração pode ser quase imediata: nada do que produz lhe
pertence; quanto ao servo, o fato de produzir em lugares diferentes (nas terras
do senhor e na gleba, donde retirava a parte que lhe cabia da produção)
facilitava a percepção de que o senhor lhe extraía partes do produto do seu
trabalho. Ademais, tanto no caso do escravo como no do servo, a apropriação
do excedente que produziam era assegurada pelo uso da violência extra-
econômica. No caso do trabalhador assalariado, o excedente lhe é extraído
sem o recurso à violência extra-econômica; o contrato de trabalho implica
que o produto do trabalho do trabalhador pertença ao capitalista. E a falsa
noção de que o salário remunera todo o seu trabalho é reforçada (para além
da ideologia patrocinada pelo capitalista, segundo a qual “o salário é o
pagamento do trabalho”) pelo fato de a jornada de trabalho ser contínua e de
ele trabalhar com meios de produção que não lhe pertencem e num espaço
físico que também é de propriedade do capitalista. Por isso, a maioria dos
operários sente a exploração – tratando-a como uma injustiça –, mas não
alcança, na sua experiência cotidiana, a adequada compreensão dela.
(PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 107, grifo dos autores).

A extração do trabalho excedente significa levar os trabalhadores a longas


jornadas de trabalho ou a sua intensificação e, consequentemente, ao agravamento das
suas condições de vida e saúde.

A grande indústria revolucionou a produção uma vez que tratou de desenvolver


os meios de produção. Essa revolução teve início na manufatura, porém de forma
limitada as habilidades do trabalhador. Pode-se dizer que o capital procurava se adaptar
as funções que a força de trabalho podia desenvolver.

Com o predomínio do modo de produzir da grande indústria, o


revolucionamento do modo de produção não considera mais as condições
subjetivas do trabalho, isso não mais importa para o capital; agora, nem as
habilidades, nem a força, nem o corpo orgânico do trabalhador apresentam
obstáculos para o revolucionamento do modo de produção e para a
consequente extração da mais-valia. É, portanto, a maquinaria que passa a
controlar, por exemplo, quais as funções que o trabalhador deve realizar
dentro da produção e a posição que ele vai ocupar nela, seu modo de operar,
seu ritmo, e etc. Desse modo, a produção não é mais controlada pelo
trabalho, mas pelo meio de trabalho, cujo movimento e atividade operativa se
autonomizou em relação ao trabalhador. (OMENA, 2019, p. 122).

Na produção capitalista sob o comando do capital, a força de trabalho 4 é


consumida pelo meios de produção5na produção da mais-valia.
Ao afirmarmos que a subordinação do trabalho ao capital se consolida com a
introdução da maquinaria na produção, deixamos de lado outras
características desse período, umas decorrem da introdução da maquinaria e
outras não, mas todas distinguem a grande indústria de momentos anteriores
da produção capitalista. (OMENA, 2019, p. 103).

Com o incessante desenvolvimento da produtividade voltado para a reprodução


ampliada da acumulação ocorre a aumento do capital constante (meios de produção) e a
diminuição do capital variável (força de trabalho). Com as limitações impostas em
relação à regulação da jornada de trabalho investem nos desenvolvimentos de
tecnologias que propiciem maior extração de trabalho excedente, utilizando a mesma
jornada, e na maior parte dos casos com redução de trabalho vivo, máquinas que
intensificam a produção, ou seja, se eram produzidas dez peças em uma hora; agora
serão produzidas vinte no mesmo intervalo de tempo, com a produção de mais-valia
relativa.

Controlar a jornada de trabalho, a intensidade e o ritmo do trabalho, insere-se


como formas de controle do capital sobre o processo de trabalho, para, assim,
fragmentar. a atividade produtiva.

De acordo com Netto e Braz, (2006, p. 111) a partir do século XVI o capitalista
reunia os trabalhadores no mesmo espaço físico, possibilitando realizar a supervisão. Os

4
“[…] no trabalho em geral é o trabalho vivo que se apresenta na direção de sua própria atividade e
consome os meios de produção (trabalho morto)[...]”. (OMENA, 2019, p. 122)
5
“[…] a força de trabalho ativa, é consumida pelo capitalista por intermédio dos meios de
produção (trabalho morto)[...]”. (OMENA, 2019, p. 123)
trabalhadores realizavam as atividades sob a forma de cooperação, então era do
conhecimento de todos as técnicas que envolviam a produção. A partir do século XVIII,
a cooperação deu lugar a manufatura que trouxe a divisão do trabalho e a especialização
do trabalho.

Essa divisão conduz à especialização das atividades e, ao mesmo tempo, à


destruição dos saberes de ofício que permitiam ao trabalhador o
conhecimento técnico do conjunto das operações necessárias à produção de
certo bem; alocado a uma única e determinada tarefa, que repetirá ao longo
de todas as jornadas de trabalho, o trabalhador será despojado dos seus
conhecimentos e perderá o controle de suas tarefas (e, portanto, perderá
muito do seu poder de barganha em face do capitalista). A divisão capitalista
do trabalho no interior das unidades produtivas propiciará um enorme
aumento da produtividade do trabalho e terá como efeito uma diferenciação
da força de trabalho que favorecerá os desígnios do capitalista: de um lado,
criará uma pequena parcela de trabalhadores altamente especializados, que
disporá de condições de negociar em posição de força com o capitalista; mas,
de outro, desqualificará a maioria das atividades produtivas, na medida em
que a divisão do trabalho multiplica atividades simples – então, abre-se o
espaço para a exploração do trabalho feminino e infantil e para a constituição
de um grande contingente de trabalhadores que não dispõem de saberes de
ofício. O período manufatureiro desobstrui a via para que o processo de
trabalho seja realmente comandado pelo capital. (PAULO NETTO; BRAZ,
2006, p. 112, grifo do autores).

Estavam dadas às condições para o comando do capital sobre o processo de


trabalho, ou seja, a subsunção real do trabalho ao capital. Todas essas mudanças levam
para o aumento da extração da mais-valia. “Para o trabalhador é imposta a nova função
de vigiar a máquina e corrigir seus erros, bem como o papel puramente mecânico de
força motriz”. (SANTOS, 2019, p. 39).

A partir do momento em que a máquina de trabalho passa a realizar todos os


movimentos necessários ao processamento da matéria-prima, sem a
interferência direta do trabalhador, apenas precisando do auxílio dele, tem-se
um sistema maquinário automático capaz de ser continuamente aperfeiçoado
em seus detalhes. Já o trabalhador vai sendo cada vez mais afastado do
processo total da fabricação do produto, desconhecendo o valor de seu
trabalho e ficando mais dependente da nova forma de produzir. (SANTOS,
2019, p. 43).

Para Netto e Braz (2006) a reprodução ampliada do capital tem a natureza


expansiva, ou seja, o “capital é valor que busca valorizar-se” (p. 125). A acumulação de
capital significa que existe um aumento de trabalho não pago, trabalho excedente,
apropriação cada vez maior de mais-valia6. Esse processo de acumulação é fundamental
6
A outra parte da jornada de trabalho corresponde ao tempo de trabalho excedente, isto é, corresponde à
parte da jornada em que o trabalhador trabalha para o capitalista, a parte que sobra ao ser deduzida a parte
necessária da jornada de trabalho. Não à toa o capitalista deseja sempre aumentar a parte excedente da
jornada de trabalho. Para isso, se o capitalista quer extrair o mais-trabalho ou a mais-valia a partir da
exploração da força de trabalho. (OMENA, 2019, p. 103).
para a reprodução do sistema, e uma vez abalado por interrupções sobrevém as crises.
No processo de acumulação no modo de produção capitalista contemporâneo
exerce um papel importante a concorrência entre capitalistas, uma vez que é
característica ocorrer um processo de centralização entre empresas, industrias, com a
fusão – transformados em conglomerados monopolistas que controlam o mercado. A
partir do século XX teve início a etapa monopolista do capitalismo que são alavancadas
pelas tendências de concentração e centralização.

Eis por que a tendência do capital, em seu movimento, é de concentrar-se:


cada vez mais capital é necessário para produzir mais mais-valia. Essa
tendência de concentração do capital faz com que os grandes capitalistas
acumulem uma massa de capital cada vez maior. Ao lado da concentração de
capital, a dinâmica da acumulação capitalista revela outra tendência do
movimento do capital, o processo de centralização. Este, à diferença do
anterior, não implica um aumento de capital em função de uma nova
acumulação, mas tão somente o aumento de capital pela fusão de vários
outros. A centralização do capital realiza-se pela união (mediante cartéis,
trustes e a formação de holdings) de capitais já existentes. (PAULO NETTO;
BRAZ, 2006, p. 130, grifo dos autores).

No processo de acumulação capitalista merece destaque a constituição do


exército industrial de reserva, uma superpopulação relativa necessária à acumulação. A
acumulação de capital é realizada com uma taxa de investimentos alta em meios de
produção, ou seja, compra de máquinas novas, inovação na tecnologia, isto é, cresce o
capital constante e diminui o capital variável. Isso eleva o desemprego porque a
inovação tecnológica e a automação crescente substituem a atividade humana, o
trabalho vivo.

Esse movimento do capital é regido pela lei geral da acumulação capitalista,


apresentada por Marx no Capítulo 23, na obra “O capital”: a produção de mais-valia ao
promover a geração de excedente e a reprodução ampliada do capital, exige o necessário
aumento da composição orgânica do capital, que impõe o decréscimo do capital
variável, ou seja, a diminuição absoluta da demanda de trabalho. A concentração e
centralização do capital são processos que acontecem em conjunto e determinam o
aumento do desemprego e da pauperização dos trabalhadores.

[...] o processo de concentração e centralização do capital faz crescer a


tendência da alteração cada vez mais acentuada da composição técnica do
capital, na qual a força de trabalho passa a ser supérflua em comparação com
os meios de produção. Tal mudança é favorável para o capital, pois o número
de trabalhadores expulsos da produtividade se dá conforme as necessidades
de acumulação do capital. E os que ainda continuam na produtividade são
mais explorados com a intensificação cada vez mais frequente da extração do
sobretrabalho. (BEZERRA, 2010, p. 34).
O grande número de desempregados faz com que o capitalista diminua os
salários daquelas que estão inserindo no mercado de trabalho. Quando não for possível
realizar a redução, ocorre o congelamento dos salários. O trabalhador é obrigado a
aceitar tais condições porque existe um grande número de desempregados esperando
uma oportunidade de emprego e dispostos a aceitar as condições propostas de forma
precisa , no tocante ao processo de acumulação e constituição do exército industrial de
reserva Bezerra esclarece que:

[...] com o desenvolvimento do capitalismo, estes componentes do capital que


no começo do desenvolvimento capitalista eram investidos na mesma
proporção, são agora investidos de maneira inversamente proporcional, pois
quanto mais crescem, de um lado, as forças produtivas, mais diminui, de
outro, a quantidade de força de trabalho investido para o funcionamento da
produtividade. A classe trabalhadora, portanto, é forçada à ociosidade devido
ao sobretrabalho de outra parte da classe trabalhadora, cuja condição propicia
o enriquecimento do capitalista individual e acelera a produção do exército
industrial de reserva. (BEZERRA. 2010, p. 38).

O lucro que cada capitalista obtém depende de vários fatores, por


exemplo, concorrência no mesmo ramo de produção, composição orgânica maior ou
menor que os concorrentes e migração de capitais. De acordo com Netto e Braz, (2006,
p. 102): existe a tendência do nivelamento das taxas de lucro, criando uma taxa média
de lucro. Porém, essa taxa média é dependente, temporária pois faz parte do próprio
movimento de valorização do capital.

A função dos capitalistas industriais consiste em extrair diretamente o


máximo de sobretrabalho [trabalho não pago] da classe operária para a
produção de mais-valia. A função dos capitalistas comerciais consiste em
transformar as mercadorias em capital monetário. A função dos banqueiros
consiste em concentrar e disponibilizar o capital monetário. Cada grupo de
capitalistas retira a sua parte da mais-valia criada pela classe operária
(PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 99 apud Nikitin, s. d.: 105).

O desenvolvimento do capital, especificamente os meios de produção, faz com


que um determinado capitalista obtenha uma margem de lucro grande ao desenvolver
um método, técnica que o coloca em vantagens com relação aos demais que não dispõe
dessa técnica. Quando os demais conseguem produzir no mesmo patamar, igualar os
meios de produção a taxa de lucro cai, pois cai o preço das mercadorias.

[...] a lei do modo de produção capitalista tem por base o decréscimo


relativo do capital variável, se comparado ao capital constante; deste
modo, a tendência do capital em termos proporcionais em eliminar um
número maior de capital variável, a partir do desenvolvimento do
trabalho, impulsiona um agravante para a própria dinâmica do
crescimento do capital, pois com o investimento cada vez maior no
capital constante, ou seja, os meios de produção, ocorre também o
capital excedente a promover o barateamento do produto, na medida
em que contém uma soma menor de trabalho. Essa é uma das razões
para a queda da taxa de lucro. É por isso que a expansão do
desemprego tem limites, porque o capital para se reproduzir precisa da
exploração do trabalho a partir da extração da mais-valia, aumentando
o seu controle sobre o trabalho (BEZERRA, 2010, p. 85, grifo nosso).

O objetivo do capitalista industrial é que sua produção se realize no mercado o


quanto antes para que assim, ele possa ter o retorno do capital investido no menor
tempo possível. Para que isso ocorra ele precisa abrir mão de parte da mais-valia que
será fatiada entre os agentes econômicos comerciais.

A função dos capitalistas industriais consiste em extrair diretamente o


máximo de sobretrabalho [trabalho não pago] da classe operária para a
produção de mais-valia. A função dos capitalistas comerciais consiste
em transformar as mercadorias em capital monetário. A função dos
banqueiros consiste em concentrar e disponibilizar o capital
monetário. Cada grupo de capitalistas retira a sua parte da mais-valia
criada pela classe operária (Nikitin, s. d.: 105 apud PAULO NETTO;
BRAZ, 2006, p. 99 , grifo nosso).

Apresenta-se, a seguir, as crises como constitutivas do movimento de rotação do


capital atravessado de contradições permanentes e insuperáveis.

2.2 As crises e as contradições do capitalismo

A consolidação do modo de produção capitalista foi marcada por uma sucessão


de crises econômicas, desde 1825. O movimento do capitalismo revela-se instável
porque é caracterizado por períodos de expansão e logo depois sobrevêm os ciclos de
crise, com estagnação econômica. O choque entre suas contradições demandam
metamorfoses para que o sistema possa continuar sendo hegemônico e revela o caráter
ineliminável das crises, assim como a ampliação do papel do Estado nesta dinâmica,
como demonstra Paulo Netto e Braz:

Inicialmente, tais crises eram mais ou menos localizadas (a primeira,


de 1825, envolveu praticamente apenas a Inglaterra); desde 1847-
1848, elas passaram a ganhar dimensão mundial – e a mais grave do
século XIX foi a que eclodiu em 1873. No século XX, a crise que se
abriu em 1929 teve consequências catastróficas. A partir do segundo
pós-guerra, foram implementadas políticas macroeconômicas e
surgiram instituições nacionais e supranacionais com o objetivo de
reduzir o impacto das crises. [...] Apesar dessas providências, que
sinalizam o redimensionamento do papel do Estado em face da
dinâmica econômica, o desenvolvimento do capitalismo, ao longo de
toda a segunda metade do século XX e na entrada do século XXI,
continuou alternando prosperidade e depressão (ou recessão, que
designa uma depressão menos violenta) – o que aponta para o caráter
ineliminável das crises. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 159-160,
grifo do autores).

As contradições do sistema capitalista são expressas na eclosão das crises.

A dinâmica do capitalismo se mostra instável, pois há momentos de expansão e


crescimento da produção, mas a qualquer momento pode ocorrer a ruptura desse estágio
de estabilidade e o sistema entrar em uma depressão. Industriais decretam falência, já os
trabalhadores são atingidos pelo desemprego e o pauperismo. Ainda, segundo o autores,
as crises nascem a partir do momento que as contradições do modo de produção
capitalista se saturam.

É importante destacar que entre uma crise e outra existe o que Paulo Netto e
Braz (2006, p. 159), apresentam como ciclo econômico, no qual pode ser dividido em
quatro etapas: a crise, a depressão, a retomada e o auge.

Marx e Engels, em 1848, no Manifesto Comunista, já haviam constatado a


tendência expansionista do capital em escala global: “Impelida pela necessidade de
mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo terrestre . Necessita estabe
lecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte”. (2010, p.
43)
O capitalismo concorrencial é sucedido pelo estágio imperialista, ainda nas
últimas décadas do século XIX e ao longo do século XX e XXI, com o objeto de
dominar e controlar os mercados, enfrentar os impactos das crises e aumentar a taxa de
lucro. Inicialmente a concentração de grande margem de lucro nas mãos de poucos
capitalistas fez com esses tivessem melhores condições para produzir, tendo vantagens
competitivas e, consequentemente, conseguiram centralizar em um grupo a produção de
determinado bem que antes era produzido por muitos capitalistas: surgiram dessa forma
os monopólios.

[...] na efetividade da vida econômica, o surgimento dos monopólios teve um


enorme impacto. O aparecimento, em menos de trinta anos, de grupos
capitalistas nacionais controlando ramos industriais inteiros, empregando
enormes contingentes de trabalhadores e influindo decisivamente nas
economias nacionais alterou de modo extraordinário a dinâmica econômica.
Em poucas décadas, esses gigantescos monopólios (centrados na indústria
pesada) extravasariam as fronteiras nacionais, estendendo a sua dominação
sobre enormes regiões do globo. Mas, já então, entre fins do século XIX e os
primeiros anos do século XX, o grande capital – a partir daí geralmente
conhecido como capital monopolista –, firmemente estabelecido na
produção industrial, se constituía como a coluna vertebral da economia
capitalista, articulando formas específicas de controle das atividades
econômicas (o pool, o cartel, o sindicato, o truste etc.). Uma vez estruturados
e consolidados esses monopólios, mudou a fisionomia do capitalismo;
consumada a monopolização. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 177-178,
grifo dos autores)

Logo, o capital financeiro entra em cena para fortalecer o domínio dos


monopólios, que se caracteriza por expandir as fronteiras além dos territórios nacionais.
Baseado na exportação de capital para financiar o desenvolvimento e construção de
industriais em outros países. O imperialismo tratou de dividir o mundo em territórios
pertencentes aos grandes grupos monopolistas. Essas metamorfoses no modo de
produção capitalista são formas para continuar o ciclo de extração de sobre trabalho,
produção de mais-valia e, principalmente, uma extração extraordinária de lucro.

As crises podem ocorrer nas mais variadas formas de organização societal.


Como exemplo, Paulo Netto e Braz (2006, p. 110) citam o sistema pré-capitalista que
teve suas crises devido a alguns acontecimentos tidos como naturais que destruíram os
produtores diretos, epidemias, ou acontecimentos sociais, isto é, guerras, responsáveis
por destruir os meios de produção e forças produtivas. Esses acontecimentos impactam
diretamente na escassez dos bens com valor de uso e eram crises de subprodução de
valores de uso, com generalização da carência dos produtos para toda a sociedade.

Entretanto, as crises do sistema capitalista são gestadas nas próprias


contradições que movimentam o modo de produção com uma superprodução de valores
de uso.

As crises próprias do MPC são inteiramente diferentes. Se, na crise pré-


capitalista, é a diminuição da força de trabalho (uma epidemia ceifando vidas
de trabalhadores) que ocasiona a redução da produção, na crise capitalista
ocorre exatamente o contrário: é a redução da produção que ocasiona a
diminuição da força de trabalho utilizada (isto é, o desemprego) – o que
numa é causa, noutra é efeito. E há, sobretudo, uma diferença essencial: a
crise capitalista aparece, inversamente à crise pré-capitalista, como uma
superprodução de valores de uso – mais precisamente: não há insuficiência
na produção de bens, não há carência de valores de uso; o que ocorre é que os
valores de uso não encontram escoamento, não encontram consumidores que
possam pagar o seu valor de troca e, quando isto se evidencia, os capitalistas
tendem a travar a produção; na crise capitalista, a oferta de mercadorias
torna-se excessiva em relação à procura (demanda) e, então, restringe-se ao
limite a produção. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 158, grifo do autor).
A mercadoria produzida e colocada à venda, quando não encontra demanda no
meio comercial gera um acúmulo de produção e, consequentemente, prejuízos para o
capitalista. O capital para resolver o problema do acúmulo de mercadoria suspende a
produção ou reduz a força de trabalho, capital variável, o que intensifica o desemprego.
Dessa forma, quando esse processo de acumulação é interrompido o sistema entra em
um ciclo de crise, que expressa as contradições inerentes ao seu movimento.

A crise é assim a expressão do caráter particularmente contraditório assumido


pela acumulação do capital. Contraditório porque os interesses do capitalista
entram em frequente oposição, mais ou menos aguda, com seus interesses
enquanto integrante da classe capitalista. Vejamos um exemplo: se o
capitalista A vê cair a sua taxa de lucro, ele pode inicialmente dispensar
trabalhadores e aumentar a intensidade do trabalho, esperando assim diminuir
os custos e reencontrar suas margens de ganho. Mas, se muitos capitalistas
fizerem o mesmo – e o capitalista A não pode impedi-los de fazê-lo – , a
meta buscada não é alcançada. Longe de se restabelecer, a taxa de lucro cai e
a crise se generaliza. O capitalista A obtém o inverso do que busca,
precisamente porque não domina as leis do mercado e essas se voltam contra
ele. A criação do desemprego, resultante da sua ação e daquela de seus
imitadores, não permite – embora diminua provisoriamente seus custos – que
as mercadorias sejam vendidas pelo seu valor. A mais-valia não se realiza ou
não se realiza integralmente. O crescimento do desemprego significa menos
dispêndio de salários e, portanto, menos possibilidades de escoar as
mercadorias. A forma dinheiro é insuficiente em relação à forma mercadoria,
impedindo que essa seja escoada pelo seu valor (Salama e Valier, 1975: 115
apud PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 158-159).

Segundo Marx e Engels (2010), a burguesia ao ter como horizonte a exploração


do mercado mundial, caracterizada pela centralização dos meios de produção e a
concentração da propriedade nas mãos de poucos, anuncia o caráter das crises
capitalistas como “epidemia da superprodução” e, ainda, como a uma crise se sucedem
crises mais extensas:

A sociedade vê-se subitamente reconduzida a um estado de barbárie


momentânea; como se a fome ou uma guerra de extermínio
houvessem lhe cortado todos os meios de subsistência; o comércio e a
indústria parecem aniquilados. (MARX, ENGELS, 2010, p. 45)

As causas detonadoras das crises no modo de produção capitalista são


múltiplas, mas segundo Paulo Netto e Braz (2006, p. 160), é possível elencar algumas
que são mais determinantes para interromper de forma brusca os períodos de expansão
capitalista. A primeira refere-se a anarquia da produção: A concorrência entre os
produtores de diversas empresas faz com que um grande número de mercadorias seja
lançado no mercado. Apesar de haver um amplo processo de planejamento em cada
empresa, não existe controle global. Cada capitalista decide o que produzir, a
quantidade, objetivando alcançar os lucros. Assim, “o conjunto da produção de todos os
capitalistas escapa a qualquer controle racional” (Ibid, p. 161).

O segundo determinante refere-se à queda da taxa de lucro. A forma como cada


capitalista lida com a diminuição da realização dos seus produtos quando são colocados
à disposição no mercado, gera, de forma não intencional, à tendência a queda da taxa de
lucro provocada por barreiras e obstáculos do próprio desenvolvimento capitalista.
Paulo Netto e Braz (2006, p. 154) apresentam os meios que foram e permanecer a ser
desenvolvidos para reverter à queda na taxa de lucro: o barateamento do capital
constante, elevação da intensidade da exploração, a depressão dos salários abaixo do seu
valor, o exército industrial de reserva e o comércio exterior.

O terceiro determinante refere-se ao subconsumo das massas trabalhadoras: o


capitalista inunda o mercado com seus produtos, porém existe uma grande parcela da
população não dispõe de capacidade de consumir. Essas pessoas, uma grande massa da
população, impactam diretamente na não realização desses produtos que colocados à
disposição no mercado para serem consumidos.

Constata-se, portanto, que as crises trazem à tona as contradições do modo de


produção capitalista, mas também abrem novos caminhos para que o capital possa
retomar a produção de forma intensa, buscando o lucro e a acumulação. Assim, em
relação à dinâmica da superação das crises no modo de produção capitalista (MPC)
Paulo Netto e Braz esclarecem que,

[...] as crises são funcionais ao MPC: constituem os mecanismos mediante os


quais o MPC restaura, sempre em níveis mais complexos e instáveis, as
condições necessárias à sua continuidade. Por isso mesmo, as crises – por
mais brutais que sejam os seus efeitos e por mais graves que sejam as suas
consequências – não têm o dom de conduzir o MPC ao colapso ou a
faculdade de destruí-lo; deixadas à sua lógica, das crises capitalistas só
resulta o próprio capitalismo (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 162-163).
3. ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E NEOLIBERALISMO:
PRECARIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO

Esta seção apresenta o contexto a partir dos anos 1970 aos dias atuais marcado
por profundas transformações do mundo do trabalho desencadeadas com a passagem do
padrão de acumulação rígido fordista ao novo padrão de acumulação flexível.
Inicialmente, aborda-se o período após a crise de 1929 e, principalmente, a Segunda
Guerra Mundial até os anos 1970, como anos de expansão da acumulação capitalista
baseada no fordismo e do keynesianismo. Em seguida, expõe-se o contexto
contemporâneo iniciado a partir da crise capitalista de 1973, de restruturação produtiva
com o toyotismo e o neoliberalismo.

3.1 As bases do fordismo e keynesianismo

O fordismo mudou a base do sistema de produção na indústria automobilística,


utilizando o taylorismo, Henry Ford iniciou uma nova fase na produção industrial.

O taylorismo instituiu uma nova forma de gestão e organização das


relações de trabalho, dando ênfase ao controle a fim de obter um
gerenciamento eficaz de todo o processo de trabalho, impondo de
maneira rigorosa ao trabalhador a execução das atividades. Sua
principal característica é a separação entre gerência, concepção,
controle e execução. Esta divisão do trabalho aperfeiçoa as formas
originárias de controle (SANTOS, 2013, p. 63, grifo nosso).

Com o fordismo o processo de trabalho é fragmentado e o operário perde o


domínio que tinha ao conhecer e planejar todo o processo produtivo que passa a ser da
gerência fora de controle do trabalhador.

Com a introdução da gerência moderna, baseada nos princípios


tayloristas e na administração científica, ocorre uma consequente
perda do controle do trabalhador sobre o processo de trabalho. Ao
promover a separação entre elaboração e execução, o capital
intensifica a exploração sobre os trabalhadores, aprisionando-os à sua
lógica de expansão. No taylorismo a dimensão subjetiva do trabalho é
abstraída do trabalhador e assimilada pela gerência. (SANTOS, 2013,
p. 64).

Ford usa a administração científica taylorista, pois era preciso racionalizar a


produção evitando o desperdício de tempo na produção. Ele toma algumas medidas que
foram fundamentais como o parcelamento das tarefas, os operários eram treinados para
desenvolver uma única atividade, caracterizando movimentos repetitivos. Este
parcelamento das tarefas representa a desqualificação dos operários. Assim, intensifica-
se a produção com a criação de mecanismos que interligam as operações desenvolvidas
pelos operários, por exemplo, esteira rolante interligando as diferentes atividades para
que assim não haja desperdício de tempo, e atinja o objetivo da produção em massa.
É no período de desenvolvimento do capitalismo monopolista
que despontam, nos Estados Unidos, os Princípios da
Administração Científica, de F. W. Taylor, o qual dá ênfase ao
controle gerencial, demonstrando como a produtividade dos
trabalhadores poderia ser consideravelmente aumentada
mediante a decomposição do processo de trabalho, a
organização e a fragmentação das tarefas. (SANTOS, 2013, p.
62-63).

Dessa forma, o operário na nova organização na produção e no trabalho é visto


como instrumento, uma peça do processo produtivo, o valor pelo conhecimento que
detinha anteriormente, foi substituído pela nova tecnologia, métodos, técnicas, como
explica Gounet:

Mas para fazê-lo, Ford choca-se com o antigo regime de trabalho. Nele, eram
operários extremamente especializados, grandes mecânicos, que fabricavam
artesanalmente os veículos quase de A a Z. No conjunto das operações que
um trabalhador efetuava, uma tomava um tempo enorme: procurar a peça
certa para colocar no lugar certo, e modificá-la, adaptá-la ao seu uso no
automóvel. Como um carro tem dezenas de milhares de peças, pode-se
compreender que a produção era lenta e, consequentemente, o veículo
custava caro. (1999, p. 18).

As indústrias de automóveis desenvolveram-se como um setor de importância


estratégica no capitalista monopolista, tanto nos países centrais, como também os países
periféricos. Elas foram pioneiras na organização de trabalho fordista que se disseminou
amplamente para outros setores, como também da sua substituição pelos métodos
flexíveis.

A indústria automobilística tem a particularidade de ser pioneira em matéria


de organização da produção (organização do trabalho), seja ao nível de uma
fábrica ou de todo um sistema de produção. Foi ela que criou o chamado
fordismo. Foi ela que elaborou e desenvolveu os chamados métodos flexíveis
de produção. O que aconteceu no setor automobilístico se espalha depois
pela maior parte da indústria. Estudá-lo tem, portanto, um valor de exemplo
do que pode acontecer em outros ramos (GOUNET, 1999, p. 14, grifo nosso).
As mudanças implementadas na indústria de automóveis proporcionaram o seu
crescimento, tornando-se líder no mercado7, conquistando lucros maiores e como
consequência dominando a produção do referido ramo. Gounet, destaca que um plano
organizacional deve vir primeiro e posteriormente devem ser inseridas novas
tecnologias. Diante do cenário liderado pela empresa de Henry Ford, outras do mesmo
ramo se modernizaram para não sair do mercado e quando estavam tecnologicamente no
mesmo patamar aplicam as mesmas técnicas organizacionais, isso tem a tendência na
concorrência capitalista de afetar a taxa de lucro, causando a queda dessa taxa.
O capitalismo maduro ou tardio, que se expande retomando as altas taxas de
lucro, período vivenciado, principalmente, após a segunda guerra mundial de 1945,
possibilitou o surgimento das políticas sociais. Visto que, foi um momento de expansão
para o capitalismo, conseguindo alcançar altas taxas de lucro e aumento na
produtividade para as empresas devido a inserção de máquinas e tecnologia
desenvolvidas na indústria bélica.
Segundo Behring e Boschetti (2017, p. 113), o capitalismo desse período,
caracterizado como capitalismo maduro, teve como característica a monopolização do
capital, a intervenção do Estado na economia e o livre movimento do mercado. Para as
autoras a base material que proporcionou a expansão dos direitos sociais estava baseado
nas ideias de Keynes que tinham o objetivo de indicar caminhos para a saída dos atrasos
causados pela crise de 1929-1932; o fordismo mudou a organização da produção,
inovando nos produtos e nos processos. Incentivado pelas inovações tecnológicas da
indústria bélica.
O Estado, com o keynesianismo, tornou-se produtor e regulador, o que
não significava o abandono do capitalismo ou a defesa da socialização
dos meios de produção. Keynes defendeu a liberdade individual e a
economia de mercado, mas dentro de uma lógica que rompia com a
dogmática liberal-conservadora da época. (BEHRING; BOSCHETTI,
2017, p.115)

Keynes verificou, através de algumas análises, por exemplo, lei de Say (lei dos
mercados) que afirma que a oferta gera a procura; outro ponto diz respeito a
instabilidade da economia capitalista, uma vez que os investimentos de grandes volumes
7
“Em 1921, pouco mais da metade dos automóveis do mundo (53%) vem das fábricas Ford. O capital da
empresa, que era de 2 milhões de dólares em 1907, passa a 250 milhões em 1919 graças aos lucros
incessantes. Frente a essa máquina de guerra econômica, os concorrentes não têm escolha: ou se adaptam
às soluções fordistas, inclusive o salário de 5 dólares, ou se refugiam em um nicho, uma trincheira onde a
produção artesanal ainda seja rentável, como os setores de carros de luxo ou esporte, ou então
desaparecem. Efetivamente, a mortalidade de empresas automobilísticas é altíssima. Nos Estados Unidos,
o número de fabricantes cai de 108 em 1923 para 12 em 1941. Os sobreviventes introduzem os novos
métodos de produção e pagam 5 dólares a seus operários”. (GOUNET, 1999, p. 20-21, grifo nosso).
de capital são feitos de forma individualizadas, objetivando um ciclo rápido de retorno
sem a preocupação com economia global e a sociedade como integrante do processo de
produção. Podendo gerar crises e como consequência o desemprego. Em meio a
instabilidade, o Estado aparece para intermediar, arbitrar as relações econômicas
evitando as crises e depressões.
O Estado de bem estar social, efetivou direitos civis, políticos. O estado,
atuando como mediador, investidor e administrador. As relações de trabalho se
intensificavam, os movimentos sociais também se organizavam pedindo melhores
condições de trabalho, forçando o Estado a criar os direitos econômicos e sociais.

Essa terceira geração de direitos compreende os chamados direitos de


créditos, ou seja, os direitos que tornam o estado devedor dos
indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos
indivíduos marginalizados, no que se refere à obrigação de realizar
ações concretas, visando a lhes garantir um mínimo de igualdade
material e de bem-estar. (BEDIN; NIELSSON, 2013, p. 31).

Foi um período em que o Estado se firmou como instituição política voltada


para os anseios da população, tentando minimizar as desigualdades geradas pelo sistema
econômico em vigor, mas não podemos negar que a estrutura estatal criada também
beneficiou o capital que se utilizou dela para escorrer suas mercadorias, por exemplo, a
construção de ferrovias e rodovias e portos.

Assim, com o reconhecimento dessa terceira geração de direito, o


Estado moderno se consolidou definitivamente como uma organização
política de profundo conteúdo social, estando entre as suas maiores
conquistas a redução das desigualdades sociais, socialização da
educação e o acesso universal à saúde. A efetivação dessas conquistas
conduziu, por outro lado, a uma grande legitimidade do Estado
moderno e a uma acentuada desmercadorização das diversas esferas
das sociedades capitalistas. Além disso, o estado de bem-estar
proporcionou também uma grande estabilidade ao sistema econômico,
através do planejamento estatal, e impulsionou uma era de grande
crescimento econômico (BEDIN; NIELSSON, 2013, p. 31 apud
STOFFAËS, 1991; NUNES, 1991; HOBSBAWM, 1995).

Ele passa a ter um papel importante na regulação da economia. Além disso,


passa a intervir nas relações sociais principalmente para aqueles que estão a margem do
mercado de trabalho, por exemplo, idosos, deficientes e crianças.
Após 1945, contudo, as tecnologias incrementadas no esforço de
guerra transformaram-se em meios de produção na indústria civil, bem
como alguns produtos. É quando haverá o boom de produção de bens
de consumo duráveis — além dos carros, as geladeiras, televisores,
rádios e outros —, combinado à urbanização e suburbanização nas
cidades, o que se relaciona claramente à expansão da indústria
automobilística, carro-chefe daquele período. Para Harvey, foi preciso
um forte abalo nas relações de classe para que o fordismo se
impusesse e disseminasse, especialmente na europa, o que incluiu a
referida mudança do papel do Estado, segundo as orientações
Keynesianas. Quando estas se colocam plenamente no cenário
econômico e político, segundo Harvey, chega-se à maturidade do
fordismo. Assim, o keynesianismo e o fordismo, associados,
constituem os pilares do processo de acumulação acelerada de capital
no pós-1945, com forte expansão da demanda efetiva, altas taxas de
lucros, elevação do padrão de vida das massas no capitalismo central,
e um alto grau de internacionalização do capital, sob o comando da
economia norte-americana, que sai da guerra sem grandes perdas
físicas e com imensa capacidade de investimento e compra de
matérias-primas, bem como de dominação militar. (BEHRING;
BOSCHETTI, 2017, p.121-122)

Diante do cenário de exploração e superlucros, os empresários viram-se na


obrigação de fazer concessões e acordos com a classe operária. Nesse contexto os
direitos sociais são inseridos através das políticas sociais. Para os trabalhadores abriu-se
uma oportunidade de melhores condições de vida fora das fábricas, tendo condições de
participar do processo de consumo e tendo condições de oferecer lazer para sua família.
Foi um momento de enfraquecimento das lutas da classe trabalhadora porque os ganhos
imediatos proporcionados pelos acordos, a sensação de estabilidade no emprego criava
uma classe trabalhadora corporativista, refém do empregador. O Keynesianismo-
fordismo regenerou o capitalismo no que diz respeito à acumulação de capital, altas
taxas de lucros e também no enfraquecimento da classe operária, fazendo com que essa
perdesse sua identidade de classe organizada em prol de um projeto socialista.

Os princípios que estruturam o Welfare State, segundo o autor, são


aqueles apontados no Plano Beveridge: 1) responsabilidade estatal na
manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um
conjunto de ações em três direções: regulação da economia de
mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública
de serviços sociais universais, como educação, segurança social,
assistência médica e habitação; e um conjunto de serviços sociais
pessoais; 2) universalidade dos serviços sociais; e 3) implantação de
uma “rede de segurança” de serviços de assistência social
(BEHRING; BOSCHETTI, 2017, p. 130).

O Welfare State caracteriza-se por ações do Estado com o objetivo impulsionar


a economia nos momentos de crise ou como forma de prevenir os períodos de recessão,
estimulando a demanda e consumo através prestação de serviços públicos, e em
contrapartida, melhora as condições de vida do trabalhador como também daqueles
desassistidos sem meios para sobreviver; contribuindo para o fortalecimento da
cidadania8.
A expansão do capitalismo se realiza entre o fim da segunda guerra mundial até
a segunda metade dos anos sessenta. Aparentemente, tudo concorria para um
crescimento econômico sem obstáculos, o sistema de produção em massa,
fordismo/taylorismo, se encaixava muito bem no momento econômico. Porém, a partir
desse momento a expansão começou a declinar. Constatou-se queda na taxa de lucro e
diminuição do crescimento econômico.
Contavam-se ainda vetores sociopolíticos de importância, dos quais a
pressão organizada dos trabalhadores era o mais decisivo: ao longo
dos anos sessenta e na abertura dos setenta, o peso do movimento
sindical aumentou significativamente nos países centrais, demandando
não somente melhorias salariais, mas ainda contestando a organização
da produção nos moldes taylorista-fordista (a mobilização francesa de
1968 e a italiana de 1969 foram extremamente significativas a esse
respeito). Além disso, modificações culturais que tinham raízes nos
anos imediatamente anteriores – sinalizadas pela contracultura, pela
revolução nos costumes etc. – lançaram outros sujeitos na cena
política, com movimentos de categorias sociais específicas,
impropriamente designadas como “minorias”, nos quais existiam
componentes anti-capitalistas (nos anos sessenta, a revolta estudantil
foi notável, assim como a mobilização dos negros norte-americanos
em defesa de direitos civis; torna-se mais visível, também, o
movimento feminista) (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 148).

A crise iniciada no final de 1960 fez com que a expansão do capitalismo se


transforma-se em recessão. Com isso, rompeu-se a política de pleno emprego
Keynesiano-fordista, as políticas sociais também sofreram consequências. Os
impactos para o trabalhador e aqueles que dependiam da intervenção Estatal para
sobreviver foi avassalador. Segundo Behring e Boschetti (2017, p. 123-124), a expansão
do capital no pós-guerra teve como base: a guerra, o fascismo, revolução tecnológica,
com a introdução da microeletrônica, e derrota do movimento operário. O
desenvolvimento tecnológico no capitalismo pós 1945 proporcionou uma acumulação
de capital e ao mesmo tempo gerava uma concorrência entre empresas do mesmo ramo
em busca de novas tecnologias que proporcionassem um diferencial na produtividade.
Nesse processo de incremento de capital fixo na indústria, o operário tem seu valor

8
política social havia terminado no capitalismo central e estava comprometido na periferia do capital,
onde nunca se realizou efetivamente. As elites político-econômicas, então, começaram a questionar e
responsabilizar pela crise a atuação agigantada do Estado mediador civilizador, especialmente naqueles
setores que não revertiam diretamente em favor de seus interesses. E aí se incluíam as políticas sociais
(BEHRING; BOSCHETTI, 2017, p. 141-142).
como produtor de mais-valia diminuído. O desemprego cresce, voltando a aparecer o
fantasma do exército industrial de reserva. Os anos de expansão do capitalismo maduro
começam a mostrar sinais de esgotamento já no final de 1960.
As taxas de crescimento, a capacidade do Estado de exercer suas funções
mediadoras civilizadoras cada vez mais amplas, a absorção das novas gerações no
mercado de trabalho, restrito já naquele momento pelas tecnologias poupadoras de mão-
de-obra, não são as mesmas, contrariando as expectativas de pleno emprego, base
fundamental daquela experiência. As dívidas públicas e privadas crescem
perigosamente... A explosão da juventude em 1968, em todo o mundo, e a primeira
grande recessão — catalisada pela alta dos preços do petróleo em 1973 – 1974 — foram
os sinais contundentes de que o sonho do pleno emprego e da cidadania tinha chegado
ao fim.
Ademais, Behring e Boschetti (2017, p. 157 - 159), destacam que os períodos
de estagnação do capitalismo ocorrem por diversos fatores. Entre eles pode-se destacar
o incremento tecnológico que tem a características gerar desigualdade entre os
concorrentes, ou seja, quem investe mais em capital orgânico consegue melhores
resultados. Outro ponto diz respeito a queda da taxa de lucro que ocorre quando o nível
tecnológico é igualado pela concorrência. Uma vez que o diferencial de produtividade
do trabalho é diminuído. Foi um período marcado pela introdução da automação,
diminuição dos custos salariais diretos e como consequência o aumento do desemprego.
Para elas existem elementos que ajudam a desvendar os acontecimentos: substituição do
homem pela máquina, socialização do trabalho, “a mudança da proporção de funções
desempenhadas pela força de trabalho no processo de valorização do capital, quais
sejam de criar e preservar valor; as mudanças nas proporções entre criação de mais-
valia na própria empresa e aquela gerada em outras empresas”; diminuição de tempo
para que o capital investido retorne em forma de lucro; investimento em pesquisa para
aperfeiçoamento da produção e uma substituição mais rápida dos meios de produção
que com o desenvolvimento tecnológico se tornam obsoletos em menos tempo.
O Estado, como mecanismo de regulação entre trabalho e capital, começa a ser
pressionado pela situação contraditória vivenciada pela esfera de produção e reprodução
do capital, pois vê a demanda da extensão de sua regulação crescer e
concomitantemente a introdução dos meios de produção, capital fixo, em virtude da
queda da taxa de lucro. Assim, para o capital, a atuação do Estado precisava ser
modificada, já que não atendia mais aos anseios do capital, o que alterou também a
configuração das políticas sociais.
A contradição criada entre o desenvolvimento das forças produtivas e as
relações de trabalho, destaca-se que em 1975 a classe trabalhadora ainda tinha certo
poder de barganha, proporcionam a ruptura da onda longa de expansão do capital e
introduz um período de estagnação e como consequência modifica a forma de pôr em
prática as políticas sociais.
A situação Keynesiana de ‘pleno emprego’ dos fatores de produção,
incorporando grandes contingentes de força de trabalho —
diminuindo, em conseqüência, o exército industrial de reserva —,
dificultou o aumento da extração da mais-valia, com a ampliação do
poder político dos trabalhadores e maior resistência à exploração; e a
generalização da revolução tecnológica diminuiu o diferencial de
produtividade. Esses são processos que implicaram a queda da taxa de
lucros (BEHRING; BOSCHETTI, 2017, p. 162).

Complementando, Behring e Boschetti (2017) afirmam que os encontros de


alguns fatores no modo de produção capitalista causaram na década de 70 do século XX
um período longo de recessão. Por exemplo: superprodução, longo período sem
inovações tecnológicas, crise do sistema imperialista, crise social e política nos países
imperialistas, com ascenso das lutas, e crise de credibilidade do capitalismo. Uma vez
que no seu momento de auge era capaz de manter o pleno emprego, qualidade de vida
para a classe trabalhadora e as liberdades democráticas.
Segundo salienta Behring e Boschetti (2017, p. 173) a crise resultava do poder
excessivo e nefasto dos sindicatos e do movimento operário, que corroeram as bases da
acumulação, e do aumento dos gastos sociais do Estado, o que desencadearia processos
inflacionários.

3.2 As bases da acumulação flexível: reestruturação produtiva e neoliberalismo

Segundo Gounet (1999), as indústrias automobilísticas foram o berço para a


reorganização do sistema de produção fabril. No período, 1973 e 1979, o preço do
barril de petróleo aumentou de forma brusca, o que impactou o setor automobilístico;
caído as vendas dos veículos. Diante dessa situação é preciso mudar a forma de
produzir, reorganização a produção, inovando em técnicas e tecnologia; uma vez que o
padrão de consumo tinha sofrido alteração. A saturação do mercado automobilístico e o
preço do derivado do petróleo, a gasolina, fez com que o usuário demorasse para
adquirir um carro novo, optando por fazer a substituição só no período mais oportuno.
O cenário de crise foi propício para que mudanças fossem introduzidas na indústria:

Ela foi a primeira usuária de robôs industriais (exceto no Japão, onde


foi a indústria eletrônica), a primeira consumidora de sistemas de
concepção/fabricação assistidos por computadores. E berço da
aplicação dos sistemas flexíveis e, em geral, da produção
informatizada, onde todas as funções produtivas serão comandadas
por computadores. Essa revolução tecnológica expande as
possibilidades de organização da produção. Em especial, permite uma
produção mais flexível e ao mesmo tempo mais integrada: flexível
quer dizer melhor adaptável à demanda; integrada significa que os
instrumentos e máquinas estão mais bem interligados (GOUNET,
1999, p. 17-16, grifo nosso).

A crise no sistema fordista tem início, uma vez que não era mais possível
conceder melhores condições de trabalho na organização porque a concorrência quando
em nível elevado não permite que o empregador tenha gastos com força de trabalho
variável, por exemplo, ganhos salariais.

As empresas já não podem destinar recursos à melhoria de certas


condições de trabalho. Pelo contrário, no universo da competição, só
quem impõe custos mais baixas de produção pode conquistar fatias do
mercado. A Europa dos anos 60 introduz os trabalhadores imigrantes
para pressionar os custos para baixo. Os operários são submetidos a
condições cada vez piores (GOUNET, 1999, p. 22-23).

A classe operária estava insatisfeita diante do cenário desfavorável que reduzia o


trabalhador a mera função de executor, sem poder este participar nas decisões que
envolviam outros segmentos da indústria. As mudanças implementadas pelo
Taylorismo na indústria deixaram os trabalhares insatisfeitos, despertando o movimento
sindical a agir contra as ofensivas deliberadas contra as classes de operários das fábricas
automobilísticas.

Esses impactos não passaram despercebidos aos olhos dos


trabalhadores. Houve, no momento da difusão do taylorismo nas
indústrias, várias mobilizações operárias, lideradas pelos sindicatos,
que questionavam a desqualificação do trabalho e a atividade
meramente executiva. Essas mobilizações assinalaram o movimento
de resistência que a classe trabalhadora empreendeu contra o controle
do capital no processo produtivo. Esta resistência se deu de várias
formas: unas mais articuladas, mediante as greves; outras, não tão
explicitas, pois muitos trabalhadores expressaram sua revolta ao
taylorismo por meio da diminuição intencional do ritmo de trabalho e
não informando à gerência os progressos obtidos no processo de
produção. (SANTOS, 2013, p. 66).
O modo de produção capitalista começa a sofrer alterações na sua estrutura de
produção, influenciado pela crise de 70, decide substituir o fordismo que era
caracterizado como um modo de produção mais rígido pelo Toyotismo que podemos
chamar de modo de produção flexível que se movimenta de acordo com a demanda.
Caracterizando a terceira fase do imperialismo.
A substituição ao modelo taylorismo/fordismo, adota-se o modo de produção
japonês que do ponto de vista técnico contém alcance universal nos aspectos que se
referem a concepção e reprodução da produção. Segundo Borges (2004, p. 75),
descreve: “o modelo é portador de maior democracia em relação ao saber fazer operário.
O desafio para o ocidente está em concebê-lo e difundi-lo de forma a preservarem-se as
formas históricas e culturais de representação e negociação praticadas na Europa pelo
setor assalariado”.
O toyotismo é concebido no Japão entre as décadas de 50 e 70. A princípio o
sistema implantado foi o fordismo, mas adaptado as condições daquele país. O sistema
de produção, nesse período dos anos 70, passava por dificuldades principalmente para
vender a produção que se acumulava. Tirando proveito desses aspectos do fordismo que
não mais correspondiam a lógica do mercado; o sistema da Toyota se expande trazendo
uma nova forma para a atuação do modo de produção capitalista.
Gounet (1999, p. 25) caracteriza o modo de Toyotista em seis etapas: o primeiro
ponto está relacionado a produção por demanda. É criado um estoque mínimo para que
o cliente possa escolher o modelo disponível para pedido. O segundo ponto está ligado
ao território do arquipélago, por ter dimensões reduzidas, a empresa investe na melhoria
da logística, evitando desperdícios na produção. O terceiro aspecto desse sistema de
produção refere-se a flexibilidade, trabalhador polivalente no interior da fábrica,
operando várias máquinas ao mesmo tempo, além disso é possível perceber que o
individualismo operante no modo Taylorista é substituído pelo trabalho em equipe. O
quarto aspecto relaciona-se ao método Kanban, ou seja, sempre repor a peça retirada do
estoque de acordo com a necessidade de uso. O quinto ponto traz o desafio de
desenvolver habilidades para adaptar as máquinas no momento de mudar o modelo de
veículo a ser produzido. O setor de autopeças também é fundamental para que as
fábricas japonesas ganhem o mercado. Para conseguir produzir veículos no menor
tempo possível e de qualidade impecável, a Toyota subcontrata empresas de peças
exigindo que se instale próximo as suas fábricas. O que ocorre é a terceirização do setor
de peças, porém o controle de qualidade permanece sob o comando da Toyota.
A flexibilidade entre produção e operários era o diferencial nas fábricas
Japonesas. Se a demanda aumentava a fábrica optava por aumentar as horas de trabalho
dos operários ou realizava contratos temporários.

O principal obstáculo quando eles lançam as bases de seu sistema produtivo,


no início dos anos 50, é o sindicato. Este se desenvolveu após a guerra contra
o fascismo. Tem certos pontos em comum com as organizações de
trabalhadores da Europa e América do Norte. Para os fabricantes japoneses,
possui dois defeitos essenciais. Primeiro, baseia-se na solidariedade de classe
não na colaboração com o patronato. Segundo, é combativo. Em 1946, há em
média 118 paralisações do trabalho por mês, em 1947, 113, em 1948, 170.
Em resumo: é preciso acabar com o sindicato (GOUNET, 1999, p. 30-31).

A resistência dos sindicatos no Japão foi vencida no início dos anos 50. Apoiada
pelos bancos, a fábrica demitiu um grande número de empregados, aproximadamente 2
mil. As demissões geram um desgaste entre ambas as partes. Para compensar a Toyota
cria cargos vitalícios e cria o sindicalismo casa, família, com o objetivo de fazer com
que os empregados aceitassem as mudanças na produção.

O toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o padrão fordista


dominante, em várias partes do capitalismo globalizado. Vivem-se
formas transitórias de produção, cujos desdobramentos são também
agudos, no que diz respeito aos direitos do trabalho. Estes são
desregulamentados, são flexibilizados, de modo a dotar o capital do
instrumental necessário para adequar-se a sua nova fase. Direitos e
conquistas histórica dos trabalhadores são substituídos e eliminados
do mundo da produção. Diminui-se ou mescla-se, dependendo da
intensidade, o despotismo taylorista, pelo envolvimento
manipulatório, próprio da sociabilidade moldada contemporaneamente
pelo sistema produtor de mercadorias (ANTUNES, 2006, p. 24)

A nova forma de organizar a produção, Toyotismo, se espalhou rapidamente


pelos países capitalistas. O sistema Taylorista aplicado na empresa de Ford já não
conseguia dar as respostas de controle e dominação que o capital deseja ter sobre a
produção e o próprio trabalho.
A década de 80 foi marcada por transformações na estrutura do modo de
produção capitalista. Antunes, (2006, p. 23) afirma que na década de 80 os países de
capitalismo avançado passaram por várias transformações no mundo do trabalho, na
forma de representação dos sindicatos, política. Para o autor a classe que vive do
trabalho sofreu o pior momento de crise, alterando sua materialidade, subjetividade e
forma de ser.
O sistema de produção capitalista traz para o meio industrial inovações
tecnológicas. Foi uma década de desenvolvimento tecnológico, mudando as relações de
trabalho e o próprio processo de produção. A robótica, automação e a microeletrônica
mudaram o modo de produção. O fordismo começa a ser substituído por outras
estruturas de produção mais flexíveis, ou seja, forma de produção que beneficia o
capitalista. É chegado o momento que a produção em série e de massa, o cronômetro de
Ford dar lugar a métodos de produção mais flexíveis que se adaptem à lógica do
mercado.
Enfatizando o caso da reestruturação produtiva da Toyota no Japão, a
reestruturação na produção iniciada nos países centrais, ocorreu semelhantemente com
as indústrias Brasileiras. Para melhor compreender esse movimento no Brasil, temos
como exemplo a empresa Zanini S.A. Equipamentos Pesados. Localizada na cidade de
Sertãozinho, região nordeste do estado de São Paulo. Segundo Santos, (2013, p. 149) a
empresa Zanini S.A. foi fundada nos anos de 1950, transformando-se em uma das mais
poderosas empresas de capital monopolista do setor metalúrgico. Agroindústria
canavieira na região estava se expandindo, principalmente em função da crise do
petróleo em 1973. O programa nacional do álcool, 1975, impulsionou o
desenvolvimento da Zanini S.A. que contou com investimentos do governo através de
empréstimos concedidos pelo BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento
econômico).
A estrutura inicial da produção da Zanini S.A. estava baseada na organização
fordista/taylorista. A indústria se expandiu, ficando conhecida internacionalmente e
passou produzir máquinas e equipamentos dando suporte a agroindústria canavieira e
as indústrias de bens de capital.
a crise econômica que se abateu sobre o Brasil no fim dos anos 1970 e
início dos anos 1980, as indústrias de bens de capital enfrentaram
dificuldades e entraram num processo de desestruturação. Entre os
diversos fatores desse processo, a política monetária e fiscal norte-
americana desencadeou na época, por meio de uma violenta alta da
taxa de juros, a chamada crise da dívida externa, obrigando a maioria
dos países devedores a adotar políticas ortodoxas de ajustes
macroeconômico: cortes nos gastos públicos, restrições monetárias,
juros altos, arrocho salarial etc. Com efeito, tais medidas provocaram
cortes em parte da demanda interna, deslocando-a para a geração de
excedentes mercantilizáveis no exterior a fim de atender ao serviço
financeiro da dívida (SANTOS, 2013, p. 151 apud Cano, 1994;
Mattoso, 1995).
A crise afetou diretamente a empresa Zanini S.A. que viu o programa Proálcool
ser desregulamentado e a demanda pelo álcool cair. Dessa forma, inicia-se o processo
de reestruturação produtiva que não foi diferente dos países capitalistas desenvolvidos.
Com o novo padrão de acumulação flexível do capital, introduzido por políticas
neoliberais de abertura comercial no início dos anos de 1990, o processo de
reorganização da produção teve sérias consequências para os operários: o quandro de
pessoal foi reduzido, os que ficaram tiveram que aprender a lidar com sentimentos como
insegurança, medo, pavor e falta de expectativa. É importante destacar a semelhança
dos mecanismos usados pela reestruturação para desarticular, enfraquecer o movimento
de classe operário da empresa Zanini S.A. e DZ S.A. (fusão entre Zanini e Dedini). O
movimento sindical operário tentou resistir às investidas mas acabou cedendo pois o que
estava em jogo era o emprego da classe operária. O ritmo de exploração aumenta
através da intensificação do trabalho para que assim a empresa continua-se operando
com qualidade e atingindo as metas de produção mesmo em um cenário adverso.
Também entre os operários (…) a ameaça de demissões individuais,
por vezes associada à ameaça de falência da empresa, permite obter
deles mais trabalho e mais desempenho, quando não sacrifícios, sob
pretexto de que é preciso fazer, individual e coletivamente, um
“esforço extra”. “Se vencermos essa etapa difícil, poderemos tornar a
fazer contratações (…).” Operários e gerentes aceitam trabalhar ainda
mais. Logo em seguida, porém, aproveita-se esse novo desempenho
para transformá-lo em norma e justificar um novo enxugamento de
pessoal. Além disso, a ameaça recrudesce e não traz a segurança tão
desejada com relação ao emprego ( SANTOS, 2013, p. 154 apud
Dejours, 2005, p. 74).

A reestruturação cooptou a subjetividade dos operários, implantou esperanças


de dias melhores, falsamente, criando um sentimento de individualismo, retirando a
identidade de classe do operário. O comando do capital sobre o trabalho tem
desenvolvido uma ideologia no interior das fábricas que mascara a exploração que o
empregado sofre pelo capital. O capital reinventou a forma de se relacionar com a força
de trabalho, desenvolvendo a subjetividade, os valores dos operários ao invés de esperar
os conflitos se apresentarem para resolvê-los.

Não se trata mais aqui somente de remover as fricções e


arbitrariedades desnecessárias (como no caso das relações humanas na
indústria), mas sim de se conseguir a desejável integração ideológica
do operário na empresa. Busca-se organizar a superestrutura através
do pressuposto segundo o qual a fábrica não é apenas um local de
exploração do trabalho, mas sim uma grande família associada.
(SANTOS, 2013, p. 156 apud Frederico, 1979, p. 178).
O trabalho tinha ganhado significado diferente tanto para os empresários como
para a classe trabalhadora, principalmente no período dos anos 1990. Semelhante a
outros países que passaram pelo processo de reestruturação na produção, houve a
introdução de inovações tecnológicas e organizacionais. Desenvolveu-se a robótica,
microeletrônica aplicadas com o objetivo de melhorar a gestão da produção e organizar
o trabalho. Por exemplo, os programas de qualidade total, reengenharias e as novas
formas de racionalizar a produção.

Em visita à Dedini de Sertãozinho, constatamos que as mudanças


ocorreram a partir da reorganização do espaço produtivo da fábrica;
com isso, procurou-se adequar as novas e as velhas instalações aos
princípios organizacionais do modelo japonês de produção
(toyotismo). Surgiu, nesse momento, uma estrutura dividida em áreas
de produção, organizadas de maneira que a eficiência produtiva de
uma dependesse exclusivamente do desempenho da outra (SANTOS,
2013, p. 157).

A empresa Denini S.A. (antiga Zanini, depois DZ em virtude das fusões que
ocorreram entre Zanini/Denini no período de crise e transformações dessas empresas a
partir de 1980) inseriu a chamada divisão técnica do trabalho, criando novas funções,
novos departamentos, ou seja, a fábrica era um organismo vivo, cheia de órgãos
dependentes que precisavam trabalhar em harmonia para atinge o objetivo desejado pelo
capital que é a acumulação de capital. É importante destacar que as regras advindas do
toyotismo foram alvo de resistência pelos operários uma vez que eles não estavam
habituados a trabalhos burocráticos. A maior parte dos empregados não tinham passado
pela escola criada pela empresa, suas habilidades tinham adquirido com a prática,
diariamente desenvolviam um trabalho braçal, o que revela uma cultura adversa a
mudanças.
Segundo Paulo Netto e Braz, (2006, p. 150); a conjuntura era desfavorável ao
imperialismo. Os movimentos anticapitalista da classe operária se intensificavam, nos
centros industriais como também nais periferias. Os trabalhadores tinham, ao longo do
tempo, conquistado garantias sociais, direitos trabalhistas que foram aceitos pelos
capitalistas no momento que a economia encontrava-se crescente, com taxas de lucro
altas. Porém no momento de crise pelo qual o sistema passava, essa tributação se
tornava onerosa para o cofres do capital. Dessa maneira, o capital se viu na obrigação de
contra-atacar e o primeiro a sofrer as consequências foi o movimento sindical. “Nos
finais dos anos setenta, esse ataque se dá por meio de medidas legais restritivas, que
reduzem o poder de intervenção do movimento sindical” (PAULO NETTO; BRAZ,
2006, p. 150).
O sindicalismo tem seu modo de atuar alterado com a reestruturação produtiva,
sem conseguir barrar as demissões e as fusões, tornando-se flexível demais diante das
investidas do capital. Obedecendo as novas exigências do mercado de trabalho,
submetendo-se aos ditames do neoliberalismo e transformando-se num sindicato de
resultados para a empresa. Segundo Santos, (2013, p. 160); “conjunto de transformações
sociais, políticas e econômicas” contribuíram para que o sindicalismo ganha-se um
novo papel de atuação na relação trabalho e capitalismo.

1) a Constituição de 1988 (a legalização das práticas sindicais


minimizou o conflito entre o capital e o trabalho); 2) a
institucionalização e a burocratização das centrais sindicais
(distanciamento entre cúpula e base); 3) a adoção do neoliberalismo,
que impulsionou o processo de reestruturação produtiva no Brasil; 4)
o surgimento da força sindical, acirrando a concorrência no cenário
sindical (SANTOS, 2013, p. 160 apud Galvão, 1999, p. 116-7).

Além dessas características que influenciaram as transformações ocorridas na


maneira de atuar dos sindicatos, é importante também frisar que o sistema de produção
capitalista tem feito o trabalho de mudança de mentalidade dos seus colaboradores no
interior das fábricas.
a nova mentalidade surgiu em decorrência da preparação e do
treinamento que encarregados e chefes de seção receberam na nova
empresa. Isso quer dizer que formas distintas de motivação e
integração ideológicas dos sujeitos foram cultivadas entre os
trabalhadores e a gerência científica para garantir modos mais sutis e
eficientes de dominação. Assim, as novas formas de atuação de chefes
e encarregados garantem a gestão de conflitos no interior da fábrica,
ocultando as contradições inerentes às relações de trabalho
estabelecidas entre capital e trabalho. (SANTOS, 2013, p. 161).

Dessa forma, o sindicato dos metalúrgicos em Sertãozinho, trocou as antigas


formas de lutas pela negociação entre parceiros que lutam pelo fortalecimento do
mesmo projeto societal, não há mais antagonismo nas relações. Nas palavras de Santos,
(2013, p. 162); “operou-se uma fragmentação política, ideológica e espacial dos
trabalhadores”. Como também constatou-se a precarização das relações de trabalho com
os contratos temporários, redução de salários e aumento da intensidade de trabalho para
extração da mais-valia. O mercado de trabalho tem exigido um trabalhador polivalente
que esteja disposto a acompanhar as mudanças vivenciadas pelo mundo do capital, ou
seja, o trabalhador é que tem que se adaptar as instituições do trabalho na atualidade.
Ficando o trabalhador numa situação de exploração, subordinado à precarização das
condições de trabalho e “às formas dissimuladas de colaboração e assalariamento
impostas pelo capital” (SANTOS, 2013, p. 163).
Além disso, a autora ainda afirma que o novo modelo de reestrutura produtiva
traz um apelo ideológica para que seja aceito e não reprimido.

É claro que para assegurar os efeitos predatórios dos atuais processos


produtivos e econômicos, apelos ideológicos mais gerais deveriam ser
reformulados, visando neutralizar, assim, os movimentos de
resistência. Nesse cenário, os apelos por novos padrões de qualidade e
produtividade, exigência, mesmo, da acirrada competição
internacional, foram amplamente difundidos, justificando as alterações
de ordens técnica e gerenciais da produção. (BORGES, 2004, p.75)

Para melhor compreensão do neoliberalismo é importante fazer uma reflexão


sucinta ao período moderno e o liberal.

O Estado moderno percorreu, desde o seu nascimento até a atualidade,


um longo caminho de mais ou menos cinco séculos. Emergiu,
inicialmente, a partir de uma ruptura com o que poderia ser chamado
de “estado medieval” ou, de forma mais apropriada, de organização
política medieval. Essa organização que era articulada a partir do
poder fragmentado de cada senhor feudal e se alicerçava numa relação
indissociável entre o poder religioso e o poder político. (BEDIN;
NIELSSON, 2013, p. 28).

Segundo Bedin e Nielsson (2013), o estado moderno começa a ser questionado,


concedendo espaço para uma organização política diferente, que pode ser chamada de
estado moderno liberal. Essa nova fase vai ter como base as conquistas da revolução
gloriosa do século (1688), nos ideais políticos de John locker e nas conquistas da
Revolução Francesa. “O estado, portanto, continua centralizado e soberano, mas passa a
ser limitado por uma constituição e por uma declaração de direitos” (BEDIN;
NIELSSON, 2013, p. 30). O desenvolvimento das ideias liberais dá lugar aos primeiros
direitos humanos que surgem com a ruptura de um estado moderno opressor, fechado. A
priori são direitos que restringem a atuação do estado nas suas ações que inibiam o
cidadão e ao mesmo tempo concede a esse mais liberdade na sociedade para atuar sem a
interferência do estado. Essa primeira geração de direitos pode ser considerado um
marco para a divisão entre o setor público e o privado. São direitos que estruturam o
pensamento liberal, que podem ser destacados: “liberdades físicas, a liberdade de
expressão, a liberdade de consciência, o direito de propriedade privada, os direitos da
pessoa acusada e as chamadas garantias dos direitos” (BEDIN; NIELSSON, 2013, p.
30).
Regulamentado os direitos civis, direitos fundamentais, surgi então a
necessidade de participar da organização política do estado, evolução do estado liberal
para o democrático. “direitos políticos estão o direito ao sufrágio universal, o direito de
constituir partidos políticos, o direito de plebiscito, o direito de referendo e o direito de
iniciativa popular” (BEDIN; NIELSSON, 2013, p. 31).
A sociedade moderna se torna cada vez mais complexa, exigindo do estado
uma atuação diferente, que atendesse a nova realidade social, intervindo e criando
condições para o desenvolvimento dos vários setores que surgiam.

As últimas décadas do século 19 e as primeiras décadas do século 20 –


com a consolidação da chamada Revolução Industrial, com a
emergência da classe trabalhadora como força política e sua
organização em partidos, com o surgimento dos movimentos
socialistas e com as revoluções sociais – estabeleceram novos desafios
ao Estado moderno (BEDIN; NIELSSON, 2013, p. 31).

O neoliberalismo surgiu como uma ofensiva do capital contra os direitos


conquistados pela classe operária, contra os movimentos sociais, contra a organização
dos sindicatos e a participação do estado, isto é, quanto menos esse interferir nas
relações econômicas de mercado, melhor será para o sistema, para os interesses do
capital. Um estado que atua de forma mínima, apenas em políticas públicas não
lucrativas e aquelas que servem para dar sustentação ao desenvolvimento do capital.
Segundo Hobold (2002), até meados da década de 1970 o pensamento neoliberal estava
adormecido para os grandes líderes políticos mundiais, período que o estado agiu em
benefício do trabalhador, período que o lucro dos capitalistas diminuiu, já que os
operários tinham conquistado direitos e benefícios que impactava na acumulação de
capital dos patrões.

Com a crise fiscal do Estado e a crise de acumulação do sistema capitalista,


inicia-se a implantação das políticas neoliberais, primeiramente, nos
governos dos países centrais e, posteriormente, nos governos dos países
periféricos. No caso do Brasil, com o forte empenho dos governos, as
políticas neoliberais foram implantadas com êxito, ao longo da década de 90
(HOBOLD, 2002, p. 4)

São características do neoliberalismo o desemprego em massa, altas taxas de


juros, enfraquecimento das greves, aprovação legislação anti-sindicais, provocando os
cortes nos gastos sociais e instituiu um amplo programa de privatização. É importante
destacar que neoliberalismo não gera os resultados desejados para o capital, mas acaba
desestruturando as condições de vida e direitos dos trabalhadores.
O pensamento neoliberal reage contra a ascensão da classe dos trabalhadores e
organização dos movimentos sociais que juntos conquistam benefícios – nos direitos
trabalhistas e ganhos financeiros, por exemplo, aumento de salários. A consequência
para a elite capitalista foi notória, causando redução do poder da elite dominante e perda
na acumulação do lucro, já que parte do mesmo era repassado para os trabalhadores.

O pensamento neoliberal possui várias faces e também encontra justificativa


para os graves problemas sociais, a pobreza e a miséria existentes. Tais
problemas são entendidos como naturais, já que são esses “miseráveis” os
próprios culpados por estarem nesta situação, pelo simples motivo de que
todos têm as mesmas oportunidades, mas que são aproveitadas de maneira
diferenciada em razão da liberdade que cada um usufrui. Não existe
exploração, pois todos são livres para escolher o seu próprio caminho
(HOBOLD, 2002, p. 23).

A responsabilidade pelo sucesso profissional e pessoal é do próprio indivíduo,


pois o mesmo é livre, tem as mesmas condições de desenvolvimento profissional.
Porém, a corrente de pensadores neoliberais esquece quando naturalizam os menos
favorecidos, naturalizam a violência e o desemprego, que a sociedade que temos
atualmente foi construída por meio de processos sociais de desigualdade e exploração,
por exemplo, a escravidão de negros. Além disso, a proposta neoliberal não é somente
um ataque ao estado de bem-estar social, é mais abrangente, materializa-se através das
“privatizações, redução do gasto público, ataque ao movimento sindical organizado,
tentativa de eliminação dos convênios coletivos de trabalho” (HOBOLD, 2002, p. 24).
O que se vê na atualidade é uma fragmentação do coletivo e valorização do
individualismo, incentivo ao empreendedorismo, cada vez mais o mercado é livre para
atuar sem o controle do estado, esse na maior parte dos casos vem intervindo nos
momentos de crise do capital, criando mecanismo de apoio ao sistema capitalista para
que saia da situação adversa. Podemos confirmar o que foi dito com a situação de
pandemia pela qual o mundo tem sido assolado. A maioria dos países, se não todos,
tiveram que implantar medidas restritivas de circulação para a população na tentativa de
diminuir o contágio pelo novo corona vírus. Essas medidas impactaram de forma
drástica as indústrias, o comércio em geral, o setor de serviços e a saúde principalmente.
Essa situação não pode ser caracterizada como crise do sistema capitalista mas
exemplificar a importância da atuação do estado tanto para atuar no combate a
pandemia como também na criação de políticas assistências para os desamparados num
período de pleno desemprego em que as famílias não têm outra opção a não ser recorrer
ao estado. Além disso, o estado atua fornecendo suporte financeiro, fiscal para auxiliar
os diversos setores do mercado que foram afetados. Diversos países criaram pacotes de
estímulo econômico para ajudar a impulsionar a economia do país.

Mais do que apenas a defesa da abertura do mercado para o mundo


globalizado, o pensamento neoliberal elabora um discurso
pretensamente voltado para o ser humano, defendendo a total
liberdade do indivíduo para que possa, sem qualquer resistência,
escolher o que é melhor para sua vida. Entretanto, é um discurso que
se coloca de forma parcial, omitindo o que efetivamente determina a
liberdade das pessoas num sistema capitalista, que está
intrinsecamente ligada ao econômico. Omite também questões
fundamentais da relação entre o capital e o trabalho, sob o argumento
de que o mercado resolve todos os problemas dali emergentes. Não
constata que o emprego, na quase totalidade dos casos, não é uma
opção do trabalhador, mas uma forma única de sobrevivência. O
trabalhador não tem o luxo de escolher entre um ou outro emprego;
aliás, os dados têm demonstrado que os índices de desemprego
chegam a patamares alarmantes (HOBOLD, 2002, p. 27).

O objetivo principal do capital neoliberal é, retirar qualquer empecilho que possa


obstruir o seu movimento. Seu primeiro alvo foi o Estado, uma vez que a participação
efetiva deste na economia faz com os superlucros do capital sejam reduzidos. Isso
porque o Estado regulamentou direitos sociais na esfera do trabalho, por exemplo,
seguro desemprego e férias. O que reduz a taxa de lucro do capital e para eles é
considerado como privilégios do trabalhador. O capital necessita da atuação do Estado
em benefício próprio. Segundo Netto e Braz, (2006, p. 159); “nos anos noventa do
século XX, nos Estados Unidos mais de 80% da pesquisa em engenharia elétrica, 70%
em materiais e metalurgia e 55% em ciência da computação são sustentados por
programas de pesquisa militar aplicada do governo”. A diminuição do Estado é objetivo
do capital nas ações que ampliam os direitos sociais e naquelas que limitam a expansão
do capital. O neoliberalismo pretende um capital livre de barreiras, começando pela
desregulamentação das relações de trabalho e garantindo liberdade em escala mundo
para as mercadorias e capitais. Enquanto isso “os países imperialistas criam
progressivamente novas barreiras aos fluxos de força de trabalho” (PAULO NETTO;
BRAZ, 2006, p. 160).
As mudanças efetivadas pelo neoliberalismo não estão somente no campo
material, há uma ofensiva ideológica minando o trabalhador. As organizações sindicais
já não têm a capacidade de mobilizar os trabalhadores como antes, uma vez que foram
criadas várias funções, diferentes setores fazendo com o empregado não se sinta mais
pertencente a classe operária; nas organizações atuais os empregados passaram a
receber o título de associado, ou seja, uma tática para envolver o empregado, fazendo
com que ele internalize como se fosse um dos donos. Dessa forma, a dedicação é maior
ao trabalho, pois ideologicamente ele é algo importante, é como se fosse dele a empresa.

Quando a organização é dividida em departamentos estes são


divididos em seções, ocorre uma fragmentação em que o esforço
humano é limitado a fazer o que foi estabelecido dentro das rotinas
predeterminadas e rígidas. Os sentimentos, as emoções e as atitudes
dos participantes não são considerados no processo, pois este deve ser
racional e lógico. O comprometimento pessoal é uma emoção. Se ela é
ignorada, não há comprometimento pessoal e a tarefa passa a ser
executada mecânica e automaticamente, sem motivação
(CHIAVENATO, 2014, p. 376).

A citação ratifica uma prática utilizada nas organizações. A composição da


estrutura organizacional evoluiu naturalmente com o desenvolvimento da humanidade e
da tecnologia, proporcionando a indústria uma estrutura complexa. Pode-se trazer, para
melhor esclarecer sobre o assunto, a departamentalização que consiste em dividir o todo
em partes homogêneas. Agrupam-se pessoas que desenvolvem a mesma atividade ou
semelhante em departamentos ou divisões. Não é possível negar que essas
transformações fazem parte da modernização das organizações, porém é importante
perceber que departamentalização, divisão, especialização do operário serviu para
distanciar o movimento de classe do operário no chão das fábricas, desmobilizar o
movimento sindical que representava a classe dentre das organizações.
Com esse novo formato de organização, a luta entre empregador e empregado
começa a se travar no campo ideológico. As organizações focam em necessidades do
indivíduo, empregado, como por exemplo, estima e autoestima que são aquelas em que
o indivíduo precisa ser reconhecido por seus feitos, ser valorizado na sociedade,
empresa; necessita ser visto como alguém importante.
O capitalismo contemporâneo, início anos 1970 do século XX, continua tendo
como protagonista os monopólios imperialistas que agora pode ser denominado na
atualidade como de terceira fase. É importante destacar que a crise dos anos 1970, que
pôs fim aos anos de prosperidade econômica, anos dourados, fez com o capitalismo
desenvolve-se ações nos segmentos da política, economia, social e cultural, respostas
para combater o momento de decadência do sistema que impactaram e impactam o
cenário mundial.
Enfrentando críticas e questionamentos, o capitalismo monopolista
ingressou nos anos sessenta mostrando crescimento econômico e taxas
de lucro compensadoras (Capítulo 8, item 8.8). Tais questionamentos
e críticas pareciam impertinentes: nos países capitalistas centrais,
apesar das enormes desigualdades sociais, prometia-se aos
trabalhadores a “sociedade afluente” – ademais da proteção social
assegurada pelo Welfare State, apontava-se para a possibilidade de um
consumo de massa, cujo símbolo maior era o automóvel; nos países
periféricos, projetos industrializantes apareciam como a via para
superar o subdesenvolvimento. Nos centros, chegou-se a apregoar a
“integração da classe operária”; nas periferias, o
“desenvolvimentismo” era a receita para curar os males do atraso
econômico-social (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 148).

O imperialismo contemporâneo continua produzindo em grande quantidade,


porém para nichos variados, particularizando a produção, transferindo a produção para
outros territórios que ofereçam um alto consumo, mão de obra barata e flexibilidade das
leis trabalhistas. Há um investimento maciço em tecnologia que possa ser usada na
produção de bens de consumo, ou seja, tecnologia para o desenvolvimento dos meios de
produção, tendo o objetivo de diminuir a força de trabalho viva. A eletroeletrônica tem
se destacado no cenário atual da produção. Isso implica um aumento no trabalho
coletivo,ou seja, uma expansão das fronteiras na produção material de riquezas; maior
qualificação e capacidade de atuar em múltiplas atividades são exigências requeridas ao
trabalhador. É importante destacar que os melhores cargos no mercado de trabalho
oferecem maior estabilidade, melhores salários; é a lógica neoliberal sendo executada,
retirando a identidade de classe do trabalhador. Também é verdade que existe uma
grande massa trabalhadora em situação de precariedade. Sofrendo sem qualificação,
recebendo salário que não supri as necessidades básicas, insegurança com relação as leis
trabalhistas podendo ser substituído a qualquer momento.

A acumulação flexível [...] se apóia na flexibilidade dos processos de


trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de
consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção
inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.
(PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 150 apud Harvey, 1993: 140).

A flexibilização do mundo do trabalho tem reduzido direitos que são conquistas


do trabalhador, tem aumentado o desemprego. Um ponto importante, quando se fala em
trabalho precarizado, é falar da terceirização do trabalho. Na atualidade, as empresas
contratam outras empresas que desenvolvem serviços que não são finalidade principal
da empresa contratante. É o chamado serviço meio. Eles exigem pouca qualificação do
emprega, pagam salários abaixo da média e precarizam o acesso aos direitos. Outro
ponto relaciona-se ao fato que o trabalhador terceirizado não se filia a sindicato,
contribuindo para enfraquecer o movimento de classe, as greves, ou seja, contribuindo
para o fim do trabalhador que luta pelos direitos da classe. Quanto menos trabalhadores
não filiados ao sindicato, menos força este tem. Além disso, desestrutura as finanças
sindicais que é fundamental para manter um sindical forte e independente.

A precarização e a “informalização” das relações de trabalho


trouxeram de volta formas de exploração que pareciam próprias do
passado (aumento das jornadas, trabalho infantil, salário diferenciado
para homens e mulheres, trabalho semi-escravo ou escravo) e ao final
do século XX, ao cabo de vinte anos de ofensiva do capital, a massa
trabalhadora não padece apenas nas periferias – também nos países
centrais a lei geral da acumulação capitalista mostra o seu efeito
implacável: (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 154).

A terceira fase do capitalismo imperialista tem pressionado o Estado para


intensificar as privatizações pois traz para a área mercantil setores administrados pelo
poder público, como também o Estado tem sido pressionado pelos empresários na
desregulamentação das leis trabalhistas. A citação seguinte é longa, mais necessária pois
traz um resumo das investidas do capital contra a atuação do Estado em favor da
sociedade.
É claro, portanto, que o objetivo real do capital monopolista não é a
“diminuição” do Estado, mas a diminuição das funções estatais
coesivas, precisamente aquelas que respondem à satisfação de direitos
sociais. Na verdade, ao proclamar a necessidade de um “Estado
mínimo”, o que pretendem os monopólios e seus representantes nada
mais é que um Estado mínimo para o trabalho e máximo para o
capital. O ataque do grande capital às dimensões democráticas da
intervenção do Estado começou tendo por alvo a regulamentação das
relações de trabalho (a “flexibilização” comentada no item
precedente) e avançou no sentido de reduzir, mutilar e privatizar os
sistemas de seguridade social. Prosseguiu estendendo-se à intervenção
do Estado na economia: o grande capital impôs “reformas” que
retiraram do controle estatal empresas e serviços – trata-se do
processo de privatização, mediante o qual o Estado entregou ao
grande capital, para a exploração privada e lucrativa, complexos
industriais inteiros (siderurgia, indústria naval e automotiva,
petroquímica) e serviços de primeira importância (distribuição de
energia, transportes, telecomunicações, saneamento básico, bancos e
seguros). Essa monumental transferência de riqueza social, construída
com recursos gerados pela massa da população, para o controle de
grupos monopolistas operou-se nos países centrais, mas especialmente
nos países periféricos – onde, em geral, significou uma profunda
desnacionalização da economia e se realizou em meio a
procedimentos profundamente corruptos (de que é exemplo
paradigmático a Argentina de Menem). Um competente analista
mostra a importância, para os setores monopolistas, da privatização,
mediante a qual retornaram à esfera mercantil serviços controlados
pelo Estado: (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 159 – 160).
O capital tem descoberto em áreas de atuação do Estado oportunidade de lucrar.
A ordem é destruir todo e qualquer barreira que impeça o movimento das mercadorias e
do capital. Vive-se o movimento de desregulamentação dos mercados internos dos
países periféricos e dependentes.
O capital tem alcançado novos domínios que são proporcionados pelos avanços
dos meios tecnológicos. Permitindo avanços e a comunicação entre as áreas produtivas
e improdutivas do capital. A financeirização do capital tem se destacado na retomada
das altas taxas de lucro pelo capital, contribuindo para a hipertrofia da centralização e
concentração do capital.
A financeirização do capital, é uma das mais importantes transformações do
capital na contemporaneidade.

foi em tudo espetacular por seu estilo especulativo e predatório.


Valorizações fraudulentas de ações, falsos esquemas de
enriquecimento imediato, a destruição estruturada de ativos por meio
da inflação, a dilapidação de ativos mediante fusões e aquisições e a
promoção de níveis de encargos de dívidas que reduzem populações
inteiras, mesmo nos países capitalistas avançados, a prisioneiros da
dívida, para não dizer nada da fraude corporativa e do desvio de
fundos [...] decorrente de manipulações do crédito e das ações – tudo
isso são características centrais da face do capitalismo contemporâneo
(PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 161 apud Harvey, 2004: 123).

As transações acontecem instantaneamente movimentando volumes gigantescos


de capital. Resultante da superacumulação e da queda da taxa de lucro nos anos 70/80
do século XX, parte desse capital ficou circulando no mercado na sua forma monetária
buscando valorizar-se.
indicamos, por exemplo, que os juros constituem uma dedução da
mais-valia criada na produção. A existência de uma certa massa de
capital sob a forma de capital dinheiro é indispensável à dinâmica do
capitalismo e essa massa é remunerada através dos juros. À medida
que o capitalismo se desenvolveu, um segmento de capitalistas passou
a viver exclusivamente desse capital que conservaram sob forma
monetária – trata-se da camada de capitalistas rentistas, que não se
responsabilizam por investimentos produtivos. O que vem se passando
no capitalismo contemporâneo é o fabuloso crescimento (em função
da superacumulação e da queda das taxas de lucros) dessa massa de
capital dinheiro que não é investida produtivamente, mas que succiona
seus ganhos (juros) da mais-valia global – trata-se, como se vê, de
uma sucção parasitária (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 162)

Os valores produzidos na esfera da financeirização do capital são de longe


maiores que os da produção real. Porém, é preciso frisar a dependência existente entre a
esfera produtiva e os ganhos financeiros que são operados na esfera da circulação. Para
Paulo Netto e Braz, ( 2006, p. 163); o sistema de finanças é o sistema nervoso do capital
contemporâneo, capaz de desequilibrar e tornar instável a economia imperialista. Além
de ter a capacidade de arruinar inteiras economias nacionais.
Para Paulo Netto e Braz (2006, p. 157), a concentração econômica que os
monopólios possuem, possibilita uma enorme concentração de poder político. Os
representantes do capital têm corrompido as instâncias políticas tomando decisões que
afetam bilhões de pessoas.
A política conduzida por essas “elites orgânicas”, notadamente a partir
dos anos setenta do último século, passou a operar-se também através
de instituições, agências e entidades de caráter supranacional – como
o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e organismos
vinculados à Organização das Nações Unidas. Assim, além dos seus
dispositivos próprios, o grande capital vem instrumentalizando
diretamente a ação desses órgãos para implementar as estratégias que
lhe são adequadas. O poder de pressão dessas instituições sobre os
Estados capitalistas mais débeis é enorme e lhes permite impor desde
a orientação macroeconômica, frequentemente direcionada aos
chamados “ajustes estruturais”, até providências e medidas de menor
abrangência. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006, p. 157-158).

Uma variedade enorme de ações desenvolvidas pela humanidade transformou-


se em mercadoria para ser comercializável. Hábitos e padrões de consumo se alteram
numa velocidade assustadora, necessidade são criadas pelo mercado de consumo, a
cultura do ter prevalece sobre os valores humanos. Vivemos conectados de forma
global, o tempo e o espaço foram reduzidos pelos avanços tecnológicos.
Justamente essa metamorfose está na base do conjunto de extraordinárias
mudanças que sustentam o “mundo novo” – alterações no proletariado, no
conjunto dos assalariados, na reconfiguração da estrutura de classes, nos
sistemas de poder, enfim na totalidade social que é constituída pela sociedade
burguesa. É impossível, aqui, sequer esboçar um resumo dos traços
pertinentes ao “novo mundo”. Importante e decisivo é assinalar que esse
mundo resulta da ofensiva do capital sobre o trabalho e, por isso mesmo,
significa uma regressão social quase inimaginável há trinta anos. (PAULO
NETTO; BRAZ, 2006, p. 166)

O capitalismo contemporâneo externaliza em nível assustador as desigualdades


entre ricos e pobres, volta a cena temas que já pareciam superados como o racismo,
xenofobia, violência contra mulher, trabalho escravo e crise ecológica, por exemplo,
desmatamento da Amazônia pode influenciar em futuras penalizações que o país, Brasil,
venha sofre dos capitais centrais.

enquanto se exponencia a possibilidade da produção de riquezas, um


terço da humanidade vive em condições animalescas. Enquanto, para
as classes dominantes dos países centrais e das periferias, o “consumo
conspícuo” e o esbanjamento em quinquilharias de luxo tornaram-se
um modo de vida, os trabalhadores engrossam o contingente de
subempregados, empregados temporários e desempregados e imensas
massas populacionais (medidas na casa de centenas e centenas de
milhões) subsistem no pauperismo. (PAULO NETTO; BRAZ, 2006,
p. 170)

O modo de produção capitalista na contemporaneidade ao mesmo tempo que


socializa a produção acaba por restringir a posse da propriedade privada, as
contradições que são próprias do capitalismo atingem o auge no modo imperialista
contemporâneo. Insegurança e instabilidade são instauradas nesse momento da
produção capitalista. O trabalho é precarizado, a cada dia as garantias trabalhistas são
eliminadas, direitos sociais são negligenciados. Segundo Paulo Netto e Braz, o próprio
capitalismo imperialista contemporâneo já lançou as bases a superação desse modo de
produção. Sendo necessário para a isso a tomada de consciência e ação política
consciente por milhões e milhões de homens e mulheres no cenário das lutas de classes.

A corrupção, na atualidade, nas instituições políticas, principalmente, tem


minado, enfraquecido a subjetividade da classe trabalhadora. Primeiro porque
incorporando a ideologia do capital nas leis, fazendo com que a criação destas tragam
benefícios aos capitalistas. Em segundo a corrupção nas instituições políticas tem
servido para vender as instituições públicas para o setor privado. Estamos falando das
privatizações. O momento é crítico para a classe trabalhadora, as investidas são
constantes, mas a organização da classe trabalhadora em conjunto com o movimento
sindical e conduzidos por instituições políticas comprometidas com o bem social serão
capazes de superar, combater os ataques predatórios do capitalismo.
As contradições do sistema capitalista têm feito com que o mesmo passe por
um processo de mudanças constante, impactando diretamente o universo do mundo do
trabalho. Que vem sofrendo incontáveis e profundas metamorfoses. Segundo Jorge
(2011, p. 01), “Podemos destacar a crescente degradação do padrão de vida dos
trabalhadores, os altos índices de desemprego e o aumento da precarização e
flexibilização das condições e das contratações de trabalho”. Além disso, podemos
destacar que as mudanças ocorridas com o capitalismo flexível – precarização e
reestruturação produtiva - nas últimas décadas não foram somente no plano econômico;
mas também na seara política. Quebrando o elo de solidariedade entre os operários,
acirrando a competitividade entre os mesmos com o objetivo de causar discórdia,
fragmentando e fragilizando as suas representações e práticas sindicais.
Assim sendo, a “técnica” da terceirização do trabalho aparece não
somente no plano econômico como forma de redução de custos (e/ou
ganhos em lucratividade), mas também enquanto estratégia política, à
medida que institui uma fragmentação objetiva e subjetiva entre os
trabalhadores de “segunda categoria” (os trabalhadores terceirizados),
que se distanciam dos trabalhadores de “primeira categoria” (os
trabalhadores efetivos). Fragmentação objetiva frente à inviabilidade
de participação e atuação conjunta com os trabalhadores efetivos em
greves e assembleias, diminuindo, portanto, a força política desses
trabalhadores; e fragmentação subjetiva frente ao próprio não
reconhecimento diante de seus pares, isto é, dos trabalhadores
efetivos. (JORGE, 2011, p. 2).

A terceirização segrega, enfraquece o movimento operário e fortalece o


neoliberalismo pois para não perder o emprego os terceirizados se submetem a um
trabalho de exploração, com maior carga horária de trabalho por menor salário, além de
enfraquecer o movimento grevista por não se sentir pertencente a mesma classe dos
trabalhadores efetivos.
A interferência do capitalismo contemporâneo com sua ideologia do
neoliberalismo tem penetrado na estrutura das esferas representativas democráticas dos
estados, destruindo as regulamentações, ou seja, formas de proteção social concedidas
pelos estados através das lutas dos trabalhadores e da classe operária. O objetivo do
capital é romper mundialmente as barreiras que impedem o seu movimento. Percebe-se
que o Estado tem diminuído bruscamente sua participação no cenário de proteção dos
trabalhadores, alterando a legislação em benefício dos empregadores, negligenciando na
formulação e execução das políticas públicas.

Essa ideologia legitima precisamente o projeto do capital monopolista


de romper com as restrições sociopolíticas que limitam a sua liberdade
de movimento. Seu primeiro alvo foi constituído pela intervenção do
Estado na economia: o Estado foi demonizado pelos neoliberais e
apresentado como um trambolho anacrônico que deveria ser
reformado – e, pela primeira vez na história do capitalismo, a palavra
reforma perdeu o seu sentido tradicional de conjunto de mudanças
para ampliar direitos; a partir dos anos oitenta do século XX, sob o
rótulo de reforma(s) o que vem sendo conduzido pelo grande capital é
um gigantesco processo de contra-reforma(s), destinado à supressão
ou redução de direitos e garantias sociais. (PAULO NETTO; BRAZ,
2006, p. 159).

Vive-se um momento de emergência de um novo tempo de viver e refletir as


mudanças que o ser humano vem passando no convívio social. Uma vez que é notório a
falência dos movimentos revolucionários, a fragmentação das grandes estruturas
teóricas, o ser humano que não consegue sair da dependência dos mecanismos que o
sistema capitalista cria, a violência que tem se tornado comum, intrínseca na sociedade
contemporânea, a relativização do mundo do trabalho, ou seja, as mudanças são
constantes para se adaptar ao movimento econômico do sistema, vivemos uma
desorientação ideológica proposital disseminada pelo avanço tecnológico através dos
meios sociais de comunicação; distorcendo a realidade com mensagens falsas que o
propósito de beneficiar o remetente da mesma, os sistemas sociais são complexos e a
sociedade passa por constante configuração, isto é, evolução para uma nova etapa.
A ofensiva neoliberal preocupou-se em restaurar as taxas de lucro, combinado
com o crescimento econômico, investindo na inovação tecnológica e na organização da
produção. O desemprego desestrutura a classe trabalhadora; os superlucros
desvinculam-se do crescimento econômico e do pleno emprego gerando a
desvalorização da classe trabalhadora e das políticas sociais aplicadas pelo Estado em
benefício do empregado. Se os anos de ouro do capital proporcionou conquistas
democráticas, que inclui os direitos sociais, viabilizado pelas políticas sociais; o período
a partir de 1980 foi de desestruturação das conquistas da classe operária, com destaque
para os direitos sociais. Para os neoliberais, a crise do capital entre 1969 e 1973 está
relacionada a intervenção estatal na economia através das políticas sociais que teve
como consequência o fortalecimento da classe trabalhadora.
Segundo Jorge (2011, p. 01) destaca-se a crescente degradação do padrão de
vida dos trabalhadores nos últimos anos, como também os altos índices de desemprego
e o aumento da precarização e flexibilização das condições e das contratações de
trabalho. Além disso, as mudanças ocorridas na etapa do capitalismo flexível – a
precarização decorrente da reestruturação produtiva – nas últimas décadas, não foram
somente no plano econômico; mas também na seara política, quebrando a solidariedade
entre os operários, acirrando a competitividade entre os mesmos com o objetivo de
fragmentar a organização do trabalho e fragilizar as suas representações e práticas
sindicais.
As crises do capitalismo reaparecem no cenário econômico, 1974 – 1975
mantendo-se até os dias atuais. Os ciclos das crises se repetem com mais frequência. As
respostas do capitalismo não surtiram o efeito desejado pois o cenário econômico
continua em recessão e as crises são periódicas. Mas é possível perceber a retomada das
altas nas taxas de lucro. Essas respostas do capital ao momento de crise pelo qual passa
o capital podem ser denominadas: reestruturação produtiva, a financeirização do capital
e a ofensiva neoliberal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do trabalho e na procura por respostas à problemática exposta no


presente trabalho, buscamos averiguar os efeitos provocados, pelas contradições do
modo de produção capitalista nos direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo do
tempo, como também a relação capital versos trabalho em um cenário de interesses
opostos que se maximiza com os efeitos do neoliberalismo na contemporaneidade.
O movimento do capital é complexo. Ele é uma relação social. Compreende-se
que a evolução do sistema capitalista: evolução do feudalismo, manufatura e
capitalismo industrial foi construída por meio da exploração da classe desprovida dos
meios de produção. A manufatura deu início ao capitalismo industrial, período que a
força de trabalho era tida como instrumento central no processo produtivo.
A introdução das máquinas controlando a produção e subordinando o
trabalhador faz este passar a desenvolver atividade de auxiliar, vigilante da maquinaria e
traz como uma das várias consequências desse processo o desemprego em massa que
passa a ser um instrumento para o controle do capital sobre o trabalho, subordinando o
trabalhador a condições degradantes, precárias de trabalho. O predomínio das máquinas
sobre o trabalho conduz a acumulação de capital que gera como consequência um
aumento da taxa de lucro para o capitalista. O investimento nos meios de produção gera
aumento na produção e desemprego em massa, causando uma subordinação maior
daqueles que continuam empregados. Uma vez que têm que se submeter a condições de
trabalho precárias já que existe um exército industrial de reserva para o substituir.
A reestrutura produtiva, como resposta do capital para crise economia de
acumulação em 1970 trouxe para o operário uma nova forma de atuação nas
organizações, com a criação de novas funções, departamentos e a especialização do
operário. O trabalhador se vê desafiado a exercer um trabalho diferente de suas
possibilidades, expectativas e anseios. Atualmente, o neoliberalismo implementou
mudanças na estrutura organizacional das fábricas e empresas, uma nova ideologia para
ser compartilhada entre os trabalhadores e também mudanças nas leis trabalhistas,
retirando direitos conquistados historicamente através das lutas de classe operária.
A flexibilização dos contratos de trabalho efetivos para os contratos
temporários, o mercado de serviços – terceirização – são reflexos do capitalismo
flexível que domina o mercado global através da atuação dos monopólios imperialistas.
Uma característica notória é que os monopólios trabalham sob demanda. Essa estratégia
reduz a possibilidade de uma superprodução, além disso possibilita a elevação dos
preços por falta do produto no mercado e como a indústria trabalha subutilizando a
força produtiva; a tendência é o aumento do desemprego e do exército industrial de
reserva, ou seja, o controle do capital sobre o trabalho continua sob novas formas. As
crises no modo de produção capitalista de cíclicas passaram a ser estruturais. Segundo
Mészáros (2014, p. 34) a crise estrutural é de caráter universal; seu alcance é realmente
global; sua escala temporal é extensa, contínua, permanente; sub-reptícia. Vive-se um
momento de externalização ao extremo das contradições do capitalismo.
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