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Revista Eletrônica Acervo Saúde/ ElectronicJournalCollection Health ISSN 2178-2091

lo

Automedicação entre acadêmicos de Enfermagem

Self-medication among nursing students


Automatización entre académicos de enfermería

Anatércia Miranda Muniz Hoffmann1*, Thaisman Gonçalves Dias Pereira2, Izabela Aparecida de
Paula Batista2, Aleff Diego Santos de Oliveira2, Camila de Souza Corrêa2
RESUMO
Objetivos: Identificar a prática da automedicação entre acadêmicos de enfermagem em um centro universitário privado
de Minas Gerais, além de traçar o perfil epidemiológico dos acadêmicos e descrever os fatores associados a essa
prática. Método: Trata-se de um estudo de campo transversal e delineamento quantitativo. Participaram da pesquisa
426 estudantes da graduação em enfermagem de uma instituição de ensino superior, que responderam a um
questionário para a coleta de dados. Resultados: Quanto a automedicação, 82,4% dos entrevistados afirmaram que já
realizaram essa prática e 83,25% confirmam ter feito uso de medicamentos no último ano, dos entrevistados 86,96%
são do sexo feminino. 78,18% sentem-se seguros com prática de automedicação. As classes dos medicamentos mais
utilizados foram: analgésicos (41,03%) e anticoncepcional (15,30%), em seguida encontram-se os antibióticos, com
12,53% e antipiréticos com 8,84%. A maioria dos universitários (75,89%) afirmaram comprar os medicamentos em
farmácia sem receita médica; 8,45% utilizam medicamentos que sobram de pacientes e que não foram devolvidos à
farmácia no local de trabalho. O fácil acesso aos medicamentos foi motivo destacado pelos estudantes que os levaram
a praticar a automedicação sendo 49,80% dos estudantes e 26,41% se automedicam por falta de tempo. Conclusão: O
estudo evidenciou alta prevalência de automedicação entre acadêmicos de enfermagem, tendo em vista o papel desses
futuros profissionais sugere-se que esse assunto seja suscitado nas universidades e explorado em estudos futuros.
Descritores: Automedicação, enfermagem, toxicidade de medicamentos, estudantes de enfermagem.

ABSTRACT
Objectives: To identify the practice of self-medication among nursing students in a private university in Minas Gerais, as
well as to outline the epidemiological profile of the students and describe the factors associated with this practice.
Method: This is a cross-sectional field study and quantitative delineation. A total of 426 undergraduate nursing students
from a higher education institution participated in the study, who answered a questionnaire to collect data. Results:
Regarding self-medication, 82.4% of respondents stated that they had already performed this practice and 83.25%
confirmed that they had used medications in the last year. Of the interviewees, 86.96% were female. 78.18% feel safe
with self-medication. The classes of drugs most used were analgesics (41.03%) and contraceptives (15.30%), followed
by antibiotics, with 12.53% and antipyretics with 8.84%. The majority of college students (75.89%) said they bought the
drugs in pharmacy without a prescription; 8.45% use drugs that are left over from patients and have not been returned to
the pharmacy in the workplace. The easy access to medicines was a reason for the students that led them to practice
self-medication, with 49.80% of the students and 26.41% self-medicating due to lack of time. Conclusion: The study
evidenced a high prevalence of self-medication among nursing students, considering the role of these future
professionals, it is suggested that this subject be raised in the universities and explored in future studies.
Descriptors: Self-medication, nursing, drug toxicity, nursing students.

RESUMEN
Objetivos: Identificar la práctica de la automedicación entre académicos de enfermería en un centro universitario
privado de Minas Gerais, además de trazar el perfil epidemiológico de los académicos y describir los factores asociados
a esa práctica. Método: Se trata de un estudio de campo transversal y delineamiento cuantitativo. Participaron en la
investigación 426 estudiantes de la graduación en enfermería de una institución de enseñanza superior, que
respondieron a un cuestionario para la recolección de datos. Resultados: En cuanto a la automedicación, el 82,4% de

1
Professora adjunta do Centro Universitário Una. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal
de Minas Gerais e orientadora da pesquisa. *E-mail: anaterciamiranda@gmail.com.
2
Acadêmicos de Enfermagem do Centro Universitário Una, Belo Horizonte - MG.

DOI: 10.25248/REAS71_2017

Recebido em: 7/2017 Aceito em: 8/2017 Publicado em: 11/2017

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los entrevistados afirmaron que ya realizaron esa práctica y el 83,25% confirmó haber hecho uso de medicamentos en
el último año, de los entrevistados 86,96% son del sexo femenino. El 78,18% se siente seguro con la práctica de
automedicación. Las clases de los medicamentos más utilizados fueron: analgésicos (41,03%) y anticonceptivo
(15,30%), a continuación se encuentran los antibióticos, con 12,53% y antipiréticos con 8,84%. La mayoría de los
universitarios (75,89%) afirmaron comprar los medicamentos en una farmacia sin receta; El 8,45% utiliza medicamentos
que sobran de pacientes y que no han sido devueltos a la farmacia en el lugar de trabajo. El fácil acceso a los
medicamentos fue motivo destacado por los estudiantes que los llevaron a practicar la automedicación siendo el 49,80%
de los estudiantes y el 26,41% se automedican por falta de tiempo. Conclusión: El estudio evidenció alta prevalencia
de automedicación entre académicos de enfermería, teniendo en vista el papel de estos futuros profesionales se sugiere
que ese tema sea suscitado en las universidades y explotado en estudios futuros.

Descriptores: Automedicación, enfermería, toxicidad de medicamentos, estudiantes de enfermería .

INTRODUÇÃO
A automedicação é definida pelo uso próprio de medicamentos industrializados ou caseiros, para aliviar
algum sintoma, sem prescrição médica ou supervisão de algum profissional da saúde. Teve início nos
tempos do Brasil Colônia com o uso de folhas medicinais para curar as doenças enfrentadas pelos
indígenas e escravos (BEZERRA et al., 2010; SILVA, GOULART e LAZARINI, 2014; ANVISA, 2015;
BRASIL, 2015).
Os medicamentos possuem um papel importante na sociedade quando utilizados de forma correta. Têm
como objetivo aliviar o sofrimento diante de alguma patologia e facilitar o processo até a cura, levando a
uma melhor qualidade de vida (BEZERRA et al., 2010; FUCHS e WANNMACHER, 2010). No entanto,
quando utilizados de forma indiscriminada e sem indicação podem causar danos, tais como agravamento da
doença, dependência medicamentosa, diminuição ou aumento do efeito da droga, reações alérgicas,
toxicidade e até morte (DOMINGUES et al., 2015).
O Brasil está entre os países que mais consomem medicamentos no mundo. Possui mais de 65 mil
farmácias e drogarias, sendo este número três vezes maior do que o recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), que recomenda uma farmácia para 10 mil habitantes (BRASIL, 2016). Esse
número de farmácias aumentam a possibilidade do uso descontrolado de medicamentos devido ao fácil
acesso para a compra, destacando que, mais de 50% das medicações são vendidas de forma ilegal
(DOMINGUES et al., 2015).
Diversos fatores no âmbito social, econômico, cultural e de acesso a serviços de saúde cooperam para
fazer da automedicação um problema grave de saúde pública (DOMINGUES et al., 2015; BRASIL, 2016;
BRANCO et. al., 2014; AQUINO, 2008). Aproximadamente, 76,4% da população brasileira fazem ou já
fizeram uso de medicamentos indicados por familiares, amigos, colegas ou vizinhos e 32% aumentaram a
dose medicamentosa por conta própria (DOMINGUES et al., 2015; GALATO, MADALENA e PEREIRA,
2012; PEREIRA JUNIOR, TELLES FILHO e AZEVEDO, 2013). Atualmente ocorrem em torno de 20 mil
mortes por ano causadas pela automedicação (DOMINGUES et al., 2015; GALATO, MADALENA e
PEREIRA, 2012; PEREIRA JUNIOR, TELLES FILHO e AZEVEDO, 2013).
Em 2011, no Brasil, as internações hospitalares que corresponderam aos casos de intoxicação por
medicamentos foram de 29,5%, sendo que 16,9% desses casos resultaram em óbito (DOMINGUES et al.,
2015; GALATO, MADALENA e PEREIRA, 2012).
O acesso à internet e propagandas de medicamentos contribuem para a prática da automedicação
(DOMINGUES et al., 2015; BRASIL, 2016; BRANCO et. al., 2014; AQUINO, 2008), e os medicamentos para
contracepção oral, descongestionantes, analgésicos e antiinflamatórios são adquiridos em farmácias sem
nenhuma restrição o que eleva seu consumo (SILVA, GOULART e LAZARINI, 2014).
Diante do contexto e da importância do tema frente a responsabilidade de futuros enfermeiros pela
educação de pacientes e familiares quanto ao uso seguro de medicamentos, este estudo tem como objetivo
geral identificar a prática de automedicação entre estudantes de enfermagem e como específicos, traçar o
perfil epidemiológico e descrever os fatores associados a esta prática.

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MÉTODO
Trata-se de um estudo de campo transversal e delineamento quantitativo, com abordagem descritiva que
objetivou descrever características da população em questão. Desta forma, foi realizado levantamento de
dados e a partir dos resultados, buscou-se a construção de hipóteses.
Os participantes do estudo foram todos os alunos matriculados no curso de enfermagem nos turnos
manhã e noite, que totalizaram 9 períodos. Considerando que no contexto da abordagem quantitativa é
necessário buscar maior representatividade da amostra, 100% dos estudantes foram selecionados.
A população deste estudo constitui-se por 564 alunos regularmente matriculados no curso de
enfermagem. Foram elegíveis os graduandos que concordaram em participar da pesquisa mediante leitura
do termo de consentimento livre e esclarecido e excluídos os que não estavam presentes em sala de aula
no momento da coleta dos dados, totalizando uma amostra de 426 graduandos.
A coleta de dados ocorreu em maio de 2017, através de um questionário semiestruturado, nos turnos da
manhã e noite, durante os horários de aula e após consentimento prévio do professor. Os dados foram
apresentados em frequência absoluta e percentuais em forma de gráficos e tabelas utilizando a ferramenta
® ®
Microsoft Excel 2013.
O estudo obedeceu aos preceitos da pesquisa com seres humanos baseado na resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pela Plataforma Brasil conforme Certificado de Apresentação
para Apreciação Ética nº2.040.286 – CAAE 66888317.2.0000.5098.

RESULTADOS
Em relação a automedicação, 82,4% dos entrevistados afirmaram que já realizaram essa prática e
83,25% confirmam ter feito uso de medicamentos no último ano. Dos estudantes que se automedicam,
86,96% são do sexo feminino. 78,18% sentem-se seguros com prática de automedicação (Tabela 1).
Os problemas de saúde informados pelos estudantes que os levaram a realizar a prática da
automedicação estão demonstrados. As classes dos medicamentos mais utilizados foram: analgésicos
(41,03%) e anticoncepcional (15,30%), em seguida encontram-se os antibióticos, com 12,53% e
antipiréticos com 8,84%. A pílula do dia seguinte foi citada por 10,15% das estudantes (Tabela 2).
A maioria dos universitários (75,89%) afirmaram comprar os medicamentos em farmácia sem receita
médica; 8,45% utilizam medicamentos que sobram de pacientes e que não foram devolvidos à farmácia no
local de trabalho, 7,42% recebem medicamentos doados por outras pessoas e 4,32% recebem doações de
representantes de laboratório. Os fármacos mais utilizados pelos estudantes são o Paracetamol a Dipirona
e a Neosaldina. (Tabela 2).

Tabela 1 - Uso de medicamentos e segurança na prática da


automedicação. Belo Horizonte, 2017

Variáveis N %

Automedicação no último ano


Sim 353 83,2
Não 71 16,7
Total 424 100%

Segurança na prática de automedicação


Sim 326 78,2
Não 91 21,8
Total 417 100
Legenda: Perda amostral <2%)

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Tabela 2 – Distribuição dos entrevistados quanto a prática da automedicação: problemas de saúde


(queixas), classes, como são adquiridos e medicamentos utilizados.
Variáveis N %
Problemas de saúde (queixas)*
Dores de cabeça 362 20,6
Cólica menstrual 256 14,5
Dores musculares 252 14,3
Febre 197 11,2
Gripe 189 10,8
Alergias 140 8,00
Dor de garganta 139 7,92
Tosse 111 6,32
Estresse 51 2,90
Perda de peso 34 1,93
Aumentar a concentração 19 1,08
Hipertensão arterial 5 0,29
Total 1755 100
Classes utilizadas#
Analgésicos 311 41,0
Anticoncepcional 116 15,3
Antibiótico 95 12,5
Antipiréticos 67 8,84
Pílula do dia seguinte 77 10,1
Ansiolítico 40 5,28
Antitussígenos 24 3,17
Sibutramina 15 1,98
Ritalina 13 1,72
Total 758 100

Forma que adquiriu medicamento**


Compra em farmácia sem receita médica 368 75,8
Medicamentos que sobram de pacientes e não foram devolvidos a farmácia 41 8,45
Medicamentos doados por outras pessoas 36 7,42
Medicamentos doados por representante de laboratório 21 4,32
Compra em farmácia com receita médica antiga 19 3,92
Total 485 100

Medicamentos mais utilizados##


Paracetamol 263 20,9
Dipirona 250 19,8
Neosaldina 191 15,1
Buscopam 187 14,8
Ibuprofeno 182 14,5
Amoxicilina 72 5,72
Anticoncepcional Ciclo 21 34 2,70
Poslov (Pílula do dia seguinte) 20 1,60
Propanolol 15 1,19
Fenergam 14 1,11
Sibutramina 12 0,95
Ritalina 11 0,87
Anticoncepcional Tâmisa 8 0,63
Total 1259 100

Legenda:*Perda amostral: 13 (0,7%); #Perda amostral: 5 (0,7%); ** Perda amostral: 17 (3,4%); ## Perda
amostral: 93 (6,9%).

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Os motivos que levaram os estudantes a praticarem a automedicação e as fontes de busca de


informações estão apresentados na Tabela 3. O fácil acesso aos medicamentos é destacado por 49,80%
dos estudantes e 26,41% se automedicam por falta de tempo. Quanto às fontes de busca para orientação, o
conselho de profissionais da saúde e conhecimento adquirido na graduação foram citados por 22,45% e
18,52% dos estudantes, respectivamente.
No que se refere ao conhecimento dos riscos da automedicação, 82,7% dos estudantes de enfermagem
afirmam ter conhecimento dos efeitos colaterais dos medicamentos tomados, 74,9% têm o hábito de ler a
bula e 94,2% lêem antes de tomar a medicação. Apenas 4% dos entrevistados informaram efeitos colaterais
após uso do medicamento como: alergias, prurido, cefaleia, hematúria, edema labial, hipotensão, surtos,
insônia, tonteiras, náuseas, hemorragia e taquicardia.

DISCUSSÃO
Verificando-se a utilização de medicamentos no último ano que antecedeu a pesquisa, 83,25% dos
estudantes de enfermagem confirmaram o uso. A média da idade dos estudantes de enfermagem que
participaram da pesquisa foi de 27 anos. Em um estudo realizado com estudantes universitários da Cidade
de Mansoura (Egito), associou aumento da automedicação entre jovens devido ao estilo de vida e fatores
sociodemográficos (HELAL e ELWAFA-ABOU, 2017).
Estudos realizados por Martinez (2014) e Silva (2013) enfatizam a maior exposição das mulheres ao uso
de medicamentos desde a infância até a vida adulta, por procurarem com maior frequência os serviços de
saúde e pelas campanhas educativas em grande parte serem direcionadas a elas, influenciando o aumento
do prazer pelo autocuidado e tornando-as mais susceptíveis a realizar a prática da automedicação (HELAL
e ELWAFA-ABOU, 2017; COSTA; SOUZA, et. al., 2014; EURICH e LUTHCOVSKY, 2008).
A maioria dos estudantes de enfermagem que participaram da pesquisa afirmaram se sentir seguros
com a prática de automedicação (78,18%). Resultado semelhante foi encontrado em estudos realizados
com universitários da Etiópia e Brasil, trazendo a relação de que anos de estudo na graduação tem forte
influência na segurança da prática de automedicar e que essa influência ocorre através de sua experiência
profissional e exposição aos medicamentos (GUTEMA et. al., 2011; KUMAR et. al. 2008).

Tabela 3 - Prática da Automedicação: motivos e fontes de orientações.

Variáveis N %
Motivos*
Fácil acesso aos medicamentos 247 49,8
Falta de tempo para ir ao médico 131 26,4
Dificuldade de acesso aos serviços de saúde 63 12,7
Queixa considerada simples, após autodiagnóstico 27 5,44
Segurança no conhecimento farmacológico 18 3,63
Propaganda do medicamento 10 2,02
Total 496 100
Fontes de informação#
Conselho de um profissional da saúde 143 22,4
Conhecimento adquirido na graduação 118 18,5
Conselho de amigos e familiares 113 17,7
Conselho do balconista da farmácia 101 15,9
Internet 110 17,3
Realizo por conta própria sem buscar fontes de informação 52 8,16
Total 637 100
Legenda:*Perda amostral: 20 (4,0%) #Perda amostral: 17 (2,3%)

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As altas taxas de automedicação entre os universitários da área da saúde são demonstradas nos
estudos de Silva e Rodrigues (2014) e Martinez et. al. (2014). Entre estudantes de enfermagem, houve um
aumento de percentual de 72% para 91,2%, dado considerado alarmante pela OMS (SANTOS et. al., 2012),
tendo em vista o papel desses estudantes na sociedade.
Nossos achados demonstraram que os motivos mais relevantes que levaram os alunos a se
automedicarem foram o fácil acesso aos medicamentos, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e falta
de tempo para ir ao médico. No entanto, a maioria dos entrevistados afirmaram ter plano de saúde.
Alguns estudos destacam que os motivos da automedicação entre os estudantes não se relacionam
apenas na disponibilidade e fácil acesso aos medicamentos, mas também a não adesão a consultas
médicas devido à falta tempo para procurar os serviços de saúde (KUMAR, VANDANA e ASLAMI, 2016;
KUMAR, et. al., 2008; SOUZA, et. al., 2014).
Gutema (2011) e Zafar (2008), enfatizam que estudantes consideram suas queixas como pequenas
demais para tratar com profissionais da saúde, podendo assim ser resolvidas no balcão de uma farmácia,
com medicações de amigos e familiares, prescrições antigas, conhecimento farmacológico adquirido na
graduação ou após a consulta na internet.
Nesta pesquisa, os problemas de saúde que mais influenciaram a prática da automedicação foram:
dores de cabeça, cólicas menstruais e dores musculares. Resultados semelhantes foram encontrados em
uma pesquisa realizada no sul da Índia com estudantes de Ciências da Saúde, na Universidade de Makelle
e um colégio médico rural (KUMAR, et. al., 2008; GUTEMA et. al., 2011; KUMAR, VANDANA e ASLAMI,
2016). No estudo de Kumar et. al., (2008) febre, dores e tosse corresponderam mais de 50% das
automedicações entre estudantes. Nos estudos de Kumar, Vandana e Aslami (2016), Gutema et. al., (2011)
e Kumar et. al., (2008), o estresse é citado com fator que propicia a automedicação, evento este que ocorre
em relação à pressão exercida sobre os estudantes durante o período da graduação.
A classe de medicamento que liderou a preferência dos estudantes de enfermagem neste estudo foram
os analgésicos, seguido dos anticoncepcionais, antibióticos e antipiréticos. Esse resultado também foi
encontrado no estudo de Alano et. al., (2012) destacando a prevalência do uso da contracepção oral pelas
mulheres relacionado ao fácil acesso, já que os anticoncepcionais podem ser adquiridos sem prescrição
médica. No entanto, os antibióticos são comercializados apenas com prescrição médica e mesmo assim são
usados de forma indiscriminada, podendo desencadear consequências como resistência bacteriana
(21,23,22,26)
. (GUTEMA et. al., 2011; SILVA e RODRIGUES, 2014; KUMAR et. al., 2008; ZAFAR et. al., 2008)
Sobre como os estudantes adquirem os medicamentos, 75,89% compram diretamente em farmácias
sem receita médica e chama atenção o fato de 8,45% dos entrevistados utilizarem sobras de medicamentos
não devolvidos a farmácia após assistência ao paciente, o estudo de Primo Pereira et. al., (2014) destaca a
existência de políticas em outros países para incentivar a devolução de medicamentos que não foram
utilizados as farmácias dos serviços de saúde, com o objetivo de gerar um reaproveitamento por outros
clientes ou destinação adequada. Já no estudo de Gama e Secoli (2017) com graduandos de enfermagem
evidenciou-se o achado de que, os acadêmicos adquirem os medicamentos nos campos de estágios
durante o curso, sendo este fato associado ao mal controle da dispensação de medicamentos pelas
farmácias e acumulo de medicamentos nos setores de trabalho.
O estudo de Galato (2012) apresenta achados semelhantes e destaca o fácil acesso de estudantes às
medicações no âmbito hospitalar, inclusive quando não são devolvidas à farmácia. Estudo realizado na
cidade de Mansoura (Egito), realizado com graduandos de medicina, farmácia e enfermagem evidencia que,
após a realização de algum tratamento, os estudantes armazenam em casa as medicações que sobraram
desse tratamento (HELAL e ELWAFA-ABOU, 2017), e nesta pesquisa evidencia a aquisição devido a sobra
de outros pacientes.
Neste estudo fica evidenciado que os graduandos que estão envolvidos na área da saúde reutilizam os
medicamentos que seriam ou foram usados nos pacientes que eles prestam assistência, deixando

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questionamentos se a medicação sobrou do tratamento do cliente e o acadêmico reutilizou ou se o


acadêmico omitiu a prescrição e não medicou o paciente. Tendo em vista o papel dos acadêmicos de
enfermagem que serão futuros enfermeiros, é valido conhecer as normas que regem a profissão de escolha
considerando ser um dever do profissional de enfermagem conforme suas legislações e normas Art. 25º
Registrar no prontuário do paciente as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar e
proibido conforme Art. 35 Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada
(CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS, 2016).
Uma pesquisa realizada em 2005 na cidade de Juiz de Fora, demonstrou que mais da metade dos
graduandos relataram possuir conhecimento a cerca dos riscos de se automedicar, porém isso não evita o
hábito (GALATO, MADALENA e PEREIRA, 2012; JESUS, YOSHIDA e FREITAS, 2013). Conselho de
profissionais da saúde e conhecimento adquirido na graduação foram citados pelos estudantes de
enfermagem desta pesquisa quando questionados sobre as fontes de busca para orientação sobre
medicação.
No que se refere a leitura de bulas, a maioria afirma ter o hábito de consultá-la antes de tomar a
medicação. O estudo de Silva e Rodrigues (2014) corrobora com esse achado e destaca que a leitura prévia
com objetivo de conhecerem os possíveis resultados dos fármacos pode gerar um saber superficial. No
entanto, estudo semelhante realizado em 2005 com estudantes dos cursos da área de saúde evidenciou
baixa incidência da leitura de bulas apesar de estarem disponíveis em locais de fácil acesso, como a
internet (SILVA e RODRIGUES, 2014).
De acordo com Santos (2012), a maioria dos estudantes não apresentam reações adversas devido ao
uso frequente de fármaco, o que não impede que causem danos a longo prazo. Apenas 4% dos estudantes
de enfermagem que responderam ao questionário informaram terem tido efeitos colaterais após uso do
medicamento. Sinais e sintomas como alergias, prurido, cefaleia, hematúria, edema labial, hipotensão,
surtos, insônia, tonteiras, náuseas, hemorragia e taquicardia foram destacados.
A automedicação é um obstáculo para a saúde pública podendo desencadear consequências graves, sendo
que 29% dos óbitos ocorridos no Brasil são desencadeados por intoxicação medicamentosa, mesmo os
remédios considerados mais simples e de venda livre podem representar uma ameaça quando utilizado de
forma errada (JESUS, YOSHIDA e FREITAS, 2013; CHEHUEN NETO, et. al., 2006; SILVA, GOULART e
LAZARINI, 2014).

Daí a importância de através do conhecimento de fatores relacionados a automedicação seja possível


avaliar a necessidade de parcerias com o intuito de qualificar profissionais responsáveis por venda de
medicamentos e informações a população, além disso deve ser um assunto a ser discutido durante a
graduação em sala de aula, visto que os estudantes de enfermagem têm valor significativo na prática de se
automedicar e serão os profissionais do futuro.

CONCLUSÃO
Foi identificado no estudo que a automedicação é alarmante entre as acadêmicas do sexo feminino
tendo em vista a predominância desta população no curso de enfermagem.
Os principais motivos para a automedicação, o perfil epidemiológico e os fatores associados a esta
prática foram destacados e foi possível concluir que a automedicação entre os alunos ocorre de maneira
contínua e apesar de possuírem conhecimento dos riscos e terem a facilidade de acesso as
informações, permanecem realizando o comportamento.
Sendo assim, de acordo com os resultados obtidos na pesquisa, é possível verificar que os objetivos
foram atingidos, bem como as características do público alvo conhecido. Faz-se necessário que o estudante
de enfermagem se apropria de informações com intuito de reduzir a prática da automedicação a partir do
conhecimento dos riscos, efeitos colaterais e todas as consequências inerentes a prática.

REAS, Revista Eletrônica Acervo Saúde,2017. Vol. Sup. 9, S841-S848.


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REAS, Revista Eletrônica Acervo Saúde,2017. Vol. Sup. 9, S841-S848.

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