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CONTEMPORÂNEA
DIREITO
Questões relevantes envolvendo o Jusnaturalismo Teológico, o qual afirma
a existência do direito natural, e os princípios do Direito Penal e sua
base estrutural e alguns aspectos da Lei de Execução Penal.
ÍNDICE
1. RESUMO
2. INTRODUÇÃO
3. JUSNATURALISMO
3.1 Jusnaturalismo Teológico
3.1.1 Cristianismo e Espiritismo
4. JUSTIÇA HUMANA
4.1 Evolução Histórica da Pena – Aspectos Gerais
4.2 Sistema Penal Atual
4.2.1 Direito Penal
4.2.2 Lei de Execução Penal (LEP)
4.2.3 APAC
5. POR UM NOVO SISTEMA PENAL, O SISTEMA EDUCACIONAL
6. CONCLUSÃO
7. REFERENCIAS
1. RESUMO
O presente trabalho analisa as questões relevantes envolvendo o
Jusnaturalismo Teológico, o qual afirma a existência do direito natural,
constituído de leis universais instituídas por Deus, as quais regem todo
o universo e a vida nele inserido. Leis estas que compreendem as leis
físicas, que regem a matéria e as leis morais, que regem as relações
entre os seres da criação. No presente trabalho abordar-se-á ambas, dando
enfoque especial às leis morais. Para melhor compreensão do tema, o
presente trabalho inicia-se com a análise dos aspectos conceituais do
Direito Natural com base nos ensinamentos desenvolvidos pelo Cristianismo
e pela Doutrina Espírita, os quais trazem um corpo doutrinário que
esclarecem o funcionamento do Universo, a evolução dos seres, o objetivo
da vida e demais questões intrínsecas ao Homem. Abordar-se-á o
posicionamento de diversos juristas que vislumbram no conhecimento
advindo do Cristianismo e da Doutrina Espirita possibilidades de se
reestruturar todo o sistema penal vigente. Com o desenvolvimento do
trabalho será possível um comparativo entre a Justiça Divina e a Justiça
Humana, proporcionando reflexões sobre uma possível adequação desta
àquela. Será abordado, no campo da Criminologia, porém sob o enfoque do
Jusnaturalismo Teológico, a questão do criminoso, da vítima e do ato do
crime em si, trazendo a lume uma visão diferenciada dos temas em
contraponto aos conceitos hoje estabelecidos. Posteriormente é abordado o
Sistema Penal atual, sua evolução histórica, sua estrutura e real
eficácia com relação ao combate à criminalidade. Abordar-se-á, embora de
forma sucinta, os princípios do Direito Penal e sua base estrutural e
alguns aspectos da Lei de Execução Penal, sua efetividade e eficácia.
Abordar-se-á o sistema APAC, um novo modelo na relação sociedade-
condenado. Por fim, conclui-se o presente trabalho propondo a criação de
um novo modelo de resposta à criminalidade e à violência, baseado na
educação moral, único meio real de promover o melhoramento do indivíduo e
a consequente paz social.
3. JUSNATURALISMO
O Jusnaturalismo é uma corrente jusfilosófica que defende a existência de
um Direito Natural. É uma “Corrente de pensamento que propugna pela
existência de um direito justo por natureza, independente da disciplina
social imposta pelo legislador.” (ACQUAVIVA, 2010, p. 507).
Em O Livro dos Espíritos, uma das cinco obras básicas que compõe a
Doutrina Espírita, Allan Kardec3 ensina que a Lei Natural é a Lei de
Deus, e pode ser dividida em Leis da Física e Leis Morais:
Todo o universo é regido por leis criadas por uma Inteligência Suprema,
Deus, que mantêm todo um complexo sistema físico e moral em perfeita
harmonia e funcionamento. Essas leis vêm sendo reveladas aos homens por
Espíritos Superiores, que em todas as épocas da humanidade vem nos trazer
o conhecimento delas. A ciência, através do esforço de cientistas
abnegados sob a inspiração de Espíritos Superiores, pelo mecanismo da
intuição, e a este respeito afirmava Albert Einstein que “não existe
nenhum caminho lógico para o descobrimento das leis elementares – o único
caminho é o da intuição”4, vem, pouco a pouco, descobrindo as leis que
regem o mundo material, cabendo a religião descortinar as leis morais, as
quais, a ciência pouco a pouco vai avalizando pelo experimento e pelas
pesquisas. Os textos bíblicos, os ensinos de Sócrates, Platão, Confúcio,
Buda, entre outros missionários, estão repletos de ensinamentos sobre as
leis imutáveis que regem o universo.
Vive-se na atualidade uma busca por soluções ante os desafios sociais que
se apresentam em todas as áreas do saber humano. É o momento de rever
valores e buscar-se uma simetria entre a ciência e a religião, conforme
ensinos da filosofia espírita:
O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de
provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as
suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa
sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar
atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até
hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico
e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas
circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu
ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o
auxílio da qual tudo se explica de modo fácil. [...] Assim como o Cristo
disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, também o Espiritismo
diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” Nada ensina
em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa e
explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob
forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo
anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do
Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se
opera e prepara o reino de Deus na Terra. (KARDEC, 2010b, p. 64, 65)
Deus
Segundo a filosofia cristã, Deus é o criador de tudo o que existe. O
livro Gênesis, primeiro livro do pentateuco de Moisés, que abre a
sequencia de livros do Antigo Testamento, inicia falando sobre Deus e a
criação (ALMEIDA, 2008, p.3): “No princípio, criou Deus os céus e a
terra.” 10 Muito se questiona a respeito da criação ter sido realizada em
seis dias, como nos relata os textos bíblicos. Porém, deve-se compreender
que os relatos bíblicos estão repletos de simbolismo e forma alegórica,
peculiar ao estilo oriental. Pode-se entender que cada dia da criação
bíblica representa períodos geológicos que a ciência reconhece como sendo
períodos em que o planeta Terra e a vida nele inserida tenham percorrido
no processo de evolução. A palavra dia constante nos primeiros versículos
do livro Gênesis, em hebraico Yôm, possui significado literal (24 horas)
ou figurado (um espaço de tempo).
Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então,
também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em
degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que
chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria
sujeito às transformações da matéria.
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não
podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente
expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a
criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos
de Deus. (ALMEIDA, 2008, p. 1487 )
O Deus que fez o mundo e tudo que nele existe, sendo ele Senhor do céu e
da terra, não habita em santuário feito por mãos humanas. Nem é servido
por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é
quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; para buscarem a Deus se,
porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um
de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos. (ALMEIDA, 2008, p.
1457)
Todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não
ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Ninguém jamais viu a Deus; se
amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós,
aperfeiçoado. No amor não existe o medo; antes o perfeito amor lança fora
o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. (ALMEIDA,
2008, p. 1617)
Deus é definido como amor. Deus como a energia cósmica do amor, que se
faz sentir na intimidade da criatura quando esta estabelece sintonia com
o criador, através do desenvolvimento do sentimento do amor dentro de si
mesma, desenvolvendo a unidade cósmica criador/criatura, como ensina
Jesus (ALMEIDA, 2008, p. 1418): “a fim de que todos sejam um; e como és
tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; eu neles, e tu em
mim, a fim que sejam aperfeiçoados na unidade”, e em outra passagem,
Jesus assim se expressa (ALMEIDA, 2008, p. 1406): “Eu e o pai somos um”,
no sentido de uma perfeita identificação de sentimentos e pensamentos,
numa afinidade energética intrínseca da criatura com o criador.
A visão que o homem possui de Deus é de grande importância para sua vida
em sociedade. O relacionamento que o homem possui para com Deus,
invariavelmente é a base para o relacionamento que o homem possui para
com o próprio homem. Se o homem possui a imagem de um Deus cruel e
vingativo, assim também o homem age para com os seus pares, se, ao
contrário, o homem tem uma imagem de um Deus justo e misericordioso,
assim o homem se relacionará para com os seus pares. Sobre este tema, a
filosofia cristã vem trazer a imagem de um Deus Misericordioso,
instruindo seus adeptos a também serem misericordiosos uns com os outros,
conforme ensino de Jesus: “Sede misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai.” (RYRIE, 2007, p. 991)
→ Leis Divinas
Todas as leis da natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de
tudo. Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da
matéria bruta: as leis da física, cujo estudo pertence ao domínio da
Ciência. As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em
si mesmo e nas relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras
da vida do corpo, bem como as da alma: são as leis morais. (KARDEC,
2010a, p. 378)
O Homem
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João e
os levou, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante
deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se
brancas como a luz. E eis que apareceram Moisés e Elias falando com ele.
(ALMEIDA, 2008, p. 1272)
Sobre este tema a filosofia espírita adverte (KARDEC, 2010b, p. 556): “Os
Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade
moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem faz parte
dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste mundo”. Os
Espíritos dos criminosos, no pós- morte, poderão continuar a prejudicar a
sociedade. Portanto, a forma real de o homem “se livrar” de indivíduos
que prejudicam a sociedade é recuperá-los, educa-los.
→ Encarnação e Reencarnação19
A filosofia espírita ensina que Jesus constitui o tipo mais perfeito que
Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo (KARDEC,
2010a, p.380) e conclui:
Desde os dias de Joao Batista até agora, o reino dos céus é tomado por
esforço, e os que se esforçam se apoderam dele. Porque todos os profetas
e a Lei profetizaram até João. E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é
Elias, que estava para vir. (ALMEIDA, 2008, p. 1261)
Quando Jesus afirma ‘ele mesmo é Elias, que estava para vir’, Jesus está
se referindo a uma passagem no livro de Malaquias, onde o SENHOR promete
que Elias, um profeta do Antigo Testamento, que já havia morrido, iria
retornar. Assim diz a passagem (ALMEIDA, 2008, p. 1241): “Eis que vos
enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do
SENHOR.” Nesta passagem fica clara a ideia da reencarnação, proclamada
pelo próprio Mestre Jesus.
Justiça Divina
A Justiça Divina pode ser definida como um sistema de leis divinas que
possui como finalidade retribuir a cada um segundo o seu procedimento,
com vistas ao desenvolvimento espiritual do indivíduo, estimulando-o ou
advertindo-o. O conjunto destas leis resulta em um mecanismo de educação
moral da criatura, com vistas ao objetivo final da criação, o
desenvolvimento dos potenciais do Espírito, culminando na Perfeição
Espiritual. A justiça divina é distributiva20, conforme ensinamento
trazido pela Doutrina Espírita:
Quando Jesus afirma que veio para que os homens tenham vida, quis dizer
que veio ensinar aos homens como viver a vida em plenitude, através do
desenvolvimento das potências internas do Espírito, as quais Jesus
exemplificou durante sua passagem pela Terra, potências estas, que
proporcionarão ao Espírito imortal vida em abundância. Por isso Jesus,
como Mestre por excelência, advertiu (ALMEIDA, 2008, p. 1413): “Em
verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as
obras que eu faço e outras maiores fará”.
Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote
a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas
buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu
progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a
prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de
relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser
provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação
e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma
tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair
vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente,
essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres
sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas
precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as
maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem
murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições
que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. Sem dúvida,
o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é
indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e
constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso. Os
Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham
tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos
ditosos. São como os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais
se veda o acesso à cidade a que aportem, até que se hajam expurgado.
Mediante as diversas existências corpóreas é que os Espíritos se vão
expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da vida os
fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as
faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente.
Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio.
Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e
deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura. Dele depende, pela
resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto
com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.
(KARDEC, 2010b, p. 125/126)
“Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso
movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no
culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo
Homem- Deus, por Jesus-Cristo.
Eis o mal.
Eis o resgate.
Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado, não pode existir para
Deus, em virtude de representar um desvio do homem, sendo zero na
Sabedoria e na Providência Divinas.
Outro ponto importante que deve ser abordado é a questão das penas
eternas ou fogo eterno, também fruto de interpretações equivocadas do
texto bíblico. Uma das características de Deus é a infinita bondade,
conforme ensina o salmista (ALMEIDA, 2008, p. 853): “Rendei graças ao
SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.
Rendei graças ao Deus dos deuses, porque a sua misericórdia dura para
sempre”. Deus é misericordioso e sua misericórdia dura para sempre,
portando é um erro acreditar na instituição das penas eternas.
Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, porque o Senhor
corrige a quem ama. Deus nos disciplina para aproveitamento, a fim de
sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no
momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois,
entretanto, produz fruto pacífico de aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça. (ALMEIDA, 2008, p. 1595)
“-A lei de talião prevalece para todos os espíritos que não edificaram
ainda o santuário do amor nos corações, e que representam a quase
totalidade dos seres humanos. Presos, ainda, aos milênios do pretérito,
não cogitaram de aceitar e aplicar o Evangelho a si próprios,
permanecendo encarcerados em círculos viciosos de dolorosas reencarnações
expiatórias e purificadoras. Daí a verdade de que as criaturas humanas se
redimirão pelo amor22 e se elevarão a Deus por ele, anulando com o bem
todas as forças que lhes possam encarcerar o coração nos sofrimentos do
mundo.” (XAVIER, 2013b, p. 187)
A Sociedade e o Criminoso
Nesta passagem Paulo deixa claro qual o comportamento que o homem deve
ter para com aquele que comete um erro. Inicia dizendo que não se deve
tornar mal por mal. Ante o mal deve-se responder com o bem26. Prossegue
Paulo ensinando que não se deve vingar, mas deixar que as próprias leis
divinas retribuam à ação negativa do indivíduo. Cabe ao homem, perante os
equívocos dos outros, dar alimento ante a fome íntima de valores morais e
dar água ante a sede íntima de esclarecimento. Cabe ao homem auxiliar o
próprio homem no processo evolutivo a que todos se encontram inseridos.
Toda ação da sociedade para com o criminoso deve ter um viés educacional.
Se houver necessidade da punição, do castigo, no sentido de corrigir o
indivíduo, seja restringindo sua liberdade, seja determinando a reparação
ao dano causado, todas estas ações devem ter propósitos educacionais e
nunca vingativos.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu,
porém, vos digo: amai os vossos inimigos27 e orai pelos que vos
perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele
faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e
injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não
fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos
irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. (RYRIE,
2007, p. 920)
Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre
sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo
menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo
um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem
irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça
de Deus se serve para punir aquele que não perdoou. (KARDEC, 2010b, p.
250)
O Criminoso
Criminoso é todo aquele que comete um crime. Crime são ações contrárias
às leis penais estabelecidas por uma sociedade, ou, em um conceito mais
amplo, são ações que contrariam o conceito de justiça. Segundo a
filosofia espírita, “A justiça consiste em cada um respeitar os direitos
dos demais” (KARDEC, 2010a, p. 493), sendo estes direitos determinados
pela lei humana e pela lei divina (KARDEC, 2010a, p. 493). O criminoso,
portanto, é o indivíduo que, conscientemente, infringe as leis humanas
e/ou divinas, desrespeitando a justiça, prejudicando, assim, outro(s)
indivíduo(s).
E conclui:
→ O Criminoso e a Vítima
Analisando a pessoa do criminoso e da vítima num delito, a Doutrina
Espírita e a filosofia cristã possibilitam um enfoque diferenciado, que
proporciona uma reflexão sobre a visão que a atual sociedade possui do
criminoso e da vítima. Quando Jesus advertiu (ALMEIDA, 2008, p. 1291):
“Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada
perecerão”, o Mestre estava ensinando que aquele que ferir o seu próximo
poderá37 ser ferido igualmente. Então, numa consequência futura, o
indivíduo que feriu será ferido, ou seja, o algoz de hoje será a vítima
de amanhã.
[...] Sabe ele que, pela mesma destinação da Terra, deve esperar topar aí
com homens maus e perversos; que as maldades com que se defronta fazem
parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado ponto de vista em
que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer advenham dos
homens, quer das coisas. Se não se queixa das provas, tampouco deve
queixar-se dos que lhe servem de instrumento. Se, em vez de se queixar,
agradece a Deus o experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá
ensejo de demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta ideia o
dispõe naturalmente ao perdão. (KARDEC, 2010b, p. 248 e 249)
-Num plano de vida, onde quase todos se encontram pelo escândalo que
praticaram no pretérito, é justo que o mesmo “escândalo” seja necessário,
como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos homens
falta ainda aquele “amor que cobre a multidão dos pecados”. (XAVIER,
2013b, p. 206)
Mas, ai daquele por quem venha o escândalo. Quer dizer que o mal sendo
sempre o mal, aquele que a seu mau grado servir de instrumento à justiça
divina, aquele cujos maus instintos foram utilizados, nem por isso deixou
de praticar o mal e de merecer punição. Assim é, por exemplo, que um
filho ingrato é uma punição ou uma prova para o pai que sofre com isso,
porque esse pai talvez tenha sido também um mau filho que fez sofresse
seu pai. Passa ele pela pena de talião. Mas, essa circunstância não pode
servir de escusa ao filho que, a seu turno, terá de ser castigado em seus
próprios filhos, ou de outra maneira. (KARDEC, 2010b, p. 191)
4. JUSTIÇA HUMANA
A Justiça humana baseia-se na retribuição punitiva ao infrator, como
consequência do ato ilegal que o mesmo praticou. Segundo Bitencourt
(BITENCOURT, 2009, p. 84) “a pena é concebida como um mal que deve ser
imposto ao autor de um delito para que expie sua culpa. Isso não é outra
coisa que a concepção retributiva da pena.”
4.1. Evolução Histórica da Pena – Aspectos Gerais
Segundo o dicionário Houaiss (HOUAISS, 2009, p. 1464), pena é a “sanção
aplicada como punição ou como reparação por uma ação julgada
repreensível; castigo, condenação, penitência”, e Alessandro Baratta
disserta sobre a função da pena:
O suplício é uma técnica e não deve ser equiparado aos extremos de uma
raiva sem lei. Uma pena, para ser um suplício, deve obedecer a três
critérios principais: em primeiro lugar, produzir uma certa quantidade de
sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos apreciar,
comparar e hierarquizar; a morte é um suplício na medida em que ela não é
simplesmente privação do direito de viver, mas a ocasião e o termo final
de uma graduação calculada de sofrimentos: desde a decapitação — que
reduz todos os sofrimentos a um só gesto e num só instante: o grau zero
do
A pena de morte, que pode vir a ser banida das sociedades civilizadas,
não terá sido de necessidade em épocas menos adiantadas? “Necessidade não
é o termo. O homem julga necessária uma coisa, sempre que não descobre
outra melhor. À proporção que se instrui, vai compreendendo melhormente o
que é justo e o que é injusto e repudia os excessos cometidos, nos tempos
de ignorância, em nome da justiça.” (KARDEC, 2010a, p.437- 438)
[...] são teorias absolutas todas aquelas doutrinas que concebem a pena
como um fim em si mesma, ou seja, como “castigo”, “reação”, “reparação”,
ou, ainda, “retribuição” do crime, justificada por seu intrínseco valor
axiológico, vale dizer, não um meio, tampouco um custo, mas, sim, um
dever ser metajurídico que possui em si seu próprio fundamento. São, ao
contrário, “relativas” todas as doutrinas utilitaristas que consideram e
justificam a pena enquanto um meio para a realização do fim utilitário da
prevenção de futuros delitos. (GRECO, 2016, p. 44)
Roeder defendia que a pena não podia ter um tempo determinado, já que
servia para corrigir aquele que praticou a infração penal, e devia durar
o tempo que fosse necessário para isso. Cessada a necessidade,
consequentemente, deveria cessar também o cumprimento da pena. [...]
Pedro Garcia Dorado Monteiro [...] Dizia que [...] a pena não deve ser
retributiva, senão corretiva da vontade criminosa, tomando-se como base
um estudo psicológico e não por fundamento o delito, devendo servir a
pena, outrossim, para impedir a prática de futuros crimes.(GRECO, 2016,
p. 58)
[...] a sanção imposta pelo Estado, por meio de ação penal, ao criminoso
como retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes. O
caráter preventivo da pena desdobra-se em dois aspectos (geral e
especial), que se subdividem (positivo e negativo): a) geral negativo:
significando o poder intimidativo que ela representa a toda a sociedade,
destinatária da norma penal; b) geral positivo: demonstrando e
reafirmando a existência e eficiência do direito penal; c) especial
negativo: significando a intimidação ao autor do delito para que não
torne a agir do mesmo modo, recolhendo-o ao cárcere, quando necessário;
d) especial positivo: que é proposta de ressocialização do condenado,
para que volte ao convívio social quando finalizada a pena ou quando, por
benefícios, a liberdade seja antecipada. Conforme o atual sistema
normativo brasileiro, a pena não deixa de possuir todas as
características em sentido amplo (castigo + intimidação e reafirmação do
direito penal + ressocialização). (NUCCI, 2014, p. 309)
Quando se tem uma sociedade atuante nas instituições penais e na vida dos
condenados e internados, a vida do egresso mais facilmente se
reestrutura, pois ele encontrará o apoio da sociedade na qual está
inserido, o que atualmente não acontece.
4.2.3. APAC
A APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados),
Busca-se um novo modelo para uma nova sociedade. Não é mais possível
continuar com o atual modelo vigente que denigre, humilha e expõe o
indivíduo a condições sub-humanas de existência. A sociedade chegou a um
ponto crucial de sua jornada. Este é o momento de efetuar mudanças
drásticas e eficazes com vistas à edificação de uma nova sociedade, que
corresponda aos anseios da Carta Magna e propicie o bem de todos, sem
qualquer tipo de preconceitos, inclusive o preconceito com relação ao
criminoso, que, devido a sua condição, é constantemente tratado com
discriminação quanto aos princípios basilares da dignidade da pessoa
humana. Sobre esta perspectiva relata Vínícius:
John Howard, citado por Rogério Greco, coloca a educação moral como uma
das bases para o cumprimento de pena:
O direito penal ortodoxo com seus dogmas ultrapassados dará vez a um novo
paradigma para um novo estudo das ciências jurídicas e criminológicas, no
contexto da espiritualidade, à luz da vida e da reencarnação. (MAIA NETO,
Cândido Furtado, e Lenchoff Carlos, in “Criminalidade, Doutrina Penal e
Filosofia Espírita”, ed. Lake, São Paulo, 2005 ).
Educação moral, eis o caminho pelo qual o atual Direito Penal deve
seguir. Caminho que conduz a novos horizontes, a uma nova realidade, a
uma nova estrutura social. Não mais castigar corpos, mas elevar almas à
conquista das virtudes, à conquista de si mesmas. Não mais punir por
punir, mas conduzir os indivíduos pelos caminhos da autotransformação, da
superação dos vícios e imperfeições morais, da conquista do eu maior que
reside na intimidade de todos os seres, que não é senão o arquétipo
divino, a que está destinada a se tornar toda criação. Que seja a
criatura, em relação ao criador, a sua imagem e semelhança, conforme nos
conclama o Senhor: “Sede santos, porque eu sou santo”. (RIRYE, 2007, p.
1222).
6. CONCLUSÃO
O Jusnaturalismo Teológico, com base na Filosofia Cristã/Espírita, revela
uma Lei Divina que possui como objetivo final a melhoria do Espírito
imortal com vistas à conquista da Perfeição, que significa o
desenvolvimento das virtudes divinas que o Espírito possui em estado
latente. Com a conquista destas virtudes, o homem se torna melhor e se
tornando melhor, a própria sociedade se torna melhor. Esta deve ser a
visão do Direito, hoje denominado Penal: desenvolver mecanismos eficazes
que estimulem o indivíduo a desenvolver as virtudes que existem dentro de
si em estado latente. A este processo denomina-se educação moral.
7. REFERENCIAS
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Acquaviva / Marcus Cláudio
Acquaviva. – 4. ed. atual. e ampl. – São Paulo: Rideel, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado – 14. ed. rev., atual.
e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. 1517 p.
RYRIE, Charles C. A Bíblia anotada: edição expandida. ed. rev. e exp. São
Paulo: Mundo Cristão; Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.
SITE: <
www.unifacs.br/revistajuridica/arquivo/edicao_abril2007/docente/doc1.doc
> Acesso em 25/05/2016
11 “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim.” (RYRIE, 2007, p. 1038)
Estudo científico sobre Experiência Quase Morte (EQM): Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01016083201300050
0005&lng=pt&nrm=iso&tlng=e n >
22 “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros,
porque o amor cobre multidão de pecados.” (ALMEIDA, 2008, p. 1608)
27 “Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está
na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração
de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os
inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é
perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos
causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-
lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem
que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se,
quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é,
finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os
humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os
vossos inimigos.” (KARDEC, 2010b, p. 247/248)
41 G. D. Romagnosi [1834], p. 83
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