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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Vice-Reitoria de Ensino de Graduação – VREGRAD
Divisão de Assuntos Pedagógicos – DAP
Créditos Teórico / Prático
Código e Nome da Disciplina
J589– DIREITO ADMINISTRATIVO I 4,0

Curso DIREITO Centro


CCJ

Segundas e Quartas

17h20min – 19h00min

19h00min – 20h40min

Professor: João Marcelo Rego Magalhães

Aula 03

UNIDADE I – DIREITO ADMINISTRATIVO

3. Princípios do Direito Administrativo

Devemos, antes de tudo, salientar que os princípios da supremacia e da


indisponibilidade do interesse público são princípios gerais de direito público, e como tais,
orientam também o Direito Administrativo.

Cabe ainda divisar os princípios administrativos em dois grupos: os que


expressamente constam do capítulo constitucional acerca da Administração Pública e os
plenamente reconhecidos pela doutrina e por algumas normas legais1.

Os princípios de Direito Administrativo que estão expressos na Constituição são:

a) Legalidade

b) Impessoalidade

c) Moralidade

d) Publicidade

1
Tal divisão é adotada de - forma bastante didática - na obra do professor José dos Santos Carvalho
Filho.

1
e) Eficiência

Os princípios consagrados pela Doutrina (alguns já devidamente positivados pela


Lei 9.784/99) são:

a) Finalidade

b) Autotutela

c) Motivação

d) Razoabilidade

e) Proporcionalidade

f) Contraditório e Ampla Defesa

g) Segurança jurídica

h) Interesse público

3.1. Princípios Gerais do Direito Público

Indisponibilidade do Interesse Público

Os bens, recursos e interesses públicos não pertencem à Administração Pública2


nem a seus agentes. Cabe-lhes apenas geri-los, conservá-los e por eles velar em prol da
coletividade, esta sim, a verdadeira titular dos direitos e interesses públicos.

O princípio da indisponibilidade enfatiza tal situação. A Administração não tem a


livre disposição dos bens e interesses públicos, porque atua em nome de terceiros. Por essa
razão é que os bens públicos só podem ser alienados na forma em que a lei dispuser. Da
mesma forma, os contratos administrativos reclamam, como regra, que se realize licitação para
encontrar quem possa executar obras e serviços de modo mais vantajoso para a
Administração; busca-se a melhor relação entre o preço a ser pago e o bem ou serviço a ser
adquirido. Também fundada na indisponibilidade do interesse público está a exigência de
concurso público para o provimento dos cargos públicos, salvo as exceções previstas na
Constituição.

O princípio parte, afinal, da premissa de que todos os cuidados exigidos para os


bens e interesses públicos trazem benefícios para a própria coletividade.

Supremacia do Interesse Público

As atividades administrativas são desenvolvidas pelo Estado para benefício da


coletividade. Mesmo quando age em vista de algum interesse estatal imediato, o fim último de

2
A partir deste ponto de nosso Curso trataremos a função administrativa do Estado como
Administração Pública, sempre grafada com iniciais maiúsculas. As duas expressões podem ser usadas
como sinônimas, mas a Doutrina e a Jurisprudência utilizam-se quase que exclusivamente da expressão
Administração Pública para designar os órgãos e agentes encarregados da administração dos bens e
interesses do Estado.

2
sua atuação deve ser voltado para o interesse público 3. E se não estiver presente esse
objetivo, a atuação estará inquinada de desvio de finalidade.

Desse modo, não é o indivíduo em si o destinatário da atividade administrativa,


mas o grupo social como um todo. Saindo da era do individualismo exacerbado, o Estado
passou a caracterizar-se como Welfare State (Estado do bem-estar social), dedicado a atender
ao interesse público. Logicamente, as relações sociais vão ensejar, em determinados
momentos, um conflito entre o interesse público e o interesse privado, mas, ocorrendo esse
conflito, há de prevalecer o interesse público.

Trata-se, de fato, do primado do interesse público. O indivíduo tem que ser visto
como integrante da sociedade, não podendo os seus direitos, em regra, ser equiparados aos
direitos sociais. Vemos a aplicação do princípio da supremacia do interesse público, por
exemplo, na desapropriação, em que o interesse público suplanta o do proprietário; ou no
poder de polícia do Estado, por força do qual se estabelecem algumas restrições às atividades
individuais.

SIM NÂO SIM NÂO

Cuida da coisa pública x Tem consciência que a x Corrupção


como se fosse sua? coisa pública não é sua?

Cuida da coisa pública x Tem consciência que a x Ineficiência


como se fosse sua? coisa pública não é sua?

Cuida da coisa pública X Tem consciência que a x Conflito de


como se fosse sua? coisa pública não é sua? interesses

Cuida da coisa pública x Tem consciência que a x Interesse


como se fosse sua? coisa pública não é sua? público

3.2. Princípios de Direito Administrativo expressos na Constituição


(Princípios Constitucionais da Administração Pública)

Legalidade

A lei, a partir da condição de legitimidade de quem a produz, tendo por propósito


final a realização da justiça e como motivos imediatos a defesa dos direitos fundamentais
(concepção individualista) e a realização do interesse público (concepção coletiva), possui 3
aplicações principais:

3
Interessante ressaltar que Celso Antonio Bandeira de Mello aponta para a existência do interesse
público primário, aquele que visa a defesa dos interesses da coletividade, e do interesse público
secundário, onde o Estado atua como qualquer outra pessoa jurídica em litígio no âmbito judicial. O
interesse público primário está, em qualquer hipótese, acima do interesse individual.

3
a) delimitar o quadro geral de direitos e liberdades do particular;

b) definir as condutas que devem ser obrigatoriamente seguidas pelo


cidadão, em nome do interesse público (lei de ordem pública);

c) limitar, no âmbito infraconstitucional, a atuação do detentor de


poder e dos agentes públicos em geral, visando a defesa dos direitos
individuais4.

Como importante decorrência das 2 últimas aplicações, podemos afirmar que a lei
deverá ainda, sempre com o objetivo de garantir o interesse público e os direitos individuais,
definir a forma de atuação da administração pública.

De fato, o princípio da legalidade é o instrumento maior de realização do interesse


público.

O princípio da legalidade é, portanto, a diretriz básica da conduta dos agentes da


Administração Pública. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser
autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita.

Tal postulado, consagrado após séculos de evolução política, tem por origem mais
próxima a criação do Estado de Direito, ou seja, o Estado que deve respeitar as próprias leis
que edita.

O princípio implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os


agentes públicos, desde a maior das autoridades até o mero executor de trâmites
administrativos devem estrita obediência ao conjunto de textos normativos que os condicionam.

Na feliz e sempre repetida expressão de Hely Lopes Meirelles, enquanto os


indivíduos em suas relações privadas podem fazer tudo o que a lei não proíbe, o administrador
público só pode fazer o que a lei permite.

É extremamente importante o efeito do princípio da legalidade no que diz respeito


aos direitos dos indivíduos. Na verdade, o princípio se reflete na consequência de que a própria
garantia desses direitos depende de sua existência, autorizando-se então os indivíduos à
verificação do confronto entre a atividade administrativa e a lei. Uma conclusão se faz clara:
havendo conflito entre a conduta administrativa e a lei, deverá aquela ser corrigida para
eliminar-se a ilicitude.

Na teoria do Estado moderno, cabe ressaltar, existe a função de criar a lei


(legislação), a função de aplicar a lei ao caso concreto (jurisdição) e a função de executar
propriamente a lei, tendo como alvo a coletividade (administração); as 2 últimas pressupõem o
exercício da primeira, de modo que só se podem conceber as atividades administrativa e

4
Nesse sentido, serão definidas tanto as obrigações dos agentes públicos em relação à Administração
Pública (deveres internos em relação ao Estado) quanto as regras de conduta e as diretrizes que vão
orientar a relação dos agentes com os cidadãos (deveres procedimentais em relação ao cidadão).

4
jurisdicional diante dos parâmetros já instituídos pela atividade legislativa. Por isso a Doutrina
cita que a função de administrar (e de julgar) é função subjacente à de legislar 5.

O princípio da legalidade denota exatamente a relação acima citada: só é legítima


a atividade do administrador público se estiver condizente com o disposto na lei.

Conflito lei x regulamento técnico – STF: RE 838.284

Agências reguladoras e função normativa – STF: INFO 889

Impessoalidade

O princípio da impessoalidade objetiva a igualdade de tratamento que a


Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação
jurídica. Nesse ponto, representa uma faceta do princípio da isonomia.

Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração
voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se, em
consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados
alguns para favorecimento de outros 6. Aqui reflete a aplicação do conhecido princípio da
finalidade, sempre estampado na obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser
alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse
público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma
atuação discriminatória.

Não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta administrativa


tem com a lei. Como a lei em si mesma deve respeitar a isonomia, porque a isso a Constituição
a obriga (art. 5º, caput e inciso I), a função administrativa nela baseada também deverá fazê-lo,
sob pena de cometer-se desvio de finalidade, que ocorre quando o administrador se afasta do
escopo que lhe deve nortear o comportamento – o interesse público.

5
Adiante veremos que o poder regulamentar exercido pelo chefe do Poder Executivo não se constitui
em atividade legislativa, servindo apenas para permitir a correta aplicação de lei criada pelo Poder
Legislativo e que estabeleça alguma relação entre particulares e o Estado.

6
11/09/2014 – PLENÁRIO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.180 - DISTRITO FEDERAL.
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES.
Ação direta de inconstitucionalidade. “Brasília Music Festival”. Lei Distrital n. 3.189/03. 2. Previsão de
encargos orçamentários às secretarias de Estado de Cultura e de Segurança Pública. Projeto de lei
encaminhado por parlamentar. Vício de iniciativa. Violação aos arts. 61, § 1º, II, “b”, e 165, III, da
Constituição Federal. 3. Lei de roupagem supostamente genérica. Circunstâncias fático-jurídicas que
permitem seja identificado um único favorecido. Violação à moralidade e à impessoalidade
administrativas. Precedente. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente para
reconhecer a inconstitucionalidade da Lei Distrital n. 3.189/03.

5
Embora sob a expressão “desvio de finalidade”, o princípio da impessoalidade tem
proteção no direito positivo: o art. 2º, “e”, da Lei nº 4.717/1965, que regula a ação popular,
comina com a sanção de invalidade o desvio de finalidade.

Assim, portanto, deve ser encarado o princípio da impessoalidade: a


Administração há de ser impessoal, sem ter em mira este ou aquele indivíduo de forma
especial.

Não custa mencionar que Celso Antonio Bandeira de Mello aponta uma outra
faceta do princípio da impessoalidade, qual seja, o fato de os atos administrativos serem
titularizados pela Administração Pública como gestora dos interesses da coletividade, não
podendo serem atribuídos à pessoa deste ou daquele administrador. Nesse sentido, em nosso
ordenamento, temos previsão tanto constitucional7 quanto legal8 sobre o assunto.

Impessoalidade como isonomia 1  Tratar iguais como iguais

Impessoalidade como isonomia 2  Tratar os diferentes na medida de suas


diferenças [ações afirmativas]

Impessoalidade como finalidade 3  o gestor deve gerir a coisa pública em


benefício do coletivo

Impessoalidade como finalidade 4  o gestor não pode ter benefício pessoal no


uso da coisa pública

Impessoalidade como não titularidade dos atos 5  o gestor/servidor não é o


“dono” do ato administrativo (instrumento de realização do fim público)

7
Art. 37 (...)
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou
imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PROPAGANDA INSTITUCIONAL. PROMOÇÃO PESSOAL DO ADMINISTRADOR. VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADO. 1. Nos
moldes do que dispõe o art. 37, § 1º, da Constituição Federal, a publicidade dos atos governamentais
deve sempre guardar um caráter exclusivamente educativo, informativo ou de orientação social, sendo
absolutamente vedada a publicação de informativos que visem ao proveito individual do administrador.
2. Diante das premissas fáticas estabelecidas pelo Tribunal de origem, não há como se afastar a prática
de improbidade administrativa prevista no art. 11 da Lei nº 8.429/1992, porquanto demonstrado o dolo,
no mínimo genérico, de fazer uso de propaganda institucional para o fim de obter proveito pessoal.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 820.235/MA, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018,
DJe 02/08/2018)

8
Lei nº 6.454/1977.

6
Moralidade

O princípio da moralidade - melhor seria dizer “princípio da vedação à


improbidade” - impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que
devam estar presentes em sua conduta.

Deve o administrador não apenas averiguar os critérios de conveniência,


oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é
desonesto.

Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações
entre a Administração e os administrados em geral, como também internamente, ou seja, na
relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram.

O art. 37 da Constituição também a ele se referiu expressamente, e pode se dizer,


sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela obrigação de
ter assistido aos desmandos de maus administradores, frequentemente na busca de seus
próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos
morais de que não deveriam se afastar.

O que pretendeu o constituinte foi exatamente coibir essa imoralidade no âmbito


da Administração. Pensamos, todavia, que somente quando os administradores estiverem
realmente imbuídos de espírito público é que o princípio será efetivamente observado.

A Constituição referiu-se expressamente ao princípio da moralidade no art. 37,


caput. Embora o conteúdo da moralidade seja diverso do da legalidade, o fato é que aquele
está normalmente associado a este.

Em algumas ocasiões a imoralidade consistirá na ofensa direta à lei e assim


violará, ipso facto, o princípio da legalidade.

Em outras ocasiões, a imoralidade residirá no tratamento discriminatório, positivo


ou negativo, dispensado ao administrado; nesse caso, vulnerado estará também o princípio da
impessoalidade, requisito, em última análise, da legalidade de toda e qualquer conduta
administrativa9.

A imoralidade administrativa pode ser combatida através da ação de improbidade


administrativa (Lei 8.429/1992), da ação popular (Lei 4.717/1965) 10 e da ação civil pública (Lei
7.347/1985) 11.

9
De fato, quando estivermos analisando as formas de invalidação do ato administrativo veremos que
não apenas a ilegalidade leva à sua anulação, mas também o desrespeito aos demais princípios, posto
que torna o ato ilegítimo e, assim, também passível de anulação.

10
Lei que visa anular ato administrativo que tenha a possibilidade de causar prejuízo ao erário público.
As razões de nulidade estão ligadas à violação de alguns dos requisitos de validade do ato
administrativo: competência, objeto, forma, motivo ou finalidade.

11
Visa preservar os direitos difusos.

7
Com base no princípio da moralidade, e ainda no princípio da eficiência, o
Supremo Tribunal Federal editou, em 29 de agosto de 2008, a Súmula Vinculante nº 13, que
veda a prática do nepotismo na Administração Pública12.

Em julgados recentes, o STJ tem reconhecido que o assédio moral é prática que
viola a moralidade administrativa.

12
Súmula Vinculante 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral
ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta
em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido
o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”.

ATENÇÃO:
"1. A jurisprudência do STF preconiza que, ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes
para cargos públicos de natureza política não desrespeita o conteúdo normativo do enunciado da
Súmula Vinculante 13." (RE 825682 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento
em 10.2.2015, DJe de 2.3.2015)
"Reclamação - Constitucional e administrativo - Nepotismo - Súmula vinculante nº 13 - Distinção entre
cargos políticos e administrativos - Procedência. 1. Os cargos políticos são caracterizados não apenas
por serem de livre nomeação ou exoneração, fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem
detentores de um munus governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus
ocupantes enquadrados na classificação de agentes administrativos. 2. Em hipóteses que atinjam
ocupantes de cargos políticos, a configuração do nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se
verificar eventual 'troca de favores' ou fraude a lei. 3. Decisão judicial que anula ato de nomeação para
cargo político apenas com fundamento na relação de parentesco estabelecida entre o nomeado e o
chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação, diverge do entendimento da Suprema
Corte consubstanciado na Súmula Vinculante nº 13." (Rcl 7590, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira
Turma, julgamento em 30.9.2014, DJe de 14.11.2014)
"Com efeito, a doutrina, de um modo geral, repele o enquadramento dos Conselheiros dos Tribunais de
Contas na categoria de agentes políticos, os quais, como regra, estão fora do alcance da Súmula
Vinculante nº 13, salvo nas exceções acima assinaladas, quais sejam, as hipóteses de nepotismo cruzado
ou de fraude à lei." (Rcl 6702 MC-AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno,
julgamento em 4.3.2009, DJe de 30.4.2009)
“(...) ATO DECISÓRIO CONTRÁRIO À SÚMULA VINCULANTE 13 DO STF. NEPOTISMO. NOMEAÇÃO PARA O
EXERCÍCIO DO CARGO DE CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ. NATUREZA
ADMINISTRATIVA DO CARGO. VÍCIOS NO PROCESSO DE ESCOLHA. VOTAÇÃO ABERTA. APARENTE
INCOMPATIBILIDADE COM A SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRESENÇA DO FUMUS BONI
IURIS E DO PERICULUM IN MORA. LIMINAR DEFERIDA EM PLENÁRIO. AGRAVO PROVIDO. I - A vedação
do nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a prática, uma vez que decorre diretamente
dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal. II - O cargo de Conselheiro do Tribunal
de Contas do Estado do Paraná reveste-se, à primeira vista, de natureza administrativa, uma vez que
exerce a função de auxiliar do Legislativo no controle da Administração Pública. I (...)”
(Rcl 6702 MC-AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 04/03/2009,
DJe-079 DIVULG 29-04-2009 PUBLIC 30-04-2009 EMENT VOL-02358-02 PP-00333 RSJADV jun., 2009, p.
31-34 LEXSTF v. 31, n, 364, 2009, p. 139-150)

8
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ASSÉDIO
MORAL. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 11 DA LEI
8.429/1992. ENQUADRAMENTO. CONDUTA QUE EXTRAPOLA MERA IRREGULARIDADE.
ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO GENÉRICO.

1. O ilícito previsto no art. 11 da Lei 8.249/1992 dispensa a prova de dano, segundo a


jurisprudência do STJ.

2. Não se enquadra como ofensa aos princípios da administração pública (art. 11 da LIA) a
mera irregularidade, não revestida do elemento subjetivo convincente (dolo genérico).

3. O assédio moral, mais do que provocações no local de trabalho - sarcasmo, crítica,


zombaria e trote -, é campanha de terror psicológico pela rejeição.

4. A prática de assédio moral enquadra-se na conduta prevista no art. 11, caput, da Lei de
Improbidade Administrativa, em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e
malferimento à impessoalidade, ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém.

5. A Lei 8.429/1992 objetiva coibir, punir e/ou afastar da atividade pública os agentes que
demonstrem caráter incompatível com a natureza da atividade desenvolvida.

6. Esse tipo de ato, para configurar-se como ato de improbidade exige a demonstração do
elemento subjetivo, a título de dolo lato sensu ou genérico, presente na hipótese.

7. Recurso especial provido.

(REsp 1286466/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/09/2013, DJe
18/09/2013)

Em suma, é possível identificar 4 (quatro) situações básicas em que estará


maculado o princípio da moralidade administrativa:

a) atos tipificados como improbidade administrativa (Lei 8429/1992);

b) prática de nepotismo (súmula vinculante STF nº 13);

c) assédio moral (segundo STJ);

d) conflito de interesses (Lei 12813/2013).

Publicidade

Outro princípio mencionado na Constituição é o da publicidade. Indica que os atos


da administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os administrados, e
isso porque constitui fundamento do princípio propiciar-lhes a possibilidade de controlar a
legalidade/legitimidade da conduta dos agentes administrativos. Só com a transparência dessa
conduta é que poderão os indivíduos aquilatar a legalidade/legitimidade ou não dos atos e o
grau de eficiência de que se revestem.

É para observar esse princípio que os atos administrativos são publicados em


órgãos de imprensa ou afixados em determinados locais das repartições administrativas. O que
importa, com efeito, é dar a eles a maior publicidade, porque somente em raríssimas hipóteses
se admite o sigilo nos atos da Administração.

9
O princípio da publicidade pode ser reclamado através de 2 instrumentos básicos:

a) o direito de petição (CF, art. 5º, XXXIV, a);

b) as certidões emitidas pelos órgãos da Administração (CF, art. 5º, XXXIV, b).

Negado o exercício de tais direitos, ou ainda não veiculada a informação, ou


veiculada incorretamente, terá o prejudicado os instrumentos para garantir a restauração da
legalidade – o mandado de segurança (CF, art. 5º, LXIX) e o habeas data (CF, art. 5º, LXXII).

Por fim, é importante que não se deixe de fora o registro de que ao princípio da
publicidade devem submeter-se todas as pessoas administrativas, quer as que constituem as
próprias pessoas estatais, quer aquelas outras que, mesmo sendo de direito privado, integram
o quadro da Administração Pública, como é o caso das empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações que adotem o regime de direito privado 13.

Como decorrência do princípio da publicidade, foi editada a Lei nº 12.527, de 18


de novembro de 2011, a Lei de Acesso à Informação (LAI).

DA PUBLICIDADE PASSIVA  TRANSPARÊNCIA ATIVA

Eficiência

A Emenda Constitucional nº 19/1998 que guindou ao plano constitucional as


regras relativas ao projeto de reforma do Estado, acrescentou, ao caput do art. 37, outro
princípio: o da eficiência.

Com a inclusão, pretendeu o governo conferir direitos aos usuários dos diversos
serviços prestados pela Administração ou por seus delegados e estabelecer obrigações
efetivas aos prestadores. Não é difícil perceber que a inserção desse princípio revela o
descontentamento da sociedade diante de uma antiga impotência para lutar contra a deficiente
prestação de tantos serviços públicos, que incontáveis prejuízos já causaram aos usuários. De
fato, sendo tais serviços prestados pelo Estado ou por delegados seus, sempre ficaram
inacessíveis para os usuários os meios efetivos para assegurar seus direitos. Os poucos meios
existentes se revelaram insuficientes ou inócuos para sanar as irregularidades cometidas pelo
Poder Público na execução desses serviços.

Incluído em mandamento constitucional, o princípio prevê, para o futuro, maior


oportunidade para os indivíduos exercerem sua real cidadania contra tantas falhas e omissões
do Estado. Trata-se, na verdade, de dever constitucional da Administração, que não poderá
desrespeitá-lo, sob pena de serem responsabilizados os agentes que derem causa à violação.
Diga-se, entretanto, que de nada adiantará a menção a tal princípio se não houver uma
disciplina precisa e definida sobre os meios de assegurar os direitos dos usuários, a qual, diga-
se, por oportuno, já há muito deveria ter sido constituída se tivesse sido regulamentado o art.
37, §3º, da Constituição, que, mesmo antes da alteração introduzida pela EC 19/98, previa
expressamente a edição de lei para regulamentar as reclamações relativas à prestação de
serviços públicos. Fora daí o princípio, tanto quanto tem sido esse último mandamento, tornar-
se-á letra morta.

13
Adiante voltaremos ao tema dessas entidades de direito privado ao estudarmos a Administração
Indireta.

10
Vale a pena observar, entretanto, que o princípio da eficiência não alcança apenas
os serviços públicos prestados diretamente à coletividade. Ao contrário, deve ser observado
também em relação aos serviços administrativos internos das pessoas federativas e das
pessoas a elas vinculadas. Significa que a Administração deve recorrer à moderna tecnologia e
aos métodos hoje adotados para obter a qualidade total da execução das atividades a seu
cargo, criando, inclusive, novo organograma em que se destaquem as funções gerenciais e a
competência dos agentes que devem exercê-las. Tais objetivos é que ensejaram as recentes
idéias a respeito da administração gerencial nos Estados modernos, segundo a qual, se faz
necessário identificar uma gerência pública compatível com as necessidades comuns da
Administração, sem prejuízo para o interesse público, que impele toda a atividade
administrativa.

A Emenda Constitucional nº 45/2004 (chamada de “Reforma do Judiciário”),


acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º da Constituição, estabelecendo que “a todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação”. O novo mandamento, cuja feição é a de direito
fundamental, tem por conteúdo o princípio da eficiência no que se refere ao acesso à Justiça e
estampa inegável reação contra a insatisfação da sociedade pela excessiva demora dos
processos, que praticamente torna inócuo o princípio do acesso à Justiça para enfrentar lesões
ou ameaças a direito (CF, art. 5º, XXXV). Note-se que a nova norma constitucional não se
cinge aos processos judiciais, mas também àqueles que tramitam na via administrativa, muitos
destes, da mesma forma, objeto de irritante lentidão. Não basta, porém, a inclusão do novo
mandamento; urge que outras medidas sejam adotadas, em leis e regulamentos, para que a
disposição possa vir a ter densa efetividade.

3.3. Princípios de Direito Administrativo consagrados pela Doutrina

Finalidade

Autotutela

Motivação

Razoabilidade

Proporcionalidade

Contraditório e Ampla Defesa

Segurança Jurídica

11
Interesse Público

12

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