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Apostila Direito Internacional Privado
Apostila Direito Internacional Privado
INTERNACIONAL
PRIVADO I
Juliana Ribeiro
Apostila de Direito Internacional Privado I 2
PARTE GERAL
1.1Postulados:
a) O mundo é composto de ordens jurídicas independentes. As ordens jurídicas
independentes não são derivadas de outras ordens jurídicas (monismo com primado no
direito nacional).
b) Surge o conflito de leis no espaço. O conflito surge do contrato entre ordens jurídicas
diferentes.
COROLÁRIO: (conseqüência) = solucionar o conflito, que é o objeto do Direito
Internacional Privado.
O Direito Internacional Privado soluciona o conflito de forma indireta, pois ele apenas
indica a norma a ser aplicada de acordo com cada caso concreto em que se envolva um
estrangeiro. Ex: o juiz brasileiro em determinados casos pode aplicar lei estrangeira aqui
no Brasil (vide LICC art 7º, § 4º).
2.1– Definição: É o ramo do Direito que estuda a solução de casos jusprivatistas com
presença de elemento estrangeiro.
2.2 - Delimitação:
a) Delimitação Positiva:
- Ramo do Direito Público, pois suas normas defendem o interesse público.
- Soluções: o Direito Internacional Privado é um método de raciocínio para que se possa
determinar a lei aplicável.
- Casos jusprivatistas: o Direito Internacional Privado, embora um ramo de Direito Público,
cuida de casos de Direito Privado, ou seja, casos com participação de estrangeiro nos
âmbitos do Direito Civil e do Direito Empresarial.
- Presença de elemento estrangeiro: Contato com outra ordem jurídica independente.
b) Delimitação negativa:
- Não trata de normas jurídicas de Direito Público, como normas de Direito Tributário,
Direito de Concorrência, Direito Econômico...
- Não trata de normas diretas. Ex: todas as regras que não possuam elemento estrangeiro
que podem ter a indicação de uma lei aplicável.
a) Família do Direito Islâmico: o centro normativo é o alcorão. Há casos que o Brasil não
homologa sentença, como o caso do divórcio por repudia.
b) Família do Direito Socialista: China, Cuba, Angola, Coréia do Norte...O centro do
sistema jurídico continua sendo alei, só muda no plano material (Direito Privado).
3.1– Escolas:
a) Escola Francesa: Diz que o DIPr possui cinco objetos: conflito de leis; conflito de
jurisdição; direitos adquiridos; nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro.
b) Escola Anglo-americana: Para essa escola o DIPr só possui um objeto que é o conflito
de leis. Essa corrente é que é adotada pelo Brasil.
? Então, por esses critérios, conclui-se que o objeto do DIPr é o conflito de leis, por isso
que o Brasil adota a teoria da Escola Ítalo-Germânica.
A mais antiga denominação é “Conflito de Leis”, que ainda é muito utilizada nos países de
língua inglesa (“Conflit of Laws”). A atual denominação que é “Direito Internacional
Privado”, vem do Direito Francês (“Droit International Prive”).
Crítica à denominação:
- O DIPr não é um ramo do Direito Internacional Público
- A natureza do DIPr faz parte do direito interno = normas de direito privado e natureza de
direito público.
- O DIPr tem normas com natureza de direito público.
DIPr DIP
De Direito Internacional
SUJEITOS De direito privado
Privado
FONTES Internas, ex: LICC Tratados
SOLUÇÃO DE Tribunais nacionais mediante
Internacional
CONTROVÉRSIAS arbitragem
Casos jusprivatistas com presença
FINALIDADE Regular a conduta
de estrangeiro
7 – ELEMENTOS DE CONEXÃO
7.1– Conceito:
“São os elementos técnico-jurídicos que indicam a lei aplicável (“centro de interesses”) em
um caso jusprivatista com presença de elemento estrangeiro”.
Para alcançar a lei aplicável, serve-se o Direito Internacional Privado de elementos técnicos
prefixados, que funcionam como base na ação solucionadora do conflito. A esses meios
técnicos, usados pela norma indireta para solucionar os conflitos de leis, denominados
elementos de conexão.
7.2– Espécies:
CRITÉRIO (Útil.
NOME DO ELEMENTO RAMO
Brasil)
Estatuto Pessoal (D. de Família e X
Lex Patriae
Personalidade)
Estatuto pessoal Lei Domicílio (LICC art
Lex Loci Domicili
7º)
Formalidades casamento L. local celebração (7º
Lex Loci Celebrationis
§2º)
Obrigações L. local const. Obrig.
Lex Loci Obligacionis
(9º)
Lex Loci Contractus Contratos L. local const. Cont. (9º)
Lex Rei Sitae D. reais – bens imóveis L. da situação do bem
Mobília Sequntum Bens móveis L. domicílio do
Persona proprietário
Sucessões L. domicílio falecido
Lex Sucessionis
(10º)
Profa. Juliana Ribeiro 5
8.1 – Fato: O direito estrangeiro é considerado como fato, logo, ele não deve ser aplicado,
servindo como mera matéria probatória.
8.2 – Direito: (Brasil) – CPC art. 337 – No Brasil o direito estrangeiro é considerado como
direito, logo, ele deve ser aplicado.
Se a parte alegar direito estrangeiro, o juiz pode pedir a colaboração das partes (auxílio na
prova do teor e vigência do direito). Se a parte não alegar, o juiz deve saber de ofício, ou
seja, se a parte não alega direito estrangeiro, o ônus da prova incumbe a quem alegou
(CPC art. 337).
Como é feita a prova? Através de certidão consular ou parecer de dois advogados
estrangeiros. O Código de Bustamante disciplina a matéria nos arts. 408 a 411. Diz o
código que a parte que alega lei estrangeira poderá provar sua vigência e sentido através
de uma certidão devidamente legalizada, de dois advogados em exercício no país de cuja
legislação se trata. Se a parte não puder provar ou houver insuficiência de provas, o juiz ou
o tribunal poderá solicitar de ofício, por via diplomática, antes de decidir que o Estado de
cuja legislação se trata forneça certidão sobre o texto, vigência e sentido do direito
aplicável.
9.1 – Princípio de ordem pública: São os princípios estruturantes do direito privado. Esses
princípios estão na Constituição Federal, logo, todos eles são princípios de ordem pública.
Então, direito estrangeiro que fere a ordem pública pode até ser válido, mas é ineficaz no
Brasil (LICC art. 17).
Ex 1: Divórcio islâmico: Dá-se pela repudia. O STF não homologa esse tipo de sentença,
pois fere a ordem pública.
Ex 2: Casamento poligâmico: Vale o primeiro casame nto, e os demais são ineficazes para
o ordenamento jurídico brasileiro.
Ex 3: Casamento de pessoas do mesmo sexo.
Ex 4: Dívida de jogo: As decisões têm sido no sentido de que a dívida de jogo contraída no
exterior (em países que o jogo é lícito), pois se entendeu que se está executando uma
obrigação e não instituindo a prática do jogo no Brasil, que aí sim viria a ferir a ordem
pública.
Ex 5: Direito do consumidor: Contratos celebrados na Internet e contratos de “Time
Sharing”, a eleição do foro no exterior, o CDC é ferido, pois segundo o mesmo o foro
privilegiado é o do consumidor.
? LICC art. 16: Esse artigo estabelece limites ao reenvio. No Brasil não há reenvio,
simplesmente aplica-se o direito material estrangeiro e não as normas de conflito, que
podem reenviar para a aplicação de um terceiro país.
O projeto da nova LICC prevê o reenvio, mas só o reenvio do primeiro grau. Ex: O
Brasil diz que a lei aplicável é a francesa, e a lei de DIPr da França remete para a
aplicação da lei alemã.
9.6 – Qualificações:
Qualificar é atribuir existência jurídica, é definir de acordo com a técnica jurídica de
uma legislação. Cada legislação estabelece seus próprios critérios de qualificação, resultando
daí diversidade no enquadramento das instituições, conceitos e relações de direito nos
diferentes ordenamentos jurídicos.
QUALIFICAR = conceituar + classificar
Ex: Domicílio = Brasil – Residência + Animus
Alemanha – Registro
Pode ocorrer o conflito de qualificações quando um sistema classifica um mesmo
instituto de maneiras distintas. Esses conflitos podem surgir tanto na área dos elementos de
conexão do DIPr, tanto no campo do direito material. Na área dos elementos de conexão é
típico o conflito em matéria de domicílio. É, contudo, nas divergências encontradas entre
direitos materiais dos Estados que se acha o núcleo do problema. A solução vai se dar por um
dos elementos de conexão abaixo:
- Lex Fiori: Lei do foro – LICC art. 7º e art 10, II – utiliza-se no Direito de Família, sucessões
e societário.
- Lex Causae: Lei da causa do ato ou negócio jurídico – utiliza-se para os casos que envolvam
bens (LICC art. 8º) e obrigações (LICC art. 9º).
PARTE ESPECIAL:
1 – O Direito de Família:
? Sistema misto: Utilizado pelo Brasil (CF/88 art. 226 § 2º), ou seja, tanto o casamento
civil como o casamento religioso são aceitos como válidos.
? Sistema consensual: Não necessita de formalidades, utilizados em alguns estados
americanos.
LICC art 7º § 3º - O STF diz que é inaplicável, sendo correta a aplicação do art 7º, § 1º da
LICC (lei do local da celebração).
2 – Contratos internacionais:
- CIF (Cost, Insurance and Freight) – o vendedor embarca a mercadoria, mas essa tem que
chegar ao porto de destino, não se responsabilizando pelo desembarque da mercadoria. O
comprador paga somente os custos até o porto. Se a mercadoria se perder, por exemplo, na
aduana, quem perde é o comprador, pois o vendedor é responsável até a chegada no porto.
Daí o comprador pode fazer seguro para possíveis perdas, como a demora na descarrega ou
na aduana.
3 – Sociedades internacionais :
4.1 – Deportação:
O motivo da entrada no Brasil é irregular, nos casos em que cessou o motivo para
permanecer em território brasileiro, estando o estrangeiro em situação irregular no Brasil,
muito embora tenha ele entrado de forma regular.
É um procedimento administrativo que é realizado perante o Ministério da Justiça. Os
critérios para ingresso no país, conforme o entendimento da ONU, dizem respeito à segurança
nacional de cada país, ficando a critério da discricionariedade de cada país estabelecer critérios
para ingresso de estrangeiros em seu país.
Não tem ação contra a negativa de entrada de estrangeiro em um determinado país,
visto que cada país pode estabelecer seus próprios critérios para ingresso em seu território.
A regra é de que uma vez sendo deportado, o estrangeiro não poderá mais retornar ao
Brasil, salvo se a critério de autoridades brasileiras publique-se um decreto revogando a
deportação.
4.2 – Expulsão:
O estrangeiro, nesse caso, está regular no país, mas comete ato contrário à ordem
social e política. Ex: não deve o estrangeiro participar de manifestações contra o governo.
É também definida por critérios discricionários e políticos, pois se deve analisar caso a
caso para saber se a expulsão é devida ou não, o que cabe às autoridades decidir. Tudo
depende da infração que o estrangeiro cometeu. A expulsão também se dá mediante um
processo administrativo perante o Ministério da Justiça.
Não podem ser expulsos os nacionais e os naturalizados que têm esposa e/ou filhos
brasileiros. Na hipótese da esposa, poderá ser expulso se a deixá-la.
Uma vez expulso, em regra, não se pode mais retornar ao Brasil, salvo se
posteriormente o mesmo editar um decreto revogando o decreto de expulsão. Retorna-se
antes disso, constitui crime previsto no art. 338 do Código Penal.
4.3 – Extradição:
Um indivíduo é enviado a outro país onde cometeu um crime. O país onde foi cometido
o crime pede a extradição para julgar o crime, independente da nacionalidade do criminoso,
pois as leis penais têm eficácia apenas territorial.
Profa. Juliana Ribeiro 11