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In: LE GOFF,
Jacques; NORA, Pierre (dir.). História: novos objetos. 4.ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1995, p. 199 - 215.
Alguns (poucos) anos agitados por guerras e revoluções fizeram com que o
instituto da censura fizesse a que os governos e o status quo percebessem que
o cinema fascina e inquieta, e que em decorrência disso, pode desempenhar
um efeito de natureza corrosiva e desetruturar o edifício ideológico montado
por veneráveis instituições que vieram contribuindo ao longo de incontáveis
gerações nos campos da teoria do Estado, da ciência jurídica, da Educação.
Tudo que afinal era sólido, podia se desmanchar no ar, pela simples projeção
pública de uma película em uma sala escura, pois os registros fílmicos revelam
bem além daquilo que seus exibidores pretendiam mostrar.
Marc Ferro insiste no ponto que um determinado rótulo ou letreiro pode ter
como objetivo real a constituição de uma espécie de biombo, a mascarar o real
significado de determinada obra cinematográfica. A partir disso se torna
possível a crítica a uma determinado regime político, o desmascaramento a
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tradições da sociedade inscritas e tacitamente aceitas desde priscas eras. O
potencial do cinema foi explorado nos primeiros dias da revolução russa, expõe
o autor, chancelado por Anatol Lunatcharski, ministro da cultura do governo
dos bolcheviques, que levou às telas ‘Uplotnenie’ (Estreitamento), produção
estatal que intencionava representar nas telas a necessidade de fusão entre o
proletariado e a classe intelectual. Em razão da importância assumida pela
propaganda cinematográfica, logo veio a público o primeiro filme anti-soviético,
‘Dias de terror em Kiev’, de autor desconhecido, mas promovido pelas
autoridades alemãs que na época, ocupavam parte do território russo. Ainda
em termos ficcionais, ‘Outubro’, de Sergei Eisenstein e ‘O fim de São
Petersburgo’, de Pudovkin, ofereceram à análise de Marc Ferro, argumentos de
que “...um filme, qualquer que seja, sempre excede seu conteúdo...[o que
permite ao historiador]...atingir cada vez um zona da história que permanecia
oculta, inapreensível, não-visível”.
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