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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO
ISCED/ LUANDA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
SECTOR FILOSOFIA
Opção: Filosofia
1
ÍNDICE
DEDICATÓRIA…………………………………………………………………………I
AGRADECIMENTOS...………………………………………………………………. II
RESUMO...…………………………………………………………………………….III
SUMMARY……………………………………………………………………………IV
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3
CAPITULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DEFINIÇÃO DE ALGUNS TERMOS E
CONCEITOS. ............................................................................................................................... 9
1.1. Pragmatismo ........................................................................................................................... 9
1.2. Práxis ...................................................................................................................................... 9
1.3. Perspectivismo ..................................................................................................................... 10
1.4. Revisão bibliográfica............................................................................................................ 10
CAPITULO II – A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA VIDA DO CIDADÃO .................. 12
2.1.1. Campos da filosofia........................................................................................................... 14
2.1.2. As revoluções filosóficas. ................................................................................................. 16
2.2. A importância da filosofia. ................................................................................................... 19
2.2.1. A sabedoria........................................................................................................................ 21
CAPITULO III. O PAPEL DO FILÓSOFO NA PÓLIS. ........................................................... 27
3.1. Relação entre Filosofia e Política. ................................................................................... 33
3.1.1. Os filósofos e os políticos ........................................................................................... 33
3.1.2. Os filósofos na “Política” ............................................................................................ 34
3.2. O PAPEL DO FILOSOFO EM LUANDA ..................................................................... 37
3.2.1. Saber e viver ...................................................................................................................... 38
3.2.1. A Filosofia como emprego. ......................................................................................... 39
3.2.2. O culto do "gênio". ...................................................................................................... 42
3.2.2. A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO FILÓSOFO ..................................................... 45
3.3. O ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO............................................................................ 51
3.3.1. MÉTODOS CONTEMPORÂNEOS DE ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO. .......... 52
3.3.1.1. O Método Progress. ........................................................................................................ 52
3.3.1.2. O Método «PROJECT».................................................................................................. 53
DIFERENÇA ENTRE O ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO E O PSICOTERAPÊUTICO
..................................................................................................................................................... 55
CAPITULO V. O FIM DA FILOSOFIA? .................................................................................. 56
CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 60
SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES. ..................................................................................... 62
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 64
ANEXOS
CASOS PRÁTICOS DE ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO INDIVIDUAL
1. O CASO PARADIGMÁTICO: de John e os métodos Progress e Peace
2. Caso de Soraia
3. Caso de Christina
4. Caso de Dino
5. Caso de João
6. Caso de Maria
2
INTRODUÇÃO
As observações terão em vista os, que, pelo uso da palavra e pela formulação
explícita de ideias gerais, puderam ou podem tentar influir na evolução da sua sociedade
e no curso da História. A sua lista é imensa, as questões que as suas palavras ou actos
levantaram são ilimitadas. Portanto remete-se para a breve discussão três pontos
essenciais:
Formulação do problema.
3
Muita gente tem a ambição de ajudar a tornar o mundo, mas há muito poucos,
como os filósofos, que têm um compromisso específico para com esses ideais mais
austeros. É essencial que esse compromisso seja respeitado e mantido, em vez de ser
abandonado ou diluído noutros compromissos em relação a outras ideias ainda que estas
sejam também validas e importantes, mas às quais outras pessoas se podem dedicar.
A verdade de que a filosofia anda arredada da vida das pessoas, em Angola esta
afirmação é confirmada pelos comentários que revelam grande desconhecimento do
papel da filosofia.
1
Todas as investigações partem de um problema a investigar [Giddens 2007: 644]
4
Importância do estudo.
A escolha deste problema decorre do facto de, por um lado, a filosofia está em
crise não só porque está deslocada da sociedade mas também porque uma grande parte
dos filósofos estão deslocados da própria filosofia.
Por outro lado, o facto de que muitas vezes foram as vezes em que ouvimos
professores Universitários dizerem que a filosofia não serve para nada e deveria ser
retirada dos currículos de ensino.
Outro aspeto que nos motivou a abordar esta temática é o facto de ao longo do
tempo, as pessoas continuarem questionando para que serviria a Filosofia. As respostas
que se obtém à medida que se fala com diversos professores, profissionais de várias
áreas, alunos universitários e do ensino secundário provocam alguma confusão.
Esta é uma realidade idêntica, ou mesmo, operacional a nossa, uma vez que, a
discussão sobre a aplicação da filosofia não tem ganho muito interesse no âmbito da
comunidade filosófica nacional. E o resultado das poucas discussões tem-se
desenvolvido mais numa dimensão da desconstrução do outro, do que trazer a superfície
a realidade deste grupo académico em Angola. De facto a filosofia enquanto ciência tem
sido apresentado como bode expiatório da ociosidade académica da sociedade angolana.
Objectivos do estudo:
Os objectivos são linhas que tendem para um ponto que se deseja atingir, ou
seja, são resultados que se pretende alcançar. Assim o nosso trabalho traça os seguintes
objectivos:
5
Objectivo geral:
Objectivos específicos:
H1. A filosofia é importante na vida do cidadão porque ela busca uma unidade,
uma síntese de todo conhecimento humano, de tal maneira que haja uma possibilidade
de que em qualquer necessidade de expressão, se seja a mesma pessoa e coerente com a
visão do universo e com a visão de vida pessoal.
H2. A filosofia tem o papel de encontrar uma síntese do sentido da vida dos
cidadãos e pode colaborar na construção do equilíbrio da dimensão profissional como
componente da vida pessoal.
6
A delimitação do campo de estudo está mais condicionada à vontade do
pesquisador do que a limitação. A delimitação tem de ser levada em conta para evitar
generalizações improprias, inadequadas dos resultados.
METODOLOGIA
Técnicas e instrumentos.
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, usou-se:
Pesquisa Bibliográfica: elaboração a partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material
disponibilizado na Internet.
Modelo de pesquisa.
Este modelo considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que
não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados
e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar
7
seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de
abordagem
Método
A realidade não é tida como algo objetivo e passível de ser explicado como um
conhecimento que privilegia explicações em termos de causa e efeito.
8
CAPITULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DEFINIÇÃO DE ALGUNS
TERMOS E CONCEITOS.
1.1. Pragmatismo
O Pragmatismo é antes de tudo um método, do qual decorre uma teoria da
verdade. Para os pragmatistas, a vontade antecipa-se ao pensamento. O conhecimento é
concebido como essencialmente modificador da realidade, portanto, a construção da
verdade deve corresponder à construção da própria realidade. Conhecimento e acção se
convertem em termos equivalentes. O eixo central da teoria pragmatista é a ênfase na
utilidade "prática" da filosofia.
1.2. Práxis
Conceito empregado na filosofia marxista para designar um conjunto de acções
orientadas para a transformação do mundo.
9
1.3. Perspectivismo
A realidade, como uma paisagem, pode ser vista a partir de inúmeras
perspectivas, todas verdadeiras. A única perspectiva falsa, segundo a filosofia
perspectivista, é exactamente a que pretende ser única. A ingenuidade das filosofias
estáticas consistiria em ignorar que interpretam o mundo como se o filósofo não
estivesse situado no tempo e no espaço, mas fosse "uma pupila anónima aberta para o
universo".
10
Um autor fundamental neste itinerário formativo do conselheiro filosófico é
Montesquieu, cuja obra Elogio da Sinceridade. O autor francês refere logo no início a
importância dos estóicos em matéria de filosofia aplicada, sobre tudo porque
aconselhavam as pessoas a «auto-conhecerem-se». No entanto, as críticas vêm logo a
seguir porque para Montesquieu, o caminho não era por ai……em vês da especulação
teórica, o filósofo deveria exercitar-se na prática da sinceridade. Em matéria de ética
pessoal, a sinceridade torna-se uma virtude que transporta o indivíduo para uma
satisfação interior, baseada na transparência da consciência e na paz do sentimento. É
assim que vive, na sua intimidade, o homem de bem, e na vida pública o grande herói.
"Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer, é olhado como o
perturbador do prazer público". (MONTESQUIEU)
As críticas deste filósofo francês são realmente duras mas provavelmente por
essa mesma razão por ser tem demasiado reais em pleno século 21 Interessa-nos a
filosofia aplicada de Montesquieu nomeadamente as suas referências éticas, sobre tudo
porque, ao nível da análise pessoal nos fornece preciosos elementos para a prática do
aconselhamento. O exercitar constante da sinceridade, em nome da verdade como valor
máximo tem com a consequência a tranquilidade da consciência que por sua vez conduz
a felicidade.
11
CAPITULO II – A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA VIDA DO CIDADÃO
A filosofia existe há 26 séculos. Durante uma história tão longa de tantos
períodos diferentes, surgiram temas, disciplinas e campos de investigação filosóficos
enquanto outros desapareciam. Desapareceu também a ideia de Aristóteles de que a
filosofia era a totalidade dos conhecimentos teóricos e práticos da humanidade.
No século XX, a Filosofia foi submetida a uma grande limitação quanto à esfera de
seus conhecimentos. Isso pode ser atribuído a dois motivos principais:
1. Desde os finais do século XVIII, com o filósofo alemão Emanuel Kant, passou a
considerar-se que a filosofia, durante todos os séculos anteriores, tivera uma
pretensão irrealizável: “As de que nossa razão pode conhecer as coisas tais como
são em si mesmas”. Esse conhecimento da realidade em si, dos primeiros
princípios e das causas de todas as coisas chama-se Metafísica.
Kant negou que a razão humana tivesse tal poder de conhecimento e afirmou que só
conhecemos as coisas tais como são organizadas pela estrutura interna e universal de
nossa razão, mas nunca saberemos se tal organização corresponde ou não a organização
em si da própria realidade. Deixando de ser metafísica, a filosofia se tornou o
conhecimento das condições de possibilidade do conhecimento possível para os seres
humanos racionais. A filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria
sobre a capacidade e a possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das
condições de possibilidade da acção moral enquanto realizada por liberdade e por dever.
Com isso, a filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e tornava-se apenas
conhecimento do homem como ser racional e moral.
12
etc.). As ciências, dizia Comte, estudam a realidade natural, social, psicologia e
moral e são propriamente o conhecimento. Para ele, a filosofia seria apenas uma
reflexão sobre o significado do trabalho científico, isto é, uma analise e uma
interpretação dos procedimentos ou das metodologias usadas pelas ciências e
uma avaliação dos resultados científicos.
13
sustentaram a Filosofia e o pensamento dito ocidental: Razão, saber, sujeito, objecto,
historia, espaço, tempo, liberdade, necessidade, acaso, natureza, homem, etc.
Já no início dos anos 20, com as obras dos filósofos Wittgenstein e Heidegger, a
ideia da metafísica como conhecimento da realidade última dos seres foi contestada e
acabou cedendo o lugar ao papel da linguagem na invenção dos próprios seres e dos
objectos de conhecimento.
Entre os anos 1960 e 1980, a obra do filósofo francês Michel Foucault expressava
todas as críticas que o século XX vinha fazendo ao racionalismo moderno, a sua
concepção de metafísica, história, ciência e cultura.
Com isso, podemos dizer que o pós-modernismo veio sendo gerido no interior da
Filosofia até o momento em que, nos anos 1980, pôde finalmente expressar-se como
uma oposição filosófica.
14
determinam a forma dos discursos ou argumentos tanto para a demonstração científica
verdadeira como para os discursos não-científicos; regras para a verificação da verdade
ou falsidade de um pensamento ou de um discurso, etc.);
Ética (estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão,
vontade e razão; finalidades e valores da acção moral, ideias de liberdade,
responsabilidade, dever, obrigação.);
Filosofia da arte ou estética (estudo das formas de arte, do trabalho artístico; ideia de
obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre arte e
sociedade, arte e política, arte e ética.);
15
linguagem quotidiana à filosófica, à literária, à científica; diferentes modalidades de
linguagem como diferentes formas de expressão e de comunicação.);
16
A terceira grande revolução ocorreu mais ou menos na mesma época na Grã-
Bretanha. John Locke e David Hume haviam aplicado a metodologia científica de seu
predecessor do século XVII, Francis Bacon, elaborando um sistema filosófico
conhecido como “empirismo”. Segundo os empiristas, só podíamos conhecer o que
estava no âmbito de nossa experiencia. A razão por si mesma não era capaz de descobrir
nada de novo, mas meramente de rearticular o conhecimento já fornecido pelos
sentidos.
17
“Que a questão de onde localizar o eu consciente era um “erro de categoria”
do tipo cometido por alguém que visita as faculdades de uma Universidade e pergunta
onde fica a “universidade”, ou contempla uma procissão de batalhões e regimentos e
pergunta quando o “exército” vai desfilar.
Hoje os filósofos ocidentais estão imbuídos de todas essas mudanças, mas uma
em particular arrebatou sua imaginação nos últimos anos: a promessa empirista de uma
filosofia “científica”.
Os filósofos nunca obtêm reconhecimento por seus sucessos, pois assim que
fazem um progresso real sobre um problema, este é retirado de suas mãos e entregue a
novos guardiões. Sir. Isaac Newton escreveu os Principia, e Adam Smith escreveu A
riqueza das nações como filósofos, mas hoje são lembrados como físico e economista,
respectivamente. O pensador contemporâneo Noam Chomsky é descrito ao mesmo
tempo como filósofo e fundador da linguística, mas a primeira metade de seu título será
um dia abandonada pelas enciclopédias.
Esse destino conduziu à proposição recente de que, como a filosofia parece ter
sucesso ali onde da origem a novas ciências, toda a disciplina deveria ser transformada
numa ciência. Pedir que o pensamento seja conduzido sempre e unicamente de acordo
com os princípios científicos rigorosos significaria que alguns assuntos – aqueles sobre
os quais menos sabemos – nunca seriam tratados e nenhuma disciplina se desenvolveria.
18
ocasionalmente, ela resolve um problema sem gerar uma nova disciplina, e, por vezes,
isso ocorre porque o problema foi dissolvido e não resolvido.
2
CARAÇA, Bento de Jesus, Conceitos fundamentais de matemática, Lisboa, 1975, pp 108
19
As exigências fundamentais do quadro explicativo da ciência são:
2.ª – Exigência de acordo com a realidade: Os homens pedem a ciência que lhes
forneça um meio, não só de conhecer, mas de prever fenómenos – quanto maior for a
possibilidade de previsão, maior será o domínio deles sobre a natureza; quem sabe
prever sabe defender-se melhor e, além disso, pode provocar a repetição para o seu uso,
dos fenómenos naturais.
A ciência não tem, nem pode ter, como objectivo descrever a realidade tal como
ela é. Aquilo a que ela aspira é construir quadros racionais de interpretação e previsão; a
legitimidade de tais quadros dura enquanto perseverar o seu acordo com os resultados
da observação e da experimentação.3
O grande sábio que foi Berthelot exprimia, sobre este assunto, as convicções do
final do século XIX. A ciência escrevia ele: “reclama hoje, simultaneamente, a direcção
material e a direcção moral das sociedades. Sob o seu impulso, a civilização moderna
avança cada vez mais rapidamente”.»5
Nesta frase Sócrates, resume o trabalho da filosofia, como ele a desenvolveu. Ele
trabalhou a filosofia no sentido de uma investigação de questões morais dos atenienses e
dele próprio. Era uma espécie de auto-conhecimento, mas não no sentido psicológico,
3
GRÁCIO, Rui Alexandre, GIRÃO, José Manuel – Introdução à Filosofia, Razões em Jogo 11º ano, Texto
Editora, 1998
4
M. M.ª Carrilho, Jogos de Racionalidade, edições ASA, P38.
5
CUSDORF, George – Mythe et Métaphysique, Flammarion, Paris, 1984, pp 322
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ou sentido moral, cívico, mas no sentido do que podemos fazer para nos conduzirmos
correctamente na vida? Ou melhor, o que devemos saber para melhor portarmos na vida
e sermos felizes?
Mas a filosofia não tem só essa resposta em relação ao para que serve. Quando
estamos diante de um problema como esse que vivemos agora, em que o mundo todo
discute do aquecimento global. Os cientistas podem ter respostas técnicas como: o que
devemos fazer para que o mundo não pereça? Mas a condução destas respostas, a
avaliação dessas respostas, o convencimento de que uma resposta é melhor do que a
outra para os políticos e homens de negócios, recai no papel do filósofo.
O filosofo tem uma visão geral, global e critica para expor questões, ele entra no
debate portanto com uma utilidade clara, à de entender o fenómeno do aquecimento
global e quanto ele é perigoso agora ou mais para diante.
A razão é una, e múltipla como a filosofia, como os usos da filosofia.6 Hoje temos uma
visão académica da filosofia, a visão que se propõe sobre filosofia nesta tese difere um
pouco, ela fundamenta-se na filosofia a maneira clássica.
2.2.1. A sabedoria
Pitágoras falava que não era sábio, estava buscando a sabedoria, porque ele não
tinha sabedoria. Essa é uma condição fundamental para quem busca a sabedoria, saber
que não tem. Esse é um ponto importante, pós ele mostra que qualquer ser humano quer
a sabedoria, quer buscar um conhecimento, quer saber um pouco mais do que sabe, tem
6
- Centro de Estudos em Filosofia Americana, 31 de Janeiro de 2007, São Paulo.
21
uma curiosidade natural, isso distingue muito o ser humano em relação a outras
espécies.
A filosofia é para todos aqueles que querem a sabedoria. Não se quer apenas
buscar a sabedoria, quer-se encontra-la também, e o entendimento é, que embora a
sabedoria é a meta final, ela só vai ser atingida se na medida em que se busca, se
encontre algum grau de sabedoria que possibilita aplica-la no dia-a-dia.
Religião Politica
FILOSOFIA
Arte Ciência
Fig. 01
Temos de ter um conhecimento que nos possibilita lidar com qualquer uma das
quatro (4) necessidades específicas de expressão. Isto é, ainda que a nossa tónica de
expressão seja religiosa, temos de ter um conhecimento para que quando descubramos
algo do ponto de vista religioso ou uma lei aplicada a religião, possamos aplica-la ao
nível político e assim por diante.
22
Curiosamente a ciência também busca uma lei que possibilita sintetizar o
conhecimento que ela comporta/abrange. Quando ela estuda a movimentação dos
corpos no universo na micro e macro matéria ela percebe a presença de quatro (4)
elementos, que ela hoje classifica como: força gravitacional; força magnética; força
nuclear fraca e força nuclear forte. Mas a ciência não tem uma lei ou uma fórmula que
sintetize numa visão a relação entre estas forças. A filosofia busca uma lei que sintetiza
tudo.
Sabe-se que cada ser humano tem as quatro (4) dimensões de expressão,
analisando em qualquer coisa.
A vida como precisa dessas quatro expressões equilibradas, quando não se tem a
síntese criamos uma vida que parece Frankenstein7. Porque as vezes desenvolvemos
uma área apenas do conhecimento, então as vezes temos um cientista maravilhoso e
desequilibrado, ou um religioso que não entende a vida do ponto de vista político e
cientifico e vira fanático.
A filosofia se propõe ao mundo das causas, mas não fica preso somente no
mundo das causas. Não é só uma compressão da tradição através de uma sistematização
do conhecimento e de uma dialéctica, não é só uma preocupação profunda
7
Frankenstein, personagem-monstro no livro de Mary Shelley; a criatura que destrói o criador
23
(dialecticamente falando), tem de dar-se um passo a mais, temos de aprender a aplicar
esse conhecimento na vida em todo o contexto de vida.
É muito importante essa liberdade do pensamento para o filósofo, mais hoje não
temos liberdade de pensamento em geral.
Política classicamente é uma forma de relação perfeita dos seres humanos, onde
tem-se de encontrar as regras perfeitas de relacionamento dos seres humanos, da mesma
forma que o organismo encontra a forma perfeita de relacionamento entre as células,
altamente distintas e de funcionalidade distintas.
Arte: hoje é quase que dogmático total, para começar só algumas pessoas
entendem de arte. Então a uma visão de que não se pode pensar sobre artes, tem de se
fazer um curso ou consultar um especialista.
Cada época tem a sua tónica predominante, algumas civilizaçõs têm uma tónica
predominatemente religiosa, onde o religioso é o único que tem o direito de interpretar a
realidade. Tivemos por exemplo a idade media onde a terra era plana, e quem assim não
pensasse corria o risco de ir ao santo oficio.
Tem épocas que criam-se alienações, hoje temos uma alienação muito grande do
ponto de vista científico.
24
que matéria concreta(electrões e átomos) são apenas 5% do universo e o resto é algo
desconhecido alguns chamam de energia negra e outros de matéria negra(não tem
electrões nem átomos).
O filósofo cria uma teoria para fazer uma síntese de toda vida e testa-as na vida.
Ética: é quando temos uma concepção visando a unidade das coisas, uma relação
perfeita entre os seres humanos, uma relação perfeita do homem com sigo mesmo, uma
relação perfeita do homem com o universo. E a aplicação disso, para ver se estou de
facto correcto e para que também ganhe na vida chama-se moral.
O sentido da vida, não é fazer Coisas, mas fazer com que o homem chegue cada
vez mais ao grau mas elevado de sabedoria, para que ele possa cada vez mais aproximar
mais e mais do conceito dos mistérios da vida, saiba interpretar os mistérios da vida.
Quem não domina os mistérios da vida aliena-se deles e cai num existencialismo
em que nunca pensa na morte até que seja tarde. Essa é a vertente religiosa mal
trabalhada dentro das pessoas.
25
Então usando o senso comum temos o conhecimento teórico, pratico e a
convicção (fé, segurança), temos de desenvolve-la, essa é a função da educação.
Toda a experiencia de vida tem sentido porque nos faz crescer de algum modo.
Podemos integrar todas as experiencias de vida, algumas mas belas “sob o ponto de
vista da personalidade) e as vezes a mais difícil faz mas sentido.
Para a filosofia o sentido não é somente onde se quer chegar. Isto é, se quer-se
chegar a sabedoria tem que se aprender alguma coisa a cada actitude de vida, atingir um
grau de sabedoria.
Então a arte, politica, religião e a ciência são faces que podemos traduzir a
realidade.
Tem muitas coisas que podemos entender logicamente, mas o universo não pode
ser interpretado logicamente. Essa visão de síntese que não precisa de uma lógica
chama-se arte.
Esse tipo de coisas faz com que o nosso sistema de educação treine o homem
para fazer coisas, e não para crescer como ser humano. Está treinando máquinas de
produção e não faz com que o homem faça síntese elevada de vida que integra todas
suas necessidades.
O CORPO SOCIEDADE
Cérebro Pessoas que pensam para a cidade
Coração Centro de decisão da cidade
Veias onde circulam a comida Ruas em que circulam pessoas e bens.
Glóbulo branco Sistema de defesa da cidade.
Etc. Etc.
26
CAPITULO III. O PAPEL DO FILÓSOFO NA PÓLIS.
A Filosofia tal como a ciência, têm também um processo metodológico para a sua
aprendizagem. E é muito parecido com qualquer outro sistema de ciências “ditas”
aplicadas.
A filosofia não se prende em campos racionais, ela usa a razão como elemento de
preparação, de aplicação para as ideias. O filosofo quer traduzir ideias em conceitos e
conceitos em forma de vida.
8
SÁ, António Lopes de, Ética Proffissional 9ª edicção Revista e Ampliada, Editora ATLAS S.A. 2010, Pg.
133.
27
transformação radical da sociedade como sociedade política, instaurado não só a
participação formal, mas a paixão de todos pelos assuntos comuns. Ora, seres humanos
sábios é a última coisa que a cultura actual produz. 9
9
Puplicado em Lettre internacionale, nº 15, 1987, e, em inglês, em Salmagundi, nº 80, 1988
10
Assembleia Política na Grécia antiga.
11
Magistrados das cidades gregas (N. da T.)
12
Povo. Circunscrição administrativa na antiga Grécia (N. da T.).
28
participantes viverem num mundo de miragens incoerentes, o que Sócrates demonstra
constantemente.
Evidentemente que a cidade até isso poderia ter admitido, fizera-o durante muito
tempo, com Sócrates e com outros. Mas Sócrates sabia perfeitamente que teria, mais
tarde ou mais cedo, de prestar contas da sua prática; não tinha necessidades que lhe
preparassem uma apologia, disse, porque passara a vida a reflectir na apologia que
apresentaria se o acusassem. E Sócrates não só aceita o julgamento do tribunal formado
pelos seus co-cidadãos; o seu discurso no Críton, que tantas vezes é visto como um
arrazoado moralizante e edificante, constitui um magnífico desenvolvimento da ideia
grega fundamental de formação do indivíduo pela cidade: polis andra didaskei, é a
cidade que educa o homem, escrevia Simónidas.
Platão retira-se da cidade, e é as suas portas que estabelece uma escola para
discípulos seleccionados. Não há notícia de que tenha participado em alguma campanha
militar. Não se lhe conhece a família. Não fornece a cidade que o alimentou e o fez
aquilo que é, nada do que qualquer cidadão lhe deve: nem serviço militar, nem filhos,
nem aceitação de responsabilidades públicas. Calunia Atenas da forma mais extrema:
graças ao seu imenso talento de encenador, de retórico, de sofista e de demagogo,
conseguira impor para os séculos vindouros esta imagem: os homens políticos de
Atenas – Temístocles, Péricles eram demagogos, os seus pensadores uns sofistas (no
sentido que impôs), os seus poetas uns corruptores da cidade, ou seu povo um vil
rebanho entregue às paixões e ilusões. Falsifica deliberadamente a história, é o primeiro
inventor dos métodos estalinistas neste domínio: se só conhecemos a história da Atenas
por Platão (3.º livro das Leis) ignoraríamos a batalha da Salamina, vitória de
Temistocles e da desprezível demo dos remadores. Platão afirma:
13
Platão, carta VII, 326 a.b
29
experiencia grega precedente, em que os filósofos tinham mostrado uma phronesis, uma
sageza exemplar no agir – o primeiro a exibir a inépcia essencial que desde essa altura
tantas vezes caracterizará filósofos e intelectuais face a realidade política. Quer ser
conselheiro do príncipe, - nunca mais deixou de ser assim, e falha lamentavelmente,
porque, apesar de fino psicólogo e de admirável retratista, toma as bexigas por lanternas
e o tirano Dinis de Siracusa por um rei-filosofo em potência, como, vinte e três séculos
mais tarde, Heidegger tomará Hitler e o Nazismo pelas encarnações do espírito do povo
alemão e da resistência historial contra o domínio da técnica. É Platão que inaugura a
era dos filósofos que se retiram da cidade mas, ao mesmo tempo, possuidores da
verdade, querem ditar-lhe leis desconhecendo totalmente a criatividade instituinte do
povo, e que, impotentes politicamente, têm a suprema ambição de se tornar conselheiros
do príncipe.
Porém, não é Platão, e com razão, que começa essa outra deplorável parte da
actividade dos filósofos face a história: a racionalização do real, isto é, a legitimação de
facto dos poderes existentes.
30
advento do ser e doação/destino de e por este. É preciso acabar com a benevolência
eclesiástica, académica e literária.
Claro que estas atitudes tendem a separar o seu sujeito da grande massa dos seus
contemporâneos. Mas há separação e separação. Só nos livraremos da perversão que
caracterizou o papel dos filósofos desde Platão e do novo há setenta anos a esta parte, se
o filósofo voltar a ser cidadão. Um cidadão não é (não necessariamente) “militante do
partido”, mas alguém que reivindica activamente a sua participação na vida pública e
nos assuntos comuns ao mesmo titulo que todos os outros.
Aqui surge claramente uma antinomia, que tem solução teórica, que só a
phronesis, a sageza, pode permitir ultrapassar. O filósofo deve querer-se cidadão como
os outros querer-se também porta-voz, legitimamente, da universalidade e da
objectividade que a universalidade lhe permite; deve reconhecer, e não apenas
formalmente, que o que tenta fazer compreender é ainda a doxa, uma opinião, não uma
epistemé, uma ciência. Precisa sobretudo de reconhecer que a história é o domínio em
que se expande a criatividade de todos, homens e mulheres, sábios e analfabetos, de
uma humanidade na qual ele próprio não passa de um átomo. E isso não deve tornar-se
pretexto para avalizar sem crítica as decisões da maioria, para se inclinar perante a força
por ser maioritária. Ser democrata, é poder, se assim o entender, dizer ao povo:
“enganam-se”, também isso lhe deve ser exigido. Sócrates conseguiu fazê-lo, no
processo dos Arginuses: o caso parece evidente, bem vistas as coisas, e Sócrates podia
apoiar-se numa regra de direito formal. As coisas são muitas vezes bastante obscuras.
Também aqui, só a sageza, a phronesis, o gosto podem permitir separar o
31
reconhecimento da criatividade do povo e a cega adoração da “força dos factos”. E não
se admirem de encontrar o termo gosto no fim dos meus comentários. Bastaria ler cinco
linhas de Estaline para compreender que a revolução não podia ser aquilo.
A questão de base para o filósofo é: como é que se fala verdade? Que verdade?
Para quem e onde? Infelizmente, devemos entender que não há nenhum sistema ou
método suficientemente abrangente e seguro para fornecer ao intelectual resposta
directas a estas questões. No mundo secular, o filósofo tem apenas recursos seculares
para trabalhar; a revelação e a inspiração, embora perfeitamente possíveis como modos
de compreensão na vida privada, são desastrosas e mesmo bárbaras quando postas a
funcionar por homens e mulheres de espírito teórico. De facto, o filósofo tem de estar
envolvido numa disputa perpétua com todos os guardiões de visões cujas depredações
são inúmeras e cuja mão pesada não tolera o desacordo e certamente nenhuma
diversidade.
32
concordância maior com um conjunto de princípios morais (paz, reconciliação,
diminuição do sofrimento) aplicado aos factos conhecidos. A isto o filósofo pragmatista
americano C.S. Pierce chama de abdução e tem sido usado efectivamente pelo bem
conhecido intelectual contemporâneo Noam Chomsky14.
14
Noam Chomsky, Language and Mind, Nova Iorque, Harcourt Brace Jovanovich, 1972, Pág. 90-99.
33
causa de vosso mau carácter, não deveis imputar esse destino aos deuses, pois vós
mesmos apoiastes inimigos e os engrandecestes; por isso vós suportais a dura
escravidão. Cada um de vós segue as pegadas da raposa e no entanto em conjunto
tendes a mente insensata. Estais atentos às falas e às palavras suaves de um adulador e
não tendes a mínima preocupação com os seus actos”15.
15
DL I, 52
34
O primeiro de que se tem notícias é Arquitas, filosofo pitagórico que, segundo
escreve Diógenes Laércio, foi por sete vezes estratego 16 de seus concidadãos, enquanto
outros não conseguiram permanecer no comando por mais de um ano. Mereceu a
admiração da maioria dos homens por ser dotado de todas as formas de excelência.
16
Actividade que consiste em integrar os objetivos, políticas, e sequências de acção (táctica) num todo
coerente da cidade.
17
DL, Livro VII, 122
18
MARCO AURÉLIO, meditações. Trad. De Jaime Bruna. Coleção “Os Pensadores”, Livro II, 5. São Paulo,
Abril Cultural, 1973.
35
De forma mais consistente e sustentada, os filósofos que estão próximos da
definição de políticas e conseguem controlar o proteccionismo do tipo que dá ou retira
empregos, subsídios, promoções têm tendência a vigiar os indivíduos que não se
submetem profissionalmente e que, aos olhos dos seus superiores, começam aos poucos
a irradiar controvérsia e não-cooperação. É provável que se alguém quer um trabalho
feito, deve rodear-se de pessoas de confiança que partilhem dos mesmos pressupostos e
falem a mesma língua.
A questão de base para o filósofo: como é que se fala verdade? Que verdade?
Para quem e onde?
36
americano C.S. Pierce chama de abdução e tem sido usado efectivamente pelo bem
conhecido intelectual contemporâneo Noam Chomsky19.
É difícil enfrentar essa ameaça por si só, sendo ainda mais difícil encontrar uma
forma de se ser coerente com as suas crenças, e ao mesmo tempo permanecer
suficientemente livre para evoluir, mudar de opinião, descobrir coisas novas, ou
redescobrir o que outrora se havia posto de parte. O aspecto mais complicado de se ser
um intelectual é representar aquilo que se defende através do trabalho e de intervenções,
sem petrificar numa instituição ou tornar-se num tipo de autómato actuando por ordem.
Todo aquele que tenha sentido a satisfação de ser bem-sucedido ao agir assim e
de igual modo bem-sucedido ao manter-se atento e firme, saberá apreciar quão rara é
esta convergência. Mas a única forma de alguma vez o conseguir é recordando-se
constantemente de que, enquanto filósofo, existe a opção entre representar a verdade de
forma activa e da melhor maneira que se é capaz ou, de forma passiva, resignar-se a ser
governado por uma autoridade ou poder. Para o intelectual secular, esses deuses falham
sempre.
O termo filósofo saiu da moda. Quando as palavras saem da moda, as coisas que
elas designam ficam boiando no abismo dos mistérios sem nome; e como tudo o que é
misterioso e inexprimível oprime e atemoriza o coração humano com uma sensação de
cerceamento e impotência, é natural que a atenção acabe por se desviar desses tópicos
nebulosos e constrangedores. Pois o que desaparece do vocabulário logo acaba por
desaparecer da consciência: o que não tem nome não é pensável, o que não é pensável
não existe — tal é a metafísica dos avestruzes.
19
Noam Chomsky, Language and Mind, Nova Iorque, Harcourt Brace Jovanovich, 1972, Pág. 90-99.
37
nomear, eis o homem devolvido a todos os terrores que ele imaginava primitivos, mas
que são uma pura criação da mais avançada e requintada decadência: o barbarismo
artificial.
É algo assim que acontece com aquela coisa designada pela palavra "ideal" —
uma palavra obviamente fora de moda, cujo significado perde realidade com a rapidez
com que perde sangue um decapitado.
Essa síntese permanece viva e atuante até o fim do mundo antigo, na escola
estóica e no neoplatonismo. Na Idade Média, ganha ainda mais peso e consistência,
graças à associação que se forma entre o estudo da Filosofia e a prática da moral cristã.
Levando às últimas consequências o ideal grego de cultivo da sabedoria, a Filosofia
medieval torna-se um caminho de santidade, realizando a máxima de Clemente de
Alexandria: "A Filosofia é o pedagogo que conduz a alma até o Cristo". Concepção
similar desenvolve-se no mundo islâmico, onde a Filosofia se alia, na fraternidade de
Basra e em outras escolas de mística, a práticas ascéticas destinadas a obter a máxima
concentração da alma e torná-la plenamente dócil a evidências cada vez mais altas que
lhe vão sendo reveladas pela intuição espiritual.
38
nem Leibniz, nem Newton podiam conceber uma ciência que fosse desligada do
autoconhecimento e do cultivo das virtudes.
A habilitação das classes pode ser legal ou consagrada pelos usos e costumes,
geralmente, a limitação legal ocorre em decorrência de graus maiores de
responsabilidade. Sócrates afirma:
Sócrates disse: “Eu sou a mosca de Atenas” porque ele perturbava toda a Atenas,
então certamente, se a actividade do filósofo é perturbar, ela não é um tédio. Para
entendermos o que faz um filósofo de maneira muito simples, observemos o Karl Marx
em 1845: “Os filósofos têm interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão,
porém, é transformá-lo”.
Essa é uma frase de um filósofo sobre outros filósofos. Ele estava dizendo que
há actividade de interpretar o mundo tinha chegado nos seus limites e que à actividade
do filósofo podia ser de transformação. Isto teve influência no século XX, e
principalmente agora também no século XXI. Concordando, Richard Rorty afirma:
20
SÁ, António Lopes de, Ética Profissional 9ª edição Revista e Ampliada, Editora ATLAS S.A. 2010, Pg.
156.
21
- Centro de Estudos em Filosofia Americana, 11 de Fevereiro de 2007, São Paulo.
39
a) Primeiro, como uma actividade técnica, (discussão de assuntos internos da
filosofia);
b) Segundo, é uma actividade de discussão dos assuntos do Quotidiano, da política,
de todas as pessoas e não só dos filósofos.
Segundo Richar Rorty: “Os filósofos devem agir menos como padres, que possuem
coisas gerais e já prontas para dizer, e agir mais como engenheiros e advogados, que
precisão pensar caso a caso”22
Em contraste com essa concepção, que durou dois mil anos, a filosofia que se
pratica no mundo desde o século XIX é uma profissão remunerada, geralmente exercida
numa instituição estatal ou sob a fiscalização do Estado. Seu exercício requer do
praticante apenas a posse de determinados conhecimentos, a obediência aos
regulamentos administrativos e, um certo traquejo social ou habilidade política, que
com muita frequência se revela um fator mais decisivo que os dois anteriores. Toda
ascese interior e busca da sabedoria não apenas se revelam dispensáveis, como também
sua prática se torna extremamente dificultosa nas condições em que a nova profissão se
exerce.
22
Idem
40
A área educacional, ainda consegue oferecer ao filósofo actual um espaço quase
utópico, no qual a reflexão e a investigação podem prosseguir, embora sob novos
constrangimentos e pressões. Portanto, o problema para o filósofo em Luanda é tentar
lidar com as fricções da profissionalização moderna, representando um conjunto
diferente de valores e prerrogativas. Já que a actividade do filosofo é alimentada pela
dedicação e pelo afecto, em vez do lucro e da especialização limitada e egoísta.
Desde o Renascimento, e cada vez mais à medida que o mundo Ocidental entrava na
chamada "modernidade", essas exigências foram se afrouxando, até o ponto de se
aceitarem como filósofos, sem a menor reticência, qualquer individuo, desde que este
seja homem.
Uma das causas desse estado de coisas é que a filosofia universitária em Luanda,
tendo adotado os critérios padronizados de informação científica, incorporou, junto com
eles, o modo de discussão e triagem consensual empregado nas "ciências humanas". Isto
é à primeira vista um progresso, mas tem por consequência levar o estudioso para cada
vez mais longe da ascese interior e transformá-lo num trabalhador científico rotineiro,
empregado numa atividade coletiva onde o que interessa é obter um resultado global no
qual o nível de consciência e a perfeição da alma de cada participante não contam para
absolutamente nada.
Nessas circunstâncias, cada nova tese deve antes harmonizar-se com as exigências
do meio acadêmico do que com as demais opiniões e atitudes do homem que a
41
produziu. O pensador tem de prestar mais reverência ao superego universitário do que à
sua própria consciência: pede-se que defenda bravamente suas opiniões, com primores
de dialética e erudição se possível, mas não que acredite nelas sinceramente ou que as
leve a sério fora do horário de expediente. E como a diversidade das perspectivas que se
confrontam nos debates é geralmente grande, e bem extensa a lista de trabalhos
anteriores sobre o mesmo assunto que é preciso levar em conta, cada estudioso, que
tenha uma idéia nova, com mais probabilidade a dispersará em debates acadêmicos
muito antes de ter a oportunidade, ou mesmo o desejo, de averiguar o que ela significa
para ele mesmo e de tirar dela a menor consequência para a conduta da sua vida.
Forçado a amoldar sua idéia o quanto antes aos padrões do intercâmbio acadêmico,
e jamais convidado a assumir por ela uma responsabilidade pessoal, o estudante de
filosofia mal percebe o quanto isto arrisca transformá-lo com mais facilidade num
amante da fala do que num amante da sabedoria.
É por perceber algo dessa atmosfera, mais que por encontrar dificuldades para
dominar a terminologia técnica, que o homem comum não vê em geral nas discussões
acadêmicas nada mais que tediosos e vãos litígios de pedantes.
Para aqueles que se sentem oprimidos nesse ambiente, mas não desejam
abandoná-lo, há sempre o refúgio do esteticismo, da retórica e da Filosofia literária, que
são ali bem aceitos a título de complemento dialético ao ritualismo da racionalidade
vigente.
42
O que permite este fenômeno é que, perdendo a unidade de ciência e consciência
que constituía a sua identidade específica, a filosofia, ao mesmo tempo que copiava o
modus operandi das ciências especializadas, absorvia das artes e letras o modelo do
"gênio", compreendido como o indivíduo cujo talento especializado pode compensar,
pela singularidade de suas criações, os piores defeitos de caráter, incluindo a
inconsciência moral e a falta de senso do real, que no contexto antigo e medieval o
incapacitariam no ato para o exercício da vida filosófica: sem um rosto próprio,
reduzido a um híbrido de literato e cientista, o novo profissional pode agora correr entre
o templo das Letras e o das Ciências, como um crente inseguro que busca, por via das
dúvidas, a proteção alternada de dois deuses.
A inibição de dizer qualquer coisa que não tenha amplo respaldo na bibliografia
existente, o temor de acreditar mais no que vê pessoalmente do que naquilo que afirma
o discurso dominante, fazem com que o modo de pensar do pensador acadêmico se
torne cada vez mais indireto e metalinguístico, até perder toda referência ao mundo da
experiência comum e à pessoa concreta de quem fala.
E se, até certo ponto ao menos, Marx tinha razão ao dizer que o modo de
existência social determina a forma da consciência, o modo de existência da classe
acadêmica acaba por se transpor numa característica Weltanschauung gremial, em que a
realidade aparece diminuída sub specie academiae e o ser humano reduzido a um
fantoche parlé par le langage, exatamente como se cada membro da espécie homo
sapiens fosse um acadêmico a defender numa assembléia científica, como um papagaio
erudito, opiniões ante as quais sua consciência íntima permanece neutra e indiferente, se
não totalmente cética.
Vocação vem do verbo latino voco, vocare, que quer dizer "chamar". Quem faz
algo por vocação sente que é chamado a isso pela voz de uma entidade superior —
Deus, a humanidade, a História, ou, como diria Viktor Frankl, o sentido da vida23.
O objectivo da filosofia não é mostrar a todos quão certos se está, mas antes
tentar induzir uma mudança ao clima moral em que a coisa passa a ser entendida como
tal. Tem de se admitir, contudo, que estes objectivos são idealistas e muitas vezes não
realizáveis, já que na maior parte das vezes a tendência é para recuar, ou simplesmente
submeter-se.
Mas nada é mais repreensível do que aqueles hábitos de espírito no filósofo que
induzem à abstenção, aquele característico virar de costas a uma posição difícil e
baseada em princípios, que se sabe ser a correcta, mas que se decide não tomar. Se há
alguma coisa que possa desnaturar, neutralizar e, finalmente, acabar uma vida filosófica
apaixonada é a interiorização de tais hábitos.
Jornal Vidaqui (São Paulo), Entrevista de Olavo de Carvalho a Fabíola Cidral, 31 de agosto de 2000
23
44
ripostar à autoridade, uma vez que a observância inquestionável à autoridade no mundo
actual é uma das maiores ameaças a uma vida intelectual activa e moral.
É difícil enfrentar essa ameaça por si só, sendo ainda mais difícil encontrar uma
forma de se ser coerente com as suas crenças, e ao mesmo tempo permanecer
suficientemente livre para evoluir, mudar de opinião, descobrir coisas novas, ou
redescobrir o que outrora se havia posto de parte. O aspecto mais complicado de se ser
um filósofo é representar aquilo que se defende através do trabalho e de intervenções,
sem petrificar numa instituição ou tornar-se num tipo de autómato actuando por ordem.
Existe uma interioridade absoluta da ética para todo homem, sobre o saber, sobre
a epistemologia e, digamo-lo claramente, sobre a filosofia. Kant afirma:
45
poderia constituir a honra da humanidade e eu desprezei o povo, que tudo ignora.
Rousseau foi quem me desenganou. Esta ilusão de superioridade se foi; aprendo a
honrar os homens; e me sentiria bem mais inútil que o comum dos trabalhadores, se
não cresse que este sujeito de estudo pode dar a todos os outros um valor que consiste
nisto: fazer emergir os direitos da humanidade”.24
A função intelectual resulta de uma divisão social, ela não pode, no entanto ser
definida a priori. Uma boa maneira de aprová-la será situá-la em relação aquilo a que
ela se opõe.
24
Em Remarques touchant les observations sur le sentiment du beau et du sublime |notas que tocam as
observações sobre o sentimento do Belo e do sublime|, citado por V. Delhos, La Philosophie pratique de
Kant |A filosofia pratica de Kant|, Paris: Alcan, 1905, P.117
25
Luc Ferry & Alain Reanaut, Heidegger et les Modernes, paris: grasset, 1989, p. 27
46
distanciamento crítico em relação a positividade”26, com efeito, que o ponto de vista do
generalista seja necessariamente um ponto de vista engajado.
47
Os princípios e a moral de um intelectual não deveriam constituir uma espécie
de caixa de velocidades selada, que conduz o pensamento e a acção numa direcção e é
alimentada por uma máquina com uma única fonte de combustível. O intelectual tem de
circular, tem de ter espaço para se posicionar e ripostar à autoridade, uma vez que a
observância inquestionável à autoridade no mundo actual é uma das maiores Ameaças a
uma vida intelectual activa e moral.
É difícil enfrentar essa ameaça por si só, sendo ainda mais difícil encontrar uma
forma de se ser coerente com as suas crenças, e ao mesmo tempo permanecer
suficientemente livre para evoluir, mudar de opinião, descobrir coisas novas, ou
redescobrir o que outrora se havia posto de parte. O aspecto mais complicado de se ser
um intelectual é representar aquilo que se defende através do trabalho e de intervenções,
sem petrificar numa instituição ou tornar-se num tipo de autómato actuando por ordem.
Todo aquele que tenha sentido a satisfação de ser bem-sucedido ao agir assim e
de igual modo bem-sucedido ao manter-se atento e firme, saberá apreciar quão rara é
esta convergência. Mas a única forma de alguma vez o conseguir é recordando-se
constantemente de que, enquanto filósofo, existe a opção entre representar a verdade de
forma activa e da melhor maneira que se é capaz ou, de forma passiva, resignar-se a ser
governado por uma autoridade ou poder. Para o intelectual secular, esses deuses falham
sempre.
Observemos enfim que esta posição crítica do intelectual recebe uma justificação
filosófica profunda. “ É próprio de sociedades democráticas (…) que o relacionamento
com a lei, com as normas e com as autoridades aconteça de forma crítica. No seio de
uma sociedade democrática, de uma sociedade que se quer ‘auto-instituída’, ainda que
indirectamente por meio de instituições representativas, todas as normas podem ser
denunciadas pelos indivíduos, aquelas normas que eles não produziram justamente
porque eles não as produziram, e aquelas que lhes aparecem a partir de então como
impostas do exterior, aquelas que, porque eles produziram, possuem a mestria e podem
com direito modifica-las ou muda-las à vontade.”29
29
Ibidem, p. 29-30
48
história da filosofia, uma essência da filosofia em si. Repitamos que nos aproximamos
progressivamente da questão da responsabilidade filosófica a partir da questão da
responsabilidade ética e em seguida da responsabilidade intelectual. Mas se a
responsabilidade ética pode ser pensada como transitória e transcultural – não nos seus
conteúdos, mas nas suas exigências – a responsabilidade intelectual nos aparece como
histórica. A função intelectual: os letrados, os juristas, por exemplo, existiu com efeito
em numerosas culturas. A função filosófica, por sua vez, é igualmente histórica, mas ela
parece pertencer à cultura ocidental. Isso significa que os traços característicos de um
emprego específico da função intelectual marcaram nossa tradição histórica e
determinam qual é a posição e intervenção que hoje é possível aos nossos filósofos na
sociedade contemporânea.
30
CHAMBERS, Robert, Desenvolvimento Rural, Fazer dos Últimos os Primeiros, Luanda, ed. ADRA,
Outubro de 1995 Pág. 41 (Primeira Publicação m Inglês, 1983)
49
Diante desse quadro, seria de imaginar talvez que em Luanda, onde a filosofia
universitária é incipiente e não alcançou um bom nível de organização profissional, a
vocação filosófica no sentido antigo, o amor à sabedoria, possa ter mais espaço para se
expandir, ainda que não profissionalmente, sem ter de passar pelo rolo compressor.
Infelizmente, isso não se realiza, por três motivos:
50
homem de gênio que pode buscar a conexão por conta própria, o acesso a que me referi
está bloqueado.
Não admira que brilhe nos seus discursos tanto rancor contra o Estado que lhe
arrancou tanto em troca de tão pouco. Nem que esteja, incapaz de conscientizar sua
situação pessoal exceto pelas vias de pensamento padronizadas que absorveu em sua
formação acadêmica.
31
,Tim, LIBON «Philosophical Counselling: an introducion», in Trevor Curnow, Thinking through Dialogue,
Practical Philosophy Press, Surrey, 2001, pág,5.
32
Tim, LIBON, Wise Therapy – Philosophy for Counsellors, Surrey, 2001, Pag, 2
51
justificativa da crença (epistemológica ou teoria do conhecimento) e a conduta da vida
(ética ou teoria dos valores) ”33
Quem pratica a profissão dela se beneficia, assim como o utente dos serviços
também desfruta de tal unidade. Isto não significa, entretanto, que tudo o que é útil entre
as duas partes o seja para terceiros e para a sociedade.35
33
T. Honderlich, The Oxford Companions to Philosophy, Oxford, OUP, 1995
34
Tim Lebon, «Philosophical couselling: a personal view», In Paola Grassi, Philosophy Practice, nº 1,
milaN, April 2003, pág. 29-35.
35
SÁ, António Lopes de, Ética Profissional 9ª edicção Revista e Ampliada, Editora ATLAS S.A. 2010, Pg.
1156.
36
PROGRESS – Procedimento desenvolvido por David Arnaud e Antónia Maccaro.
52
problema, incluindo os sentimentos que são suscitados pela questão e pelas suas
conclusões.
No método PROGRESS as fases não podem alterar a sua ordem. Se faltar algo
numa fase, as posteriores poderão deturpar-se. O método procura alcançar quatro pontos
essenciais:
53
da Sociedade Politica
da Comunidade Educativa
da Instituição Familiar
37
Jorge Dias- Pensar bem, viver Melhor: Filosofia aplicada à vida, edições Ésquilo, 2006, pág. 200-204
54
DIFERENÇA ENTRE O ACONSELHAMENTO FILOSÓFICO E O
PSICOTERAPÊUTICO38
REFERÊNCIA ACONSELHAMENTO PSICOTERAPIA
FILOSÓFICO
Carácter preventivo, educativo e de Carácter remediativo e
Tipo apoio, voltado para a análise reconstrutivo, voltado para a
De intervenção conceptual, para a clarificação da eliminação/controlo de
situação e para tomada de decisões psicopatologias
por parte do cliente.
No comportamento do indivíduo e Lida com material
Foco no desenvolvimento de inconsciente e enfatiza a
Da intervenção competências filosóficas: «anormalidade». Vivencia
Pensamento crítico e criativo, intrapsíquica do indivíduo e
análise conceptual, etc. lida com o mudanças na personalidade.
consciente e enfatiza a
«normalidade»
Visa promover o desenvolvimento Visa o insight e
do pensamento do indivíduo, de autoconhecimento, no
Objectivos modo a aumentar ao máximo as sentido de proporcionar ao
suas oportunidades e reduzir ao indivíduo uma melhor
mínimo as condições adversas. qualidade de vida.
Menos centrado na expressão Mais intensivo e duradouro,
Processo de emocional profunda e com maior visando aspectos mais
intervenção ênfase nos aspectos conceptuais e profundos da personalidade
racionais. e enfatizando o neurótico e
outros problemas
emocionais.
Conselheiro e cliente situam-se num O Terapeuta mantém num
Papel do plano semelhante e procuram auto- patamar superior ao do
Profissional descoberta. paciente clima
médico/clínico.
Mais centrados no presente, Maior ênfase na exploração
focalizam aspectos conscientes e do passado e na história do
Métodos fazem mais uso da informação e da caso, focaliza aspectos
sugestão; a motivação que leva o inconscientes e faz uso da
cliente ao gabinete do conselheiro é relação de transferência. A
factor determinante no processo. duração do processo é maior
e tende a acompanhar a
resistência do paciente.
O aconselhamento filosófico aplicado à educação teria como objectivo promover
um melhor ajustamento do aluno, no sentido deste desenvolver as suas capacidades
críticas, de análise, de diálogo e de compreensão da realidade.
38
Tabela adaptada de Scheefer, Teorias de Aconselhamento, são Paulo, atlas, 1988 e G. Gazda,
Comparação do aconselhamento de grupos com a psicoterapia de grupo, in H. Kaplan, Compendio de
Psicoterapia de Grupo, 3ª Edição, porto alegre, artes Médicas, 1996 .
55
CAPITULO V. O FIM DA FILOSOFIA?39
Atravessamos um período de crise prolongada da cultura ocidental. O
diagnóstico não é invalidado pelos simples facto de ter sido repetido inúmeras vezes –
desde Rousseau e os românticos até Nietzsche, Spengler, Trotski, Heidegger e outos
depois deles. De facto, as próprias vias pelas quais a maior parte destes autores, e
outros, tentaram estabelecê-lo são em si sintomas da crise e fazem parte dela.
Nesta crítica, a filosofia sempre teve um papel central, apesar de a sua acção ter
sido, na maior parte de vezes, indirecta. Essa acção de desaparecer, primeiro e
sobretudo sob o peso das tendências socio-históricas contemporâneas, que não
discutiremos aqui. Mas um efeito dessas tendências, que por sua vez as reforça, é a
influência da adoração Heideggerianas “não temos nada a fazer” e “não há nada a
fazer”40. A combinação das duas é facilmente patente na glorificação do “pensamento
fraco” (pensiero debole), isto é, de um pensamento mole e flexível adaptado à
sociedade dos meios de comunicação41. A “crítica” desconstrutiva, que se limita
cuidadosamente á desconstrução de velhos livros, é também um dos sintomas da crise.
*As ideias do texto foram expostos pela primeira vez numa Conferência na Universidade Goethe de
Francforte, em novembro de 1986. A versão publicada aqui é a de uma conferencia no Skidmore College
(outubro de 1989) publicada em Salmagundi, nº82-83.
40
Cf. Por exemplo, e entre muitas outras formulações, “Npus NE devons rien faire, seulement attendre”
(“Por servir de comentaire à Sérénité”, Question III, Paris, Gallimard,1966, p,188). A entrevista póstuma
do Spiegel também acentua fortemente esse aspecto.
41
Assim, II Pensiero debole, Gianni Vatimo e P.A. Rovai ed.,Milão,1983, e Gianni Vatimo, La Finebdella
modernitá, Garzanti Ed., 1985 (tr. Fr. Éd. du Seuil, Paris, 1987).
56
História e Filosofia da Historia da Filosofia. Não é nosso propósito aqui discutir em si
mesmas as ontologias de Hegel ou de Heidegeer. Limitar-nos-emos a algumas
observações que nos parecem pertinentes quanto ao tema.
A situação, no fundo, não é diferente com Heidegger. Não pode haver discussão
crítica dos filósofos do passado. Os “pensadores” exprimem momentos da “história do
ser”, o Ser fala pela sua boca. (Evidentemente, Heidegger também não foi capaz de se
manter fiel ao seu programa.) os filósofos do passado só podem ser interpretados e
“desconstruídos” (na sua completa literalidade, o programa anunciado em Sein und Zeit
é die Destruktion der ontologie; “desconstrução” é um fruto mais recente). Isso
significa que há que mostrar, em cada caso:
Com Hegel, todas filosofias são reduzidas ao mesmo, no sentido de que todas
elas não passam de “momentos” no processo de consciência de si e do conhecimento do
Espírito – e todos esses “momentos” estão condenados a ser “momentos” no sistema
(hegeliano). Com Heidegger, todos filósofos são reduzidos ao mesmo. 42 Representam
vias diferentes, mas quanto ao fundo indiferentes, do esquecimento do Ser, do
42
Cf. As últimas páginas de “A Palavra de Anaximandro” (1946) em chemins...onde Platão, Heraclito,
Prmenides e Anaximandro são apresentados como pensando o “mesmo”.
57
pensamento do Ser como presença, da confusão entre presença e o que está em cada
momento. Juntamente quando quase tínhamos conseguido convencer-nos da
inexistência de qualquer “significado transcendental”, somos agora avisados de que
Jeová, as suas leis e a ética dos hebreus podem e devem ser restaurados em lugar de um
tal significado (meta ou pós?) transcendental. De maneira que começamos a poder
esperar que nos seja suficiente substituir a filosofia pela revelação para sermos salvos43.
43
Castoriadis, Cornelius – O mundo Fragmentado; as encruzilhadas do labirinto,Ed. Campo da
Comunicação, 2003 pag. 230
44
C. Wright Mills, Power, Politics, and people: The collected Essays of C. Wrigts Mills, ed. Irvings Louis
Horowitz, Nova Iorque, Ballatine 1963, p. 299.
58
a reputação de pessoa ponderada, objectiva, moderada e esperar conseguir um grau ou
lugar.
Para um intelectual, estes hábitos de espírito são uma força de corrupção par
excellence. Se há alguma coisa que possa desnaturar, neutralizar e, finalmente, acabar
uma vida filosófica apaixonada é a interiorização de tais hábitos.
59
CONCLUSÃO
Por mais importante que seja aquilo que alcança na descrição da natureza e dos limites
do pensamento racional, A filosofia corre agora o risco de se distanciar da vida que a
rodeia, e da antiga promessa da filosofia, que é a de nos ajudar, mesmo se
indiretamente, a viver bem e sabiamente.
H1. A filosofia é importante na vida do cidadão porque ela busca uma unidade,
uma síntese de todo conhecimento humano, de tal maneira que haja uma possibilidade
de que em qualquer necessidade de expressão, se seja a mesma pessoa e coerente com a
visão do universo e com a visão de vida pessoal.
H2. A filosofia tem o papel de encontrar uma síntese do sentido da vida dos
cidadãos e pode colaborar na construção do equilíbrio da dimensão profissional como
componente da vida pessoal.
H4. O fim da filosofia significa o fim do projecto de autonomia individual e
colectiva.
Deforma articulada, os quadros de referência adoptados, permitiram, por um
lado, firmar as três hipóteses que orientaram o trabalho. É de salientar que o mesmo
trabalho respondeu as inquietações que inicialmente formuladas.
Constatou-se que para além de ser considerado como tal pela universidade, um
filósofo tem de dar atenção a questões com um alto grau de generalidade, e tem de se
sentir à vontade com as ideias abstractas.
A filosofia, enfim, foi deixando de ser uma busca da sabedoria, que envolvia o
homem inteiro, corpo, alma e espírito, numa preparação para a posse das mais altas
verdades, e se tornou uma mera habilidade especializada, como a de cantar, desenhar ou
fazer rimas, completamente autônoma em relação à personalidade moral e à forma
completa da "alma".
60
para captar as evidências mais óbvias. Esta incapacidade, não raro, torna os
pensamentos ainda mais interessantes, no sentido de exóticos e atraentes. Mas, mesmo
quando não se chega a esse extremo, a mera insinceridade basta para conferir a muitos
escritos filosóficos aquela aura de ambiguidade e mistério que rodeia de um prestígio
mágico as obras dos poetas.
As respostas filosóficas podem não ser eternas mais a a filosofia tem duas
finalidades:
61
SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES.
Aos filósofos em geral
Quando se pretende exercer uma profissão, é fundamental ter uma base legal que
permita regular a garantir a qualidade dos serviços prestados. É necessário promover os
direitos dos clientes, assim como a formação e a responsabilidade profissional do
Conselheiro/consultor filosófico.
62
c) Estabelecer princípios, que definem comportamentos éticos e as melhores
práticas dos seus membros.
d) Funcionar como um guia ético, definido como um apoio na construção de um
itinerário profissional, que melhor sirva os clientes dos diversos serviços de
Assessoria filosófica e que melhor promova os valores da profissão do
Aconselhamento Filosófico.
e) Servir como base de avaliação e julgamento relativamente a processos de
acusação nos domínios do comportamento ético, movidos contra membros da
Associação.
O papel dos professores de física, matemática e biologia deveria ser o de ensinar aos
alunos não só os resultados finais aos quais os cientistas chegaram, mas como eles
chegaram aos resultados que obtiveram. De maneira análoga, se alguma coisa os
professores de filosofia poderiam mostrar aos alunos é como os filósofos chegaram aos
seus. Isso mostraria aos alunos quão diferentes foram as motivações, os problemas e os
métodos usados pelos vários cientistas e filósofos. Mostraria, entre outras coisas, como
cientistas e filósofos divergem e se opõem. Poria em claro, não a inexistente unidade
temática, problemática e metodológica na ciência e na filosofia, mas sua pluralidade e
diversidade. Mostraria, já na filosofia, que dificilmente encontrarão dois filósofos que
concordem sobre o que é a própria filosofia.
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