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AGRONEGÓCIO

A produção de carne é responsável pela emissão de gases poluentes e acelera os efeitos do


aquecimento global. Por isso, precisamos refletir sobre os limites dessa produção para a
preservação de nossas florestas, o incentivo à agricultura familiar e a manutenção do clima
global. No Brasil, além das emissões, a produção pecuária está constantemente associada à
retirada de direitos de trabalhadores, povos indígenas e comunidades pressionadas pela
expansão da fronteira de produção agropecuária.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, nosso país
possuía o maior rebanho bovino para abate do mundo, com 213.523.056 cabeças de gado,
além de mais de 245 milhões de galináceos (galinhas) e 41 milhões de suínos. 

O Brasil detém o maior volume de água doce do planeta: 12% de todo o estoque global está
em nossos rios e reservatórios subterrâneos. Contudo, cerca de 70% dessa preciosidade vai
para a agricultura em especial a irrigação. Bem mais da metade de tudo que é cultivado no
Brasil, destina-se à produção industrial de ração animal, aqui e no exterior. Ou seja, vira
alimento de bois, porcos, aves e até peixes. A carnicicultura consome mais água doce do que a
irrigação da agricultura: são 50 a 60 mil litros de água por quilo de camarão produzido. 

No Brasil, a pecuária utiliza e contamina, em sua cadeia produtiva, mais água do que as
cidades. Enquanto são necessários menos de 500lts de água para se obter 1kg de soja, para
produzir 1kg de carne bovina gastam-se até 15 mil litros de água. Nesse cálculo entram a água
que os animais bebem durante a vida toda, a utilizada na irrigação dos pastos e a que é gasta
no processamento das carcaças no abatedouro. Uma fazenda com 5mil bovinos produz a
mesma quantidade de excrementos de uma cidade com 50 mil habitantes. Uma vaca produz,
por dia, cerca de 40kg de esterco. E cada porco, entre 5 e 9kg de urina e fezes diariamente. Em
alguns municípios de Santa Catarina, a suinocultura é responsável por mais de 65% da emissão
de poluentes. E o poder poluente dos dejetos suínos é cerca de 50 vezes maior do que o do
esgoto humano. A criação de animais para alimentação consome água em abundância
também durante os procedimentos de abate: sangria, escaldagem, depenagem, depilação,
barbeação, evisceração, lavagem, etc. 

IMPACTOS AMBIENTAIS

 O Desmatamento é a primeira consequência da atividade agropecuária no Brasil.


Desde o início da colonização, grande parte das áreas de vegetação nativa do litoral,
região Sul e Centro-Oeste do Brasil foi desmatada para abrir espaço para áreas de
pastagem e cultivo. Em virtude desse crescente desmatamento, o Cerrado e a Mata
Atlântica já foram introduzidos na lista mundial de biomas com grande diversidade que
estão ameaçados de extinção (os chamados Hotspots), existindo ainda a previsão do
desaparecimento do Pantanal e da Amazônia nos próximos anos caso sejam mantidos
os mesmos índices de desmatamento nesses biomas.

 Perda da biodiversidade: Com o desmatamento, muitas espécies da fauna e da flora


entram em extinção, pois não conseguem garantir a sua sobrevivência nas pequenas
reservas que restam de seu ecossistema.
 Degradação do solo: O desenvolvimento extensivo da agricultura tem causado a
degradação do solo, que acaba se tornando improdutivo ao longo do tempo, gerando
não só problemas ambientais, mas também problemas econômicos para aqueles que o
degradaram. As técnicas de cultivo inadequadas, o uso intensivo de máquinas e a não
rotatividade das culturas produzidas no solo podem ocasionar o esgotamento dos
nutrientes, compactação, erosão e aceleração da desertificação. Na pecuária, o
pisoteamento contínuo do gado pode compactar o solo e favorecer o desenvolvimento
de processos erosivos.

 Esgotamento dos mananciais: em todo processo produtivo das


atividades relacionadas com o espaço agrário, utiliza-se grande
quantidade de água. Para se ter uma noção, na produção de milho,
gastam-se 1750 litros por quilo produzido. Já para a produção de carne
no Brasil, gastam-se, em média, 4325 litros por quilo de frango, 15.400
litros por quilo de carne bovina e 10.400 litros para cada quilo de carne
suína. A progressiva retirada de água de mananciais e de reservatórios
de águas subterrâneas por essas atividades pode acarretar a diminuição
do volume ou até mesmo o esgotamento de rios e lençóis freáticos.
 Contaminação do solo, ar e água. O uso indiscriminado de
agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos tem causado a contaminação do
ar, do solo e da água no meio rural brasileiro. O agrotóxico, ao ser
lançado nas plantações ou no pasto, pode espalhar-se pelo ar, infiltrar-
se no solo, atingir o lençol freático ou ser levado pela água da chuva
para os mananciais.
 Geração de resíduos: é cada vez maior a quantidade de resíduos
gerados durante a produção agropecuária no Brasil. Esse fato pode
ocasionar problemas no descarte desses materiais e, como resultado,
contaminação ambiental, já que muitos dos resíduos gerados, como
potes de agrotóxicos e as fezes dos animais, devem ter uma destinação
especial.

Emissões de gases

Eles ocorrem devido à grande devastação que ocorre para abrir o espaço de
pastagem, ao cultivo de grãos para alimentar as criações, aos gastos exorbitantes de
água para manter essa produção, à emissão de metano pelos animais, entre outros
fatores. Estudos comprovam que a pecuária e seus subprodutos são responsáveis ??
por pelo menos 32 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, ou
51% de todas as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Além disso,
devemos estar atentos a outros gases emitidos nesse processo, como o óxido
nitroso. Pesquisas demonstram que a pecuária é responsável por 65% de todas as
emissões humanas relacionadas com óxido nitroso - um gás-estufa com 296 vezes o
potencial de aquecimento global do dióxido de carbono, e que permanece na
atmosfera por 150 anos.

O metano expelido nos gases dos ruminantes tem mais impacto na mudança climática
do que se imagina. O metano tem um potencial de aquecimento global 86 vezes
superior ao do CO2 em um prazo de 20 anos. De acordo com pesquisas, vacas
produzem 150 bilhões de litros de metano por dia (250-500 litros por vaca por dia,
vezes 1,5 bilhão de vacas no mundo).

Além das emissões provocadas pelo sistema digestivo dos animais (metano e óxido nitroso
emitidos pelas fezes), há também emissões de CO2 nas várias etapas de produção de carne, da
queimada para geração de pastos até o consumo. A literatura científica prevê que essas
emissões aumentem cerca de 80% até 2050. Os dados são tão colossais que fica difícil ignorar
o impacto dessa emissão para a saúde do planeta.

Uso da água

Outro grande problema causado pela indústria agropecuária é o elevado consumo de água.
Cultivar plantas para a alimentação animal representa 56% de toda a água consumida nos EUA.
O cultivo de grãos consumidos pelos animais demandam de muita água - esse montante,
somado ao consumo direto dos bichos representa faixas de consumo de água de 34-76 trilhões
de litros por ano.

Se pensarmos diretamente no consumo final, na pegada hídrica dos alimentos, deparamos-nos


com dados não menos alarmantes: 2,5 mil litros de água são necessários para produzir 1 libra
(equivalente a mais ou menos 0,45 kg) de carne; 477 litros de água são necessários para
produzir 1 libra de ovos; em média 900 litros de água por libra de queijo e mil litros de água
para produzir um galão de leite (equivalente a 3,785 litros).

Quem se torna vegetariano ou vegano economiza água de maneira significativa: para se


produzir um quilo de soja, são gastos 500 litros de água, enquanto para um quilo de carne
bovina, são necessários 15 mil litros do líquido.

Uso da terra

Um terço da terra livre de gelo presente no globo é utilizada para criação de gado ou alimento
para o gado. Considerando 48 estados dos EUA, o espaço total representa 1,9 bilhões de
acres. Segundo estudo, desses 1,9 bilhões de acres: 778 milhões de acres de terras privadas
são usadas para pastagem, 345 milhões de acres de alimentos para animais, 230 milhões de
acres de terras públicas são usadas para pastagem de gado.

No Brasil, quais terras são utilizadas para essas plantações e pastagem? Segundo dados do
Inpe, 62,8% de toda a área desmatada da Amazônia brasileira até 2008 foi ocupada por
pastagem. Grandes florestas, como a floresta amazônica, estão sendo desmatadas para dar
lugar à indústria agropecuária. Estudos demonstram que 91% da devastação da Amazônia se
deve à produção agropecuária, entre pastagens e cultivo de grãos para a alimentação dos
ruminantes. Dá pra acreditar? De acordo com dados do IBGE, o Brasil possui o maior rebanho
comercial do mundo, com aproximadamente 209 milhões de bovinos. Em nosso país, os
ruralistas têm grande poder de intimidação, o que resulta em uma fiscalização ineficiente do
desmatamento. Nos últimos 20 anos, mais de mil ativistas rurais foram mortos no Brasil.

A produção de alimentos vegetais exige muito menos espaço de terra do que a produção de
alimentos de origem animal. Por exemplo, em um hectare de terra é possível plantar 42 mil a
50 mil pés de tomate ou produzir apenas uma média de 81,66 Kg de carne bovina por ano.
Assim, a alimentação vegetariana estrita estimula a diminuição do desmatamento.

Resíduos

Uma exploração agrícola com 2,5 mil vacas leiteiras produz a mesma quantidade de resíduos
que uma cidade de 411 mil pessoas. A cada minuto, toneladas de excremento são produzidas
por animais criados para o abate. De acordo com estudos, a quantidade produzida de resíduos
pela indústria da carne poderia cobrir as cidades de Nova Iorque, São Francisco, Tóquio, Hong
Kong, Londres, Rio de Janeiro, Bali, Berlim, Delaware, Dinamarca, Costa Rica, Paris, Nova Deli
juntas. Para onde vão esses resíduos? Eles são despejados nas águas.

Contaminação da água e exploração excessiva

A exploração excessiva dos mares assusta. Existem projeções que indicam que em 2048 não
haverá mais peixes comestíveis no mar. Em média, 90-100 milhões de toneladas de peixe são
extraídas de nossos oceanos a cada ano. Para cada 0,45 quilo de peixe capturado, até 1,81
quilos de espécies marinhas não intencionais são capturadas e descartadas. Estudos
apontam que, em média, 40% (28,5 mil milhões de quilos) de peixes capturados globalmente a
cada ano são descartados e que até 650 mil baleias, golfinhos e focas são mortos a cada ano
por navios de pesca. Além de, em média, 40-50 milhões de tubarões são mortos em linhas de
pesca e redes.

Fome

Em escala mundial, as vacas bebem 45 bilhões de litros de água e comem 61,2 bilhões de
quilos de comida por dia. Pelo menos 50% dos grãos são produzidos vão para alimentar o
gado. Os EUA poderiam alimentar 800 milhões de pessoas com grãos que o gado consome. Dá
pra mensurar o que isso significa? 80% das crianças famintas vivem em países onde os
alimentos são administrados aos animais, e os animais são comidos por países ocidentais. A
indústria agropecuária reflete diretamente as contradições do capitalismo e seus abismos
sociais. Alimentos que poderiam retirar milhões de pessoas da fome são utilizados para
alimentar gado. Gado que é consumido em excesso e, segundo muitas visões, sem necessidade
fisiológica (diversas pesquisas apontam os benefícios da dieta vegetariana para a saúde).
Há também os impactos sociais, como:

 desemprego e êxodo rural, pois, com o uso exagerado de máquinas, a presença de


mão de obra humana diminui;

 prováveis doenças advindas de alimentos contaminados com os agrotóxicos;

 aumento de conflitos agrários por posse de terras;

 aumento da concentração de renda e da desigualdade no meio rural.

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