4. CONCILIAÇÃO – É um meio autocompositivo de resolução de
conflitos de interesses. Antes de explicarmos especificamente a conciliação, diferenciaremos meios autocompositivos de meios heterocompositivos. Os meios autocompositivos são aqueles cujas pessoas envolvidas no conflito de interesses participam diretamente da construção da decisão judicial ou extrajudicial mais adequada para o caso concreto (é denominado autocompositivo porque quem resolve o conflito de interesses são as próprias partes nele envolvidas, não terceirizando a um outro sujeito a resolução do conflito, exemplo: conciliação e mediação). Já nos meios heterocompositivos o conflito de interesses é resolvido por um terceiro que não é parte integrante do conflito de interesses, como é o caso da jurisdição (o juiz é um terceiro que não integra o conflito, mas é quem decidirá a lide em nome das partes). Na conciliação as partes terão a oportunidade de dialogar e resolver de forma consensual (amigável) o conflito de interesses existente entre elas. O conciliador poderá ser o juiz ou alguém indicado pelo Tribunal para exercer a função de conciliador. Uma questão importante a ser ressaltada é que o conciliador poderá participar do diálogo com as partes envolvidas no conflito, podendo opinar, sugerir e recomendar caminhos a serem seguidos na resolução do conflito. Ou seja, o conciliador participa de forma direta da construção consensual da decisão mais adequada na resolução do conflito de interesses. Na conciliação é importante que as partes façam concessões recíprocas, ou seja, que cedam parte de seus anseios e pretensões para chegar a um denominador comum. Na conciliação as partes resolvem as questões jurídicas do conflito, haja vista que não é interesse desse meio consensual trabalhar as raízes do conflito. Se as partes não chegarem a um denominador comum o magistrado é quem decidirá a lide (meio hetecompositivo). Porém, se as partes conciliarem caberá ao julgador (juiz == magistrado) homologar o acordo das partes em sentença definitiva (que resolve o mérito). Ressalta-se que se o acordo firmado entre as partes for ilícito ou lesivo a algumas das partes envolvidas no conflito, poderá o magistrado se recusar a homologação.
5. MEDIAÇÃO – É considerada também um meio autocompositivo
de resolução de conflitos de interesses que não se confunde com a conciliação. Importante ressaltar que tanto na conciliação quanto na mediação as partes precisam se sentir livres em escolher ou não adotar os respectivos meios de solução de conflitos. Enquanto a conciliação resolver juridicamente o conflito sem trabalhar suas causas, a mediação resolve o conflito privilegiando a identificação das suas causas (a metáfora do iceberg explica bem a diferença entre conciliação e mediação = o iceberg é um bloco de gelo que uma pequena parcela fica fora da água e a grande parte desse bloco de gelo fica submersa na água. A conciliação seria metaforicamente o meio que apreciaria o conflito que está fora da agua, enquanto a mediação mergulharia nas raízes do conflito e no entendimento do que se encontra submerso nas águas do iceberg). Um dos princípios mais importantes da mediação é a confidencialidade, ou seja, o que se discute e é dialogado nas sessões de mediação não é levado para o processo (não é publicizado), ou seja, no processo é levado apenas o resultado da mediação sem expor e tornar público as razões do conflito. Uma outra distinção entre mediação e conciliação: o conciliador participa, opina e sugere às partes formas de resolver o conflito; o mediador deve ficar equidistante, não participa diretamente da resolução do conflito, não opina e é mero facilitador do diálogo entre as partes para que consigam encontrar a melhor solução para o caso concreto (o mediador tem o papel de estreitar o vínculo de diálogo entre as partes envolvidas no conflito).
6. ARBITRAGEM – Trata-se de meio heterocompositivo de
resolução de conflitos de interesses (um terceiro resolve o conflito de interesses em nome das partes envolvidas na lide). É meio privado de resolução de conflitos de interesses por meio do qual o árbitro é um particular escolhido pelas partes para, em nome delas, decidir o conflito de interesses (Tribunal de Arbitragem é uma instituição privada, composta por árbitros, que são sujeitos legitimados a resolver conflitos de interesses existentes entre particulares). O árbitro não exerce a jurisdição, até porque, no âmbito arbitral o Tribunal de Arbitragem é uma instituição privada destinada a resolver conflitos de interesses entre particulares. Poderá ser árbitro qualquer pessoa maior e capaz, independentemente de formação jurídica (é muito comum existir árbitros que, embora não tenham formação jurídica específica, tem conhecimento específico em outras áreas pertinentes com o conflito de interesses existente). Embora a formação jurídica do árbitro seja dispensável, sabe que é obrigatória a fundamentação jurídico-legal e constitucional de toda sentença arbitral, ou seja, toda decisão judicial proferida por um árbitro tem que observar o princípio da fundamentação das decisões judiciais (artigo 93, inciso IX CF). É nula toda sentença arbitral que não tem fundamentação jurídico- legal e constitucional. A validade e a eficácia jurídica da sentença arbitral não fica condicionada à homologação judicial. A sentença arbitral tem a mesma força jurídica de uma decisão judicial, haja vista que se descumprida poderá o seu credor exigir judicialmente o seu cumprimento (execução), ou seja, a sentença arbitral é juridicamente considerada um título executivo extrajudicial (há presunção de validade da sentença arbitral). Quais conflitos de interesses poderão ser objeto do Tribunal de Arbitragem? Apenas aqueles conflitos de interesses de natureza disponível, ou seja, somente direitos disponíveis, de caráter monetário é que poderão ser resolvidos via arbitragem (não poderá ser resolvido via arbitragem os conflitos familiares, envolvendo menores, incapazes, crimes, ou seja, a maior parte das demandas objeto da arbitragem são questões contratuais e obrigacionais). Cláusula Compromissória: É uma clausula contratual prevista em alguns contratos estabelecendo que havendo algum conflito decorrente do descumprimento contratual, sua resolução obrigatoriamente será realizada no âmbito do Tribunal de Arbitragem. Ou seja, se houver o descumprimento contratual, no contexto de um contrato com clausula compromissória, a demanda não poderá ser levada para o poder Judiciário (se essa demanda for levada para o Judiciário o processo será extinto sem resolução do mérito). Em caso de cláusula compromissória a atribuição para resolver o conflito de interesses é exclusiva do Tribunal de Arbitragem. Importante ainda ressaltar que a validade jurídica dessa clausula compromissória fica condicionado ao fato de a mesma ser instituída em termo autônomo (ou seja, a clausula compromissória para ser válida não pode integrar o contrato em si, pois deverá vir prevista num termo autônomo ao contrato principal). Exemplo: Algumas construtoras que vendem apartamento quase sempre firmam seu contrato de promessa de compra e venda acompanhada de um termo autônomo de compromisso arbitral. Em caso de atraso na entrega do imóvel o contratante deverá levar a demanda para o Tribunal de Arbitragem (se levar para o Judiciário a demanda o processo será extinto sem resolução do mérito). É possível a revisão judicial de sentença arbitral? Via de regra o poder Judiciário não poderá ser visto como instância recursal das decisões proferidas no âmbito arbitral, até porque, se isso fosse uma realidade o próprio Tribunal de Arbitragem teria sua função condicionada ao controle do poder Judiciário. Porém, excepcionalmente é admissível a revisão judicial de sentença arbitral, ou seja, o poder Judiciário, quando provocado, poderá anular a sentença arbitral mas não poderá reformar a sentença arbitral. A sentença arbitral será nula quando houver ausência de fundamentação; quando a parte demandada não for devidamente notificada para exercer o direito de defesa no Tribunal de Arbitragem (essas são algumas hipóteses de error in procedendo = erro no procedimento que torna nula a sentença arbitral, passível de reconhecimento dessa nulidade pelo poder Judiciário).