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Resumo
O objetivo principal da divulgação financeira consiste em fornecer informações que sejam
úteis para o processo de tomada de decisão, consistindo em uma das principais fontes de
análise da situação econômico-financeira de uma empresa. Essa informação pode ser
analisada por meio das técnicas de análise de balanços, como a chamada análise por meio de
índices e/ou indicadores. Haja vista a recente Lei 11.638/07, tem-se a possibilidade de
obtenção de novos índices e/ou indicadores, pois a lei exige a publicação da Demonstração do
Fluxo de Caixa (DFC) para as empresas de capital aberto. No entanto, o grande número de
indicadores pode confundir o analista, trazendo informações redundantes. Dessa forma, este
estudo analisa a correlação existente entre os índices de liquidez e solvência extraídos da DFC
e os tradicionais. A amostra objeto do estudo compreende os dados de 28 empresas do
segmento de energia elétrica, relativos aos anos de 2003 a 2007, totalizando 95 observações.
Os resultados mostram que existe correlação entre alguns indicadores extraídos da DFC e os
indicadores tradicionais, calculados com base em informações do Balanço Patrimonial. No
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entanto, as relações observadas se mostram levemente fracas ou moderadas, não sendo aceita
a hipótese de pesquisa levantada neste trabalho.
1 INTRODUÇÃO
A divulgação financeira deve fornecer informações que sejam úteis aos atuais e
potenciais investidores e credores, bem como a outros usuários para a tomada de
decisões racionais de investimento, crédito e outras semelhantes. As informações
devem ser compreensíveis para aqueles que possuem uma noção razoável dos
negócios e das atividades econômicas e que estejam dispostos a estudar as
informações com razoável afinco. (tradução nossa)
Rees (1995) destaca, no entanto, que um dos problemas a dificultarem a análise por
meio de indicadores e índices é a escolha daqueles que serão utilizados. Segundo aquele autor,
o uso de um grande número de índices geralmente significa que boa parte deles traz
informações redundantes.
Tendo em vista o exposto, neste trabalho busca-se responder à seguinte questão: os
índices de liquidez e solvência calculados com base na Demonstração do Fluxo de Caixa
trazem informações adicionais àqueles tradicionalmente calculados, para o caso de empresas
do Setor Elétrico?
Com base na questão problema, este trabalho tem como objetivo identificar se os
índices extraídos da DFC trazem informação adicional para a tomada de decisão em relação
aos índices tradicionais, haja vista a possibilidade de correlação entre eles.
A hipótese de pesquisa pode ser assim enunciada: “Existe uma forte correlação entre
os índices de liquidez e solvência extraídos da DFC e os índices tradicionais.” hipótese que
será expandida em hipóteses estatísticas na seção 3 (proceder metodológico) deste trabalho.
O trabalho está organizado em cinco seções. Após esta introdução, é apresentado o
referencial teórico utilizado para construção do trabalho. Na terceira seção são apresentados
os procedimentos metodológicos utilizados: a seleção da amostra, assim como os
procedimentos e os testes realizados. Na quarta, são discutidos os resultados encontrados, haja
vista a fundamentação teórica desenvolvida. Por fim, na quinta seção, são apresentadas as
considerações finais do trabalho.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
o BP apresenta em seu lado esquerdo o ativo e em seu lado direito o passivo e o patrimônio
líquido.
O Ativo, ainda conforme a referida lei, é classificado por ordem decrescente de
liquidez, ou seja, em primeiro lugar aparecem os itens de maior liquidez. Para o caso do
Passivo, a classificação é por ordem de exigibilidade também decrescente, ou seja, primeiro
aparecem as obrigações de pagamento mais urgente.
Até recentemente, no Ativo, a classificação era feita em três subgrupos: Ativo
Circulante, Ativo Realizável a Longo Prazo e Ativo Permanente. Entretanto, com o advento
da Deliberação n° 488/05 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o ativo, bem como o
passivo, passou a ser segregado em dois subgrupos: o circulante e o não circulante, este
último composto, no caso do ativo, do Ativo Realizável a Longo Prazo e do Ativo Permanente.
Com o advento da Lei 11.638/07 houve nova alteração dos subgrupos, passando o Ativo a ter
a seguinte classificação: Ativo Circulante, Ativo Realizável a Longo Prazo, Investimentos,
Imobilizado, Intangível e Diferido. Classificação modificada recentemente pela Medida
Provisória 449, de 03/12/2008, que recepcionou a classificação em circulante e não-circulante
(classificado em Ativo Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível).
Conforme a Lei 6.404/76, o Passivo tem sua classificação da seguinte maneira:
Passivo Circulante e Passivo Realizável a Longo Prazo, classificação alterada para Passivo
Circulante e Passivo Não Circulante de acordo com a Deliberação n° 488/05 da CVM. Tal
classificação foi modificada pela mencionada Medida provisória 449 para Passivo Circulante,
Passivo Não–Circulante e Patrimônio Líquido (capital social, reservas de capital, ajustes de
avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados).
Segundo a FIPECAFI (2007), as contas precisam ser classificadas de forma ordenada
e uniforme dentro dos subgrupos, de forma a permitir uma análise adequada da situação
patrimonial e financeira de uma entidade.
utilizando os recursos que constituem o seu ativo (WIKIPÉDIA, 2008). Dessa forma, os
índices de liquidez e solvência buscam evidenciar a situação financeira de uma entidade,
tendo em vista os compromissos assumidos (ASSAF NETO, 1998).
Os índices de liquidez e solvência tradicionais englobam os índices de liquidez geral,
de liquidez corrente, de liquidez seca e de liquidez imediata (ASSAF NETO, 1998,
MARQUES, 2004). Já os índices de fluxo de caixa, contemplam os índices de cobertura de
juros, de cobertura de dívidas, de cobertura de dividendos, de cobertura de dívidas de longo
prazo e de suficiência total (PLEWA; FRIEDLOB, 1995, ALMEIDA, 2000, BRAGA;
MARQUES, 2001).
O índice de liquidez geral mostra a relação entre o somatório do Ativo Circulante e
Realizável a Longo Prazo e o somatório do Passivo Circulante e Exigível a Longo Prazo.
Segundo Assaf Neto (1998, p. 174), esse índice é utilizado “como uma medida de segurança
financeira da empresa a longo prazo”. No entanto, Marques (2004) alerta que este não segrega
as dívidas e os direitos em função dos seus prazos e realização, respectivamente, além de não
considerar as características dos ativos e passivos, podendo as empresas que apresentam um
índice de liquidez geral elevado vir a enfrentar problemas em honrar seus compromissos. A
Fórmula do Índice de Liquidez Geral é:
ACi ,t + ARLPi.t
ILG =
PCi ,t + PELPi ,t
Onde:
ACi ,t = ativo circulante da empresa i na data t;
ARLPi ,t = ativo realizável a longo prazo da empresa i na data t;
PCi ,t = passivo circulante da empresa i na data t;
PELPi ,t = passivo exigível a longo prazo da empresa i no período t.
ACi ,t
ILC =
PCi ,t
Onde:
ACi ,t = ativo circulante da empresa i na data t;
PCi ,t = passivo circulante da empresa i na data t.
DSPi ,t
ILM =
PCi ,t
Onde:
DSPi ,t = disponibilidades da empresa i na data t;
PCi ,t = passivo circulante da empresa i na data t.
FCOi ,t
ICD =
PCM i ,t
Onde:
FCOi ,t = fluxo de caixa das operações da empresa i no período t;
PCM i ,t = passivo circulante médio da empresa i no período t.
FCOi ,t
ICDIV =
DIVi ,t + JCPi ,t
Onde:
FCOi ,t = fluxo de caixa das operações da empresa i no período t;
DIVi ,t = dividendos pagos pela empresa i no período t;
JCPi ,t = juros sobre capital próprio pagos pela empresa i no período t.
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Tem-se, ainda, o índice de cobertura de dívidas de longo prazo que relaciona o FCO
com o montante da dívida total média. Plewa e Friedlob (1995) destacam que, ao contrário do
índice de liquidez geral, seu índice tradicional correspondente, este índice não apresenta
problemas quanto à não consideração do grau de liquidez das contas, vez que foca
diretamente na capacidade de geração de caixa da empresa. A Fórmula do Índice Cobertura de
Dívidas de Longo Prazo pode ser assim expressa:
FCOi ,t
ICDLP =
PTM i ,t
Onde:
FCOi ,t = fluxo de caixa das operações da empresa i no período t;
PTM i ,t = passivo total médio da empresa i no período t.
Com fundamento nos índices citados, a análise dos dados das empresas de energia
elétrica segue o descrito na seção seguinte, que trata dos procedimentos metodológicos
adotados na pesquisa.
Por fim, tem-se o índice de suficiência total que procura medir a capacidade dos fluxos
de caixa gerados pela empresa cobrir os seus desembolsos usuais e ainda atender suas
obrigações de curto prazo, podendo este ser expresso, conforme Almeida (2000), pela fórmula:
FCOi ,t
ISF =
DIVi ,t + JCPi ,t + JRS i ,t + GC i ,t + PCM i ,t
Onde:
FCOi ,t = fluxo de caixa das operações da empresa i no período t;
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Com fundamento nos índices citados, a análise dos dados das empresas de energia
elétrica segue o descrito na seção seguinte, que trata dos procedimentos metodológicos
adotados na pesquisa.
3 PROCEDER METODOLÓGICO
A possibilidade dos índices apresentarem sinal negativo, podendo esse ser decorrente
tanto do numerador quanto do denominador, dificulta a análise, além de prejudicar a
comparação entre empresas, o que torna necessária a “abertura” dos valores que compõe esses
índices para que se tenha uma análise mais acurada da situação econômico-financeira da
empresa.
Na tabela 2 a seguir são apresentados os resultados das correlações entre os índices de
liquidez e solvência tradicionais e os de fluxo de caixa. Os resultados mostram que das 12
correlações realizadas, 5 não aceitam a hipótese nula, indicando que existe correlação entre os
índices analisados, dada a amostra em estudo.
passivo circulante. Destaca-se, porém, que as relações apresentadas entre os dois primeiros
índices e o de cobertura de dívidas são relativamente fracas, estando os coeficientes de
correlação próximos de zero (0,256 e 0,262, respectivamente). Já a relação observada entre o
índice de liquidez imediata e o índice de cobertura de dívidas é moderada, isto se deve, em
parte, ao fato de disponibilidades, numerador do primeiro, possuir estreita relação com o fluxo
de caixa gerado pelas operações, numerador do outro.
Nota-se, por fim, uma correlação relativamente fraca e positiva entre o índice de
liquidez imediata e o índice de cobertura de dívidas de longo prazo. Essa relação, assim como
a relação entre o primeiro índice e o índice de cobertura de dívidas pode ser decorrente das
variações nos fluxos de caixa gerados pelas operações, numerador do segundo índice,
impactarem os saldos existentes na conta disponibilidades, numerador do primeiro.
Por meio das correlações observadas, tem-se a rejeição da hipótese nula, haja vista a
existência de correlação significativa entre alguns índices de liquidez e solvência tradicionais
e os de fluxo de caixa. Destaca-se, no entanto, que nenhuma das correlações observadas
tratavam-se de correlações fortes, refutando-se, dessa forma, a hipótese de pesquisa deste
trabalho.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho se propôs a analisar a correlação entre os índices de liquidez e solvência
calculados a partir das informações da DFCe os indicadores tradicionais, verificando se
aqueles fornecem informações adicionais aos outros.
No que concerne à hipótese de pesquisa, verificou-se que a mesma não pode ser aceita,
haja vista que nenhum dos índices apresenta para a amostra analisada correlação forte
(conforme definido neste trabalho) com os demais. Muito embora a hipótese estatística possa
ser aceita para os casos do Índice de Cobertura de Dívidas com todos os índices tradicionais
utilizados neste estudo e do Índice de Liquidez Imediata com o Índice de Cobertura de
Dívidas de Longo Prazo.
Ressaltam-se como limitações da pesquisa o tamanho da amostra, bem como o período
pesquisado, ou seja, as conclusões apresentadas circunscrevem-se à amostra e período
utilizados neste estudo, não podendo ser generalizada. Vislumbra-se, porém, que com a
publicação da DFC por um grupo maior de empresas, o que ocorrerá a partir da vigência da
Lei 11.638/07 com alterações trazidas pela Medida Provisória 449, haverá a possibilidade de
se realizarem estudos sem as limitações aqui impostas.
Dessa forma, tendo em vista as limitações citadas, sugerem-se para futuras pesquisas a
realização de estudo semelhante em outros setores econômicos, utilizando-se os demais
índices de fluxo de caixa ou, ainda, um período maior de observação. Pode-se também utilizar
técnicas de análise multivariada de dados, visando identificar os principais índices e/ou
indicadores de fluxo de caixa para os casos e períodos analisados.
REFERÊNCIAS
BRAGA, R.; MARQUES, J.A.V.C.. Avaliação da liquidez das empresas através da análise da
Demonstração de Fluxos de Caixa. Revista Contabilidade & Finanças. V. 14, n. 25, p. 6-23.
janeiro/abril 2001.
PLEWA, F. J.; FRIEDLOB, G. T.. Understanding cash flow. (Finance fundamentals for
nonfinancial managers series) New Jersey: Wiley and Sons, 1995.
MARQUES, J.A.V.C.. Análise financeira das empresas: Liquidez, retorno e criação de valor.
Rio de Janeiro: UFRJ, 2004.
REES, B.. Financial analysis. 2nd ed. London: Prentice Hall, 1995.
SCHROEDER, R. G.; CLARK, M. W.; CATHEY, J. M.. Financial accounting theory and
analysis: Text, readings and cases. 8th ed. New Jersey: Wiley and Sons, 2005.
SILVA, C. A. T.; SANTOS, J. O. dos; OGAWA, J. S.. Fluxo de Caixa e DOAR. Caderno de
Estudos, nº 9, Outubro 1993.
WATTS, R. L.; ZIMMERMAN, J. L.. Positive accounting theory. New Jersey: Prentice Hall,
1986.