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Política e Direito
“Não foi um acidente”, diz Ailton Krenak sobre a tragédia de Mariana Socioambiental
Vale do Ribeira
Esta notícia está associada ao Programa: Povos Indígenas no Brasil
Xingu
No dia 7 de setembro de 2016, pesquisadores do tema Povos Indígenas no Brasil, do ISA, entrevistaram news
o líder Ailton Krenak sobre os impactos no território krenak do desastre de Mariana (MG), o maior crime
socioambiental já registrado no Brasil e que completou um ano no último dia 5/11. Estudo revela que o Cerrado
perdeu em 2020 área quatro
vezes maior que a Grande São
Paulo
Para ele, a derrama de rejeitos da barragem do Fundão, da mineradora Samarco/BHP Billiton, da Vale,
que devastou o distrito de Bento Rodrigues e o Rio Doce, de Minas Gerais até o Espírito Santo chegando Em meio a desmonte de
ao Oceano Atlântico, foi um tiro de misericórdia em um povo que sofre há décadas com os impactos da
proteção ambiental, Adote Um
mineração em suas terras: “Eles botaram o rio em coma e eu quero ver quem é que vai conseguir
sobreviver sem água. Se os Krenak aguentaram toda essa tortura ao longo de quase 100 anos, Parque tem cara de
inaugurada na década de 1920, agora com o rio morto, como vai ficar?”, questiona.
“greenwashing”
A íntegra da entrevista, em que Krenak fala ainda sobre a luta pelo reconhecimento de suas terras em
Contra a fome e a Covid-19,
Minas Gerais, sobre os ataques aos direitos dos índios e a política dos "brancos" para o Brasil, você
confere na próxima edição do livro Povos Indígenas no Brasil 2011-2015, do ISA. quilombolas põem comida na
mesa da favela
Veja abaixo alguns trechos do depoimento de Ailton Krenak a respeito do crime ambiental de Mariana.
Mais vacinação, menos 'fake
news': vacina, parente!
“O evento mais dramático que o povo da Bacia do Rio Doce vive, segue vivendo, é essa derrama de
veneno na cabeceira do rio. Aquela gosma da Samarco e da Vale, aquele material tóxico, recobriu as
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06/04/2021 “Não foi um acidente”, diz Ailton Krenak sobre a tragédia de Mariana | ISA - Instituto Socioambiental
Nexipá Koranavirú! A
Watu, que é como nós chamamos aquele rio, é uma entidade; tem personalidade. Ele não é um ‘recurso’ Comunicação - Brasília/DF
como os pilantras dos engenheiros da Vale, administradores do Governo, da Agência Nacional das mais notícias
Águas, do Comitê de Bacias sugerem. Eles criam toda essa linguagem despistante, malandra, para
sugerir que foi um acidente, que eles usam recursos e que as pessoas, os coletivos, as comunidades que
são atingidas por esse dano, são vitimadas por esse evento, são ‘beneficiários’. Os beneficiários da
presença dessas corporações na nossa região ficam sujeitos a acordar soterrados por uma lama
Áreas Protegidas
venenosa.
Dia 5 de novembro [de 2016] completa um ano desde que milhares de famílias foram, de uma hora para
outra, divorciadas do corpo do rio. Os municípios que estão ao longo dessa bacia têm uma população de
um milhão e meio de pessoas, diretamente afetadas pela derrama da lama tóxica sobre o Rio Doce.
“Diretamente” significa que, indiretamente, pode-se colocar isso na casa dos dez milhões. Mas e a
biodiversidade? A Bacia do Rio Doce foi cauterizada. Agora, aquele corredor de 800 km é uma calha
morta. E surpreendeu a todos nós que, logo nos primeiros 15 dias daquele grave desastre, as pessoas
tenham saído em defesa da Vale e da Samarco, dizendo: ‘Ah, vamos recuperar o Rio Doce’. Ora, o que
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nós temos, de fato, é que a Bacia do Rio Doce vem sendo assaltada pelas atividades de mineração e
Placar Terras
também pela implantação das indústrias de processamento de celulose e de minério”.
indígenas
Impactos históricos
“O Rio Doce, o Watu, pode ser pensado como um lugar onde, na primeira metade do século XX, até a
Identificadas 0
década de 1920, os Krenak viviam ainda com a inocência de ter um rio sagrado, carregado de
significado, de símbolos, onde os espíritos da água interagiam com as pessoas – de onde as famílias
tinham certeza de que podiam tirar comida, remédio. Quando a atividade de abrir a estrada de ferro
Declaradas 0
Vitória-Minas se iniciou, foi o fim da vida livre dos Krenak no Rio Doce. Há imagens que mostram os
engenheiros aliciando os índios para cortar troncos na floresta do Rio Doce para fazer os dormentes. E,
Homologadas 0
como os índios tinham curiosidade da presença daqueles trabalhadores, eles acabaram atravessando o
rio e iam para a margem direita para ver os brancos, ficar perto deles. Essa curiosidade dos Krenak Dados referentes a 2021, a
custou caro, porque pegaram muitas doenças dos brancos e morreu muita gente; crianças, velhos. Um partir de 01/01/2021.
dos marcos do desastre que tem sido a ocupação do Rio Doce para os Krenak é a abertura da ferrovia
Vitória-Minas. Aí é que a vida dos índios virou um inferno. Placar Unidades
de Conservação
E, com todo o abuso do Estado, todo o autoritarismo característico daquela época, os índios eram como
moscas. Se o trem matasse meia dúzia deles, não fazia diferença alguma. Há relatos dos antigos sobre o
Alterações
tanto de gente que morria atravessando a ferrovia, porque não tinha nenhum sistema de vigilância, nem
de alerta, para explicar aos índios que não podiam atravessar o leito da ferrovia – ou que não podiam
de limites 0
caminhar acompanhando os trilhos do trem. Eles eram surpreendidos com o trem em cima deles, às
vezes.
Criadas
0
É desse tempo que os Krenak deram pro trem o nome de Guapo. É uma expressão muito curiosa, porque
é como se eles estivessem chamando o trem de ‘braço mecânico’. É uma ideia totalmente abismada; eles
Revogadas
0
achavam que aquela ferragem que movimenta o trem era uma coisa viva, um braço. A ferrovia foi se
Dados referentes a 2021, a
consolidando cada vez mais. Colocou as bitolas largas, máquinas maiores: a terra dos índios diminuindo
partir de 01/01/2021.
e a máquina aumentando. As nossas montanhas virando mercadoria nesses trens e vagões; todas
composições grandes para transportar minério para o porto do Espírito Santo.Toda essa industrialização
da década de 1940 e 50 para cá, sangra a vida dos Krenak, encurralou as famílias. Essa derrama agora
foi o tiro de misericórdia. Instituto So…
191 mil curtidas
A aldeia está sendo abastecida por dois caminhões pipa que passam nas casas enchendo caixas d'água
duas vezes por semana e entregam nas casas das famílias um fardo com 20 garrafas de 2 litros [de água
mineral], porque o Ministério Público obrigou a Vale e a Samarco a fazerem a entrega para essas famílias
Curtiu
que foram vítimas desse crime ambiental incalculável.
Você imagina como uma comunidade ou uma família vai criar bichos sem água? Qual sustentabilidade
tem manter aquela população bebendo água mineral? Isso parece aquela história da Revolução
Francesa, próximo da tomada da Bastilha, quando falaram para a rainha que o povo estava sem pão e
ela respondeu: 'Mandem comer brioches!'. Então, esses cretinos, quando disseram que o povo do Rio
Doce estava sem água, eles falaram: ‘Bebam água mineral!’”
A desgraça de nós estarmos vivendo um momento político extremamente pobre também não cria canais
de interlocução. Se não fosse o Ministério Público ficar esgoelando em cima desse episódio... O
Executivo estadual anda de joelhos para as mineradoras; e o Governo Federal, a [então] ministra do meio
ambiente sobrevoou a Bacia do Rio Doce e teve a cara de pau de dar um relatório três semanas depois,
dizendo que a empresa tinha sido vítima de uma tragédia. 'A empresa foi vítima de uma tragédia'! O
governador Fernando Pimentel (PT/MG) se reuniu com os diretores da Samarco e deu uma entrevista
dizendo que era solidário com a empresa.
O ICMBio e o Ibama não têm competência para avaliar a extensão do desastre, então contrataram uma
consultoria internacional, que concluiu que houve um abalo sísmico e que nem é possível fazer um
seguro – porque essas grandes corporações têm seguros bilionários dessas minas. Mas, ao concluir um
laudo – uma auditoria interplanetária! – dizendo que foi um acidente sísmico, você não só dá um chapéu
no seguro: dá um chapéu em todo mundo, um chapéu tipo mexicano, um amplo chapéu em todos os
Projetos Estratégicos
otários do planeta.
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06/04/2021 “Não foi um acidente”, diz Ailton Krenak sobre a tragédia de Mariana | ISA - Instituto Socioambiental
Tenho a impressão de que eles estão arrumando uma maneira de dar no pé, sair da cena do crime, sem
nem pedir desculpa. Se continuarem espremendo a Vale e a Samarco, eles podem arrumar uma maneira
de a Samarco decretar insolvência, falência, ou qualquer coisa do tipo, sumir daqui e reaparecer em
qualquer outro continente depois, detonando o planeta, sem pagar a conta do que eles deixaram pra trás.
Gestão das Terras Indígenas das
Esse evento denuncia um quadro global, no qual paisagens, territórios e comunidades humanas fazem bacias do Rio Negro e Xingu
parte de um pacote que essas grandes fortunas, através das suas corporações, continuam tratando como EM EXECUÇÃO / 2016
material descartável. Nós somos ajuntamentos nada relevantes para esses caras e eles nos manipulam
Sociobiodiversidade Produtiva no
do jeito que querem. Somos colônias avassaladas. Esses caras fazem o que querem com os nossos
Xingu
territórios, nosso litoral, nossa floresta.
ENCERRADO / 2017
O Rio Doce só grita de uma maneira incontida o fato de estarmos todos sujeitos a ser plasmados por uma
meleca tóxica dessas em qualquer lugar e não ter nem a quem reclamar. Nós estamos em maus lençóis”.
Entrevista realizada por Marília Senlle, Mario Brunoro, Rafael Monteiro Tannus e Tatiane Klein
Tragédia
Tragédia de
de Mariana
Mariana Rio
Rio Doce
Doce
ISA
Imagens:
Comentários
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Edgar Mantilla
Em primeiro logar a lama NÃO É TÓXICA, ESTÁ COMPROVADO
CIENTIFICAMENTE. E qual o ARGUMENTO TÉCNICO que o senhor Ailton Krenak
se embasou ao afirmar que "não foi acidente"?
Like · Reply · 4y · Edited
Patrícia Rossetti
Como o Sr. vem dizer de argumento técnico? Se a lama provém de
resíduos de mineração, obviamente é tóxica! Imagino que o Sr. queira muito
proteger o seu empreguinho e não tẽm o mínimo de compaixão com a
morte de um rio essencial para as famílias e tribos da região. Como pode
tanta hipocrisia e falta de humanidade? Claramente por ganância a BHP
Samarco Mineração não se importou com o risco de quebra da barragem,
não se importou com a segurança da região, só querem saber de encher os
prórios bolsos de grana e o povo que vivia da pesca, assim como índigenas
de lá, que morram à míngua não é mesmo? Porque para pagar por
propagandas milionárias no horário nobre da tv brasileira a empresa tem
dinheiro!!! mas para iondenizar as milhoes de pessoas afetadas não têm!
Me diz aí, o que essa empresa que te dá tanto orgulho fez por essa
população, depois de matar o rio delas?
Like · Reply · 6 · 4y
Antônio Moraes
"Engenheiro de Processo na Samarco". Sem mais.
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Dandara Sales
Érika Muaná
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Rosa Almeida
Foi descaso, negligência, ganância e a certeza da impunidade Tb! Revoltante e
profundamente triste.
Like · Reply · 1 · 4y
Vilmar Campos
Um dos maiores desastres ambientais em todo o mundo. É tudo pelo dinheiro, pura
ganância com alta dosagem de irresponsabilidade.
Like · Reply · 1 · 4y
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