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A seção da Espanha na primeira Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro (1883)

Katya Braghini
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade, Faculdade de Educação, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Rua Ministro Godói, 969, 4º and. Bloco A, Sala 4E-19. São Paulo (SP) CEP:
05015-901. Brasil.
Email de contacto: katya.braghini@gmail.com

Danielle Barreto Lima


Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade, Faculdade de Educação, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Rua Ministro Godói, 969, 4º and. Bloco A, Sala 4E-19. São Paulo (SP) CEP:
05015-901. Brasil.
Email de contacto: daniblima@hotmail.com

Resumo

Este trabalho tem por objetivos apresentar a primeira exposição pedagógica do Rio de Janeiro
em relação ao circuito transnacional de transferência de saberes e conhecimentos por meio do
trânsito de pessoas, materiais e conteúdos no desenvolvimento dos intercâmbios internacionais
voltados à educação. Mais particularmente, analisa a seção espanhola da Exposição, avaliando a
organização da seção e a apresentação dos materiais pedagógicos expostos, no sentido de
compreender qual é o “sistema de comunicação particular” registrado na organização da seção
pensando a maneira como a Espanha se manifestou como estado educador no evento. Trata-se
de um estudo das classificações de conhecimentos pelos produtos propostos à venda.

Palavras-chave: exposição pedagógica, exposições universais, Espanha, instrução pública,


cultura material

_______

Entre os dias 29 de julho a 30 de setembro de 1883, aconteceu a Primeira Exposição


Pedagógica da cidade do Rio de Janeiro. Essa exposição acompanha o longo histórico das
Exposições Universais, eventos importantes para a constituição da ideia de “modernidade”. Elas
agregam ideais de progresso, cosmopolistismo, indústria, transformando em espetáculo visual a
exposição de variados objetos, símbolos claros dos avanços tecnológicos. Tais feiras reforçavam
uma condição de superioridade do mundo ocidental e a evocação do futuro como mote de
utopias. Exposições como essas, que se ramificaram por temas (Agrícolas, Comerciais,
Industriais, Pedagógicas), também são constituintes das marcações históricas que imprimem a
visualidade como o sentido humano dominante, enquanto educam com balizas postas pela
organização expositiva.
A Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro, como outras, se utiliza dessa forma de
educação sensorial, cuja expografia, entre mostruários e vitrines, criam esses novos sujeitos
visualizadores que tem ali sua percepção aguçada por organizações de estandes, ao mesmo
tempo panorâmicas e específicas, entre a mentalização dos grandes temas que estruturam a
feira, e a possibilidade de exame dos objetos singulares expostos nessas classificações. É um
tipo de educação doutrinária, “com intenção didática, normatizadora e civilizadora” (Kuhlmann
Jr., 2001, p. 9) que acontece durante essa acumulação de objetos que no século XIX não é
prática exclusiva das grandes feiras, mas também dos Museus de todos os tipos (Pedagógicos,
Escolares, de Medicina, Higiene, Arte, Industriais, Comerciais) e Grandes Magazines .
No Brasil se focou na apresentação da educação como espetáculo na segunda metade do
século XIX. Muitos eventos são promovidos nesse sentido, como congressos, exposições,
museus escolares e pedagógicos, e conferência de todos os formatos, de professores, de
legisladores da educação, populares etc. (Câmara Bastos, 2002, p. 263). Mesmo a exposição
pedagógica do Rio de Janeira tinha sido inicialmente pensada como episódio que aconteceria
conjuntamente a um Congresso de Instrução Pública, este último malogrado.
No sentido de expor materiais de ensino, essa exposição segue o que já tinha acontecido
na Word’s Fair em Londres (1851) com seções específicas para o tema “educação”. Objetos
pedagógicos também foram vistos em seções particulares nas Exposições Universais de Chicago
(1890) e Paris (1878 e 1889). Durante a Exposição Universal de Paris (1867), também foram
associados à exibição os interesses de Estado, Educação e produtores de materiais (Fuchs,
2009).
No Brasil, a educação tinha sido ponto de pauta na Exposição Industrial no Rio de
Janeiro (1881), e na sua montagem fez-se muita referência ao Congresso Internacional do
Ensino, realizado em Bruxelas, na Bélgica (1880). Na Primeira Exposição Pedagógica estavam
presentes: Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Chile, Espanha, EUA, França, Holanda,
Inglaterra, Itália, Suécia, Suíça, Uruguai, cada um deles mostrando os seus próprios
entendimentos sobre educação, legislações, projetos, livros e materiais didáticos.
Uma das primeiras menções à Exposição Pedagógica na imprensa foi feita pelo Jornal A
Gazeta de Notícias (RJ). Em sua edição de 10 de fevereiro de 1883, noticiava, na primeira
página, o envio de telegrama comunicando a realização do Congresso de Instrução ao ministro
do Brasil em Londres e às legações e consulados do Brasil em todos os países da Europa e da
América, destacando que, concomitantemente, ocorreria a Exposição Pedagógica. Tal convite
foi feito também aos presidentes de província, conforme edição de 12 de abril de 1883,
mencionando os materiais que deveriam compor a Exposição: planos e modelos de construções
escolares, mobília escolar e seus respectivos modelos, objetos, manuais e livros utilizados no
ensino nas escolas primárias, bem como documentos e publicações sobre a instrução primária.
O ofício noticiado pelo jornal destacou o “caráter de imediata utilidade prática” da Exposição,
solicitando que os países convidados, contribuindo para o aperfeiçoamento e difusão do ensino,
enviassem seus materiais para que fossem exibidos juntamente aos materiais brasileiros. A
importância da Exposição é mencionada novamente na edição de 10 de Junho de 1883, no
parecer da comissão da câmara sobre o Congresso de Instrução e a Exposição Pedagógica, em
que se menciona a importância da exibição dos progressos realizados pelos países mais
adiantados no melhoramento das escolas. Del Pozo Andrés (1983) destaca esse caráter das
exposições mundiais, mencionando como um de seus objetivos o caráter de divulgação do
progresso industrial e social alcançado pelos país ocidentais.
Embora a expectativa com relação à Exposição Pedagógica fosse positiva,
especialmente quanto à melhoria das escolas brasileiras, o jornal Brazil (RJ), em 4 de agosto de
1883, destaca o fato de que melhoramento da instrução pública só seria possível com uma
reforma do sistema. Conforme veiculado no jornal, esta reforma deveria ser iniciada a partir do
que o jornal denomina de município neutro1, servindo, então, de exemplo para as províncias. A
situação descrita pelo periódico – a necessidade de reforma do sistema escolar - está na esteira
do que menciona Ferreira Collichio (1987), quando destaca a existência do “contraste entre a
exuberância de sua apresentação e pobreza das instituições escolares” (1987, p. 6) ainda que se
considere a “riqueza das discussões que se desenrolavam contendo no bojo as pressões do
ideário liberal”.
A data de exposição foi escolhida em virtude do Aniversário da Princesa Imperial, em
29 de julho de 1883, todavia, conforme apontado pelo Jornal A Gazeta de Notícias (RJ), a
escolha da data acabou provocando a abertura da exposição sem que ela estivesse completa. Tal
situação se alinha com a declaração do jornal Brazil (RJ) que, em 8 de agosto de 1883, destaca o
caráter de improviso que teve a exposição, não obstante os esforços empreendidos pela
Comissão Diretora da Exposição Pedagógica como, por exemplo, a realização do transporte dos
itens enviados pelos países com recursos brasileiros, conforme mencionado pelo Jornal A
Gazeta (RJ), em 30 de maio de 1883. Para que fosse possível sua realização, a Exposição
recebeu doações de terceiros, (edição de 26 de junho de 1883), tendo o mesmo jornal noticiado,
em 29 de junho de 1883, que, até aquele momento, a realização da exposição contava somente
com donativos particulares.
Sobre a organização da seção espanhola da Exposição, a Espanha e especialmente a
cidade de Madri, alinhada ao discurso de Conde D´eu mencionado no Jornal do Comércio (RJ)

1
Conforme consta no site oficial do Governo do Estado do Rio de Janeiro
(http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/rio-de-janeiro/65-o-rio-de-janeiro-novamente-corte-o-
imperio/2880-rio-de-janeiro-municipio-neutro): “o Ato Adicional de 1834 estabeleceu que, a partir de então, a
regência seria una; e criou o Município Neutro (uma cidade livre do raio de ação dos poderes provinciais que então
se estabeleciam), formado pela cidade do Rio de Janeiro e seu termo (limites), independente da província do Rio de
Janeiro, cuja capital seria Niterói.”
em 28 de julho de 1884, de que a Exposição Pedagógica foi a primeira exposição dedicada ao
ensino primário, tratou com destaque do ensino primário. Conforme consta no guia, Madri
apresentou 98 itens relativos ao Ensino Primário, um dos maiores conjuntos da exposição
espanhola. No espaço da seção Espanhola dedicado ao Instituto de Surdos e Mudos de Saragoça
também há uma parte da exposição dedicada ao ensino primário, conforme será tratado adiante.
Foram tratados diversos temas, como por exemplo: ensino agrícola (VERA Y LOPES,
Cartilha Agrícola), caligrafia (COSTILLA BENAVIDES, Curso completo de caligrafia) e,
inclusive, obras relacionadas ao trato com os animais (COLADO, “Bondade para com os
animas”). também há uma parte da exposição dedicada ao ensino primário, conforme será
tratado adiante.
O Jornal do Commercio (RJ) noticiou a presença da Espanha na Exposição no dia
seguinte à inauguração, destacando que os materiais apresentados mostravam o empenho do
país quanto ao seu sistema de ensino. Na edição de 4 de agosto de 1883, o mesmo jornal, ao
noticiar a quanto ocorrido na última Sessão da Câmara dos Deputados, especialmente a questão
da criação do Museu Escolar, menciona a doação, pela Espanha, das coleções enviadas para a
Exposição Pedagógica. Mais tarde, em 1885, conforme mencionado pelo jornal Brazil (RJ), em
31 de março de 1885, o ex-Ministro do Brasil em Madri faz a doação de outros materiais ao
Museu, entre mapas e livros. O Jornal do Commercio, em 28 de julho de 1884, ao publicar
trechos do livro produzido por Leôncio de Carvalho, dá informações sobre o sistema de ensino
da Espanha, bem como de outros países, o que evidencia a importância que as práticas dos
outros países tinham para o Brasil, o que evidencia o fato de que as Exposições funcionam
como “espelhos mediante os quais as nações podiam olhar-se, olhando as demais” (Warde,
2000, p. 40).
Quanto às premiações, o Jornal Gazeta de Notícias (RJ), em 15 de março de 1884,
menciona as premiações recebidas pela Espanha. Conforme mencionado no jornal, foram
premiados os seguintes itens:

“D. Antonio Castilho Benavides (de Madrid), 1 diploma de 1ª classe””


“Colégio S. Luiz Gonzaga (de Hespanha) 2 diplomas de 1ª classe”
“Escola Normal de Salamanca, 1 diploma de 1ª classe e 1 de 2ª classe”
“Ministério da Instrução Pública da Hespanha, 1 diploma de 2ª classe e 1 de 3ª”
“Instituto dos Surdos-Mudos (de Madrid) 1 diploma de 1ª classe e 1 menção honrosa”
“Instituto dos Surdos-Mudos (de Saragoça) 2 menções honrosas”
“Chr. Velter (de Hespanha), 1 diploma de 1ª classe e 1 de 3ª”
“Dr. Alfredo Sergio Teixeira de Macedo (encarregado de negócios do Brazil em
Hespanha), 1 diploma de 3ª classe”
“Isquierdo (de Hespanha), 1 menção honrosa”
“Escola Normal de Victoria (de Hespanha), 1 menção honrosa”
Menção honrosa
“pelas obras de physica de Bernardo Nuenas y Pablos, expostos na secção
hespanhola”
“pelos mapas anatômicos expostos na secção hespanhola”
Diplomas de 2ª classe “pelas obras de leitura de Escudero e Olivan, expostos na seção
hespanhola”2

Retornando para a análise da seção espanhola da Exposição, a Espanha está localizada


na Seção 2 do guia e as cidades que participaram foram Madri, Vitória (Vitoria-Gasteiz),
Valência e Zaragoza (Saragoça), principalmente com a apresentação de livros. Todo o circuito
da seção espanhola foi apresentado pelo sobrenome do autor e o título do livro, ou localização
da escola e objeto exposto. A cidade de Madrid esteve representada com os seguintes eixos
norteadores: ensino primário (98 itens); Literatura (24), Ciências (79).
O envio de materiais observou os campos mencionados por Del Pozo Andrés (1983),
quando a autora destaca os grupos que, costumeiramente, participavam das exposições
universais, especialmente no que se refere à participação do Colégio de Surdos-Mudos e Cegos
(ainda que ela mencione os colégios de Madri e Barcelona e o colégio que tenha se feito
representar na Exposição Pedagógica tenha sido o Colégio de Saragoça), as escolas normais e os
editores de livros de texto e material de escola primária.
Ainda que o Colégio de Surdos-Mudos e Cegos de Madri não tenha participado da
Exposição com um espaço próprio, nota-se que foram enviados itens deste Colégio para a
Exposição (e que receberam premiações, conforme se verifica acima) o que evidencia o
destacado por Del Pozo Andrés (1983), quanto à constante participação deste Colégio nas
Exposições Universais. Conforme consta no Guia, há a menção de 17 itens que fazem referência
ao ensino de surdos-mudos e cegos em Madri.
Com relação às escolas normais, a Espanha se fez representar pela Escola Normal de
Vitória, conforme será tratado adiante. Pode-se dizer, também, que o espaço destinado à cidade
de Valência se enquadra no grupo que Del Pozo Andres (1983) denomina de “Editores de
Libros de Texto y Material de Escuela Primaria” pois, muito embora não se trate de uma Editora
específica, apresentou tão somente os livros de Andrés F. Ollero, conforme se verá a seguir.
O mesmo ocorre com os autores mencionados pela autora, que se fizeram presentes na
Exposição Pedagógica. Dos quatros autores mencionados por Del Pozo Andres (1983), o guia
só não faz referência a um deles. Neste contexto, destaca-se os autores Fermín Caballero,
Mariano Carderera e Carlos Nebreda.

2
Foram mantidas as grafias da época, conforme constam nos documentos de suporte.
Com relação à Fermín Caballero, destaca-se que o guia faz referência a um autor de
nome “Cabellero”. Todavia, uma pesquisa junto à Biblioteca Digital Hispánica com o nome
“Fermín Caballero”, que apontou a existência de 46 obras, indicou Fermín Caballero como
3
autor das obras que são mencionadas no Guia, ainda que com diferenças de grafia.
Mariano Carderera (no guia, consta Marianno, todavia foi realizado o mesmo
procedimento acima, desta vez na Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, confirmando se tratar
do mesmo autor) participou da exposição com sua obra “Educação Elementar dos Surdos-
Mudos”, que consta na Biblioteca mencionada como “Apuntes sobre la educación elemental del
sordomudo : destinado á los maestros de primera enseñanza”. 4
Carlos Nebreda, mencionado Carlos Nebreda y Lopez no Guia e apontado como Carlos
Nebreda López nas pesquisas realizadas, concorreu com sua obra sobre a Memória dos surdos-
mudos e dos cegos de Madri (El Colegio Nacional de Sordo-Mudos y de Ciegos de Madrid, en
la Exposición Universal de Viena : su historia, su estado actual, sus trabajos). 5
No que se refere à avaliação da autora quanto aos tipos de itens apresentados pela
Espanha nas exposições das quais participou, a participação do país na Exposição Pedagógica
observou com precisão os campos apresentados.
No espaço dedicado ao Ensino Primário, da cidade de Madri, dos 98 (noventa e oito)
itens apresentados, 77 (setenta e sete) poderiam ser classificados como “materiales”, no que
Del Pozo Andres (1983) menciona os livros de texto, por exemplo, Dos demais, 15 (quinze) são
livros que podem ser classificados como pertencentes ao campo da didática, ou seja, livros de
“métodos y procedimientos”. Ainda utilizando a classificação mencionada pela autora em
questão, 3 (três) se referem a “Reglamentos organizativos”, ou seja, regulamentos de
instituições e 3 (três) fazem referência à outras exposições das quais a Espanha participou.
Ao realizar um levantamento dos temas gerais dos materiais apresentados nesta parte da
Exposição, realizado pelo título do material ou, quando da impossibilidade, pela pesquisa sobre
o livro, nota-se que a grande maioria dos materiais fazia referência ao ensino de Moral,
conforme abaixo:

3
Conforme consta em: http://bdh.bne.es/bnesearch/Search.do?field=todos&text=FERM
%c3%8dN+CABALLERo&showYearItems=&exact=on&textH=&advanced=false&completeText=&language=es&a
utor=Caballero%2c+Ferm%c3%adn&pageSize=30.
4
Conforme consta em: http://www.cervantesvirtual.com/obra/apuntes-sobre-la-educacion-elemental-del-sordomudo--
destinado-a-los-maestros-de-primera-ensenanza/.
5
Conforme consta em: http://www.cervantesvirtual.com/buscador/?q=carlos+nebreda.
Madri - Ensino Primário - Categorias

HIGIENE ECONÔMICA DOMÉSTICA 1


MATEMÁTICA 1
CLASSIFICAÇÃO 1
DESENHO 1
FISIOLOGIA 1
SERICULTURA 1
PROVÉRBIOS 1
RELIGIÃO 2
GEOMETRIA 2
ORTOGRAFIA 2
TRATO COM OS ANIMAIS 2
CALIGRAFIA 2
CAIXAS ECONÔMICAS ESCOLARES 2
CIÊNCIA 3
AGRICULTURA 3
EXPOSIÇÃO 3
GEOGRAFIA 4
LEITURA 5
GRAMÁTICA 7
ARITMÉTICA 9
LIVRO DE LEITURA 11
DIDÁTICA 14
MORAL 21
0 5 10 15 20 25

No caso do ensino primário mostraram uma grande variedade de livros para leitura, tais
como “Provérbios Cômicos” (Aguilera); guias de moralidade e civilidade, tais como o livro
“Tratado de urbanidade” (Cardeal); Tratados de Pedagogia variados, tais como “ Contestação
aos programas de Pedagogia” de Castallanos; “Curso completo de Caligrafia” (Costilla
Benavides); instrução cívica e higiênica voltados para as mulheres, para a família, para as
crianças, para jovens. Há lições sobre a “Bondade para com animais” (Colado), “Animais
Trabalhadores”, “Cartilha Agrícola” (Vera y Lopes) etc.
Com relação à Aguilera, destaca-se a obra “Provérbios Cômicos”, publicada em 1870,
conforme citado no livro “The Cambridge History of Spanish Literature, de David T. Gies, da
Editora da Universidade de Cambridge em 2004. Há mais dois livros deste autor, “Noções de
Gramática Espanhola”, “A estrela infantil” e “Gramática espanhola”. Ventura Ruiz Aguilera foi
um poeta espanhol, nascido em 1820, em Salamanca, Espanha e morreu em 1881, em Madrid
Espanha. Depois do autor mencionado no Guia como Garcia Froebel, é de Ruiz Ventura a maior
quantidade de obras apresentada neste item da exposição espanhola.
Com relação ao autor Garcia Froebel, após pesquisas nas bibliotecas Digital Hispánica,
Biblioteca Virtual do Patrimônio Bibliográfico e Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, foi
localizada a obra “Manual teórico práctico de educación de párvulos segun el método de los
jardines de infancia de F. Frœbel”, publicada em 1913 por Pedro de Alcântara Garcia. Muito
embora a publicação seja posterior a realização da exposição, a publicação de outras obras deste
autor na área de Pedagogia e a indicação, na Biblioteca Digital Hispánica, de uma obra
denominada Froebel y los jardines de la infancia, também publicada por Alcantara Garcia, nos
leva acreditar que, na elaboração do guia, foi inserido o sobrenome Froebel, por conta do tema
trabalhado nas obras do autor, haja vista que, em todas as bibliotecas pesquisadas, não foi
localizada nenhuma informação a respeito de um autor denominado Garcia Froebel.
O espaço destinado à Literatura referente à cidade de Madri contou com 24 (vinte e
quatro) livros, que, em sua maioria, fazem referência ao estudo de poesia (6), tais como a obra
de MORANTE Y MIGUEL, Coleção de poesias; e de estudos sobre literatura (6), tais como
BAGUERO, Estudo sobre literatura da Murcia, literatura grega (CAMPILLO Y RODRIGUEZ,
Lições de literatura grega. Pensando nas classificações mencionadas por Del Pozo Andrés
(1983), pode-se dizer que tudo que foi exposto nesta parte da seção espanhola são “materiales”,
entre eles, livros de texto. Neste item, chamou especialmente a atenção a inserção da obra
“Origem e história do jardim botânico e da escola de agricultura de Filipinas” de GARCIA
LOPEZ. Este livro foi localizado na Biblioteca Digital Hispánica, tendo sido publicado em 1872
6
. Em uma rápida leitura da introdução do livro, é possível notar que se trata, conforme já
apontado pelo título, das condições de localidade e agricultura do Jardim Botânico e da escola
de agricultura de Filipinas. Ainda que, em um primeiro olhar, a obra não guarde relação direta
com o tema “Literatura”, o fato de o livro ter sido impresso na cidade de Madri, por Juan Inesta,
e o Garcia Lopez se apresentar como autor de obras em outras áreas como “Cânones,
Legislacion, Moral, Agricultura y Administracion Civil”, tal como consta na contracapa do livro
em questão7, pode explicar a inserção de seu livro nesta parte da seção espanhola.
Quanto ao tópico “Ciências” (79 itens), inicialmente destaca-se que se trata do tópico
com a maior amplitude de subtemas. Há livros sobre álgebra (ALVAM ARCEVAL, Programa
prático sobre as lições de álgebra), família (ALONSO MARTINEZ, A família), sobre
instituições educacionais (BORRAJO E GONEZ DE LOS RIOS, O colégio de Bolonha), sobre
zootecnia (COTARELO, Mapa da criação da raça cavalar; CASTRO E ESPEJO, Zootecnia
aplicada economia rural e doméstica), desenho (CAPO, “Estudos preliminares de desenho” e “O
desenho e suas aplicações às artes e à indústria”) geometria (CORREA Y PALACINO, “Lições
de geometria descritiva”. DOMINGUEZ HERVELLA “Elementos de geometria analítica”),
botânica (CUTANDA, “Flora compendiada de Madrid), história (GONGORA, “Lições de

6
Conforme consta em: http://bdh.bne.es/bnesearch/Search.do?
field=todos&text=GARCIA+LOPEZ&showYearItems=&exact=on&textH=&advanced=false&completeText=&language
=es&autor=Garc%c3%ada+L%c3%b3pez%2c+Rafael&pageSize=30.
7
García López, Rafael. Orígen é historia del Jardin Botánico y de la Escuela de Agricultura de Filipinas. Madrid:
Imprenta á cargo de Juan Iniesta, Hortaleza, 128, bajo 1872.
História Universal”, “Noções de história da Espanha” e “Noções de história universal”), higiene
e saúde (ORDUÑA, “Manual de Higiene”), assuntos relacionados à Física (SANCHEZ
MORATE, “Noções elementares de física” e RODRIGUEZ, “A eletricidade e suas principais
aplicações”). Ressalta-se que os exemplos acima não são exaustivos, sendo somente
exemplificativos.
Pensando nas classificações feitas por Del Pozo Andrés (1983), pode-se dizer que, dos
79 itens apresentados neste espaço da seção espanhola, a maioria (74) se referia ao que a autora
denomina como “materiales”; três obras se referem a “métodos y procedimientos” e outras duas
se referem a “reglamentos organizativos”. Neste último item, cita-se a legislação referente à
instrução pública.
Serão destacados, então, alguns itens deste tópico. A obra “Curso histórico filosófico da
legislação espanhola” que consta no guia como de autoria de ADAME, chamou a atenção por
estar relacionado no tópico “Ciências”, ainda que, aparentemente (pois a obra não foi
localizada e, pelo sobrenome do autor não foi possível localizá-lo e relacioná-lo com a obra) se
trate de assuntos relativos à área jurídica. Uma hipótese é ter sido incluído neste tópico por se
tratar de um manual para ensino jurídico e ser tratado como da área de “ciências jurídicas”. O
mesmo ocorre com o livro “Lei de direito pátrio”, de autoria de ARMAS. O livro de OLIVER,
“História do Direito em Catalunha”, mencionado no guia, foi localizado na Biblioteca Digital
Hispánica com o nome de Historia del derecho en Cataluña, Mallorca y Valencia: Código de
las costumbres de Tortosa, sendo de autoria de Oliver y Esteller, Bienvenido, tendo sido
publicado, conforme consta na Biblioteca, entre 1876 e 1881. Supõe-se que se trate da mesma
obra mencionada no guia.
Destaca-se também as obras “Memória do Colégio Nacional de Surdos-Mudos e
Cegos” de CASTELLO e “Escolas espanholas de surdos-mudos” de HERVAS. Conforme será
discutido adiante, a seção ocupada pela Espanha na exposição possui muitas obras relacionadas
à educação de surdos-mudos e cegos.
Por conta do significativo volume de materiais apresentado neste espaço da seção,
optou-se por ilustrar os temas tratados no gráfico abaixo, tendo sido utilizado o mesmo critério
mencionado acima, ou seja, título do livro e/ou pesquisa adicional.
Madrid - Ciências - Categorias

ZOOTECNIA 1
VIAGENS E DESCOBERTAS 1
TRATADO DE FLEXÕES 1
TRABALHO 1
QUÍMICA 1
PROPRIEDADE INTELECTUAL 1
PAUPERISMO 1
N/A 1
MORAL 1
MEMÓRIA 1
MÉDICO 1
MECÂNICA RACIONAL 1
MAPAS ESPANHÓIS E PORTUGUESES 1
INSTRUÇÃO PÚBLICA - LEGISLAÇÃO 1
HOMEM FÍSICO OU ANATÔMICO 1
HIGIENE 1
FLORA DE MADRI 1
FISIOLOGIA 1
FÍSICA 1
FILIPINAS E YOLO 1
FAUNA SERRA MORENA 1
ESCOLAS PÚBLICAS 1
ENSINO UNIVERSITÁRIO 1
ELETRICIDADE 1
DISCURSOS PARLAMENTARES 1
CARTAS 1
CÁLCULO MERCANTIL 1
CAIXAS ECONÔMICAS 1
BOLONHA 1
BIBLIOTECA NACIONAL 1
ATLAS ESPANHOL 1
ASTRONOMIA 1
ARQUITETURA ESPANHOLA 1
ANTIGUIDADES PERUANAS 1
TRATO COM OS ANIMAIS 2
MOLUSCOS 2
MANUAL 2
ESCOLAS ESPANHOLAS DE SURDOS-MUDOS 2
DIPLOMACIA 2
DESENHO 2
ARQUIVO DAS ÍNDIAS 2
AGRICULTURA/AGRIMENSURA 2
GEOMETRIA 3
BIOGRAFIAS 4
JURÍDICO 5
GEOGRAFIA 5
HISTÓRIA/HISTÓRIA DA ESPANHA/HISTÓRIA DA ESPANHA SAGRADA 6
ARITMÉTICA/ÁLGEBRA 6
0 1 2 3 4 5 6 7
O próximo espaço da exposição é destinado à cidade de Vitória (19 itens), mais
precisamente a mostra de sua Escola Normal, que exibiu os seus materiais de ensino para
Ciências, Matemática, e coleções de trabalhos de crianças (Exposição Pedagógica, Guia, 1883,
[s.n.]). A apresentação da Escola Normal de Vitória se alinha ao identificado por Del Pozo
Andrés (1983), quando menciona os coletivos que tradicionalmente participavam das
Exposições Universais. No espaço destinado à Escola Normal de Vitória, há livros sobre mapas
(BOTELLA, “Mapa geológico da Espanha”), regulamento escolar (CONSELHO DE
INSTRUÇÃO PÚBLICA DE ALAVA, “Regulamento de monte-pio (sic) dos professores e
professoras da província Alava8”) e geometria (ESCOLA NORMAL, “Coleção de figuras
geométricas e de desenho linear”) e aritmética (MANUIM, “Manual da indústria e comércio).
Foi possível notar que a maioria dos itens deste tópico se referia à trabalhos feitos pelos alunos,
como, por exemplo: trabalhos de caligrafia (ESCOLA NORMAL, “Trabalhos caligrafia com os
incetados pelos alunos da mesma escola”), “um lenço bordado, um porta-relógio de veludo e
um porta-jóia de papel feitos por uma menina de 10 anos”, e “uma coleção de trabalhos
caligráficos executado (sic) pelos meninos da escola pública de Vitória” e “um encerado
caligráfico, oferecido a Sua Majestade o Imperador por Suarez”. Neste espaço, fica ainda mais
nítida a organização dos materiais para a exposição de acordo com a classificação mencionada
por Del Pozo Andrés (1983).

Vitória - Categorias
PERIÓDICOS - PRECURSER 1
BIOGRAFIA 1
ARITMÉTICA 1
INDÚSTRIA E COMÉRCIO 1
CONGRESSO PEDAGÓGICO 1
COLEÇÃO DE SÓLIDOS - ESCOLA NORMAL 1
FIGURAS GEOMÉTRICA E DESENHO LINEAR - ESCOLA NORMAL 1
FACHADA E PLANTA DA ESCOLA NORMAL 1
MAPA ESPANHOL E PORTUGUÊS 1
REGULAMENTO DE MONTE-PIO PROFESSORES DA ALAVA 1
MAPA GEOLÓGICO ESPANHOL 1
TRABALHOS DE ALUNOS 8
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

8
Álava (em basco: Araba) é uma das três províncias que compõem a comunidade autónoma do País Basco da Espanha.
No espaço destinado à Valência, há 9 livros, todos referentes a Andrès F. Ollero. Este é
autor de livros didáticos de Geografia, História Sagrada, Aritmética, História da Espanha,
Indústria e Comércio, Urbanidade, todos eles impressos por editores dessa mesma cidade, tais
como Salvador Amargos e Samuel Alufre. Andrès F. Ollero é mencionado como membro da
Comissão Permanente da “Asamblea Nacional de Maestros de Primeira Ensenanza” (1891) 9 e
como diretor do periódico quinzenal “La Enseñanza” e do periódico “El Magisterio Nacional” e
sub-diretor do semanário “La Educación”. Checa Godoy (2002) 10 se refere à Fernández Ollero
como “enérgico defensor de los montepios de maestros” (2002, p. 64). Pode-se supor que há
uma relação entre a imprensa pedagógica e Andrès F. Ollero, o que facilitou a apresentação
destes livros na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro (1883).
Mas, certamente o elemento mais destacado da seção espanhola ficou por conta da
variedade de materiais para o ensino de “surdos-mudos e dos cegos” apresentado pelo Instituto
dos Surdos-Mudos e Cegos de Zaragoza (1871), com 114 itens, divididos entre temas como
“Livros de Instrução Primária”, “História e Métodos”, “Livro para Uso dos Surdos-Mudos”,
“Caligrafia”, “Desenho”, “Ensino de Cegos (Livros em relevo)”, “Aparelho para o ensino de
cegos”, “Ensino de Cegos – Métodos Musicais”, “Trabaljos (sic) de Cegas” (12), “Trabalho de
Surdas-Mudas” (05) e “Vários Objetos”. Também são apresentados livros de diferentes acessos
à leitura para cegos, pautas para escrita em dois sistemas Braille e Abreu; caderno de caligrafia
“para escrita em relevo de letra usual”; métodos para o ensino de música.
A importância que as exposições tinham para a Espanha, para a cidade de Saragoça e
para o Colégio de Surdos-Mudos e Cegos de pode ser exemplificada, por exemplo, pelo fato de
a cidade de Saragoça ter sediado a Exposição Aragonesa de 1868, tendo sido publicado,
inclusive, um catálogo dos produtos premiados: o “Catálogo de los Expositores Premiados”.
De acordo com esta obra, a exposição contava com itens escolares, por exemplo: “Novísimo
sistema general de organización de escuelas con su plano esplicativo” de D. Valentin Zabata y
Argote, premiado com medalha de ouro na categoria “organización de escuelas”. A obra de D.
Cárlos Nebreda y López, Burgos: por la Memoria relativa à los sordo-mudos y ciegos, que
também foi apresentada na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro (1883), foi premiada com
medalha de prata. O livro destaca também a premiação para o D. Francisco Fernandez
Vülabrille, Madrid: por los Libros para uso de los sordo-mudos y ciegos, y las Memorias sobre
la ensenanza de los mismos e sobre el orígen y organizacion de su colegio e D. Juan Manuel
Ballesteros, Madrid: por los Libros para uso de los ciegos, y la Memoria sobre la enseñanza de
sordo-mudos y ciegos, que também apresentaram suas obras na Exposição Pedagógica do Rio
de Janeiro. Em 1885, foi realizada uma nova Exposição Aragonesa.

9
MELCÓN BELTRÁN, Julia. La formación del profesorado en España (1837-1914). Ministerio de Educación.
Madrid, 1992.
10
CHECA GODOY, Antonio. Historia de la prensa pedagógica en España - Edição 1 de Ciencias de la
comunicación. Universidad de Sevilla. Secretariado de Publicaciones (2002)
Don Miguel Fernández Villabrille publicou, em 1873, um livro denominado La
enseñanza de sordo-mudos y de ciegos de España en las exposiciones de 1867 y 1868 11.
Conforme destacado pelo autor, o resultado obtido na Exposição de Paris, realizada em 1867,
despertou nas nações que concorreram o desejo de replicar a iniciativa em seus próprios países.
Neste contexto, foi realizada, em 1868, uma Exposição em Zaragoza, conforme mencionado
acima. Na parte do livro dedicada à Exposição realizada em Zaragoza, há um catálogo dos
livros, instrumentos para o ensino e trabalhos de alunos apresentados nesta exposição. De
acordo com o autor, a exposição apresentou 76 itens que se referiam ao ensino de surdos-mudos
e cegos, deixando clara a importância deste tema. Importante destacar que, até então, o Colégio
de Surdos-Mudos e Cegos de Zaragoza não havia sido fundado.
Nas páginas iniciais do livro, um dos objetivos da obra foi expressamente consignado,
qual seja, declarar o estado da instrução de surdos-mudos e cegos na Espanha em 1868. Nas
páginas seguintes, destaca-se a importância das exposições para os países envolvidos,
contribuindo para a diminuição da distância entre eles e para a divulgação dos processos
obtidos. Conforme mencionado pelo autor, sendo a Espanha a pátria do inventor do ensino de
surdos-mudos, o Frei beneditino Ponce de Leon, não pode se furtar à obrigação de participar de
Exposições, divulgando os trabalhos realizados.
Além disso, conforme trabalho coordenado pelo Museo de la Biblioteca Nacional de
España, “Manos com voz própria – Quinientos años de lengua de signos” (2017), a
participação em exposições era uma maneira utilizada pelas escolas especiais de difundir os
progressos que obtinham. Foram mostrados, em Paris (1867) e em Zaragoza (1868), elementos
do ensino de surdos-mudos e cegos, seus alfabetos específicos e a história de seus
estabelecimentos, entre outros elementos, tal como realizado posteriormente na Exposição
Pedagógica do Rio de Janeiro (1883).
Especificamente com relação à cidade de Saragoça, Vásquez Astorga (2012), destaca o
compromisso desta cidade com a educação especial, especialmente no século XIX e primeira
metade do século XX. Em 1871, dirigido por Antonio Arellano y Ballesteros (que, segundo a
autora, estudou no Colégio de Surdos-Mudos e Cegos de Madri), fundou-se o primeiro colégio
especial da cidade. Ainda conforme mencionado pela autora, apesar do caráter privado da
instrução fornecida no colégio, contava com financiamento público, tendo em vista o
reconhecimento do seu valor pelo município, no que menciona a autora as premiações recebidas
pelo colégio, inclusive na exposição pedagógica realizada em Madri em 1882.
Passemos, então, a analisar os espaços dedicados ao ensino de surdos-mudos e cegos da
seção espanhola.

11
Fernandez Villabrille, Miguel. La enseñanza de sordo-mudos y de ciegos de España en las exposiciones de 1867 y
1868. Madrid: Imprenta de Hernando, Isabel la Católica, 10, 1873.
O primeiro deles é destinado para os livros de instrução primária (15) que, como dito,
receberam atenção especial na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro (1883). Pensando nas
classificações de produtos conforme proposto por Del Pozo Andrés (1983), pode-se dizer que a
maioria (12) pode ser classificada como “materiales”, por se tratar de livros de texto. Um deles
se refere à legislação do ensino primário, e 2 se referem ao que a autora chama de “Métodos y
Procedimientos”. Abaixo, os temas tratados nos produtos apresentados.

INSTITUTO DOS SURDOS-MUDOS E DOS CEGOS - LIVROS DE


INSTRUÇÃO PRIMÁRIA - Categorias

Infância 1
Religião 1
Trabalho 1
Catecismo 1
Livro de Leitura 1
Retórica e Poética 1
Aritmética 1
Gramática 1
Legislação Ensino Primário 1
Pedagogia 2
Urbanidade 2
Geografia 2
0 0.5 1 1.5 2 2.5

Observa-se que, considerando a proporção de livros apresentados no espaço da


instrução primária ocupado por Madri, a amplitude de temas é significativa, o que demonstra o
intento dos expositores da Espanha em divulgar os logros alcançados especialmente nesta área,
qual seja, o ensino de surdos-mudos e cegos.
O próximo espaço destinado ao Instituto dos surdos-mudos e dos cegos apresentou itens
relativos à “História e Métodos”. Como o próprio nome diz, eram produtos que traziam a
memória dos colégios de surdos-mudos de Madri, Barcelona; regulamentos dos colégios; a
participação dos colégios especiais nas Exposições Universais e métodos para ensino de surdos-
mudos e cegos. Na parte da Exposição denominada “Livros para uso dos Surdos-Mudos”, dos
26 produtos apresentados, 10 deles se referiam a discursos proferidos em diferentes ocasiões,
todos relativos a instituições de ensino para surdos-mudos e cegos. Nota-se, portanto, um
interesse em divulgar os trabalhos dos institutos especiais para além da simples apresentação
dos produtos. Além dos discursos, destaca-se a apresentações de orações (AGUSTIN DE
SILVAS MINUTA, Oração inaugural que na abertura do Real colégio dos surdos-mudos Madri
leu (sic)); manuais para uso dos surdos-mudos (FRANCISCO DE ASSIS VALLE Y
RONQUILLO, Manual para uso dos alunos surdos-mudos de Barcelona); e livros sobre
métodos e procedimentos, ou seja, didática no ensino de surdos-mudos (JUAN PABLO
BONET, A arte de ensinar falar aos surdos-mudos).
No espaço denominado “caligrafia”, foram apresentados 5 trabalhos feitos por alunos
surdos-mudos, o mesmo tendo no espaço destinado aos “desenhos”. Muito embora não esteja
mencionado expressamente no guia que são trabalhos de alunos, a descrição dos itens (quadro
de objetos; quadros sobre corpo humano; retratos) e o quanto mencionado por Del Pozo Andrés
(1983) quanto aos tipos de produtos apresentados faz com que suponha-se que são trabalhos
realizados por alunos.
No próximo espaço, o Instituto dos Surdos-Mudos e dos Cegos apresentou os livros em
relevo para ensino de cegos. Do total de itens (11), 10 deles podem ser classificados como
“materiales”, ou livros de texto. Um deles pode ser classificado como “Producciones del
alumnado”, pois, conforme consta no guia, são “dois cadernos de planos ou manuscritos” de
autoria de “alunos cegos”. Abaixo, os temas tratados neste espaço da seção espanhola.

Instituto dos Surdos-Mudos e dos Cegos - Ensino de Cegos - Livros


em Relevo - Categorias
Caderno de leitura em letra usual 1

Abecedário geral dos cegos 1

Aritmética 1

Dicionário 1

Geometria (2 tomos) 1

História Sagrada 1

Gramática pontiada 1

Cartilha pontiada 1

Moral; urbanidade 2

0 0.5 1 1.5 2 2.5

Ainda quanto ao ensino de cegos, o espaço em que foram apresentados os aparelhos


para ensino de cegos contou com 5 produtos, entre réguas para escrita no sistema Abreu e
Braille, à lápis e caixa com alfabeto para uso dos cegos. Destaca-se o espaço destinado ao
ensino de métodos musicais para cegos, com produtos sobre o ensino de solfejo, escrito em
relevo e no sistema Braille, violino e piano.
O instituto dedicou um considerável espaço para o que Del Pozo Andrés (1983)
classifica como “Producciones del alumnado” pois, entre trabalhos feitos por cegas e surdas-
mudas, conta-se 17 (dezessete) itens. Abaixo os tipos de produções realizadas pelas alunas:
Instituto dos Surdos-Mudos e dos Cegos - Trabalhos de Cegas -
Categorias
Porte-monaie 1
Porta-relógio 1
Camisa 1
Bolsa e torçal 1
Retrato 1
Ligas 1
Pena 1
Camisinha 2
Almofada 3
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5

Instituto dos Surdos-Mudos e dos Cegos - Trabalhos


de Surdas-Mudas - Categorias
Toalha 1
Porta-relógio 1
Ligas 1
Gravata 1
Bolsa 1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2

A descrição da seção espanhola descrita no guia é finalizada com a parte denominada


“Vários objetos”. De uma forma geral, pode-se dizer que são produtos que se referem ao ensino
primário, ao magistério aragonez e ao próprio colégio. De uma forma geral, nota-se um esforço
no sentido de mostrar as várias facetas do ensino de surdos-mudos e cegos na Espanha, não só
com relação ao Colégio de Saragoça, mas do trabalho realizado pelo país, o que passou pela
apresentação de livros para uso dos alunos, livros sobre métodos pedagógicos, materiais
utilizados no ensino, produções do aluno e inclusive regulamentos gerais e específicos dos
Colégios, o mesmo podendo-se dizer dos outros espaços da Exposição. Por qualquer lado que se
observe, a metáfora dos espelhos destacada por Warde (2000) é apropriada, pois todo o quanto
foi apresentado servia de exercício de reflexão para a Espanha, conforme ocorrido desde as
primeiras Exposições Universais, o que inclusive motivou a Espanha a realizar suas próprias
Exposições, quanto de espelho para que o Brasil pudesse se mirar e observar o que podia e
devia ser melhorado na instrução pública.
Conclusão

O que vemos no Rio de Janeiro é a associação de interesses voltados à educação em


conjunto com a apresentação de uma relevante e também interessada gama de comerciantes,
distribuidores, casas de representantes de produtos, além da apresentação de seções de países
que também são vitrine de empresas, editoras e tipografias. A partir dos jornais e de uma
testemunha ocular houve entusiasmo em relação aos estandes. Vê-se que a maior parte da
organização da seção dá vistas às variações de livros didáticos produzidos no país; uma escola
normal dignamente representada por seus trabalhos; um autor de livros fazendo a exposição de
suas obras. Destacam-se os objetos e livros voltados ao ensino de surdos e cegos. Os motivos
ainda não estão clarificados, mas tem-se por hipótese que sejam resultado no entusismo em
torno do Congresso de Milão (1880) sobre a temática, e o fato de o Rio de Janeiro sediar os
Imperiais Institutos para o ensino de cegos (1854) e surdos (1856), o que valeria o encontro e o
intercâmbio.

Referências Bibliográficas

CHECA GODOY, Antonio. Historia de la prensa pedagógica en España - Edição 1 de Ciencias


de la comunicación. Universidad de Sevilla. Secretariado de Publicaciones (2002)
DEL POZO ANDRÉS, María del Mar. Presencia de la pedagogía española en las Exposiciones
Universales del XIX. Historia de la Educación, v. 2, 1983.
FERNANDEZ VILLABRILLE, Miguel. La enseñanza de sordo-mudos y de ciegos de España
en las exposiciones de 1867 y 1868. Madrid: Imprenta de Hernando, Isabel la Católica, 10,
1873.
GARCÍA LÓPEZ, Rafael. Orígen é historia del Jardin Botánico y de la Escuela de Agricultura
de Filipinas. Madrid: Imprenta á cargo de Juan Iniesta, Hortaleza, 128, bajo 1872.
MELCÓN BELTRÁN, Julia. La formación del profesorado en España (1837-1914). Ministerio
de Educación. Madrid, 1992.

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