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Uma das principais preocupações em termos de crimes patrimoniais é diferenciar furto de roubo. Em geral,
as provas costumam distingui-los através de institutos da parte geral do direito penal, como o desvio subjetivo de
conduta (art. 29, §2º do Código Penal: § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,
ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave).
Em geral, os crimes patrimoniais exigem uma especial intenção. No furto, existe o animus rem sibi habendi, ou
seja, a intenção de agir como dono da coisa, de dispor dela, subtrair para si ou para outrem.
Atenção: por isso furto de uso não é crime! Se desde o início a intenção é a devolução do bem, não há que se
falar em crime de furto.
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Subtração
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa,
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Subtração, com violência ou grave ameaça, ou meio que impossibilite a resistência da vítima
Furto
Como saber quando o crime é qualificado? Há uma nova escala penal – perceba que a pena cominada em
abstrato para os casos de furto qualificado acima esquematizados é distinta da pena cominada a caso do furto
simples, prevista no caput.
Furto simples: chega-se nele por exclusão: será furto simples se não couber qualificadora
Furto privilegiado: soma dos fatores primariedade do agente + pequeno valor da coisa furtada
Atenção: qualificadora não se confunde com causa de aumento: quando há aumento de pena, geralmente por
fração, há um crime majorado. É causa de aumento, considerado na terceira fase da dosimetria da pena.
Furto majorado
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Qualificadoras:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
Atenção: o emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum aqui foi usado para a
subtração. Se for usado para empregar violência ou grave ameaça à pessoa, tratar-se-ia do crime de roubo.
Incluído pela Lei nº 13.654/18 – é uma lei maléfica, que incluiu novas qualificadoras – vigora o princípio da
irretroatividade da lei penal maléfica. Logo, só pode ser aplicada aos furtos praticados após o dia 24/04/2018.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas
ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
Aqui, a subtração é dos explosivos e de acessórios que possibilitam sua fabricação, montagem ou emprego.
Segue a mesma regra referente à irretroatividade da lei penal maléfica.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Para incidência desta qualificadora, o veículo deve ser efetivamente transportado para outro Estado ou
para o exterior.
Vigência: 03/08/2016
Ambas as hipóteses são defensivas, mas o princípio da insignificância serve para afirmar que o fato é
materialmente atípico. Se o fato é atípico, não há crime.
Exemplo: furtar dez reais da carteira de alguém que tinha mil reais na carteira.
Em uma peça processual, é possível primeiro sustentar o princípio da insignificância; e, em segundo lugar, o
furto privilegiado, como tese subsidiária (princípio da eventualidade).
O que seria o “pequeno valor”? STJ – HC 401574: “Na aplicação do furto privilegiado (art. 155, §2º do Código
Penal), o salário mínimo vigente à época dos fatos vem sendo utilizado como parâmetro para se atribuir à cosia
furtada a quantidade de “pequeno valor”. Porém, não se trata de um critério absoluto. Deve ser considerado
juntamente com as demais circunstâncias do delito. In casu, o valor furtado, equivalente a um salário mínimo
vigente à época dos fatos, era proveniente da aposentadoria da vítima e ainda representada toda a quantia
existente na conta bancária, o que demonstra elevada reprovabilidade da conduta e, em consequência, a
impossibilidade de reconhecimento de furto privilegiado”.
Quanto ao furto qualificado, atenção para alguns pontos:
- Abuso de confiança requer relação de confiança entre sujeito ativo e passivo e não deve ser algo presumido.
Sendo assim, a questão precisa deixar expresso que a vítima depositava confiança no autor do crime.
- Quanto à fraude, esta é empregada para que o agente consiga distrair a vítima e subtrair a coisa. Caso a
fraude seja utilizada para que a vítima entregue o bem, via de regra, tratar-se-á de estelionato.
- Escalada é qualquer meio de ingresso anormal, que exija um esforço fora do comum do agente. Logo, cavar
um túnel pode ser escalada.
- Chave falsa é qualquer coisa utilizada para abrir, tenha ou não formato de chave. A cópia da chave
verdadeira não configura a qualificadora do emprego de chave falsa, mas pode caracterizar, a depender dos
dados da questão, abuso de confiança (ex.: deixar a chave com o porteiro que faz a cópia da chave verdadeira).
Roubo
Roubo próprio: o agente uso a violência, grave ameaça ou meio que impossibilite a resistência da vítima
como meio para subtrair.
Para subtrair a coisa, a precisa de um meio: violência, grave ameaça ou impossibilidade de resistência da
vítima.
Roubo impróprio: o agente primeiro subtrai e depois usa a violência ou grave ameaça.
O roubo é o “furto que não deu certo”. O emprego de violência ou grave ameaça é posterior à subtração.
Detalhe importante: se a pessoa primeiro subtrai e depois impossibilita a resistência, é furto – perceba que o
roubo impróprio só existe se houver emprego de violência ou grave ameaça. (Subtração + impossibilidade de
resistência: há furto).
Majorantes do roubo:
I – A majorante do emprego de arma foi revogada pela Lei nº 13.654/18, passando a caracterizar nova
hipótese de aumento de pena no §2º-A, que exige que a arma seja de fogo.
Obs.: falta de proporcionalidade no caso do furto qualificado se comparado ao roubo majorado por concurso de
pessoas. Súmula 442: É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do
roubo.
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior;
Cuidado: a subtração deve ser do veículo automotor. Cuidado com as distinções para extorsão e
sequestro.
Qualificadoras:
§ 3º Se da violência resulta:
Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes,
que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
judicial; III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Na apropriação indébita, o agente exerce a posse anterior. No entanto, essa posse anterior é lícita, de boa fé. Se
a anterior é de má fé, o crime praticado será de estelionato, em que há o inadimplemento preconcebido.
A apropriação indébita estará consumada com a inversão da posse, quando ela passa a se tornar uma posse de
má-fé.
Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
O estelionato caracteriza-se pelo dolo inicial (inadimplemento pré-concebido, dolo ab ovo, dolo ab initio).
Neste crime, o agente alcança duplo resultado: Obtém vantagem indevida e causa prejuízo alheio.
O meio para a prática do estelionato é sempre a fraude, ainda que ela se caracterize pela mentira ou mero
silêncio.
O agente poderá criar o erro na vítima ou aproveitar-se de erro em que ela já esteja, mantendo este erro na víti-
ma.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o dispos-
to no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
A distinção deste crime para outros foi analisada na aula de crimes contra a liberdade.
RECEPTAÇÃO
Modalidades principais:
- Própria e imprópria
- Qualificada
- Culposa
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº
9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregu-
lar ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de
1996)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a
coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária
de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.
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Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes,
que deve saber ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Imunidades:
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
Relativa: art. 182: Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é
cometido em prejuízo:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à
pessoa;
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído
pela Lei nº 10.741, de 2003)
ENUNCIADOS STJ:
Súmula 582
Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa
roubada, sen-do prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. Terceira Seção, aprovada em 14/9/2016,
DJe 19/9/2016.
Súmula 567
Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de es-
tabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
Súmula 511
É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualifica-
do, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva.
Súmula 442
É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
Súmula 443
O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação
concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.
Súmula 244
Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de
fundos.
Súmula 107
Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação das
guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão a autarquia federal.
Súmula 96
O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.
Súmula 73
A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência
da justiça estadual.
Súmula 48
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido
mediante falsificação de cheque.
Súmula 24
Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da previdência social, a
qualificadora do § 3º, do art. 171 do código penal.
Súmula 17
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e por este absorvido.
SÚMULAS STF:
SÚMULA 603
A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
SÚMULA 610
Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da
vítima.
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SÚMULA 603
A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do Juiz singular e não do Tribunal do Júri.
SÚMULA 554
O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosse-
guimento da ação penal.
SÚMULA 521
O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa
de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
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