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ito original: Les grandes théories de la linguistique ©Armand Colin, 2003 Coordenagio Editorial Editora Claraluz Revisao Técnica Roséirio Gregolin Diagramagao Maira Valencise Elaboragio de Capa Deze Dez Multimeios Impressio e Acabamento | Suprema Grifica | Ficha Catalogréfica elaborada pela Biblioteca do ICMC/USP. 337g Paveau, Marie-Anne, |As grandes teorias da linglistica : da gramitica compara daa pragmatiea / Marie-Anne Paveau, Georges-Elias Sarfati: ‘Tradutores Maria do Rosario Gregotin, Vanice Oliveira Sargentini, Cleudemar Alves Fernandes. Sao Carlos : Claraluz, 2006. 256 p.;26em, ISBN 85.88638.-13-4 |. Lingdistica ~Século XX. 2. LingUistica ~ Teoria, 3. Lingtistica Aspectas epistemoldgicos. I. Sarfati, Georges-Elia. Il.Gregolin, Maria do Roxio, trad, I Sargentin, Vanice Oliveira, trad. IV. Femandes, Cleudemar Alves, trad. V. Titulo. © Bditora Claraluz Rua Rafael de Abreu Sampaio Vidal, 1217 So Carlos ~ SP 13560-390 Fone/Fax (16) 33748332 www.editoraclaraluz.com.br es Ar Gs Tr oni dda vertente social da linguagem!”. Meillet foi, juntamente com seu aluno M. ‘Cohen (1884-1974), 0 organizador das Langues du monde (1924, 2.ed, 1952). Esse conjunto ilustra 0 postulado segundo o qual as inguas s20 “o reflexo do comportamento e da mentalidade”. A tematizagao por Meillet do papel predominante dos processos sociais proporcionava novas interpretagdes, ‘Compreende-se, por exemplo, como, a partir desses mesmos postulados, Cohen propds uma tcoria marxista da linguagem em Matériaux pour une sociologie du langage (1956, 2 e4.1971). A teflexio indo-europeanista de Meillet foi trabalhada por dois outros discipulos, F. Benveniste (1902-1976), autor, nesse dominio, do Vocabulaire des insttuttions indo-européennes (cujas posigoes se encontram esparsas na obra de Meillet), e G. Dumézil (1898-1986) que, a0 se apoiar nos métodos da gramética comparada, conferiu um fundamento cientifico ao estudo da mitologia comparada (em particular: L'idéologie tripartite des Indo-Européens). BIBLIOGRAFIA BERGOUGNIOUX G, Aux origines de la linguistique frangaise. Paris: Pocket, 1994. BREAL M., Essai de sémantique. Pais: Brionne, Gérard Monfort, 1982. HENRY, V, Les antinomies linguistiques, suivies du Langage martien. Paris: Peeters, 2000. MEILLET A. Linguistique historique et linguistique générale, Genebra: Slatkine; Paris:Champion, 1982. 17 °A natureza social da lingua ¢ uma das suas caracteristicas internas. Pode-se, portanto, conceber uma cigncia que estuda a vida dos signos no interior da vida social [Lo N6s a nomearemos semiologia [.] A taref do lingdista é definiro que faz da lingua lum sistema especial no conjunto dos fatos semioligicos” (1995, p33) Capitulo 4 FERDINAND DE SAUSSURE : A teorizacgao da lingiiistica moderna Saussute mostra que o homem nao é senhor de sua lingua. Ao questionar as evidencias gramaticais ¢ a maneira pela qual elas funcionam para 0 su falante, Saussure contribu para tira a relexzo sabe a linguagem das evidencias cempiricas; ao estudar a lingua como objeto abstrato, um sistema eujas Forgas Sio exteriores ao mesmo tempo a0 individu e a realidade fsica, a teoria Saussureana preduzi um efeto de deseonsirugao do sueitopsivoWico livre e consciente que reinava na reflexdo da filosofia e das eléncias bumanas nascentes,no final do século XIX. tr * Essa observagio de Gadet (1966, p. 7) expe a0 mesmo tempo o projet dde Saussure (1857-1913) esuas conseqUiéncias na ciéncia lingdistica do século XX, O Curso de Lingtistica Geral (CLG), publicado em 1916 por Bally e ‘Séchehaye, segundo as notas dos estudantes que tinham seguido os cursos de Saussure entre 1906 ¢ 1911", aparece como o texto fundador da lingistiea moderna, repousando sobre 0 estudo da lingua como sistema. Ainda que rnumerosos temas abordados por Saussure jt circulassem em pesquisas da segunda metade do século XIX", 0 CLG, constitui, no entanto, 0 que chamar de “corte cpistemoldgico”, isto é, uma maneira radicalmente difere de considerar ‘da linguagem. O trabalho de Saussure instaura, com feito, uma ruptura com a lingilistica comparatis uma abordagem nao historica, descr ister se~i, mais tarde, “estrutural”). ()CLG, voratulud pov asim Obi gui palianchooged, Ok Ho, und Merona, valre dL consid ran. os Jotke do. Oye 18 Ferdinand de Saussure ministrou és cursos em Cenebra em 1906-1907, 1907-1908, 1910 1911. 0 CLG apresenta, portnto, uma versdo unificada de um trabalho que se tinha feito ‘esaificadamente 19 A sociologia de Durkhsim influencioufortemente a teoria do fat lingisteo: “Um fit social serecanhece pelopoder de restr extea que exeree ou &capaz de exercer sobre cs individuos, a presen desse poder se reconhece, por sua vez, sea pela cxistncia de algumas sangBes ‘determinadas, seja pela resistencia que ofato opde a todo empreendimento individual ue tende a violemt-fo (1992, p. 11) 20 Segundo os comparatistas do século XIX, em particular em toro de F. Bopp, as Hinguss se ‘degrada ao evoluirer sb o feito das les fonética, na comunicaco, ‘Trata-se de comparar 0s estado antigos aos estado presents a ings te gis 0s conceitos propostos por Saussure foram largamente explorados, de Praga c, depois, jd nos anos 1960-1970, no interior da corrente estruturalista, por outras disciplinas que se inspiraram no modelo fonolégico", Essa € a razao pela qual Saussure foi consagrado como 0 “pai do estruturalismo”, em uma tardia retrospectiva que nao foi de maneira alguma igorosa no plano cientifico (cle nao fala de “estrutura”, por exemplo, mas de sistema”, 0 termo estruturalismo somente aparece por volia de 1928), mas ‘que constitui um fato histérico na histdria da lingtistica. OCLG teve, portanto, um estatuto emblemitico, ¢ constitu’ ainda hoje 0 fundamento do ensino da lingiistica*, Pesquisas filologicas mostraram que ‘esse texto sofre um tratamento interpretativo que o distancia as vezes de seus ‘conceitos originais, e seria preciso talver efetuar um trabalho de “restauragaio™ do pensamento de Saussure, Mas adotamos aqui a posigdo de Normand em seu enstio sobre Saussure: “usar com toda liberdade essa heranga historica, sem se deixar impressionar pelo argumento, tendencialmente terrorista, dos “originais” (2000, p. 16). Exporemos, portanto, 0 contetido do CLG a partir da edigdo original de Bally e Séchchaye (apresentads e anoiada por de Mauro, 1995), mas também da versio estabelecida a partir do caderno de notas de um estudante do Curso (Emile Constantin), publicada, em 1993, por Komatsu ¢ Harris, sob o titulo Troisiéme Cours de linguistique générale (TCLG). Daremos também elementos provenientes dos Frits de linguistique générale (ELG), que contém textos e trabalhos de Saussure organizados por Engler e Bouquet em 2002 1 CONCEPGAO DA LINGUA E DA LINGUS ICA dentro da parte do CLG que os editores denominam de Jntrodugo que Saussure langa os Fundamentos da lingdistica geral, Depois de t-Ia consttuido como cigneia, definindo suas tarefase seu objeto, Saussure evidencia uma das antinomias fundamentais do CLG: adistingdio entre lingua ¢ fala himquo. # 4000 21 Em antropologia (Lévi-Strauss), em filosofia (Althusser, na pscanilis (Lacan) na semitica (Barthes) na psicologia (Paget etc. 22 N-TNo Basia ings oi imreduzida como discipinaobrgatria dos curios de Letras ‘bo inicio dos anos 1960. Joaguim Mattso Cmara Junior ~ que fi humo de Roman Jekobson nos Estados Unidos ~é considerado opine’ da lingttica deseritiva no Bras. ot ele quem ministru ‘onosso primeira curso de lingistia, na Universidade do Distt Federal (1938. 1939) e depois na ‘Universidade do Brasil, partir de 1948, Como resultado de seus cursos surgi, cm 1942, 0 primero ‘manual de lingtistica do Brasil: Principio de Lingistica Geral come Fundamento para os Ext Superiore ca Lingua Portuese (Rio de Jancto:Briguie; a partir da ed. 1954, Rio de Janet ‘Académica). Para uma visto da histéria da lingtsea no Brasil lei-se; ALTMAN, C. pesquisa ‘ungstca ho Brasil, So Paulo: Humanitas, 1998, 1.1. A lingiiistica: tarefas e objeto As tarefas da lingitistica No inicio do CLG Saussure apresenta claramente tréstarefas da lingbfstica geral, nome que ele ci ciéncia nova que deve suceder a lingistica historica © a gramatica comparada: A tarefia da li istica sera ayfazer a descrigo © a historia de todas as linguas que puder abranger, © que ‘quer dizer: fazer a hist6ria das familias de linguase reconstituir, na medida do possivel, as linguas maes de cada familia; b) procurar as forgas que estio em jogo, de modo permanente © universal, em todas as linguas e deduziras leis gerais is quais se possam referir todos os fendmenos peculiares da histori }delimitar-see definir-sea si propria. (1995, p. 13). Essa lista € dirigida por duas motivagdes fundamentais para Saussure: a pesquisa da generalidade e a fundagdo de uma disciptina « itil». Na versio do TCLG (1910-1911), ele, com efeito firma: [Uma ver lingitistica assim concebida, isto, endo diante de sia linguagem em todas as suas manifestagdes, um objeto que é 0 mais amplo possivel, compreendemos por assim dizer imediatamente o que nio era ainda claro: a tuilidacte da lingiéstica ow a titulo de que ela pode vir a figurar no ciclo dos estudes que se interessam por aquilo que chamamos de cultura geral. (1993, p. 45), Bfetivamente, a lingilistica sera util se ela fornecer ferramentas de observacao suficientemente gerais e precisas para serem utilizadas por todos iaqueles que esto interessados na lingua. Saussure quer, portanto, ultrapassar ‘.comparagdo conjuntural das linguas particulares, como o fazem os especialistas cla gramatica comparada na sua época, para estudara estrutura geral da lingua, fundar uma tal disciplina,é preciso, antes de tudo, definir seu objeto. O objeto da lingtiistica 0 objeto da lingiistica recebe de Saussure varias definigies que vao configura o conjunto de sua teoria = O objeto da lingiistica nao é, a0 contrério das ciéncias exatas, ‘antecipadamente, mas resulta da construcao de um ponto de vista tras cigncias trabalham com objetos dados previamente ¢ que se podem considerar, em seguida, de virios pontos de vista; em nosso campo, nada de semelhante ocorre [..] Bem Jonge de dizer que o objeto precede-o panto de vista, dirfamos que é 0 ponto de vista que cria o objeto; als, nada nos diz de 6 A Go Tia ag antemio que uma dessas maneiras de considerar 0 fato em questo seja anterior ‘ou superior ds outras, (1995, p. 15) Encontra-se nos ELG uma formulacko ainda mais clara e concreta dessa ‘ate (Bicaleos de Denryasstcca tesa A lingaistica encontra diante dela, como objeto primeizo e imediato, um objeto dado, um conjunto de coisas que se encontram sob o sentido, como & 0 caso da Fisica, da quimica, da botinica, da astronomia, etc.” Demaneira nenhuima e em nenhum momento: ela ¢ colocada no extremo oposto das cincias que podem partir do dado dos sentidos (2002, p. 19-20). Isso quer dizer que os fatos da linguagem ndo sdo exteriores a experiéncia humana, mas fazem parte dela, sio mesmo o seu produto, porque a linguagem 6 uma atividade do homem. = O objeto da lingtiistica ¢ a Lingua © no a linguagem. Com efeito, a Ningungtn ana enti aaa otto mak vasa onos eect que a ingua. A Tinguagem supde somente que seres humanos falem ¢ ela engloba a0 mesmo tempo a producdo ea recepedio, o pensamento e sua expresstio finica, a dimensio individual ¢ social, a dimensao estitica e historica. Essa 6, dizo TCLG, “uma faculdade que nos vem da natureza” (p. 66). A lingua na sua relagio com a natureza ¢ definida como “o produto social cuja existéncia permite a0 individuo o exercicio da faculdade da linguagem” (p.66), formulago talvez ‘mais lapidar do que a primeira definigdo do CLG: ‘Mas 0 que €« lingua’ Para nds, ela no se confunde com a linguagem: & Somente ums parte Gterminada,essencil dea, indubitavelmente. ao mesmo |tempo, um produto social da faculdade de inguagem eum conju de Doyut 0 |eonvengies nvessérias, adotadas pelo corpo social para permitro exercicio Y dessa faculdade nos ndviduos,Tomada em seu to, sgn € mullonme Jinquo. /e hoieroclita; a cavalero de diferentes dominios, ao mesmo tempo Fisica, {fisiolbgica ¢ psiquica, ela pertence além disso ao dominio individual e ao dominio Socials no se ceixa cassficar em nenuma categoria de fatos humianos, pos nto s sabe como infer sua unidade., | lingua ao contro, un odo pors’eum principio de casificagao (1995p. 17), * Esse “todo por si”, ¢ o “sistema de signos”, que tem como principal ccaracteristica sua autonomia e sua “ordem propria”, condigdes necessdrias para aceder ao estatuto de objeto da lingilistca. Essa € a razdo pela qual a ‘ordem da lingua serve, de certa maneira, como modelo rigoroso para abordar ‘0s fatos da linguagem: necessirio colocar-se primeiramente no terreno da lingua ¢ tomié-la como norma de todas as outras manifestagdes da linguagem. De fato, entre tantas dualidades, somente a lingua parece suscetivel de uma definigd0 auténoma fornece um ponto de apoio satisfatorio para 0 espirto, (1995, p. 16-17), Ea Sanne «vaio de Bit miro 0 Eo TCLG acrescenta : E, assim, poder-se-a introduzir uma ordem interior nas coisas que concemem & _finguagem (p 66) “A lingtistica faz parte da semiologia. A definigao do objeto da linguistic determina, em contrapartida, a natureza dessa disciplina. Enquanto ciéncia dos signos, a lingiistica entra, segundo Saussure, em uma ciéncia mais geral que cnomeia serniologia: A lingua ¢ um sistema de signos que exprimem ideias, e comparivel, por isso, 4 eserta, a0 alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbolicos, as formas de ppolidez, aos sinais militares etc. ete. la é apenas o principal desses sistemas. Pode-se, entdo, conceber wma ciéncia que estude a vida dos signos no seio da vida social; ela consttuiria uma parte da Psicologia social e, por conseguinte, da Psicologia geral; chami-la-emos de Semioloyia (do prego semeion, “sizno”). la nos ensinari em que consistem os signos, que eis os regem[..] ALingdistiea ni € senao uma parte dessa ciéneia geral. (1995, p. 24. Lingiistica interna e externa Nossa definigdo de lingua supde que eliminemos dela tudo o que the seja estranho ao organismo, a0 seu sistema, numa palavra: tudo quanto se designa pelo temo “Lingdistica extema”, Essa Lingiistica se ocupa, todavia, de coisas Importantes, ¢ € sobretudo nelas que se pensa quando se aborda o estudo da linguagem. (1995, p. 28). © que Saussure chama de “lingiistica externa” estabelece, com efeito, relagdes com a etnologia, a hist6ria politica, o que ele chama de “instituigdes de todos os tipos” como a Igreja e a Escola, a geografia linglistica e a dialetologia. F uma lingtistica que descreve 05 lagos que a Kingua pode ter com ‘que esta fora dela mesma, que acumula informagdes, mas que niio dé conta de seu funcionamento interno e auténomo: A Linglistica externa pode acumular pormenor sobre pormenor sem se sentir ‘apettada no tomniguete dum sistema. [..] Noque conceme a Lingdistica interna, as coisas se passam de modo diferente [.. a lingua é um sisiema que conhece somente sua ordem proprig. Uma comparayao com 0 jogo de xadrez fari ccompreendé-to melhor. Nesse jogo, ¢relativamente facil distinguir oexternodo interno; 6 fato de ele ter passado da Pérsia para a Europa é de ordem externa: interno, 20 contririo, & tudo quanto concerne ao sistema e as regras. (1995, p. 31-32). 1.2. Lingua/fal Caracteristicas da lingua ¢ da fala = Ar Goode Ta Ao colocar uma das Sntonomias fundamentais da CLG, a distingdo entre Jingua e fala, Saussure di definigdes mais claras de lingua e esclare, assim, a relagdo entre lingua e linguagem: Recapitulemos os caracteres da lingua: 1. Elag um objeto bem definido no conjunto heteretite dos fatos da linguagem [..] Ela a parte soval da inguagem, exterior ao individuo, que, por ss, nd Pode nem crid-la nem medical: ela no existe sendo em virtue duma especie de contrato estahelecido entre os membros da comunidade.[..] 2. A lingua, distinta da faa, € um objeto que se pode estudar separadamente.[... Nao s6 pose a cnca da ngus peste outgs lemarior erttensaen ooo se toma possivel quando tas elementos no estZo misturados. 3. Enquanto’a linguagem ¢heterogénea, a lingua assim delimitada ¢ de natureza homogenea: signs onde, de essencial, s6 existe « unsto do ido da imagem aclistca, © onde as partey do signo-s4o igualmente Psiquicas.(1995,p.22-23). @ lougces \e> Ele precisa igualmente, em um quarto ponto, que « a lingua, no menos que fala, é um objeto de natureza concreta [...] Os signos lingilisticos, embora sendo essencialmente psiquicos, no sto abstragoes » (p. 23) Com efeito, 0 signos sao realidades coneretas do plano fonico, mas também da escrita, pois 48 imagens acisticas podem ser fixadas por imagens Visuais (sistema da escrita). Saussure enumera as distingdes entre a lingua ea fala, que pode se resumir Depa ai psd dC 1996 p77: 9. valtnub, fore. tytn (penloteGuc Lingua (v0 ce FALA(swsteinela) nari Lol Social Individual | Essencial Acessorio mais ou menos acidental Registrada passivamente Ato de vontade e de inteligéncia | Psiguica Psicofisica Soma de marcas em cada eérebro | Soma do que as pessoas dizem Modelo coletivo | Nao coletive Que a lingua seja um fato social é central na lingtistica saussureana & encontram-se nos ELG numerosas reafirmages desse principio, Dois exemplos: Elemento ticito, que cria todo o resto: que a lingua corre entre 0s homens, que cla € social. Se eu abstrair dessa condigao, se eu me diverti, por exemplo, ém eserever uma lingua no meu eseritirio, nada que vou dizer sobre" lingua” send verdade, ou ser necessariamente verdadeiro (2002, p. 94). Continuamente, considera-se a linguagem no individuo humano, ponto de vista falso. A natureza nos dé o homem organizado pela linguagem articulada, mas sem linguagem articulada. A lingua & um fato social (2002, p. 178). {os defensores de uma pura li Taian age bien esse cariter da lingua decorrem outros: a Lingua é marcada pelo essencial, isto é,o permanente, cla é adquirida de maneira passiva, por interiorizaca0 da parte de cada um do hem comuma todos; ¢ ela écoletiva. pois é compartilhada pelo conjunto dos locutores. No plano cognitivo, ela € detida mentalmente por cada um sob a forma de “marcas”, que so dé natureza psiquica, enquanto as produgies da fala sio marcadas pela dimensao fisica da fonacao. Lingiiistiea da lingua e lingiiistica da fala Essa distingo entre a lingua e a fala e a decisio de fazer da lingua 0 ‘objeto da linguistica “itil” levam Saussure a distinguir, e mesmo a hierquizar, dois tipos de lingiisticas. Fle considera, assim, a lingbistica da fala como secundaria: © estudo da linguagem comports, portato, duas partes: uma, essence, tem porobjetoa lingua, que ésoctalem su esenciae independente do individuo; {See etudo €unicamentepaluico; outa, secundaria, tm por objeto 4 parc individusl da finguaem, vale digs. fala, nlysiveg Tonagio e & psictiiea (1995,p.27). tt ‘cemclt > OfOM NC domadien) Mas ele anuncia claramente a assimilaga0 necesséria, segundo ele, da lingUistica& lingtistica da lingua: Pode-se, a rigor, conservar o nome de Lingtistica para cada uma dessas duas disciplinas e falar duma Lingiistica da fala. Seri, porém, necessirio ndo confundi-la com a Lingdistica propriamente dita, aguela eujotinieo objeto €a lingua, (1995, p. 28). ‘OTCLG formula essa questio de maneira um pouco diferente: lingiistica da fala é somente distinguida da lingtistica da lingua (os dois objetos lingua ¢ fila “exigem cada uma sua teoria separada'”, ef. p. 92), Saussure assinala que nao Se trata da mesma diseiplina e a assimilagao de uma pela outra, como & apresentada no CLG, apresenta-se, aqui, sob forma de uma interrogagio. A ingtistica da fala no sofre, portanto, a exclusdo que se tornou tradicional nia ) vulgata. um ponto importante na medida em que as evolugdes futuras das { ciencias da linguagem vao explorarlargamente os dominios de uma lingtistica ) da fala (estilistica, pragmatica, andlise do discurso etc.) freqtientemente contra wistica da lingua, Ora, as duas so colacadas | como possiveis para Saussure e apesar de ele demonstrar sua preferéneia, & | separagio nfo tem carter de verdade exclusiva Lingua oral e lingua eserita Para Saussure, &a lingua em suas manifestagdes orais que deve sero ‘objeto da lingdistica, ¢ ele se Levanta contra a predominancia da representagao cescrita da lingua, © que ele chama de “tirania da tetra” (1995, p. 41) ‘redqita ma oidh arts daipcitdor cl wun (CEB) Lingua ¢ escrts sao dois sistemas distintos de signos; a nica raz de ser do segundo € representar o primeiro; 0 objeto linglistico nao se define pela ccombinagio da palavraescrita da palavra falada; esta ultima, por si 6, consttui tal objeto, Mas a palavra escrita se mistura tio intimamente com a palavra falada, da qual € a imagem, que acaba por usurpar-Ihe o papel principal; {erminamos por dar maior importancia & representacdo do signo voeal do que ao proprio signo. E. como se acreditissemos que, para conhecer uma pessoa, ‘melhor fosse contemplar-the a fotografia do que o rasto (1995, p. 34), E preciso, portanto, liberar-se da palavra escrita ¢ estudar os sons da lingua, “substituir de imediato o artificial pelo natural” (1995, p. 42). Esse é0 objetivo da fonologia, que permite escapar as “ilusdes da escrita” (1995, p 43). Saussure estabelece a fonologia distinguindo-a da fonética: a segunda é ‘enquanto a primeira “esti fora do tempo” (/bid.). Ble utiliza, como sempre, uma metafora para explicar a diferenga entre as dus: [A Fonologia] constitui um sistema baseado na oposigao psiquica dessas, impresses aciisticas, do mesmo modo que um tapete € uma obra de arte produzida pela oposigdo visual de fios de cores diferentes; ora, o que importa, para a andlise, € 0 jogo dessas oposigBes e no es processos pelos quas as ‘cores foram obtidas. (1995, p. 43), \ | Ea introdugao € seguida de um apéndice intitulado “Prineipios de | ia”. que sera fundamental para os lingilistas do Circulo de Praga, pois ‘modelo fonolégico consti para eles uma das bases dalingstica renova (p4d-Ci6) zo sino it primeira parte do CLG que Saussure situa a teoria do signo. (| P 2.1, Lingua ¢ realidade/pensamento Ele precisa, primeiramente, a respeito do signo, um principio que estava subentendico nas piiginas precedentes: a Lingua nio é 0 reflexo da realidade (as palavras da lingua nfo sio etiquetas colocadas sobre as realidades do ‘mundo), tem do pensamento (a lingua nao traduz 0 pensamento que teria uma forma precisa anterior a ela): Para certas pessoas, a lingua, reduzida a seu principio essencial, ¢ uma womenclatura, vale dizer uma lista de termos que correspondem aoutras tantas coists. [..] Tal eoneepgio € critievel em mumerosos aspectos. Supde idéias completamente feitas,pré-existentes as palavras [ela nto nos diz seapalavra Ede natureza vocal ou psiquica|...] por fim, ela faz supor que o vinculo que une lum nome @ ume coisa constitut uma operagio muito simples, o que esti bem Jonge da verdade.(1995,p.79). Ti eno nai gi oa (© argumento principal de Saussure & aqui a tradugao: 0 fato de que as ‘mesmas realidades possum nomes diferentes em diversas linguas ¢ uma prova da ndo-coincidéneia entre a lingua e o mundo. Saussure se ope aqui a uma longa tradigao representada pela Légica de Port-Royal de Arnauld e Nicole”, para os quais existe uma estrutura geral da idéia que organiza o enunciado. No CLG, a idéia € uma “massa amorfa”, uma “nebulosa” (p. 155) antes de sua colocago em lingua. 2.2. Anatureza do signo Significado e significante Essa preciso leva Saussure a definir a nogio de signo lingtistico: 0 signo lingtistico une nfo uma coisa e uma palavra, mas um eonceto e uma imagem acdstica. Esta nfo & 0 som material, coisa puramente fsica, mas impressdo (emipreine) psiquica desse som. a representagio que dele nos di 0 testemunho de nossos sentido; fl imagem & sensorial e, sechegamos a chami- ln “material”, 6 somente neste sentido, e por opasigdo ao outro termo da associagio, 0 Conceito,geralmente mais abstrato. (1995, p. 80) (© esclarecimento sobre aspecto niio material (ainda que conereto) da imagem aciistica é muito importante, earticula a distingao entre fonética (ciéncia do som material) e a fonologia (ciéncia da imagem acistica). Saussure faz, com efeito, do signo uma “entidade psiquica” (poder-se-ia jgualmente dizer abstrata"), conforme is precisdes da primeira parte sobre alingua, vista como soma de “impresses fisicas” depositadas no cérebro: O signo lingiistico 6, pois, uma entidade psiquica de duas faces, que pode ser representada pela figura: A Bases dois elementos esto intimamente ligados e um reclama o outro [..] Esta Jefinigao suseita uma importante questo de terminologia. Chamamos signo a combinagio do conceito e da imagem acistica. (1995, p. 80-81). imagem acistica bouts, cobble bile mor 20 N.T.Trata-se do livro Ligicae arte de pensar (1662) escrito por A. Arauld Pitre Nicole. “Ammauld esereveu tamisém, junto com Lancelot, a Gramitica gerai e raciocinada (1660). Os ‘stores eram abades do convento de Pert Royal Esses dis livros sio eonsiderados modelos do ‘spite racionalistacartesianoe tonaram-se to fmosos questo referidos,respectivamente, apenas como Légica de Port-Royal e Gramitica de Port-Royal Be A ie Tet de Lr _ © termo signo correria o risco de ser utilizado somente pela imagem aciistica; por isso, os termos conceito e imagem acistica foram substituidos por significado e significante Propomo-nos conservar 0 termo signo para designar o total, ¢ @ substituir

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