Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
D, Bastos
D a d o s I n te r n a c io n a is d e C a ta lo g a ç ã o n a P u b lic a ç ã o (C IP )
( C ã m a r a B r a s ile ir a d o L iv r o , S p ' B r a s il)
L o m b ro so , C e sa re , 1 8 8 5 -1 9 0 9 .
O h o m e m d e lin q ü e n te / C e s a r e L o m b r o s o ;
tr a d u ç ã o S e b a s tiã o J o s é R o q u e . - S ã o P a u lo :
Íc o n e , 2 0 0 7 . - ( C o le ç ã o f u n d a m e n to s d e d ir e ito )
1 . A n tr o p o lo g ia c r im in a l 2 . C r im e s e c r im in o s o s
3 . C r im in o lo g ia 4 . D ir e ito - F ilo s o f ia I . T ítu lo .
lI . S é tie .
0 7 -1 2 5 8 C D U - 3 4 3 .9 1
Í n d ic e s p a r a c a tá lo g o s is te m á tic o :
1. D e lin q ü e n te s : A n tr o p o lo g ia c r im in a l:
D ir e ito p e n a l 3 4 3 .9 1
r
f1
j
i
i
I
,-
D, Bastos
Cesare Lombroso
o HOM EM D E L IN Q U E N T E
. Tradução e Seleção:
S e b a s tiã o José R oque
.. A d v o g a d o e A s s e s s o r J u r íd ic o E m p r e s a r ia l
P r o f e s s o r d a U n iv e r s id a d e S ã o F r a n c is c o ,
• • •c a m p i" d e S ã o P a u lo e B r a g a n ç a P a u lis ta
tr P r e s id e n te d a A s s o c ia ç ã o B r a s ile ir a d e A r b itr a g e m - A B A R
L A u to r d e 2 6 o b r a s ju r íd ic a s
Á r b itr o e M e d ia d o r
r
fi1<
l' r e im p r e s s ã o - 2 0 1 0
--Icone
j
i
i edi.tora
I
D, Bastos
I
D, Bastos
II D, Bastos
@ C o p y rig h t 2010.
Íc o n e E d ito ra L td a .
T ítu lo O rig in a l
L 'U o m o D e lin q u e n te
T ra d u ç ã o
S e b a stiã o Jo sé R o q u e
C a p a e D ia g ra m a ç ã o
A n d ré a M a g a lh ã e s d a S ilv a
R e v isã o
R o sa M a ria C u ry C a rd o so
;
~-
P ro ib id a a re p ro d u ç ã o to ta l o u p a rc ia l d e sta o b ra ,
d e q u a lq u e r fo rm a o u m e io e le trô n ic o , m e c â n ic o ,
in c lu siv e a tra v é s d e p ro c e sso s x e ro g rá fic o s,
se m p e rm issã o e x p re ssa d o e d ito r
(L e i n º 9 .6 1 0 /9 8 ).
T o d o s o s d ire ito s re se rv a d o s p e la
•. , ÍC O N E E D IT O R A LTDA.
R u a A n h a n g u e ra , 5 6 - B a rra F u n d a
C E P 0 1 1 3 5 -0 0 0 - S ã o P a u lo - S P
F o n e !F a x .: (1 1 ) 3 3 9 2 -7 7 7 1
w w w .ic o n e e d ito ra .c o m .b r
li e -m a i!: ic o n e .le n d a s@ ic o n e e d ito ra .c o m .b r
II
.J
I
I
!
- - - - - - ~ ._ - ---~ -~ ------~ -
;
D, Bastos
1 . B io g r a fia d e C e s a r e L o m b r o s o - 2 . O b r a s - 3 . A E s c o la
P o s itiv a d o D ir e ito P e n a l - 4 . I d é ia s s u c e s s o r a s à s d e L o m b r o s o
5 . S u p e r a ç ã o d a M e d ic in a 'L e g a llo m b r o s ia n a
1 . B io g ra fia d e C e sa re L o m b ro so
C e sa re L o m b ro so n a sc e u m i c id a d e d e V e ro n a , b e m
c o n h e c id a c o m o a te rra d e R o m e u e Ju lie ta , e m 1 8 3 5 . Q u is
e stu d a r m e d ic in a , m a tric u la n d o -se n a U n iv e rsid a d e d e P a v ia ,
la u re a n d o -se e m 1 8 5 8 , a o s 2 3 a n o s. P ro fissio n a lm e n te , fo i
m é d ic o , e in te le c tu a lm e n te u m filó so fo .
~ C om eçou o e x e rc íc io d a m e d ic in a im e d ia ta m e n te ao
se r la u re a d o m é d ic o , e sp e c ia liz a n d o -se m a is n a p siq u ia tria .
A o se r n o m e a d o d ire to r d o m a n ic ô m io n a c id a d e d e P e sa ro ,
I in ic io u su a lig a ç ã o c o m o s d o e n te s m e n ta is, a q u e m d e d ic o u
!';'
g ra n d e p a rte d e se u s e stu d o s e su a v id a . Im p o rta n te fo i su a
t
v iv ê n c ia p siq u iá tric a , a o re la c io n a r a d e m ê n c ia c o m d e lin -
••f q ü ê n c ia . S u a s e x p e riê n c ia s n e ssa á re a fo rn e c e ra m a e le a s
~ b a se s p a ra a p ro d u ç ã o d e su a o b ra G ê n io e L o u c u r a , p u b lic a d a
fiJ em 1870.
.J.•.
!
D, Bastos
2. O bras
~
D, Bastos
I
L om broso não era defensor dos crim inosos; o crim inoso de
ocasião deveria ser segregado da sociedade, por ser perigo
~-
D, Bastos
c o n s ta n te p a ra e la . E le n ã o fa la e m p e n a d e m o rte , m as se
m o s tra fa v o rá v e l a e la e à p ris ã o p e rp é tu a .
N um o p ú s c u lo p u b lic a d o em 1 8 9 3 , d e n o m in a d o As
~mais recen.cesflescobercase aplicações d a psiquiatria e antropologia
criminal, L o m b ro s o e x p re s s a o s e g u in te p e n s a m e n to :
A pesar d a c ru e z a e a d u re z a d e s e u p e n s a m e n to , Lom -
b ro s o p ro c u ra s e r b ra n d o c o m a s p a la v ra s , m a s o tre c h o a c im a
e x p o s to n o s fa z ,e n te n d e r q u e a ú n ic a s o lu ç ã o é a m o rte ou,
quando m u ito , a p ris ã o p e rp é tu a .
T o d a v ia , v a m o s . re p e tir. q u e L o m b ro s o . n ã o c o n s id e ra
d e s c u lp á v e l o c o m p o rta m e n to d e litu o s o , causado p o r te n d ê n -
c ia s h e re d itá ria s . N ão apenas o s tra ç o s fís ic o s e c e rta s fo rm a s
b io ló g ic a s le v a m o ser hum ano a o c rim e . O u tra s c a u s a s e x is -
te m e e s ta s p o d e m m a s c a ra r o u a n u la r a s te n d ê n c ia s m a lé -
v o la s d e c e rto s in d iv íd u o s . N ã o s e ju s tific a a re n ú n c ia à lu ta ,
p o r p a rte d o d e lin q ü e n te e d o s q u e e s te ja m a s u a v o lta , c o n tra
o s fa to re s c o n g ê n ito s o u in a to s q u e o in c lin a m p a ra a v id a
d e litu o s a .
O s fa to re s e x tra s s ã o m u ito v a ria d o s : o c lim a , o g ra u
• d e c u ltu ra e c iv iliz a ç ã o , a d e n s id a d e d e p o p u la ç ã o , o a lc o o -
lis m o , a s itu a ç ã ó e c o n ô m ic a , a re lig iã o . A c o n s id e ra ç ã o dada
a e s s e s fa to re s to rn a p é tre o u m C ó d ig o P e n a l p a ra u m v a s to
p a ís , p o is e m c a d a re g iã o p re d o m in a m fa to re s m u ito d ife re n te s .
M a is d e u m s é c u lo d e p o is , p a re c e q u e a s id é ia s d e L o m -
b ro s o ganham c o rp o (p e lo m enos n o B ra s il a tu a l.
li'l
I'
1'1'1
:J
D, Bastos
4. Id é ia s s u c e s s o ra s à s d e L o m b ro s o
É p a te n te a in flu ê n c ia d e L o m b ro s o s o b re s e u s p o s te rio -
re s , n a s á re a s d o D ire ito P e n a l, d a C rim in o lo g ia e d a M e d ic in a
L e g a l. É p rin c ip a lm e n te n a A n tro p o lo g ia C rim in a l, c iê n c ia
d a q 'u a l'e lê fo i o fu n d a d o r, 'é o m a c o la b o n iç a o â in d a em v id a
d e F e rri e G a ro fa lo , que L o m b ro s o assum e papel d e m a io r
re le v â n c ia . Ín tim a s u c e s s o ra d e le fo i s u a filh a , G in a L o m b ro s o
F e rre ro , b ió g ra fa e c o la b o ra d o ra , re s p o n s á v e l p e la d iv u lg a ç ã o
in ic ia l d e s u a s id é ia s . A liá s , G in a c o la b o ro u com o pai em
v á ria s o b ra s .
O s s u c e s s o re s m a is im p o rta n te s d e L o m b ro s o e p a rtic i-
p a n te s d o tra b a lh o e d o s e s tu d o s d o g ra n d e m e s tre , fo ra m
G a ro fa lo e F e rri. R a ffa e lle G a ro fa lo (1 8 5 1 -1 9 2 0 ) fo i c o m
L o m b ro s o e F e rri fu n d a d o r d a E s c o la P o s itiv is ta d o D ire ito
P e n a l e d a C rim in o lo g ia ; e le c o n s id e ra v a e s ta c o m o o con-
.,~;4.,..
"" ~ ~ -~
D, Bastos
,I'
11:1,
D, Bastos
'"~ti,-(.""i'"
D, Bastos
"
I ;..,"
1
I ll
:''t" 'F<
':i
D, Bastos
,
Indice
1. O S D E L IT O S E O S O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S , 21
1. A s aparências do delito nas plantas e nos anim ais, 2I
2. O delito no m undo zoológico, 23
3. M orte para o uso das fêm eas, 24
4. M orte por defesa, 25
5. M orte por cobiça, 25
6. M ortes belicosas, 26
7. C anibalism o sim ples, 26
8. C anibalism o com infanticídio e parricídio, 26
2. T A T U A G E N S NOS D E L IN Q Ü E N T E S , 29
1. C olaboradores, 29
2. C rim inosos, 32
3. O bscenidade, 33
4. M ultiplicidade, 34
5. P recocidade, 36
6. A ssociação. Identidade, 36
7. C ausas: R eligião - Im itação - E spírito de vingança -
O ciosidade - V aidade - E spírito gregário - P aixão -
1, P ichação - P aixões eróticas - A tavism o, 37
lili ~. -ç 13
<.,o("'"'I''''~''''~
~.-<'F,-",t!;!
D, Bastos
8 . T atu ag em n o s d em en tes, 4 4
9 . T rau m as, 4 5
..3 . S O B R E A S E N S IB IL ID A D E G E R A L , 4 7 ..
.
1 . A n alg esia, 4 7
2 . S en sib ilid ad e g eral, 4 8
3 . A lg o m etria, 4 8
4 . S en sib ilid ad e táctil, 4 9
5 . V isão , 4 9
6 . A cu id ad e v isu al, 5 0
7 . S en sib ilid ad e m ag n ética, 5 0
8 . S en sib ilid ad e m eteó rica, 5 0
9 . D in am o m etria, 5 1
1 0 . C an h o tism o , 5 1
:tl 1 1 . A n o m alias d a m o b ilid ad e, 5 2
,".
'I"
K' 4 . S O B R E A S E N S IB IL ID A D E A F E T IV A , 5 3
1 . A u sên cia d ela (L acen aire e M artin ati), 5 3
2 . T ro p p m an n e B o u tellier: In d iferen ça à p ró p ria m o rte, 5 4
3 . O s crim in o so s d ian te d a ex ecu ção , 5 6
4 . C o n clu são , 5 8
5 . A D E M Ê N C IA M O R A L E O S D E L IT O S E N T R E A S
C R IA N Ç A S , 5 9
1 . C ó lera, 5 9
2 . V in g an ça, 6 1
3 . C iú m es, 6 1
4 . M en tiras, 6 2
5 . S en so m o ral, 6 4
6 . A feto , 6 5 t
7 . C ru eld ad e, 6 6
14
8 . P reg u iça e ó cio , 6 7
9 . G íria, 6 8 "
I
~
,
• D, Bastos
1 0 .V aid ad e,6 8
1 1 . A lco o lism o e jo g o , 6 9
1 2 . T en d ên cias o b scen as, 7 0
1 3 . Im itaçõ es, 7 0
, .. ~ .-T 4 .'D eseh v o lv iin en to d a d erriên ciã"rrió raC 7 r" ~~
6 . C A S U ÍS T IC A (d e d elito s n o s m en in o s), 7 3
7 . S A N Ç Õ E S E M E IO S P R E V E N T IV O S D O C R IM E D O S
M E N IN O S , 8 5
8. D A S PEN A S, 87
1 . O s p rim ó rd io s d as p en as, 8 7
2 . V in g an ça p riv ad a, 8 8
3 . V in g an ça relig io sa e ju ríd ica, 8 9
4 . P rep o tên cia d o s ch efes. D elito s co n tra as p ro p ried ad es, 8 9
5 . T ran sfo rm ação d a p en a. D u elo , 9 1
6 . C astig o . R estitu ição , 9 3
7 . O u tras cau sas d a co m p en sação , 9 3
8 . P o sses p atrim o n iais, 9 4
9 . C h efes, 9 5
1 0 . R elig ião , 9 5
1 1 . S eitas, 9 6
1 2 . A n tro p o fag ia ju ríd ica, 9 7
1 3 . C o n clu são , 9 7
9 . S U IC ÍD IO D O S D E L IN Q Ü E N T E S , 99
1 . F req ü ên cia. T em p eratu ra, 9 9
2 . P risão . É p o ca d a d eten ção d o s d elin q ü en tes, 100
ti
3 . Im p rev id ên cia e im p aciên cia, 1 0 1
I
~
(~,
:" '~ ~ -
, • • •;O ~ '"
.
4 . R elaçõ es co m a ten d ên cia ao crim e, 1 0 3
5 . A n tag o n ism o , 1 0 4
15
D, Bastos
Il~
11
I!"
E
r D, Bastos
l' 18
17. Astúcia, 206
18. Preguiça, 206 ,,'
1
I1
!t
'!', ," .,
', ,,! ~
-- -" --- .._-- _ .. - ------ - '---- . .~ ~ ----
-----,----.
fl, D, Bastos
.'
(
I
1t
1% <-
19
',' ...• - ,'~'"' '.
. """-"'~..
D, Bastos
,
r D, Bastos
,-
1. Os D E L IT O S E OS
O R G A N IS M O S IN F E R IO R E S
A pós te r E s p in e s a p lic a d o o e s tu d o d a z o o lo g ia à s c iê n -
c ia s s o c io ló g ic a s e A g n e tti à s e c o n ô m ic a s e H o u g la n à s p s ic o -
se rv e d o s m o d e rn o s e s tu d o s s o b re a e v o lu ç ã o , p ro c u ra sse a p li-
e um e s tu d o , q u e , s e p o d e ria d iz e r, q u a s e c o m p le to , d e F e rri.
21
..•.•. .- ....•••• - .,....-
J;,
D, Bastos
,
nós, com o m ais crim inosos, sejam os m ais naturais. S ão "
lifusos e freqüentes nas espécies anim ais e até nas plantas,
, ndo-nos com o bem disse R enan na natureza o exem plo
'"ais im placável.insensibilidacle e clfl IT laiqJi111or~ Jidad~ ~ '.,
ot'
Q uem não conhece as belas observações que, depois
'arw in, D rude, K olm , R ies e W ill, fizeram sobre as plantas
lÍvoras, em não m enos do que onze espécies de droserá-
, quatro de saracênias, cinco de nepentáceas, onze de ultri-
rias, além do Cephalotus follicularis, que com etem verda-
;.os assassinatos entre os insetos. Q uando, por exem plo,
inseto, por m enor que seja, até m esm o m ais leve do que
.,i m ilésim o de gram a fica sobre o disco folhar de um a dro-
':a e parece que nem sem pre isso acontece por acaso, m as
,crai com o odor de certas secreções da folha, é, por esta
r4:
.~ ,;;tam ente envolvido e com prim ido por num erosos tentá-
; .•. : '.los, cerca de 192 por folha, que se com prim em nas costas
~~
.
,',' 1 dez segundos, e atingem em um a hora e m eia o centro da
..• ~-
}
~j ;("na. S ó se relaxam quando a vítim a estiver m orta e parcial-
'"."...
~ -;
" 'ente digerida, graças a um ácido e um ferm ento m uito aná-
,C ;oà nossa pepsina, segregada em grande quantidade pelas
'Jndulas. E stas glândulas agem sobre o tentáculo vizinho e
us circunstantes, com m ovim ento sim ilar, crê D arw in, àque-
do m oto reflexo nos anim ais.
• Q uando um inseto pousa de um lado do disco folhar,
tentáculos circunstantes se curvam sobre o ponto de exci-
ção, em qualquer parte que seja; o im pulso m otor, quando
defende de um a ou m ais glândulas, atravessa o disco, pro-
~ ga-se até a base dos tentáculos vizinhos, age por sua vez
ÍJre um ponto de excitação, aum enta a secreção das glându-
" e a acidifica, e estas por sua vez, agem sobre o protoplasm a.
N a Dionea muscípula não se provocam as contrações
i
's crinas hom icidas com sopro ou corpo líquido, m as apenas
,m corpo sólido, que sejam nitrogenados e úm idos. N ota-
\
I"",
."i~l.J l
,. ----- . -~ -- - '~ 7 - _ .- ._ ,
D, Bastos
23
,.
l i,.;-,';" .•.
""~n.
D, Bastos
".~
••
~
f"
n a g e n s se e ste n d e m ta m b é m à su a p ro le , a in d a q u e se ja fe ia
e ra q u ític a .
••
-.
O s g o rila s c o stu m a m te r u m só c h e fe , u m m a c h o a d u l-
to . A ra z ã o é a d e q u e o m a is fo rte c a ç a se m p re o s o u tro s e o s
m a ta ~ 'O s jo v e n s m a ê h o s; d e p 6 isq ü e c i-e s'c e m 'e a .d q tiire m ~ ' -
to d a a su a fo rç a , a ta c a m o s v e lh o s e n ã o se d e tê m e m m a tá -
lo s q u a n d o q u e re m liv ra r-se d e le s. O s rarpans, c a v a lo s se lv a -
g e n s d a R ú ssia , se b a te m c o m irrita ç ã o p e lo c o m a n d o , que
c a b e a u m só .
A s a b e lh a s só tê m u m a ra in h a e se a c a so su rg ire m a lg u -
m a s c o n c o rre n te s, e sta s sã o m o rta s. T a m b é m é c o lo c a d a à
m o rte a v e lh a ra in h a q u a n d o n a sc e a su a riv a l. A v e lh a so b e -
ra n a , p o r su a v e z , fa z to d a s a s te n ta tiv a s p a ra to rn a r im p o ssív e l
;
a a sc e n sã o a o tro n o d e su a riv a l; p re c ip ita -se n o s a p o se n to s ,
q u e g u a rd a m a ra in h a -la rv a , fe re e m a ta to d a s a s h a b ita n te s.
3 . M o rte p a ra o u so d a s fê m e a s
P a ra to d o s o s a n im a is d e g e ra ç ã o se x u a l é tã o c o m u m
a lu ta d o s m a c h o s p a ra sa tisfa z e r o in stin to d e p ro c ria ç ã o ou
a p o ssa r-se d a fê m e a e e ste fa to d e u o rig e m à h ip ó te se d a rw i-
n ia n a d a e sc o lh a se x u a l.
C o m o a m o r c re sc e o c iú m e e o ó d io c o n tra o riv a l;
c o m b a te m -se a sp e ra m e n te e a té o s m a is tím id o s to rn a m -se
o u sa d o s e lu ta d o re s. O s le õ e s, o s tig re s, o s ja g u a re s, o s le o p a r-
d o s sã o te rrív e is n a s lu ta s a m o ro sa s. H e rn e c o n ta q u e o s b o is
a lm isc a ra d o s se c o n fro n ta m d e fo rm a tã o e n c a rn iç a d a nos
m o m e n to s d e e x c ita ç ã o se x u a l q u e m u ito s m o rre m e a s fê -
m e a s e n tã o e x c e d e m , n e ssa e x c ita ç ã o , os m achos e m a lta
p ro p o rç ã o . B re h m fa la d a s lu ta s a m o ro sa s d o s g a to s, d o s
c a n g u ru s, d o s c a m e lo s. O s c e rv o s e o s a lc e s e stã o e n tre o s
m a is e n c a rn iç a d o s litig a n te s. O s c e rv o s d a V irg ín ia sã o tã o
fe ro z e s n a lu ta q u e tra v a m d u ra n te o d ia in te iro , e , à v e z e s,
,
24
J_
D, Bastos
5 . M o rte p o r c o b iç a
A s fo rm ig a s, q u e c ria m o s a fíd io s p a ra c h u p a r a d o c e
se c re ç ã o d e le s, p re fe re m c o m a ra p in a c u id a r d e se u re b a n h o .
F o re l o b se rv o u u m a c o lô n ia d e fo rm ig a s exeere a g re d ir in tre p i-
d a m e n te d o is n in h o s d e o u tra s d u a s e sp é c ie s. D e p o is d e h a v e r
e x te rm in a d o m u ito s in im ig o s, a s a ssa lta n te s se p re c ip ita ra m
so b re o s filh o te s q u e a li c re sc ia m e d e ra m c a ç a d e sa p ie d a d a
à s fo rm ig a s, p a ra a p o d e ra r-se d o s a fíd io s d e la s.
Ig u a lm e n te e n c a rn iç a d a s sã o a s g u e rra s e m p re e n d id a s
d e te m p o s e m te m p o s p e la s fo rm ig a s a m a z ô n ic a s p a ra c u id a r
_ 25
D, Bastos
I
l'
d o m a io r n ú m e r o
q u e e la s c r ia m
p o s s ív e l d e c r is á lid a s d e f o r m ig a s e s c r a v a s ,
e m r e g im e d e s e r v id ã o . P e lo m e s m o m o tiv o
J
a s f o r m ig a s sanguines a s s a lta m o s n in h o s d a s a m a z o n a s e e m - ~
p re e n d e m e x p ~ d iç õ e ~ p le p a s d e p e r ip é c ia s . '"<'-
~
6 . M o r te s b e lic o s a s l
í,
T o d o s s a b e m q u e m u ito s a n im a is , a in d a q u e d a m e s m a
e s p é c ie , tr a v a m , f r e q ü e n te m e n te ,
d a s in d ir e ta m e n te
g u e r r a e n tr e s i, d e te r m in a -
p e la lu ta p o r s u a s o b r e v iv ê n c ia , m as com
I
I
\
. o f im im e d ia to d e m a ta r p o r m a ta r . É f a to s u g e s tiv o que o
.;;-
g o r ila , la n ç a n d o - s e
c o m p a rá v e l
a o c o m b a te ,
a o d o s e lv a g e m ,
s o lta
e s e a r r e m e te
um g r ito d e g u e rra ,
s o b r e o in im ig o I I
;'"
':t,
t\.
c o m a f ú r ia e o e x c e s s o d o h a b ita n te
m e n to
d a f lo r e s ta . M a s , o s e n ti-
d e e x c lu s ã o e d e o p o s iç ã o n ã o s e m a n if e s ta e m p a r te I
~.
,-
"'".;;.,
. a lg u m a tã o n o tá v e l
7 . C a n ib a lis m o
c o m o e n tr e
s im p le s
a s f o r m ig a s e o s c u p in s .
•,
:.in .
" M a lg r a d o o p r o v é r b io , o s lo b o s s e c o m e m e n tr e s i; a s s im
a c o n te c e ta m b é m c o m o u tr o s a n im a is : u m e n g o le o o u tr o .
N o z o o ló g ic o d e L o n d r e s , d u a s s e r p e n te s v iv ia m na m esm a
g a io la ; u m d ia o g u a r d a d o z ô o te v e te m p o d e s a lv a r a s e r p e n te
m e n o r q u e já e s ta v a n a g o e la d a m a io r .
I
8 . C a n ib a lis m o com in f a n tic íd io e p a r r ic íd io I
ú n ic a
T am bém
f a n ta s ia
m a te r n o
p a r a o s a n im a is , n o ta r a m
s o b r e a f o r ç a in a ta do sangue,
e f ilia l s o f r e g r a v e s d e s m e n tid o s
H ouseau e F e r r i, a
so b re o a m o r
p e la o b s e r v ã n c ia
II
d o s J a to s m a is c o m u n s . I
-!
A s f ê m e a s d o s c r o c o d ilo s com em , m u ita s vezes, seus
,< '.
,1,
f ilh o te s q u e n ã o s a b e m ;. n a d a r . M a s , é p r e c is o o b se rv a r que ~, t
N
~l 'iV
<
~ ,z
26
"1',t
••
-;!< ~
-- - -~ .•. i; '"
",.~
D, Bastos
e m m u ita s e s p é c ie s a n im a is , c o m o e m a lg u n s p o v o s b á r b a -
r o s , u m a in f e r io r id a d e d o c o rp o p o d e se r c a u sa d e d e sp re z o
e v e rg o n h a . V im o s u m a g a lin h a que tin h a . a lg u n s f ilh o te s .1 .
d é b e is - e d õ e n te s , àbandon~r o ~ in h o c ~ m a p a r te sã de sua
p r o le , sem s e in c o m o d a r com a s o r te d a q u e le s pequenos
,
in f e liz e s ..,
C om o c e r to s p á ssa ro s ro m p e m s e u o v o e d e s tr o e m
seu n in h o quando p e rc e b e m que fo ra m to c a d o s ; com o
c e r to s r a to s d e v o r a m s e u s f ilh o te s q u a n d o s ã o p e r tu r b a d o s .
E n tr e os m acacos, a s fê m e a s d o hapales com em a cabeça e
jo g a m s e u s f ilh o s c o n tr a u m a á rv o re , q u a n d o e s tã o c a n s a d a s
d e le v á - lo s .
L
,-
"
.
ti.,
V"'
<l,(-
z:
27
•.•~
~.
t~.
",,*I....••.
D, Bastos r
•,
._ -;::" : . _ ~ , '" ,. ~ - _ . ~ . ~ . . - - .
':-, '::.~~
";,,,.
~- ~ - - - - - - - --- ---~ ----------
D, Bastos
2. TATUAGENS NOS D E L IN Q Ü E N T E S
1 . C o la b o ra d o re s o - 2 . C rim in o so s - 3 . O b sc e n id a d e
4 . M u ltip lic id a d e - 5 . P re c o c id a d e - 6 . A sso c ia ç ã o .
Id e n tid a d e - /. C a u sa s: R e lig iã o - Im ita ç ã o - E sp írito
d e v in g a n ç a - O c io sid a d e - V a id a d e - E sp írito g re g á rio _
P a ix ã o - P ic h a ç ã o - P a ix õ e s e ró tic a s - A ta v ism o
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n t e s - 9 . T ra u m a s
1 . C o la b o ra d o re s
O q u e c o rre s p o n d e b a s ta n te à q u e la g ra n d e d iv e rs id a d e
e m re la ç ã o à re in c id ê n c ia c rim in a l, d a q u a l in s is te F e rri n o s
s e u s e s t u d o s s o b r e L im ite s d a A n tro p o lo g ia C rim in a l, q u e m u d a -
29
I'.~
D, Bastos
ra m a o rie n ta ç ã o
c o n e c ta n d o -a
q u e e u h a v ia im p rim id o
c o m a p rá tic a fo re n s e .
a e s ta p e s q u is a ,
.~
'"l
.1
~
D e s te s h o m e n s q u e c o n c e n tra m n o o rg a n is m o h u m a n o
~
ta n ta s a n o m a lia s , c o m o n o s c rim e s , ta n ti'L c o o s tã n c ia .o a s r~ L n -
c id ê n c ia s , p re te n d o e s tu d a r a b io lo g ia e a p s ic o lo g ia . E c o m e - 'f
.~
ç a re i d a c a ra c te rís tic a q u e é m a is p s ic o ló g ic a d o q u e a n a tô - i
m ic a : a ta tu a g e m . ~
U m a d a s c a ra c te rís tic a s m a is s in g u la re s do hom em
I
p rim itiv o
o p e ra ç ã o
o u e m e s ta d o
q u e s e s o b re p õ e a e s ta ,
q u e re c e b e u
d e s e lv a g e ria
a n te s
e x a ta m e n te
c irú rg ic a
é a fre q ü ê n c ia
do que
em
e s té tic a ,
d e u m a lín g u a o c e â n ic a ,
I
o nom e d e ta tu a g e m . T am bém na Itá lia e s ta p rá tic a se
e n c o n tra d ifu n d id a sob o nom e de marca, sinal, m as só
n a s ín fim a s c la s s e s s o c ia is ; n o s c a m p o n e s e s , m a rin h e iro s ,
" o p e rá rio s , p a s to re s , s o ld a d o s , e m a is a in d a e n tre o s d e lin - I
.~,~
..
;-:
, q ü e n te s ; e s ta , p e la g ra n d e fre q ü ê n c ia , c o n s titu i um novo
I
':.•. ': e e s p e c ia l c a rá te r a n a tô m ic o -le g a l, e d o q u a l d e v e re i d e p o is
';; '.
','
m e ocupar
ta d o
lo n g a m e n te ,
e e x a m in a d o ,
s e e x p lic a no hom em
m a s n ã o s e m a n te s
p e la ju s ta
n o rm a l.
c o m p a ra ç ã o ,
haver
de que m odo
le v a n -
I !I
C onsegui a lc a n ç a r is to c o m o e s tu d o d e 9 .2 3 4 in d iv í-
duos, d o s q u a is 3 .8 8 6 s o ld a d o s h o n e s to s e 5 .3 4 8 c rim in a is ,
o u m e re triz e s o u s o ld a d o s d e lin q ü e n te s , e n tre e le s 2 0 0 m u lh e -
re s , 3 7 8 fra n c e s e s e is s o g ra ç a s a a ju d a e p a c iê n c ia d e m a is
de um a dezena d e m é d ic o s .
O lh a n d o o s v e rd a d e iro s s ím b o lo s , a q u e a s ta tu a g e n s
a lu d e m , o c o rre u -m e d is tin g u ir ta tu a g e m s o b re o a m o r, re li-
g iã o , g u e rra e p ro fis s ã o . S ã o tra ç o s e te rn o s d a s id é ia s e d a s
p a ix õ e s p re d o m in a n te s n o h o m e m d o p o v o . O s d e a m o r e ra m
com uns e n tre o s lo m b a rd o s e p ie m o n te s e s . São o nom e ou
a s in ic ia is d a m u lh e r a m a d a , e s c rito s e m le tra s m a iú s c u la s ;
I"
ou a época d o p rim e iro a m o r; o u u m o u m a is c o ra ç õ e s tre s p a s -
sados por um a fle c h a ; ou d u a s m ã o s q u e s e a p e rta m . Uma
30
J
~•,1
,
D, Bastos
~
~ v e z n o te i
ponesa,
a fig u ra in te ira
com
d e u m a m u lh e r
u m a flo r n a m ã o , e , o u tra
v e s tid a de cam -
v e z , v i u m b re v e
v e rs o d e a m o r.
O s s ím b o lo s d e g u e rra s ã o o s m a is fre q ü e n te s n o s m ili-
ta re s e é riâ i:ú ra l; c o m o o s q u e c o n c e rn e m à p ro fis s ã o d o ta -
tu a d o , e s ã o d e s e n h a d o s c o m ta l fin u ra e re a lis m o n a s m in ú -
c ia s , q u e tra z e m à m e n te a m in u c io s a p re c is ã o d a a rte e g íp c ia
e m e x ic a n a .
D e p o is d o s s ím b o lo s p ro fis s io n a is , o s p re d o m in a n te s
s ã o o s d a re lig iã o , e é n a tu ra l a quem conhece o e s p írito
d e v o to d e n o s s o p o v o . T o d a v ia , d e v o a c re s c e n ta r q u e m u ito s
d e le s fo ra m fe ito s a n te s d e e n tra r n a m ilíc ia , e que são
fo rn e c id o s p e lo s p a s to re s d a L o m b a rd ia o u p e lo s p e re g rin o s
d e L o re to . C o n s is te , o m a is d a s v e z e s , d e u m a c ru z p o s ta e m
c im a d e u m a e s fe ra , e m u m c o ra ç ã o (lo m b a rd o s ).
'I".~;.
D esenho quase e x c lu s iv o d o s h a b ita n te s d a E m ilia -
R o m a g n a e d a p o p u la ç ã o d e C h ie ti e d e Á q u ila é o c o n ju n to
d e trê s le tra s IH S c o m u m a c ru z n o a lto . À s v e z e s , e s s e
31
.i.'..;.
,~.,
•,1 ,'>,';;
rj
D, Bastos
2 . C rim in o so s
32
L
D, Bastos
d e v irilid a d e , e e ra n a a rm a d a p ie m o n te sa a d o ta d o s p e lo s
m a is c o ra jo so s.
O e stu d o m in u c io so d o s v á rio s d e se n h o s a d o ta d o s p e lo s
d e lin q ü e n te s d e m o n stra c o m o a lg u m a s v e z e s a ssu m e m não
só 'e sjje c ia l fre q ü ê n c ia , m a s u m 'c u n h 6 to â b p a rtic u la r, c rim i~
n a l. R e a lm e n te , e m q u a tro so b re 1 6 2 d e le s a ta tu a g e m ex-
p rim ia e stu p e n d a m e n te o â n im o v io le n to , v in g a tiv o , o u tra ç o
d e d e sp u d o ra d o s p ro p ó sito s. U m tin h a , n o p e ito , n o m e io d e
d o is p u n h a is, in sc rito o triste c h iste : " ju ro v in g a r-m e " ; e ra
u m a n tig o m a rin h e iro p ie m o n tê s, e ste lio n a tá rio e h o m ic id a
p o r a to d e v in g a n ç a . U m v ê n e to , la d rã o e re in c id e n te , tin h a
n o p e ito a s p a la v ra s: " m íse ro e u , c o m o d e v e re i a c a b a r? " , lú g u -
b re s p a la v ra s q u e re c o rd a v a m a q u e la s ta m b é m lú g u b re s q u e
F e lip e , o e stra n g u la d o r d e m e re triz e s, tin h a d e se n h a d o , m u i-
to s a n o s a n te s da condenação, n o b ra ç o d ire ito : " n a sc id o
so b m á e stre la " . T a rd ie u n o to u u m m a rin h e iro , já e n c a rc e -
ra d o , c o m a ta tu a g e m : " se m e sp e ra n ç a " , e m la rg a s le tra s n a
fro n te . D ir-se -ia q u e o d e lin q ü e n te te m g ra v a d o n a p ró p ria
c a rn e o p re ssá g io d e se u fim . O u tro c o lo c o u n a fro n te : " m o rte
a o s b u rg u e se s" , so b o d e se n h o d e u m p u n h a l.
3 . O b sc e n id a d e
O u tro in d íc io n o s o fe re c e a o b sc e n id a d e d o d e se n h o ,
o u a re g iã o d o c o rp o e m q u e a ta tu a g e m v e m se n d o p ra tic a d a ,
c o m o o s p o u c o s q u e m o stra ra m d e se n h o s o b sc e n o s, o u tra ç a -
d o s e m p a rte s im p u d ic a s, e ra m fre q ü e n te s e n tre a n tig o s d e se r-
to re s e n c o n tra d o s n o s c á rc e re s. E m 1 4 2 d e lin q ü e n te s, e x a m i-
n a d o s p o r m im ,c in c o tin h a m ta tu a g e n s n o p ê n is. T rê s tra z ia m
a o lo n g o d o p ê n is a fig u ra d e m u lh e r; u m tin h a d e se n h a d o
n a g la n d e o ro sto d e m u lh e r; u m tin h a a in ic ia l d e su a a m a n te ,
o u tro u m m a ç o d e flo re s. E sse s fa to s re v e la m n ã o só a im p u d i-
c ic ia , m a s a e stra n h a in se n sib ilid a d e d e le s, p o r se r e sta u m a
d a s re g iõ e s m a is se n sív e is à .d o r.
33
L~
D, Bastos
~
U m m o r to p o r e s f a q u e a m e n to tin h a o b ra ç o e o p e ito
ta tu a d o s com desenho d e m u lh e r e s suspendendo a s s a ia s . "1
O u tr o q u e tin h a e s ta d o n a le g iã o e s tr a n g e ir a , d e p o is d e p r a ti- ••
c a r h o m ic íd io ta tu o u s e u m e m b r o v ir il n o b r a ç o . L a c a s s a g n e , 1
e n l 1 " :3 3 3 ta tu a g e h s â F ttim in O s O s ; e h c o n tr o u O h z e 'n ó p ê n is ,- = ="
t,
2 8 0 e m b le m a s a m o r o s o s , o u m e lh o r lú b r ic o s : b u s to d e m u lh e r , j
• m u lh e r n u a , f ig u r a s q u e r e le m b r a m c o ito e m p é ; m a is u m a
I
s é r ie d e c e n a s e r ó tic a s im p o s s ív e is d e se re m d e s c r ita s . No !
v e n tr e , e m b a ix o d o u m b ig o p r e f e r e m
c o s , c o m o in s c r iç õ e s d e s s e tip o : " to r n e ir a
s e m p r e a s s u n to s
d o a m o r", "p ra z e r
lú b r i-
I
1
I
d a s m u lh e r e s " , "venham , s e n h o r ita s , à to r n e ir a d o a m o r",
" e la p e n s a e m m im " . T ã o v a r ia d o é o s e n tim e n ta lis m o que I
",
f a z a s m u lh e r e s h is té r ic a s
O s p e d e r a s ta s , te n d o
b a b a re m -se
m a io r
to d a s .
te n d ê n c ia q u e o s o u tr o s
I
\
~:
,.,~~
p a r a a g r a d a r a o u tr e m , tê m m a is ta tu a g e n s , e ta lv e z d a s e s p e - !
c ia is . Q u a tr o d e le s , p e s q u is a d o s por L acassagne, tin h a m as I,
i:.l>_~.
..~ :- . j
><:'-,-
;:~' m ãos m a rc a d a s, as duas com in ic ia is e em c im a d e la s a
!;t- in s c r iç ã o " a a m iz a d e u n e d o is c o r a ç õ e s " . Q u a tr o o u tr a s in i- I,
'.~t'
t
c ia is d o a m a n te e s o b u m c o r a ç ã o in f la m a d o o u c o m a p a la v r a
" a m iz a d e " . Q u a tr o vezes o nom e d o a m ig o ; e m u m c a s o o
i
s e u n o m e e , e m c im a , o r e tr a to d e le . P e d e r á s tic a ta m b é m me
p a r e c e a in s c r iç ã o " a m ig o d o c o n tr á r io " .
É p ro v á v e l q u e e s te s f o s s e m a q u e le s p r is io n e ir o s em
que L acassagne e n c o n tr o u , n a s n á d e g a s , s ím b o lo s lú b r ic o s ;
u m o lh o e m c a d a n á d e g a , u m m e g a n h a c tu z a n d o u m a b a io - I
""f n e ta q u e s u s te n ta u m a b a n d e ir o la e m q u e e s tá e s c r ito "não i
. e n tr a " , u m a s e r p e n te q u e s e d ir ig e a o â n u s .
O u tr o c a r a c te r ís tic o d o s d e lin q ü e n te s , q u e tê m e m c o -
I
I
m u m c o m o s s e lv a g e n s e o s m a r in h e ir o s é o d e im p r im ir d e s e -
.:.{
n h o s n ã o s ó n o s b r a ç o s 'e n o p e ito , c o m o é d e u s o g e r a l, m a s
34
~
"~ :
;~a
D, Bastos
em to d a s a p a r te s d o c o r p o . O b se rv e i n e le s 1 0 0 s in a is n o s
b ra ç o s, n o tr o n c o e no abdom e, c in c o n a s m ã o s , tr ê s n o s
d e d o s , o ito n o p ê n is , tr ê s n a c o x a .
.._. _ _ . L a c a s S ! lg n g , e m 3 6 7 t! ltu a d o s .e n c o n tr o u :
•••••••••••• _. __ ••••• _ •• 0 .0 ••••••
u m n o s d o is " '_
b r a ç o s e n o v e n tr e a p e n a s , q u a tr o n o s d o is b r a ç o s e n a s c o x a s ,
o ito n o p e ito , q u a tr o s 6 n o v e n tr e , o n z e n o p ê n is , 2 9 e m
to d o o c o r p o , 4 5 n o s d o is b r a ç o s e n o p e ito , 8 8 s 6 n o b r a ç o
d ir e ito , 5 9 só n o e sq u e rd o , 1 2 7 s ó n o s d o is b r a ç o s . O u tr o ,'
q u e tin h a p a s s a d o m u ito s a n o s e m p r is ã o , n ã o tin h a , f o r a a s
f a c e s e a s c o s ta s , u m a s 6 s u p e r f íc ie la r g a q u e n ã o e s tiv e s s e
ta tu a d a . N a te s ta e s ta v a e s c r ito " m á r tir d a lib e r d a d e " e, em
c im a , u m a s e r p e n te d e o n z e c e n tím e tr o s e s o b o n a r iz u m a
c r u z q u e tin h a te n ta d o c a m u f la r c o m tin ta .
T a r d ie u o b s e r v o u u m la d r ã o ta tu a d o to ta lm e n te com
u n if o r m e d e a lm ir a n te . Um p o e ta s e n tim e n ta l tin h a , a lé m
d e ta tu a g e m o b s c e n a , u m n a v io n o b r a ç o e s q u e r d o , c o m d u a s
in ic ia is d a a m a n te e e m b a ix o o d a m ã e ; n o p e ito u m a s e r p e n te
e d u a s b a n d e ir a s ; n o b r a ç o d ir e ito o u tr a s e r p e n te , um a ânco-
r a , e u m a m u lh e r v e s tid a to ta lm e n te . O u tr o hom em tin h a
a n é is n o s d e d o s , u m a c o b r a n o b r a ç o d ir e ito e u m a b a ila r in a
n o e sq u e rd o .
O lu g a r d a ta tu a g e m , e s o b r e tu d o o n ú m e r o , s ã o d e g r a n -
d e im p o r tâ n c ia a n tr o p o ló g ic a , p o r q u e p r o v a m a v a id a d e in s tin -
tiv a q u e é c a r a c te r ís tic a n o c r im in o s o . U m la d r ã o v e n e z ia n o
tin h a n o b r a ç o d ir e ito u m a á g u ia d e d u a s c a b e ç a s , a o la d o o
n o m e d a m ã e e o d a a m a n te L u ig ia , c o m e s ta e p íg r a f e , s in g u -
la r p a r a u m la d r ã o : " L u ig ia , c a r a a m a n te , m e u ú n ic o c o n f o r to " !
O u tr o tr a z ia n o p e ito e n o s b r a ç o s tr ê s in ic ia is d e a m i-
g o s, u m a c ru z , u m c o ra ç ã o p e rfu ra d o . O u tr o la d r ã o tin h a n o
b r a ç o d ir e ito u m p á ssa ro c o m u m c o ra ç ã o n o b ic o , e s tr e la s ,
u m a â n c o ra e u m m e m b ro v ir il. U m vagabundo tin h a d o is
v a so s, d u a s c ru z e s, u m c a c h im b o , r o s to d e b e d u ín o , nom e
o u so b re n o m e .
: 35
:~u.:
ar.
r
D, Bastos
\1
lid a d e
T o d a e ssa m u ltip lic id a d e é n o v a p ro v a d a p o u c a se n sib i-
à d o r, q u e o s d e lin q ü e n te s tê m e m c o m u m com os
nJ
se lv a g e n s. ,
..
'f~
5 . P re c o c id a d e 1
O u tro fa to q u e d istin g u e a ta tu a g e m d o s d e lin q ü e n te s
é a p re c o c id a d e ; se g u n d o T a rd ie u e B e rc h o m , a ta tu a g e m n ã o
se o b se rv a , n a F ra n ç a , a n te s d o s 1 6 a n o s e m p e sso a s n o rm a is.
E n tre ta n to , e n c o n tra m o s ta tu a d o s a p a rtir d e 5 a té 2 0 a n o s;
I
e n tre 3 7 8 c rim in o so s, h a v ia 9 5 ta tu a d o s n e ssa fa ix a e tá ria .
!\
B a ttiste le , e m N á p o le s, 1 2 2 ta tu a d o s n o g ru p o
n o to u
d e 3 9 4 m e n o re s d e u m re fo rm a tó rio , 3 1 d o s q u a is e ra m o s
p io re s; u m d e le s, p o r 'e x e m p lo , tra n sfe rid o d o re fo rm a tó rio I
p o r se r in c o rrig ív e l, a n te s d e p a rtir tra ç o u
a lg u n s a m ig o s, e x o rta ç ã o v e e m e n te
e sse s a m ig o s e ra m to d o s ta tu a d o s.
n a p a re d e ,
p a ra p e rd u ra re m
p a ra
n o m a l; I
6 . A sso c ia ç ã o . Id e n tid a d e
p o rta n te s d e su a v id a .
[
I
36
d"_
D, Bastos
A ssim , 2 2 tin h a m a d a ta d e a p re se n ta ç ã o e e n g a ja -
m e n to c o m o m ilita r, 2 4 a in ic ia l d e se u n o m e , 7 o n o m e d e
a m ig o s o u d e a m a n te s, 1 2 o sig n o d e u m a p ro fissã o , u m m ilita r
o d e u m so ld a d o , o u tro d e u m a b a n d e ira , o te rc e iro o da
á g u ia a u st1 -ia e a "'u rn g a fib à ld in õ ' a D u sto d e G a rib a ld i; um
m a rin h e iro o ste n ta v a u m a â n c o ra e u m n a v io .
A v a n ta g e m q u e p o d e n o s tra z e r e ssa re v e la ç ã o in v o -
lu n tá ria é tã o c o n h e c id a d o s d e lin q ü e n te s q u e o s m a is sa g a z e s
e v ita m ta tu a r-se o u te n ta m re m o v e r a s e x iste n te s e d o is d e le s
m e c o n fe ssa ra m a re m o ç ã o . O u tro s m u d a ra m o s v e lh o s d e se -
n h o s, so b re p o n d o n o v a s, c o m v á ria s c o re s. E m 8 9 ré u s ta tu a -
d o s, 71 fo ra m ta tu a d o s n o s c á rc e re s o u n o re fo rm a tó rio , o ito
n a c a se rn a , q u a tro n o s sa n tu á rio s, q u a tro n a p ró p ria c a sa .
D e 5 0 ta tu a g e n s, 3 7 e ra m c o lo rid a s d e a z u l, 6 d e v e rm e lh o ,
1 d e p re to , 6 d e a z u l e v e rm e lh o .
7 . C a u sa s
A - Religião
A re lig iã o , q u e p o d e ta n to n o s p o v o s e q u e ta n to te n d e
a c o n se rv a r o s a n tig o s h á b ito s e c o stu m e s, c o n trib u iu c e rta -
m e n te p a ra m a n te r e sse u so . A q u e le s q u e se ja m d e v o to s d e
u m sa n to a c re d ita m q u e , te n d o -o n a p ró p ria p e le , d ã o -lh e
p ro v a d e a fe to . S a b e m o s q u e o s fe n íc io s ta tu a v a m -se n a fro n te
c o m sím b o lo s d iv in o s. N a ilh a M a rsc h a ll a c re d ita -se q u e se
d e v e p e d ir a D e u s p e rm issã o p a ra ta tu a r-se , e , p o r isso , só o s
sa c e rd o te s fa z e m e sse se rv iç o . E n tre o s m e m b ro s d a ig re ja
O rto d o x a , a m u lh e r q u e n ã o te n h a ta tu a g e m n ã o g o z a rá d a
e te rn a sa n tid a d e .
37
_'"
D, Bastos
B - Imitação
C - Espírito de vingança
H á ta tu a g e n s p o r e s p írito d e v in g a n ç a . U m fe ro z h o m i-
c id a e x ib ia d iv e rs a s ta tu a g e n s n o s b ra ç o s (c a v a lo , ã n c o ra ,
e t c .) , m a s p o r c o n s e lh o d o p a i a s fe z a p a g a r, p o r n o ta p a rti-
c u la r que p o d e ria fa c ilita r s e u re c o n h e c im e n to em caso de
d e te n ç ã o . M a s , a n o s m a is ta rd e , a o s e r p e g o p e la p o líc ia , e
opondo re s is tê n c ia a e la , u m d o s p o lic ia is o a g a rro u d e ta l
m o d o q u e o d e ix o u c o m o o lh o a v a ria d o . E n tã o e le , n ã o c u i-
dando d a p ru d ê n c ia re fe z a ta tu a g e m n o b ra ç o d ire ito , com I
t
~
38 I
~-
Jl A
!1l __~.
D, Bastos
o a n o d o fa to , 1 8 6 8 , e u m v a s o n o " b ra ç o q u e d e v e g o lp e a r"
e m e d e c la ro u q u e a iria c o n s e rv a r p o r 1 0 0 m il a n o s , a té q u e
fo s s e v in g a d o , m a ta n d o a q u e le p o lic ia l.
D - Ociosidade
A o c io s id a d e te m s u a p a rte n is s o . É p o r is s o q u e se
n o ta m n u m e ro so s desenhos n o s d e s e rto re s , n o s p ris io n e iro s ,
n o s p a s to re s , n o s m a rin h e iro s . E n c o n tre i 7 1 e m 8 9 q u e e ra m
ta tu a d o s n o c á rc e re . O s e m b le m a s d e p e n d e m d a fa n ta s ia dos
ta tu a d o s , que s e to rn a fre q ü e n te nos c á rc e re s, s e ja p a ra
g a n h a r o u s ó p a ra s e d is tra ir: " is s o fa z p a s s a r o te m p o " , d is s e -
m e um d e le s , e o u tro : " g o s to d e d e s e n h a r e não havendo
p a p e l, a d o to a p e le d e m e u s c o m p a n h e iro s " . M u ito s ig n o ra -
vam o s ig n ific a d o d a p ró p ria ta tu a g e m , que, m u ita s vezes,
re p re s e n ta v a a re p ro d u ç ã o de um desenho q u a lq u e r: g a z e la
s e lv a g e m , g a lo , c h in ê s , s e re ia . A o c io s id a d e fo i c e rta m e n te
u m a d a s c a u s a s d e s s a s ta tu a g e n s .
E - Vaidade
M a is a in d a in flu e n c ia a v a id a d e . T am bém a q u e le s q u e
n ã o s ã o a lie n is ta s sabem q u e e s ta p re p o te n te p a ix ã o , q u e s e
e n c o n tra e m to d a s a s c la s s e s s o c ia is , e ta lv e z a té n o s a n im a is ,
p o s s a im p e lir a s a ç õ e s m a is b iz a rra s e m a is to rp e s . É p o r is s o
q u e o s s e lv a g e n s , que andavam n u s , p o s s u ía m os desenhos
n o p e ito , e os nossos, que s e v e s te m , p in ta m a q u e la p a rte
m a is e x p o s ta e m a is fá c il d e s e r v is ta , c o m o o b ra ç o , e m a is o
d ire ito q u e o e sq u e rd o .
U m v e lh o s a rg e n to p ie m o n tê s m e d is s e q u e n a a rm a d a ,
em 1 8 2 0 , n ã o h a v ia s o ld a d o in tré p id o , e s o b re tu d o o s b a ix o s
o fic ia is , q u e n ã o s e ta tu a s s e m p a ra d e m o n s tra r c o ra g e m em
s u p o rta r a d o r. N a N ova Z e lâ n d ia a ta tu a g e m é v e rd a d e iro
b ra sã o d e n o b re z a de que não podem d e s fru ta r o s p le b e u s ,
39
-~ .
A t:,
~.
D, Bastos
1
F - E s p ír ito gregário
'-. .~,--~ .. -"'"~.:,~. == . _ .~
II
m e n to p rim itiv o , c o m o d is tin tiv o d e s u a fa c ç ã o , c o m o a d o ta v a o s
a n é is , c o rre n te s e c e rto s tip o s d e b a rb a . E n tre o s s e lv a g e n s das
Ilh a s M a rc h e s i, a ta tu a g e m d is tin g u e a s v á ria s fa c ç õ e s in im ig a s :
u m a te m u m triâ n g u lo , o u tra s u m o lh o . T a m b é m a s trib o s n e g ra s
\
s e d is tin g u e m p e lo c o rte q u e e le s fa z e m n a fa c e . O u tta s trib o s
tê m v in te c o rte s d e c a d a la d o d o ro s to , s e is p a ra c a d a b ta ç o , s e is
. p a ra a s p e rn a s , q u a tro p o r p e ito , a o to d o 9 1 . N a Id a d e M é d ia
Ii
h a v ia .ta tu a g e n s e s p e c ia is p a ra o s a rte s ã o s , os desenhos de sua I
;,
p ro fis s ã o , c o m o n a F ra n ç a , o s 's a p a te iro s e o s a ç o u g u e iro s .
G - Paixão
â':.
".
-1j,
j,,.~
a ta tu a g e m fo s s e u s o d é 'b á rb a ro s e condenados à p ris ã o .
,
- '; . . " , ; "
~ -~ :
40
IE
,;
i~;'
;.'.: ',,:
.
D, Bastos
H - P ic h a ç ã o
N o s e m b le m a s -m e tá fo ra s , o e s p írito d o p o v o e v id e n c ia -
s e . A s n a tu re z a s pouco e v o lu íd a s p ro c u ra m s e m p re re p re s e n -
ta ç õ e s o b je tiv a s d e u m a id é ia ; d e p o is a fre q ü ê n c ia d o s c o ra -
ç õ e s a b e rto s , e s tre la s , s in a is d e b o m o u m a u a g o u ro , â n c o ra s
d a s a lv a ç ã o o u d a m a rin h a ; m ãos e n tre la ç a d a s com o s in a l
d e a m o r e c o m u m a v io la ; p u n h a l n a re g iã o m a m á ria e s q u e r-
d a , q u e s im b o liz a um fe rim e n to m o rta l o u a b e rto , havendo
a b a ix o a lg u m a s g o ta s d e s a n g u e .
O e m b le m a m a is c o m u m é a v io le ta ; a o in v é s , s e ria a
e s p é c ie p re v a le n te n a flo ra , c o n ta n d o -s e e m m a is d e 9 7 flo re s
u m a s ó m a rg a rid a , s e te e n tre ro s a s e flo re s e x ó tic a s e 3 9 v io -
le ta s c o m a in s c riç ã o : " a m im , a v o c ê , à m in h a m ã e , à irm ã ,
a M a ria " . F re q ü e n te m e n te , o re tra to d a m u lh e r am ada en-
c o n tra s o b re a flo r e s u a s p é ta la s e e m b a ix o o seu nom e.
Paixões eróticas
..
~
> ,C {\
" r ~ '~ ;
,,"':; b o lo s o b s c e n o s . A s m u lh e re s ja p o n e s a s , h á a lg u n s a n o s , ta tu a -
:~ ~:~.
~~.
E ..
. "• .- k _
'r'".-. 41
: .ít;;.
D, Bastos
1
v a m a s m ã o s c o m sin a is a lu siv o s a se u s a m a n te s, q u e c o b ria m
quando o tro c a v a m p o r o u tro .
A s in d íg e n a s se ta tu a m c o m lin h a s e sp e c ia is e c ic a triz e s
p a ra d e m o n stra ç ã o d e se re filx irg e n _ sg llp re te n d e n te sd e ç ,a sa :
m e n to . T am bém nos hom ens a ta tu a g e m c o in c id e m u ita s- 1
,
v e z e s c o m a v irilid a d e ; é u m in d íc io , e ta lv e z , c o m o im a g in a v a
,
D a rw in , u m m e io d e o p ç ã o se x u a l.
A s p ro stitu ta s á ra b e s e x ib e m c ru z o u flo r n a s fa c e s e
,
n o s b ra ç o s, e â n c o ra s n o s se io s, n a v irilh a , n a v u lv a e n a s ,
p á lp e b ra s. E m trê s c a so s, o n o m e e a s fe iç õ e s d e u m a m a n te i
n u m b ra ç o e u m a m u lh e r n o o u tro , E ste sím b o lo d a s p a ix õ e s,
lig a d o à m enor se n sib ilid a d e d o lo ro sa e x p lic a o sa c rifíc io
m o n e tá rio a q u e se su b m e te m p a ra se fa z e r ta tu a r.
1
E m P a ris e L y o n , o s ta tu a d o re s p ro fissio n a is tê m o fic in a ,
II
l"!
,;"
w.1 ,r' á lb u n s d e d e se n h o s e c o b ra m b e m p e lo tra b a lh o . Q uando
f"., n ã o u sa m tin ta n a n k in , q u e p ro v o c a m enos re a ç ã o e d u ra
~ '~
f:~~
1;0~
m a is, u sa m o c a rm in , q u e p ro d u z v iv a irrita ç ã o e c o c e ira ,
c o m g ra v e s in c o n v e n ie n te s.
I
I E sse e stím u lo d a p a ix ã o , lig a d o a o e x a to c o n h e c im e n to
d o s p o rm e n o re s, p a ra a q u e le s q u e , te n d o p o u c a in te lig ê n c ia , a
d e sc re v e m , e x p lic a ria a su tile z a q u e m e fa z e m re c o rd a r a d o s e g íp -
c io s, c h in e se s e m e x ic a n o s, p a ra o s q u a is, n o s se u s m o n u m e n to s
a n tig o s p o d e -se d istin g u ir m u ito b e m a fo rm a d o s a n im a is e I
v e g e ta is e o s in stru m e n to s q u e d e se ja v a m re tra ta r, E ssa p e rfe iç ã o
d o s d e se n h o s m e le m b ra a d e lic a d e z a d a s c a n ç õ e s p o p u la re s, e m II
q u e a p a ix ã o , à s v e z e s, su p e ra o s e la b o ra d o s a rtifíc io s d a a rte .
P o d e -se ta lv e z , e n tre o s n o sso s, e c e rta m e n te
g e n s, a n u d e z , c o m o fo rm a d e m a n to
n o s se lv a -
e o rn a m e n to . R e a l-
I
'm '~ n te , o s m a rin h e iro s, q u e v ã o n u s n o p e ito e b ra ç o s, e a s I
i
m e re triz e s q u e fre q ü e n te m e n te se d e sp o ja m d e su a s v e ste s, ,
sã o a q u e le s q u e m a is p re fe re m e sse u so ; e ta m b é m o s m in e iro s
e c a ip ira s. P o r o u tro la d o , e m u m h o m e m v e stid o , a v a n ta g e m
~
i:: c;W
d a ta tu a g e m n ã o te ria ~ ~ z ã o d e e x istir, n ã o se ria o b se rv a d a .
,-t1-
m
~:~,_
42
- -'"" - ~
D, Bastos
Atavismo
N ã o h á , p e n so , se lv a g e m q u e n ã o se ja m a is o u m e n o s
ta tu a d o . O s p a riá g u a s p in ta m o ro sto d e a z u l n o s d ia s d e
fe sta e d e se n h a m triâ n g u lo s, a ra b e sc o s n a s fa c e s. O s p o v o s
n e g ro s d istin g u e m -se , d e trib o a trib o , e sp e c ia lm e n te os B am -
b a ra s, fa z e n d o c o rte s h o riz o n ta is o u v e rtic a is n o ro sto , n o
p e ito e n o s b ra ç o s. O s g u e rre iro s "k a firs" tê m o p riv ilé g io d e
fa z e r lo n g o c o rte n a s p e rn a s, q u e to rn a m in d e lé v e l c o lo rin d o -
o d e a z u l. O s "b o rn u s" d a Á fric a c e n tra l d istin g u e m -se por
v in te c o rte s d e c a d a la d o d o ro sto ; se is e m c a d a b ra ç o , q u a tro
n o p e ito , e tc .; a o to d o 9 1 .
:
~i
W.-'.
N a s Ilh a s M a rsh a ll a s m u lh e re s sã o ta tu a d a s n o s o m b ro s
e n o s b ra ç o s; o s h o m e n s e sp e c ia lm e n te o s c h e fe s, n a s c o sta s,
-'.,'~.
m
_.-.
43
'
- - - - _ .- -~ ------
D, Bastos
n o lo m b o , n o tó ra x , o re lh a s. N o T a iti, a lg u m a s m u lh e re s na
v u lv a e no abdom e (u m a tin h a d e se n h a d o sím b o lo s o b sc e -
n o s); o s h o m e n s p o r to d o o c o rp o , a té n o n a riz , c o u ro c a b e lu -
do, g e n g iv a s, e fre q ü e n te m e n te , n a sc e m g a n g re n a s p e lo
c ~ rp ó . P á ra -p ro i:e g e t q u e ii:n e n h a sid o o p e ra d o sã o -re c e ita d o s
d ie ta e re p o u so . O ta tu a d o r é re sp e ita d o e a c o lh id o , re c o m -
p e n sa d o c o m p re se n te s, c o m p o rc o s.
N a s ilh a s M a rc h a ta tu a g e m é u m a v e stim e n ta e um
sa c ra m e n to . D o s 1 5 a o s 1 6 a n o s c o lo c a -se n o s ra p a z e s u m a
c in tu ra e se c o m e ç a a ta tu a r n o s d e d o s, n a s p e rn a s, m a s se m -
p re e m u m b o m lu g a r sa g ra d o . T o d a fa m ília ric a te m o se u
m a q u ia d o r q u e tra n sm ite a h o n ra ria d e p a i p a ra filh o , d e
m o d o q u e n a m o rte d o p rim e iro é n e c e ssá rio e sp e ra r a lg u n s
a n o s p a ra q u e o se g u n d o p o ssa su c e d ê -lo . À s m u lh e re s, m e s-
. m o a s p rin c e sa s, fa z e m só n o s p é s e se e m b a ix o o d e se n h o é
d e lic a d o , 'n o ro sto g ro te sc o e h o rrív e l, p a ra fa z e r m e d o .
A , ta tu a g e m é a v e rd a d e ira ' e sc ritu ra d o se lv a g e m , o
. p rim e iro re g istro . d o e sta d o c iv il. C o m c e rta s ta tu a g e n s, os
d e v e d o re s le m b ra m a o b rig a ç ã o d e se rv ir o c re d o r p o r d e te r-
m in a d o te m p o , e in d ic a v a m a q u a lid a d e e o n ú m e ro dos ob-
je to s re c e b id o s e m g a ra n tia . O s ja p o n e se s ta tu a m o c o rp o ,
d e se n h a n d o le õ e s, d ra g õ e s e sím b o lo s o b sc e n o s.
A in flu ê n c ia p o is d o a ta v ism o e d a tra d iç ã o p a re c e -m e
c o n firm a d a a o e n c o n tra r a ta tu a g e m d isse m in a d a e n tre o s h a -
b ita n te s d o c a m p o , o s c a ip ira s e o s p a sto re s, tã o te n a z n a s a n tig a s
tra d iç õ e s e d e v ê -la já a d o ta d a n a Itá lia , e sp e c ia lm e n te p e lo s
p ie m o n te se s e lo m b a rd o s; o s p o v o s c e lta s e ra m o s ú n ic o s n a a n tig a
E u ro p a q u e tin h a m c o n se rv a d o e ste u so d e sd e o te m p o d e C é sa r.
8 . T a tu a g e m n o s d e m e n te s ,,
.
ç ã o p re g re ssa , d a p re se n ç a d a ta tu a g e m , m o rm e n te se fo i e m
p e sso a e stra n h a à c la sse d o s m a rin h e iro s, d o s m ilita re s, d o s
p e sc a d o re s, e q u e te n h a a d o ta d o d e se n h o o b sc e n o o u m ú l-
tip lo , o u a in d a fa ç a a lu sã o a a lg u m a fo rm a d e v in g a n ç a , o u
d e d e se sp e ro . ~ _ _ "_,~ " .' '" ,_ _ _ ~ _ ~ . _ ~_~-"
_ .. " _
9. Traumas
~-.\'i'"",,'~
+,'t, " 45
~ t';.f-~ t-
..
D, Bastos
'1
i
~
•,
.~
1
.=<-_--
.•.
.'
.."
~
'h-'
- k ,.
t1,1i<-'-t
N ••
s:~
::-2 ::4 ,
~..~!<:.;'
W'"•.
S~
"ts::'<f.!' "
" ', '
f ''w ,
~ .;:
I
I
;,.J '
.!
I
"',
A ~
:ªL1
D, Bastos
~ . ,.. - -= -
~
,./'
1 . A n a lg e s ia
'.
,::
~.~ 47
1i{;:~..
r
D, Bastos
I,
1
2. Sensibilidade geral I
3. Algom etria
5. Visão
..;v_
~""::~
,,,,'w:l<. 49
~~.
\:ol'".
>'%'...1
"
D, Bastos
..
I
i
p arte im p o rtan te o céreb ro em co n fro n to co m a retin a, e
p o rq u e as p esq u isas d e S ch m itz m o straram q u e m u ito s d esses •
d eficien tes têm g rav es d istú rb io s n o sistem a n erv o so , ep i- ~
l
... -..•",+
lep sia, co réia, trau m as m en tais.
=- <"'~.-; 'c'. ~ ::.~ -~ -.~ .-'--7 -= -.-'- ,.,. --""._-"-.'-"""""~---.-'
6 . A cu id ad e v isu al \
I
S o b o p o n to d e v ista crim in al d ev o o u tro s d ad o s p recio so s
à co rtesia d o D r. B an o , q u e, ex am in an d o 3 8 0 o lh o s d e 1 9 0 d elin -
I
I
q ü en tes, o s m ais n o v o s in tern ad o s em refo rm ató rio s e alg u n s jo -
v en s m en o res d e 2 6 an o s, lad rõ es o u b an d o leiro s, 2 estelio n atário s,
co n fro n tav a co m 2 2 0 o lh o s d e o u tro s jo v en s co etân eo s h o n esto s,
» in tern ad o s n o in stitu to ag ríco la B o n afo u rs, su jeito s à m esm a
lim itação d e lib erd ad e e ao m esm o tratam en to , o b tev e resu ltad o s
!I
;.
'I
q u e d em o n stram a fraca acu id ad e v isu al d o s d elin q ü en tes.
J~
f,t,
~.
gp,: 7 . S en sib ilid ad e m ag n ética
;:&, I
~•..-:~: E n q u an to
ciam en co b ertas,
as v árias esp écies d e sen sib ilid ad e p erm an e-
a m ag n ética é, ao rev és, m ais v iv a. É cu rio so
q u e ao in v erso d o q u e o co rre n as p esso as n o rm ais, ao m en o s,
seg u n d o n o ssa ex p eriên cia, h o u v e seis q u e se m o straram sen - I
sív eis ao ím ã n a n u ca, três n a fro n te e n ão em o u tras reg iõ es
d o co rp o . E m d o is, o ím ã tin h a p ro d u zid o v erm elh ão em to d o
•l,
o ro sto , em b o ra esse n ão ap resen tasse q u alq u er sen sação .
••
•
8 . S en sib ilid ad e m eteó rica
50
L
D, Bastos
,,~
til-.,
9 . D in am o m etria b
:'
Q u em q u iser in d ag ar as co n d içõ es d a fo rça m u scu lar
'1"1
1 0 . C an h o tism o
51
D, Bastos
",.,
J
1 1 . A n o m a lia s d a m o b ilid a d e
I
,
,.
í
J á o e s tu d o d e V irg ílio , q u e s o b re 1 9 4 c rô n ic o s e n c o n tra
u m a c o ta p ro p o rc io n a l e n o rm e d e e p ilé tic o s , a tá x ic o s e m o r-
m e n te
p e ita r
n o s la d rô e s
co~o
e m c o n fro n to
a 'm o b i l i d a d e
com h o m ic id a s ,
s e ja -m u ito a n ô m a l~
fa z -m e su s-
n e le s p a ra le la -
.~
,
I
m e n te à s e n s ib ilid a d e . É fre q ü e n te s o b re tu d o a e p ile p s ia .
"
i
I,
r
!
I
;"., '\
I
'f ; t
52 :L
~¥
.'l.
k - .'.
D, Bastos
~,
1 . A u s ê n c ia d e la (L a c e n a ir e e M a r t i n a t i )
2. T roppm ann, B o u te llie r : In d ife r e n ç a à p r ó p r ia m o r t e
3 . O s c r i m i n o s o s d i a n t e d a e x e c u ç ã o - 4 . C o n c lu s ã o
1 . A u s ê n c ia d e la
L~
{ :: 53
.~.""
'"
. -
-,
D, Bastos
I
É realm ente com pleta a indiferença diante das próprias
de seus delitos. É o
I
vítim as e ante o sanguinário testem unho
!
caráter constante de todos os delinqüentes habituais, que bas-
taria para distingui-lo do caráter do hom em norm al. M arti-
.
~
II
nari visava sem pestanejar a fotografia dà própria m ulher, cons-
'"ratava a identidade dela, e tranqüilam ente lhe dava um golpe,
com o se depois lhe pedisse perdão, que não lhe seria concedido.
L a M arquet jogou num poço a própria filha, para poder
acusar a vizinha que o ofendera. V itou envenenou o pai, a
m ãe e o irm ão para herdar
jovem , assim que com etera
um a ninharia.
hom icídio
M ilitelo,
de um seu com pa-
m uito
I
nheiro e am igo, estava tão pouco com ovido, que tentou I•
subornar 'os serviçais que tentaram im pedir seu ato. I
~
r
,~
\I
e
2. T roppm ann e B outellier: Indiferença à própria m orte
'....,"';'
:J:ftlji' 55
~" tJ
.•.•
T
D, Bastos
I
i
d iz ia a o se u c o m p a rsa
q u e e stá v a m o s
q u e se la m e n ta v a
su je ito s a u m a d o e n ç a
R ú ssia , R y le se ff, d e sc o n te n te
d a so rte : "N ã o sa b ia
a m a is!" U m p o e ta n a
c o m a d e m o ra d e su a e x e c u ç ã o
'i
d e v id o à le n tid ã o d a fo rc a , e x c la m o u : "N e m m e sm o e n fo rc a r i
se sa b e n e ste p a ís!" .i
C la u d e o b se rv o u o s ú ltim o s m o m e n to s d e m u ito s c o n -,
'(
d e n a d o s à d e c a p ita ç ã o , V e rg e r se p re o c u p a v a c o m su a s o b ra s !
m é d ic a s. L a P o m m e ra is d a v a a u la s d e h ig ie n e a o s c a rc e re iro s.
B o c a rm é , a o c a rra sc o q u e o a d m o e sta v a q u e já tin h a p a ssa d o
a h o ra m a rc a d a , fa z ia h u m o r: "N ã o se in q u ie te ; se m m im
n ã o se c o m e ç a !"
3 . O s c rim in o so s d ia n te da execução
ra s. T a lv e z se ja m e n o r d e o u tra s
im ita ç ã o
c a u sa s q u e o s in d u z e m ,
q u e d o m in a p e sso a s v u lg a re s e a o tip o d e h o rre n d o
p re stíg io c ria d o e m to rn o d a "v ítim a d a ju stiç a ", a o a p a re lh o
a
I
lú g u b re e so le n e e m u ito a d a p ta d o a e stim u la r a e stra n h a I
v a id a d e d o s c rim in o so s e q u e le v a a té a v e n e ra r o c o rp o d e le s,
c o m o se fo sse m d e m á rtire s e sa n to s.
I,
E m 167 condenados à p e n a c a p ita l n a In g la te rra ,
tin h a m a ssistid o à ú ltim a e x e c u ç ã o . E sta in se n sib ilid a d e
164
p e la s
I
d o re s p ró p ria s e d e o u tro s e x p lic a c o m o a lg u n s d e lin q ü e n te s
J~
I
p o ssa m te r c o m e tid o a to s q u e p a re c e m se r d e e x tra o rd in á ria "
"1'.. •...;'
':;.'";~
'
..~~
"
56
~~
"".'I
)i~~
D, Bastos
C la ir tin h a m g a n h o m e d a lh a d e v a lo r m ilita r e m c a m p o d e
b a ta lh a . C o p p a jo g o u -se d e sa rm a d o d e fu z il e m m e io a o n o sso
b a ta lh ã o , m a ta n d o e sa in d o ile so . F o i m o rto e x a ta m e n te p e lo s
se u s c o m a n d a d o s, q u e n ã o tiv e ra m c o ra g e m d e a c o m p a n h á -
lo n a q u e la a v e n tu ra im p o ssív e l e te m ia m a v in g a n ç a p o r p a rte
d e le . O u tro c h e fe d e q u a d rilh a , P a lm ie ri, fe z -se m a ta r, la n ç a n -
d o -se n o m e io d a s b a la s. M a sin i, F ra n c o lin o , N in c o , C a n o sa ,
P e rc u o c o , p re fe rira m a m o rte c o m o h e ró is, à p risã o ,
T o d a v ia , a m a io r p a rte d o s d e lin q ü e n te s se d istin g u e
p e la g ra n d e v e lh a c a ria quando e n fre n ta m o p e rig o a sa n g u e
frio e in e sp e ra d o . P o u c o s a n o s a trá s, o in tré p id o q ü e sto r de
R avenna, S e ra fin i, m a n d o u , c h a m a r u m d o s m a is te m id o s
a ssa ssin o s, q u e se g a b a v a d e q u e re r m a tá -lo . P ô s-lh e u m re -
v ó lv e r n a m ã o e lh e m a n d o u q u e e x e c u ta sse su a p ro m e ssa ,
m a s e le fo i-se e m b o ra se m n a d a fa z e r.
T am bém E la m -L in d s fe c h o u -se n a c e la c o m um dos
, m a is fe ro z e s e n c a rc e ra d o s e q u e lh e h a v ia p ro m e tid o m a tá -
lo e m a n d o u -lh e fa z e r a b a rb a . D e sp e d iu -o a p ó s, d iz e n d o :
"S a b ia q u e su a in te n ç ã o e ra m a ta r-m e , m a s e u o d e sp re z o
d e m a is p a ra a c re d ita r q u e v o c ê se ja c a p a z d e ta n to . S ó e se m
a rm a s e u so u m a is fo rte d o q u e v o c ê s to d o s ju n to s".
O m e sm o E la m , q u a n d o u m a re v o lta se m a n ife sta v a
e n tre o s se u s d e te n to s, a c a lm o u -a c o lo c a n d o -se n o m e io
d e le s. E m S in g -S in g , 9 0 0 d e te n to s tra b a lh a v a m no cam po
se m c o rre n te s, v ig ia d o s só p o r 3 0 g u a rd a s; ju stific o u a q u e le
ilu stre d irig e n te : "O h o m e m d e so n e sto é um hom em e sse n -
c ia lm e n te v il e p a tife ".
É p ro v á v e l q u e o s a to s d e c o ra g e m d o s m a lfe ito re s se -
ja m só o e fe ito d a in se n sib ilid a d e e d a in fa n til im p e tu o sid a d e ,
q u e n ã o o s d e ix a c re sc e r o u te m e r u m p e rig o se g u ro e q u e o s
c e g a d ia n te d e u m o b je tiv o a a tin g ir, o u d e u m a p a ix ã o p a ra
~_.
.
""''';;''~'
sa tisfa z e r. E ssa in se n sib ilid a d e , q u e n ã o fa z p a re c e r a e le s tã o
g ra v e a m o rte d o a lh e io e a p ró p ria , ju n to c o m o ím p e to das
.';. •.--<
_ _ .~
~ ..
57
~f;'
I~',~-
~:
D, Bastos
•
4. C o n c lu s ã o
E m s u m a , a a b e rra ç ã o d o s e n tim e n to é a n o ta c a ra c te -
rís tic a dos c rim in o s o s , com o d o s d e m e n te s , podendo um a
g ra n d e in te lig ê n c ia c o in c id ir com u m a te n d ê n c ia c rim in o s a
e d e m e n te , m as nunca com ín te g ro s e n tim e n to a fe tiv o . Is to
fo i o b s e rv a d o p o r P u g lia e d e p o is p o r P o le tti. Is to ta m b é m
fic a d e a c o rd o c o m o fa to d e q u e c e rta m e n te te rá s e n s ib iliz a d o
• os m eus le ito re s desde o s p rim e iro s c a p ítu lo s : q u e a s a lte ra -
ç õ e s d a te s ta p re d o m in a m m a is d o q u e a s d a s fa c e s , q u e a d a
cabeça e d o s o lh o s s o b re to d a s a s o u tra s .
A s a lte ra ç õ e s fa c ia is , e s p e c ia lm e n te a s o c u la re s , a o in -
v é s d o s e n tim e n to , q u e ta n to s ã o fre q ü e n te s e in s e p a rá v e is
no v e rd a d e iro c rim in o s o -n a to , e que tê m , d e o u tra p a rte ,
um a base o rg â n ic a . T em c e rta m e n te um a conexão com a
s e n s ib ilid a d e o b tu s a e n a q u e la re a ç ã o , o ra e x c e s s iv a o ra m u ito
escassa. C o n s e g u im o s re c o lh e r p ro v a s e x p e rim e n ta is d is s o .
M as e s te a rg u m e n to é bem v ita l, ra z ã o p e la qual não nos
s e n tim o s n o d e v e r d e re to rn a r m a is m in u c io s a m e n te n a s p ró -
x im a s c o n s id e ra ç õ e s .
I
I
58
t~
1
D, Bastos
5. A D E M Ê N C IA M ORAL E O
D E L IT O ENTRE AS C R IA N Ç A S
1 , C ó le r a - 2 . V in g a n ç a - 3 , C iú m e s - 4 . M e n tir a s
5 , S e n s o m o r a l- 6. A fe to - 7, C r u e ld a d e - 8, P r e g u iç a e ó c io
9 , G ír ia - 1 0 . V a id a d e - 1 1 . A lc o o lis m o e jo g o
1 2 . T e n d ê n c ia s o b s c e n a s - 1 3 . I m ita ç ã o
1 4 . D e s e n v o lv im e n to d a d e m ê n c ia m o r a l.
1 . C ó le ra
É u m fa to fu g id io ta lv e z a o s o b s e rv a d o re s , e x a ta m e n te p e la
s u a s im p lic id a d e e fre q ü ê n c ia , e a p e n a s le v a n ta d o p o r M o re a u ,
P e re z e B a in , q u e o s g e rm e n s d a d e m ê n c ia m o ra l e d a d e lin q ü ê n c ia
e n c o n tra m -s e , n ã o e x c e p c io n a lm e n te , m a s n o rm a lm e n te n a s p ri-
m e ira s id a d e s d o s e r h u m a n o . N o fe to , e n c o n tra m -s e fre q ü e n te -
m e n te c e rta s fo rm a s q u e n o a d u lto s ã o m o n s tru o s id a d e s . O m e-
n in o re p re s e n ta ria com o um ser hum ano p riv a d o d e s e n s o m o ra l,
e s te q u e s e d iz d o s rre n ó lo g o s u m d e m e n te m o ra l, p a ra n ó s , u m
d e lin q ü e n te -n a to . H á n is s o to d a a v io lê n c ia d a p a ix ã o .
P e re z d e m o n s tra a fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e d a c ó le ra
n a s c ria n ç a s . N o s p rim e iro s .d o is m e s e s e le s m o s tra m com o
,
~ :.'i ~ 59
1i
D, Bastos
I
"
i
",
m o v im e n to d a s s o b ra n c e lh a s , d a s m ã o s , v e rd a d e iro s acessos •
d e c ó le ra , q u a n d o n ã o q u e re m to m a r b a n h o , q u a n d o q u e re m •
)
pegar u m o b je to . A u m a n o d e id a d e a s u a c ó le ra le v a -o a
b a te r n a s p e s s o a s , q u e b ra r p ra to s , jo g á -lo s c o n tra quem os
f
t,
d e s a g ra d a , p re c is a m e n te com o o s s e lv a g e n s . É com o os i
d a c o ta s , q u e e n tra m e m fu ro r q u a n d o m a ta m o s b is õ e s , c o m o
o s fid ja n e s q u e s e m o s tra m , nas em oções, m u ito e x c ita d o s ,
f
m as pouco te n a z e s (P e re z ).
i
A c ria n ç a s e e n ra iv e c e q u a n d o s o fre d o r o u q u a n d o te m
n e c e s s id a d e
h á b ito s ,
d e d o rm ir o u d e m o v e r-s e , q u a n d o
fa z e r c o m p re e n d e r
o u s e q u e re m
ra iv a o d o m in a q u a n d o
o u s e lh e in te rro m p e m
im p e d i-lo
não pode se
a lg u m de seus
d e c h o ra r, d e d e s a b a fa r. A
é o b rig a d o a fa z e r fe s ta p a ra o s e s tra -
I
n h o s , o u v e m in te rro m p e r d u a s c ria n ç a s q u e s e b a te m . F re -
~
q ü e n te m e n te a c a u s a é , a b s u rd a : p o rq u e d o m in a n e le s , c o m o
b e m d is s e P e re z , a o b s tin a ç ã o e a im p u ls iv id a d e , que bem se
v ê e m q u e m s e la v a , s e d e s p e , o u v a i d o rm ir. E a c ó le ra e n tã o 1
to m a a e x p re s s ã o a g u d a d o c a p ric h o , d o c iú m e , d a v in g a n ç a , I
e p re ju d ic a o d e s e n v o lv im e n to d e le s , p rin c ip a lm e n te n o s p re -
!
d is p o s to s a d o e n ç a s c o n v u ls iv a s e a tin g e p ro p o rç õ e s e s p a n to s a s .
C e rto s ra p a z e s , d is s e M o re a u e m 1 8 8 2 , n ã o p o d e m e s ta r
u m s ó m o m e n to n a e x p e c ta tiv a d a s o rte p ro c u ra d a , sem en-
tra r e m c ó le ra . E le c o n h e c e u u m m e n in o d e 8 a n o s , in te lig e n -
tís s im o , q u e à m ín im a o b s e rv a ç ã o d o s p a is o u d e e s tra n h o s ,
e n tra v a
q u a n to s
e m c ó le ra v io le n ta ,
q u e lh e c a ía à s m ã o s e q u a n d o
o b je to s p o d ia a p a n h a r.
N ã o s e p o d ia p õ r n o b e rç o
tra n s fo rm a n d o e m a rm a tu d o o
s e v ia im p o te n te ,
u m m e n in o
q u e b ra v a
de 4 m eses a
I
n ã o s e r c o m a u x ílio d e o u tra s pessoas. A os 6 m eses a m ãe
te n to u c o lo c á -lo e n tre a lm o fa d a s n o p ró p rio le ito , m a s o fu ro r
t
re c o m e ç a v a quando ia p a ra o b e rç o . C o m 1 a n o e ra a le g re , I
1,
m a s a in d a te n a z e m c e rto s h á b ito s , c o m o p o r e x e m p lo , ser .1 _
~
c o lo c a d o n o le ito p e lo ~ s e u p a i. •• I'
1.
~
':,,.~~
60 ~
-.f -t!
:.~
..•.. -
.Is_
D, Bastos
Uma m e n in a , que e ra u m ta n to v io le n ta , to rn o u -s e
b o a c o m 2 a n o s . V i o u tra , d e 1 1 m e s e s to rn a r-s e fu rio s a p o r-
q u e n ã o c o n s e g u ia to rc e r o n a riz d o a v ô , e u m a o u tra de 2
a n o s p o rq u e v iu u m m e n in o c o m m a m a d e ira ig u a l à s u a ; p ro -
c u ro u m o rd ê -lo e to rn o u -s e d o e n te p o r trê s d ia s , O u tra d e 2
a n o s tin h a ta l a c e s s o d e ra iv a q u a n d o a c o lo c a v a m p a ra d o rm ir.
Um m e n in o de 1 5 m e s e s m o rd ia a m ãe quando lh e
d a v a b a n h o . U m o u tro d e 3 a n o s , a fa s ta d o d a s a la d e ja n ta r,
jo g o u -s e p o r te rra n o v ã o d a p o rta , d a n d o g rito s fe ro z e s . A
c ó le ra p o rta n to é u m s e n tim e n to e le m e n ta r no ser hum ano,
q u e d e v e s e r d irig id a , m a s n ã o s e d e v e e s p e ra r q u e s e ja e x tra íd a .
2 . V in g a n ç a
~
E s s e s c a s o s m o s tra m a , fre q ü ê n c ia e a p re c o c id a d e do
s e n s o d a v in g a n ç a n o s m e n in o s . P u d e v e r ta m b é m aos 7 ou
8 m e s e s u m m e n in o a rra n h a r a a m a d e le ite q u a n d o p ro c u ra v a
re tira r a te ta . C o n h e c i u m m e n in o h id ro c e fá lic o , d e d e s e n v o l-
v im e n to e e n te n d im e n to ' ta rd io , q u e s e irrita v a à m a is le v e
a d v e rtê n c ia a té a id a d e d e 6 a n o s . S e p u d e s s e g o lp e a r a q u e le
q u e o tin h a irrita d o , te r-s e -ia tra n q ü iliz a d o ; s e n ã o c o n tin u a v a
a g rita r. M o rd ia a s m ã o s , a to q u e e u o v i re p e tir, q u a n d o não
p o d ia v in g a r-s e d a a m e a ç a fe ita a e le . À s v e z e s re a g ia m u ita s
h o ra s a p ó s a s ú b ita irrita ç ã o e s e m p re p ro c u ra v a g o lp e a r o u -
tro s n o p o n to e m q u e fo ra a tin g id o o u a m e a ç a d o . E ra v io le n -
tís s im o , s o b re tu d o s e a c re d ita s s e s e r p u n id o o u s e r a lg o d e
s u p o s to ó d io . M e lh o ro u a o s la a n o s . O u tro q u e e ra fe ro c ís -
s im o a o s 4 a n o s , a té b a te r n a m ã e e m p le n a ru a . A o s 1 1 a n o s
to rn o u -s e d ó c il e b o m .
3 . C iú m e s
,<
_ • •,.
~' •• i, É c o m u m a to d o s o s a n im a is e s e m o s tra ta m b é m n o s
C~F~.-
_i".
""-
D, Bastos
':~;'
I
ora am oita com o cinza. P ode ter com o excitante o am or, m as
tam bém a posse. É violento nos m eninos. P erez notou o ciúm e
num que não só era cium ento de quem chegasse perto de sua
i
f
I
am a-de-leite, m as tam bém um objeto, para não cedê-lo a outrem .
_ F énélon escreveu: "N os m eninos o ciúm e é m ais vio-
. lento do que se im agina e há m uitos que em agrecem insensi-
I
velm ente ao sentir-se m enos acariciados do que outros. T ie-
dem ann, em um m enino de 22 m eses observou que queria
ser louvado quando fosse louvada sua irm ã, e batia nela se
não lhe cedia de súbito o que ela ganhava. U m garoto de 3
anos, que falava com grande prazer da futura irm ã, quando
a viu nascer e ser acariciada logo perguntou se ela devia
.•... m orrer logo.
1.-
~ V i esse sentim ento desenvolvido no prim eiro m ês, nos
E
{
prim eiros dias do nascim ento em um a m enina que não to-
m ava m ais o leite quando via sugado o outro seio pela irm ã I
~~:---
~ gêm ea, razão porque era separada im ediatam ente. C om 4
anos, ela não com ia m ais se via pela janela um a m enina vesti-
~
"'<l'. da com o ela. C om 14-15 anos, depois de um grave tifo, com e-
çou a tornar-se boa; era porém m uito tarde. A os 25 anos,
m ais hipócrita que boa, com crânio hidrocéfalo e hiperestesia
histérica. V albust fala de um m enino de 6 anos, cium ento de
seu irm ãozinho, que apresentava freqüentem ente aos próprios
pais a faca para que o m atassem .
4. M entiras
~ ,
...'
, .',
62 ~; . "
~/Ii: t"
~,
D, Bastos
!j
"l'
11
não parecer que a m erecem . O utras vezes m entem por causa
1',
t,.;I'
da m erenda, fingindo não a ter com ido antes e sob a im pressão
1:11
,
de um a forte dor após um a queda, ou para m ostrarem -se i~
fortes, ou querendo im aginar-se não estarem na aviltante
posição em que estão. O u ainda por ciúm e (um a m enina,
vendo a m ãe acariciar seu irm ãozinho, inventou que foi agre-
dida por ele); ou por preguiça (por exem plo, não querendo
fazer algum a coisa dizem estarem doentes). E u m e recordo
ter, com tal pretexto, evitado por m eses um a enfadonha lição
de aritm ética; tinha 5 ou 6 anos, enganando até os m édicos.
D epois dos 3 ou 4 anos, eles m entem por m edo de serem
punidos e a isso são levados da m aneira com que são interro-
gados e pressionados para darem a resposta. F reqüentem ente
m entem para satisfazer a vaidade. H á m eninos que por vai-
dade se dão prêm ios im aginários. U m a m enina se dava ao
gosto de narrar a si m esm a fábulas em que se tornava rainha
e ficava absorta com elas todo o dia.
U m a das razões das freqüentes m entiras deles é a im -
pulsividade e o senso m enos com pleto, m enos profundo do
verdadeiro, que custa m enos para eles do que para os outros
em dissim ulá-los, m udá-los diante de um objetivo, m esm o
leve de atingir, exatam ente com o nos selvagens e delinqüen-
tes. P or isso, vê-se aplicar a dissim ulação, da qual acreditam os
que sejam incapazes pessoas m ais m aduras. C onheci um a
m enina que, com 4 anos, roubava o açúcar com tanta destreza
que não se deixava surpreender, e depois fazia crer que a
ladra fosse .a servente.
U m passo a m ais e vim os outra que só para criar
rum or em torno dela fingia expelir secreções vaginais e
enganou por anos m édicos experim entados. O utra, de 5
:
,1', ~,-. '
ou 6 anos, ouviu a m ãe adotiva
cesso escandaloso; alguns
fôra m olestada obscenam ente
ler em um jornal um pro-
dias depois ela inventou
pelo pai e pelo avô. Iniciou-
que
",:'4'-'
~
'?': 63
't.,.,.
""'"
".ff:i;:~.
D, Bastos ;i.
'.1
se um g ra v e p ro c e s s o , a ré que
q u e tu d o e ra m fá b u la s ; ú ltim o e ú n ic o o b je tiv o
b a ru lh o e m to rn o d e s i.
B o u rd in , q u e fo i e n c a rre g a d o
os exam es d e m o n s tra ra m
e ra p ro v o c a r
d e fa z e r tra b a lh o e s p e c ia l
I
!
s o b re a m e n tira
in v e n to u
p a ra c h a m a r
e n tre o s m e n in o s , c o n ta -n o s
te r u m c o rp o e s tra n h o
a a te n ç ã o
n o o u v id o
s o b re s i. O u tro ,
q u e u m m e n in o
e g rita v a d e d o r,
com o m esm o fim ,
Ii
I
s im u lo u um a doença c o m p lic a d a . D o is m e n in o s de 5 ou 6
a n o s , n a m e s a , e s ta b e le c e ra m a c o rd o e n tre e le s d e e s c o n d e r
I
da m ãe um pequeno c rim e d e u m d e le s (d e te r d e rru b a d o
v in h o n a to a lh a ), e c o m is s o im p e d i-lo d e ir a o te a tro , que
fo ra p ro m e tid o s ó a e le .
U m a m e n in a d e a p e n a s 3 a n o s , c u ja m ã e p ro ib iu de
e s m o la r c o m id a d is s e a u m a s e n h o ra : " S e m e d e s s e n e g a rá à
..m ã e h a v e r a c e ita d o " ..É a m b ic io s a , e , d e s e ja n d o ser bem ves- t
tid a , d is s e à m ã e : ''A q u e la
in d e c e n te " . E n tre ta n to
s e n h o ra
n ã o e ra v e rd a d e .
m e re p re e n d e u
Q uando
por ser
fo i re p re - JI
e n d id a por essa nova m e n tira negou v e e m e n te m e n te . E la
í
m e s m a u m d ia n e g o u
E s te c a s o é fre q ü e n te
te r a lm o ç a d o
n o s m e n in o s .
p a ra te r n o v o a lm o ç o .
i
I
;
5 . S e n s o m o ra l ,
O s e n s o m o ra l fa lta c e rta m e n te n o s m e n in o s n o s p ri-
m e iro s m e s e s e a té n o p rim e iro a n o d e v id a . P o r is s o , o b e m
e o m a l é o q u e fo r p e rm itid o o u p ro ib id o p e lo p a i o u p e la
m ã e , m a s , a lg u m a v e z , s e n te m por si quando u m a c o is a s e ja
m á . D is s e u m m e n in o a P e re z : "É v il m e n tir e desobedecer
- is to d e s a g ra d a à m am ãe". D iz ia u m g a ro to : " Q u a n d o cho-
ro , m a m ã e m e p õ e a d o rm ir e e n tã o m e d á u m a a lm o fa d a " .
A s s im fa z e m p e la s a ç õ e s m o ra is o u e n c o n tra m a quem os
lo u v e . U m m e n in o d e 2 a 5 a n o s a c re d ita v a te r fe ito b e m .
D iz ia : " O m u n d o d ir8 .: é u m b o m ra p a z " (P e re z ). U m a v e z
64
.~"
I
D, Bastos
I
I
I
d o a s p e s s o a s q u e o a p lic a m . A id é ia d e ju s tiç a , d e p ro p rie -
d a d e , v e m a o m e n in o a p ó s h a v e r p ro v a d o a dor de ser desa-
p ro p ria d o e te r o u v id o d iz e r q u e is to é m a u . O d e ia g e ra lm e n te
I
a in ju s tiç a , p rin c ip a lm e n te quando e le p ró p rio a s e n te . P a ra
e le , e la c o n s is te e m u m d e s a c o rd o e n tre o m o d o h a b itu a l d e
tra ta m e n to e o a c id e n ta l.
E m c irc u n s tâ n c ia s n o v a s e s tá e m p le n a in c e rte z a . U m
m e n in o le v a d o d e s u a c a s a a P e re z m o d ific o u s e u s h á b ito s
s e g u n d o a n o v a s itu a ç ã o : com eçou a d irig ir a fú ria d o s g rito s
e s ó o b e d e c ia a e s s a fú ria . O s e n s o m o ra l é , p o rta n to , um a
d a s fa c u ld a d e s m a is s u s c e tív e is d e s e r m o d ific a d a p e lo a m -
b ie n te m o ra l. A noção d o b e m o u d o m a l q u e é o g e rm e
in te le c tu a l d e la n ã o s e c o n s ta ta a n te s dos 6 aos 7 m eses.
P e re z v iu u m m e n in o d e 7 m e s e s , c u ja m ã e tin h a e n s in a d o
q u e e ra e rra d o g rita r q u a n to to rn a v a b a n h o . A o re v é s , q u a n to
m a is g rita v a m a is s e irrita v a , o b s tin a v a e c h o ra v a .
O p rim e iro a c e n o d o s e n s o m o ra l é q u a n d o c o m p re e n -
d e m c e rta s a titu d e s e c e rta s e n to n a ç õ e s q u e te n h a m o b je tiv o
re p re s s iv o , q u a n d o com eçam a obedecer por m edo ou por
h á b ito . O in te re s s e , o a m o r p ró p rio , a p a ix ã o , o d e s e n v o lv i-
m e n to d a in te lig ê n c ia e d a re fle x ã o d e te rm in a m a e x te n s ã o
d o b e m e d o m a l e m a is , ta lv e z , a s im p a tia , a fo rç a d o e x e m p lo ,
o m e d o d a re p re e n s ã o ; d e to d o s e s s e s e le m e n to s s e fo tm a a
c o n s c iê n c ia m o ra l. O m e s m o p o d e s e r m a is o u m e n o s e n c a m i-
n h a d o s e g u n d o a s a titu d e s d o c a rá te r e d o s a c id e n te s do m o-
m e n to . A filh a d e L u ig i F e rri d is s e -lh e u m d ia : " S in to q u e
h o je n ã o p o s s o s e r b o a " .
65
;:r-
D, Bastos
:'t,
6. A feto
t
É escassa neles a afeição. Provam sim patias sobretudo tf
pelos rostos belos e por aqueles que procuram um prazer,
.com o por exem plo, pelos pequenos anim ais que se deixam
,
,
prender, e antipatia, sobretudo pelos objetos novos que cau-
~ sam m edo. N ão sentem afeto e tam bém depois dos 7 anos os J
m eninos esquecem a própria m ãe, a quem aparentavam am ar. ,
I
U m m enino de 4 anos perdeu seu m elhor am igo; o pai deste,
tom ou-o nos braços soluçando, m as ele de súbito lhe disse:
"A gora que Pedro está m orto, o senhor m e dará o seu cavalo
e seu tam bor, não é verdade?"
T
Q uando alguém acredita no am or deles, no fundo,
7. Crueldade
I'(
66 4 ;~
:';~--
- D, Bastos
8. Preguiça e ócio
('~'~
~;
67
-4: ...
,
1--
D, Bastos
1 0 . V a id a d e
I
T a m b é m e ste fu n d a m e n to d a m e g a lo m a n ia e d a c rim i-
I
I
n a lid a d e n a ta , q u e é a v a rie d a d e e x c e ssiv a , a p re o c u p a ç ã o
d e si m e sm o , é e n o rm e
q u e o s p rin c íp io s
n o s m e n in o s.
d e ig u a ld a d e
E m d u a s fa m ília s, e m
sã o in a to s n o s g e n ito re s, os 1
filh o s a in d a a o s 3 a n o s re v e la v a m
d e c la sse s so c ia is, e tra ta v a m
a s p re te n sõ e s,
c o m a rro g â n c ia
d ife re n ç a s
o s p o b re s. I!
U m a m e n in a m u ito ta c itu rn a , d e m e d ío c re d e se n v o lv i-
m e n to in te le c tu a l, educada p o r m ã e b o n íssim a , c h e ia de t
id é ia s n o b re s, b rin c a n d o c o m a filh a d a se rv e n te , im p u n h a -
;{
lh e p re te n so s se rv iç o s e a re p re e n d ia . H á n e ssa a titu d e um
p o u c o d e im ita ç ã o , m a s a in d a m u ita id é ia d e g ra n d e z a . ~~Q
".; :.'
:' -
'" '::'
~
68 '!*J~
*!i ttil(:
D, Bastos
•
O s m e n in o s se fa z e m p e tu la n te s d e sd e 7 e 8 m e se s,
,
1 ~;,
".:
d ã o -se b o ta s e c h a p é u s e lu ta m p o r n ã o q u e re r p e rd ê -lo s. V i
c a so s p a re c id o s d e m e n in o s q u e se re v e la ra m d e p o is d e p o u c o
engenho e pouca p re c o c id a d e , a 9 ou la m e se s c h o ra re m
p a ra q u e fo sse m v e stid o s c o m d e te rm in a d a ro u p a v isto sa .
U m , d e 2 2 m e se s q u e ria ro u p a a z u l, u m o u tro d iz ia se m p re
q u e q u e ria ro u p a d e c a sa m e n to .
F a z e m -se o rg u lh o so s d o p a i p ro fe sso r, c o n d e , e m p re sá rio ,
e tc . H á a lg u n s q u e , m e sm o se n d o re strito s, re v e la m p a ra a s a m ig a s
e m p ro p o rç ã o re le v a n te , p a ra se p a ssa r p o r ric o s. O s m e n in o s
m a is ig n o ra n te s n ã o a d m ite m ja m a is se re m re p re e n d id o s, g e ra l-
m e n te p e lo s m e stre s, p e la in c a p a c id a d e . E x p lic a m a s re p re e n -
sõ e s c o m fa lsa s ra z õ e s, se m p re e stra n h a s a o s p ró p rio s e rro s.
T o d o s a c re d ita m su p e ra r o s o u tro s n a s p e q u e n a s o p e ra -
ç õ e s .. O b se rv o u P e re z u m m e n in o q u e n o b a la n ç o g rita v a :
" O h ! V e ja m c o m o m e b a la n ç o b e m ! C o m o v o u fa c ilm e n te ;
n in g u é m p o d e fa z e r c o m o e u !" . T o d a v ia , o s se u s c o m p a n h e i-
ro s ta m b é m fa z ia m . E is a í u m a ilu sã o tra z id a p e lo a m o r-p ró p rio .
A p e rso n a lid a d e n o g a ro to v a i a té o e g o ísm o , à p re -
su n ç ã o , a té o p e d a n tism o , e fre q ü e n te m e n te c o m te n d ê n c ia
à sim p a tia , à te rn u ra e à c re d u lid a d e o q u e c o n trib u i a o d e se n -
v o lv im e n to d o se n so m o ra l. A id é ia d a p e rso n a lid a d e é apenas
e sb o ç a d a n o p rim e iro a n o , c o m o n a s fe ra s. E n tre os 2 e 4
a n o s, o se n tim e n to p e sso a l a firm a -se a té o e x a g e ro . Um
g a ro to d e 2 6 m e se s g rita v a p o r q u a lq u e r a rra n h ã o . T om ado
d e a m o r-p ró p rio , m o d ific o u -se , e m e sm o g o lp e a d o , n ã o se
q u e ix a v a e le v a v a tu d o p e lo la d o c ô m ic o . U m d ia n ã o q u is
a p re n d e r a le r d ia n te d e u m a g a ro ta d iz e n d o : " E la ri d e m im !"
11. A lc o o lism o e jo g o
Q uem v iv e n a a lta so c ie d a d e n ã o te m id é ia d a p a ix ã o
Q~'~'::.i.
~:.~
q u e tê m a s c ria n ç a s p e lo á lc o o l, m a s n a b a ix a so c ie d a d e é
-.~f" ~
"',
t'F,:~:
~:.:.. 69
~?,::+:'~
::';;-.t-~,
~ - .< ,~ l;.,_
rr
D, Bastos
I
m uito óbvio observar até os lactentes tom arem vinho e licor
com vontade toda especial e os genitores se divertirem em
vê-los cair na em briagues (M oreau). M uitas vezes os presidiá-
i
.rios m e contaram que se em briagavam desde a infância e
diante dos genitores. A paixão pelo jogo é um a nota caracte-
.' rística da vida infantil.
•
m alos e m onstruosos, com o quase todas as tendências crim i- !
lf'>
''j-''
5.:.;,
~}
~,
nosas, têm princípio na prim eira idade .
II
~.'fZ 13. Im itação
.'-'>' ..
~~
.•
~.•1'"
:..
~.
A té a form a de cam inhar
m eninos, são efeito da im itação,
e de falar, escreve Perez, nos
e naturalm ente se im ita o
bem com o o m al. U m a m enina que tinha o pai irascível, aos
15 m eses com eçava a enrugar a sobrancelha à m aneira do
pai e gritar a seu m odo. A os 3 anos dizia a um com quem
discutia: "C ale-se, você não m e deixa term inar a frase", exata- !
m ente com o o pai. H á portanto im itações m orais antes que
nós possam os perceber.
,; U m idiota, disse G al!, depois de ver m atar um porco,
pensou logo depois em degolar um hom em e o degolou. Prós-
pero Lucas cita o exem plo de um m enino de 6 a 8 anos que
.sufocou seu irm ão m ais jovem. Q uando o pai e a m ãe entra-
ram e tom aram conhecim ento do ocorrido, ele jogou-se nos
braços deles chorando e declarando ter desejado im itar o
diabo, que tinha estr~.ngulado Pulcinel!a.
70
r D, Bastos
71
•
D, Bastos
72 I
~
~.
D, Bastos
6. C A SU ÍST IC A (D E D E L IT O S NOS M E N IN O S)
73
.
w
D, Bastos
4 . U m b a n d id o e sc o c ê s, c o n d e n a d o p o r a n tro p o fa g ia ,
U
d e ix o u u m a m e n in a q u e a o s 1 2 a n o s e ra u m a fe ro z a n tro p ó - ~
:...
fa g a . P e rg u n to u e la : "E p o r q u e te r d e sg o sto ? S e to d o s so u - J:
b e sse m c o m o é b o a a c a rn e h u m a n a ,
filh o s" (M o re a u ).
to d o s c o m e ria m o s se u s
~t
~
./
bundo,
5 . A .M ., d e 1 1 a n o s, d e tid o p e la o ita v a v e z c o m o v a g a -
d e c la ro u q u e e ra b e m n u trid o
m a s q u e se n te n e c e ssid a d e
se m p re d a m ã e se fo r e n c a m in h a d o
e c u id a d o p e lo s p a is,
d e se r liv re e q lle e le se lib e rta rá
a e la . E stá n o se u sa n g u e ;
II
p re fe ria fic a r n a c a sa d e c o rre ç ã o q u e fic a r n a p ró p ria c a sa .
I
I
6 . E m L a g n y , d o is m e n in o s,
1 0 , te n d o m o tiv o d e ra n c o r c o n tra
u m d e 1 3 a n o s, o u tro
u m se u c o m p a n h e iro
de
de
t
~
.~ 7 a n o s, c o n v id a ra m -n o a n a d a r n a m a rg e m d o M a rn e , em
.~ .:
",',
.\
::.,.. lu g a r a fa sta d o . Jo g a ra m -n o e m lu g a r p ro fu n d o e a g o lp e s d e
~;
p é e d e p e d ra re p e lira m
g u in te ,
a te n ta tiv a d e sa lv á -lo . N o d ia se -
u m d e le s, o m e n o r, c o n fe sso u a v e rd a d e (M o re a u ).
I I
J. I
7 . A o s 1 3 a n o s, B .A ., b ra q u ic é fa lo , ín d ic e 8 7 , o x c é fa lo , í•
c o m o lh o s o b líq u o s, z ig o m a s sa lie n te s, m a n d íb u la s v o lu m o sa s,
!
o re lh a s d e a sa , c o m p a p o , fe riu m o rta lm e n te c o m u m fa c ã o I
n o c o ra ç ã o u m c o m p a n h e iro q u e lh e n e g o u d in h e iro v e n c id o
n o jo g o . C o m 1 2 a n o s já e ra e n c o n tra d o n o s p ro stíb u lo s.
I
S e is v e z e s fo i c o n d e n a d o p o r fu rto . T in h a u m irm ã o la d rã o ,
u m a irm ã m e re triz e a m ã e c rim in o sa . E ra re lig io so , p o is fre -
q ü e n ta v a a o m e n o s a s ig re ja s, m a s n u n c a d isse a o c o n fe sso r
o s d e lito s c o m e tid o s.
!
[
8 . M a in e ro , u m m e n in o d e fisio n o m ia p re c o c e e d e se n -
v o lv im e n to e sc a sso , u m a v e z q u e a o s 1 2 a n o s a p a re n ta v a 6;
i;
f'[
a ltu ra
74
d e 1 ,2 4 m , o re lh a s d e a sa , z ig o m a s sa lie n te s, o lh o s
~1._
";li c,'
w- D, Bastos
v iv o s, a o s 8 a n o s c o m e ç o u a ro u b a r. N e to d e u m a ssa ssin o ,
g a b a v a d e tê -lo se g u id o n o s g o lp e s d e le e te r o rg a n iz a d o b a n d o
d e la d rõ e s d a s e sm o la s d a s ig re ja s, e te r ro u b a d o a m iú d e a
~i p a rte q u e p e rte n c ia a se u s c ú m p lic e s m e n o re s, o que deu
c a u sa a e le s p a ra q u e o d e n u n c ia sse m .
~i
9. L B ., de G ênova, c râ n io a m p lo , fro n te e stre ita , ta -
tu a d o n o b ra ç o c o m a fra se : "M o rte a o s v is, e v iv a a a lia n ç a "
(ro u b o u d e sd e o s 8 a n o s). G a tu n o , te m se te irm ã o s, d o s q u a is
trê s e stã o p re so s.
I 1 2 . O b a n d id o a n tro p ó fa g o
q u e , p o r trê s v e z e s, sim u lo u d e m ê n c ia ,
ç õ e s, p a ra d a r a o s c o m p a n h e iro s.
F . S a lv a to re , d e C a tâ n ia ,
m e d e ix o u e m le m -
b ra n ç a e sc rita c o m o já n o s 6 a n o s ro u b a sse d o s p a is a s re fe i-
M a is ta rd e , a o s 9 a n o s,
ro u b a v a d o re sta u ra n te p e ç a s in te ira s d e q u e ijo . E m u m a lid e
; .. p o r jo g o c o m u m a m ig o , a rra n c o u -lh e u m p e d a ç o d a o re lh a ,
[ ~.
~~.""~.
_~~~i.'
' ;".t~
m a lg ra d o o p a i fo sse h o n e stíssim o e o c a stig a v a p o r sa n ta s
75
'r
D, Bastos
'J
I
r a z õ e s p a r a c o r r ig i- lo . A o s 1 4 a n o s f e r iu c o m u m f a c ã o g r a v e -
m e n te
d in h e ir o
u m c o m p a n h e ir o d e jo g o . C o m f a ls a c h a v e
d o p a i. A o s 1 9 a n o s m a to u um hom em .
ro u b o u o
iI
1 3 . D e u m a m ã e h is té r ic a d e g r a n d e ta le n to e p a i ta m -
I
b é m ta le n to s o
u m c a p a c ita d o ,
m a s b iz a r r o e a b u s a d o r
o u tr o a lie n a d o ,
d o tr a b a lh o ,
d e r iv a r a m q u a tr o
d o is tio s ,
f ilh o s : u m I
h o n e s tís s im o ,
m ic íd io c o m e tid o
m e r c a n tis ,
m e n in o
u m e x c e s s iv a m e n te
r a q u ític o
la s c iv o , s u ic id a a p ó s o h o -
p o r p a ix ã o ; u m b r a v ís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s
d e s d e jo v e m a v e s s o a q u a lq u e r
c o m f r o n te e s tr e ita ,
e s tu d o ; u m o u tr o
f o i la d r ã o tã o te n a z a
I
p o n to d e r o u b a r a té o r e ló g io e o s o b je to s q u e e n c o n tr a v a na
c a s a d o s p a is . A o s 1 6 a n o s s e f e z h o n e s to , ta lv e z p e lo g r a n d e 1
c u id a d o d a m ã e . T o rn o u -se h a b ilís s im o n a s n e g o c ia ç õ e s . !
-i
1 4 . E n tr e d o is m e n in o s c e g o s e n c o n tr a d o s e m u m in s ti-
tu to p r iv a d o o c u lta v a r e c íp r o c o m a l- e s ta r . U m a ta r d e , p a s s a n -
d o a c o n v e rsa r, c h e g a ra m à s v ia s d e f a to . O m a is d é b il, p o r é m
I
a s s o c ia d o a o u tr o c o m p a n h e ir o q u e a n te s h a v ia p r e v e n id o , !
f
d o m in o u s e u a d v e r s á r io : e n q u a n to u m o se g u ra v a p e la s p e r -
n a s , e le o e s g a n a v a , ta n to q u e o te r ia m a ta d o s e o b a r u lh o -
1
não tiv e s s e f e ito a c o r r e r o u tr a s p e s s o a s . E s te é d e 1 2 a n o s ,
~
f ilh o d e u m c id a d ã o h o n e s to , e m b o r a ig n o r a n te . D e sc u ra d o
.!
na sua educação, f o i a b r ig a d o c o m 8 a n o s e d e m o n s tr o u m e- 1
l
i,t.
m ó r ia e x tr a o r d in á r ia , a ta l p o n to d e r e c o r d a r - s e d e u m a lis ta
d e n o m e s n a o rd e m e m q u e f o r a m p r o n u n c ia d o s .
E n tr e ta n to , a educação c o n s e g u ia a m a n s a r s ó e m a p a -
r ê n c ia o s e u g ê n io o r g u lh o s o e s e lv a g e m . L o g o s e f e z n o ta r
q u e n ã o s ó r e a g ia c o m o s c o m p a n h e ir o s p e la m e n o r o fe n sa ,
m a s ta m b é m p e la s a d m o e s ta ç õ e s in f r in g id a s p e lo s s u p e r io r e s ,
q u e , p a r a e le , e r a m s e m p r e in ju s ta s . P a ra c a u sa r danos aos
o b je to s d o in s titu to , u J 'la v e z f o i v is to p o r ta l m o tiv o jo g a r
u m a m e ia n a la tr in a . .
76
~ - ---_ ._ - - - - '" '- - - ~ - - - ~ - - - _
D, Bastos
V á r ia s v e z e s , te n to u s u ic id a r - s e d e v á r ia s m a n e ir a s . T i-
n h a e s tr a n h a s p r á tic a s r e lig io s a s ; q u a n d o ia p a s s e a r , à s v e z e s
c a ia d e jo e lh o s . N ã o q u e r ia c o m e r g o r d u r a s e m d ia s d e v ig ília ,
a p e s a r d a s c o n c e s s õ e s e c le s iá s tic a s . Q u a n d o q u e r ia m le v á - lo
à m is s a f o r a d a s f e s ta s r e c a lc itr a v a , a p e la n d o a té a o s in s u lto s .
C o m e tid o p o r é m o a to a n te s n a r r a d o , e m b o r a n ã o m o s -
tr a s s e a r r e p e n d im e n to e d is s e s s e q u e e s ta v a p r o n to a c o m e te r
o u tr a v e z o d e lito , s u p o r to u c a lm a m e n te a p r is ã o . P o ré m ,
e n c o n tr o u m odo d e c o m u n ic a r a o c o m p a n h e ir o com um
a lf a b e to c u ja s le tr a s e r a m r e p r e s e n ta d a s p o r g o lp e s . D e c o r
p á lid a , e r a s u je ito a f r e q ü e n te s c o n v u ls õ e s n o s m ú s c u lo s d a s
f a c e s , d o s d e d o s e d o tr o n c o . D e c a b e lo s lo ir o s , o r e lh a s d e a s a .
1 5 . B .R ., d e 7 a n o s e m e io , m o r e n a , in d o le n te , e s tr á -
. b ic a , m a c r o c é f a la , d e m ã e d e s o r g a n iz a d a e p o u c o b e n é v o la à
f ilh a e n a d a a f e iç o a d a a o m a r id o d o e n tio , pegava em casa
la r a n ja s e c o n f e ito s q u e v e n d ia p o r d in h e ir o . C o m p r a v a b r in -
q u e d o s c o m d in h e ir o ro u b a d o da casa da m ãe. D eu um a vez
d u a s lir a s , o u tr a v e z 5 0 c e n ta v o s , a u m a c o m p a n h e ir a p a ra
te r u r n a m e d a lh a . T ir o u d a ir m ã u m a m o e d a d e o u r o d e v in te
lir a s e m o s tr o u - a à c o m p a n h e ir a d iz e n d o tê - la g a n h o d e p r e -
s e n te ; d e p o is - r e c o lo c o u - a n o lu g a r , c o m m e d o d e s e r d e s c o -
b e r ta . Q u a n d o s o u b e q u e s e r ia in te r r o g a d a a d v e r tiu a c o m p a -
n h e ir a p a r a q u e d is s e s s e a h is tó r ia a o s e u m o d o e in v e n to u
u m a f á b u la .
,~ 16. Obscenidade -
o b se rv a d o
J á tin h a d ito q u e n ã o f a lta m a o s m e -
n in o s c a s o s d e p r e c o c e o b s c e n id a d e . H á m u ito te m p o e u tin h a
q u e to d o s o s c a s o s d e f o r m a m o n s tr u o s a de am or
sexual ( m e n o s o s o r ig in a d o s d a d e c r e p itu d e ) s ã o in ic ia d o s
n a id a d e im p ú b e r e e ju n to c o m o u tr a s te n d ê n c ia s c r im in a is .
T a l e r a o c a s o d e B , la d r ã o q u e a o s 9 a n o s e s ta v a s u je ito
a c o n tín u a s e re ç õ e s e e s tím u lo s d e ta l m o d o e x a g e ra d o s a
77
D, Bastos
r
!
,
{
p o n to d e c o n d u z i-lo
E le já a p re s e n ta v a
a o e s tu p ro quando v ia ro u p a s ín tim a s .
e s s e e s tra n h o s in to m a n a p rim e ira in fâ n c ia ,
•,
aos 3 ou 4 anos, quando andando
c o le g a s c o m a v e n ta is b ra n c o s . O c o n ta to
n o re fo rm a tó rio v ia s e u s
c o m ro u p a s b ra n c a s
f
.i
p ro v o c a v a -lh e p ra z e r c o m o s e fo s s e o c o n ta to c o m o u tra m u -
lh e r. F o i e s ta a c a u s a d e o u tro s e s tu p ro s e d a n e c e s s id a d e
t
c o n tín u a d e c o ito e p a ra s a tis fa z ê -lo te rm in o u c o m o la d rã o . I
E le fo i a tin g id o , quando
fo rte tra u m a e s o fre u lo n g a m e n te
d e s c e n d ia d e n e u ro p á tic o s ;
c ria n ç a , na cabeça por um
c o m e le , e c o m o d e h á b ito ,
a m ã e s o fria d e e m e c ra n ia , a irm ã
I
e ra h is té ric a , o a v ô m o rre u d e q u e d a d e â n im o e m s e g u id a a
:~.. ~ : h is tó ria s d e M a g n a n e C h a rc o t,
c o m a m in h a in te rp re ta ç ã o ,
q u e o fe re c e m
p ro v a v e lm e n te
ta n ta a n a lo g ia
n ã o tã o s e g u ra s .
~;
'tt
"t?
1 7 . O u v i fa la r d e u m c a m p o n ê s de 37 anos, com pai
a lc o ó la tra , tio a lie n a d o , m ã e e irm ã n e rv o s a s e m e la n c ó lic a s ,
u m irm ã o d e m e n te , e le m e s m o c o m p ro b le m a s c e fá lic o s . A o s
1 5 a n o s , v e n d o s e c a r a o s o l, u m a v e n ta l b ra n c o , a p o s s o u -s e
d e le , e n ro lo u -o n o c o rp o e s e m a s tu rb o u . D e p o is d a q u e le
d ia , n ã o p o d ia v e r a v e n ta is s e m u s á -lo s c o m o m e s m o o b je -
tiv o , jo g a n d o -o s fo ra a p ó s . Q u a n d o v ia a lg u m a p e s s o a c o m
a v e n ta l, n ã o s e e x c ita v a , m a s à v is ta d e s s a c e n a s e g u ia a trá s
d e le p a ra d e rru b á -lo .
E m 1 8 6 1 o s p a is o p u s e ra m n a m a rin h a , e , d e fa to , n ã o
v e n d o a v e n ta is s e a c a lm o u . T o d a v ia , e m 1 8 6 4 , re to rn a n d o à
v 'id a a n tig a , re p e tia a e s tra n h a te n d ê n c ia e ro u b o u o u tra v e z
u m a v e n ta l. À n o ite , p e n s a n e le , a o d ia , im a g in a -o ta l c o m o
lh e a p a re c e u p e la p r~ ~ e ira v e z e s e s e n te le v a d o a ro u b a r
78
r D, Bastos
1 8 . S in g u la r fo i o c a s o d e M .X ., d e 1 4 a n o s , q u e te m
fim o s e e p re p ú c io m a is lo n g o q u e a g la n d e , n a s c id o d e g e n i-
to re s n e u ró tic o s , q u a s e d e m e n te s . D e in te lig ê n c ia p re c o c e
d e s d e c ria n ç a . J á lia c o m 3 a n o s , m a s d é b il d e fo rç a , d e 6 a
8 a n o s e ra d o ta d o d o h á b ito in s tin riv o e s tra n h o , d e o lh a r
o s p é s d a s m u lh e re s , p a ra v e rific a r s e n ã o h a v ia p re g o n o
s a p a to d e la s , e a v is ta d a q u e le s p re g o s o e n c h ia d e e x tra o r-
d in á rio p ra z e r.
A p o s s a v a -s e d o s c a lç a d o s d e d u a s d e s u a s p rim a s p a ra
c o n tá -la s e re c o n tá -la s . À n o ite , n a c a m a , p e n s a v a n o s a p a te i-
ro q u e o s fa z ia e n a to rtu ra d e u m a g a ro ta e m q u e o s p re g o s
e n tra v a m n o p é , c o m o n o s c a v a lo s , e , a o m e s m o te m p o , s e
m a s tu rb a v a . F o i e n tã o e s te o p o n to d e p a rtid a q u a s e p re d o m i-
n a n te , s e b e m q u e p re fe ria a v is ta d o s s a p a to s d e m u lh e re s à s
re la ç õ e s s e x u a is . F o i p re s o e n q u a n to s e m a s tu rb a v a e m fre n te
a u m a s a p a ta ria .
F a z a ju s ta r a im a g in a ç ã o à v e rd a d e desses a m o re s
p a ra d o x a is , a a n a lo g ia c o m o u tro s d e s c rito s p o r m im n o s
a lie n a d o s , e , o q u e é p rin c ip a l, a a n a lo g ia re c íp ro c a . Todos
e s s e s a m o re s s e n o ta m e m n e u ro p á tic o s , e m u ito n o s c rim i-
nosos, por a p ro x im a ç ã o , e s e m p re ou quase s e m p re ,
m a s tu rb a d o re s . E m to d o s se vê, com o o c o rre n a s m a n ia s
im p u ls iv a s e n a s id é ia s s is te m a tiz a d a s , um a dada sensação
q u e o s a tin g iu n o m o m e n to d a in fâ n c ia , e n q u a n to nos de-
m a is fa v o re c e a e re ç ã o c o m o d e s e jo s e c u n d á rio , por asso-
c ia ç ã o de id é ia s que s u b s titu e m a id é ia -m ã e e pouco a
pouco age com o c e rto s v íru s , não s ó fix a n d o , m a s in v a -
d in d o o o rg a n is m o a té d o m in á -lo , a to rn a r-s e irre s is tív e l,
im p e lin d o a té a a to s c rim in o s o s .
79
,[..,..,.
r '
D, Bastos
~
t
19. Amor precoce - E to d o s esses am o res se fo rm aram I
~
o u g erm in aram ao m en o s n a p rim eira in fân cia. O p rim eiro
J
d esd e 3 o u 4 an o s, sen d o a p reco cid ad e u m o u tro d e seu s
1
caracteres. A in v ersão d o sen so g en ital fo i n o tad a q u ase sem - •
p re p reco cem en te ao s 8 an o s, p o r ex em p lo ,
W etfalia. E is n o v o s ex em p lo s.
n o d o en te de
I
I
P .R . co m eço u a sen tir o im p u lso p ara d esfru tar a v ista
d e h o m en s n u s, m o rm en te d e su a g en itália e d esd e en tão
ten tav a v estir-se d e m u lh er. D esd e essa h o ra m an ifesto u -se
a ten d ên cia ao s fu rto s. U m d ia, p o r ex em p lo , ro u b o u um
tin teiro d o p ro fesso r. N asceu d e u m p ai v elh o e tev e u m a
av ó ex cên trica. A d u lto , era b astard o , p ro g n ato , m as co m o re-
lh as v o lu m o sas.
2 0 . U m a m en in a, q u e eu tiv e so b tratam en to ,
sim a n a fisio n o m ia, filh a d e m u lh er h o n esta,
p reco cís-
m as d e av ó
Ii
i
,.
lasciv a, p rim o crim in o so e av ô alco ó latra, m an ifesto u d esd e
o s 1 3 an o s ten d ên cia à m astu rb ação , sem ced er às cen su ras,
j
n em às am eaças, n em ao tratam en to m éd ico . A o in v és, d o J
m esm o in stru m en to q u e ad o tav a p ara in jetar an afro d isíaco , I,,
u sav a p ara se m astu rb ar.
'
,
1-
2 1 . D e u m p ai co n v u lsio n ário ,
d e n eu ro p ático s,
in telig en te,
ep ilép tico , d e fam ília
n asceu u m a sen h o ra p eq u en a, d o lico céfala,
m en stru ad a ao s 1 2 an o s. C o m 8 an o s, in stru íd a
I
p o r u m a co leg a, co m eço u a m astu rb ar-se
tam b ém ap ó s o m atrim ô n io p rin cip alm en te
e co n tin u o u assim
q u an d o g ráv id a.
T ev e d o ze filh o s, d o s q u ais cin co m o rto s p reco cem en te, q u a-
II'
I
t.
tro m al co n stitu íd o s n a cab eça, h id ro céfalo s, co m d eficien - f
tes d isp o siçõ es m o rais, im p etu o so s e v io len to s. U m d eles, te
If
in telig en te, co m 7 an o s se m astu rb av a co m m u ita in sistên - .t~
cia, e o u tro , tard io d ~ in telig ên cia, d esd e a id ad e d e 4 an o s -:
e m eio . - .
~
.' ~
~
80 '"
-""'
•••.
~
..
' D, Bastos
I
m en o s". À s v ezes se arrep en d ia, ch o rav a ao v er as lág rim as
d a m ãe, m as d ep o is era to m ad a d e n o v o s acesso s. E n q u an to
u m p ad re a aco n selh av a, ela se m astu rb av a co m a so tain a.
C h eg o u a q u eim ar o clitó ris, m as in u tilm en te. D izia ela: "É
h o rrív el ter v o n tad e d e fazer e n ão p o d er. É p ara to rn ar lo u co
'' q u alq u er u m . S eria cap az d e m atar q u em m e im p ed isse. N a-
q u ele m o m en to so u p risio n eira d e u m a v ertig em . N ad a v ejo ,
e
f'.,
n ad a tem o p ara fazê-lo ".
R eco rd o -m e de J u m a d o m éstica q u e se m astu rb av a
~
:-~~:~. q u an d o m en in a. M ais tard e a m estra p ro ib iu -a d e to car a
~,,,
~~,'" p ú b is, o q u e ag u ço u su a cu rio sid ad e. D aí p o r d ian te to cav a-
~~/ 81
.' o"':!"
'-'-,--
- Oi.!'.
D, Bastos
r,I
s e s e m p r a z e r m a s p o r p u r a c u r io s id a d e . D e p o is s e im a g in o u
e s ta r d o e n te e , p o r d iv e r tim e n to a p lic o u c a ta p la s m a e e sfre -
gava com u m b a s tã o a s p a r te s pudendas. D e p o is , o s d e s e jo s
lh e v ie r a m e m h o r a s d e te r m in a d a s . C o rro m p e u a ir m ã q u e
tin h a 4 a n o s e q u e n ã o s e n tiu p r a z e r a n ã o s e r q u a n d o a tin g iu
8 a n o s . D e p o is s e d e p r a v o u c o m m e n in o s .
2 3 . E s q u ir o l e M a r c n a r r a m d o is c a s o s c u r io s o s e m q u e
ju n to c o m a s te n d ê n c ia s o b s c e n a s , e e m p a r te p o r c a u s a d e s ta s ,
m a n if e s ta v a m - s e a s v e le id a d e s m a tr ic id a s . U m a m e n in a d e s c r ita
p o r E s q u ir o l e r a lú c id a e d e in te lig ê n c ia p re c o c e , d a n d o -n o s
a s s im u m e x e m p lo c o m p le to d e d e m ê n c ia m o r a l e d e c r im in a li-
d a d e . E r a v iv a z n o a s p e c to , d e c a b e lo s c a s ta n h o s , n a r iz a c h a -
ta d o , m o s tr o u - s e d e sd e o s 5 a n o s p re o c u p a d a c o m a id é ia d e
m a ta r a m ã e , p a r a p o d e r liv r e m e n te m e s c la r - s e c o m o s m e n in o s .
A m ã e , e s ta v a a d o e n ta d a p e la d o r , e e la lh e c o n f e s s o u
,
q u e a s u a m o r te n ã o a d e s a g r a d a v a , p o is a s s im p o d e r ia e n tr a r
n a p o s s e d e s u a s c o is a s .
- V o c ê n ã o s a b e o q u e é a m o r te . S e u e u tiv e s s e q u e
m o rre r n e s ta n o ite , r e s s u s c ita r ia am anhã. O Senhor não
m o rre u e r e s s u s c ito u ?
- C o m o fa re i p a ra m o rre r?
- N ã o p e n se q u e e u n ã o a n d a re i n u n c a e m u m b o sq u e
p a r a f a z e r - m e m a ta r ! '
82 ,
l,
l
,c ,:'
r
I
D, Bastos
- A h! m am ãe, is to é p a r a m im d e e n o r m e d e sp ra z e r.
P o d e r e i à n o ite m a tá - la c o m u m f a c ã o ,"
- " P o r q u e v o c ê n ã o f e z is s o q u a n d o e s ta v a d o e n te ? "
- " E p o r q u e n ã o o f e z d e p o is ? "
- " P o r q u e v o c ê tin h a o s o n o le v e e p e lo m e d o d e q u e
v o c ê m e v is s e p e g a r o f a c ã o " .
- " M a s , s e v o c ê m e m a ta s s e , n ã o te r ia m in h a s c o is a s ,
p o is tu d o f ic a r ia p a r a te u p a i" .
- " A h ! S e i q u e in f e liz m e n te p a p a i m e f a r ia p a r a r n a
p r is ã o , m a s a m in h a in te n ç ã o é m a tá - lo ta m b é m ,"
2 4 . E r e a lm e n te T a m b u r in i e S e p p illi n o s f a la v a d e u m
c e r to tip o a q u e m a f o r ç a ju n ta v á r io s d e s e jo s . C e r to S ., n e to
e f ilh o d e a s s a s s in o s e e s tu p r a d o r e s , c o m c r â n io a s s im é tr ic o ,
p e r f e ita a n a lg e s ia , p a ra poder te r d in h e ir o p a ra u m a v id a
sensual e m q u e e ra p re c o c e e p a ra n ã o s e r c o n s tr a n g id o a
r e to r n a r à r u d e v id a d o s c a m p o s , e n v e n e n a r a o p a i, e p e n s o u e m
m a ta r u m a m u lh e r q u e o tin h a d e n u n c ia d o , M a tq u ta m b é m o
ir m ã o e tu d o f e z c o m ta l h a b ilid a d e q u e n in g u é m te r ia s u s p e i-
ta d o s e n ã o s e tr a ís s e e m s u a s m e m ó r ia s : e r a u m im b e c il m o r a L
E a in d a b e m q u e s e p o d e d iz e r q u e e s te s s ã o c a s o s d e
d e m ê n c ia : q u e e s s e s o b s e r v a d o s c o m o a d u lto s , s e r ia m a b s o lu -
ta m e n te c o n s id e r a d o s c r im in o s o s . D e q u a lq u e r m o d o , p ro -
v a m n ã o p o d e r c o lh e r - s e n a p r im e ir a r e v o lta d e le s a d if e r e n ç a
e n tr e o d e lito e a d e m ê n c ia .
,
"! 83
lii
' o - o " ,'
';'.fr
D, Bastos
,'t'
1 ':'I
- ~V
.! l' +
l,'"
ft_
,' .
,
:'
r
I
I.
1:
I
t-
t
I
I
I,
t
f,,.,,
I'
I
I'
,
~
1 .-
,
I
I
.1
~,_."
f"
I
~
I
,
.
!
.
_ ,~
rO
1,,
~.;
~
l-", .
r~:.;:x D, Bastos
';';~~'
I/t'tlr'
!l~"~
;
+ I " '~ .- _ .
V;';',,-~'
"S ,
_.~L.*,"
',~
..•...
',:' ""
:: ': .~
'.
.
:'-
I~
'~"-
;';, . 7. SANÇÕES E M E IO S P R E V E N T IV O S
'
D O C R IM E D O S M E N IN O S
, .
~ i~
,...;.';•••..• '
-c ,.
F ic a e n tã o d e m o n s tr a d o
c r im in o s o s a r a iz d o c r im e r e m o n ta
que em u rn a c e r ta c o ta
d e s d e o s p r im e ir o s a n o s d o
de
- n a s c im e n to , in te r v e n h a m o u n ã o c a u s a s h e r e d itá r ia s ,
d iz e r m e lh o r , q u e s e h á a lg u n s c a u s a d o s p e la m á e d u c a ç ã o , e m
o u p a ra
'
m u ito s n ã o in f lu i n e m m e s m o a b o a . A s u a g r a n d e a ç ã o b e n é f ic a
~
s u r g e e x a ta m e n te d o f a to d e s e r g e r a l a te n d ê n c ia c r im in o s a n o
m e n in o , d e m o d o q u e s e m e s s a e d u c a ç ã o n ã o s e p o d e r ia e x p lic a r
a n o r m a l m e ta m o r f o s e q u e a c o n te c e n a m a io r p a r te d o s c a s o s .
"
.-'
"' .• 's. D e r e s to , e n te n d e m o s por educação, a lé m d a s s im p le s
,.
... in s tr u ç õ e s te ó r ic a s q u e r a r a m e n te a ju d a m , ta m b é m a o s a d u l-
~ to s , p a r a q u e m v e m o s tã o p o u c o a p o n ta r a lite r a tu r a , o s d is -
c u r s o s , a s a r te s d ita s m o r a liz a d o r a s . M e n o s a in d a , a v io lê n c ia ,
; com que m a is e m a is s e r e a lç a m o s h ip ó c r ita s , tr a n s f o r m a
n ã o o v íc io e m v ir tu d e , m a s o v íc io e m u m o u tr o v íc io . H á
, r e a lm e n te um a s é r ie d e m o v im e n to s r e f le x o s s u b s titu in d o
.,," ,"
.~~
~ ,.t..:;~ ; le n ta m e n te o u tr o s que fo ra m causas d ir e ta s ou ao m enos
O"_~-
,1."';; f a v o r á v e is à m a n u te n ç ã o d a s te n d ê n c ia s m a ld o s a s , e is s o p o r
I
certos m eios preventivos, tais com o condições favoráveis do ar,
da luz e de espaço, de alim entação, com prevalência, por exem plo,
de vegetais nas privações sanguinárias dos alcoólatras, abstinência
com pleta e, em determ inados casos, de prudente ginástica sexual. I
I
O corre evitar os fáceis ciúm es para im pedir a violência im -
pulsiva, acalm ar o orgulho precoce com provas palpáveis e tão
fáceis de revelar a hum ana espécie infantil, inferioridade, cultivar
o intelecto por via dos sentidos e do coração, com o faz adm iravel-
m ente o sistem a Froebeliano. H á crianças tristes, violentas,
m asturbadoras, porque estão doentes de raquitism o, de oxiúros,
etc. e a cura hem atológica ou verm ífuga só é feita por correção.
..
~)
..
""0.°
i~
m inosos
Im pedir a conjunção
que, quando
seria pois a única
fecunda
prevenção
dos alcoólatras
do delinqüente
é tal, com o se vê em nossa história,
e dos cri-
nunca
nato,
se
I
~~A m ostra
Roussel,
suscetível de cura. Se com Bargoni, com Benelli, com
com Barzillai e com Ferri encontram os
casos de correção, que com triste discussão
censuráveis
poder-se-ia dizer
I
;
I
de oficial correção, acreditam os que seria de enorm e vanta;
gem do país, em vez do m anicôm io crim inal, m elhor ainda
seria um a casa de abrigo perpétuo de m enores afetados pelas
1
tenazes tendências crim inosas e da dem ência m oral.
Para esses, o m anicôm io crim inal torna-se útil quase
(
tanto e m ais do que nos adultos,
os efeitos das tendências
pois sufoca no nascim ento
que não levam os em consideração
I
I.
a não ser quando se tornam fatais. Essa idéia não é algo novo
- ou revolucionário. Sob um a form a m ais radical e m enos hu-
m anitária, a Bíblia já a havia ordenado ao pai apedrejar o filho
_ o
'
m aldoso. A educação pode im pedir os que nasceram bons de •.•.
.
:
86
r- D, Bastos
I
I
I 8. DAS PEN A S
I
3. V ingança religiosa e jurídica - 4. Prepotência dos chefes.
D elitos contra as propriedades - 5. Transform ação da pena.
D uelo - 6. C astigo. Restituição - 7. O utras causas da
com pensação - 8. Posses Patrim oniais - 9. C hefes
I
;
10. Religião - 11. Seitas - 12. Antropofagia
13. C onclusão
jurídica
I.
o.£:
"' .. .
_.. ~
da justiça não era feita pelo príncipe; a pena se reduzia a um a
vingança pessoal do ofendido e de seus am igos: quem se crê lesado
...,.." .... faz justiça com o pode e não deixa que outros se introm etam .
'
: '.:co
87
D, Bastos nr
n a a n a r q u ia ig u a litá r ia , e le s n ã o c o n h e c ia m o u tr o s d ir e ito s a
não s e r o s d o s m a is f o r te s . T o d o s o s v íc io s , to d o s o s d e lito s
f ic a m s e m p u n iç ã o , e , a n te s , n o p e n s a m e n to d e le s , n ã o h á
v íc io s n e m h á d e lito s . C a d a u m d e v e d e f e n d e r - s e c o m o p u d e r.
A s s im d e sc re v e o je s u íta B a e g e r t, q u e v iv e u e n tr e e le s p o r
d e z e s s e te a n o s . E n tr e o s to n g a n is , e s c r e v e u M a r in e r , n ã o h á
p a la v r a s p a ra e x p r im ir a id é ia d e ju s tiç a e d e in ju s tiç a , de
c r u e ld a d e e d e s u m a n id a d e . O f u r to , a v in g a n ç a , o r a p to e
a s s a s s in a to , n ã o s ã o c o n s id e r a d o s p o r e le s , e m m u ita s c ir c u n s -
tâ n c ia s , c o m o d e lito s .
2 . V in g a n ç a p r iv a d a
O s á r a b e s b e d u ín o s n ã o q u e re m q u e o h o m ic id a s e ja
t
f e r id o p e lo s o b e r a n o ; q u e r e m f a z e r g u e r r a a e le e à s u a f a m ília
e a tin g ir a q u e le s q u e e le s e s c o lh e r e m , d e p r e f e r ê n c ia o c h e fe
d a f a m ília , a in d a q u e e le s e ja in o c e n te . O s a b is s ín io s e n tr e g a m
. o m a ta d o r a o m a is ín tim o p a r e n te d o m o r to , q u e p o d e p u n i- .~
lo a o s e u b e l ta la n te . E n tr e o s c u r d o s , s e n in g u é m la m e n ta r
u m h o m ic íd io , e s te f ic a o r d in a r ia m e n te im p u n e ; O ll são os I
v iz in h o s que devem o b te r a re p a ra ç ã o ; to d a v ia , é m a is
h o n ro so v in g a r - s e p o r si m e sm o d o q u e re c o rre r à ju s tiç a .
E n tr e o s k u r a n g o s , o h o m ic íd io é p u n id o c o m a m o r te ,
d o h o m ic id a , m as o condenado p o d e se m p re se re sg u a rd a r,
in d e n iz a n d o o s a m ig o s e p a r e n te s d o m o r to ; a q u e s tã o é
c o n s id e r a d a in d iv id u a l, s e m q u e a lg u é m p e n s e n o in te r e s s e
.,-
~
s o c ia l. E s te c o n c e ito to r n a v a a ju s tiç a d e s s a f o r m a g r o s s e ir a ,
.\
e a in d a e x is tia e m v á r io s lo c a is d a Á f r ic a . N ã o h á m a is d e lito
m a s a p e n a s d a n o s a o c h e f e o u a u m p a r tic u la r .
O s a u s tr a lia n o s s e n te m c o m g r a n d e v io lê n c ia a p a ix ã o
d a v in g a n ç a q u e e le s s a tis f a z e m in d if e r e n te m e n te e m c im a d e
q u a lq u e r m e m b r o d a tr ib o a q u e p e r te n c e o o fe n so r. S e , p o r
e x e m p lo , u m in d íg e n a ' f o i o f e n d id o p o r u m b r a n c o , b a s ta - lh e
88
r-- D, Bastos
a v in g a n ç a s o b r e o u tr o b ra n c o q u a lq u e r . P e lo v is to , c o m o
to d a m o r te d e r iv a d e u m m a le f íc io c a u s a d o e d e v e s e r v in -
g a d a , e x p lic a - s e e s s a c o n tín u a s é r ie d e d e v e r e s s a n g u in á r io s
q u e d e v e m s e r c u m p r id o s . C a d a u m e x e r c ia p o r s i a r e a ç ã o e
a sanção p e n a l; s 6 m a is ta r d e p a s s o u a e x e r c ê - I a d e a c o rd o
c o m s u a tr ib o . A v in g a n ç a a q u e s e r e d u z ia e s s a r e a ç ã o e ra
u m d e v e r r e lig io s o e c ív ic o .
3 . V in g a n ç a r e lig io s a e ju r íd ic a
A v in g a n ç a e r a a p a ix ã o dos deuses d e W a lh a la , do
d e u s d o s h e b re u s e ta n to s o u tr o s . G u d r u n a , q u e p a r a v in g a r
o s ir m ã o s m o r to s p o r Á tila , m a to u u m f ilh in h o d e le e o f e z
c o m e r o c o r a ç ã o , e r a to m a d o c o m o m o d e lo d e v ir tu d e . N a B í-
t
b lia , r e c o n h e c e - s e , e n tr e p e s s o a s p r iv a d a s , o d ir e ito e o d e v e r
d e v in g a r o s a n g u e , is to é , a m o r te d e p a r e n te p r 6 x im o , a in d a
q u e p o r im p r u d ê n c ia . N a s le is g e r m â n ic a s m a is v e lh a s d á - s e
u m a a u to r iz a ç ã o ilim ita d a à v in g a n ç a . N a s le is b á r b a r a s v ê - s e
a v in g a n ç a s e r to m a d a c o m o m e d id a o f ic ia l. T a m b é m a p e n a ,
If c o m o n o s a n im a is e n o s s e lv a g e n s , c o m e ç a c o m o c a r á te r d e
v in g a n ç a , o u s e ja , c o m o e s p é c ie d e d e lito . A r e a ç ã o c o n tr a o
m a is f o r te e p r e p o te n te im p e le a v in g a n ç a p o r a s s o c ia ç ã o e
,j; s e e s ta s tr iu n f a m , o d e lito to r n a - s e u m in s tr u m e n to m o r a l.
P o r é m , e s ta v in g a n ç a n ã o e r a ju s tiç a ; e ra u m a re a ç ã o
ir q u e v a r ia v a e x a ta m e n te d e a c o r d o c o m a g r a v id a d e d a o f e n s a
-:1' e , o q u e é p io r , d a s u s c e tib ilid a d e d a v ítim a e d e s e u s p a r e n te s e
~ :-t
~ a m ig o s . D e p o is , q u a s e s e m p r e s e r e d u z ia à m o r te o u a o ta liã o ,
\ .
"'c -;;.' o lh o p o r o lh o , d e n te p o r d e n te ( D e u te r o n ô m io ) , m u tila ç ã o
~. d o s d e d o s o u à r e s titu iç ã o d o o b je to f u r ta d o .
4 . P r e p o tê n c ia d o s c h e fe s. D e lito s c o n tr a a s p r o p r ie d a d e s
A s s im c o m o a v id a h u m a n a te m pouco v a lo r p a r a o s
p o v o s p r im itiv o s , a m o r te d e s p e r ta v a re a ç ã o m enor ou ne-
89
~
D, Bastos
nhum a, n e m s e to rn a v a u m c rim e g ra v e , s e n ã o fo s s e p e rp e -
tra d a c o n tra u m c h e fe o u u m s a c e rd o te q u e re p re s e n ta v a
D e u s n a te rra , o u e n tã o , s e tiv e s s e s id o c a u s a d a p o r u m e s tra -
• n h o à trib o . V ic e -v e rs a , e la n ã o e ra n u n c a c o n s id e ra d a g ra v e -
m e n te d e litu o s a s e fo s s e c a u s a d a p e lo c h e fe o u p e lo s a c e rd o te .
U m q u im b u n d o q u e m a to u u m e s c ra v o pagou o seu
d e lito s a c rific a n d o u m b o i, c u jo s a n g u e la v o u o d e rra m a d o
p e lo e s c ra v o . N a Á fric a , e n tre o s a c h a n te s , m a ta r u m e s c ra v o
é a ç ã o to ta lm e n te in d ife re n te , m a s o h o m ic íd io c o n tra um
g ra n d e p e rs o n a g e m a tra i p a ra o a s s a s s in o a p e n a d e m o rte ,
p e rm itin d o -s e a o c u lp a d o m a ta r-s e . A o re v é s , n ã o s e p u n ia
nunca c o m a m o rte u m d o s filh o s d o re i, q u a lq u e r q u e fo s s e
.'
o s e u d e lito .
.' '.
". N a s ilh a s F id ji a p e n a lid a d e ju ríd ic a v in d a d a h ie ra rq u ia
~• q u e d o m in a v a a s o c ie d a d e , e a g ra v id a d e d e u m d e lito v a ria
""~ lj segundo o g ra u s o c ia l d o c u lp a d o , c o m o n o s e s ta tu to s m e-
~t; -
d ie v a is . O fu rto c o m e tid o p o r u m p o p u la r é m u ito m a is g ra v e
I
~>
j:t." d o q u e o h o m ic íd io c o m e tid o p o r u m c h e fe .
;'!';!j
'R U m a v e z p o ré m , c o m o c re s c im e n to d o n e p o tis m o e
-~
p e la fo rç a d a s a rm a s n a s in v a s õ e s g u e rre ira s , e m v e z d a trib o ,
o s c h e fe s s e fiz e ra m p ro p rie tá rio s d e tu d o . O fu rto c o n tra
e le s , p e la p rim e ira v e z , to rn o u -s e d e lito , e c o m o e ra m e le s
O
90
~I~ D, Bastos
5 . T ra n s fo rm a ç ã o da pena. D u e lo
A v irtg a n ç a e a p e n a , c o n fu n d in d o -s e u m a c o m a o u tra ,
re d u z ia -s e a u m fe rim e n to ta l q u e b a s ta s s e p a ra re s s a rc ir a
v ítim a o u s e u s a m ig o s , o u a d o r c a u s a d a a o o fe n d id o . M as,
a p lic a v a -s e n a tu ra lm e n te , segundo o s im p u ls o s e in s tin to s
d e c a d a u m e d e a c o rd o com o dano.
A s s im c o m o p ro v a v e lm e n te a s re a ç õ e s s e m p re m a io re s
q u e s e s u c e d ia m , u m a à o u tra , te ria m te rm in a d o p o r e x tin g u ir
91
D, Bastos
W, f~
"'I,
:
••
;
". o.,
N o m e sm o d ia , c in c o m u lh e re s a p a re c e ra m n a q u e le
lo c a l, fiz e ra m u m se m ic írc u lo , c o m p o rre te n a m ã o . S u rg ira m
d e p o is trê s h o m e n s a rm a d o s d e e sc u d o s; e ra m e le s a c u sa d o s
ir
d e a ssa ssin a to e m u m a trib o v iz in h a . A s m u lh e re s d e v e ria m
re c e b e r, c o m o p u n iç ã o , g o lp e s n a c a b e ç a , m a s q u a tro d e la s
só fiz e ra m sim u la ç ã o . A q u in ta m u lh e r, m a is c u lp a d a , fo i e s-
b o rd o a d a se ria m e n te . L e sso n v iu u m a a c u sa d a d e fe itiç a ria se r
g o lp e a d a n a c a b e ç a d e m o d o a fic a r q u a se m o rta (H o v e la q u e ). ,
A s p u n iç õ e s a ssu m e m p a p e l d e rix a s, o u m e lh o r, e m
d u e lo s o u d e b a ta lh a s, q u e n e sse s p a íse s sã o fo rm a d o s. As
trib o s se c o m u n ic a m p rim e iro , fo rn e c e m a rm a s a o a d v e rsá rio ;
a u m sin a l a tira m -se a s a z a g a ia s; a p ó s u m c e rto n ú m e ro de
m o rto s se d ã o a s m ã o s e te rm in a m . O u , à s v e z e s, lu ta m a té o
fim . C o m o se v iu , a s p rim e ira s fo rm a s d e p e n a s le g a liz a d a s
fo ra m , d e fa to , d u e lo s o u b a ta lh a s c o n tra u m c u lp a d o p re su -
m id o c o m o se n o ta n o s a n im a is: rix a s d e u m o u d e p o u c o s,
tra n sfo rm a d a s d e p o is. c ;m ritu a is ju ríd ic o s.
"
92
~- D, Bastos
6 . C a stig o . R e stitu iç ã o
;
E m itig a n d o se m p re m a is o s â n im o s e to rn a n d o a v id a
h u m a n a m a is p re c isa e , a o m e sm o te m p o , p re c io sa a p ro p rie -
d a d e , a c a b a ra m p o r e n c o n tra r a c o m p e n sa ç ã o n ã o m a is n o s
fe rim e n to s, m a s n a re stitu iç ã o g a ra n tid a à trib o . E , e m c o m -
p e n sa ç ã o , se g u e m -se a s m e sm a s n o rm a s d a v in g a n ç a ; v a ria v a
a ssim , se g u n d o o g ra u so c ia l d o o fe n so r e d o o fe n d id o . E n tre
o s a ssin o s e o s a c a n tis, q u e m ro u b a sse e sta v a su je ito a m u lta .
T am bém n o T ib e te a p lic a v a -se a p e n a , o u m e lh o r, a m u lta
a o s p a re n te s d o la d rã o .
O s a c a n tis p re n d e m q u e m ro u b a o re i, q u e m a b u sa d e
su a s e sc ra v a s o u c o n d e n a m à m o rte q u e m v io la r su a s m u lh e -
re s e q u e m a c u sa fa lsa m e n te . Q uem m a ta u m e sc ra v o , p a g a
o p re ç o a o p ro p rie tá rio d e le , q u e m m a ta r um hom em liv re
d e c la sse in fe rio r p a g a o v a lo r d e se te e sc ra v o s e ta m b é m
q u e m d e stru ir u m m a rc o d e fro n te ira . P a ra u m fu rto d e p o u c o
v a lo r, se fo r a b a sta d a a fa m ília d o ré u , e la se rá re sp o n sa b i-
liz a d a ; e sta p o d e rá m a tá -lo se fo r in c o rrig ív e l.
Q uando o se r h u m a n o n ã o p o ssu ía c o m o se u a n ã o se r o
p ró p rio c o rp o , a c o m p e n sa ç ã o p o r to d o d e lito e ra a m o rte o u a
fe rid a e m d u e lo , m a s q u a n d o se m u n iu d a p ro p rie d a d e , e c o n si-
d e ra v a -se n o d e lito , m a is d o q u e tu d o , o d a n o c a u sa d o , e n c o n -
tro u -se n o s v a lo re s a c o m p e n sa ç ã o m a is v a n ta jo sa . V e m o s a in d a
,.
q u e , e n tre o s a fe g ã o s, d o z e m u lh e re s e ra m a c o m p e n sa ç ã o p o r
u m h o m ic íd io , se is a m u tila ç ã o d a m ã o , d a o re lh a o u d o n a riz ,
trê s p o r u m d e n te . O A lc o rã o p re sc re v e v in te c a m e lo s p o r
u m h o m ic íd io , e , n a B íb lia , q u e m ro u b o u u m b o i é c o n d e n a d o
a p a g a r c in c o se já o p e rd e u e d o is se a in d a o b o i e stiv e r v iv o .
7 . O u tra s c a u sa s d a c o m p e n sa ç ã o
P a ra a tra n sfo rm a ç ã o d a v in g a n ç a e m c o m p e n sa ç ã o
c o n trib u iu o p ró p rio e x a g e rç > d a v in g a n ç a . E n tre o s g ra c a s, a
93
D, Bastos
II'r
~t
;;
v in g a n ç a e ra p e rm itid a por um a n o e m e io a o s p a re n te s e '.'
.,.
..
r
a o s p re s e n te s a o d e lito . D e p o is d e tra n s c o rrid o e s s e te m p o ,
n ã o s o b ra v a o u tro m e io d e v in g a n ç a a n ã o s e r a v ia ju d ic iá ria .
P e rm itia -s e a v in g a n ç a p e s s o a l c o m o u m a e x p lo s ã o d e c ó le ra ;
p o ré m , quando e ra p a s s a d o u m c e rto te m p o , s ó s o b ra v a o
dano p e s s o a l, que d e v e ria ser com pensado. T am bém na
•• m e n o s re m o ta le g is la ç ã o d o g u la th in g s e n a s le is irla n d e s a s
p o d ia -s e v in g a r c o m a m o rte a lg u m d a n o o U fe rim e n to , desde
que não e s tiv e s s e c ic a triz a d o ; quando s e tra ta s s e só de
c o n tu s ã o , n ã o s e p o d e ria v in g a r a n ã o s e r n a q u e le m o m e n to .
P o r is s o s e v ê q u e s e o fe rim e n to e ra le v e , c o m e ç a v a , a um
c e rto p o n to , a s u b tra ir-s e à v in g a n ç a , q u e e ra n a tu ra lm e n te
p ro p o rc io n a l à causa.
4., A s s im a le i m o s a ic a p e rm itia a o v in g a d o r m a ta r o h o m i-
~r-
~,
:"'.:•..•.
c id a , a in d a
p ro v ia
q u e fo s s e o c rim e
trê s c id a d e s
apenas c u lp o s o ,
d e a s ilo a fa v o r d o c u lp a d o .
m a s d e p o is
No F u e ro
1 f .J
~. )u z g o e s p a n h o l n ã o s e p e rm itia a pena de talião a o s d e lito s
:C ; ..
1:;r.t'" d o c h e fe p o rq u e a re p a ra ç ã o e x c e d ia à o fe n s a . E n ã o s e c o n -
! : '~
"'..-o i"
-;"Y..( c o rd a v a a in d a s e o d e fu n to n ã o c o n ta s s e c o m u m p a re n te
~
m u ito d e s p ro v id o d e m e io s .
8. P osses p a trim o n ia is
S o b re tu d o c o n trib u iu a v a n ta g e m s o b re v in d a e a posse
d e u m a p ro p rie d a d e , c o m a q u a l s e p o d e ria m com pensar m a is
p ro p o rc io n a lm e n te os danos. E s s a d is p o s iç ã o , por sua vez, ,
a u m e n to u o p o d e r d o s c h e fe s , q u e e ra m c o m p e te n te s p a ra '
d e te rm in á -lo s e in frin g i-lo s . U m a v e z in tro d u z id o o uso da
com pensação, e m v e z d a v in g a n ç a , p a ra o h o m ic íd io v in h a
• n a tu ra lm e n te a in te rv e n ç ã o d a te rc e ira p e s s o a d a a u to rid a d e , ,:::
q u e d e v ia fix á -la . V in h a ta m b é m a e x te n s ã o d o m e s m o s is te - ,.
~
m a a to d o s O s o u tro s d e lito s , q u e s e m p re s e re s o lv e m n a a p re -
c ia ç ã o d e u m d a n o re a l.
94
--~_. - .•.. -._ -~ - ~..._ -----
D, Bastos
r.-'
t
9 . C h e fe s
N o ta -s e e m tu d o is s o a in flu ê n c ia d o p o d e r d e s p ó tic o ,
q u e , u m a v e z in ic ia d o , a tin g e o a b s u rd o , m a s p a re c e c e rto q u e
m u ito s d e s s e s d e lito s d e le s a -m a je s ra d e tiv e s s e m s id o in v e n -
ta d o s p e lo re i, c o m o m a is ta rd e s e v iu c o m o s C é s a re s . C o n ta
S p e k e q u e u m o fic ia l n ã o e s ta v a n a C o rte v e s tid o c o m e le g â n -
c ia , e p o d e ria p e rd e r a c a b e ç a , m a s , e n tre ta n to , a p e n a fo i s u b s -
titu íd a p o r u m a m u lra e m a n im a is , c o m o c a b ra s , g a lin h a s , e tc .
1 0 . R e lig iâ o
C o m o s e m p re , a re lig iã o a tu a p a ra u s u fru ir e p e rp e tu a r
o u s o e a s s im fo i a p rim e ira a p re v a le c e r-s e m a is d o e le m e n to
te o c rá tic o d o q u e o d o g u e rre iro ; e s s a p e rp e tu a ç ã o v e io a té
n ó s . E m s e g u id a , o in s tru m e n to m a is p o d e ro s o à re a ç ã o c o n tra
o s d e lito s , b e m e n te n d id o , s e m p re te n d o c o m o p re fe rê n c ia o s
,
d e lito s s U lie rs tic io s o s , q u e , p a ra n ó s , n ã o s e ria m n e m m e s m o
c o n tra v e ~ ç õ e s , fo ra m , d e p o is d o s c h e fe s , o s s a c e rd o te s , fre -
q ü e n te m e n te ta m b é m c o n s id e ra d o s m é d ic o s e a d iv in h o s . Is o -
la d o s o u a lia n d o -s e a o s c h e fe s , to m a v a m c o m o p re te x to não
".,;.
s ó to d o d e lito o u p e c a d o , m a s ta m b é m to d o d e s a s tre , to d a
."""".
~" m o rte , to d a e s ta ç ã o d o a n o , p a ra m o s tra r q u e d e v ia h a v e r'
a lg u m p e c a d o p a ra s e r p u n id o . E s c o lh ia m u m a v ítim a , p e rs e -
g u ia m o s c u lp a d o s v e rd a d e iro s o u s u p o s to s , e a c re s c e n ta v a m
95
-1-.
D, Bastos
11. S e ita s
96
D, Bastos
1 2 . A n tro p o fa g ia ju ríd ic a
M a is b ru ta l, c e rta m e n te , m a s d a m e sm a fo rm a in ju sto e
c rim in o so é o o u tro m e io d e re p re ssã o q u e fo i a a n tro p o fa g ia ju rí-
d ic a , c o m o a c h a m o u L e to u rn e a u . A ssim , v e m o s c o m o o s a d ú l-
te ro s, o s la d rõ e s n o tu rn o s e o u tro s d e sse tip o , e ra m , e n tre o s b a ta s,
condenados a se re m c o m id o s p e lo p o v o . A se n te n ç a e ra in a p e -
lá v e l, m a s p o d ia se r re ta rd a d a d o is o u trê s d ia s p a ra se r e x e c u -
ta d a n o lo c a l e m q u e a c o rre sse o p ú b lic o . P a ra o a d u lté rio , p o d e -
ria se r re ta rd a d a a té q u a n d o o s p a re n te s d a s p a rte s p u d e sse m
to m a r p a rte n o fe stim . O m a rid o tin h a d ire ito a o m e lh o r p e d a ç o .
O condenado e ra d e p e n d u ra d o num a e sta c a e a um
d a d o sin a l a m u ltid ã o se p re c ip ita v a so b re e le e sq u a rte ja n d o -
o com m achado o u c u te lo , o u só c o m unhas e d e n te s. Os
pedaços a rra n c a d o s e ra m d e v o ra d o s im e d ia ta m e n te , c ru s e
sa n g u in o le n to s: e le s e ra m m o lh a d o s c o m u m a m istu ra p re p a -
ra d a a n te s e m u m a c u ia d e c o c o e fe ita c o m su c o d e lim ã o ,
sa l, e tc . N o s c a so s d e a d u lté rio , o m a rid o tin h a d ire ito de
e sc o lh e r o p rim e iro bocado. E ta n ta e ra a b rig a q u e m u ita s
v e z e s u n s fe ria m o s o u tro s n o s c h o q u e s.
1 3 . C o n c lu sã o
97
V"
D, Bastos
..,", ~.,.'
'1 :'
g a n ç a ; c o m o a p ro m is c u id a d e
a o in c e s to in tro d u z id o
d a lib id o fo i e lim in a d a
p o r u m a fa n ta s ia
tiria e p o lig e n ia , o rig in a d a p e la p re d ile ç ã o
g ra ç a s
d e n o b re z a , p o lia n -
q u e tin h a o c h e fe
l t
o u o m a is p re p o te n te d a trib o p o r d e te rm in a d a m u lh e r. A s s im
ta m b é m a c o n te c e ria e m u m h a ré m p e la v io lê n c ia de um
.a m a n te , e m a is ta rd e p e la a g re s s iv id a d e e m a io r p re d o m ín io
~ d e u m c h e fe . D o m o d o q u e e ra d e lito to c a r n a m u lh e r do
c h e fe , n ã o e ra to c a r n a s o u tra s m u lh e re s .
C om o a p e n a p e lo fu rto c o m e ç o u a a p a re c e r s o b re a
p re v a lê n c ia d a s c o n q u is ta s d o s c h e fe s o u d o s m a is p re p o -
te n te s , q u e q u e ria m c o n s e rv a r a s p o s s e s s u rru p ia d a s e não
d iv id i-la s c o m o s m a is fra c o s , c o m o e ra s o b re tu d o d o fu rto
c o n tra a p ro p rie d a d e d o s c h e fe s q u e s e in ic ia v a a ju s tiç a ,
c o m o ta m b é m s e in ic io u a re a ç ã o c o n tra o a d u lté rio d o ro u b o
tiO .
r.1
L
d a s m u lh e re s d o s c h e fe s - p o d e -s e c o n c lu ir, s e m q u e p a re ç a
'-~'
.•.:..
~ ~- u m a b la s fê m ia , q u e a m o ra lid a d e e a p e n a n a s c e ra m , e m g ra n -
~~.
'. .,;,.... d e p a rte d o c rim e .
""; •.
I
!
..
'';'
;..,.'
98
"-' D, Bastos
l 'li
í
'.
'j1
9. S U IC ÍD IO D O S D E L IN Q Ü E N T E S
1 . F re q ü ê n c ia . T e m p e ra tu ra
99
;rl-
D, Bastos
;
'->
~
.'.'i,.
i..
-- D, Bastos
3. Im previdência e im paciência
T
desse bárbaro que eu odeio. Se eu vir você ao voltar, darei f
m il vidas por você".
"D ou adeus ao m undo, porque viver com um a paixão
I•
é pior do que m il m ortes", escreveu D elitala antes de tornar-
i
se hom icida e depois suicida. M ackenzie, não tendo podido t
seduzir um a jovem , fez com que ela se suicidasse e depois,
denunciado o seu cúm plice, suicidou-se. C om enta-se
rapaz que um dia antes de ser posto em liberdade enforcou-
de um I
se, dizendo a um com panheiro de pena que se aborrecia de- t
m ais e, por isso, deviam enforcar-se.
Em diversos deles, principalm ente nos alcoólatras, o
I
~- suicídio ocorre quase autom aticam ente, quase sem causa,
l.
por um capricho, com o no caso que verem os em breve, de
~- '!'< um carrasco da N ova C aledônia, que se enforcou porque
,k,i m udaram sua guilhotina preferida. H á outro, contado por
.:1;~~.: M orselli, que se m atou porque achou horrível o chão. H ouve
~~l~'outro que se jogou no rio Pó, sem qualquer causa aparente.
t!_~~
.
":-i'!
<
D obus, antes de m atar a am ante, tinha-lhe escrito: "Es-
tou pronto a dar o m eu sangue por você; antes m orrer do
que deixá-la". D avid, antes de golpear a cunhada disse: "Eu
!
I
m e m atarei, m as prim eiro falarão de m im ". E pouco depois:
"A cunhada não m e am a, m as se arrependerá disso; com prei
dois revólveres, um para m im , outro para ela".
Tam bém a M arquesa de B rinvilliers tentou várias vezes
o suicídio; envenenou-se um a vez para provar a eficácia do
contraveneno (singular prova da im paciência deles). Tentou
m ais tarde para dem onstrar seu am or a Santacruz, a quem
enviou diretam ente carta assim redigida: "A chei oportuno
term inar m inha vida; por isso será dotada de veneno que r
--você m e vendeu a preço tão caro e você notará nisso com o \"
102
-~
joo-;'~
_"o.,.,
---:; ~
'rt'< ~
~ ).,
,'.'
D, Bastos
I
14 bairros franceses, que apresentaram , em 100 denunciados,
m ais delitos contra a pessoa, não se encontrou senão 14 suici-
das em 460 m il habitantes. A o revés, em 14 outros que deram
m enos de crim es de sangue, houve 14 suicídios em 170 m il
habitantes. A C órsega, célebre pela sua tradição sanguinária,
em 100 denunciados, 83 por crim es contra a pessoa e um
suicídio em 55 m il habitantes. O bairro de Sena dá em 100
denunciados 17 só por delitos contra a pessoa e um suicídio
para 2.341 habitantes.
Enquanto a m aior tendência ao suicídio se encontra
..•...
o.
,. na R ússia, no N ordeste há no B áltico 65 suicídios para um
.+'" m ilhão, em Petroburgo 102 e no Sudeste em Poltava 50 e em
:I;l~ Podólia 44, geralm ente nos G overnos do O este o hom icídio
r •
~t'-'"
~
~-
.~
.~,~,
~{'1"'1:l
~~,,"1
103
_ _ IF""
D, Bastos ,11
j\~
~i
."'f'
t."
W4'
-.
a u m e n ta em d ir e ç ã o o p o s ta . A R ú s s ia e u r o p é ia pode ser
".'t:
d iv id id a e m d u a s p a r te s s e g u n d o s u a te n d ê n c ia a o h o m ic íd io . ..;.'
U m a a b r a n g e o L e s te e o S u l d a R ú s s ia , c o m m u ito h o m ic íd io .
Na o u tr a , N o r o e s te d o B á ltic o eao S u d e s te d a P o d ó lia , a J
te n d ê n c ia a o h o m ic íd io
m e n o s d o q u e n o s U r a is .
c h e g a a o m ín im o . U m a v e z e m e io
!
5 . A n ta g o n is m o
!
I s s o e x p lic a b a s ta n te bem p o rq u e a e s ta tís tic a s o c ia l
tin h a n o ta d o u m a e s p é c ie d e a n ta g o n is m o e n tr e a c if r a d o s
d e lito s de sangue e a d o s s u ic íd io s , e p o rq u e e s te s ú ltim o s ,:
e s c a s s e ia m n o s p a ís e s m a is q u e n te s , onde o s p r im e ir o s são
m a is n u m e r o s o s , c o m o p o r e x e m p lo , n a E s p a n h a , C ó rse g a e
e n tr e n ó s n a s p r o v ín c ia s m e r id io n a is e in s u la r e s .
O c o n tr á r io o c o r r e n a I tá lia d o N o r te e C e n tr a l, onde
.h
l-
m u ito s h o m ic íd io s f o r a m , p o d e - s e d iz e r , p r e v e n id o s , e d im i-
n u íd o s d o q u e o s s u ic íd io s . E x p lic a - s e
e .a s c o n tr a v e n ç õ e s
f r e q ü e n te s
n o s c á rc e re s
a in d a c o m o o s d e lito s
sã o , c o m o v e re m o s,
n o s p a ís e s e m q u e m a is s ã o o s s u ic íd io s . O m e s m o
m enos l,:
s e d ig a , e m g e r a l, d o s p a ís e s e é p o c a s m a is c iv iliz a d a s e em f, -
p"
q u e a c u ltu r a c r e s c e , e n g r o s s a a c if r a d o s s u ic íd io s ( n a F r a n ç a
"
d e 1 8 2 6 a 1 8 6 6 a u m e n ta r a m q u a s e u m tr ip lo ) e d im in u iu a
d o h o m ic íd io .
O n ú m e r o m a io r d o s d e lin q ü e n te s s u ic id a s r e c o lh e - s e
e n tr e a q u e le s q u e c o m e te r a m in f r a ç õ e s c o n tr a a pessoa (2 4
n a I tá lia ) e c o n tr a a o rd e m p ú b lic a ( 1 2 ) , o u m u ito s (1 2 ),
c o n tr a a p r o p r ie d a d e .
O r a é n a tu r a l q u e q u a n to m a is o s u ic íd io s e ja a u m e n -
ta d o , e x o r b ita n te , d im in u ir ã o o s h o m ic id a s ; ta n to m e n o r s e r á
o n ú m e ro d e d e lito s c o n tr a a p e sso a . S e a M a rq u e sa d e B re -
v illie r s e L a c e n a ir e tiv e s s e m s e s u ic id a d o r e a lm e n te , quando
te n ta r a m , p o r e s s a r a z ã 9 .te r ia m e c o n o m iz a d o o n ú m e r o d e v ítim a s .
104
D, Bastos
.~ c~~>
:
'. " 6 . S u ic íd io in d ir e to e m is to
A o c o n tr á r io , e m a lg u n s c a s o s r e a lm e n te r a r ís s im o s n ã o
J é m a is o s u ic íd io q u e p r e s e r v a o h o m ic íd io , m a s e s te é a c a u s a
! d a q u e le . G e n te v il, lo u c a m e n te s u p e r s tic io s a e d e s e jo s a d e
!
m o r r e r , m a ta p a r a s e r c o n d e n a d a à m o r te e liq u id a r - s e p e la s
m ã o s d e o u tr e m . E s tr a n h a f o r m a d e e g o ís m o e d e p a ix ã o
r e lig io s a . D e s p in e r e c o lh e u q u a tr o d e s s e s c a s o s . P o r e x e m p lo ,
J o b a r t e r a u m jo v e m c o m e r c ia n te , q u e , d e v id o à v id a d is s o -
.f;_ .•
lu ta , c o n tr a iu d é b ito s e s e r v iu - s e d a c a ix a a lh e ia . O r e m o r s o
f e z n a s c e r n e le a id é ia d o s u ic íd io , m a s m u d o u p a r a h o m ic íd io
: ~."
p o r a s c e tis m o , q u e lh e te r ia d a d o te m p o d e a r r e p e n d e r - s e . A
p r in c íp io pensou e m a lis ta r - s e e c o m u m a in f r a ç ã o fa z e r-se
f u z ila r d e p o is d e m a ta r o P r e s id e n te d a R e p ú b lic a . F in a l-
m e n te , c o m u m a f a c a d a , m a ta u m a jo v e m g r á v id a , e p e r m a -
h'"
'~.
-.
- ~ '- \ . n e c e p a r a d o e m s e u p o s to , d iz e n d o a o m a r id o : " N e m m e s m o
conheço v o c ê s ; s o u u m m is e r á v e l; m a te i p a r a s e r m o r r o " .
l:- M a r g a r id a , d e 2 3 a n o s , s e n d o la n ç a d a n a C a s a d e R e c u -
p e ra ç ã o , e x p e r im e n to u ta l d e s p r a z e r q u e r e s o lv e u c o m e te r
u m h o m ic íd io p a ra se r c o n d e n a d a à m o r te . F o i d e ix a d a ju n to
-, com u m a im b e c il e lh e c o r to u a g a r g a n ta com u m fa c ã o .
" Q u is a c a b a r c o m a e x is tê n c ia d e la , m a s p e n s e i q u e , m a ta n d o
o u tr a p e s s o a , p e r d e r ia ig u a lm e n te a v id a , m a s te r e i te m p o
d e a rre p e n d e r-m e e D e u s m e p e rd o a rá ". D e p o is d o d e lito ,
r e z o u p a r a D e u s e d o r m iu tr a n q ü ila . Q uando a c o n v e n c e ra m
d e q u e , e m v e z d e te r c o n q u is ta d o o p a r a ís o , te r ia a tr a íd o a
ir a d e D e u s , c h o r o u a m a r g a m e n te .
7 . S u ic íd io p o r s u p e r s tiç ã o
O u tr a v e z , c o m o e r a o c a s o d e N a g r a l, a lg u n s c o m e te m
u m a s s a s s in a to p o rq u e e s tã o cansados d e v iv e r e n ã o tê m
f o r ç a d e s u ic id a r - s e . E s ta p a r e c e ta lv e z a c a u s a d o te n ta d o
r e g ic íd io d e P a s s a n a n te , pouco a p ro fu n d a d o na sua causa
105
D, Bastos
"\
q u e d e v ia e s tu d a r. V e n d o -m e , d is s e e le a o q u e s to r, m a ltra ta d o
p e lo s m e u s p a trõ e s , sendo a m in h a v id a s o m b ria , a n te s de
s u ic id a r-m e , b ro to u -m e a id é ia d e " a te n ta r c o n tra a v id a d o
" re i, n a s e g u ra n ç a d e q u e , e m to d o c a s o , e s ta ria m o rto .
8 . S u ic íd io s im u la d o
II
O ser hum ano m u ito m a is te n d e a s im u la r e fin g ir a lg u -
m a a ç ã o p a ra a q u a l s e s e n te in c lin a d o . A s s im s e e x p lic a
c o m o e n tre o s d e lin q ü e n te s , m u ito s s ã o o s s im u la d o re s de
s u ic íd io , q u e fa z e m e m s i .s im p le s c o rte s s u p e rfic ia is , ta n to
q u e N ic h o ls o n d e c la ro u q u e , d e trê s s u ic íd io s te n ta d o s no
c á rc e re , d o is s ã o s im u la d o s . E le c h e g a a d u v id a r, a té , q u e
I
ta m b é m a lg u n s d o s s u ic íd io s c o n s u m a d o s p e rte n c ia m a essa
~~ e s p é c ie e c ita u m q u e s e e n fo rc o u n a h o ra e m q u e d e v ia s e r
~;,I;i le v a d o p e lo s g u a rd a s e m o rre u , te n d o o s g u a rd a s chegado,
'1lt" e v e n tu a lm e n te , m u ito ta rd e .
,~
\~
'-"I!>
Q u e e u m e re c o rd o , o a s s a s s in o d r. B ra n c a rd , que não
s ó s im u lo u o s u ic íd io e s c re v e n d o c a rta s a o s s e u s p a re n te s ,
a m ig o s , a o irm ã o , e m q u e re c o m e n d a a o ú n ic o a m ig o o s e u
c ã o , m a s d e ix o u p re p a ra d o o e p itá fio : " A q u i re p o u s a u m fra n -
c ê s q u e fo i in fe liz , J u lio B ra n c a rd . G ra n d e s d e s v e n tu ra s m an-
c h a ra m s u a ju v e n tu d e . S e m p re fo i e le to m a d o p e la tris te z a .
V is ita n te s , d e d iq u e m -lh e u m a lá g rim a " .
R e c o rd o -m e a in d a d a e n v e n e n a d o ra e a d ú lte ra D u b la s -
s o n , q u e , d e s c o b e rta , e n v e n e n o u -s e c o m o m a rid o , s e u c ú m p lic e
d e o rg ia s e d e d e lito s , m a s a d v e rtin d o a n te s , c o m m u ita s c a rta s ,
a s a m ig a s , p a ra q u e a s a lv a s s e m a te m p o , com o re a lm e n te
a c o n te c e u . A s s im ta m b é m a c o n te c e u ta lv e z , a o m e n o s d u a s
v e z e s , e n tre a s m u ita s te n ta tiv a s d a m a rq u e s a d e B rin v illie rs .
D a v id , a n te s d e m a ta r, p o r a m o r in s a tis fe ito , a c u n h a d a ,
v á ria s v e z e s fa lo u a e la e a o s o u tro s e m s u ic id a r-s e . E s c re v e u -
lh e a n te s : " R e c e b a o s < h te u s b e ijo s a n te s q u e e u m o rra " . D e -
106
D, Bastos
p o is , a s s a s s in o u -a , d e u s u m iç o a o re v ó lv e r e s e fe riu , p a ra
p o d e r a le g a r u m a p ro v a d a in te n ç ã o d e m a ta r-s e . Q uando a
g u a rd a e n c a rre g a d a d e p re n d ê -lo , c o m o v id a , o fe re c e u -lh e
o p o rtu n id a d e d e jo g a r-s e d a p o n te , re c u s o u -s e , a le g a n d o q u e
lá h a v ia m u ita g e n te .
O fa ls o s u ic íd io é , e n tã o , u m a e s p é c ie d e á lib i p ro c u ra d o
e m o u tro m u n d o . F re q ü e n te m e n te e le s a g e m c o m o c ria n ç a s
v ic ia d a s , q u e s im u la m m a ta r-s e o u fe rir-s e p a ra c o a g ir o s
p a re n te s a c e d e r a o s d e s e jo s d e le s .
9 . S u ic íd io duplo
H á s u ic íd io s -h o m ic íd io s , o u m e lh o r, s u ic íd io s p o s te rio -
,
re s a o s h o m ic íd io s , q u e p e rte n c e m , e s s e n c ia lm e n te a o s d e lito s
p o r p a ix ã o , q u e s ã o a c ris e fin a l e q u e s ã o o s g ra n d e s p a ro x is -
m o s d o a m o r, n a id a d e m a is jo v e m , n o s s o lte iro s , e n o s m a is
m a d u ro s p o r e x c e s s o d e a m o r filia l: p a rric íd io -s u ic íd io .
A s s im , o c a b o R e n o u a rd , d e 2 3 a n o s , e n a m o ra -s e de
u m a flo ris ta , c o n s o m e o q u a n to te m , re d u z -s e à m is é ria e lh e
p e rg u n ta a té q u e p o n to o s e g u iria . O u v in d o -a re s p o n d e r:
" A té a m o rte " , p re p a ro u tu d o p a ra o d u p lo s u ic íd io . P o u c o s
107
T
D, Bastos
i
d ia s d e p o is se fe rira m , o u m e lh o r, e le fe riu -a c o m a u to riz a ç ã o
d e la e a p ó s a si m e sm o , d e ix a n d o so b re a m e sa u m e sc rito
e m q u e sa u d a v a m o s a m ig o s. E le tin h a p a i e irm ã a ta c a d o s
d a m a n ia su ic id a .
M u ito c o m o v e n te n a F ra n ç a fo i o c a so d o o fic ia l
sa n itá rio B ancai (1 8 3 5 ), q u e , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o
lo n g ín q u a , e n c o n tro u a e sp o sa , q u e fic a ra m ã e . O s a m o re s
se re a ta ra m , m as não podendo c o n tin u a r e m d e so n ra , com -
b in a ra m um d u p lo su ic íd io , c u jo s p re p a ra tiv o s d u ra ra m
d ia s in te iro s; e le so b re v iv e u e re n o v o u a te n ta tiv a duas
v e z e s. F o i a b so lv id o .
A lg u m a ra ra v e z o d u p lo su ic íd io p o r p a ix ã o se a sso c ia
e c o n fu n d e c o m c rim e p u ro , c o m o n o c a so d o D e n u re . São
h o m e n s c o n stra n g id o s a o su ic íd io p a ra su b tra ir-se a u m a p e n a
in fa m a n te , e in d u z e m o s m a is c a ro s a se g u ir a so rte d e le s.
1 0 . S u ic íd io n o s d e m e n te s c rim in o so s
O su ic íd io é , p o ré m , m a is fá c il a in d a d o q u e n o s d e lin -
q ü e n te s p u ro s, n o s p o r p a ix ã o , a in d a m a is n o s d e m e n te s-
c rim in a is, Isto é n a tu ra l. O su ic íd io , se n d o fre q ü e n te nos
d e m e n te s, se rá ta n to m a is n o s d e lin q ü e n te s e d e v e se r a in d a
m a is n a q u e le s q u e sã o u m e o u tro ju n ta m e n te , ta n to m a is se
fo r e x c ita d o p o r u m a fo rte p a ix ã o .
V e m o s d e sse je ito o P a lm ie ri, a ssa lta n te e d e m e n te e
trê s v e z e s su ic id a . T a m b é m M a ssa g lia , u m se m i-d e m e n te , que
se c o n fe ssa v a c u lp a d o d e 1 2 8 d e lito s, m a s e ra só d e 4 0 , te n ta r
d a r m o rte a si m e sm o jo g a n d o -se d o a lto . B u sa la , d e p o is d e
m a ta r o irm ã o , te n ta r a fo g a r-se , e p e rg u n ta r p rim e iro : se o
tin h a m a ta d o , " p o rq u e a g o ra m e a fo g o ; se n ã o fo r, c o n su lto
u m a d v o g à d o " . D e lita la , d e m e n te , o u m e lh o r, se m i-d e m e n te ,
d e u -se trê s tiro s d e re v ó lv e r
v á rio s h o m ic íd io s,
na cabeça
d o s 'q u a is a in d a fa la re m o s ..
d e p o is d e c o m e te r J~
. '~,:"
(:.: ,i«
;~ ~->
108 iJ!i:;
~
D, Bastos
D a n ie l V o lk u e d , d u a s v e z e s so ld a d o , fo rm o u , e m 1 7 5 3 ,
e sta n h a s id é ia s so b re o h o m ic íd io . A id é ia d e g o z a r a b e a titu d e
a n im a -o a m a ta r p a ra se r m o rto , d e p o is d e fa z e r a s p a z e s
c o m D e u s. U m d ia d e p o is d e d iv id ir a re fe iç ã o com duas
m e n in a s d e g o la u m a c o m fa c ã o p re p a ra d o u m d ia a n te s, e
d e p o is fo i e n tre g a r-se , n a rra n d o c o m o a in q u ie ta ç ã o que o
tin h a d o m in a d o tin h a d e sa p a re c id o n o m o m e n to d o c rim e .
D o rm iu d e p o is tra n q ü ila m e n te . Foi condenado.
U m a jo v e m d e D e p tfo rd , p e rto d e L o n d re s, S a ra D i-
c k e n so n , fo i e n c o n tra d a , u m d ia , b a n h a d a n o p ró p rio sa n g u e ,
e e ste n d id a a o la d o d e se u s d o is filh o s, q u e e la tin h a d e g o la d o .
O p a i, o p e rá rio , e ra h á m u ito te m p o d o e n te e a g o ra a fa m ília
e sta v a re d u z id a à m isé ria . S a ra , p a ra liv ra r se u s filh o s d a a n -
g ú stia d e u m a e x istê n c ia tã o triste , c o m o te v e q u e c o n fe ssa r
n o a to d e su a p risã o , a rm o u -se d e u m a n a v a lh a , c o rto u o
p e sc o ç o d o s d o is m e n o re s q u a n d o d o rm ia m e fe riu le v e m e n te
o te rc e iro , d a n d o -lh e te m p o d e fu g ir e c o rre r n a ru a e d a r o
a la rm e . E la , n o e n ta n to , a sse g u ra -se d a m o rte d e su a s v ítim a s
e q u e r se g u ir o d e stin o d e la s. D á u m a n a v a lh a d a n o p e sc o ç o ,
m a s fa lta -lh e c o ra g e m e só fa z u m a le v e in c isã o . U m m é d ic o ,
e n v ia d o p a ra e x a m in a r o e sta d o m e n ta l d e S a ra , d e c la ra -a
c o m o a fe ta d a d e m a n ia in te rm ite n te .
Z a n e tti, q u e fe riu p o r v in g a n ç a d u a s v e z e s n o e sp a ç o
d e se te a n o s M a g g io to , d e q u e m tin h a sid o d e sp e d id o , e p o r
d u a s v e z e s fe ito a p e n a s o fe rim e n to , te n ta v a su ic id a r-se ; tin h a
sid o já in te rn a d o n o m a n ic ô m io d e S ã o S é rv u lo , e m V e n e z a .
E d ig a -se a ssim d o s su ic id a s e p a rric id a s a lc o ó la tra s V a le s sin a ,
C a lm a n o , q u e d e sp e rd iç a m tu d o , la n ç a m -se so b re se u s filh o s
e o s m a ta m , d o s q u a is fa la re m o s m a is ta rd e .
~c
"" ,
«.~'.
' •.
>;r.-
;:;
109
'~
D, Bastos
\
I
II
I
~.; :1:- L
I
.~
jI;-o " r . .,
:.~ .
.•~, ')/;.'t
;."õ f' I
~ $ r.;''''j;
,-
~" '& ,C
I
,
,1 , ,!
i
,1 ~
I
I
•
.
~':~";
:.,.' '.
~r D, Bastos
10. AFETOS E P A IX Õ E S N O S D E L IN Q Ü E N T E S
1 . A f e to s
L a c e n a ir e , n o d ia e m q u e m a to u L a C h a rd o n , s a lv o u ,
e n f r e n ta n d o p e r ig o , u m g a to q u e e s ta v a p a r a c a ir d o te to , e
•
- - ,." ~ '
,h ~ .
,,;'; 111
D, Bastos \l
i
\
poupou Scribe que o havia socorrido. O s ciganos, que são
delinqüentes natos, estelionatários, têm vivíssim o afeto
fam iliar, e as m ulheres (não na Índia) têm senso singular de •
I,
pudor. A "lacki" (integridade virginal) é a coisa m ais preciosa
que tu tens; não vás perdê-la", dizem as zíngaras às suas filhas.
N oelle, por am or ao filho preso, fez-se pianista célebre,
a protetora, e com o a cham avam , a "m ãe dos ladrões". O
I
assassino M oro, piem ontês, vestia e dava banho nos seus
garotos. Feron, assim que com etia um crim e, corria para os
filhos de sua am ante e presenteava-os com doces. M aino
I
della Spinetta era fiel e apaixonado e foi preso por causa da
m ulher. Pela sua esposa o terrível Spadolino se fez assaltante,
M orcino ladrão, Castagna envenenador. O ferocíssim o
Franco gastava m ilhares de liras para que nada faltasse à sua
am ante. Por obra desta foi preso e durante o processo só se
preocupou em salvá-la.
M icaud era tão enam orado e cium ento de sua am ásia
que fazia traços de .gesso nos sapatos para im pedir que se
afastasse de casa. H olland confessa ter com etido hom icídio
para enriquecer a m ulher e o filho que ele am ava. "Eu assim
fiz pelo m eu pobre m enino." N ão se pode ler, sem se
espantar, as palavras do assassino D e Cosim i: "Tantos beijos
ao m eu m enino. Ele será direito com o o pai, porque o lobo
gera o lobinho".
Parent D uchatelet m ostrou que se m uitas prostitutas ~
perdem inteiram ente laços de fam ília, há algum as que pro-
vêm , m esm o com desonra, o pão dos filhos, de seus velhos
pais ou seu com panheiro. Têm portanto verdadeira, exces-
siva paixão por seus am antes. U rna dessas infelizes, após l
ter quebrado um a perna saltando de urna janela para fur-
:
tar-se aos golpes de seu am ante, retornou a ele. A gredida
de novo, teve um braço fraturado, m as não perdeu o in- -''t
($
tenso afeto. --
t;
~~
112 :f
:if;
l- D, Bastos
i
\
2. Instabilidade
•
I,
N a m aior parte, entretanto, os nobres afetos dos delin-
qüentes vão tom ando sem pre um traço doentio, excessivo e .
I
instável. Pissem bert, por um am or platônico, envenenou sua
esposa. A M arquesa de Brinvilliers m atou o pai para vingar
seu am ante, m atou os parentes para enriquecer os filhos. Cur-
I
ti e Sureau m ataram as m ulheres porque não queriam se re-
com por com elas. M abille, para alegrar os am igos im provisa-
, dos de urna cantina executou um assassinato. M aggiu m e disse:
''1\ causa de m eus delitos é porque sou m uito levado pela
3. V aidade
~
Em lugar de afetos fam iliares e sociais, que se encontram
apagados ou desligados nos delinqüentes, as outras paixões res-
tantes dom inam com constante tenacidade. Prim eiro, entre
l' todos, o orgulho, ou m elhor, a consideração excessiva pela
1;__ própria pessoa, que notam os crescer no vulgo, na razão inversa
:l1}.><-
F do m érito. É com o se na psique se repetisse a norm a que dom ina
t.'~,~; no m oto-reflexo, sem pre m ais ativo quanto m ais dim inui a ação
$ .•
~~
fr~!~ 113
;1!Jt.
D, Bastos
114
~
.;
iI
.l't.;,
..
D, Bastos
L 5. Vingança
i Natural conseqüência de uma vaidade ilimitada, de
sentimento desproporcional da própria personalidade, é a
F~"
I".,, própria inclinação à vingança por causas mínimas. Tínhamos
_.i~
visto como um presidiário matou o outro porque não quis
~I~-
!~~-
lustrar-lhe os sapatos. Ledue matou um amigo porque o con-
115
Ii
, .. '.;-:t.
~';
D, Bastos
E s ta v io lê n c ia d a s p a ix õ e s , m o rm e n te d a v in g a n ç a , que
u ltra p a s s a a té m e s m o o a m o r p ró p rio , e x p lic a m u ito s re q u in -
te s d e fe ro c id a d e , com um d o s p o v o s a n tig o s e s e lv a g e n s , m as
ra ro s e m o n s tru o s o s p a ra n ó s .
6 . C ru e ld a d e
T am bém re to m a a fe ro c id a d e d e n o s s o s s a lte a d o re s e a
s e lv a g e ria d a s re g iõ e s o n d e e le s s ã o fre q ü e n te s (tiv e ra m quase
s e m p re c o m o c a u s a u m a v in g a n ç a a c u m p rir). C oppa e ra p o b re
e b a s ta rd o . V o lta n d o à s u a re g iã o c o m u n ifo rm e b o u rb õ n ic o fo i
in s u lta d o e a g re d id o p e lo s c id a d ã o s , e p o r is s o ju ro u v in g a r-s e e, ,!
o :. ,
d e fa to , m a ta v a o s d e s u a re g iã o . M a s in i, p o r ig u a l ra z ã o , a m a n ti-
nha c o n tra . o s d e P a te rn o . T o rto ra com o s d e S a n fe le fa z ia a
116
D, Bastos
m e s m a c o is a . G a le to a s s a s s in o u u m a m e re triz p a ra fu rta r, e c o m o
e s ta s ó tiv e s s e u m re ló g io , d e ra iv a c o m e u a c a rn e d e la . C a rp in -
te ri, p a s to r e c ria d o r d e p o rc o s , d ó c il e b o m a té o s 1 8 a n o s ,
s e n d o in s u lta d o p o r u m c o m p a n h e iro , to m o u -s e d e re p e n te fe ro z
a a rre b e n to u -lh e a cabeça. T o m o u -s e s a lte a d o r, c o m e te u 29
h o m ic íd io s e m m e n o s d e n o v e a n o s e m a is d e c e m a s s a lto s .
E x p e rim e n ta n d o e s s e h o rro ro s o p ra z e r d e s a n g u e , e s te
s e to rn a u m a n e c e s s id a d e , a ta l p o n to que o ser hum ano não
p o d e d o m in á -lo , e , c o is a e s tra n h a , n ã o s ó n ã o s e n te v e rg o n h a ,
m a s ta m b é m s e to rn a u m a g ló ria . M is tu ra -s e a in d a um pouco
d a e s tra n h a v a id a d e d o d e lito q u e n ó s v e m o s n a v id a d e to d o s
e le s . M o rib u n d o S p a d o lin o s e la m e n ta v a d e te r m a ta d o só
99 hom ens, sem te r c o m p le ta d o um a c e n te n a . T o rto ra se
v a n g lo ria v a d e te r m a ta d o d o z e s o ld a d o s e tin h a â n im o de
a tin g ir a 1 0 0 . N o d ia e m q u e n ã o p o d ia m a ta r a lg u é m dego-
la v a . T e n d o s e q ü e s tra d o u m p o b re q u e n a d a p o d ia re n d e r lh e
d is s e : " P o is b e m , v o c ê n o s d a rá s e u s a n g u e , e lh e d e u 2 8 fa c a d a s " .
l o b rig a m a u m a p ro fu n d a
o u o e s p e tá c u lo d e o u tra s
s o lid ã o , c o m o o s p a s to re s ,
c ru e ld a d e s ,
c a ç a d o re s ,
e , m a is d o q u e tu d o , a
h e re d ita rie d a d e . M u ito s fa c ín o ra s p a s s a ra m p o r e s s a s fu n ç õ e s ..
A d ic io n a -s e e n fim u m a e s p é c ie d e a lte ra ç ã o p ro fu n d a
d a p s iq u e , q u e é v e rd a d e ira m e n te p ró p ria d o s d e lin q ü e n te s
e d o s d e m e n te s , e que o s s u je ita a um a ira s c ib ilid a d e sem
!'~A".
...••
. .;..-.--,
~ ~ ' .. ~ ,'
c a u s a , q u e o s c a rc e re iro s conhecem b e m e q u e e n c o n tra m o s
n o s a n im a is e n o s s e lv a g e n s , m a s to d o s tê m "um a h o ra fe ia "
n o d ia , n a q u a l n ã o s a b e m d o m in a r-s e .
117
-l-
D, Bastos
7 . V in h o e jo g o
.'/.
~l:. tu d o , p o rq u e o b ar é o p o n to d e en co n tro d e seu s cú m p lices,
;.~
;fl
118
- D, Bastos
119
D, Bastos
r
m a is a g r a d á v e l d o q u e q u a lq u e r p in tu r a . Q uando m a is a r d ia
o jo g o , e u , a p e r ta n d o a m ã o n o c o ra ç ã o , s e n tia - m e tr e m e r
d e a n s ie d a d e . S e a s o r te s e to r n a v a a d v e rsa , e u , s e m s e n tir ,
e n te r r a v a as unhas n a c a r n e ." E a s s im d iz e n d o , m o s tr a v a ao
m é d ic o o s s in a is d a a n s ie d a d e , q u e o tin h a jo g a d o n a p r is ã o .
com um
P o r o u tr o
p a re c e
la d o , a quem e s tu d a
n ã o s e r a a v id e z p o r s i u m im p u ls o
a v id a d o m a lf e ito r
a o d e lito . !
I
A a v id e z e n tr a apenas p o rq u e s e m d in h e ir o n ã o p o d e r ia m If
s a tis f a z e r à s b r u ta is p a ix õ e s . O a v a r e n to é in c lin a d o a o c r im e .
P a r e n t c a lc u la v a s e r e m r a r ís s im o s o s c a s o s d e p r o s titu ta s
e n r iq u e c id a s ; a m a io r ia te r m in a n o s a b r ig o s d e m e n d ic id a d e . E s s a
p o b r e z a in te r m ite n te , e x p o n d o -o s a o s e x c e s s o s o p o s to s , é u m a
d a s p r in c ip a is c a u s a s d a m o r te p r e c o c e d e le s . E la é n o tá v e l p o r q u e
in d u z in d o a v e r s ã o e s u s p e iç ã o n a s o u tr a s p e s s o a s é o b s tá c u lo a o s I
s e u s p r o p ó s ito s d e s o n e s to s . T o d a v ia , d e v e ta m b é m p a r tic ip a r a
f a lta d e c u id a d o d a f a m ília , e s o b r e tu d o a in é r c ia e a p a tia , q u e é
u m d o s e s p e c ia is c a r a c te r e s d e le s , c o m o é d o s p o v o s s e lv a g e n s .
I
C r e io d e v e r te r tr a ç a d o a q u i e s te c a r á te r d o s d e m e n te s , p o r q u e
b e m s e h a r m o n iz a c o m u m ju s to p r o v é r b io , s e g u n d o o q u a l a
p u r e z a d o c o r p o s e r ia o i! íÍ c io d a p u r e z a d o â n im o .
120
D, Bastos
8 . O u tr a s te n d ê n c ia s
O s d e lin q ü e n te s tê m , e m b o r a m e n o s v iv a , o u tr a s te n -
d ê n c ia s , c o m o à m e s a , a o e r o tis m o , à d a n ç a . U m d o s p o u c o s
la d r õ e s q u e m e c o n f e s s a r a m s e u c r im e e r a u m to s c a n o q u e a o
d is c o r r e r s o b r e c o m id a , c o m e ç a v a a s o lu ç a r e m e d iz ia q u e h a v ia
com eçado a ro u b a r p a ra c o m p ra r m a c a rrã o . C h a n d e le t não
p o d ia f ic a r q u ie to n o c á r c e r e , a n ã o s e r c o m a a m e a ç a d e lh e s e r
d im in u íd a a c o m id a . Os la d r õ e s jo v e n s , d iz ia F a u c h e r,
c o m e ç a ra m ro u b a n d o f r u ta s e c a rn e ; m a is ta r d e pequenas
m e r c a d o r ia s , q u e r e v e n d ia m p a r a c o m p r a r d o c e s . N o v e e n tr e
d e z la d r õ e s to r n a r a m - s e ta is p o r s e r e m s e d u z id o s p e lo s m a is
v e lh o s c o m a o f e r ta d e f r u ta s o u d e p ã o , s e f o s s e m m is e r á v e is , e
s e f o s s e m r ic o s , c o m m e r e tr iz e s , im p u ls io n a n d o - o s a o d e lito .
L u c k e s e f e z a s s a s s in o p e la p a ix ã o p o r b a ile s . H o lla n d e C o s ta
f o r a m d a n ç a r n a n o ite d o h o m ic íd io c o m e tid o . M u ito s e m P a r is
e e m T u r im f iz e r a m - s e la d r õ e s p a r a p a g a r e n tr a d a e m e s p e tá c u lo s .
i . R a r a m e n te o d e lin q ü e n te e x p e r im e n ta v e r d a d e ir a p a i-
I x ã o p e la m u lh e r . Seu am or é m a is c a r n a l e s e lv a g e m , um
I
!
a m o r d e b o r d e l, q u e s e v e r if ic a n u m
em L o n d re s d o is te r ç o s
p r o s tíb u lo ( c e r ta m e n te
d e s s e s s ã o c o v is d e m a lf e ito r e s ) e
I.
f. te m p o r e s p e c ia l c a r a c te r ís tic a a p r e c o c id a d e e a in te r m itê n c ia
q u e o s f a z p a s s a r r a p id a m e n te d o a m o r a o ó d io m a is in te n s o .
E x e m p lo c lá s s ic o é o d e A s s u n ta d e A n g e lis , q u e . m a l s e c a s o u
jo g o u - s e n o s b r a ç o s d e s e u a n tig o a m a n te . Q uando e s te c a iu
e m e x tr e m a p o b re z a , r e to r n a a o m a r id o e quando o a n tig o
I
a m a n te s e a p r e s e n ta , m a ta - o c o m o ito p u n h a la d a s .
L o c a te lli c o n h e c e u u m g a tu n o q u e a o s n o v e a n o s ro u -
b a v a , n ã o p a r a s a tis f a z e r g u lo d ic e , m a s d a r p r e s e n te s às suas
n a m o r a d in h a s , d e ta l f o r m a q u e d e f u r to e m f u r to to r n o u - s e
I. a o s q u in z e a n o s u m d o s m a is d e s c a r a d o s h a b ita n te s d a s p r i-
s õ e s e d o s b o r d é is , e c o m p r o n tu á r io a b e r to n a ju s tiç a , q u e
f a r ia in v e ja a o m a is f ic h a d o m a lf e ito r . O g a tu n o ro u b a v a p a ra
a lim e n ta r s u a in te m p e s tiv a te n d ê n c ia à lib e r tin a g e m , com a
121
D, Bastos
r
fuga im petuosa dos seus quinze anos e com a paixão que um
de sua idade teria aplicado nos m ais clam orosos e solícitos
passatem pos da adolescência.
B runo G alli, com apenas vinte anos m ata a golpes de por-
rete a própria benfeitora e rouba sua casa. Para quê? Para dar
presentes a um a m ulher da vida. C om m ãos ainda ensangüen-
tadas afogava sua libido em ter os braços de um a prostituta que
" presenteava com algum as quinquilharias roubadas da assassinada.
O utro hom icida e assaltante, certo G uido, com pouco m ais
de vinte anos, depois de haver consum ado o hom icídio de um
velho casal, para depredá-los de tudo que possuíam , corre afanoso
e sequioso ao bordel em que m orava sua am ante e a faz depositária.
Faz apenas poucos m eses, nossos tribunais
de três jovens, precocem ente depravados,
ocuparam -se
os quais foram I
l
,<" repelidos de um bordel por estarem desprovidos de dinheiro,
;:: agrediram e depredaram do relógio e de poucas liras o prim eiro
~. que encontraram e precisam ente um cocheiro de pequena
;~; cidade. O assassino T avolino não podia estar um dia sem m ulher.
~~~ C ibolla, desde garoto, roubava para poder esbanjar nos bordéis.
D o m oedeiro falso A m élio, constava num processo, ter tantas
am antes, que poderiam form ar um a fila de um a cidade a outra"
W olff, logo que com etia um assassinato, instalava-se
em um bordel e fazia desfilar todas as prostitutas. D unant,
perguntado se ele am ava deveras a m ulher cujo m arido tinha
m atado, respondeu: "O h! Se você a tivesse visto nua!". G ui-
guand m atou o pai e a irm ã para gastar o pouco dinheiro que
I
.'
..
122
r- D, Bastos
123
vi.".
D, Bastos
9 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s
124
.... D, Bastos
O u tro c a so : B ru n o G a lli, a ta c a d o d e lo u c u ra c o m p a re -
sia , c o n fe sso u n a su a v id a p u b lic a d a n o m e u Diário do Hospício
de Pesara: " A s g ra n d e s d e sv e n tu ra s e n d u re c e m o c o ra ç ã o . E u
q u e c h o re i a o v e r u m a g o ta d e sa n g u e , a g o ra fic o im p a ssív e l
à v ista d o m a is a tro z e sp e tá c u lo " . U m o u tro , L .M ., e sc re v e u :
" O u ç o fa la r d e fe lic id a d e d o m é stic a , d e a fe to re c íp ro c o e n tre
p e sso a s, m a s e u n ã o p o sso p ro v a r c o isa a lg u m a d isso " .
C o n tu d o , o s a lie n a d o s ra ra m e n te tê m p a ix ã o p e lo jo g o
e p e la o rg ia , fre q ü e n te m e n te o s m a lfe ito re s a d q u ire m ó d io
p e la s p e sso a s q u e rid a s, c o m o m u lh e r e filh o s. E n q u a n to o
d e lin q ü e n te n ã o p o d e v iv e r se m c o m p a n h ia e a p ro c u ra , m e s-
m o c o m risc o , o s d e m e n te s p re fe re m se m p re a so lid ã o e fo g e m
d o c o n v ív io c o m o s o u tro s. A s su b le v a ç õ e s sã o m u ito ra ra s
n o s m a n ic ô m io s ta n to q u a n to sã o fre q ü e n te s n a s p risõ e s.
1 0 . C o m p a ra ç ã o com o s se lv a g e n s
'.•..
M u ito m a is q u e a o s d e m e n te s, o d e lin q ü e n te , e m re la -
ç ã o à se n sib ilid a d e e à s p a ix õ e s, a v iz in h a m -se a o s se lv a g e n s.
T am bém a se n sib ilid a d e m o ra l é a b ra n d a d a o u a n u la d a nos
se lv a g e n s. O s C é sa re s d a ra ç a a m a re la se c h a m a m T a m e r-
lõ e s; o s m o n u m e n to s d e le s sã o p irâ m id e s de cabeças hum a-
n a s se c a s. D ia n te d o s su p líc io s c h in e se s, D io n ísio e N e ro
fic a ria m p á lid o s.
" T o d a v ia , o n d e to d o s m a is se e x c e d e m é n a im p e tu o si-
d a d e e in sta b ilid a d e d a s p a ix õ e s. O s se lv a g e n s, d isse L u b b o c k ,
tê m p a ix õ e s rá p id a s, m a s v io le n ta s. T ê m a c a ra c te rístic a das
c ria n ç a s, c o m a s p a ix õ e s e a fo rç a d o s h o m e n s. O s se lv a g e n s,
d isse S c h a ffh a u se n , e m m u ito s a sp e c to s sã o c o m o a s c ria n ç a s;
se n te m v iv a m e n te e p e n sa m pouco; am am o jo g o , a d a n ç a ,
o s o rn a m e n to s; sã o c u rio so s e tím id o s. N ã o tê m m u ita c o n s-
c iê n c ia d o p e rig o . N o fu n d o , sã o v e lh a c o s, v in g a tiv o s e c ru é is
n a v in g a n ç a . U m c a c ic o , v o lta n d o d e u m a e x p e d iç ã o m a lo -
125
D, Bastos
-f
." "
grada, esrava com seu filho nas pernas. Para afogar a raiva,
pega-o pela perna e o arrem essa contra a rocha.
Tam bém nesses é fortíssim a a paixão pelo jogo, sem
que seja viva a avidez. Tácito conta que os bárbaros germ anos,
depois de haver jogado nos dados todos os seus haveres, che-
gavam a vender até a si próprios. O vencedor, ainda que
_, fosse m ais jovem e m ais forte do que o adversário, deixava- I
se levar e vender aos estrangeiros. H á, entre os chineses,
m uitos que em penham no jogo até a últim a roupa de inverno,
a ponto de m orrer m ais tarde de frio. Q uando não houver
m ais roupa, em penham os próprios m em bros.
Encontram -se nos selvagens a velhacaria m isturada
com a coragem e a insensibilidade. N as Ilhas A ndam ane os
;c- esposos ficam unidos até que venha o filho; depois podem
C procurar outros am ores. O alcoolism o, apenas introduzido,
~t chega a dizim ar raças inteiras, até m esm o nos clim as m eridio-
t"-."
nais que não sofrem tanto essa influência. Por um a aguar-
t;
,lI''''-
dente, um negro selvagem vende não só os com patriotas,
m as até a m ulher e os filhos.
.~"~
.•.
O s indígenas da A ustrália foram m ais destruídos pelo
crim e do que pelas arm as européias. O s m auris, de 120.000
em 1849 eram , em 1876,47.060; o álcool foi a ruína deles e
explica a índole perniciosa aparente das doenças deles. E
aqueles povos em que a selvageria e a religião têm im pedido
de conhecer as substâncias inebriantes que substituíram o
álcool por outros m eios singulares de em briaguez.
" A preguiça é ainda um dos caracteres dos selvagens.
O s neocaledônios odeiam qualquer trabalho: "Sofrer por
sofrer é m elhor m orrer sem trabalhar". A ssim eles dizem ,
repetindo quase literalm ente a confissão de Lem aire.
." ~
.
-~
,1'
;;
'~~
126
f'
" ",','o
D, Bastos
I ,.'
,;':
"~
A credita-se há m uito tem po que os delinqüentes sejam
''':r
i todos irreligiosos, pois que a religião parece ser o freio m ais
t
"'~•.. potente dos delitos. O fato é, porém , que m uitos dos chefes
de quadrilha ou os m ais despudorados delinqüentes, com o
Lacenaire, Lem aire, M andrin, G asparone ou delinqüentes
das grandes cidades, encontram um m odo de liberar-se desse
últim o freio ao im pulso das grandes paixões. A m aior parte
deles porém , m orm ente os do interior do país, é constituída
de ateus, em bora tenha sido form ada em favor deles um a
religião sensual e acom odatícia que faria do D eus da Paz e
da Justiça, um benévolo tutor dos crim es.
C asanova observa que todos aqueles que vivem de
~"". atividades ilícitas confiam na ajuda de D eus. Todo ladrão
'1 tem sua devoção, diz o provérbio. E nós, em 20480 tatuagens
...
i;.
nos delinqüentes encontram os 238 com sím bolos religiosos.
t
N a gíria, D eus é o "Prim eiro de M aio", a alm a a "perpétua".
O que m ostra a crença deles em D eus e na im ortalidade da
-i'.,
:~
~ T ,;;~
alm a é que até na gíria espanhola a Igreja é a "Saúde".
.'''':'t''''"
O s assassinos alem ães acreditando-se seguros de toda
~ suspeição costum am defecar no local em que com etem o
':~,
;~
~
127
D, Bastos
,-
I
B oggia, estripador, condenado em M ilão, com o culpado
! de 33 assassinatos, assistia diariam ente à m issa, segurava o
pálio toda vez que saía fora o Santíssim o Sacram ento; estava
presente a todas as cerim ônias religiosas, pregava continua-
m ente a m oral e a religião cristã e não havia confraria religiosa
à qual não pertencesse.
129
D, Bastos
.~
,,.C
"!I'
4:
'#<
curar o horrível crim e, invocou a ajuda da "Senhora da Serra". +...
V igna B i, antes de m atar o m arido ajoelhou-se para orar à .~
. 'I.~
V irgem M aria, para que lhe desse força para executar o crim e.
;.[
M ichielin, recebendo o plano de um assassinato, disse ao ...
~ com parsa: "V erei e farei aquilo que D eus te inspirou". G all
conta sobre um ladrão que roubou para erguer um a capela e
roubou m ais para m obiliá-la. C onta ainda de um bando de
assassinos que acreditava rem ir seus assassinatos recitando
o padre-nosso para cada vítim a, bem com o de um certo Eltis,
que, após m atar sua m ulher, acreditava-se isento de todo
pecado m andando rezar um a m issa. ~
~' frio, e m uito tem po antes de ser presa, catalogava por escrito,
~¥="! nas confissões secretas de seus pecados, junto ao parricídio,
~'¥-
aos incêndios, aos envenenam entos.
E de M endaro, uxoricida, que cam inhou à m orte
~ cantando do "D e Profundis", e de M artinati, que deixou pas-
m ado até o capelão carcerário pela sua exagerada devoção?
D e M o, assassino, que era cham ado e dito por todos "O San-
to"? B ourse, apenas praticado um furto ou um hom icídio,
andava de joelhos na igreja? A jovem G alla, ao jogar a m echa
incendiária sobre a casa do am ante foi ouvida ao gritar: "Q ue
D eus e a B eata V irgem façam o resto"?
A m ulher de Parency, enquanto o m arido m atava um
velho para roubá-lo, orava a D eus para que tudo fosse bem .
M asini, com os seus, encontrou três conterrâneos, entre eles ,
130 -. ,
,
._
..f:=
~.:,1
Ci'>
D, Bastos
H ',
,'.1;',
:::;"',
...-.:;,.
~'L~:'~ tada, que lhe desse a com unhão com a hóstia consagrada .
~ ._ .~ U m ladrão, form ado na Escola La Salle, escondia seus furtos
[:t;,.. atrás do quadro de La Salle, o fundador da escola que ele
...•..
fora educado. Ele acreditava ser m ais seguro seu furto sob o
patrocínio desse m eio-santo.
>, ...;.
~ M uitas das prostitutas, disse Parente, assum em a posi-
:~;~.:
<-.",~ ção de irreligiosas com outras de sua espécie e colegas de
....: orgias, m as no fundo não são assim , conform e atestam nu-
m erosas observações. U m a delas estava no fim da vida, e o
~I,
•••.
~ sacerdote, recusando-se a entrar na casa infam e, fez com
itI'-
,~.
,:1Pir<to<
...•.~;: 131
=;,~"
D, Bastos .~.
""':.;
O'
'
~ '-l
talvez para iludir quem passa por perto. Q uanto ao ateísm o
dos crim inosos, só posso atribuir às togas doutorais e aos
grossos livros, com que os enganadores escondem e enfeitam
a própria ignorância.
..I'
.,
I
I
;..,;'
'-:j'
;-
132 ,,
;i "
i:.J
.rp~" D, Bastos
',,
'"o
li"'"'
,
~ 'io
'l'
12. IN T E L IG Ê N C IA E
, ~.
IN ST R U Ç Ã O D O S D E L IN Q Ü E N T E S
1. D ados estatísticos
,~ 133
"$')fÇ~
J&:
D, Bastos
T
O s e s p a n h ó is , p e la p rim e ira v e z n a E u ro p a , te n ta ra m
e s ta b e le c e r e s ta m e d id a : no exam e d e 2 3 .6 0 0 d e l i n q ü e n t e s
re v e la ra m -s e o s s e g u in te s dados:
• 6 7 ,5 4 % - c o m in te lig ê n c ia sã;
• 1 0 ,1 7 % - c o m i n t e l i g ê n c i a pouco sã;
• 1 8 ,8 0 % - c o m i n t e l i g ê n c i a m á;
• 0 ,7 5 % - c o m in te lig ê n c ia p é s s im a ;
• 2 ,7 1 % - c o m i n t e l i g ê n c i a n ã o id e n tific a d a .
F e r r u s , e m 3 .6 3 2 e n c a r c e r a d o s c h e g o u a e s s e s r e s u l t a d o s :
• 1 .6 0 7 - c o m b o m t a l e n t o ;
• 1 .2 4 9 - c o m c a p a c i d a d e in te le c tu a l m é d ia ;
• 3 7 - c o m c a p a c id a d e s u p e rio r;
• 3 4 5 - c o m c a p a c id a d e p o u c o d e s e n v o lv id a ;
• 3 3 9 - c o m c a p a c id a d e lim ita d a ;
• 3 5 - re a lm e n te im b e c is .
N ic h o ls o n c a lc u la 6 5 5 p o r 1 .0 0 0 o s d é b e i s d e m e n t e
e n tre o s l a d r õ e s ; 1 6 5 p o r 1 .0 0 0 e n t r e o s h o m i c i d a s ; 1 2 5 e n tre
o s in c e n d iá rio s , e 4 5 p o r 1 .0 0 0 e n t r e o s e s tu p ra d o re s .
134 I
L
D, Bastos
T
2. P re g u iç a
M a is s e s e n te n o ta r a fra q u e z a d e e n e rg ia d a m e n te
p a ra u m tra b a lh o c o n tín u o e a s s íd u o , e n ã o s e v ê o u tro id e a l,
a n ã o s e r a a u s ê n c ia d e q u a lq u e r tra b a lh o . O s la d rõ e s fra n -
ceses se cham am e n tre e le s " p e g re s " (p re g u iç o s o s ). O o c io s o
é a n te s d e tu d o , le g a lm e n te , u m a v a rie d a d e d e c rim in o s o s e
ta lv e z a q u e le q u e m a is c o m u m e n te p o v o a a s p ris õ e s .
O s c ig a n o s , e m b o ra in d u s trio s o s , sã o se m p re p o b re s,
p o rq u e n ã o g o s ta m d e tra b a lh a r, s e n ã o o q u a n to b a s ta p a ra
n ã o m o rre r d e fo m e . O s la d rõ e s , e s c re v e Y id o c q , n ã o q u e re m
a to s o u q u a lq u e r tra b a lh o q u e e x ija m e n e rg ia e a s s id u id a d e .
N ão podem e não sabem fa z e r o u tra c o is a a n ã o s e r ro u b a r.
L e m a ire d iz ia a o ju iz : " e u fu i s e m p re o c io s o ; é v e rg o -
n h o s o , e u e n te n d o , m a s e u s o u m o le n o tra b a lh o . P a ra tra b a -
lh a r é p re c is o e sfo rç o : n ã o p o sso e n e m q u e ro fa z ê -lo . N ã o
s in to e n e rg ia a n ã o se r p a ra fa z e r o m a l. E u n ã o n a s c i p a ra
tra b a lh a r; p re firo s e r c o n d e n a d o à m o rte " (D e s p in e s ) .
É ta lv e z p o r is s o q u e q u a s e to d o s o s g ra n d e s m a la n -
d ro s , ta m b é m o s d e ta le n to , re s u lta m d e p ro c e s s o s d e te re m
tid o m á p a rtic ip a ç ã o n a e s c o la , com o Y e rz e n i, A g n o le tti
e o u tro s . A a v e rsã o a o tra b a lh o é u m a d a s c a ra c te rís tic a s
ta m b é m d a s p ro s titu ta s ; nove em dez nada fa z e m d u ra n te
I 135
L
D, Bastos "1'
3 . In c o n s tâ n c ia m e n ta l
4 . Im p re v id ê n c ia
E s ta in c o n s tâ n c ia m e n ta l e x p lic a p o r q u e o s la d rõ e s
fa la m , e a té c o m a p o líc ia , s o b re s e u s d e lito s e c o m o d iz o
p ro v é rb io com um n o s m e io s c a rc e rá rio s :
" O p ró p rio ré u , s e m q u a lq u e r in s is tê n c ia ,
in a d v e rtid a m e n te s e m a n ife s ta " (A rio s to )
-
136
''- D, Bastos
I
e q u e s e d e ix a m m a n ip u la r e in d a g a r c o m o s e fo s s e m c ria n ç a s .
I
,
" O s la d rõ e s s ã o tã o e s tú p id o s q u e n ã o te n ta m fa z e r-s e e s p e rto s
c o m o u tro s . M u ito s , m a lg ra d o e u s o u b e s s e s e r d e la to re s , c o n - •.
ta v a m -m e o s p ro je to s d e le s " . (V id o c q )
E s s a s c o n fis s õ e s fá c e is d e p e n d e m , e m g ra n d e p a rte ,
I ta m b é m d o h á b ito
a m ig a v e lm e n te
q u e o s d e lin q ü e n te s
e c o n fia r n o p rim e iro
tê m d e a s s o c ia r-s e
q u e e n c o n tra , apesar
d e q u e a s im p le s e x p re s s ã o e a g íria p a re c e m to rn a r seu
I in te rlo c u to r
a m o r à o rg ia e n tre
p ro p e n s o a o c rim e . A e s ta im p re v id ê n c ia ,
c ú m p lic e s , e x p lic a m p o rq u e
e ao
re to rn a m ,
m e s m o d e p o is d e a fa s ta r-s e , a o lu g a r a o q u a l e ra m a v e s s o s
d e c o n v iv e r, s e ja p o rq u e s e ja m e s c ra v o s d a p a ix ã o m o m e n -
tâ n e a , s e ja p o rq u e não podem s u b tra ir-s e d e s a tis fa z e r a
I u m d e s e jo
p o s s ib ilid a d e
fa v o rá v e l.
de um a
A in d a m a is , p o rq u e
d e s g ra ç a , quando
e le s p re v ê e m
n ã o já p a te n te , e,
a
I
I •
ao m enos
p a re c e
não a v a lia m
a te n u a d a , d ilu íd a .
a g ra v id a d e d e la , q u e s e m p re lh e
i
I Um e fe ito d a im p re v id ê n c ia d e le s e d a fa lta d e to d a
I c o n s c iê n c ia d o m a l é a te n d ê n c ia
m e n to s , a p e g a n d o -s e a o s p o rm e n o re s
d e d e fe n d e r-s e c o m a rg u -
s o b re o m o d o c o m q u e
I p ra tic a ra m o c rim e q u e e n fim o c o n firm a m , e só conseguem
1- d e s v ia r u m p o u c o a a te n ç ã o d o p o n to p rin c ip a l. A s s im fe z
c o m ig o C a v a g lia , fa la n d o d o a s s a s s in a to d e s e u c h e fe e c ú m -
p lic e . A s s im ta m b é m a c o n te c e u c o m M a n a ra , q u e s u s te n ta v a
n ã o h a v e r d a d o 1 4 g o lp e s e m s u a v ítim a , m a s 1 3 .
O s m a io re s d e lin q ü e n te s , s e ta m b é m u s a m d e g ra n d e
h a b ilid a d e p a ra p re p a ra r o s d e lito s , n ã o s a b e m m a is d o q u e
g u a rd á -la p a ra m a is ta rd e e te rm in a m , e m b ria g a d o s p e la im -
p u n id a d e , p o r p e rd e r to d a p ru d ê n c ia e tra ir-s e . T e m o s ta m -
b é m n o F a lla c i u m a p ro v a s e g u ra .
.~
~ - ; ,~ -
S ã o , e m s u m a , p o u c o ló g ic a s e im p ru d e n te s ; e não só
. -o i " '_
m u ita s v e z e s h á d e s p ro p o rç ã o e n tre o d e lito e a c a u s a , m a s
h á , q u a s e s e m p re , u m e rro n a e x e c u ç ã o , e rro d e q u e , c o m
137
D, Bastos
-l
p o u c a s in c e r id a d e , o s a d v o g a d o s a p r o v e ita m - s e p a ra d e m o n s-
tr a r a in o c ê n c ia d e s e u s c lie n te s . P o r m a is q u e o d e lin q ü e n te I
s e ja h á b il, h á n a e x e c u ç ã o d o c r im e , a im p r e v id ê n c ia , que é
I
I
p a r te d e s e u c a r á te r . A v io lê n c ia e a p a ix ã o p r e p o te n te põem
um véu a o c r ité r io . A té o p ra z e r d e e x e c u ta r o d e lito , de
\
a p r o v e ita r a e x e c u ç ã o d e le , d e c o m u n ic a r a o s o u tr o s a n o tíc ia , I
s ã o c a u s a d e ta is e r r o s n a e x e c u ç ã o .
L a fa rg e , u m a e n v e n e n a d o ra , m andou a o m a r id o um a
m a c a rro n a d a envenenada, m a s ju n to u um a c a r ta p e d in d o
a o m a r id o p a r a e x p e r im e n tá - la . N ão pensou q u e o m a r id o
f o s s e in te r p r e ta r q u e fo sse só p a ra e x p e r im e n ta r . A lé m do
m a is , a c a r ta d e n u n c io u a a u to r a d o a tr o z d e lito .
R ognoni m a to u o ir m ã o e p ro c u ro u u m á lib i, m a s s e
esqueceu d e la v a r a s m a r c a s de sangue n a p r ó p r ia ro u p a ,
1 c d e ix o u , d u r a n te a execução d o d e lito , a c e so o fo g o , q u e
l:' p o d e r ia c o n d u z ir o s p o lic ia is e o s v iz in h o s p a ra o lo c a l e
...,~
.;: d e s c o b r ir o s tr a ç o s d o c r im e . E sse e rro é s e m e lh a n te ao
~~
.
de R o s s ig n o l, que g u a rd o u no seu baú duas b e n g a la s de
••
M
s u a v ítim a .
F u s il f u g iu a te m p o d e p o is d e c o n s u m a d o o c r im e d e
ro u b o , tr o c a n d o de nom e e m s e g u id a , m a s d e p o s ito u o d i-
n h e ir o ro u b a d o n a C a ix a E c o n ô m ic a e m s e u p s e u d ô n im o e
n ã o p ô d e d e p o is r e tir a r p o r te r d e p o s ita d o em nom e de pessoa
in e x is te n te . O a s s u n to te v e q u e s e r c o m u n ic a d o à p o líc ia ,
q u e id e n tif ic o u o a u to r d o r o u b o .
5 . E s p e c ia lis ta s d o d e lito
C o m e n ta - s e q u e s e o s m a lf e ito r e s c é le b r e s tiv e s s e m
a p lic a d o n o tr a b a lh o h o n e s to a m e s m a in te lig ê n c ia e p e rse -
I
v e ra n ç a
ções, m as não
q u e a p lic a r a m n o d e lito , te r ia m
é o q u e a c o n te c e .
c h e g a d o a a lta s p o s i-
E le s tê m g ra n d e ta le n to ,
I
m a s é p a r a o d e lito ; é RÓ d e lito q u e e le s o a p lic a m . S ã o m a is '
,
138
~ II
l- D, Bastos
s a f a d o s d o q u e h á b e is e s e a s c o m b in a ç õ e s d e le s s ã o e n g e -
nhosas, f a lta m - lh e s a c o e r ê n c ia e a te n a c id a d e .
M u ita s v e z e s p a re c e e x tr a o r d in á r ia a h a b ilid a d e de
a lg u n s d e lin q ü e n te s . C o n tu d o , s e o lh a r m o s b e m , c e s s a to d a
m a r a v ilh a . E le s s e d ã o b e m p o r q u e r e p e te m f r e q ü e n te m e n te
os m esm os a to s . T am bém o s id io ta s , em um m o v im e n to
c o n tin u a m e n te r e p e tid o , podem p a r e c e r h a b ilís s im o s . E n tr e
o s la d r õ e s , h á a q u e le s q u e s ó a ta c a m a s lo ja s e o u tr o s s ó a s
c a s a s . A lé m d is s o , e n tr e e le s m e s m o s h á a s s u b d iv is õ e s do
in f a m e tr a b a lh o . A s s im , Y id o c q f a la d o s la d r õ e s d e c a s a s q u e
e n tr a m num a a v e n tu r a , o u s e ja , te n ta m m u d a r d e e s p e c ia li-
d a d e . F a la a in d a d e o u tr o s q u e p r e p a r a m p o r lo n g o te m p o o
d e lito , p e g a n d o u m a p a r ta m e n to v iz in h o .
E s c r e v e L o c a te lli q u e o s m a lf e ito r e s q u a s e s e m p r e tê m
um m é to d o p r ó p r io e r e a lm e n te e s p e c ia l d e c o m e te r suas
v e lh a c a r ia s . N ã o to d o s , p o r e x e m p lo : o s a s s a lta n te s , ao espo-
lia r s u a s v ítim a s usam p a la v r a s a m e a ç a d o ra s que a c re n ç a
p o p u la r s e m p r e p õ e n a b o c a d e le s . T a m b é m la d r õ e s h a b ilís -
s im o s e m a r r o m b a m e n to s , la d r õ e s q u e a o m a is le v e r u m o r
m a n tê m - s e e m f u g a , e la d r õ e s q u e s e r ia m c a p a z e s d e in tr o -
d u z ir - s e e m u m a s a la d e c o n v e r s a ç ã o p le n a d e g e n te ; la d r õ e s
q u e tê m ta 'n ta le v e z a d e m ã o a ta l p o n to d e s e r e m c a p a z e s d e
ro u b a r a c a m is a d o c o r p o d e u m h o m e m s e m q u e e s te s e d ê
c o n ta d is s o , e d e p o is , e n tr e ta n to , n ã o te r a a u d á c ia d e tr a n s -
I
') p o r a s o le ir a d e u m a c a s a o u d e u m a lo ja d e ix a d a s e m v ig ilâ n -
I ..:~ :
.~'.
c ia . H á a in d a la d r õ e s
m ã o , e la d r õ e s q u e n ã o s e d ig n a m
que ro u b a m tu d o que
a in c o m o d a r - s e
chegar à sua
c o m c o is a s
'~
~ d e p o u c o v a lo r , c o m o ta m b é m la d r õ e s e s p e r tís s im o s n o c o m e -
,~.
~
IIf'
~. 139
'7j!'
D, Bastos
I
ti m enta de roubo de gado não tendo a audácia de im pedir a I
fuga de um a galinha.
t
6. Envenenadores !
O s envenenadotes são quase todos das classes m ais
elevadas, e de cultura acim a da com um , m édicos ou quím icos,
de aspecto sim pático; são sociáveis, persuasivos. Estes até
fascinam as suas vítim as, escolhidas entre os grupos m ais sele-
I!
cionados, ou m ulheres, m orm ente as m ais lascivas. A segu-
rança da im punidade é um a espécie de volúpia no delito;
i
im pulsiona-os a golpear m ais pessoas e operar quase sem pre I
sem um a razão. É o caso da Lam bi, que além do m arido e dos I.
filhos, envenenou um a am iga e até um a vizinha, com a qual
não tinha qualquer relação de interesse.
I
É o caso tam bém de Zw anziger, que envenenou além
de pessoas de seu serviço, a com panheira, que parecia ser
-sua prim eira afeição. Q uase todos tiveram com o m otivação
a cupidez, o am or, porém m ais ainda a luxúria. H ipócritas,
calm os, dissim uladores, até o últim o instante da vida protes-
tam pela própria inocência, e levam para o túm ulo o segredo
de sua culpa. Em nosso tem po, é bem rara a associação com
outro cúm plice, enquanto há alguns séculos atrás acontecia
o contrário nas altas classes da França e de R om a antiga,
onde esse delito assum e form a epidêm ica, especialm ente
entre as m ulheres.
7. Pederas tas
~
140 :~~'
,zli
";';.,
'" D, Bastos
8. Estupradores
_ 9. Ladrões
E s c re v e u Y id o c q q u e q u e m c o n v iv e c o m p ro s titu ta s é
,
um la d rã o o u u m e s p iã o . T e n d e m a a s s o c ia r-s e n o c rim e ;
~
.'
v iv e m bem n o m e io d o s ru m o re s e d o s g rito s d a s g ra n d e s
c id a d e s ; fo ra d e la s s ã o c o m o p e ix e fo ra d a á g u a . S ã o in c a p a z e s
d e u m tra b a lh o c o n tin u a d o , m e n tiro s o s d e s c a ra d o s , e pouco
:: s u s c e tív e is d e c o rre ç ã o , e s p e c ia lm e n te s e m u lh e r, n a m a io ria
i. m e re triz e s .
~ I
"
~ 1 0 . E s te lio n a tá rio s
li
O s e s te lio n a tá rio s s ã o c o m o o s jo g a d o re s (e s te s s ã o fre - l
riq u e z a , m u ita s v e z e s d e m e n te s o u s im u la d o re s d e d e m ê n c ia , .
1
"
o u o s d o is c a s o s ju n to s . "
I
i
11. A s s a s s in o s l
O s a s s a s s in o s a p re s e n ta m , c o m e s tra n h o s , m o d o s d o c e s
h
e c o m p a s s iv o s , a r c a lm o . S ã o p o u c o v o lta d o s a o v in h o , m a s
m u ito a o a m o r c a rn a l. M o s tra m -s e a u d a z e s e n tre e le s , a rro -
g a n te s , s o b e rb o s d o s p ró p rio s d e lito s , n o s q u a is d e s p e n d e m
142
rr- D, Bastos
m a is a u d á c ia e fo rç a m u s c u la r d o q u e a in te lig ê n c ia . O que
p a re c e g ra n d e h a b ilid a d e é e fe ito d a re p e tiç ã o d e u m a m e s m a
s é rie d e a to s . B o g g ia in d u z s u a v ítim a , d irig e -a à a d e g a o u a o
p o rã o e a m a ta n u m s ó g o lp e . D u m o lla rd p ro m e te à s v ítim a s
u m tra b a lh o , le v a -a s a u m lu g a r e rm o , ro u b a -a s , e s tra n g u la -
a s e a s s e p u lta . S o ld a ti a tra i a s v ítim a s a lo c a l a fa s ta d o , e s tu -
p ra -a s e q u e im a o s c a d á v e re s . C la u d e a d ic io n a : " u m a s in g u la r
p a rtic u la rid a d e n o s a s s a s s in o s é a d e s e re m , fo ra d a fu n ç ã o '
d e le s , a s p e s s o a s m a is a le g re s d o m u n d o , p ro c u ra m a n te s d e
tu d o a c o m p a n h ia d o s c ô m ic o s " .
,-
I
1 2 . O c io s o s e vagabundos
h p ro p rie d a d e . N ã o m e le m b ro d e a lg u m o c io s o q u e te n h a a le -
g a d o , p o r ju s tific a ç ã o p ró p ria , a fa lta d e fo rç a m u s c u la r (s a lv o
n o c a s o d e m o lé s tia ), e n q u a n to to d o s o u q u a s e to d o s a le g a m ,
p a ra e s c u s a r-s e , a d ific u ld a d e d e e n c o n tra r tra b a lh o de sua
e s p e c ia lid a d e . N ã o p o u c o s d o s h a b itu a d o s à o c io s id a d e abo-
143
D, Bastos
1"
m inam
grandes
o trabalho,
são dom inados
m ovim entos
não só pela fadiga m aterial
pelo tédio insuportável
m usculares,
m anufaruras condena
a que a divisão
o operário.
m as porque
da uniform idade
do trabalho
O utros
dos
nas
ociosos,
I
I
ao invés de trabalhar na especialidade para a qual foram pre-
parados, preferem até arriscar a saúde e a vida em em presas
m uito perigosas.
U m certo G uido, sapateiro de profissão, dem onstrando
invencível repugnância pela avareza e pelo com prom eti-
m ento, às vezes andava esm olando com um a perna dobrada,
de m odo a sim ular um a incurável contrarura. A rriscava a
vida paradar caça aos gatos no teto dos vizinhos em plena
noite rigidam ente invernal. Procurava anim ais que pertur-
bassem , arriscando-se a m ordidas e arranhões a tal ponto de
dilacerar a pele.
Eles não são, de ordinário, suscetíveis de violentas pai- j
xões eróticas, das paixões que têm o poder de im pelir ao
delito os verdadeiros m alfeitores. M ayhew divide-os em m en-
dicantes navais, m ilitares, m ostradores de docum entos
sim uladores de doenças e m udez. A necessidade
cansar e as alegrias descuidadas,
caráter deles, tornam -nos
artísticas,
estranhos inventores
que form am
falsos,
de não se
de profissões,
o I
..•
"I
~
que ninguém fora deles adota, porque ninguém tem o instinto
do ócio espiriruoso. U m especializou-se em dar bofetões tão
f
t
barulhentos com o os de um a briga e que atraíam a m ultidão,
m as sobretudo os policiais.
144
D, Bastos
"
I
I
de vezes e fez cair nas m ãos da Justiça um a centena de delin-
qüentes e traçar com suas m em órias um a verdadeira psicolo-
gia do delito. Tam bém o era o C agliostro que roubava e ta-
peava príncipes e reis, e quase se fazia passar por um hom em
inspirado, um profeta.
G ênio especial tinha o N orcino e o Pietrotto, que ne-
nhum a prisão da Toscana conseguiu m anter preso por m ais
de um m ês. Fugiam depois de avisar seus carcereiros. E tam -
bém o D uboisce, que, não só conseguiu, depois de um a
~,.
condenação à m orte, evadir-se, m as levou tam bém sua
am ante, da prisão.
G R uschovich, alto e destro pessoalm ente, de olhos
inteligentes e sagazes, falava perfeitam ente árabe, grego, ro-
m eno e alem ão. Era conhecedor de ciências físicas, especial-
m ente da quím ica. N ão era tam pouco ignorante das belas
j letras e sobrerudo da história e da m edicina. C ondenado em
1845, pelo Tribunal de Trieste, à prisão, e depois pela C orte "
."
-.,;.,
C rim inal de Londres, a seis anos de servidão penal por crim e
I
I•.....
~
de falsificação, conseguiu com nova falsidade, não só ser liber-
tado da prisão, m as tam bém obteve indenização de 200 libras
esterlinas. la conseguir m ais 500 quando
era falsa a carta de um a alta autoridade
foi descoberto
endereçada
que
à R ainha
da Inglaterra, contando que um inglês fora condenado à
f revelia por falsidade, encontrando-se no fim da vida em um
t
hospital de Paris e tinha sido declarado culpado pela falsidade
atribuída a R uschovich.
Fugindo da Inglaterra, refugiou-se na B élgica, onde sob
".~
o nom e de O sm anJussuf envolveu-se em im putação de assas-
~
, .+ sinato e falsidade com A llah-B ey. N a França, sob o nom e de
« :.:;
Frank W eber, apresentou-se em Paris aos banqueiros B laques
it" com um a letra de 800 libras, com assinarura
em presa e conseguiu
falsa de um a
receber 400 libras. Por este fato e por
outras três falsificações foi processado pelo Tribunal de Paris.
145
D, Bastos
r-
C onseguiu, porém , fugir para a Itália, m unido de passaporte
I
da legação italiana, com nom e fictício.
,
P ara obter esse passaporte, ele escreveu ao prefeito de
M elegnano para ter um a certidão de nascim ento, dizendo que
seus genitores em igrando da L om bardia o tinham levado criança
para a A m érica. P ouco depois a m orte atingiu seus genitores,
sem m ais saber de sua fam ília, pois os registros foram queim ados
_nas guerras que assolaram a região. D a resposta do P refeito forjou
I
a carta que apresentou à legação italiana.
Indo a M ilão, exerceu ilegalm ente a m edicina, distri- I
I
•.."'"
rou sua filha, preparando até o casam ento, ao m esm o tem po
em que m antinha am ores com um a m eretriz.
O m esm o L ocatelli conhece um ladrão que sabia de I
J-'
.J
.!:..
cor as disposições do C ódigo P enal e do C ódigo de P rocesso
P enal, não só o italiano, m as tam bém o austríaco sobre os
II
~.. quais fazia confrontos m uito argutos. E le dava consultas aos
.
,.
~ próprios colegas, que o cham avam de "doutor em direito" e
tinham nele m ais confiança do que nos verdadeiros advogados.
B aum ont esvaziou, em pleno dia a caixa da polícia t
francesa, fazendo-se de guarda durante um a operação, com o r.'.
um a em presa. ;/
146
D, Bastos
.
,- podido até fazer carreira na área científica com o na vida so-
cial, m as tam bém nesta faltava a m obilidade. U m traço de
,;.-
~.,:
:"- espírito, um epigram a, fazia-lhe às vezes de recom endação.
H abilíssim o em im itar, era porém incapaz de criar. G ranjeava
[-
r:.
: •..
_
a estim a pública só com a fácil verbosidade,
eloqüência quando
que se tornava
era anim ado por algum a paixão.
k -.. E m sum a, geralm ente, todos estes, tam bém os gênios
t"',~~
..f~4i
~}t~::~
~"
têm m ais safadeza (com o os selvagens)
talento. N ão têm coerência
e m ais espírito, não
nem continuidade no trabalho
psíquico - potente, m as de ím pl"to - e quase nunca perseverante.
147
D, Bastos
TI
1 4 . D e lin q ü e n te s c ie n tífic o s I
I
É p o r isso q u e , m a lg ra d o o g ê n io te n h a u m a e sp é c ie d e I
n e u ro se c o n g ê n ita , c o m o a c rim in a lid a d e , m u ito e sc a sso s sã o II
o s d e lin q ü e n te s no m undo c ie n tífic o . D e ste s a in d a , a lg u n s I
n ã o sã o b e m a c e rta d o s. N ã o p u d e re c o lh e r c o m se g u ra n ç a , a
não se r o d e B a c o n e , c u jo s d e lito s d e p e c u la to fo ra m em I
g ra n d e p a rte e fe ito d e d e b ilid a d e d e c a rá te r, m a is d o q u e d e I
â n im o p e rv e rso ; d e S a lú stio e d e S ê n e c a , a c u sa d o s ta m b é m
I
e ste s, m a s se m p ro v a , d e p e c u la to . F o i ta m b é m o c a so d e
C re m a n i, c é le b re ju rista e p e n a lista , q u e m a is ta rd e se tra n s-
fo rm o u e m fa lsá rio ; d e D e m m e , p o te n te ta le n to c irú rg ic o e
ta m b é m la d rã o e e n v e n e n a d o r. N enhum m a te m á tic o , ne-
nhum n a tu ra lista , q u e e u sa ib a , a o m e n o s d e p rim e ira lin h a ,
so fre u c o n d e n a ç ã o p o r d e lito c o m u m . S a b e -se só d e C e sa l-
p in o , q u e p o r u m c rim e d e q u e se ig n o ra a n a tu re z a , p e rd e u
a n o b re z a . É ta m b é m o c a so d e A v ic e n a , u m e p ilé p tic o , e na
v e lh ic e , in q u ie to e e x a g e ra d o n o ó p io , q u e d iz ia q u e a filo so fia
n ã o g a ra n te u m v iv e r h o n e sto , n e m a m e d ic in a c o n se rv a a
sa ú d e . N a Á u stria , n o s c o n ta M e sse d a g lia , a c la sse q u e a p re -
se n to u , e m 1 4 a n o s, m e n o r n ú m e ro d e d e lito s é a d e d ic a d a
às ocupações c ie n tífic a s.
N a d a d e a n o rm a l h á n e sse s c a so s. O h o m e m p ro p e n so
a re sp ira r a se re n a a tm o sfe ra d a c iê n c ia , q u e é p o r si o o b je tiv o
e o d e le ite , h o m e n s e x p e rim e n ta d o s n o s c rité rio s d a v e rd a d e
c o n se g u e m m a is fa c ilm e n te d o m in a r a s p a ix õ e s b ru ta is, e
n a tu ra lm e n te re p u g n a m a to rtu o sa e e sté ril v ia d o d e lito .
P o r o u tro la d o , e ssa , m a is d o q u e a s o u tra s c a u sa s, a p o n ta m
o d e lito c o m o n ã o só in ju sto e iló g ic o , m a s ta m b é m im p ro -
fíc u o , re to rc e n d o se m p re c o n tra q u e m o tiv e r c o m e tid o .
M e n o s fa v o rá v e l se a p re se n ta a c rim in a lid a d e n o s lite -
ra to s e a rtista s. E m m u ito s d e ste s a s p a ix õ e s, p re v a le c e n d o
b e m m a is, p o rq u e e n tra m e n tre o s m a is p o te n te s fa to re s d a
148
TI D, Bastos
I d a v a m a s m ã o s; c o m o m o stra m o s p o e m a s d e K a le iv a P e a g e
I H e lm b re c h t. M a is c rim in o so s a in d a p a re c e q u e fo ra m A lb e r-
I g a ti,c o m e d ió g ra fo p e rte n c e n te à a lta a risto c ra c ia e fo i u x o ri-
F ra n ç o is V illo n , fa m o so p o e ta fra n c ê s, e ra d e h o n ra d a
fa m ília e re c e b e u e sse n o m e (v illo n = g a tu n o , la d rã o ) q u a n -
d o se to rn o u c é le b re n a v e lh a c a ria - à q u a l fo i le v a d o p e lo
jo g o e p e la s m u lh e re s. C o m e ç o u ro u b a n d o o b je to s d e p o u c o
v a lo r, ta n to p a ra o fe re c e r u m b o m re p a sto à s su a s a m ig a s e
a o s c o m p a n h e iro s d e ó c io , e sp e c ia lm e n te v in h o . O m a io r
fu rto c o m e tid o p o r e le , re a lç a d o p e la fa m a , fo i q u a n d o um a
a m a n te , e m c u ja s c o sta s v iv ia , c o m o é c o stu m e e n tre os
la d rõ e s, c o lo c o u -o n a ru a , à n o ite e m p le n o in v e rn o . A n-
dava a rm a d o c o m v a le n tõ e s p a ra a to s d e b a n d itism o a té
q u e fo i p re so p e la se g u n d a vez e por pouco n ã o fo i c o n -
d e n a d o à m o rte .
T o d o s e sse s c a so s n ã o sã o d e e sp a n ta r. P a ra o s p ro fissio -
n a is, a c iê n c ia n ã o é u m fim , m a s u m m e io , se n ã o h o u v e r
o u tra fo rç a q u e b a ste p a ra d o m a r a s p a ix õ e s. N ã o h á m e lh o r
.,
.~ - e stím u lo q u e o c o rra p a ra fo rn e c e r a rm a s a o d e lito , a o q u a l a
~
•. p ro fissã o o fe re c e à s v e z e s .u m e m p u rrã o , fa c ilita n d o , por
-''"0
~;:;;
~.
,"'**, . 149
D, Bastos
1
e x e m p lo , o e n v e n e n a m e n to a o s m é d ic o s , a fa ls id a d e aos
advogados, o a te n ta d o a o p u d o r a o s m e s tre s .
G ra n d e p a rte d a s m e re triz e s é v e rd a d e ira m e n te ile -
[fa d a . E m 4 .4 7 0 n a F ra n ç a , P a re n t e n c o n tro u apenas 1 .7 8 0
q u e s a b ia m a s s in a r o p ró p rio n o m e e s ó 1 1 0 tin h a m in s tru ç ã o
s u p e rio r. T o d a v ia , e s ta m e s m a re la ç ã o n ã o h á e m L o n d re s ,
o n d e p a ra 3 .4 9 8 p ro s titu ta s ile tra d a s h a v ia 6 .0 5 2 q u e s a b ia m
le r e e s c re v e r im p e rfe ita m e n te , 3 5 5 q u e s a b ia m le r e e s c re v e r
bem e 2 2 c o m in s tru ç ã o s u p e rio r.
1 5 . C o m p a ra ç ã o c o m a in te lig ê n c ia d o s d e m e n te s
C o n fro n ta n d o , e m re la ç ã o à in te lig ê n c ia , o s d e m e n te s
c o m o s d e lin q ü e n te s , v e m o s n a q u e le s p re v a le c e r b e m m e n o s
!
a p re g u iç a . E n tre o s d e m e n te s s e m o s tra um a a tiv id a d e
e x a g e ra d a m a s e s té ril, q u e s e c o n s u m a e m a s s o n â n c ia e u fô -
n ic a , e m tra b a lh in h o s in ú te is e im p ro fíc u o s . C onheci um a
d e m e n te q u e re c o b ria d e p a p e l o s tijo lo s e a té o s u rin ó is , e
a m a rra v a o s liv ro s p o r a m o r à s im e tria , e c o rta v a às vezes
\
p a rte d e u m te x to .
O s d e lin q ü e n te s n ã o d e s e n v o lv e m s u a a tiv id a d e a não
s e r p o r p ró p ria s , d ire ta s e im e d ia ta s v a n ta g e n s , m a is p a ra o
m a l d o q u e p a ra o b e m . V ic e -v e rs a , e n q u a n to e s s e s tê m p o u -
q u ís s im a ló g ic a , o s m o n o m a n ía c o s a tê m d e s o b ra . P o r is s o , é
m a is fá c il e n c o n tra r a lie n a d o s d e a lto s a b e r d o q u e e n tre o s
d e lin q ü e n te s . E b a s ta d iz e r q u e a p e n a s a lg u n s , c o m o B a c o n e ,
S a lú s tio e S ê n e c a s e in c lin a ra m p a ra o c rim e , m a s p o d e m o s
c ita r C o m te , A m p e re , N e w to n , P a s c a l, T a s s o , R o u s s e a u e
ta n to s o u tro s com o m a is ou m enos m e la n c ó lic o s e
m o n o m a n ía c o s .
O s p in to re s , a o c o n trá rio , p a re c e m -m e abundar m a is
e n [fe o s d e lin q ü e n te s d o q u e e n tre o s a lie n a d o s . C o n tu d o ,
d e fo rm a b e m d ife re n te a C G n te c e c o m o s g ra n d e s m e s tre s d a
150
D, Bastos
Q u a n to a o n ív e l d e in s tru ç ã o , p o d e -s e d iz e r q u e c o m o
e la fa v o re c e a a lg u m a s m in g u a d a s e s p é c ie s d e c rim e s , ta m b é m
a u m e n ta m a lg u m a s d e m ê n c ia s , c o m o p o r e x e m p lo , a s d o e n -
ç a s , o a lc o o lis m o , a s m a n ia s lite rá ria s , d im in u in d o o u tra s ,
c o m o a s d e m o n o m a n ia s e a s m o n o m a n ia s re lig io s a s e e p id ê -
m ic a s , a s m a n ia s h o m ic id a s e dando a to d a s u m c o lo rid o
m e n o s v io le n to e ig n ó b il.
151
-
D, Bastos
-
,~
;..-'"
_ . ,o ,_ _ • ~ _ _ • ~ • _
-I~ D, Bastos
\,
13. R E IN C ID Ê N C IA P R Ó P R IA E IM P R Ó P R IA .
M ORAL DOS D E L IN Q Ü E N T E S
n o s d e lin q ü e n te s . V e rd a d e é q u e e m a lg u n s p a ís e s a re in c id ê n -
c ia p a re c e m u ito e s c a s s a . Is to d e p e n d e , n ã o d a fa lta d e re in c i-
153
D, Bastos
T
jurídicos e com a introdução dos registros. Na Itália, de 1876
a 1880, os reincidentes condenados pelos tribunais aumen-
raram de 18 a 19,45%. Os condenados pelo tribunal do júri
subiram em 1878 a 13%, em 1880 a 21,5% e 1882 a 22%.
Portanto, em doze anos dobraram. Entre os condena-
dos, foi observado em quatro anos (de 1872 a 1875) um au-
mento de reincidentes de 17 a 21%;"Enfim, do ano de 1870
a 1879, enquanto os condenados por uma só vez cresciam
na proporção de 100 a 121, os reincidentes aumentavam na
proporção de 100 a 176.
Na França, o acusado reincidente (tribunal de júri)
aumentou só 10% em 1826, mas em 1850 a 28%. Em 1867,
isto é, 17 anos após, depois que foram introduzidas as estatís-
ticas judiciárias foram a 42%. Em 1871-1875,44%, em 1876,
44%, em 1877,48%, em 1878, 49%, e em 1879, 50%.
Na Bélgica, calcula-se 70% para os reincidentes em
t
1869-1871. Na Dinamarca, nos estabelecimentos penais em
1872-1874 notaram-se 74% para os homens e 71% para as
mulheres, de reincidentes. Na Prússia, havia uma cifra osci-
lante entre 77 e 80% nos saídos dos estabelecimentos penais
de 1871 a 1877 para os homens e 74 a 84% para as mulheres.
154
D, Bastos
T
sem na própria casa, e os companheiros ficam felizes de revê-
lo e saudá-lo com a alcunha de "viajante".
Bréton (Presídios e Presidiários - 1875) fala de um mise-
rável que cometeu pequenos furtos para voltar à prisão, mas,
em vez do cárcere comum, foi parar numa solitária. Lamen-
tava-se: "A justiça me tapeou e não me acolhem mais nesta
província" .
Queixava-se o chefe de bando Hessel, encarcerado 26
vezes, que o cárcere não o tivesse melhorado e não pudesse
querer a liberdade, que era a miséria e a fome. Ele respondeu
no depoimento: "Tranqüilizai-vos para que tenhamos dez
t~
": dedos; não sofreremos miséria a céu aberto. Onde vocês
O" encontrarão melhor abrigo do que na cadeia? Eu vi uma fa-
l-:\
mília inteira de ciganos ser condenada 16 vezes por vadiagem.
t'7-', Na boa estação saía e mendigava com ar ameaçador; no inver-
•••. ..;1;
'"t
no fazia-se prender para encontrar pão e roupa: a prisão tor-
.j;..
nou-nos melhores? Se tivéssemos encontrado modo de viver
largamente em todas as estações, certamente teríamos pre-
ferido o ar livre".
"i ~ Sobretudo, parece constante a reincidência nas mulhe-
res. Como veremos mais adiante, as reincidências repetidas
são mais freqüentes do que nos homens. Prostitutas, disse
_.
~j;-.
Parent Duchatelet, poucas há que tenham realmente se arre-
'!f"~~."
..--v ~ pendido. Vêem nos casos de penitência um modo de melhorar
'I" >.
.::1.,f<ii--.,. as condições delas. E Tocqueville observou que na América as
't:~ moças dadas à delinqüência são muito mais incorrigíveis do
.•"j:r'.
fli./, que os rapazes.
.'~:r.1. Nem tampouco se deve esperar que a melhoria dos
I'" sistemas
.~~1"", " carcerários possa prevenir ou diminuir a reincidên-
cia. Na França, em 100 liberados da prisão em 1859, 33 ho-
mens e 23 mulhúes retornaram no ano seguinte. Na Prússia,
atesta-se oficialmente, não ter a solitária favorecido aos réus
por paixão, os quais não são verdadeiros criminosos habituais,
155
T
D, Bastos
e d e fa to s o b e d e 6 0 a 7 0 % o n ú m e ro d o s re in c id e n te s , c ifra
e s ta d e 7 0 % q u e s e te m e x a ta m e n te n a B é lg ic a , e m L a u v a in ,
onde o s is te m a c e lu la r é a p lic a d o há doze anos.
3 . R e in c id ê n c ia e in s tru ç ã o
S e p o u c a in flu ê n c ia o s s is te m a s p ris io n a is tê m n a re in c i-
d ê n c ia , a ju d a m e n o s (e u m a c o is a s e lig a à o u tra ) o g ra u d e
in s tru ç ã o . A o in v é s , e s te p a re c e a u m e n ta r a re in c id ê n c ia .
D e n tro e m p o u c o v e re m o s c o m o a in s tru ç ã o , que segundo
c rê e m p e s q u is a d o re s s u p e rfic ia is d e s s e a s s u n to , s e ja u m a p a -
n a c é ia d e d e lito s , é u m a d a s c a u s a s d a re in c id ê n c ia e , p e lo
m enos, u m d e s e u s fa to re s in d ire to s .
Q u e m , c o m o L o c a te lli, q u e in d a g a c o m o p o d e a c o n te -
c e r e s s a in flu ê n c ia p e rn ic io s a d a in s tru ç ã o , n o ta rá q u e o d e lin -
q ü e n te n a p ris ã o a p re n d e c o m a a rte d e fe rre iro o u d o c a líg ra -
fo o s m e io s d e d e lin q ü ir c o m m e n o r p e rig o e m a io r v a n ta g e m .
-N o ta rá , a in d a , q u e .o .a g re s s o r s e tra n s fo rm a e m fa ls á rio , o
la d rã o e m e s te lio n a tá rio o u m o e d e iro fa ls o . N ã o h á , p o d e -s e
d iz e r, e n tre a s v á ria s c a te g o ria s , n a d a a lé m d e m e n o r g ra u d e
c u ltu ra p a ra o c rim e , s e n d o p s ic o lo g ic a m e n te e m u ita s v e z e s
a n a to m ic a m e n te ig u a is u n s a o s o u tro s .
E is p o r q u e v e m o s , s e g u n d o B e ttin g e r, q u e o s re in c id e n -
te s a b u n d a m s e m p re e n tre o s d e lito s d e re fle x ã o e m a is e n tre
a q u e le s c o n tra a p ro p rie d a d e , d a n d o o s fu rto s 2 1 % , a ra p in a
1 0 % , o s h o m ic íd io s só de 5 a 3% .
156
T
D, Bastos
d o ré u e a s u a c u lp a b ilid a d e , o u s e ja a d is tin ç ã o q u e o s c ó d ig o s
e n riq u e c e m : a re in c id ê n c ia p ró p ria e im p ró p ria . E s ta ú ltim a ,
d e re s to , é s e m p re a m a is e s c a s s a . A c u m u la re a lm e n te a re in -
c id ê n c ia p ró p ria e n tre nós em 1 8 7 2 -1 8 7 5 , bem e n te n d id o
c o m e x c e ç ã o d o s d e lito s d e ím p e to , o s q u a is n ã o tê m , a b e m
d iz e r, q u a s e n u n c a re in c id ê n c ia .
A c ifra d o s re in c id e n te s to rn a -s e s e m p re m a io r s e fo re m
c o n s id e ra d o s a lg u n s g ru p o s d e c rim e s , n o s q u a is e s te s s e
re p e te m e e m q u e n ã o re in c id ir to rn a -s e quase um a exceção.
Is s o s e v e rá n a e s ta tís tic a d o s re in c id e n te s de 1874 a 1878,
d a q u a l a p a n h e i o s c rim e s d e ín d o le re a lm e n te p o lític a (e x p u l-
s ã o d e re fu g ia d o s e s tra n g e iro s , d e lito s d e im p re n s a ) e não
re a lm e n te d e d e lin q ü ê n c ia n o s e n tid o a n tro p o ló g ic o (a rm a s
p ro ib id a s ), e a ju n ta n d o c rim e s e d e lito s tid o s c o m o c a te g o ria
q u e p ro p o rc io n a m a m á x im a re in c id ê n c ia .
P o n d o à p a rte o s q u e s e to rn a m c rim e s d e e n fu re c e r o s
p a rtid o s p o lític o s o u q u e s e d e v a m à m u ito m in u c io s a p o líc ia
fra n c e s a (re b e liã o ), p o d e -s e d iz e r q u e e s ta s c ifra s re p re s e n ta m
a c o ta d o s d e lin q ü e n te s n a to s . E q u e m a s e s tu d a s e m le v a r
e m c o n s id e ra ç ã o a d ife re n ç a d o s d e lito s , c o m o fa z e m o s , d e d u -
z in d o a s ta b e la s d e F e rri, a c h a q u e re s o lv e m e m re v o lta d a s
fo rç a s a rm a d a s e a s s o c ia ç õ e s p a ra d e lin q ü ir, fu rto s , v a d ia g e m ,
fe rim e n to s , b ig a m ia , v e ria m e m u m a re a ç ã o b e m m a is e s c a s s a
o s a s s a s s in a to s , o s m o e d e iro s fa ls o s , o s p a rric id a s , o s in c e n d iá -
rio s , o s h o m ic id a s , o s e s tu p ra d o re s , o s fa ls á rio s , fa ls o te s te -
m u n h o , tra p a ç a s , a m e a ç a s , e m ú ltim o , a fa lê n c ia fra u d u le n ta
e a e x to rs ã o .
157
D, Bastos
:"17.'
"1
". o o b ter.
158
D, Bastos
' .-.'' .
:>
~~i'
L acen aire, acen an d o ao cú m p lice A v ril, d izia: "E n ten d i
-,
, :;.
q u e p o d íam o s m istu rar ju n to s a n o ssa "in d ú stria". H á, p o r-
tan to , co n clu ía o p ro cu rad o r d o rei, h o m en s p ara q u em o
-:"'iI~
assassín io n ão é u m a n ecessid ad e ex trem a, m as u m a tarefa
....
q u e se p ro p õ e, d iscu te e ex am in a co m o u m ato q u alq u er .
T o rto ra, a q u em n o jú ri o acu sav a d e lad rão : "q u e lad rão !
L ad rõ es são o s n o b res d a cid ad e e eu , m atan d o -o s, só d o u a
eles o q u e m erecem ".
D isse H essel ao s ju ízes: "N ó s so m o s u m o rg u lh o so ch efe
d e b an d o . D eu s n o s en v io u à terra p ara p u n ir o s av aro s e o s
rico s; n ó s so m o s u m a esp écie d e flag elo d iv in o . E , além d o
m ais, sem n ó s o q u e fariam o s ju ízes?" V ê-se, em su m a, in -
v erter-se co m p letam en te a id éia d o d ev er. E les se ju lg am n o
.-- d ireito d e ro u b ar, e m atar, e q u e a cu lp a seja d a so cied ad e,
tan to q u e D eu s o s d eix a ag ir à v o n tad e. E ch eg am até a atri-
b u ir m érito ao d elito .
O s assassin o s, p rin cip alm en te o s p o r v in g an ça, ach am
q u e p raticam ação h o n esta e alg u m as v ezes h eró ica, ain d a q u e
p eg u em a v ítim a n a em b o scad a. A ssim , M artin elli, ao esti-
m u lar u m m an d atário a m atar u m d e seu s in im ig o s, ig u alav a
a su a in fam e ação à d o s an tig o s ro m an o s, q u e v in g av am co m
159
"T
D, Bastos
5. R em orsos
.:i"
160
.~~.
J::.,.
- - --~ --- - - - - ._ - - - - - - - - - - - - - - - - - -
TI<:
D, Bastos
-
I'
e D espines disse: "N ada se parece tanto ao sono do justo
com o o sono do assassino". M uitos m alfeitores revelaram ,
,~
,:' realm ente, arrependim ento,
cálculos hipócritas
m as eram
com que pretendiam
extravagâncias
usufruir as nobres
ou
,-'
escrevia ao am igo V igouroux, para pedir proteção e dinheiro:
declarou não haver jam ais com preendido o que seja rem orso.
~
~j E m P ávia, R ognoni pronunciou no júri palavras com o-
~~r ventes que aludiam ao seu arrependim ento. R ecusou vários
",o
,-lt ' dias o vinho, alegando que ele recordava o sangue de seu
,,',"
~ii:..,. irm ão, assassinado por ele. N o entanto, procurava na prisão
l-:~ ~ ~ '
y~ contatos com outros condenados. Q uando alguns destes m os-
.-
1" ,- travam repúdio às suas propostas, am eaçava-os com as pala-
vras: "Já m atei quatro, e pouco m e im porto em m atar o quinto".
I~~
L ê C lerc se declarou arrependido perante o tribunal
,I.~."~{
.....
'';:~~ que o condenou à m orte, e que teria m erecido que lhe cortas-
sem os pulsos, m as andando à execução, balbuciava ao seu
- c "'
",,'
_ ,"
~>.
. ~- ~
;::.
, 161
.•
D, Bastos
com panheiro: "V eja que fom os traídos porque não desconfia-
m os devidam ente de B . A h! Se o tivéssem os m atado .... !".
H á nos tem orsos sim ulados um a desculpa para os deli- ,
tos. M ichielin assim justificava o golpe de graça dado à sua
. vítim a: "V ê-la naquele estado causava-m e tanto rem orso,
que a em brulhei para não lhe ver o rosto".
L em aire disse: "N ão m e arrependo, a não ser. de não
ter sido hábil em m atar todos (pai e filho). Se depois de conde-
nado pudesse divertir-m e e passear, paciência; m as, antes que
trabalhar prefiro m orrer". E recusou advogado, lendo ele pró- .•.
prio sua defesa, que era a apologia do hom icídio. "A gi com
prem editação, na em boscada. N ão peço indulgência; piedade
será m anifestação de desprezo, por isso a devo repelir". E staria
.
~~-
arrependido, portanto, se lhes tivesse
divertir-se. A venain pediu o favor de ser enterrado
deixado m odo de
com
~~~ L em aire, que tinha falado tão bem .
~. A lgum a vez a aparência do rem orso (precisam ente a
7~' som bra que os rom ancistas preferem ) é um efeito de alucina-
t,
ções e ilusões alcoólicas. Philippe e L ucke, logo depois de
,
$
com etido o delito, viam as som bras de suas vítim as; eram
presas dos acessos do alcoolism o e chegou a dizer após a
condenação: "Se não m e m andassem a C aiena, teria repetido
o golpe".
A lgum as vezes, o que parece rem orso é apenas o efeito
do m edo da m orte, ou de um a idéia religiosa que tom a a
form a, m as quase nunca a substância do arrependim ento. O
exem plo talvez m ais clássico, vim os na M arquesa de B rinvi-
lliers, que parecia ao venerando Poirot um m odelo de penitên-
cia, e escrevia nas últim as horas ao seu m arido: "M orro de
um a m orte honesta procurada por m eus inim igos". Q uem
assim declara é um a parricida e fratricida. E quando o confes-
sor convidou-a a m udar aquela conversa, confessou-se inca-
paz de pensar de form a diferente. C onduzida à m orte, decla-
162
_., D, Bastos
.~ ' ..
.: r. \
''1('"
da justiça, freqüentem ente
N ão raram ente
c~rta
163
D, Bastos
164
II
D, Bastos
N ã o é o c rité rio , n e m a c o n s c iê n c ia d a v e rd a d e , n e m o
s e n tim e n to ju ríd ic o , e m s u m a , q u e fa lta s e m p re a e le s , s e
b e m q u e s e re v e la a a titu d e d e c o n fo rm a r-s e a e s te c rité rio .
D is s e H o rw ic k : "U m a c o is a é te r c o n h e c im e n to te ó ric o de
u m fa to , o u tro é a g ir e m c o n s e q ü ê n c ia ; p o rq u e o c o n h e c i-
m e n to s e tra n s fo rm a e m d e s e jo v o lu n tá rio , c o m o o s a lim e n to s
e m c a rn e e s a n g u e , o q u a l re q u e r u m fa to r: o s e n tim e n to ; e
e s te fa lta n e le h a b itu a lm e n te .
Q uando s ã o re u n id o s e q u e s ó o s e n tim e n to d e le s n ã o
s e o p o n h a , m a s te n h a u m d ire to in te re s s e (v a id a d e s a tis fe ita ,
m a io r s e g u ra n ç a ) p a ra fa z e r triu n fa r a ju s tiç a , e n tã o a p lic a m
a e n e rg ia que usam p a ra fa z e r o m a l. E m u m a re u n iã o de
jo v e n s la d rõ e s , p ro m o v id a e m L o n d re s p o r u m filó s o fo d o
c rim e , fo ra m s a u d a d o s c o m p a lm a s e a p la u s o s o s re in c id e n te s
d e 1 0 a 2 0 v e z e s . U m la d rã o c o n d e n a d o p e la v ig é s im a v e z fo i
a c o lh id o c o m o h e ró i e m triu n fo . P o ré m , q u a n d o o p re s id e n te
e n tre g o u -lh e um a m oeda d e o u ro p a ra tro c a r e m d in h e iro
n o b a n c o , m a s o h e ró i n ã o re to rn o u . A in q u ie ta ç ã o e ra g ra n d e
e c o m e ç a ra m a g rita r e m c o ro : " S e n ã o v o lta r, n ó s o m a ta -
re m o s , m a s e le re to rn o u c o m a s o m a d e v id a , p a ra a le g ria g e ra l.
E s te la d o b o m d a s p a ix õ e s d e le s p o d e c o lo c a r-n o s no
c a m in h o p a ra o b te r a m e lh o ria d o d e lin q ü e n te , to m a n d o -o
p e lo la d o d a p a ix ã o e d o c a p ric h o m a is d o q u e d o la d o d a
165
D, Bastos
3
'". .,.
.. '
razão; m ais com a com oção, com a estratégia dos sentim entos
do que com a ginástica intelectual ou com a catequização
...
~
.
166
D, Bastos
3;~'1'
.•,:',;!J-~
"':,
!ti
~ •.. ,
'.
••
-' ..•~
~ ...• .
.
~.t"'~
."~'
,'~ .. m ulta em dinheiro. A cabra não se paga em dinheiro m as com
sangue, disse o condenado encarregado de neo-jurista. Em
seguida, com golpes furiosos de pedra e estilete m atou-o e jogou
o cadáver pelos despenhadeiros da ilha. A cabra, colocada
no m eio do pátio, serviu de terrível exem plo aos ladrões.
D ois am igôs de Sabbia tiveram a vida poupada a m uito custo
porque dem onstraram isenção de cum plicidade no furto.
,-~
% ;;~
;,
U m certo C entrella, acusado de ter posto a m ão no
~ -~
que não era seu, tendo provado lum inosam ente seu álibi, foi
l~
~tMilt".o.o absolvido depois de longa detenção, m as foi expulso da com is-
~
.( são legislativa, da qual era m em bro, pois que essa com issão
_;<t~\
<+'.:i'<'
não queria que um seu m em bro tivesse sido posto sob suspeita
~:~~~
por ter infringido o código de honra.
,.~ 4;
.•...;
""",
;:,'t""
':,rt
c'
;,~
''''~.,
..;
7. Injustiça recíproca
'~
N ão é que essa espécie de m oral e de justiça relativa,
,'.:~~' saída de im proviso no m eio de um a coletividade injusta seja
'I;" .~
~ '::)~ forçada e efêm era. Q uando, em vez de ser favorecido, for
~-
,
,. ~
paixão, então este critério de verdade, que não se apóia no
senso m oral, chega rapidam ente.
167
D, Bastos
B u rk e , p e rg u n ta d o p o r H a re c o m o fa ria s e fa lta s s e m as
v ítim a s , re s p o n d e u : " E m to d o c a s o , re s ta m n o s s a s m u lh e re s
e n o s s o s c ú m p lic e s " . D o s n o s s o s c h e fe s d e b a n d o , que eu
s a ib a , s ó S c h ia v o n e tra ta v a c o m ju s tiç a o s s e u s p o u c o h o n ra -
d o s s u p e rv is io n a d o s . O s d e m a is e ra m p re p o te n te s e in ju s to s
c o m o s p ró p rio s c ú m p ,h c e s . C o p p a , p o r le v e fa lh a d e g o lo u
"I
168 :
':'~ '
",i
'-~
D, Bastos
8 . C o m p a ra ç ã o com o s d e m e n te s
S e n ó s c o m p a ra rm o s a m o ra l d o s d e lin q ü e n te s com a
d o s d e m e n te s , e n c o n tra re m o s c u rio s a s d ife re n ç a s e a n a lo g ia s .
O d e m e n te m a is ra ra m e n te n a s c e m a ld o s o e im o ra l. E le a s s im
s e to rn a e m u m a d e te rm in a d a é p o c a d a v id a , s e g u in d o -s e a
um a doença que m uda o u m o d ific a o s e u c a rá te r, e que o
a s s e m e lh a a o c rim in o s o . E le s e n te a lg u m a s v e z e s re m o rs o ,
o rg u lh a -s e d e s e u s d e lito s , o u d e c la ra s e n tir-s e c o n s tra n g id o
.à v id a to rta , m a lg ra d o s u a v o n ta d e . S e c o m e te u m d e lito ,
re c o n q u is ta , q u a s e p o r u m a c ris e re m o ta , a lu c id e z d e id é ia s
e o s e n s o d o ju s to , q u e o le v a a c o n fe s s a r n o s trib u n a is , n ã o
c o m o c in is m o d o d e lin q ü e n te m as com a expansão de peca-
d o r a rre p e n d id o .
O q u e d is s e m o s a c im a p a re c e s e r o c a s o d e V e rg e r, d a
A .R ., d e L iv i, d e D o s s e n a d i B iffi. E le s s e p u s e ra m s o b o m a n to
~' d o s c o m p a n h e iro s d a p ris ã o o u d o s a d v o g a d o s , d is s im u la ra m
", ,. o p ró p rio d e lito (V e rz e n i, F a rin a ), n ã o e x p u s e ra m nunca a
ISt,' h a b ilid a d e n e m a te n a c id a d e d o d e lin q ü e n te h a b itu a l.
:~~
'f"t":;: 169
i,~,
~;fttt'
D, Bastos
9 . C o m p a ra ç ã o com o s s e lv a g e n s
N enhum r e m o r s o p o r é m a p r e s e n ta o hom em s e lv a g e m ;
e s te n o r m a lm e n te s e g a b a d e s e u s d e lito s . P a r a e le , a ju s tiç a é
s in ô n im o d e v in g a n ç a , d e f o r ç a . P a r a o s g a u le s e s (C é sa r: D e
B e llo G a llic o ) , o s f u r to s c o m e tid o s f o r a d a c id a d e n ã o r e p r e s e n -
ta v a m in f â m ia . E n tr e o s a lb a n o s o h o m ic íd io n ã o é d e lito ; f o r te
q u e r d iz e r ju s to , e d é b il q u e r d iz e r f e io . S c h ip e ta r o se gabava
d e h a v e r r o u b a d o , c o m o s e tiv e s s e p r a tic a d o u m a a ç ã o h e r ó ic a .
O s s c ió ia s o lh a m o v íc io c o m o s e f o s s e v ir tu d e ; o h o m ic íd io
c o m r a p in a é u m m e io d e s e d is tin g u ir . N a s d a n ç a s , n a s f e s ta s ,
o g u e r r e ir o c o n ta o s a s s a s s in a to s c o m e tid o s e s e c o b r e d e g ló r ia s .
A a n tr o p o f a g ia é u m d o s c o s tu m e s m a is c o m u n s dos
s e lv a g e n s . O hom em n a s I lh a s F e e g e é r e f e r id o com o lo n g o
p o r c o . N a A u s tr á lia , O b f ie ld n ã o e n c o n tr o u s e p u ltu r a de m u-
lh e r e s e c o n c lu iu d is s o q u e o s p a is e o s m a r id o s a s m a ta v a m
a n te s q u e f ic a s s e m v e lh a s e m a g r a s , e d e m a u s a b o r . P o u c a s
d e la s f o r a m e n c o n tr a d a s v iv a s , s e m q u e e s tiv e s s e m m a rc a d a s
d e c ic a tr iz e s p e lo c o r p o .
170
D, Bastos
1 0 . O r ig e m p ro v á v e l da ju s tiç a
C e r ta m e n te f o i s ó d o d a n o g e r a l c a u s a d o p e la p r e p o tê n -
c ia d e p o u c o s q u e d e v e te r n a s c id o a p r im e ir a id é ia d a ju s tiç a
e d a le i. N e s te a s p e c to , o c u r io s o c ó d ig o in v e n ta d o p e lo s
p r e s id iá r io s d e S ã o E s te v ã o , p e la g r a v id a d e d a s p e n a s re c o rd a
m u ito bem a s le is m e d ie v a is e a dos povos p r im itiv o s . Por
e le , p o d e - s e m o s tr a r p o r q u a l s é r ie d e e v e n to s n e c e s s á r io s
tin h a m s a íd o o s c ó d ig o s dos povos b á rb a ro s, com o r e v e la
u m n o v o p o n to d e a n a lo g ia e n tr e o s s e lv a g e n s e o s d e lin q ü e n te s .
171
"I~
D, Bastos
II
I
I
;
".~I
i
I
iI'
i
t
I
~
'n
!7 .
"
~ .- - >
1;1, ;"
:f:v
d.'-',. .- ,
"',-.'~. .- - .....,
;. .
D, Bastos
'I
l
11
11
14. J A R G Ã O (G ÍR IA )
i
5. A rcaísm os - 6 . C aracteres e índole das gírias - 7 . D ifusão
8. G ênesis do jargão - 9. G íria em sociedades
10. C aracteres: extravagâncias - 1 1 . C ausa: contato
1
12. C ausa: tradição - 1 3 . C ausa: atavism o
I
14. C ausa: prostitutas - 15. D em entes
1 . A trib u to s
U m
s u b s titu to s
d o s c a ra c te re s
m a z e a s s o c ia d o ,
é o u s o d a lin g u a g e m
p a rtic u la re s
c o m o a c o n te c e
to d a
d o d e lin q ü e n te
se m p re n o s g ra n d e s
p a rtic u la r, em que o lé x ic o
c o n tu -
c e n tro s ,
é m u-
I
dado c o m p le ta m e n te , e n q u a n to n o c o s tu m e g e ra l, o tip o g ra -
m a tic a l e s in tá tic o c o n se rv a -se ile s o . E s ta m u ta ç ã o vem de
v á rio s m odos. O m a is p ró x im o e c u rio s o , e que a p ro x im a a
"": 173
.
,
D, Bastos
.r",'"r,.~,o
p o r e x e m p lo , q u e id é ia s e f a z d a ju s tiç a , d a v id a , d a a lm a e d a
~
m o r a l. A a lm a , d e f a to , é c h a m a d a d e " f a ls a " , a v e r g o n h a de
"v e r m e Iho n a "11
e s a n g u m. o s a , Ilu""é
veu o c o rp o , "1"1
ve oz a ua. i,
I
O advogado é cham ado d e "b ra n c ã o ", c o m o a q u e le q u e d e v e
"
"
I
lim p a r a c u lp a d e le s . !
A lg u m a s v e z e s , a tr a n s f o r m a ç ã o
e m p r o c e s s o q u e s e p o d e r ia d iz e r d e " s e m e lh a n ç a
m e ta f ó r ic a c o n s is te
d e rru b a d a ",
f
I
c o m o p o r e x e m p lo , " s a b e d o r ia " p o r s a l, p o r in f lu ê n c ia do sen- J
tid o d e lín g u a s a lg a d a d o s m a le d ic e n te s , p r ó p r ia d o s d e lin -
q ü e n te s ,m a is r ic o s d e e s p ír ito d o q u e d e ju íz o . O u tr o e x e m p lo
é a lo c u ç ã o " e n g o lir u m p e r iq u ito " , s ig n if ic a n d o to m a r um
g o le d e a b s in to , le m b r a n d o a a lu s ã o à c o r , já q u e a m b o s s ã o
v e rd e s. A s m e r e tr iz e s re c e b e m o nom e d e " h o te l" , a lu s ã o a
q u e to d o s p o d e m usar desde que paguem .
j
~
2 . D o c u m e n to s h is tó r ic o s ":r
c:
1."
~
".
".
L
d a lh a
À s v e z e s , a m u d a n ç a d e n o m e c o n s titu i v e r d a d e ir a
h is tó r ic a q u e m e r e c e r ia f ic a r n a lín g u a com um ,
m e-
em I "
~
p e n e tr a m n a lín g u a e r u d ita . M u ita s p a la v r a s f o r a m c r ia d a s ,
com o e n tr e o s s e lv a g e n s , p o r o n o m a to p é ia , com o " tiq u e -
ta q u e " , d e s ig n a n d o r e ló g io . O u tr a s tr a n s f o r m a ç õ e s c o n s is te m j.
e m a u to m a tis m o s r e s u lta n te s d e r e p e tiç ã o d e s íla b a s , c o m b i-
~
. n a d o s c o m s u p r e s s õ e s , m e tá te s e s e o u tr a s .
;
I~
3 . D e s f ig u r a ç ã o d e p a la v r a s ~
O u tr a f o n te d e s s e lé x ic o v e m d a d e s f ig u r a ç ã o f o n é tic a
d a s p a la v r a s , m a is f r e q ü e n te m e n te por um d e sse s g ra n d e s
p rõ c e sso s q u e o g ra n d e M a r z o lo c h a m a v a d e f a ls a r e d u ç ã o
e tim o ló g ic a . O u tr a s d e f o r m a ç õ e s s ã o d e v id a s p e la ju n ç ã o de
d e s in ê n c ia s a u m e n ta tiv a s , e p r in c ip a lm e n te p e jo r a tiv a s .
Q uando s e tr a ta d e e s c < ;> n d e ro s ig n if ic a d o d e u m v o c á b u lo ,
174
D, Bastos
~o,","
.:"
a g ír ia n ã o e v ita a lo n g á - lo ; com a in te r c a la ç ã o d e a lg u m a
~"
s íla b a , s e g u n d o n o r m a s f ix a s ; is s o a lo n g a s e m p r e a p a la v r a .
i,~
I' A te n d ê n c ia m a is c o m u m é , p o r é m , a d e a b r e v ia r .
f~
I.
4 . P a la v r a s e s tr a n g e ir a s
A s p a la v r a s e s tr a n g e ir a s s ã o f o n te v a s ta d o lé x ic o : h e -
~ b r a ic a s n o ja r g ã o g e r m â n ic o ; a le m ã e s e f r a n c e s e s n o s ita lia -
n o s ; ita lia n o s e c ig a n o s n o s in g le s e s . A lín g u a h e b r a ic a , ou
m e lh o r , a ju d ia , d e u a m e ta d e d a s p a la v r a s d o ja r g ã o h o la n d ê s
e c e r c a d e u m q u a r to d o a le m ã o : e u c o n te i 1 5 6 n o c o n ju n to
de 700.
5 . A r c a ís m o s
j~'
~l'J'':;''
r«< O m a is c u r io s o c o n tin g e n te d o s ja r g õ e s é d a d o p e la s
: .~.
p a la v r a s a n tiq u a d a s e p e r d id a s c o m p le ta m e n te n o s lé x ic o s
J.
I
"
v iv o s . U m avanço a r c a ic o
h ie r ó g lif o s é o te r m o " s e r p e n te "
q u e re c o rd a a té o s te m p o s
p a r a d e s ig n a r " a n o " , c o m o o
dos
~.
p o r le tr a .
..
6 . C a r a c te r e s e ín d o le d a s g ír ia s
~."
'!•.••
E s s e s a r c a ís m o s s ã o ta n to m a is s in g u la r e s quando se
; .'1
'~
.. p e n sa n a g ra n d e m o b ilid a d e e m u ta b ilid a d e d a s e x p re ssõ e s
I~;. d e g ír ia . P o r is s o v i e m P a v ia e T o r in o in tr o d u z id a s e m udadas
~.i
g r a n d e q u a n tid a d e d e s ig n if ic a d o s , c o m o p o r e x e m p lo , " g r ã "
p o r la d r ã o , " m ic h ig o " p o r r a p a z , " p ila a " p o r d in h e ir o , " s p ig a "
p o r r u a , " g ia n " p o r s o ld a d o . É im p o r ta n te n o ta r a e s tr a n h a
r iq u e z a d e s in ô n im o s p o r c e r to s o b je to s q u e m a is in te r e s s a m
a o s d e lin q ü e n te s , e a s s im s e r e v e la o ín tim o d o â n im o d e le s .
A s s im C o u g n e t e R ig h in i e n c o n tr a r a m 1 7 p a la v r a s p a r a d e s ig -
n a r " g u a r d a ! O u " p o lic ia l" .
175
D, Bastos
7. D ifusão.
176
D, Bastos
:1
8. G ênesis da jargão.
9. G íria em saciedades
177
D, Bastos
d o s a u m a v id a n ô m a d e ou a um a d e te n ç ã o te m p o r á r ia e
s u b m e tid o s a s u je iç ã o , o u e m f a c e d o p ú b lic o . C o m a lin g u a -
g e m e s p e c ia l a f ir m a m a p r ó p r ia v id a c o m u m ; o u s e s u b tr a e m
à v ig ilâ n c ia d e o u tr e m . A s s im e n c o n tr e i, n u m a m e s m a c o le ti-
v .id a d e , u m a g ír ia d e f a x in e ir o s , o u tr a d e v in h a te ir o s , dos
lix e ir o s , d o s p e d r e ir o s , g ír ia a n á lo g a e f r e q ü e n te m e n te id ê n -
• tic a à d o s c r im in o s o s .
Q u a n to s n ã o d e v e m s e n tir im p u ls o d e f o r m u la r e m u m a
lin g u a g e m p a r tic u la r a s p r ó p r ia s id é ia s , u m a g e n te q u e te m
h á b ito s , in s tin to s tã o e s p e c ia is e que ta n ta s pessoas tê m a
te m e r e a e n g a n a r! A c r e s c e n te - s e q u e e s s a g e n te se re ú n e
se m p re nos m esm os c e n tr o s , p r is õ e s , p r o s tíb u lo s , h o té is , e
n ã o a d m ite m s o c ie d a d e c o m a q u e le s q u e n ã o te n h a m a m es-
m a te n d ê n c ia . U n s c o m o u tr o s s e c o n f r a te r n iz a m c o m im p r e -
~ v id ê n c ia e f a c ilid a d e e x tr a o r d in á r ia s , e n c o n tr a n d o e x a ta -
'.", m e n te n a g ír ia u m a f o r m a d e r e c o n h e c im e n to , u m a p a la v r a
~.
~
d e o r d e m . S e n ã o u s a s s e m s e u ja r g ã o , a n e c e s s id a d e de expan-
1:: d ir - s e tu m u ltu o s a m e n te , q u e é u m a d a s c a r a c te r ís tic a s d e le s ,
~ s e e x p o r ia m u ito c e d o à s in v e s tig a ç õ e s p o lic ia is e p r e v id ê n c ia
d e s u a s v ítim a s .
1 0 . C a r a c te r e s : e x tr a v a g â n c ia s
D eve a in d a c o n tr ib u ir p a ra a p ro p a g a ç ã o d a g ír ia a
g ra n d e m o b ilid a d e d e e s p ír ito e de sensações, p a r a a s q u a is ,
ju n ta d a u m a p a la v r a n o v a , n a s m u ita s c ir c u n s tâ n c ia s d a o r g ia ,
o u f r a s e e s tr a n h a , a b s u r d a m e s m o , m a s v iv a z , p ic a n te ou ex-
tr a v a g a n te , p a r a f a z e r o ja r g ã o tr a n s m itir - s e . E , d e p o is , o e te r -
n iz a m e m s u a lin g u a g e m .
C o m o o s p e d a n te s r e c o lh e m a m o r o s a m e n te e rro s g ra -
f",
m a tic a is o u e x p re ssõ e s m a is r a r a s n o u s o c o m u m , a s s im o s
"L
,L
d e lin q ü e n te s e n r iq u e c e m a lin g u a g e m d e a lg u m e s tu d a n te -
z in h o p e r d id o n o m e io d ~ le s . T e n d e m a c o lo c a r e s s a lin g u a -
178
D, Bastos
A te n d ê n c ia à s tr a n s f o r m a ç õ e s f o n é tic a s , c o m o s e v iu
n o s e x e m p lo s a q u i r e f e r id o s , é q u a s e s e m p r e ir ô n ic a e b o b a .
P o ré m , a ir o n ia s e m a n if e s ta ta m b é m com r e la ç ã o à id é ia
s e m im p lic a ç ã o c o m a p a la v r a , n e m c o m a h o ~ o f o n ia , nem
c o m a p r o x im a ç ã o f o n é tic a . E ssa p ro p e n sã o q u e s e v ê n o la d o
r id íc u lo d o s f a to s é c o n s e q ü ê n c ia d o h u m o r h ilá r io e e x tr a v a -
g a n te , q u e c o n s ta ta m o s n o s o c io s o s e v a g a b u n d o s , c la s s e d e
in d iv íd u o s em que s e r e c r u ta m ta n to s d e lin q ü e n te s e que
s ã o o s v e r d a d e ir o s d iv u lg a d o r e s d o ja r g ã o . D a m o s e x e m p lo s
d e a lu s õ e s ir ô n ic a s n a s q u a is a m e n te não f o i g u ia d a p e la
a n a lo g ia d o s o m , m a s d a r e la ç ã o d e id é ia s .
11. C ausa: c o n ta to
12. C ausa: tr a d iç ã o
M a s , q u a n ta in f lu ê n c ia te m a tr a d iç ã o , tr a n s m itid a de
s é c u lo e m s é c u lo ; b a s ta r ia p a r a d e m o n s tr a r a s c u r io s a s p a la -
, v ra s bem a n tig a s , e n c o n tr a d a s no ja r g ã o , com o " a r to n " ,
L
L
" le n z a " , e tc . a q u e a c e n a m o s p o u c o a tr á s e a s a lu s õ e s a f a to s
h is tó r ic o s quase e s q u e c id o s . A s tr ê s lo c u ç õ e s : "passer em
lu n e te " ( p a s s a r p e la lu a ) , " f a ir e u m tr o u à la lu n e " (fa z e r u m
179
D, Bastos
_.
'<0'",;'
:l~
180
1'1;1<">"
1.<'1~:<
D, Bastos I
•
'"~il
t:
porque são selvagens, vivendo no m eio da florescente civili-
zação européia. A dotam , então, com o os selvagens, freqüen-
tem ente a onom atopéia, o autom atism o, a personificação dos
objetos abstratos. E vem em m inha ajuda nisso as belas pala-
vras de B iondelli:
181
<'
D, Bastos
A lg u m a p a rte d o ja rg ã o é u s a d a , a in d a h o je , n o s p ro s tí-
b u lo s : b a s ta ria re c o rd a r a fre q ü ê n c ia d e p a la v ra s q u e a lu d e m
a c o ito . A p ró p ria p ro s titu iç ã o d e a lto b o rd o d e P a ris te m
u m a e s p é c ie d e ja rg ã o , c o m o " c o c o te " = g a lin h a , d e s ig n a n d o
u m a p ro s titu ta o u m u lh e r p o r d e m a is lib e ra l. " P e re D o u illa rd
é o m a n te n e d o r d e u m a m u lh e r (c o ro n e l); " p is te u r" (c o rre to r
d e h o té is ) é o hom em q u e s e g u e a m u lh e r p e la v id a .
];< 15, D e m e n te s
-
',t,'
N o s d e m e n te s n ã o s e e n c o n tra u m ja rg ã o , m a s a c ria ç ã o
.'
-~.
fre q ü e n te
causa,
d e p a la v ra s
é e s p e c ia l p a ra
p o r h o m o fo n ia
e le s . E a q u i m e
e p a la v ra s
a p ra z c ita r
novas, sem
a lg u m a s
:;: n o ta s de um o b se rv a d o r, q u e , m a lg ra d o não s e ja a lie n is ta ,
v iu m a is lo n g e q u e m u ito s a lie n is ta s . A lin g u a g e m b u rle s c a
d á m u ita s v e z e s u m a id é ia s e m n e x o a p a re n te . P o d e -s e d iz e r
que há fa lta de nexo? N ão! O d e m e n te vê na sua fé rv id a
im a g in a ç ã o c e rta s re la ç õ e s d e id é ia s que escapam de nós,
ta lv e z p o r s e re m m u ito lig e ira s , fu g a z e s , lo n g ín q u a s . L e m b ro -
m e d e u m jo v e m fra n c ê s a fe ta d o p e la d e m ê n c ia , p a ra q u e m
a fa m ília tin h a dado um a io e v ig ila n te s a c e rd o te de nom e
T a rd y , q u e o jo v e m n ã o a p re c ia v a , p o r o u tro la d o , u m ó tim o
e re s p e itá v e l hom em . A p ó s a lg u m te m p o , o jo v e m passou a
cham ar seu p re c e p to r com o nom e d e " V ic ia tu s " sem que
n in g u é m p u d e sse c o m p re e n d e r q u e n e x o p o d e ria h a v e r e n tre .,
e s s e v o c á b u lo
la tin o -fra n c ê s
la tin o
d o irm ã o
e a a u s te ra
A p ó s a lg u n s a n o s , c o n s e g u ira m
d o jo v e m
pessoa a quem e ra a p lic a d o .
d e s c o b rir q u e n u m d ic io n á rio
d e m e n te , a p a la v ra " v i-
i
:••,1
~
182 I.
D, Bastos
II
E a in d a a lin g u a g e m d e le s o p ro v a , c o m a a b u n d â n c ia
d a s m e tá fo ra s , c o m o s o u s a d o s tra s la d o s , c o m a s s e q ü ê n c ia s d a s
h o m o fo n ia s , jo g o d e p a la v ra s , tro c a d ilh o s , com um liris m o
d e id é ia s e m q u e a ra z ã o d e q u e m fria m e n te o e x a m in e , s e v a i
p e rd e n d o . A fra s e " te r a s id é ia s d e s c o o rd e n a d a s " , e u fe m is m o
d a lín g u a v u lg a r p a ra in d ic a r o e s ta d o m e n ta l d o d e m e n te , é
m u ita s v e z e s a p lic á v e l ta m b é m a o d e lin q ü e n te .
i
1 ;t.
••>¥.
~.
II
.~~~ 183
D, Bastos
,.
"1~,
" 'I;~
-.;;.~
~
~
•••
g'
•••
D, Bastos
15. A S S O C IA Ç Ã O PARA O M AL
E s s a a s s o c ia ç ã o p a ra o m al é um d o s fe n ô m e n o s m a is
im p o rta n te s do tris te m undo do c rim e , não s6 p o rq u e no
m a l s e v e rific a a g ra n d e p o tê n c ia d a a s s o c ia ç ã o , m a s p o rq u e
d a u n iã o d e s s a s a lm a s p e rv e rs a s b ro ta um fe rm e n to m a lig n o
que fa z re s s a lta r a s te n d ê n c ia s s e lv a g e n s . E s s a s te n d ê n c ia s ,
re fo rç a d a s por um a e s p é c ie d e d is c ip lin a e p e la v a id a d e do
d e lito , im p e le a u m a a tro c id a d e q u e re p u g n a ria à m a io r p a rte
d o s in d iv íd u o s is o la d o s .
C om o s e ria n a tu ra l, ta is s o d a líc io s se fo rm a m m a is
a m iú d e onde abundam o s m a lfe ito re s , com a im p o rta n te ex-
ceção de que e le s re fre ia m a te n a c id a d e e a c ru e ld a d e em
c e rto s p a ís e s , tra n s fo rm a n d o -o s em a s s o c ia ç õ e s e q u ív o c a s ,
, p o lític a s o u m e rc a n tis . O o b je tiv o d a s a s s o c ia ç õ e s m a ld o s a s
~;
~ é quase se m p re o de a p ro p ria r-s e do a lh e io , a s s o c ia n d o -s e
~
: 185
•
D, Bastos
,.
com bom núm ero de pessoas exatam ente para fazer frente à
defesa legal.
3. O rganização
II
dos dem ais, e todos têm afilhados externos ou protetores em
~>
1
caso de perigo. ;/
~.. '
186
D, Bastos
4. C am orra
I
~.
'
nais. M ais do que todas essas, as dos prisioneiros, que eram o
m ais aproveitado provento; bastava entrar um na prisão,
187
D, Bastos
O c ó d ig o d e le s n ã o e r a f o r m u la d o nem e s c r ito , m as
n e m p o r is s o d e ix a v a d e s e r s e g u id o m in u c io s a m e n te . O con-
denado não p o d ia m a ta r um c o le g a sem a p e r m is s ã o do
" c a p o " . N ã o p o d ia r e la c io n a r - s e c o m a p o líc ia . E r a c o n d e n a d o
à m o r te quem tr a ís s e a " s o c ie d a d e " o u ro u b a sse o u m a ta s s e
se m o rd e m d o s c h e f e s o u q u e v io la s s e a m u lh e r d e le s . T a m -
b é m m o r r ia q u e m r e c e b e s s e o r d e m d e m a ta r e n ã o a c u m p r ia .
5 . Máfia
A M á f ia é u m a v a r ia n te d a C a m o rra , c o m m a is in te n s i'
d a d e n o s e g r e d o e in c id ê n c ia e m c la s s e s m a is s u p e r io r e s . A tu a
m a is f o r a d a s p r is õ e s e e m n ív e is m a is e le v a d o s . O s m a f io s o s
u s a m lin g u a g e m h e r m é tic a e c o n c is a . F ie lm e n te s e g u e m to d o s
a s r e g r a s d o s e u c ó d ig o , a n ô n im o , te r r iv e lm e n te o b e d e c id o ,
da "O M E R T Á", r e v e la d o p o r C r u d e li e M a g g io r a n i e que se
e x p r e s s a e m c e r to s d ita d o s p o p u la r e s , com o "a quem nega o
pão, você nega a v id a " . O s a r tig o s p r in c ip a is desse c ó d ig o
s ã o : a b s o lu to s ilê n c io s o b r e o s d e lito s c o m e tid o s p o r o u tr e m ,
a o b r ig a ç ã o d e p r e s ta r f a ls o te s te m u n h o p a ra c o n f u n d ir a
J u s tiç a , o p o r-se à p o líc ia p a r a f a z e r a p a g a r o s tr a ç o s , andar
a rm a d o , tr a v a r d u e lo a q u a lq u e r p r e te x to , r e a g ir à to d a
o f e n s a . D e v e r ia a ju d a r c a d a ir m ã o m a f io s o a r e a g ir à s o f e n s a s
e a ju d a r o s q u e c a ís s e m n a s m ã o s d a J u s tiç a e fo rm a r um
p e c ú lio p a r a c u s te a r a d e f e s a d e le s .
£
A e n tr a d a d e n o v o m e m b ro d a M á f ia o b e d e c ia a um .~".
j:i..,:_c •
r itu a l. N o p e r ío d o d e in ic ia ç ã o e ra c h a m a d o d e "c o m p a re "
g
(c o m p a d re ) n u m a s e s s ã o e s p e c ia l d a " a s s e m b lé ia d o s s ó c io s " .
.~.
...I~,
188 -~ -
":'.;. .•. y
- - - - - - - _ .~ ~
~ --~ . - -
I
D, Bastos
A lg u m a s d e s s a s o r g a n iz a ç õ e s , b a se a n d o -se n a s in g u la r
te n a c id a d e r itu a l e n a te n d ê n c ia c a v a lh e ir e s c a , o u n o c o lo r id o
p o lític o o u r e lig io s o q u e a lg u m a s v e z e s a s s u m ia m p o d e r ia m
la n ç a r d ú v id a s s o b r e s u a n a tu r e z a e s s e n c ia lm e n te c r im in o s a .
É f a to p a te n te q u e e la s m o s tr a r a m a lg u n s la m p e jo s d e g e n e r o -
s id a d e , c o m o p o r e x e m p lo , c o m o s p r is io n e ir o s p o lític o s , s o b
o G o v e rn o d o s B o u rb o n s. C o m o já v im o s , o f e r e c e r a m e f ic a z
p r o te ç ã o a o s m a is d é b e is , m a s e s s a p r o te ç ã o é c o m o u m v e r n iz ,
!
p a r a e n c o b r ir a s a ç õ e s m a ld o s a s , p a r a c o m b a te r a s le is r e p r e s -
I
s o r a s d o c r im e , s o b o m a n to d e c o m b a te r o G o v e rn o . E , r e a l-
I
I
m e n te , o s c a m o r r is ta s e m a f io s o s s e lig a r a m a o s r e v o lu c io n á -
r io s n o s te m p o s d o G o v e r n o d o s B o u rb o n s, e a o u tr o s m o v i.
;
m e n to s d e o p o s iç ã o . ,
P o r o u tr o la d o , o s m a is r e f in a d o s m a la n d r o s se m p re
II
tiv e r a m u m a c e r ta a u r é o la d e c a v a lh e ir is m o , u m p o u c o p e la
g e n e r o s id a d e q u e c o m u m e n te c a r a c te r iz a o hom em m uscu-
lo s o , u m p o u c o p e la n e c e s s id a d e d e te r a s im p a tia do povo
s im p le s , q u e lh e d á s o c o r r o e a b r ig o . N o f u n d o , a C a m o r r a e
a M á f ia s ã o v a r ia n te s d a m a la n d r a g e m v u lg a r . B a s ta d iz e r
q u e o s c a m o r r is ta s e o s m a f io s o s a p r e s e n ta m o s c a r a c te r e s
j
p r ó p r io s d o s d e lin q ü e n te s c o m u n s , c o m o p o r e x e m p lo , g o s -
g
.
ta m d e u s a r jó ia s e a n é is , v e s tir q u a s e q u e u m u n if o r m e , u s a m
189
y:
D, Bastos
a g ír ia p e c u lia r d e le s , c h a m a m d e ir m ã o s e u s c o le g a s d e d e lin -
q ü ê n c ia , b e ija m - s e e n tr e s i.
A C a m o rra e a M á f ia tê m s u a s e d e p r in c ip a l n a s p r is õ e s ,
c o m o a m a io r ia d o s d e lin q ü e n te s d o c r im e o r g a n iz a d o . E n tr e -
ta n to , e le s s e m o s tr a m im p la c á v e is p a r a c o m o s in im ig o s .
6 . C ó d ig o d o s c r im in o s o s
A in q u ie ta b a le la d e n o s s o s é c u lo p e n e tr o u n a s o r g a n i-
z a ç õ e s c r im in o s a s . P o r is s o , c r e io q u e s e o b s e r v o u em nosso
te m p o v e r d a d e ir o c ó d ig o e s c r ito num a q u a d r ilh a d e P a r is ;
e s s e c ó d ig o lim ita a 1 4 o n ú m e r o d e m e m b r o s e im p õ e c e r to s
m é to d o s o p e r a c io n a is n a p r á tic a d o s c r im e s , c o m o d e s e m b a -
ra ç a r d e ro u p a s q u e p o ssa m c o n s titu ir in d íc io s o u tr a ç o s d a
a ç ã o o u s a p a to s q u e r a n g e m , c a m in h a r p a r a tr á s p a r a ilu d ir a s
in v e s tig a ç õ e s , usar a p e lid o s ou nom es f a ls o s , n ã o d e ix a r
a n o ta ç õ e s d o p r ó p r io p u n h o , e v ita r a m a n te s d u r a d o u r a s , usar
l
, a r m a s s ó e m c a s o d e n e c e s s id a d e . A m a io r p a r te d a s in f r a ç õ e s
a e s s e c ó d ig o p o d e le v a r o in f r a to r à m o r te .
1
N a E spanha r e c e n te m e n te d e s c o b r iu - s e u m a e x te n s a
q u a d r ilh a com o nom e de M Ã O NEGRA, c o m p o s ta por
v is io n á r io s , q u e n ã o v ia m s o lu ç ã o p a r a a p o b r e z a s e n ã o nas
c a tá s tr o f e s s o c ia is . S e u c ó d ig o d e c la r a v a o o b je tiv o d e d e f e n -
d e r o s p o b r e s e o p r im id o s c o n tr a s e u s c a r r a s c o s e e x p lo r a d o r e s
d e s e u tr a b a lh o . P r o je ta m u m v e r n iz s o c ia l, b e n e f ic e n te , p o lí-
tic o - id e o ló g ic o , p a r a e n c o b r ir a s m a n if e s ta ç õ e s d e p e r v e r s i-
d a d e e b a ix e z a d e s u a s o p e r a ç õ e s . A a b e r tu r a d e s e u c ó d ig o
tr a z u m c o n s id e r a n d o f ilo s ó f ic o :
190
D, Bastos
c r a v o s e m s u a te r r a p e lo s r ic o s ; p o r is s o n ã o s e
p o d e rá nunca n u tr ir u m ó d io p r o f u n d o c o n tr a
to d o s o s p a r tid o s p o lític o s , to d o s ig u a lm e n te des-
p r e z ív e is . T o d a p r o p r ie d a d e c o n q u is ta d a com o
tr a b a lh o d e o u tr e m é ile g ítim a . A s o c ie d a d e de-
c la r a o s r ic o s f o r a d o s d ir e ito s h u m a n o s , e , p a ra
c o m b a tê - lo s , to d o s o s m e io s s ã o b o n s , s e m e x c e -
tu a r o f e r r o , o f o g o e n e m m e s m o a c a lú n ia " .
V in h a m e m s e g u id a o s v á r io s a r tig o s d o c ó d ig o , r e p e -
tin d o a s n o r m a s g e r a is d a M á f ia e d a C a m o r r a , p re sc re v e n d o
a o b r ig a ç ã o d e g u a r d a r s e g r e d o , d e c u m p r im e n to d o s e n c a rg o s
im p o s to s p e la M ã o N e g r a , s o b p e n a d e s e r c o n s id e r a d o tr a i-
d o r , n e g a r e m p ú b lic o q u a lq u e r lig a ç ã o c o m a M ã o N e g r a o u
s im p a tia c o m s u a c a u s a , p a s s a r p e lo n o v ic ia d o .
191
D, Bastos
;"~
,.~
"t
..i:;
':,~
,;;
"
~
I'
.'
r"
f.:
:'\
~.
, t.;!\
'- ," , ~
~ .:' -"'","';,X
,,~
'.~ ~
.-1 '''''''~~
~,j£
D, Bastos
E D E L IN Q Ü E N T E S NATOS
1 . J u sta s h e sita ç õ e s - 2 . E s t a t í s t i c a s d o s d e m e n te s m o ra is
3 . P e so - 4 . C râ n io - 5 . F isio n o m ia - 6 . In se n sib ilid a d e à d o r
7 . T a to - 8 . T a tu a g e m - 9 . R e a ç ã o e tílic a - 1 0 . A g ilid a d e
1 1 . S e x u a lid a d e - 1 2 . S e n so m o ra l - 1 3 . A fe tiv id a d e
~ 1 4 . A ltn d sm o - 1 5 . V a id a d e e x c e ssiv a - 1 6 . In te lig ê n c ia
1 7 . A stú c ia - 1 8 . P re g u iç a - 1 9 . A tiv id a d e d o e n tia
2 0 . P re te n sõ e s d e d ife re n ç a s - 2 1 . P re m e d ita ç ã o - 2 2 . E sp írito
d e a sso c ia ç ã o - 2 3 . V a id a d e d o d e lito - 2 4 . S im u la ç ã o
2 5 . S in to m a to lo g ia d a d e m ê n c ia m o ra l n a s o u tra s
2 6 . H isto lo g ia p a to ló g ic a d a d e m ê n c i a m o ra l
2 7 . A h e re d ita rie d a d e n a d e m ê n c ia m o ra l
1 . J u s ta s h e s ita ç õ e s
A n te s de passar a o e s tu d o do d e lin q ü e n te -d e m e n te ,
d e v e m o s c o m e ç a r a tra ta r, o u m e lh o r, e x c lu ir d e s s a c la s s e o d e -
\' lin q ü e n te m o ra l,
d e lin q ü e n te -n a to .
d o q u a l já h a v ía m o s
S o b re o p rim e iro ,
tra ta d o
o nosso
a o e s tu d a r
le ito r ou o ho-
o
~:
~;'f~
~, 193
£~
D, Bastos
194
_ ..~ "
.'c
D, Bastos
195
D, Bastos
3. P eso
E m 1 4 d e m e n te s m o ra is d e A v e rs a , 9 tin h a m c o n s titu i- I
ç ã o ro b u s ta e b o a n u triç ã o . V e rz e n i m e d ia 1 ,6 6 m . p e s a n d o
i
•
6 8 k ., C h ia p p in i
ro b u s to , e m b o ra
1 ,6 3 m . e 6 1 k ., o e s b irro d o L iv i e ra b e m
houvesse a lg u n s m a is frá g e is . S o b re 37
!
d e m e n te s m o ra is , 2 2 e ra m d e p e s o e ro b u s te z ig u a lo u m a io r
I
a o n o rm a l, c o m o e m m u ito s d e lin q ü e n te s . I
A c re s c e n te -s e q u e n o e s tu d o d o s e p ilé p tic o s h e re d itá - I
rio s , A m a d e i e n c o n tra e n tre o s s in a is d a d e m ê n c ia degene- I
ra tiv a e d a s h e re d itá ria s u m a u m e n to m a io r d e p e s o . P o r q u e I
n ã o s e e n c o n tra c o m p le ta m e n te o a u m e n to de. peso, que é
p re v a le n te , m a s n ã o g e ra l n o s c rim in o s o s , depende p ro v a -
v e lm e n te do pequeno n ú m e ro d o s c a s o s o b s e rv a d o s .
4 . C râ n io
Q u a n to à s m e d id a s d o c râ n io , e s ta m o s ta m b é m re d u z i-
dos a poucos c a s o s , q u e n ã o b a s ta m c e rta m e n te p a ra d a r-
n o s u m c rité rio s e g u ro p a ra a n a lo g ia . E m 1 4 d e m e n te s m o ra is
d e V irg ílio e n c o n tra m o s u m a c a p a c id a d e c râ n ic a d e 1 .4 5 0
n a s m u lh e re s , 1 .5 3 8 n o s h o m e n s , c o m o m á x im o d e 1 .6 9 3 e
m ín im o d e 1 .5 1 8 .J u s tific a re m o s a d ia n te e s ta fa lta d e a n a lo g ia ,
a q u e c o n trib u iu a in d a m a is q u e o p e s o a e s c a s s e z d e s s a s
m e d id a s . P o r o u tro la d o , C a m p a g n e te ria (e e u c re io e x a g e ro )
e n c o n tra d o 1 2 v e z e s e m 1 3 o c râ n io d im in u íd o e e s c o n d id o
o o c c ip ita l n o s d e m e n te s m o ra is . K ra fft- E b b in g e L e g ra n d d e
S a u lle fa la m d a fre q ü e n te m ic ro e n c e fa lia . É u m fa to d e s e
n o ta r q u e o s m ic ro e n c é fa lo s to rn a d o s a d u lto s , m a is a in d a
q u e a p e rd a d a in te lig ê n c ia , m o s tra m a p e rv e rs ã o d o s a fe to s
d o s e n s o m o ra l.
É fre q ü e n te m e n te g e ra l o a c o rd o d e n ã o a d m itir nos
d e m e n te s m o ra is a g ra n d e fre q ü ê n c ia d a s a n o m a lia s c râ n ic a s
e fis io g n o m ô n ic a s , q u e v im o s c a ra c te riz a d a s m u ita s v e z e s n o ",f'
J'
í:"'
.",_'t
196 z-
.~
~ I
••••••
D, Bastos
ré u n a to . A n te s M o re i, d e p o is L e g ra n d d e S a u lle e a g o ra
K ra fft-E b b in g , a p o n ta m a fre q ü ê n c ia e m m a c ro c é fa lo s de
fre q ü e n te s c ris ta s ó s s e a s d o c râ n io , d e c râ n io s m u ito a lo n -
g a d o s o u m u ito a rre d o n d a d o s , e n a s fa c e s a d e s p ro p o rç ã o '
e n tre a s d u a s m e ta d e s d a fa c e , lá b io s v o lu m o s o s , b o c a g ra n d e ,
d e n te s m a l c o n fo rm a d o s c o m p re c o c e c a íd a n a s fo rm a s m a is
g ra v e s , v o lta p a la tin a a s s im é tric a o u e s c o n d id a , re s trita ; a
c a m p a in h a da g a rg a n ta a lo n g a d a e b ífid a , a u m e n to e -.
d e s ig u a ld a d e d a s o re lh a s . T o d a s a n o m a lia s , e s p e c ia lm e n te
a s d o c râ n io , q u e te m o s e n c o n tra d o n o s c rim in o s o s .
S . F is io n o m ia
É n e c e s s á rio re c o rd a r q u a n to p a ra a fis io n o m ia dá
e x e m p lo o m ilita r, o p a d re , o s a c ris tã o , u m d a d o e n d e re ç o
c o n tin u a d o desde a p rim e ira in fâ n c ia em m e io a com pa-
n h e iro s d o m a l, q u e p la s m a a fa c e , o o lh a r, c o m u m s in a l
com um , d e c o rre n te d a c o n v iv ê n c ia p ro lo n g a d a e im p o s ta
197
~ i.
T_
D, Bastos
Insensibilidade à dor
198 -
~
;~
i~ "
D, Bastos
7. Tato
8. Tatuagem
9. Reação etílica
~~ 199
~"
D, Bastos
1 0 . A g ilid a d e
Em trê s d e m e n te s m o ra is n o te i a a g ilid a d e e x a g e ra d a
que em u m c a s o e ra v e rd a d e ira m a c a q u ic e , e fic a c o n fo rm e
o q u e n o ta m o s n o s c rim in o s o s , d o s q u a is tín h a m o s e s q u e c id o ,
m a s a g o ra re c o rd a m o s a s fa m o sa s e v a sõ e s d e S h e p p a rd e de
H a g g a rd .
1 1 . S e x u a lid a d e
A p re c o c id a d e d a p e rv e rsã o s e x u a l, o e x a g e ro s e g u id o
d a im p o tê n c ia , já tin h a m s id o n o ta d o s p o r K ra fft- E b b in g n o s
d e m e n te s m o ra is , c o m o p o r m im . E le s tê m a n o m a lia p a te n te
d o s in s tin to s , p rin c ip a lm e n te o s s e x u a is , fre q ü e n te m e n te p re -
m a tu ro s o u a n ti-n a tu ra is , o u p re c e d id o s d e a to s fe ro z e s , s a n -
g u in á rio s . N ó s , a lé m d e re c o rd a rm o s v á rio s c rim in o s o s , le m -
b ra m o s ta m b é m a p re c o c id a d e s e x u a l n o ta d a n o s la d rõ e s e o
e x a g e ro s e x u a l d o s a s s a s s in o s e a e s tra n h a e s c o lh a d o s e s tu -
p ra d o re s e d o s m e n in o s a n ô m a lo s .
12. S enso m o ra l
Q u a n to à ín d o le m o ra l, à a fe tiv id a d e , a a n a lo g ia , é in -
c o n te s te , e e u n ã o te n h o a e s c o lh e r s e n ã o a s d e s c riç õ e s d e ix a -
d a s p e lo s m a is e n c a rn iç a d o s a d v e rs á rio s d a m in h a e s c o la , p a ra
d e m o n s trá -la sem poder s e r ta c h a d o d e p a rc ia lid a d e . São,
e s c re v e K ra fft-E b b in g e S c h ü Ile r, u m a e s p é c ie d e id io ta s m o ra is
q u e n ã o p o d e m d ig n a r-s e a c o m p re e n d e r o s e n tim e n to m o ra l,
ou se por educação o d e v e sse m , e ssa c o m p re e n sã o d e te v e -s e
n a fo rm a te ó ric a s e m tra d u z ir-s e n a p rá tic a . S ã o d a ltô n ic o s ,
c e g o s m o ra is , p o rq u e a re tin a p s íq u ic a d e le s to rn a -s e in c a p a z
d e fo rm u la r ju íz o e s té tic o . D e o u tra p a rte , fa lta a e le s a fa c u l-
d a d e d e u tiliz a r n o ç õ e s d e e s té tic a , d e m o ra l, d e m o d o q u e o s
in s tin to s la te n te s n o fu n d o d ll-to d o h o m e m le v a m v a n ta g e m .
200
•
.• 0lIIiili.
D, Bastos
A s noções d e in te re s s e p e s s o a l d o ú til o u d o n o c iv o ,
d e d u z id o s d a ló g ic a p u ra , podem s e r n o rm a is ; vem daí um
frio e g o ís m o , q u e re n e g a o b e lo , o b o m , a a u s ê n c ia de am or
. filia l (n ~ c ;rd a m o s a q u e le a le m ã o que m a to u a m u lh e r e a
m ã e p a ra poupar a e la s a s d o re s d a d o e n ç a ), a in d ife re n ç a
p a ra com a in fe lic id a d e a lh e ia . S e e le s e n tra m em c o lis ã o
com a le i, e n tã o a in d ife re n ç a se m uda em ó d io , v in g a n ç a ,
fe ro c id :ld e , n a p e rsu a sã o d e e s ta r n o d ire ito d e fa z e r o m a l.
E le s tê m n o ç ã o d a c u lp a b ilid a d e e m c e rto s c a s o s d a d o s ,
m as é um a noção re a lm e n te a b s tra ta e quase m e c â n ic a da
le i. E le s fa la m d e o rd e m , ju s tiç a , m o ra lid a d e , re lig iã o , h o n ra ,
p a trio tis m o , fila n tro p ia (v o c á b u lo s p re fe rid o s d o v o c a b u lá rio
d e le s ), m a s o q u e lh e s fa lta é e x a ta m e n te o s e n tim e n to re la -
tiv o à q u e la s p a la v ra s . É n e s ta fa lta q u e s e e n c o n tra a e x p lic a -
ç ã o d e p e n s a m e n to s tã o e s tra n h o s e c o n tra d itó rio s so b re o s
m e s m o s fa to s e e s ta é a ra z ã o p e la q u a l e m v ã o s e te n ta con-
v e n c ê -lo s d e s e u s e rto s , d a im o ra lid a d e d e s e u s a to s , d o a b s u r-
d o d a s o p in iõ e s , a in ju s tiç a d e s u a s a m b iç õ e s .
Em sum a, n is to se e n c e rra o se g re d o p ro v o c a n te da
p e rp é tu a lu ta d e le s c o n tra a fa m ília e a s o c ie d a d e . S ã o in d iv í-
d u o s s u s c e tív e is d e u m a s u p e rfic ia l in s tru ç ã o in te le c tu a l, m as
d e c id id a m e n te re b e ld e a um a v e rd a d e ira educação m o ra l,
c u ja b a s e p re c íp u a é e x a ta m e n te a d o s e n tim e n to .
O s d e m e n te s m o ra is s ã o in fe liz e s c o m a d e m ê n c ia no
s a n g u e , c o n tra íd a n o a to d a c o n c e p ç ã o ; n u trid a n o s e io m a -
te rn o . F a lta m -lh e s o s e n tim e n to a fe tiv o e s e n s o m o ra l; n a s c e -
ra m p a ra c u ltiv a r o m a l e p a ra c o m e tê -lo . E s tã o se m p re em
g u e rra c o n tra a s o c ie d a d e , s ã o in d iv íd u o s q u e fre q ü e n te m e n te
fig u ra m nas a g ita ç õ e s p o lític a s . F a la n d o d o s d o is c a s o s d e
d e m e n te s , o s d o is tip o s s ã o d o ta d o s d e fe liz e p ro n ta m e m ó ria ,
de engenho a g u d o , d e m u ita s e v a riá v e is im a g in a ç õ e s ; to d o s
s ã o e g o ís ta s e c o m d e fic iê n c ia a b s o lu ta d e s e n tim e n to s a fe ti-
v o s . A s s im c o m o to d a s n o s s a s a ç õ e s s ã o re g u la d a s p e lo s s e n ti-
201
D, Bastos
m e n to s , e le s s e d e ix a m g u ia r u n ic a m e n te p e lo in s tin to , só se
p re o c u p a m c o m o p re s e n te , d e s p re z a n d o o fu tu ro .
202
.•.~
.
..~
D, Bastos
1 3 . A fe tiv id a d e
14. A ltru ís m o
V e rd a d e é n ã o ra ra m e n te , e m v e z d e e x c e s s iv o e g o ís m o ,
s e n o ta a ltru ís m o . H o lla n d e r conheceu u m a d e m e n te m o ra l
q u e te n to u o s u ic íd io a p ó s a m o rte d e u m a a m ig a . F a la ta m -
bém de um ra p a z q u e , m a lg ra d o u m a v id a d e o rg ia s e d e
v io lê n c ia d o e n tia , e ra e x c e le n te filh o e irm ã o .
L e g ra n d d e S a u lle n o s fa la d e u m a m ã e q u e , c o m p re -
te x to d e p re s e rv a r o filh o d a s ífilis o u d e o u tro m a l, e n c a m i-
n h a v a -o a a m o r c a rn a l d e fo rm a ra c io n a l, n o d iz e r d e la . U m
p a c ie n te m e u , c o m o p re te x to d e fa z e r s e u s filh o s e s tu d a re l1 1 ,
n ã o lh e s c o n c e d ia te m p o p a ra d o rm ir, n e m m e s m o q u a n d o
a d o e c e ra m . Q uando u m d e le s m o rre u , n ã o s e s u rp re e n d e u e
v o lto u e m b re v e a e s s a c ru e l e d u c a ç ã o .
203
D, Bastos
1 5 . V a id a d e e x c e ssiv a
1 6 . In te lig ê n c ia
Q u a n to à in te lig ê n c ia , c e rta m e n te n ã o é tã o a p a g a d a
c o m o o se n tim e n to e o a fe to . M a s, p e lo v ín c u lo que une
Ito
, d a s a s fu n ç õ e s p síq u ic a s, n ã o se p o d e d iz e r q u e se ja c o m p le -
ta m e n te sã . S e m u ito s p siq u ia tra s e stã o d e a c o rd o , e sp e c ia l-
m e n te P ritc h a rd , P in e l, N ic o lso n , M a u d sle y , T o m a ssia , e m
e n c o n tra r n o s c rim in o so s u m a in te g rid a d e p e rfe ita , c o m e x -
c lu sã o n ã o a p e n a s d e a lu c in a ç õ e s e ilu sõ e s, m a s ta m b é m de
d e fe ito e d e so rd e m , m u ito s o u tro s, a o c o n trá rio , Z e lle , M a c -
204
~.
D, Bastos
205
D, Bastos j.
B a tta n o li d e sc re v e u m q u e e ra v e rd a d e iro p o e ta e L iv i
e m su a to sc a lin g u a g e m u m v e rd a d e iro filó so fo e p ic u rista .
A v e rig ü e i q u e e sta v a ju n to n a a p lic a ç ã o té c n ic a a m a is a lta
a v a lia ç ã o so c ia l e a o s g ra u s m a is e le v a d o s, m a lg ra d o so -
fre sse ta m b é m n a ju v e n tu d e , d e fre q ü e n te s fa se s d e a m n é -
sia , e u m a e stra n h a te n d ê n c ia a o su ic íd io , e m a is ta rd e fo sse
" J::Q lh id o a té c o m e rro s d e lin g u a g e m e d e m a n ia s d e p e rse -
g u iç ã o . P o r o u tro la d o , te n h o u m c a so d e in te lig ê n c ia tã o
d é b il, a p o n to d e a p ro x im a r-se d a im b e c ilid a d e , e m b o ra so u -
b e sse e sc re v e r b e m .
1 7 . A stú c ia
U m a ra z ã o p e la q u a l ta n to s sã o le v a d o s a a c re d ita r q u e
1..
e ste ja in ta c ta a in te lig ê n c ia d o d e m e n te m o ra l é p o rq u e to d o s
sã o a stu to s, h a b ilíssim o s n a p rá tic a d o s d e lito s e n a ju stific a -
tiv a d e le s. A ssim , a C a te rin a , d e S a le m i-P a c e n e g a d e im e -
"~ d ia to a te n ta tiv a d e c o rru p ç ã o e su b tra iu -se à p risã o , ju stifi-
t,.
=:;; c a n d o c o m o te m o r d e se r a g re d id a p e la s filh a s. A ssim ta m -
bém L .M . d e C a p e lli, te n d o v isto p a rtir d e u m a c a sa u m a
v iú v a q u e a a lu g a ra , o c u p o u -a c o m o su a , m a n d a n d o a se r-
v e n te v e n d e r o s m ó v e is e fu g iu , q u a n d o fo i d e sc o b e rta .
1 8 . P re g u iç a
N ã o fa lta a p re g u iç a p a ra o tra b a lh o n o s d e m e n te s m o-
ra is, e m c o n tra ste c o m a a tiv id a d e e x a g e ra d a n a s o rg ia s e n o
m a l, e x a ta m e n te c o m o n o s c rim in o so s n a to s. S e i d e u m q u e
p e rm a n e c ia a se m a n a in te ira n o le ito , m a s e ra c a p a z d e e sta r
1 0 d ia s e m b a ile s o u e m p a sse io s fo ra d e c a sa . O u tro a le g a v a
m il d o e n ç a s p a ra n ã o tra b a lh a r. E m g e ra l, d isse K ra fft-E b b in g ,
fa lta m -lh e s a tiv id a d e , e n e rg ia , q u a n d o n ã o se tra ta r d a sa tis-
fa ç ã o d e se u s d e se jo s im o ra is. O d e ia m o tra b a lh o h o n e sto .
A m e n d ic id a d e e a v a d ia ~ ín sã o a v o c a ç ã o d e le s.
206
D, Bastos
1 9 . A tiv id a d e d o e n tia
V e rd a d e é q u e S c h u le d isse se re m o s d e m e n te s m o ra is
e stra n h a m e n te e x c itá v e is, c o m o p e ro sid a d e e x c e ssiv a a lte r-
n a d a c o m in é rc ia e in d isc ip lin a , c o n tín u a in q u ie tu d e , in c o n -
te n ta b ilid a d e , a té h a v e r a tin g id o se u o b je tiv o e se tra n q ü ili-
z a m . D e p o is re to rn a m in q u ie to s, a tiv o s n a p ro fissã o a lg u m a s
v e z e s, m a s c o m o m e n in o s n a v id a : "E stà c a ra c te rístic a que
p a re c e c o n tra d itó ria m a s n ã o é to ta lm e n te , p o rq u e a p a re c e
n o s p rim e iro s p e río d o s d a v irilid a d e e fa lta e m m u ito s, e n c o n -
tra -se e m m u ito s g ra n d e s c rim in o so s, c o m o p o r e x e m p lo , L a -
c e n a ire , G a sp a ro n e , A lb e rti, q u e a tin g ira m fre q ü e n te m e n te
e le v a d a s p o siç õ e s so c ia is. A a tiv id a d e d e le s e x p lic a -se a p e n a s
n o m a l. E m fa m ília d iz K ra fft-E b b in g , a te n a c id a d e e m e la n -
c o lia d e le s sã o o te rro r d e se u s p a is. N a e sc o la , o e sfo rç o
d e le s p a ra se fa z e re m e x p u lsa r é d e e x tra o rd in á ria fin e z a .
S e se o c u p a m , lo g o se to rn a m la d rõ e s, re v é is a q u a lq u e r
d isc ip lin a , c o m o a q u a lq u e r tra b a lh o n o c á rc e re . M u ito s sã o
sim p le s d e e sp írito , fre q ü e n te m e n te a b su rd o s, e n e g lig e n c ia m
q u a lq u e r p ru d ê n c ia n o s a to s. M e n tiro so s, m as acabam por
a c re d ita r c o m o v e rd a d e iro tu d o q u e in v e n ta m . T u d o isto
a c o n te c e c o m o s la d rõ e s m e n o re s e a u m a b o a p a rte d o s d e -
m a is la d rõ e s.
2 0 . P re te n sõ e s d e d ife re n ç a s
207
D, Bastos
S c h u le e s c re v e q u e s ã o filh o s d e lo u c o s , c o m fre q ü e n te s
a n o m a lia s d o c râ n io , d o s e x o , d o p a la d a r, d a lín g u a , e x p o s to s
à irrita ç ã o d o s n e rv o s, s o n a m b u lis m o , c o n fu sõ e s, lo u c u ra s
p e rió d ic a s , h ip o c o n d ria , n a s p rim e ira s o c a s iõ e s , n a p u b e r-
dade, nas doenças g ra v e s . V e re m o s tu d o is s o n o s ré u s n a to s .
2 1 . P re m e d ita ç ã o
F a la -s e d a p re m e d ita ç ã o , d a d is s im u la ç ã o , d a a rte c o m
q u e o s v e rd a d e iro s c rim in o s o s s e e s c o n d e m e n q u a n to dem en-
te s m o ra is c o m e te ria m to d o m a le fíc io à s c la ra s , com o se
tiv e s s e m o d ire ito d e fa z ê -lo . A d ic io n a -s e q u e n ã o ra ra s v e z e s
o s d e m e n te s m o ra is , c o m o o s d e lin q ü e n te s c o m u n s p re p a ra m
o á lib i, p re m e d ita m o c rim e , c o m e te m -n o não p o r ím p e to
in e s p e ra d o , m a s p o r v in g a n ç a o u lu c ro , a s s o c ia n d o -s e fre -
q ü e n te m e n te c o m s e u s c o m p a rs a s . N o ta -s e q u e to d a s a s c o n -
fu s õ e s d o m a n ic õ m io nascem d o s a lie n a d o s , q u e in d u z e m os
o u tro s a o s m a le s , e n g a n a m -n o s e d e n u n c ia m o s s u p e rio re s e
s ã o s e m p re in c lin a d o s à s re b e liõ e s .
.-u . t'á.i:
D, Bastos
p o r e la p a ra a p ro je ta d a e x c u rs ã o . A s s im a c o n te c e u . E le n ã o
fo i re c o n h e c id o e quando e s ta v a p e rto d o S e n a te n to u d e rru -
b a r a c a rru a g e m n o rio ; s ó e n tã o a fa m ília s e d e u c o n ta do
lo g ro , e o d o id o fo i e n v ia d o p a ra o m a n ic ô m io .
U m c e rto d e m e n te , n o q u a l p re v a le c ia a id é ia d e riq u e -
z a e v a le n tia , e a to s d e v io lê n c ia , u m d ia , d e p o is d e s im u la r
c o m p le ta tra n q ü ilid a d e , a n te s d e e sc u re c e r, pede p a ra ser
d e ix a d o um pouco d e te m p o n o q u a rte irã o a n te s d e e n tra r
n o a p o s e n to . A p ro v e ito u a o c a s iã o p a ra fa z e r u m p a c o te de
s u a s ro u p a s e a g a s a lh o s , q u e d e ix a fo ra d o p ró p rio a p o s e n to .
E s p e ra q u e v e n h a o g u a rd a d a ro n d a e d iz q u e lá e s ta v a p a ra d o
p a ra c a u s a r-lh e m edo. A vançou um p a s s o e lh e v ib ro u um
fo rte g o lp e c o m u m a b a c ia , d e rru b a n d o -o p a ra le v a r a s c h a v e s
e fu g ir. C o n fe s s o u d e p o is , c o m a m á x im a in d ife re n ç a , a p re -
m e d ita ç ã o , e c o n to u c o m o n a q u e le d ia tin h a a c e rta d o com
o u tro a lie n a d o q u e já te n ta ra a fu g a o u tra v e z . E la m e n ta v a -
s e d e n ã o te r p o d id o p ra tic a r o h o m ic íd io .
2 2 . E s p írito d e a s s o c ia ç ã o
E s te é u m fa to o c o rrid o n o m a n ic ô m io d e M a rs e lh a
1 0 a n o s a trá s , em q u e d o is d e m e n te s p ro g ra m a ra m m a ta r
o s s e rv e n te s , a p o ssa r-se d a s c h a v e s e fu g ire m . E s s e fa to b a s -
ta ria p a ra m o s tra r a p o s s ib ilid a d e q u e n ã o s ó o s d e m e n te s
m o ra is , m a s ta m b é m o s d e m e n te s com uns s e a c e rta m e n tre
e le s , e c o n s p ira m c o m o o s e n c a rc e ra d o s, e n o s re v e la m a in d a
q u a n ta te n a c id a d e v in g a tiv a re p o u sa n e le s , ta n to q u a n to
n o s d e lin q ü e n te s .
;
"
209
:<
..
D, Bastos
2 3 . V aid ad e d o d elito
I'~
210 J'<
I. :r
~
D, Bastos
2 4 . S im u lação
-
:'''"...
212
\~
D, Bastos
~ 213
D, Bastos
214
li
D, Bastos
215
1-
D, Bastos
fo i p ro v o c a d a , com o a c o n te c e a a lg u m a s doenças m e n ta is ,
por causas p s íq u ic a s e m v e z d e fís ic a s , m a s o s e fe ito s s ã o o s
m esm os. E v id e n te m e n te , a d e m ê n c ia m o ra l s e v a i c o n c a te -
nando c o m u m g ru p o d e c rim in o s o s , ta m b é m e sse s se m g ra n -
d e s a n o m a lia s : o u p o r p a ix ã o o u p o r o c a s iã o .
216
D, Bastos
- - ~
.. ------ .-
- - -...~ - - _..
_ - - - - _ .- - - - ':::" ~ - ._ - = - ..- - - :::: O : : : - ': : ': - : : = : - '- ': - : ~ c '-
~
17. FORÇA IR R E S IS T ÍV E L N O IN T IM O
1 . F o rç a irre s is tív e l
217
D, Bastos
, A s s im , a s m a is le v e s c a u s a s d e ó d io c o n tra a lg u é m
a s c e r n e le s im p u ls o s irre s is tív e is d e m a ta r seu desa-
e s ta lh e v ir a o s lá b io s u m a fó rm u la d e in s u lto , s e n te -
10 a re p e ti-la c e n te n a s de vezes.
m a m b o s , e s c re v e o p a d re B a tta n o li, fa la n d o de seus
'n e n te s m o ra is , re v e la -s e u m e s fo rç o p a ra re fre a r e a
n c ia p a ra c o n s e g u ir c o n tro lá -lo s . F a lta m a e le s p re v i-
c' p ru d ê n c ia . O s c o n s e lh o s , a s a d v e rtê n c ia s , o s c a s tig o s
,,-s e in ú te is a e le s .
','!o c ê o b s e rv o u o F ra n c is c o ? T o d a s a s p e rip é c ia s passa-
'ja s a s d ific u ld a d e s e n c o n tra d a s p a ra s a ir, s e is a n o s d e
, ~ 'o , o s c o n s e lh o s e a s o ra ç õ e s d a d o s a n te s d a p a rtid a ,
" n e s s a s , o s p ro te s to s q u e lh e fiz e ra m , v a le ra m p a ra q u ê ?
'--e s m o d ia e m q u e s a iu d o m a n ic ô m io , fo i re c la m a r e
" a r b rig a p o r u m b o rd ã o d e n e n h u m v a lo r. E o n d e ? N o
, h o s p ita l d o q u a l fo i e n v ia d o a S ã o S é rv u lo .
)e tu d o is s o s e e n te n d e q u e s e a fo rm a im p u ls iv a n ã o é
,r s ó a o s d e m e n te s m o ra is , o c e rto é q u e n ã o s e p o d e d iz e r
\ fa lta a e le s . É n a tu ra l p o rq u e o s m io lo s s ã o p re d is p o s to s
_i n u triç ã o d e s d e o n a s c im e n to , e d e p o is n e le s s e ra d ic a e
u m a d a q u e la s m il te n d ê n c ia s m ó rb id a s q u e s e m a n ife s ta m
,s e to d o s n ó s n u m a h o ra m á d o d ia , e s p e c ia lm e n te n a in fâ n -
~ d e s g a s ta m n a s b o a s tê m p e ra s e s o b u m a b o a e d u c a ç ã o .
1E rá rio ,p e rm a n e c e m q u a n d o s ã o fa v o re c id a s p e lo o rg a n is -
d o a b a n d o n o , o u e x p lo d e m n e c e s s a ria m e n te e m in d iv í-
,1 u e c a la m to d o s o s s e n tim e n to s a ltru ís ta s . S ã o v iv o s e
5, e m q u e n ã o h á o u tra fo rç a q u e d e te rm in e a ç ã o d ife re n -
'e s , to d o s o s m o tiv o s irp .p e le m a o m a l e n e n h u m ao bem .
I
I ••
D, Bastos
D e p o is , a u m a s é rie re p e tid a d e s s e s a c e s s o s , a ju n ta -s e
o h á b ito d o p ró p rio a to . A s s im é q u e n a a p a rê n c ia , fa lta a
p ro p o rc io n a lid a d e e n tre a c a u s a e o e fe ito e h á a ç õ e s q u e à
p rim e ira v is ta n ã o p a re c e m depender d e u m m o tiv o . E is a q u i
e x p liG a d a s 'a q u e la s ' e s tra n h a s 'te n d ê n c ia s " o b s c e n a s ;" p a ra d o - ,-_ o . ----' • • =
x a is , q u e v im o s s u rg ir n a in fâ n c ia e m in d iv íd u o s p re d is p o s to s
p e la h e re d ita rie d a d e , te n d ê n c ia q u e , a in d a q u e à p rim e ira
v is ta " is o la d a s e s e m le s õ e s d e o u tra s fu n ç õ e s a 'fe tiv a s n ã o
p o d e ria m c o n s titu ir-s e sem u m s u b s tra to d e s e n s ib ilid a d e
p e rv e rtid a .
T a m b é m a q u i s e e n c o n tra , e n tã o , c o m o n o s o u tro s d e -
m e n te s m o ra is u m a h e re d ita rie d a d e e m la rg a e s c a la d e a lie -
n a ç õ e s e d e v íc io s , u m a p re c o c id a d e s e x u a l a c im a d a m é d ia ,
q u e p re d is p u n h a o o rg a n is m o n o p rim e iro a c id e n te à g e rm i-
nação d a id é ia fix a q u e a p e n a s o c a s o d e te rm in a , ou se, ao
c o n trá rio , c rim in o s a , m o n s tru o s a , c o m o a d e V e rz e n i, L e g ie r,
e tc . A a n a lo g ia é ta n to m a is c la ra d e s d e q u e m u ito s d e le s , p o r
e x e m p lo , a g a ro ta m a s tu rb a d o ra , re fe rid a p o r E s q u iro l, já tin h a
im p u ls o s o b s c e n o s ju n to c o m o s c rim in o s o s , c o m o o fu rto .
O s e rro s d a a fe tiv id a d e n ã o s e re v e la m p o rq u e e s tã o
n o m e io d a p e n u m b ra d a e n o rm id a d e d o s fa to s im p u ls iv o s ,
q u e , c re s c e n d o d e fo rm a d e s p ro p o rc io n a l à c a u s a , fa z e m e s -
q u e c e r o g e rm e d e q u e s e o rig in a m o u p o rq u e re a lm e n te se
c o n c e n tra m s ó e m u m a d a d a d ire ç ã o , a p a re c e n d o n o rm a l
e m o u tra .
A s s im , c o m o V e rz e n i e c o m a S a c c a m a n te c a s to d a a
p e rd a d a a fe tiv id a d e s e m a n ife s ta p o r p e río d o s , e n o b á rb a ro
m o d o d e e s tra n g u la m e n to fe m in il, m a s a a p a tia q u e m o s tra -
ra m a p ó s o d e lito , p e lo s p a is , p e la v ítim a , e p e lo p ró p rio s u -
p líc io , m o s tra q u e a a fe tiv id a d e e ra le v a d a fo ra d a s te n d ê n c ia s
e s p e c ia is q u e o s im p e lira m a o c rim e .
N ã o é , e m s u m a , a n ã o s e r q u e s tã o d e g ra u , q u e s tã o d e
a c id e n te d e d ire ç ã o a u m a d a d a c o rre n te , a n te s q u e e m o u tra
219
D, Bastos
d ire ç ã o , m a s o fu n d o é se m p re n e u ro ló g ic o ; é se m p re u m a
p a ra d a d o d e se n v o lv im e n to d e a lg u m a s fa c u ld a d e s que pe~-
m anecem n o e sta d o in fa n til; e , c o m o n a in fâ n c ia , se tra n sfo r-
m am su tilm e n te e m a ç ã o , se m q u e se p o n h a u m fre io d o
ra c io c ín io e a p re v id ê n c ia d e p o ssív e is d e sg ra ç a s e o h o rro r
d o o fe n d id o se n so m o ra l.
3 . O u tro s e x e m p lo s d e c rim in o so s
220
•••
D, Bastos
N a c a sa d e d e te n ç ã o d e M ilã o , h á p o u c o s m e se s fo i
m o rto u m c a rc e re iro tã o d ó c il q u e n ã o e ra o d ia d o p o r n e -
nhum d o s se u s e n c a rc e ra d o s. In te rro g a d o o h o m ic id a so b re
o m ó v e l d e se u d e lito , d isse q u e n ã o tin h a ó d io c o n tra su a
v ítim a , m a s q u e se n tia n e c e ssid a d e d e m a ta r a lg u é m , e te ria
ta m b é m m a ta d o o d ire to r d o p re síd io se o tiv e sse e n c o n tra d o .
E ra u m a ssa lta n te c o m u m , filh o d e u m m a lfe ito r.
221
D, Bastos
E a d ia n ta : " C r e io a s s im q u e a J u s tiç a m e f a r ia u m f a v o r
s e m e d e ix a s s e p a r a s e m p r e n o c á r c e r e e m q u e m e e n c o n rro ,
d a n d o -m e um a ocupação q u a lq u e r . N ã o h a v e n d o m a is h o n r a ,
n a p r is ã o e s ta r ia m e lh o r d o q u e n o s e io d a c o m u n id a d e . O
s u s te n to q u e m e d ã o é u m p o u c o e s c a s s o , m a s o a c h o ó tim o .
A s d u a s c o b e r ta s e o c o lc h ã o d e p a lh a m e g a r a n te m um sono
tr a n q ü ilo . A s o lid ã ( ) m e a g r a d a . T endo o ç o ra ç ã o fe c h a d o
a o s a f e to s , n a d a m a is a n s e io d o q u e o r e p ~ u s o " .
A lg u m a c o is a p o d e d is tin g u ir o e s ta d o d e â n im o d e s s e s
in d iv íd u o s , q u e s ã o v e r d a d e ir o s c r im in o s o s , d o e s ta d o d e â n i-
m o d o s d e m e n te s m o r a is , a ta c a d o d e te n d ê n c ia s in s tin tiv a s
ir r e f r e á v e is ?
. P ie r o tin h a o c a p r ic h o d e r o u b a r to d o s o s o r n a m e n to s
d a s s e p u ltu r a s , a té lá p id e s q u e su p e ra v a m su a s fo rç a s. E s-
p a lh a v a o s o b je to s r o u b a d o s ju n to a o s a m ig o s . E r a o p r im e ir o
a p ô r o s o u tr o s s o b r e a s p is ta s d o p r ó p r io f u r to . E n in g u é m o
ju lg a v a u m a lie n a d o .
D o n V ic e n te d e A r a g o n a , a p ó s a a b o liç ã o d a s c o r p o r a -
ç õ e s , m o n to u u m a liv r a r ia . V e n d ia liv r o s p o u c o p r e c io s o s , m a s
" n â o s e d e s f a z ia d o s r a r o s . E m u m le ilã o ju d ic iá r io , u m c e r to P a s -
to t p ô d e , s u p e r a n d o - o n a o f e r ta , c o m p r a r u m liv r o q u e e r a c a r ís -
s im o . P o u c o s d ia s d e p o is , P a s to t e s u a c a s a e s ta v a m e m c h a m a s .
D a li a a lg u n s m e s e s , o ito c a d á v e r e s f o r a m e n c o n tr a d o s n a ru a ;
e ra m e s tu d a n te s abonados e tin h a m d in h e ir o n o b o ls o . D o n
V ic e n te f o i p r e s o ; d e c la r o u q u e s e u s liv r o s p r e d ile to s n ã o p o d e -
r ia m f ic a r d is p e r s o s , m a s r e c o lh id o s n a B ib lio te c a d e B a r c e lo n a .
C o n f e s s o u te r s id o in d u z id o p o r P a s to t p a r a le v a r - lh e u m liv r o
e e x p o r tá - lo , e tê - lo e s tr a n g u la d o e p o s to f o g o n a c a s a d e le .
N um o u tr o d ia , u m c o m p r a d o r q u is a d q u ir ir u m a p r im e ir a
e d iç ã o d a s m a is p r e c io s a s ; e le p r o c u r o u d is s u a d i- lo , m a s o o u tr o
I.
in s is tiu e p a g o u o q u a n to f o i p e d id o . A r r e p e n d e u - s e d e r e p e n te
e f o i a tr á s d o c o m p r a d o r p a r a q u e lh e d e v o lv e s s e o liv r o m a s
e s te r e c u s o u ; m a to u - o a p ó s 1 1 led a r a a b s o lv iç ã o " in e x tr e m is " .
222
',;-L
- - -- ~ -~ ------- -- --- ~ - - - - - - _ . - - - _ .~ .- - - - - - - -
D, Bastos
A s s im a c o n te c e u c o m o s o u tr o s s e is , m a s p o r b o a in te n -
ç ã o . E le q u e r ia e n r iq u e c e r a c iê n c ia , c o n s e r v a n d o - lh e te s o u -
r o s . S e e u f iz m a l, f a ç a m d e m im o q u e q u is e r e m , m as não
. d iv id a m o s m e u s liv r o s . N ã o é ju s to p u n i- lo s p o r m im . E a o
p r e s id e n te q u e lh e p e r g u n to u c o m o p ô d e a te n ta r c o n tr a c r ia -
tu r a s d e D e u s : " O s h o m e n s s ã o m o r ta is ; o s liv r o s p r e c is a m
se r c o n se rv a d o s p o is s ã o a g ló r ia d e D e u s " . E n ã o la m e n to u
sua condenação à m o r te ; s 6 la m e n to u s a b e r q u e o e x e m p la r
q u e e le a c r e d ita v a s e r ú n ic o n ã o o e r a ( D e s p in e ) .
E m E s tr a s b u r g o , f o r a m e n c o n tr a d o s a s s a s s in a d o s d o is
in d iv íd u o s , sem que se soubesse a ra z ã o ; p re so p o u c o s a n o s
d e p o is o a b a d e T r e p .k , c o n f e s s o u tê - lo s m a ta d o s ó p e lo p r a z e r
d e v ê - lo s m o r r e r . Q u a n d o e r a r a p a z tin h a le v a d o d o is m e n in o s
a o b o sq u e ; e n fo rc o u -o s e o s q u e im o u . Foi condenado ( G a ll) . \.
T o d o s e s s e s in d iv íd u o s a q u i r e f e r id o s fo ra m c o n d e n a -
dos, m as quem n ã o v ê n e s s e s c a s o s q u e o d e lito s e c o n f u n d ia
c o m o f o r m a im p u ls iv a d o s d e m e n te s m o r a is ?
4 . L iv r e - a r b ítr io
N a s p e s s o a s s ã s é liv r e a v o n ta d e , c o m o d iz a m e ta f ís ic a ,
m a s o s a to s s ã o d e te r m in a d o s p o r m o tiv o s q u e c o n tr a s ta m
c o m o b e m - e s ta r s o c ia l. Q u a n d o s u r g e m , s ã o m a is o u m e n o s
f r e a d o s p o r o u tr o s m o tiv o s , c o m o o p r a z e r d o lo u v o r , o te m o r
da sanção, d a in f â m ia , d a I g r e ja , o u d a h e r e d ita r ie d a d e , ou
d e p r u d e n te s h á b ito s im p o s to s p o r u m a g in á s tic a m e n ta l c o n -
tin u a d a , m o tiv o q u e n ã o v a le m m a is n o s d e m e n te s m o r a is
o u n o s d e lin q ü e n te s n a to s , q u e lo g o c a e m n a r e in c id ê n c ia .
223