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ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina

MONITORAMENTO AMBIENTAL EM ATERRO SANITÁRIO UTILIZANDO A FAUNA


COMO INDICADOR ECOLÓGICO

Cabral, Sílvia R.de T.

PRÓXIMA

Realização:

ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável


NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP
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MONITORAMENTO AMBIENTAL EM ATERRO SANITÁRIO


UTILIZANDO A FAUNA SILVESTRE COMO INDICADOR
ECOLÓGICO
CABRAL, Sílvia R. de T.(1)

RESUMO

O presente trabalho visa o monitoramento ambiental do aterro sanitário Quitaúna,


localizado no município de Guarulhos – SP; utilizando a fauna silvestre com indicador
ecológico. Partindo de um completo Levantamento-Base, elaborado com o apoio técnico
de pesquisadores de diversas universidades (UMC, UNITAU, UFES); correlacionando
biodiversidade, reprodução e alterações comportamentais do elemento fauna durante o
funcionamento do aterro sanitário.
São apresentados alguns parâmetros para o monitoramento da qualidade ambiental do
sítio e entorno imediato, baseados nos princípios de Ecologia Industrial – um novo
conceito que considera as interações dos sistemas industriais com todos os demais
sistemas presentes no ambiente nos quais, estes estão inseridos.

PALAVRAS-CHAVE

Monitoramento ambiental; Aterro sanitário; Indicador ecológico; Ecologia industrial.

(1)
Engenheira agrônoma, lato sensu em Solos e Meio Ambiente; professora de Avaliação de impacto
ambiental e Gestão de unidades de conservação do campus Mogi da Universidade de Mogi das Cruzes;
Perita e Consultora Ambiental; tel./fax (11)46542317. E-mail: toledocabral@uol.com.br

1. INTRODUÇÃO

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De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelp), em


termos de custo/benefício, os aterros sanitários são a melhor forma de destinação;
devendo ser considerados como parte da indústria de disposição de lixo. Partindo deste
princípio, considera-se que o diferencial competitivo (principalmente na área ambiental)
é requisito básico desejável em qualquer empresa.
Neste sentido, surge a necessidade da aplicabilidade dos conceitos de Ecologia
industrial – que considera as interações dos sistemas industriais com todos os demais
sistemas presentes no ambiente nos quais estes estão inseridos.
O conceito de ecologia industrial considera que a vida se sustenta sobre um complexo
sistema de diversos processos interdependentes com características cíclicas, sendo
essas que garantem a renovação e a sustentabilidade de todos os recursos da natureza.
Assim, a atividade econômica industrial deve estar sintonizada com o ritmo de vida dos
ecossistemas naturais para também se tornar sustentável.
O presente programa de monitoramento ambiental utilizando dados sobre a fauna
silvestre, encaixa-se perfeitamente nos conceitos de Ecologia industrial, pois co-
relaciona biodiversidade, reprodução e alterações comportamentais do elemento fauna
com as atividades do aterro sanitário; através de levantamentos qualitativos e
quantitativos semestrais, durante o período de dois anos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O referido aterro situa-se no sítio das pedreiras, bairro Cabuçú, Guarulhos, região
Metropolitana de São Paulo, nas proximidades do Parque Estadual da Serra da
Cantareira. No perímetro do aterro sanitário existem 5 classes de uso do solo: a)
reflorestamento de eucalipto, fragmentos de mata isolados, vegetação herbácea, área
de implantação do aterro e área antrópica (englobando construções civis, acessos e
jardim). Em linhas gerais, o monitoramento ambiental utilizando a fauna silvestre partiu
de um completo Levantamento Base, incluindo dados de diferentes fontes secundárias
e primárias obtidas em uma série de trabalhos de campo. Desta forma, realizaram-se
estudos na área do empreendimento em diferentes escalas, e diferentes níveis de
informação e integrando várias áreas de estudo (temas). Pontos de amostras, foram
escolhidos pelos membros das 4 equipes (aves, mamíferos, répteis e anfíbios), com
base na experiência profissional de cada um, cuja somatória orientou a escolha dos
sítios mais representativos dos ambientes na área estudada.
Primeiramente foi revisado o material do Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo, e consultados os seguintes autores: Marques (1998), Negreiros et al (1974),
Heyer et al (1990), Frost (1985) e Duellman & Trueb (1986).
O levantamento Base, assim como os levantamentos semestrais destinados ao
monitoramento foram divididos em 4 campanhas (aves, mamíferos, répteis e anfíbios);
com dias e horários específicos para cada grupo animal. Totalizando aproximadamente
92 horas de observações diretas e indiretas em cada levantamento.Os locais de
amostragem - de cada espécie -, foram fielmente cartografados em mapa da
propriedade, visando o monitoramento ambiental adequado.
O levantamento de aves ocorreu em 3 períodos: a) das 6:00 às 10:00 (horário em que
as aves saem avidamente em busca de alimentos, após um longo período sem se
alimentarem; b) das 17:00 às 19:00 (horário em que as aves buscam alimentos para

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armazenamento, e c) das 22:30 as 23:30 (para observação de aves noturnas, como


corujas e curiangos). O levantamento de anfíbios anuros ocorreu no período
compreendido entre 15:30 às 23:30 horas. O levantamento de répteis ocorreu das
11:00 às 14:30 horas, por tratar-se de animais pecilotermos. O levantamento de
mamíferos ocorreu em dois períodos: a) das 6:00 às 8:30 (para observação de pegadas
ou rastros e verificação de áreas de alimentação de caxinguelês e outros mamíferos
com atividade diurna), b) das 17:00 às 24:00 horas (para o levantamento específico de
mamíferos alados – morcegos)
Para o registro das espécies de anfíbios anuros (sapos e pererecas) foram utilizados 3
métodos: a) Animal Focal (MARTIN & BATESON, 1986; b) Zoofonia (HEYER, et al.
1990); c) Registro fotográfico de todas as espécies.
O Animal Focal consiste na observação visual dos animais localizados através do
método Busca Ativa. A Zoofonia é o método que consiste na localização e identificação
dos espécimes através da audição. No presente trabalho, as vocalizações de anúncio
das espécies foram registradas sob condições naturais em campo, com gravador Sony
TCM – S64V e TCM – 353V acoplados a microfones externos Leson cardióides (MK –
36). As gravações foram realizadas em fitas cassete normal (60 minutos). As análises
foram realizadas em micro-computador, utilizando-se o programa editor de som
CoolEdit 2000 (Syntryllium Software Corporation), com freqüência de amostragem de
20.000 Hertz. Foi feito o registro fotográfico de todas as espécies, utilizando máquina
fotográfica Nikon FM 10, com lente 35-80 mm, acoplada a close-up (+2). Todos os
exemplares catalogados no aterro Quitaúna foram ilustrados. Durante o período de
coleta (noturno) utilizou-se lanterna elétrica manual para localização dos espécimes. Os
exemplares encontrados no local foram capturados, examinados em suas
características morfológicas (para identificação) e em seguida devolvidos ao local de
captura. Apenas três exemplares(Eleuterodactylus juipoca, Eleuterodactylus guetheri e
Adenomera marmorata); foram coletados e transportados até o laboratório de Zoologia
da Universidade de Taubaté para realização de uma identificação mais detalhada
(Licença IBAMA / RAN 076/03). Para a identificação das espécies foram utilizadas as
seguintes referências bibliográficas: LUTZ (1973), HEYER et al (1990), HADDAD (1992)
e KWET & DI-BERNARDO (1999).

O estudo da fauna herpetológica (répteis e cobras) foi realizado em dias quentes. Para
a identificação foi utilizado: um guia de campo e uma chave de identificação de
serpentes e lacertílios. O método utilizado foi: Busca Ativa, que consiste na exploração
de todos os ambientes da propriedade (macro e micro - ambientes). Isso se faz
revirando pedras e troncos caídos, folhiços no chão (serapilheira), observando o interior
de buracos no chão ou em árvores, interior de bromélias e até mesmo a parte superior
das árvores como os galhos e folhas. Os equipamentos utilizados na campanha
foram:a) perneiras de couro; b) manufaturado de cabo de madeira e uma peça metálica
em formato de “L” inserida numa das extremidades. Este gancho é responsável pelo
manuseio dos animais, em se tratando de serpentes. Já no caso de lagartos ou
quelônios o manejo se dá manualmente. Pode-se usar também uma caixa de madeira
para o acondicionamento e transporte dos animais.

Os métodos de amostragem de aves foram os seguintes: a) de observação direta:


Censo Geral, Identificação Auditiva, Identificação Visual e Trajetos Lineares. b) de

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observação indireta: Registro de Vestígios, Iscas e Entrevistas. O material bibliográfico


utilizado na identificação da avifauna foi baseado nas publicações de SCHAUENSEE &
PHELPS JR (1978), FRISH (1981) SICK (1997) e HÖFLING & CAMARGO (1999). A
nomenclatura científica e ordem taxonômica estão de acordo com SICK (1997), que
segue a disposição proposta por SCHAUENSEE (1966), a respeito da seqüência das
famílias, dos gêneros e das espécies. O método General Census (Censo Geral)
consiste em andar lentamente através da área de interesse, identificando as espécies
observadas, procurando atingir todas as partes que compõem a área. Foram ouvidos
cantos, pios, chamadas de alerta e outras formas de vocalização da fauna, sendo que
os sons foram identificados posteriormente em estúdio, através de comparações. Neste
tipo de identificação, foram consultados gravações realizadas por VIELLIARD (Cantos de
Aves do Brasil e Guia Sonoro das Aves do Brasil), FRISH (Aves Brasileiras, 5 volume) e
GONZAGA & CASTIGLIONI (Aves das montanhas do Sudeste do Brasil). Foram
utilizados em campo 2 binóculos 8x25x25 e guias de campo com as aves já
catalogadas por FRISH (1981) e SICK (1997). O registro fotográfico foi realizado
utilizando-se uma câmera Cannon EOS 3000 N e lentes de 35-80 mm e 90-300mm.

Três diferentes tipos de coleta de dados foram utilizados no levantamento de


mamíferos: a) Entrevista; b). Observação; c). Coleta. O método de observação incluindo
escuta, foi de suprema importância para avaliar e amostrar a mastofauna. Foram
realizados vários tipos diferentes observação: a) Direta durante o período diurno
utilizando-se de binóculos de aumento de 10 vezes; buscas por indícios, tais como
pegadas e buracos no solo, ou outros sinais como fezes e/ou carreiros nos dois
fragmentos de mata, frutas mordidas e/ou vegetação cortada por pastoreio, e possíveis
orifícios em troncos deixados por sagüis. No período noturno, com o auxílio de
lanternas, procurou-se observar o brilho dos olhos dos animais. b) áreas de
alimentação (Rudran et al., 1996) No aterro Quitaúna, a equipe observou apenas duas
espécies nativas em frutificação: jerivá (Syagrus romanzoffiana) e araçá (Psidium
guayava).; c) Ceva com amendoim, fubá, sardinha e banana e d) Utilização de detector
de sons de morcegos (Bat Detector III da Stag Eletronics Inc.). e gravação de sons com
mini-gravador da Panasonic. d) Dois tipos de armadilhas foram utilizados: redes de
neblina para amostrar morcegos, e armadilhas Sherman, para amostrar pequenos
mamíferos. Para o registro fotográfico foram utilizadas duas câmeras fotográficas: a)
câmera Cannon EOS 3000 N e lentes de 35-80 mm e 90-300mm. b) Deer cam (câmera
automática com sensor de calor): Olympus lens 29 mm, infinity XB.

3. RESULTADOS

Tabela 1: listagem das espécies de aves amostradas no Levantamento Base


Família / Sub- Nome científico Nome comum
família
Hiruninidae Notiochelidon c. cyanoleuca Andorinha-pequena-de-casa
Cathartidae Coragyps atratus Urubú-de-cabeça-preta
Falconidae Polyborus p. plancus Carcará
Milvago chimachima Carrapateiro
Thraupidae Tangara c. cayana Saíra-amarela

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Thraupis c. sayaca Sanhaço-cinzento


Conirostrum speciosum Sebinho-de-crisso-castanho ou
figuinha-de-rabo-castanho
Tachyphonus coronatus Tié-preto
Picidae Picumnus cirratus Pica-pau-anão-barrado
Colaptes c. campestris Pica-pau-do-campo
Celeus f. flavescens Pica-pau-da-cabeça-amarela ou João-
velho
Musicapidae Turdus r. rufiventris Sabiá-laranjeira
Turdinae
Mimus saturnirus Sabiá-do-campo
Turdus amaurochalinus Sabiá-poca
Cuculidae Crotophaga ani Anu-preto
Guira-guira Anu-branco
Emberizidae Molothrus b. bonariensis Chopim
Icterinae
Emberizidae Zonotrichia capensis Tico-tico
Emberizinae subtorquata
Volatinia jacarina Tiziu
Emberizidae Geothypsis aequinoctialis Piá-cobra
Parulinae
Emberizidae Coereba flaveola Cambacica
Coerebinae
Vireonidae Cyclarhis gujanensis Pitiguari
ochrocephala
Strigidae Speotyto cunicularia grallaria Buraqueira
Estrildidae Estrilda astrid Bico-de-lacre
Tyrannidae Pitangus sulphuratus Bem-te-vi
Tyranninae Tyrannus melancholicus Suiriri
Tyrannus savana Tesourinha ou tesoura
Myiarchus tyrannulus Maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado
Charadriidae Vanellus chilensis Quero-quero
Anatidae Dendrocygna viduata Irerê
Troglodytidae Troglodytes aedon musculus Cambaxirra ou corruíra
Columbidae Columba picazuro Asa-branca ou pombão
Columbina minuta Rolinha-de-asa-canela
Leptotila verreauxi decipiens Juriti
Columbina t. talpacoti Rolinha-caldo-de-feijão
Columba livia domestica Pombo-doméstico
Accipitridae Rupornis magnirostris Gavião-carijó
Ardeidae Butorides s. striatus Socozinho
Egretta thula Garça-branca-pequena
Casmerodius albus Garça-branca
Psittacidae Aratinga leucophtalmus Periquitão-maracanã
Caprimulgidae Nyctidromus albicollis Curiango

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Trochilidae Phaethornis eurynome Rabo-branco-da-mata ou beija-flor-de-


garganta-rajada
Colibri serrirostris Beija-flor-de-orelha-violeta
Fringilidae Carduelis magellanicus Pintassilgo
Carduelinae
Ramphastidae Ramphastos dicolorus Tucano-do-bico-verde
Furnariidae Synallaxis spixi João-tenenem
Synallaxinae

Tabela 2: listagem das espécies de anfíbios anuros amostrados no Levantamento Base


para o monitoramento do aterro Quitaúna.

Tabela 3 listagem das espécies de répteis amostrados no Levantamento Base para o

Família Espécie método de Observações da


amostragem coleta
Hylidae Hyla albopunctata Vocalização / 20 exemplares
Animal Focal
Hyla leucopygia Audição do Um único exemplar
canto
(zoofonia)
Hyla prasina Vocalização / 14 exemplares em
Animal Focal
Hyla faber zoofonia e Dois exemplares
vocalização
Animal Focal
Leptodactylidae Physalaemus cuvieri Zoofonia Três exemplares
Eleutherodactylus guentheri, Vocalização / Um macho e demais
Animal Focal e indivíduos
coleta
Eleutherodactylus juipoca Vocalização / 20 exemplares
Animal Focal
Adenomera marmorata, Vocalização/ Mais de 50
Steindachner, 1867. Animal Focal exemplares
monitoramento do aterro Quitaúna.
Espécie Nome comum Método de amostragem
Hemidactylus mabouia lagartixa-de-parede Visual
Ameiva ameiva Lagartinho Visual
Tupinambis sp Teiú Visual

Tabela 4: listagem das espécies de mamíferos amostrados no Levantamento Base para


o monitoramento do aterro Quitaúna.
Família Espécie (nome científico e Método de Observações da
comum) amostragem coleta

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Didelphidae Didelphis sp (gambá) Pegada. Análise Um único indivíduo


de vestígios jovem
Phyllostomidae Artibeus lituratus (morcego) Captura. Rede de 3 indivíduos 2
neblina machos e 1 fêmea
lactante
Sturnira lilium (morcego) Captura. Rede de 1 fêmea pós-
neblina lactante
Myotis nigricans (morcego) Captura. Rede de 2 fêmeas lactantes.
neblina
Carollia perspicillata Captura. Rede de 1 macho adulto
neblina
Sciuridae Sciurus aestuans (caxinguelê) Visual. 2 casais.
Observação
direta
Muridae tribo Akodon montensis Captura. Um macho adulto
akodonti Armadilha
Sherman

4. DISCUSSÃO

Através do levantamento Base foram amostradas 65 espécies de animais silvestres na


área do aterro sanitário Quitaúna, através de evidências diretas e indiretas. Sendo 47
aves, 7 mamíferos, 8 anfíbios e 3 répteis. Em linhas gerais, dados de variabilidade anual
da biodiversidade são indicadores de qualidade ambiental, mas 4 espécies foram
consideradas Bio-indicadoras, pois estão relacionadas com ambientes mais
preservados: Carollia perspicillata (morcego), Adenomera marmorata, Eleutherodactylus
guentheri e Eleutherodactylus juipoca (anfíbios anuros). Sendo que esta ultima merece
destaque devido à verificação de uma razoável população no aterro.
Durante os trabalhos de campo foi levantado um total de 47 espécies de aves no
levantamento base; diversidade relativamente baixa, se considerarmos que o local
situa-se a poucos kilômetros da Serra da Cantareira. Não obstante, na região onde está
localizado o aterro, situam-se empreendimentos que desfavorecem a permanência da
avifauna, tais como outros aterros sanitários e pedreira.O ruído constante das máquinas
(caminhões e tratores) e explosões da pedreira (empreendimento ao lado da área
estudada) prejudica a comunicação entre as aves, que tendem a migrar para áreas
menos antropizadas na região. Um dos fatores que pode estar afetando a composição
avifaunística é que no perímetro da área estudada, há apenas dois fragmentos
florestais pequenos e isolados, em meio ao aterro de resíduos sanitários propriamente
dito. Sendo que constatamos apenas duas espécies nativas que produzem frutos em
abundância e bastante apreciados pela fauna em geral: araçá (Psidium sp) e jerivá
(Syagrus sp). Há também o fato de que no perímetro estudado há grandes áreas com
plantio de eucalipto, e que devido ao fenômeno denominado Alelopatia, pode estar
havendo o afugentamento dos animais para áreas com florestas nativas na Serra da
Cantareira.
Das espécies catalogadas na área apenas 3 efetivamente são favorecidas pelo plantio
de Eucalipto, que abrange parte da área estudada: Polyborus plancus (carcará) e

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Celeus flavescens (joão-velho), que nidificam no alto de árvores velhas de eucalipto. E


a espécie Thraupis sayaca (sanhaço), que se alimenta também de flores de eucalipto.
Três espécies efetivamente foram observadas em maior número na área estudada:
Polyborus plancus (carcará), Coragypes atratus (urubu-de-cabeça-preta) e.
Notiochelidon cyanoleuca (andorinha-pequena-de-casa) - o que indica que tais
espécies são favorecidas pela atividade em si.
No caso em tela, existem dois fragmentos de mata separados pela área de implantação
do aterro; fato que traz conseqüências à comunidade de aves modificando sua
composição e estrutura. O tamanho dos fragmentos é insuficiente para comportar
populações viáveis, ocorrendo o que chamamos de extinções locais. Outro fator a ser
considerado diz respeito ao grau de isolamento destas “ilhas”. Quanto maior é o
isolamento menor são as chances de ocorrer imigração e colonização, destes por
outras fontes. Ambos os fatores compõem a dinâmica destas transformações.
Contribuindo para o agravamento do quadro, estes fragmentos sofrem ainda pressões
dos ambientes que o cercam, fenômeno chamado de “efeito de borda”. Todos estes
fenômenos concorrem juntos para a simplificação ambiental, afetando, obviamente, os
organismos que dele dependem. Conforme WILLIS (1979), as espécies típicas de interior
de mata, principalmente as especialistas, decrescem quanto mais intensas forem as
alterações. As espécies que primeiro sentem as modificações ambientais são as do
topo da cadeia alimentar, as de grande porte e as especialistas.

Com relação aos mamíferos, dos pequenos, apenas um indivíduo Akodon montensis
(rato-silvestre) foi capturado com as armadilhas Sherman durante o levantamento base
e demais levantamentos, provavelmente por haver presença de recursos naturais
abundantes, o que faz com que o sucesso de captura utilizando iscas artificiais seja
marcadamente reduzido. Nenhum primata foi encontrado na área nos dias de
amostragem. Os morcegos estão se alimentando na área ou próximo dela, pois foram
observadas muitas sementes nas fezes concluindo um metabolismo rápido. Os
morcegos estão se reproduzindo sem problemas (fetos não são abortados e as fêmeas
estão lactantes). Constatamos um morcego Indicador de qualidade ambiental: C.
perspicillata, normalmente associado a áreas de floresta bem preservada. Foram
avistados dois casais de Sciurus aestuans (caxinguelê) alimentando-se de frutos de
jerivás (Syagrus sp) nos dois fragmentos de mata no interior da propriedade. Não
obstante, tais animais foram avistados antes do horário de funcionamento das
máquinas do aterro – o que comprova que o movimento das máquinas afeta este grupo
de animais.
Foi verificada apenas uma pegada de um indivíduo Didelphis sp (gambá) entre a área
de reflorestamento e o curso d’água. O tamanho da pegada indica ser um animal
jovem. Este resultado pode indicar que está havendo caça intensiva na região, pois
entre a população mais pobre é comum a inserção da carne de “saruê” nas refeições.

Com referência ao grupo répteis, de certa forma, o número de animais avistados foi
relativamente pequeno (três espécies de lagarto apenas), comparando-se ao potencial
da propriedade. Algumas causas podem estar relacionadas a isto: a) intervenção
antrópica muito intensa (transeuntes, caçadores); b) sazonalidades; c) pouco tempo
despendido na propriedade, já que o encontro com estes animais em campo é muito
fortuito.

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Com relação aos anfíbios, o ambiente amostrado apresenta importantes áreas de vida
para a fauna de anfíbios anuros. A existência de fragmento de mata com riachos em
seu interior, áreas alagadas e brejosas em área aberta são locais extremamente
importantes para a reprodução e desenvolvimento dos anfíbios anuros do local. A fauna
de anuros amostrada nesse levantamento não é significativa em termos de número de
espécies para a localidade, mas sim, em termos de quantidade de animais levantados
(mais de 110 indivíduos no levantamento base), se considerarmos que no local
desenvolve-se uma atividade de grande impacto ambiental. As espécies aqui
amostradas são comuns para o Estado de São Paulo, ocorrendo principalmente em
ambientes de área aberta. Entretanto, se deve chamar a atenção para as espécies
Adenomera marmorata e Eleutherodactylus juipoca e E. guentheri, pois estas possuem
hábitos de vida bastante especializados no que se refere aos seus modos de
reprodução. Como essas espécies dependem do tipo de substrato e da cobertura
vegetal para postura de seus ovos, quaisquer modificações em seu hábitat de vida
poderão levar essas espécies ao desaparecimento local. O que leva a incluí-los como
animais indicadores de qualidade ambiental.

5. CONCLUSÃO

Até o presente momento, os trabalhos referentes ao monitoramento do aterro Quitaúna,


utilizando-se dados da fauna silvestre com indicador de qualidade ambiental; vêm
demonstrando que o aterro afeta, em parte, a ecologia das espécies, principalmente
para o grupo aves (cuja biodiversidade foi considerada muito abaixo da esperada se
relacionada com levantamentos em áreas no entorno de grandes maciços florestais
como é o caso da Serra da Cantareira).
Não obstante, informações positivas com relação à preservação de ambientes, foram
extraídas até o ano 2004. Mamíferos alados e anfíbios anuros estão se reproduzindo na
área, com relativa eficiência. O que significa que os ambientes para estes grupos estão
sendo preservados
O grupo de maior interesse neste empreendimento e em qualquer outro aterro sanitário
– se utilizarmos os princípios de Ecologia Industrial - é Anfíbios anuros; pois, além do
grupo, por si só, representar qualidade ambiental do solo e da água; mais de uma
centena de exemplares, foi amostrada; dentre elas: espécies extremamente exigentes
como: Adenomera marmorata, Eleutherodactylus juipoca e E. guentheri.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, Hélio F. de Almeida; HÖFLING, Elizabeth; LENCIONI NETO, Frederico


Aves no Campus : Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira. São Paulo:
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 1993.
DUELLMAN, W. E. & TRUELB, L. 1986. Biology of anphibians. Mcgraw hill book
company, New York.
EMMONS, L. H. & FEER, F. 1997. Neotropical Rainforest Mammals, a Field Guide.
University of Chicago Press, 307 pg.
FROST, D. R. 2002. Anphibian species of the word: an on line reference. V2. 21.

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HADDAD, C. F. B. & SAZIMA, I. 1992. Anfíbios Anuros da Serra do Japi. Pp. 187-210.
In: História Natural da Serra do Japi: ecologia e preservação de uma área florestal no
sudeste do Brasil. Morelato, L. P.C. (org). Editora da Unicamp, Campinas. 321p.
HEYER, W. R.; RAND, A. S.; CRUZ, C.A.G.; PEIXOTO, O. L. & NELSON, C E. 1990.
Frogs of Boracéia. Arq. Zool., São Paulo, 31:231-410.
LUTZ, B. 1973. Brasilian species of Hyla. Univ. Texas Press. Austin. 260p.
RUDRAN, R.; KUNZ, T. H.; SOUTHWELL, C.; JARMAN, P.; SMITH, A. P. 1996.
Observational Techniques for Non-volant Mammals. In Measuring and Monitoring
Biological Diversity, Standard Methods for Mammals. Ed. Wilson et al. Smithsonian
Press, Washington DC, 409 pages.
SAZIMA, I. & CARDOSO, A. J. 1978. Uma nova espécie de Eleutherodactylus do
Sudeste do Brasil. Ver. Brasil. Biol., 38:921-925.
SICK, HELMUT. Birds in Brazil. Princeton University Press. 1993.
VOSS, R. S. and EMMONS, L. H. 1996. Mammalian Diversity in Neotropical Lowland
Rainforests: A Preliminary Assessment. Bulletin of the Américan Museum of Natural
History. N. 230.

ABSTRACT

The current project describes the environmental monitoring the wildlife as a quality
indicator. It was developed in Quitaúna sanitary landfill located in Guarulhos district, São
Paulo of state.
Data from a complete wild life inventory this work had a technical support from different
university teachers (UMC, UFES, UNITAU).
Parameters like biodiversity, reprodution and changing of comportment of the wildlife
were correlated to allow some kind of test during the sanitary landfill operation.

KEY WORDS

Environmental monitoring; sanitary landfill, ecological indicator; industrial ecology.

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