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Oecologia Australis

25(2):605–619, 2021
https://doi.org/10.4257/oeco.2021.2502.23

ECOLOGIA DE PEIXES DE RIACHOS INTERMITENTES

Bianca de Freitas Terra1, Elvio Sergio Figueredo Medeiros2, Jorge Iván Sánchez Botero3, José Luis
Costa Novaes4 & Carla Ferreira Rezende5
1
Universidade Estadual Vale do Acaraú, Centro de Ciências Agrárias e Biológicas, Laboratório de Ecologia de
Comunidades Aquáticas, Campus da Betânia, CEP 62040-370, Sobral, CE, Brasil.
2
Universidade Estadual da Paraíba, Departamento de Ciências Biológicas e Sociais Aplicadas, Grupo Ecologia de
Rios do Semiárido, Campus V. Av. Horácio Trajano de Oliveira, nº 666, Cristo Redentor, CEP 58070-450, João Pessoa,
PB, Brasil.
3
Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Departamento de Biologia, Laboratório de Ecologia Aquática e
Conservação, Campus do Pici, CEP 60440-900, Fortaleza, CE, Brasil.
4
Universidade Federal do Semi-Árido, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biociências,
Avenida Francisco Mota, nº 572, Bairro Costa e Silva, CEP 59625-900, Mossoró, RN, Brasil.
5
Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Departamento de Biologia, Laboratório de Ecossistemas
Aquáticos, Campus do Pici, CEP 60440-900, Fortaleza, CE, Brasil.

E-mails: bianca_freitas@uvanet.br (*autora correspondente); elviomedeiros@uepb.edu.br; jisbar@gmail.com; no-


vaes@ufersa.edu.br; carla.rezende@ufc.br

Resumo: A ecologia de peixes de riachos intermitentes da região semiárida brasileira é ainda pouco
conhecida, embora nos últimos vinte anos, o número de pesquisadores dedicados a esse tema venha
aumentando consideravelmente. No entanto, ainda existem expressivas lacunas quando os estudos em
riachos intermitentes são comparados aos que tratam de riachos perenes de outras regiões do Brasil.
Questões que abordem variações sazonais esbarram na determinação de métodos e técnicas de captura da
ictiofauna que sejam eficientes nas diferentes fases do ciclo hidrológico. Além disso, técnicas amplamente
difundidas em sistemas perenes, como a pesca elétrica, na maioria das vezes, não têm se mostrado eficazes.
Aspectos relacionados à biologia, fisiologia, comportamento, ecologia funcional e taxonômica dos peixes
ainda precisam ser investigados levando-se em consideração as variações sazonais e de escala espacial.
Diante da crescente transformação imposta à região semiárida brasileira pelo uso extensivo dos recursos
naturais e pelas mudanças climáticas, os ambientes aquáticos e sua biodiversidade estão ameaçados pela
transformação da vegetação ciliar, lançamento de resíduos, introdução de espécies, pela modificação do
seu curso e perenização artificial de muitos canais. Assim, neste artigo, apresentamos e discutimos os
estudos desenvolvidos sobre a ecologia de peixes nos riachos intermitentes da região semiárida brasileira
e as lacunas e os desafios a serem enfrentados pelas pesquisas futuras.

Palavras-chave: Caatinga; poças; região semiárida; rios temporários; ictiofauna.

INTERMITTENT STREAM FISH ECOLOGY: The ecology of fish from intermittent streams in the
Brazilian semi-arid region is still little known. In the past twenty years, the number of researchers
dedicated to this topic has increased considerably. However, significant gaps still exist when compared
to the perennial streams of other Brazilian regions. Questions that address seasonal variations come up
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against the determination of capture methods and techniques that are efficient in the different phases of
the hydrological cycle. In addition, techniques widely used in perennial systems, such as electrofishing,
in most cases, have not been effective. Aspects related to biology, physiology, behavior, functional, and
taxonomic ecology of fish still need to be investigated taking into account seasonal and spatial scale
variations. In view of the growing transformation imposed on the Brazilian semi-arid region by the
extensive use of natural resources and by climate change, aquatic environments and their biodiversity are
threatened by the transformation of riparian vegetation, the sewage release, the species introduction, the
modification of its course, and artificial perennialization. Thus, we will present and discuss, in this paper,
the studies developed on the ecology of fish in the intermittent streams of the Brazilian semi-arid region
and the gaps and challenges to be faced by future researches.

Keywords: Caatinga; pools; semiarid region; temporary rivers, ichthyofauna.

INTRODUÇÃO que esses animais sobrevivam à severidade da


seca. Os estudos realizados nos últimos vinte
O Brasil abriga grandes bacias hidrográficas e anos indicam que as comunidades de peixes
uma elevada diversidade de espécies de peixes dos riachos intermitentes na região semiárida
de água doce. Vinte por cento das espécies de brasileiro intercalam a resistência à seca com
peixes de água doce descritas em todo o mundo a resiliência para colonizarem os rios tão logo o
são encontradas no país (Lévêque et al. 2007, fluxo se restabelece (Medeiros & Maltchik 2001a;
ICMBio 2018). Embora sejam conhecidas algumas Medeiros & Maltchik 2001b). Nesse sentido, as
estratégias usadas pelos peixes para viverem poças remanescentes nos leitos dos rios que
nos riachos intermitentes, pouco se sabe sobre persistem até o período seguinte de chuva, bem
como se organizam e sobrevivem em ambientes como os açudes, que têm integrado a paisagem
como esses que variam entre correntes fortes em nos últimos 100 anos, servem de refúgio para os
fundos pedregosos, quedas d’água e remansos peixes durante o período da seca (Maltchick &
profundos. Nesses ambientes, a disponibilidade Medeiros 2006, Cardoso et al. 2012, Costa et al.
de água varia drasticamente ao longo do ciclo 2017).
hidrológico, podendo passar meses e até anos O avanço da Ecologia de riachos intermitentes
inteiros sem um fluxo de água contínuo em sua no Brasil tem seguido, ainda que de forma
superfície. Embora esses riachos intermitentes mais modesta, os avanços globais nesta área
ocupem grande parte da região Nordeste do país e do conhecimento. Novos grupos de pesquisa
estejam presentes em todos os biomas brasileiros têm se estabelecido e as redes de colaboração
(Nunes da Cunha & Junk 2011, Junior 2012, Renner têm trabalhado para responder questões
et al. 2017, Stegmann et al. 2019, Perez et al. 2020), teóricas e práticas na tentativa de elucidar e
estudos que consideram a ecologia de peixes nos direcionar as perguntas e o conhecimento sobre
riachos intermitentes brasileiros são recentes o funcionamento desses riachos e a diversidade
e concentrados em alguns estados. Estima-se de peixes que neles é encontrada. Embora ainda
que 91 espécies de peixes nativas ocorram nos tenhamos questões básicas a serem resolvidas
rios e riachos intermitentes da Caatinga Médio- como a própria definição de riacho intermitente
Oriental (CMO) (Lima et al. 2017), compreendendo e as particularidades da comunidade biótica
a maior parte dos ambientes lóticos intermitentes encontrada nesses rios, em especial a ictiofauna,
da região Nordeste do Brasil. Embora o é importante que essa área atraia novos
número de espécies endêmicas (203 espécies pesquisadores dispostos a fortalecer e divulgar
possivelmente endêmicas são encontradas nas a ecologia e conservação desses ambientes e
ecorregiões inseridas na Caatinga, das quais da ictiofauna associada. Diante do cenário de
41 espécies ocorrem na região Médio-Oriental) mudanças climáticas e exploração excessiva dos
seja considerado elevado por Lima et al. (2017), recursos naturais (e.g. desmatamento da vegetação
não são registradas estratégias específicas para ciliar e extração de água para a agricultura e

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consumo humano), espera-se um aumento da fluxo de água superficial mais longo durante o
área de cobertura de rios intermitentes pelo seu ciclo hidrológico, que pode durar semanas ou
planeta que hoje já é estimada em mais de 50% meses.
(Datry et al. 2014). Esse cenário tem impulsionado Na região semiárida brasileira e em outras
as pesquisas para compreender o funcionamento regiões áridas e semiáridas pelo mundo,
desses sistemas e os esforços para considerá-los encontramos tanto riachos efêmeros quanto
em programas de monitoramento e gestão de temporários (neste artigo agrupados como
ambientes aquáticos. riachos intermitentes). No entanto, dada
Neste artigo, apresentamos o conceito de a natureza dinâmica desses ambientes, a
riachos intermitentes do qual faremos uso, classificação pode variar de acordo com os
agrupando tipos específicos de rios encontrados modelos de precipitação da região, de modo que
na literatura, apresentamos um levantamento dos um curso d’água com características temporárias
estudos acerca da ecologia de peixes em riachos em um ano relativamente úmido, pode se tornar
intermitentes brasileiros nos últimos 23 anos e efêmero em um ano muito seco. A dinâmica
discutimos os principais desafios metodológicos natural desses sistemas associada a dificuldade
associados aos trabalhos de ecologia de peixes de se identificar a presença desses riachos
nesses sistemas. Concluímos apresentando as em épocas de seca prolongada, pois podem
principais ameaças à ictiofauna e os desafios permanecer secos, faz com que a classificação e
futuros para os estudos de ecologia de peixes em os estudo desses riachos seja um grande desafio
rios e riachos intermitentes da região semiárida para os pesquisadores.
brasileira. Maltchik & Medeiros (2006) propuseram uma
adaptação dos termos “rewetting”, “wet” e “drying”,
RIOS INTERMITENTES utilizados por Stanley & Fisher (1992) e Mathews
(1998) para rios intermitentes temperados, que
“Rio intermitente” é um termo genérico usado descrevem as principais fases do ciclo hidrológico
para representar ambientes lóticos (tanto rios em rios intermitentes e sua dinâmica hidrológica
quanto riachos) que periodicamente cessam seu em regiões secas tropicais. Nesse caso, o processo
fluxo superficial de água durante um período do estaria representado por três fases hidrológicas,
ciclo hidrológico (Datry et al. 2014), mas podem cada uma delas representando uma série de
manter fluxo de água subsuperficial mesmo diferentes desafios para a comunidade biótica.
quando não há vazão superficial detectável Na primeira fase, ou fase de re-inundação
(Zimmer & McGlynn 2017). Ou podem, ainda, (“rewetting”), no início do período chuvoso, os
apresentar vazão em alguns trechos ou afluentes primeiros fluxos de água superficial, e/ou cheias
enquanto outros não apresentam fluxo de água. rápidas (“flash floods”), começam a reaparecer em
Esses rios também podem extravasar para além do pequenos tributários e riachos após as primeiras
canal principal, para a zona para-fluvial, e embora precipitações. Havendo precipitação suficiente,
não seja comum, para uma planície de inundação um fluxo de água superficial contínuo se estabelece
(Stromberg et al. 2009). Desta forma, os rios ao longo da bacia hidrográfica, que pode durar
intermitentes são caracterizados por um período semanas ou meses dependendo da geomorfologia
do ciclo hidrológico com ausência total de fluxo de da bacia, padrões de precipitação e hierarquia
água superficial e outro onde há presença de fluxo dos rios. Esta seria a fase de cheia (“wet”). No
de água em alguns trechos ou ao longo de toda início da seca, ou fase secando (“drying”), ocorre a
a bacia hidrográfica (Figura 1). Nesse contexto, diminuição do fluxo superficial de água, e ênfase
esses sistemas foram categorizados como sendo no fluxo de água subsuperficial, e se observa o
efêmeros ou temporários (Bayly & Williams aparecimento das primeiras poças, o que leva a
1973, Towns 1985), sendo efêmeros aqueles que fragmentação dos ambientes aquáticos ao longo
apresentam fluxo de água superficial apenas após da bacia. Não havendo precipitação, ocorre a
uma precipitação não previsível, e comumente completa dessecação do leito do rio, restando
representam riachos de baixa hierarquia, apenas poças temporárias ou semipermanentes,
enquanto os rios temporários apresentam um que sustentam a diversidade aquática e demais

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Figura 1. Riacho Torrados, bacia do rio Mundaú em Itapipoca, Ceará. A) Rio completamente seco em
janeiro de 2015. B) mesmo rio com fluxo de água em março de 2015.
Figure 1. Torrados stream, Mundaú river basin in Itapipoca, Ceará. A) Completely dry river in January, 2015.
B) The same river with water flow in March, 2015.

processos ecológicos do sistema. atmosférica e localização nos trópicos. Dentre


Os riachos intermitentes estão distribuídos os componentes do clima semiárido brasileiro,
em diferentes regiões do mundo, e embora sejam a temperatura apresenta uma baixa amplitude
associados a áreas de pouca precipitação e alta de variação temporal, quando comparada a
evaporação, não estão restritos às regiões secas, outras regiões áridas e semiáridas, enquanto que
ocorrendo nos diferentes biomas terrestres e tipos a precipitação apresenta grandes oscilações e
climáticos. Os rios intermitentes de modo geral são distribuição irregular, com importantes períodos
ambientes abundantes e amplamente distribuídos de seca que variam de 1 a 11 meses (Moura &
sistemas aquáticos do planeta (Larned et al. 2010), Shukla 1981, Liu & Juárez 2001), de modo que estas
uma vez que se apresentam como os primeiros variáveis climáticas interferem significativamente
regos em pequenas bacias, até rios que fluem na hidrologia da região condicionando o regime
sazonalmente desconectados das porções mais intermitente dos seus rios (Steffan 1977).
altas das bacias (McDonough et al. 2011). O regime intermitente dos riachos da região
No Brasil, os riachos intermitentes podem ser semiárida brasileira é reconhecidamente sua
encontrados desde a Amazônia até os Pampas principal característica hidrológica, o que
(Renner et al. 2017, Stegmann et al. 2019), incluindo confere, a esses sistemas, uma importante quebra
outros biomas como a Mata Atlântica (Perez et na paisagem da Caatinga (vegetação xerófita
al. 2020), o Cerrado (Junior 2012) e o Pantanal e arbustivo-arbórea característica da região
(Nunes da Cunha & Junk 2011). Mas é na região de semiárida do Brasil) (Leal et al. 2005). Na maior
abrangência do clima semiárido, no nordeste do parte do tempo, esses riachos se apresentam como
Brasil, que esses sistemas são mais concentrados. cursos de água secos com sedimento arenoso
Segundo Steffan (1977) e a Superintendência de ou pedregoso, às vezes cobertos por seixos,
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE 2020), a com poças temporárias e semipermanentes
região Nordeste participa com 18% do total da área espalhadas ao longo do leito seco do rio (Carvalho
correspondente às bacias hidrográficas brasileiras, et al. 2013, Melo & Medeiros 2013). No início
colocando-se em terceiro lugar, apenas suplantada do período chuvoso, podem apresentar cheias
pelas regiões Norte e Centro-oeste, sendo a calha rápidas (“flash floods”) e/ou presença de fluxo de
principal do Rio São Francisco e parte das bacias água superficial apenas algumas horas após uma
costeiras as principais drenagens perenes nesta precipitação. Esses extremos hidrológicos criam
região. De acordo com Nimer (1977), o clima uma alta heterogeneidade espacial e temporal
semiárido brasileiro é um dos mais complexos e têm sido considerados como os principais
do mundo, devido ao seu sistema de circulação agentes estruturadores das comunidades

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aquáticas nos riachos intermitentes da região maior exposição de raios UVB, aumento da
semiárida brasileira, bem como força mediadora luminosidade e diminuição da transparência da
para manutenção da biodiversidade aquática e água, todas com causas negativas para a estrutura
dinâmica trófica (Medeiros & Maltchik 2001b, e dinâmica da ictiofauna (Pusey & Arthington
Maltchik & Florin 2002, Medeiros et al. 2010, Melo 2003, Casatti 2010, Teresa & Casatti 2010, Lobón-
& Medeiros 2013). Cerviá et al. 2016, Matthews & Marsh-Matthews
2017, Neves et al. 2018, Nimet et al. 2019, Dala-
Legislação brasileira Corte et al. 2020, Guidotti et al. 2020). Além disso, a
Apesar dos riachos intermitentes apresentarem redução da floresta ripária deixará desprotegidas
maior fragilidade ambiental quando comparados a as chamadas várzeas, áreas à margem dos cursos
riachos perenes (Maltchik 1990), não há nenhuma d’água que ficam inundadas durante as cheias,
legislação específica para esses ecossistemas. O provocando a perda de habitat (Marques et al.
Novo Código Florestal (NCF) publicado no dia 25 2010). Essas áreas são importantes sítios para
de maio de 2012 e aprovado como Lei n° 12.651 e alimentação e reprodução de algumas espécies de
posteriormente modificado pela Lei n° 12.727, e peixes (Casatti, 2010; Ilha et al. 2019).
que substituiu o Antigo Código Florestal (ACF) (Lei A segunda alteração no NCF excluiu a
n° 4.771, de 15 de setembro 1965) é o instrumento obrigatoriedade das APPs nos riachos efêmeros,
mais importante de proteção dos ecossistemas que são definidos, no NCF, como sendo corpos
de riachos, tanto perenes como intermitentes. d’águas lóticos que possuem escoamento
Porém, três alterações no NCF poderão ter superficial apenas durante ou imediatamente
impacto negativo direto sobre a ictiofauna dos após períodos de precipitação (BRASIL 2012).
riachos intermitentes. A primeira, diz respeito à Muitos riachos efêmeros são afluentes dos riachos
alteração na demarcação das áreas de Proteção temporários, sendo importante fonte de água
Permanentes (APP), conhecidas como floresta e matéria orgânica no período chuvoso, assim,
ripária. No NCF, a delimitação das APPs deve ser ausência de APP pode acarretar uma redução
feita a partir da borda da calha do leito regular, do transporte destes elementos para os riachos
diferentemente do ACF, que indicava o início da temporários, o que provocaria efeitos na teia trófica
faixa de APP a partir do leito hidrológico maior e na estrutura das assembleias de peixes (Castro et
do rio, que considerava a variação do regime al. 2018). Outro efeito negativo dessa alteração no
hidrológico do sistema hídrico durante o ano. NCF, é a possibilidade de classificação de forma
Alguns estudos comparando os critérios adotados equivocada ou proposital de riachos temporários
no NCF com o do ACF mostraram que a redução em riachos efêmeros de forma a evitar que seja
da APP pode alcançar entre 50% e 95,28% (Neto necessária a preservação obrigatória da APP. A
et al. 2015, Campagnolo et al. 2017), corroborando terceira modificação no NCF excluiu, também, a
com a ideia de que o NCF constitui uma ameaça obrigatoriedade das APPs nas nascentes de rios
à integridade dos riachos e, consequentemente, intermitentes. A ausência da cobertura vegetal
à ictiofauna. A importância da floresta ripária nessas áreas pode causar efeitos negativos na
para a integridade dos ecossistemas aquáticos ictiofauna, principalmente por: (i) reduzir o
é bem conhecida (Welcomme 1979, Vannote volume de água, com consequente aumento da
et al. 1980). A variação espacial e temporal da temperatura, afetando o metabolismo e ciclo de
composição da assembleia de peixes e seus vida dos peixes; (ii) degradação e desaparecimento
atributos, como: riqueza de espécies, abundância de habitat, redução do fluxo e volume da água; (iii)
e biomassa, têm forte relação com a quantidade e diminuição da conectividade entre ambientes
qualidade da floresta ripária (Matthews & Marsh- aquáticos, mantendo populações isoladas em
Matthews 2017). Outros efeitos também podem poças, impedindo a dispersão de indivíduos
ser observados com a remoção da vegetação e causando distúrbios nas metapopulações e
ripária, como: perda de habitat, alterações metacomunidades (Magalhães et al. 2012).
nas atividades metabólicas, variação diária da Outra ferramenta importante para proteção de
flutuação do oxigênio dissolvido, aumento de espécies no Brasil são as Unidades de Conservação
cianobactérias tóxicas; aumento da temperatura, (UC), que são áreas naturais relevantes, criadas e

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protegidas por lei com objetivos de conservação. intermitentes tem aumentado nos últimos anos na
Embora a criação das UCs em ambientes região semiárida em decorrência do crescimento
continentais tenha como objetivo principal a urbano, expansão da agropecuária e aumento do
conservação da fauna e flora terrestres, muitas consumo de água potável (Barbosa et al. 2012).
delas possuem inúmeros corpos d’água de vários Portanto, se estudos ecológicos que dimensionem
tamanhos, incluído riachos, que se tornam a importância das APPs para a integridade de
também protegidos (Agostinho et al. 2005). Com riachos temporários, suas nascentes e riachos
a proteção da vegetação terrestre dentro da UC, efêmeros não forem realizados com urgência,
a floresta ripária tende a se manter intacta ou a ictiofauna desses ecossistemas se encontrará
pouco alterada, o que mantém a integridade seriamente ameaçada diante da pressão
de rios e riachos, protegendo a diversidade da antropogênica crescente sobre esses ecossistemas.
ictiofauna como indicam estudos realizados no A região semiárida brasileira conta hoje com 40
Brasil e em outros países (Agostinho et al. 2005, UCs federais, além das estaduais e municipais, e
Karunarathna et al. 2017, Acreman et al., 2019, muitas possuem riachos temporários e efêmeros
Zolderdo et al. 2019). Por outro lado, outros estudos em suas áreas. Porém, ausência de estudos
questionam a eficácia das UCs para conservação básicos como, inventário da ictiofauna, dinâmica
da biodiversidade em ecossistemas dulcícolas de populações e comunidades e processos
e apontam falhas na conservação da fauna e ecossistêmicos, tais como teia alimentar, fluxo
flora aquáticas, com destaque para ictiofauna. de energia e matéria, não permite avaliar a
De fato, por proteger apenas um trecho dos rios eficácia dessa ferramenta para a conservação
e riachos, as UCs, muitas vezes, não apresentam da ictiofauna dos riachos intermitentes. Desta
condições adequadas para manter a dinâmica forma, é importante que ictiólogos da região, e
das populações de peixes. Por exemplo, UCs de outras regiões do Brasil, direcionem esforços
localizadas unicamente em topos de montanhas, para estudos taxonômicos e ecológicos nas UCs
excluem um amplo número de espécies nativas da região semiárida, para que discussões sobre
que ocorrem em outros trechos do rio e, em alguns conservação de peixes nessas áreas tenham bases
casos, apresentam amplo domínio de espécies técnico-científico, e os objetivos das UCs sejam de
invasoras (Botero et al. 2014; Chessman 2013, fato alcançados.
Azevedo-Santos et al. 2018). Além da questão do Uma nova ameaça à ictiofauna dos riachos
delineamento da área, os riachos intermitentes intermitentes da região semiárida do Brasil, é a
das UCs na região semiárida do Brasil sofrem outro transposição do rio São Francisco. Transposições
tipo de impacto, que é o uso de suas águas com a de águas entre bacias hidrográficas têm
concessão de outorga, ou mesmo de forma ilegal, contribuído para impactos sobre a diversidade
para atividade de agricultura. Assim, se o uso da e abundância das espécies de peixes (Izique
água se der de forma inadequada, pode ameaçar a 2005). Embora não seja previsto que os riachos
integridade da ictiofauna, tanto diretamente com intermitentes venham a receber diretamente as
redução populacional e da riqueza, bem como pelo águas da transposição, muitos são tributários dos
risco de extinção de espécies, ou indiretamente, rios receptores das águas desse empreendimento
pela destruição de habitat e degradação da (Ramos et al. 2018) e podem servir, para espécies
qualidade da água (Sarmento-Soares et al. 2018). de peixes invasoras, como área de refúgio
Estudos de conservação são incipientes ou contra predadores, área de alimentação, ou
mesmo inexistentes para os riachos intermitentes, para o desenvolvimento de seus ciclos de vida,
em particular na região semiárida. A ausência principalmente no período chuvoso. Estudo
de informações sobre os impactos das alterações recente, com inventário atualizado das espécies,
do NCF sobre a ictiofauna é preocupante, pois em quatro diferentes bacias hidrográficas com
impossibilita o embasamento de propostas inúmeros riachos intermitentes como afluentes
conservacionistas das florestas ripárias dos (bacias dos rios Jaguaribe (CE), Apodi-Mossoró
riachos temporários e de suas nascentes, bem (RN), Piranhas-Açu (RN) e Paraíba do Norte (PB))
como nos riachos efêmeros. A pressão sobre registrou 13 espécies endêmicas [Apareiodon
as florestas ripárias e degradação dos riachos davisi (Characiformes, Parodontidae), Cheirodon

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jaguaribensis (Characiformes, Characidae), relação entre aspectos da estrutura da ictiofauna


Corydoras sp. (Siluriformes, Callichthyidae), da Caatinga com outros biomas brasileiros?; b)
Hypostomus sertanejo, Parotocinclus spilurus, Quais foram os processos que levaram à atual
P. seridoenses, P. spilosoma (todas Siluriformes, composição da ictiofauna em riachos da região
Loricariidae), Pimelodella dorseyi, P. enochi semiárida?; c) Quais são os efeitos de distúrbios
(ambas Siluriformes, Heptapteridae), Cynolebias naturais e antrópicos na ictiofauna?; d) Qual a
microphthalmus, Hypsolebias antenori (ambas relação entre estratégias adaptativas dos peixes
Cyprinodontiformes, Rivulidae)] e potencialmente e as condições ambientais da região semiárida?;
ameaçadas por esse empreendimento (Silva e) Como é a dinâmica populacional dos peixes
et al. 2020). Monitoramento é necessário para em rios intermitentes?; f) Quais são os efeitos das
acompanhar os impactos desse empreendimento espécies de peixes introduzidas na fauna nativa?
sobre a ictiofauna dos riachos intermitentes. Estas e outras perguntas vêm sendo
Também é fundamental para propor medidas respondidas nos últimos 20 anos, após a inclusão
mitigadoras e para dar base à elaboração de planos de novos pesquisadores a Universidades públicas
de conservação da ictiofauna. na região Nordeste do Brasil (Universidades
Federal do Piauí, do Ceará, do Rio Grande do
ESTADO DA ARTE DOS ESTUDOS EM Norte, da Paraíba, de Pernambuco, da Rural
ECOLOGIA DE PEIXES DE RIACHOS de Pernambuco, da Rural do Semi-Árido, de
INTERMITENTES DA REGIÃO Sergipe, das Universidades Estaduais da Paraíba,
SEMIÁRIDA DO BRASIL de Feira de Santana e do Vale do Acaraú), com
aplicação de novos métodos e, principalmente,
A avaliação retrospectiva de estudos publicados pela maior valorização ecológica da ictiofauna
em ecologia de peixes de riachos intermitentes da que compõe os ecossistemas de riachos. Assim,
região semiárida do Brasil iniciados há vinte e três a diversidade de estudos relacionados a ecologia
anos, indica um grupo de pesquisadores pioneiros de peixes do semiárido (Figura 1) aumentou
localizado no estado da Paraíba, iniciado no com o conhecimento acumulado, com as
final da década de 90 pelo Prof. Dr. Leonardo novas ferramentas metodológicas de campo e
Maltchik e atualmente coordenado pelo Prof. Dr. laboratório, com análises mais aprimoradas dos
Elvio Sergio Figueredo Medeiros. Esses estudos, dados e com fontes de financiamento apoiando a
realizados principalmente no riacho intermitente linha de pesquisa.
Taperoá (PB), avaliaram inicialmente a interação Lima et al. (2017) dividem a região semiárida
parasita-hospedeiro e sua relação com as fases do Brasil em quatro ecorregiões e 49 bacias. A
do ciclo hidrológico (Medeiros & Maltchik 1997; análise de 27 publicações permite concluir que
1999). Posteriormente, estudos nesse ecossistema os estudos sobre ecologia de peixes em riachos
testaram hipóteses relacionadas à variação intermitentes concentraram-se em apenas
hidrológica na estrutura, estabilidade, dinâmica e 37,7% destas bacias. Destes, 88,9% foram para a
aspectos reprodutivos da ictiofauna (Medeiros & ecorregião Caatinga Médio-oriental, 3,7% para a
Maltchik 2001a, Medeiros & Maltchik 2001b). Mata Atlântica Nordeste, 3,7% na ecorregião de
Pesquisas realizadas por Rosa et al. (2003), São Francisco, e 3,7% para região do Maranhão-
Rosa & Groth (2004) e Lima et al. (2017) foram Piauí. Aproximadamente três quartos dos estudos
importantes para os estudos em ecologia de peixes (66,3%) descrevem aspectos da estrutura nas
na região semiárida do Brasil. Embora o eixo comunidades, relação peso – comprimento,
central dessas pesquisas tenha sido atualizar a ecologia trófica e reprodutiva de peixes. Os
composição e distribuição geográfica de espécies demais estudos (33,3%) abrangem outros seis
de peixes na região, o valor ecológico é revelado na aspectos ecológicos de comunidades, populações
riqueza de espécies anteriormente subestimada, e interações (Figura 2). Todos esses podem
e no alto número de endemismos na região. ser considerados estudos de caso, realizados
Consequentemente, informações fornecidas principalmente em pequenas escalas temporais e
nesses estudos levantam as premissas para espaciais, embora o número de réplicas amostrais
novas perguntas em ecologia, tais como: a) Existe tenha aumentado nas pesquisas da última década

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Figura 2. Frequência relativa de estudos publicados em ecologia de peixes de rios intermitentes da região
semiárida do Brasil, por ano de publicação (de 1997 a 2020).
Figure 2. Relative frequency of studies published in fish ecology of intermittent rivers in the semiarid region of
Brazil, by year of publication (from 1997 to 2020).
(2010 a 2020) (Material Suplementar, Tabela S1). De paradigmas ecossistêmicos, da ecologia da
fato, a intermitência desses ecossistemas, somada à paisagem e geomorfológicos, serão fundamentais
alta intervenção antrópica (poluição, barramentos, ao conhecimento ecológico deste grupo
transposições, demandas crescentes por água, faunístico, em uma região com amplos contrastes
introdução de espécies, destruição da mata ciliar, ambientais.
entre outros) dificultam o delineamento amostral,
limitando as coletas aos curtos períodos em que ASPECTOS METODOLÓGICOS
os riachos intermitentes apresentam fluxo de
água superficial e, especialmente, aos trechos A coleta de peixes em riachos intermitentes da
acessíveis. região semiárida brasileira tem sido feita através
Estudos mais recentes acrescentaram da utilização de diferentes artes de pesca. Na
outros elementos relacionados a ecomorfologia maior parte dos estudos, os pesquisadores
e dieta (Botero et al. 2017), diversidade utilizam rede de arrasto, rede de espera, tarrafa
funcional (Rodrigues-Filho et al. 2017 e 2018) e puçá. O estudo desenvolvido por Medeiros et
e metacomunidades (Faustino e Terra 2019, al. (2010) mostra a eficiência da rede de arrasto
Rodrigues-Filho et al. 2019) (Figura 1). Entretanto, em amostragem de peixes durante os períodos de
o maior desafio nos avanços desses estudos está seca e cheia, em comparação com a rede de espera
no estabelecimento de referenciais teóricos que e a tarrafa. Nesse estudo, os autores ressaltam que
orientem as pesquisas, na busca por entender a rede de arrasto deve ser utilizada com cautela,
dinâmicas, padrões e processos. Para tal, é pois ela pode afetar a abundância das populações
fundamental aumentar as escalas espacial principalmente dentro das poças remanescente
e temporal nos estudos, procurando desta dos riachos intermitentes, quando os peixes estão
forma, respostas mais holísticas e aplicadas. aprisionados em uma área menor e delimitada,
Paralelamente, os conhecimentos sobre a o que inviabiliza a fuga dos mesmos. Em rios e
autoecologia das espécies de peixes, integrando riachos intermitentes de outros países, a coleta

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Terra et al. | 613

de peixes tem sido feita com as mesmas artes (e.g. Outra dificuldade metodológica associada a
Beesley & Prince 2010), porém, prioritariamente esses ambientes é a disponibilidade de trechos de
tem sido utilizada a pesca elétrica (e.g. Kadye rio sem a influência de açudes ou modificações
& Chakona 2012, Vardakas et al. 2015). Essa feitas pelas populações ribeirinhas (e.g. poços,
metodologia, embora difundida e reconhecida cercas, passagens, lavagem de roupa). Mesmo
como arte de pesca eficiente na maioria dos riachos as pesquisas que envolvem a compreensão da
perenes em diversas partes do Brasil (Mazzoni influência desses fatores na organização das
et al. 2000, Terra et al. 2013) e do mundo (Hughes assembleias, carecem de áreas não perturbadas
& Peck 2008, Hughes et al. 2012), ainda não foi para comparação. Além disso, a falta de registros
extensamente explorada em riachos intermitentes históricos também dificulta esse tipo de
da região semiárida do país e, quando testada, estudo. Embora trechos de rios sem influência de
na maioria dos casos, não se mostrou eficiente. ações antrópicas sejam raros até mesmo para rios
Suspeita-se que a elevada condutividade da água perenes, em rios intermitentes essas modificações
possa ser o principal fator limitante da utilização alteram drasticamente o fluxo do rio interferindo
da pesca elétrica nesses rios. No entanto, com o no ciclo natural de cheia e seca, este com poças
desenvolvimento de aparelhos com regulagem remanescentes ou não.
para diferentes parâmetros (e.g. tipo de onda,
frequência, voltagem), mais testes são necessários DESAFIOS PARA O FUTURO
para que a pesca elétrica possa ser experimentada
nos riachos intermitentes da Caatinga Médio- Pesquisas ao longo das últimas décadas
Oriental. No estado da Bahia, particularmente na demonstram os riachos intermitentes como
Chapada Diamantina, por sua vez, a utilização da ecossistemas de grande importância para
pesca elétrica, com equipamento do tipo portátil, as comunidades biológicas e diversidade de
vem sendo bem-sucedida para riachos das processos ecológicos, servindo como habitat para
cabeceiras dos rios Paraguaçu e de Contas (Souza uma grande variedade de espécies, atuando no
et al, 2020). processamento de carbono e outros nutrientes e
As maiores dificuldades encontradas para a agindo como corredores, conectando diferentes
determinação de técnicas de coleta de peixes nos áreas das redes hidrográficas (Datry et al. 2014). Por
ambientes intermitentes é a mudança drástica do outro lado, esses sistemas continuam sendo pouco
ambiente entre as épocas do ano. As diferentes estudados, além de estarem em constante ameaça
artes de pesca apresentadas também têm sua por atividades antrópicas, como mineração,
eficiência alterada pela interrupção do fluxo e regulação e/ou perenização do seu fluxo natural
diminuição da área de amostragem nos leitos de água, entre outros (Chiu et al. 2011, Vorste et al.
em que as poças são formadas. Desta maneira, 2020). No contexto atual de mudanças climáticas,
agregar diferentes artes de pesca pode ser a os rios e riachos intermitentes funcionam como
melhor alternativa para trabalhos que envolvam importantes amplificadores do desequilíbrio
riachos heterogêneos e em diferentes fases do ciclo climático global, tendo em vista sua sensibilidade
hidrológico. A observação subaquática também ao aquecimento global, o que permite acompanhar
tem se mostrado uma alternativa eficiente para a as respostas do meio ambiente às variações
amostragem de peixes em riachos intermitentes, climáticas atuais. Portanto, os rios e riachos
principalmente na época da seca (metodologia intermitentes podem atuar como emuladores de
aplicada por Manna et al. 2017; 2018). O extenso como as mudanças climáticas podem afetar os
período de estiagem favorece a sedimentação ecossistemas aquáticos de regiões úmidas com o
e consequentemente aumenta a visibilidade possível aumento das zonas áridas.
dentro da água em trechos perenizados e em Deste modo, é imprescindível a junção de
poças remanescentes. Deste modo, a observação ações de gestão desses ambientes para uso
subaquática, embora exija treinamento, é uma humano com a conservação e recuperação dos
abordagem promissora para esses ambientes mesmos. Ao longo de décadas, os rios e riachos
(ver Sabino, 1999 para protocolo básico da intermitentes da região semiárida vêm sofrendo
metodologia). alterações com a construção de grandes barragens

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614 | Peixes de riachos intermitentes

para abastecimento humano, o que modifica manutenção dos processos naturais e o equilíbrio
as características naturais dos rios e de todo o da ictiofauna. Essas ações, além de serem subsídio
ambiente no seu entorno. Consequentemente, a para a implementação de políticas públicas de
introdução histórica de espécies (espécies mais gestão hídrica e de unidades de conservação,
comuns: Cichla ocellaris, Oreochromis niloticus também favorecem a recuperação e preservação
(ambas Cichliformes, Cichlidae), Colossoma dos rios intermitentes e de seus serviços
macropomum (Characiformes, Serrasalmidae) e ambientais.
Cyprinus carpio (Cypriniformes, Cyprinidae)) para
o abastecimento de proteína de fonte animal nos AGRADECIMENTOS
açudes oriundos dos barramentos tem sido feita
de forma sistêmica posicionando os açudes da BFT agradece à FUNCAP pela bolsa de
região Nordeste como os mais produtivos do país Produtividade em Pesquisa, Estímulo à
(Agostinho et al. 2007). Ademais, o crescimento Interiorização e Inovação Tecnológica dos
de áreas urbanas tem favorecido a modificação projetos BP3-0139-00111.01.00/18 e BP4-00172-
da paisagem e o aumento do lançamento de 00184.01.00/20; JISBAR agradece ao CNPq/
resíduos diretamente na calha dos rios. Portanto, PPBIO proposta #457463/2012-0 e CNPq/ICMBio
as pesquisas em rios e riachos intermitentes da proposta #552009/2011-3; JLCN agradece a
região semiárida brasileira devem subsidiar a Universidade Federal Rural do Semi-Árido,
construção de políticas públicas de gestão hídrica por todo o apoio logístico e ao CNPq processo
que viabilizem e incentivem pesquisas que não 479884/2012-2; CFR agradece à FUNCAP pelo
somente estejam ligadas ao uso eficiente dos projeto PNE-0112-00026.01.00/16.
recursos, mas também que fortaleçam e suportem
ações de recuperação e conservação dos rios e REFERÊNCIAS
riachos intermitentes e das comunidades bióticas
associadas. Acreman, M., Hughes, K. A., Arthington, A. H.,
Tickner, D., & Dueñas, M. A. 2019. Protected
CONCLUSÃO areas and freshwater biodiversity: a novel
systematic review distils eight lessons effective
Para o direcionamento de pesquisas em ecologia conservation. Conservation Letter, 13:e12684.
de peixes de riachos intermitentes da região DOI: 10.1111/conl.12684
semiárida brasileira sugerimos a realização de Agostinho, A. A., Thomaz, S.M., & Gomes, L.C. 2005.
estudos básicos para o conhecimento da biologia Conservation of the biodiversity in Brazil’s
reprodutiva e trófica das espécies, bem como para inland waters. Conservation Biology, 19(3), 646–
a resolução de confusões taxonômicas. Esses 652. DOI: 10.1111/j.1523-1739.2005.00701.x
estudos devem ser desenvolvidos em paralelo a Agostinho, A. A., Gomes, L. C., & Pelicice, F. M.
estudos explicativos que busquem compreender 2007. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros
as estratégias desenvolvidas pelas espécies para em reservatórios do Brasil. Maringá: EDUEM:
resistirem à severidade do ciclo hidrológico, e p. 501.
a dinâmica e organização das assembleias de Azevedo‐Santos, V. M., Frederico, R. G., Fagundes,
peixes nos rios e sistemas associados, como C. K., Pompeu, P. S., Pelicice, F. M., Padial, A.
reservatórios. Os estudos devem levar em A., Nogueira, M. G., Fearnside, P.M., Lima,
consideração as variações temporais de pequena L.B., Daga, V. S., Oliveira, J. F. M., Vitule, J.R.S.,
e larga escala, pois as respostas ecológicas são a Callisto, M., Agostinho, A. A., Esteves, F. A.,
base para a conservação e uso sustentável das Lima-Junior, D. P., Magalhães, A. L. B., Sabino,
espécies de peixes. Junto a esses elementos, J., Mormul, R. P., Grasel, D., Zuanon, J., Vilella,
a recuperação de ecossistemas degradados, a F. S., & Henry, R. 2018. Protected areas: A focus
manutenção de ambientes estratégicos, como on Brazilian freshwater biodiversity. Diversity
poças temporárias, lagoas marginais, nascentes e and Distributions, 25(3), 442–448. DOI: 10.1111/
riachos em cavernas, assim como o cumprimento ddi.12871
da legislação ambiental, são necessários para a Barbosa, J. E. L., Medeiros, E. S. F., Brasil, J.,

Oecol. Aust. 25(2):605–619, 2021


Terra et al. | 615

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Submitted: 28 July 2020
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Associate Editors: Érica Pellegrini Caramaschi,
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