Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo. A artroplastia total de quadril (ATQ) é uma cirurgia frequentemente utilizada para substituir a
junta lesionada do paciente, utilizando para tal uma prótese de quadril. Uma das próteses mais
utilizadas compreende o uso de componente acetabular polimérico e uma cabeça femoral de aço
inoxidável. Uma das causas de insucesso em cirurgias de ATQ é a justamente a inflamação que pode
ocorrer devido à presença de partículas de desgaste, denominadas de debris, geradas pelo processo de
desgaste do material da prótese, e que levam à inflamação e posterior falha do implante. Isto justifica a
importância de estudos in vitro de simulação de desgaste de tais próteses. Neste contexto, este trabalho
avaliou o desgaste de próteses de quadril com cabeça femoral de aço inoxidável e acetábulo de
polietileno de ultra-alto peso molecular (UHMWPE) segundo as recomendações de carga e movimentos
estabelecidos pela ABNT NBR ISO 14242-1. Para executar o ensaio, foi utilizado um simulador AMTI, o
primeiro instalado no Brasil, com seis estações ativas e uma estação de controle. Foi utilizado o controle
de carga e movimentos. As amostras foram limpas e a massa dos acetábulos determinada antes do inicio
do ensaio e a cada 500 mil ciclos de desgaste. Para cada uma das amostras, construíram-se curvas da
perda de massa em função do número de ciclos, permitindo assim avaliar o desgaste das próteses. Com o
auxilio de um microscópio, observou-se as superfícies das cabeças femorais e acetábulos após o ensaio
com o intuito de observar marcas de desgaste e alterações na superfície do material.
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAIS E MÉTODOS
(a)
(b)
A cada 500 mil ciclos, o ensaio foi interrompido para a realização das medidas de
massa, perfilometria e microscopia óptica. Para evitar a degradação das proteínas, nesta
oportunidade o soro fetal bovino utilizado como lubrificante também foi reposto. Uma
vez que o objetivo deste estudo foi estabelecer os procedimentos exigidos para a
execução do ensaio de simulação de desgaste em próteses totais de quadril, fato inédito
no país, este estudo somente avaliou o desgaste das próteses de quadril até 2 milhões de
ciclos. Entretanto, mesmo não atingido o numero de ciclos recomendado na Norma
ABNT NBR ISO 14242-1, acredita-se que os resultados obtidos são representativos
para as amostras ensaiadas quanto ao seu comportamento em desgaste.
2.5 Caracterização
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Perda de massa média das seis estações em função do número de ciclos para o
ensaio de simulação de desgaste de prótese total de quadril.
Para comparar os valores de perda de massa ou taxa de desgaste obtidos neste trabalho
com aqueles mencionados na literatura, diversos fatores como o tipo de material
empregado (metal-polímero), diâmetro da prótese, tipo de soro utilizado etc devem ser
considerados. Para facilitar a comparação com os dados da literatura, uma vez que foi
executado o ensaio somente até 2 milhões de ciclos, o valor de taxa de desgaste pode ser
assumido. Por exemplo, Liao et al. (2003) mencionam que após 2 milhões de ciclos, a
taxa de desgaste das amostras com condições próximas àquelas utilizadas neste trabalho
foi de 59,1± 1,1 mg/106 ciclos. Saikko (1995) utilizando uma cabeça de CoCr e
acetábulo de UHMWPE reportaram uma taxa de desgaste de 83,0 mg/106 ciclos.
A imagem do acetábulo utilizado como controle, após 500 mil ciclos de ensaio, é
apresentada na Fig.3. Inicialmente, pode-se observar que o acetábulo utilizado como
controle, ou seja, submetido apenas ao ciclo de carga, apresenta marcas de usinagem,
associadas ao seu processo de produção. Mesmo após os 500 mil ciclos iniciais de
ensaio, não ocorreu uma alteração na morfologia do acetábulo devido ao ciclo de carga.
Figura 3. Acetábulo de UHMWPE utilizado como controle e submetido à 500 mil ciclos
de carga.
A Figura 4 apresenta as imagens obtidas por microscopia óptica dos acetábulos a cada
500 mil ciclos. Pode-se observar que já após 500 mil ciclos de cargas e movimentos, a
superfície do acetábulo polimérico foi alterada. As marcas de usinagem, presentes
inicialmente no acetábulo e também após os primeiros 500 mil ciclos no acetábulo de
controle, não podem ser mais observadas. Somente algumas marcas remanescentes
podem ser observadas, conforme indicadas na Fig.4. Ao final do ensaio, ou seja, após 2
milhões de ciclos de carga e movimentos, pode-se observar que não há mais marcas de
usinagem presentes nos acetábulos. Tateiwa et al. (2006) também mencionam que as
marcas de usinagem gradualmente desaparecem com o decorrer do ensaio, para
acetábulos de UHMWPE e cabeças femorais de cobalto cromo (CoCr). Para o caso do
UHMWPE convencional (sem reticulação), Liao et al. (2003) também observaram uma
superfície do acetábulo lisa e sem irregularidades. Wang et al. (1998) mencionam que
do ponto de vista dos mecanismos de desgaste, tanto o mecanismo de desgaste adesivo
quanto o mecanismo abrasivo são predominantemente responsáveis pelas altas taxas de
desgaste, principalmente aquelas observadas clinicamente.
500 mil ciclos 1 milhão de ciclos
Figura 3. Imagens dos acetábulos poliméricos por microscopia óptica após os ciclos de
desgaste.
Figura 4. Imagem da cabeça femoral após o final do teste com 2 milhões de ciclos
(Magnificação: 100X).
Observa-se a presença de riscos na superfície da cabeça femoral. Ito et al. (2010)
mencionam que estudos experimentais bem como estudos em próteses explantadas
indicam que o aumento da rugosidade ou presença de riscos na cabeça femoral pode
aumentar a taca de desgaste do UHMWPE convencional.
Sabe-se que o problema do desgaste do polietileno das próteses ortopédicas é que as
partículas de desgaste podem migrar para a interface do implante com o osso. Estas
partículas são agressivamente atacadas pelo sistema imunológico, resultando na morte
do tecido ósseo vizinho e levando à perda do implante e dor para o paciente
(HIRAKAWA et al., 1999; BLUNT et al., 2009). Este fenômeno é conhecido por
soltura asséptica e freqüentemente associada à osteólise causada pelas partículas do
UHMWPE (TIPPER et al., 2001). Assim, é importante analisar as partículas que são
geradas durante o ensaio de simulação de desgaste. A Fig.5 apresenta então as partículas
de desgaste, analisadas através da microscopia eletrônica de varredura. Observa-se que
as partículas de desgaste apresentam uma forma irregular, e basicamente formada por
grânulos. Além disto, são partículas que possuem aproximadamente um tamanho de 10
µm. Cho et al. (2004) identificaram partículas de desgaste (debris) com tamanho abaixo
de 1 µm e com forma granular.
4. CONCLUSÕES
ABNT NBR ISO 14242-1. Implantes para cirurgia — Desgaste de próteses totais de articulação do
quadril - Parte 1: Parâmetros de carga e deslocamento para máquinas de ensaios de desgaste e condições
do meio para ensaio
ABNT NBR ISO 14242-2. Implantes para cirurgia - Desgaste de prótese total de articulação de quadril
Parte 2: Métodos de medida.
Belloti, J.C. (2009), ”Cenário atual do uso de próteses ortopédicas – Discussão sobre próteses nacionais
versus importadas”, DiagnTratamento., 14, 9-11.
Blunt, L.; Bills, P.; Jiang, X.; Hardaker, C.; Chakrabarty, G. (2009), ”The role of tribology and metrology
in the latest development of biomaterials”, Wear, 266, 424-431.
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), “Materiais avançados no Brasil 2010-2022” Brasília:,
2010.
Cho, H.J.; Wei, W.J.; Kao, H.C.; Cheng. C.K. (2004), ”Wear behavior of UHMWPE sliding on artificial
hip arthroplasty materials”, Materials Chemistry and Physics, 88, 9–16.
Hirakawa, K.; Bauer, T.W.; Yamaguchi, M.; Stulberg, B.N.;Wilde, A.H. (1999), ”Relationship between
wear debris particles and polyethylene surface damage in primary total knee arthroplasty”, The Journal of
Arthroplasty, 14,
Ito, H.; Maloney, C.M.; Crowninshield, R.D.; Clohisy, J.C.; McDonald, D.J.; Maloney, W.J. (2010), “In
Vivo Femoral Head Damage and Its Effect on Polyethylene Wear”, The Journal of Arthroplasty, 2, 302-
308.
Liao, Y.-S.; McNulty, D.; Hanes, M. (2003), ”Wear rate and surface morphology of UHMWPE cups are
affected by the serum lubricant concentration in a hip simulation test”, Wear, 255, 1051–1056.
Oliveira, A.L.L. (2011),”Contribuição metodológica para investigar fenômenos de superfície em
tribossistemas protéticos articulares de quadril”, Tese de doutorado.
Saikko, V.O.. (1995), ”Wear of the polyethylene acetabular cup: The effect of head material, head
diameter, and cup thickness studied with a hip simulator”, Acta Orthopaedica, 66, 501 — 506,.
Tateiwa, T.; Clarke, I.C.; Shirasu, H.; Masaoka, T.; Shishido, T.; Yamamoto, K. (2006), ”Effect of low
protein concentration lubricants in hip simulators”, J Orthop Sci., 11, 204–211.
Tipper, J.L.; Firkins, P.J.; Besong, A.A.; Barbour, P.S.M.; Nevelos, J.; Stone, M.H.; Ingham, E.; Fisher, J.
(2001), ”Characterisation of wear debris from UHMWPE on zirconia ceramic, metal-on-metal and
alumina ceramic-on-ceramic hip prostheses generated in a physiological anatomical hip joint simulator”,
Wear, 250, 120–128.
Wang, A.; Essner, A.; Polineni, V. K.; Stark C.; Dumbleton J. H. (1998), ”Lubrication and wear of
ultrahigh molecular weight polyethylene in total joint replacements”, Tribology International., 31, 17–
33.
The total hip arthroplasty (THA) is a surgery often used to replace the damaged joint of a patient, using a
hip prosthesis. One of the most employed prosthesis comprises the use a polymeric cup and an stainless
steel femoral head. One of the causes of failure in THA é the inflammation occurred due to the presence
of wear particles, named debris, and created by the process of wear of the prosthesis material. This can
lead to inflammation and further failure of the implant. This fact justifies how important is to study the in
vitro total hip simulation wear of such prosthesis. In this context, this work evaluated the wear of hip
prosthesis with stainless steel femoral head and ultra high molecular weight polyethylene (UHMWPE)
according to the load and movements recommended in the ABNT NBR ISO 14242-1. An AMTI hip
simulator, the first one installed in Brazil, with six active stations and one control station, was used to
perform the tests. The load control and movements were used. Before the test and after 500 000 cycles,
the samples were cleaned and the cup mass measured. For each sample, the weight loss versus number of
cycles was plotted, allowing the evaluation of the prosthesis wear. With the aid of the microscopy, the
surface of the femoral head and cup after the test was observed, aiming to identify the wear scars and
changes in the material surface.