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Sumário

1. Um Deus que se lembra 7


2. A porta da graça 17
3. A chave de davi 27
4. Para quando não souber como orar 41
Um Deus que se lembra

U
ma pergunta que os novos convertidos frequen-
temente fazem é essa: “Se Deus sabe todas as
coisas, por que eu preciso orar dizendo a ele o
que eu quero ou necessito?” Em outras palavras a ques-
tão é porque eu preciso lembrar Deus de alguma coisa?.
Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas trans-
gressões por amor de mim e dos teus pecados não
me lembro. Desperta-me a memória; entremos
juntos em juízo; apresenta as tuas razões, para
que possas justificar-te. Is. 43:25-26
É maravilhoso quando o próprio Deus diz para
lembrá-lo que ele é um Deus que perdoa. Deus diz
Um Deus que se lembra

7
para lembrá-lo não porque ele se esquece ou, como
nós, tem lapsos de memória. O Senhor é onisciente e
nada lhe escapa ao conhecimento, mas ele ama quando
o seu povo se comunica com ele. Na verdade é sua ale-
gria, deleite e prazer quando estamos na sua presença.

Deus quer ser lembrado


Depois do dilúvio Deus colocou um arco-íris no
céu para que ele se lembrasse da sua aliança. É verda-
de que o arco foi colocado para que o homem tivesse
segurança, no entanto a escritura diz que é para que
o próprio Deus se lembre.
Porei nas nuvens o meu arco; será por sinal
da aliança entre mim e a terra. Sucederá que,
quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas
aparecer o arco, então, me lembrarei da minha
aliança, firmada entre mim e vós e todos os seres
viventes de toda carne; e as águas não mais se
tornarão em dilúvio para destruir toda carne. O
arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da
aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes
de toda carne que há sobre a terra. Gn. 9:13-15
O arco-íris não foi colocado para que nós lem-
brássemos da aliança, antes ele foi colocado para que
o próprio Deus se lembre.
Apocalipse 4:3 diz que ao redor do trono de Deus
tem um arco-íris. Essa é a maneira dele nos dizer que é
um Deus que se lembra da sua aliança perpetuamente.
O Evangelho da graça e a oração respondida

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Você pode lembrar a Deus a sua
promessa
Quando os filhos de Israel eram escravos no Egito
a escritura diz que eles começaram a gemer debaixo da
opressão e, então Deus se lembrou da aliança.
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito;
os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por
causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a
Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se
da sua aliança com Abraão, com Isaque e com
Jacó. Ex. 2:23-24

Os gemidos do povo de Israel fez com que Deus


se lembrasse da aliança. Esses mesmo gemidos são
mencionados em Romanos 8:26.
Também o Espírito, semelhantemente, nos assis-
te em nossa fraqueza; porque não sabemos orar
como convém, mas o mesmo Espírito intercede
por nós sobremaneira, com gemidos inexprimí-
veis. Rm. 8:26

A palavra gemido aqui é “stenagmos” no grego,


um gemido que não pode ser expresso em palavras.
E os comentaristas concordam que significa orar
em línguas.
Como podemos dizer que se trata do mesmo
gemido? O Novo Testamento é em grego e o velho
é em hebraico, então como podemos ligar os dois

Um Deus que se lembra

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gemidos? O Espírito Santo providenciou uma tra-
dução para nós. Estêvão diz em Atos que os gemidos
do povo de Israel no Egito era “stenagmos” o mesmo
gemido inexprimível do Espírito Santo mencionado
em Romanos 8. Lembrando o tempo da opressão no
Egito Estêvão usa a mesma palavra usada para os ge-
midos do Espírito.
Vi, com efeito, o sofrimento do meu povo no
Egito, ouvi o seu gemido e desci para libertá-lo.
Vem agora, e eu te enviarei ao Egito. At. 7:34
Esses gemidos inexprimíveis são as línguas estra-
nhas. Podemos dizer que quando oramos em línguas,
fazemos o mesmo tipo de oração do povo no Egito que
levou Deus a se lembrar da aliança. Quando oramos
em línguas estamos lembrando a Deus tudo aquilo
que Cristo realizou na cruz.

Memoriais são importantes


para Deus
No Velho Testamento quando o Senhor estabele-
ceu a Páscoa, ele disse que esse dia seria um memorial.
Nós sabemos que um memorial significa algo que é
separado para servir de lembrança permanente de algo
muito importante.
Este dia vos será por memorial, e o celebrareis
como solenidade ao SENHOR; nas vossas gera-
ções o celebrareis por estatuto perpétuo. Ex. 12:14

O Evangelho da graça e a oração respondida

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Em Levítico 23 lemos a respeito das sete festas
celebradas em Israel e todas elas eram celebradas com
sonido de trombetas para memorial.
Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo,
ao primeiro do mês, tereis descanso solene, memo-
rial, com sonidos de trombetas, santa convocação.
Lv. 23:24
Qual a razão das trombetas serem tocadas para me-
morial? Em Números 10 o Senhor nos dá a resposta. As
trombetas eram tocadas para que ele mesmo se lembre
da sua promessa e sejamos livrados de nossos inimigos.
Mais uma vez Deus quer ser lembrado de sua promessa.
Quando, na vossa terra, sairdes a pelejar contra os
opressores que vos apertam, também tocareis as trom-
betas a rebate, e perante o SENHOR, vosso Deus,
haverá lembrança de vós, e sereis salvos de vossos
inimigos. Da mesma sorte, no dia da vossa alegria,
e nas vossas solenidades, e nos princípios dos vossos
meses, também tocareis as vossas trombetas sobre os
vossos holocaustos e sobre os vossos sacrifícios pacíficos,
e vos serão por lembrança perante vosso Deus. Eu sou
o SENHOR, vosso Deus. Nm. 10:9-10
Por favor, não pense que hoje precisamos tocar
trombetas em nossos cultos. Essas trombetas eram
sombras de coisas que são realidade hoje na Nova
Aliança. Essas trombetas não eram aquelas de chifres
de carneiro, chamadas “shofar”, essas eram feitas de
prata. Em tipologia a prata simboliza a redenção e

Um Deus que se lembra

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tocar a trombeta significa liberar a palavra de Deus.
Quando liberamos a palavra da redenção ou participa-
mos da Mesa do Senhor estamos tocando a trombeta
de prata. E quando fazemos isso o Senhor se lembra
da aliança e destrói nossos inimigos.
A palavra de Deus diz que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado
graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado
por vós; fazei isto em memória de mim. Em outras
palavras, façam isso como um memorial. A Ceia é um
memorial tanto para nós quanto para o próprio Deus.
A Ceia é o cumprimento da Páscoa do Velho
Testamento, quando o sangue do cordeiro foi colo-
cado nos umbrais das portas impedindo que o anjo
da morte entrasse. O anjo da morte é um executor da
lei de Deus, porque a alma que pecar essa morrerá.
Mas quando ele vê o sangue ele sabe que a morte já
aconteceu e não pode fazer mais nada. Enquanto isso
eles comiam o cordeiro dentro da casa.

O nosso sumo sacerdote se


lembra
Todas as vezes que o sacerdote se apresentava
diante de Deus ele também trazia um memorial em
sua roupa sagrada.
Tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas
os nomes dos filhos de Israel: seis de seus nomes
numa pedra e os outros seis na outra pedra,

O Evangelho da graça e a oração respondida

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segundo a ordem do seu nascimento. Conforme
a obra de lapidador, como lavores de sinete,
gravarás as duas pedras com os nomes dos filhos
de Israel; engastadas ao redor de ouro, as farás.
E porás as duas pedras nas ombreiras da estola
sacerdotal, por pedras de memória aos filhos de
Israel; e Arão levará os seus nomes sobre am-
bos os seus ombros, para memória diante do
SENHOR. Ex. 28:9-12
O sumo sacerdote chegava diante de Deus com
duas pedras de ônix sobre os ombros. Nessas duas pe-
dras estavam gravados os nomes das tribos de Israel.
Os ombros são o lugar de poder. Isaías 9:6 diz que o
governo está sobre os ombros,
Mas o sacerdote também tinha doze pedras
no peito onde também estavam gravados os nomes
das doze tribos. O peito é o lugar do amor e afeto.
Assim a memória diante de Deus era na posição de
poder e de amor.
Assim, Arão levará os nomes dos filhos de Israel
no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando
entrar no santuário, para memória diante do
SENHOR continuamente. Ex. 28:29
Hoje o Senhor Jesus, nosso sumo sacerdote, tam-
bém se lembra de nós no lugar de poder e no lugar de
amor. Hoje o Senhor não se veste como o sacerdote
do Velho Testamento, mas quando Deus Pai o olha
ele vê o seu coração cheio de amor e o nosso nome
escrito nele.
Um Deus que se lembra

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Quando compartilhamos
lembramos o Senhor
Precisamos adorar o Senhor e compartilhar uns
com os outros a respeito da sua graça e do seu poder.
Quando fazemos isso o Senhor ouve. É maravilho-
so que ele nos ouve quando oramos, mas também
quando conversamos uns com os outros. Mas o mais
extraordinário é que isso tudo é escrito em um livro
memorial diante dele.
Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns
aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia
um memorial escrito diante dele para os que te-
mem ao SENHOR e para os que se lembram do
seu nome. Ml. 3:16

Há um livro memorial diante de Deus para aque-


les que temem e se lembram do seu nome. Não se diz
que apenas as grandes obras são ali anotadas, mas tudo
aquilo que conversamos a respeito do Senhor com-
partilhando o quanto ele é bom e amoroso também
está registrado.
Há uma história interessante narrada no livro de
Ester. Mordecai, o tio de Ester, tinha descoberto uma
conspiração contra o rei. Ele então contou a Ester que
por sua vez avisou o rei e por isso o rei foi livrado da
morte. Por causa disso o nome de Mordecai foi escrito
no livro das crônicas, ou livro das memórias do rei

O Evangelho da graça e a oração respondida

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(Et. 2:21-23). Por alguma razão, porém, nada foi feito
para recompensar a Mordecai pela sua lealdade ao rei.
Mordecai era um homem justo e piedoso, mas
ele tinha um inimigo que odiava os judeus chamado
Hamã. Este Hamã tinha uma posição importante no
palácio e estava próximo do rei.
Num dia ele sugeriu ao rei que criasse uma lei
obrigando todos a se curvarem diante dos príncipes,
mas Mordecai não curvou diante dele. Por causa disso
ele tramou contra todos os judeus.
De maneira astuta Hamã levou o rei a assinar
uma outra lei que ordenava que todos os judeus fos-
sem mortos num determinado dia.
Quando estava próximo o dia de genocídio, o rei
perdeu o sono durante a noite. Ele então pediu aos
servos que trouxessem o livro dos feitos memorá-
veis para que fosse lido para ele. Ele então ouviu
o que Mordecai tinha feito por ele e perguntou o
que Mordecai tinha recebido em retribuição. Os
servos disseram que nada tinha sido feito e o rei
ficou indignado com aquilo (Et. 6:1).
No dia seguinte o rei chamou Hamã e pergun-
tou a ele o que se poderia fazer a alguém a quem o rei
quisesse honrar. Hamã, pensando que o rei se referia
a ele, sugeriu que esse homem deveria ser vestido com
vestes reais e colocado sobre o cavalo do rei com uma
coroa real na cabeça. O rei então ordenou a Hamã
que fizesse isso com Mordecai.

Um Deus que se lembra

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Resumindo a história Hamã no final foi morto
na forca que ele tinha preparado para Mordecai.
Você não acha interessante que fosse justamente
assim que o rei gostava de ser entretido numa noite
insone? Creio que essa história está na escritura para
a nossa edificação, para nos mostrar que o nosso Deus
também ama ser lembrado dos seus grandes feitos e
das suas promessas eternas. Quando você o adora ele
se lembra. Aqueles que temem e adoram o Senhor
devem dizer unas aos outros a respeito da bondade
do Senhor.

O Evangelho da graça e a oração respondida

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A porta da graça

A
Bíblia diz que o temor do Senhor é o princípio
da sabedoria. Isso é afirmado repetidamente
em todo o livro de Provérbios.
O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria,
e o conhecimento do Santo é prudência. Porque
por mim se multiplicam os teus dias, e anos de
vida se te acrescentarão. (Pv 9.10-11)
A promessa não é apenas de uma vida longa, mas
uma vida plena e abundante. Não pense que o temor
do Senhor consiste em ter medo de Deus. Sabemos
que a Bíblia interpreta a Bíblia, e o próprio Senhor
Jesus nos deu a definição de temor.
A porta da graça

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Em Mateus 4.10, quando foi tentado pelo diabo,
o Senhor disse: “Porque está escrito: Ao Senhor, teu
Deus, adorarás, e só a ele darás culto”. Ele afirmou
isso fazendo uma citação de Deuteronômio 6.13 que
diz: “O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás”. O
Senhor Jesus mesmo trocou a palavra “temor” por
“adoração”. Ele, na verdade, disse que temer a Deus
é adorá-lo. Assim, quando você diz que o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria, você está afirmando
que, quando adoramos o Senhor, ganhamos sabedoria.
Tem havido um entendimento muito comum
entre os irmãos de que a adoração a Deus é muito
mais do que cânticos de louvor e adoração, que a
adoração seria um estilo de vida. Eu mesmo cheguei
a dizer isso no passado, mas creio que isso é um erro.
Não existe lugar nenhum na Bíblia que afirme que
adoração é um estilo de vida. Nas Escrituras, a ado-
ração está sempre relacionada com o culto a Deus e
o louvor com música.
Na verdade, tudo em nossa vida precisa ser feito
para a glória de Deus. Paulo diz que “quer comais, quer
bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a
glória de Deus” (1Co 10.31). Mas isso não significa real-
mente que estamos adorando a Deus em todo o tempo.
Deixe-me ilustrar isso de uma forma prática.
Tudo o que eu faço é para o bem da minha esposa.
Meu salário, plano de saúde, estudos, viagens de férias
e tudo o mais é sempre feito para ela e minhas filhas.

O Evangelho da graça e a oração respondida

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Mesmo assim, é preciso que eu separe um momento
para dizer-lhe o quanto eu a amo. Se eu não fizer isso,
pode ser que ela nem fique feliz com tudo o que faço
para ela. Creio que o mesmo se aplica ao Senhor. Tudo
o que fazemos é para a glória d’Ee, mas é preciso haver
um momento em que nos separamos para adorá-lo e
declarar o quanto nós o amamos.
Aquele crente que diz: “A minha vida inteira é
de adoração” é como aquele marido que diz que não
precisa dizer que ama a sua esposa já que ele faz tudo
por ela. Há algo muito especial quando separamos
tempo aos domingos ou na célula para adorarmos a
Deus. Quando fazemos isso, nós ganhamos sabedoria
e até mesmo somos cheios do Espírito.

O louvor nos enche do espírito


No Salmo primeiro, a Palavra de Deus diz que
bem-aventurado é aquele que tem prazer na lei do
Senhor e na sua lei medita de dia e de noite. O resul-
tado do constante meditar é que ele será como árvore
plantada junto a ribeiros de água. Como essa árvore,
ele será saudável e frutífero, e tudo quanto fizer será
bem-sucedido. Saúde, prosperidade e frutificação são
parte da herança daquele que medita na Palavra.
Os rabinos judeus ensinam que o meditar pode ser
feito de forma cantada. O meditar bíblico envolve a con-
fissão da Palavra, e isso pode ser feito também cantando.

A porta da graça

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Paulo diz que somos cheios do Espírito quando
falamos a Palavra cantando-a com salmos e hinos
espirituais.
E não vos embriagueis com vinho, no qual há dis-
solução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre
vós com salmos, entoando e louvando de coração
ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando
sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo. (Ef 5.18-20)

A maneira de sermos cheios do Espírito é falan-


do, e falando entre nós. Isso significa falar uns aos
outros, mas, acima de tudo, significa falar cada um
para si mesmo. E esse falar para si mesmo pode ser
feito falando e entoando louvores.
No verso 15, o Senhor diz que devemos andar
como sábios, e não como tolos, remindo o tempo.
Remir significa resgatar o que estava perdido. Isso
significa que, quando remimos o tempo, estamos
resgatando o tempo que foi perdido. E como fazemos
isso? Andando como sábios. Nós remimos o tempo
quando falamos em todo o tempo com salmos, hinos
e cânticos espirituais.

O louvor libera a graça


Há muitas palavras para louvor no Velho
Testamento. A mais usada é Hallal, de onde vem a
palavra “aleluia”. O seu sentido é expressar celebração

O Evangelho da graça e a oração respondida

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e alegria em louvor diante de Deus. Outra palavra
traduzida como louvor é Iadar. A primeira menção
dessa palavra é na história de Lia, esposa de Jacó. A
primeira menção de um assunto na Bíblia é sempre
muito importante.
Como você sabe, Jacó teve duas esposas, Lia e
Raquel. Jacó, porém, amava Raquel. Lia sempre de-
sejava receber o amor de Jacó, mas nunca conseguia.
Ela fez tudo o que podia para conquistar o amor de
Jacó, e podemos ver isso no nascimento dos seus filhos.
Vendo o SENHOR que Lia era desprezada,
fê-la fecunda; ao passo que Raquel era estéril.
Concebeu, pois, Lia e deu à luz um filho, a quem
chamou Rúben, pois disse: O SENHOR atendeu
à minha aflição. Por isso, agora me amará meu
marido. Concebeu outra vez, e deu à luz um fi-
lho, e disse: Soube o SENHOR que era preterida
e me deu mais este; chamou-lhe, pois, Simeão.
Outra vez concebeu Lia, e deu à luz um filho,
e disse: Agora, desta vez, se unirá mais a mim
meu marido, porque lhe dei à luz três filhos; por
isso, lhe chamou Levi. De novo concebeu e deu
à luz um filho; então, disse: Esta vez louvarei o
SENHOR. E por isso lhe chamou Judá; e cessou
de dar à luz. (Gn 29.31-35)
O primeiro filho foi Rúben, que significa “eis o
filho”. Ela gerou o filho com a intenção de ganhar o
amor do marido, mas isso não foi suficiente. Ela disse:
“Com esse filho, o meu marido me amará”.

A porta da graça

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Então, Lia gerou um segundo filho, dizendo:
“O Senhor sabe a minha intenção e me deu mais um
filho”. Até agora a sua preocupação era apenas consi-
go mesma. Simeão significa “ouça”. Podemos dizer:
“Ouça o filho”, mas ela continuava sem ver ou ouvir
o filho. Lembre-se de que o filho aponta para Cristo.
O terceiro filho chamou-se Levi, que significa
“unido”. Quando o menino nasceu, ela disse: “Agora
meu marido se unirá a mim”.
Você tem insistido numa estratégia pessoal para
obter algum resultado em sua vida ou para ter uma
mudança em seu casamento ou negócio. Em vez de
olhar para o Senhor, você está sempre usando uma
estratégia natural, sem depender d’Ele para alcançar
o seu objetivo. Infelizmente, porém, o resultado tem
sido sempre desapontamento.
Mas, no quarto filho, Lia mudou a sua atitude.
Ela disse: “Eu vou louvar o Senhor. Não importa se
meu marido me ama ou não, eu vou louvar o Senhor”.
Ela deu o nome de Judá ao menino. Judá é Iadar em
hebraico e significa “louvor”. Ela não estava mais
interessada em impressionar seu marido, ela queria
apenas louvar o Senhor.
Não permita que a sua alegria e a sua realização
estejam numa atividade, trabalho ou mesmo no seu
cônjuge. Ame seu cônjuge e trabalhe sempre com
alegria, mas esteja certo de amar Cristo e louvá-lo
antes de tudo.

O Evangelho da graça e a oração respondida

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Gênesis 49.31, diz que Jacó pediu para ser en-
terrado junto com Lia, e não junto com Raquel. Em
algum momento durante a jornada, Jacó se apaixonou
por Lia. Quando tiramos os olhos das outras coisas e
louvamos o Senhor no meio das circunstâncias, Ele
concede aquilo que deseja o nosso coração.
Jesus veio da tribo de Judá. Ele é o Leão da tribo
de Judá. Lembre-se de que Judá é louvor. O Senhor
sempre virá no meio dos louvores.
Em João 10.9, Jesus disse que Ele é a porta. Mas,
no Salmo 100.4, lemos que entramos por suas portas
com ações de graças e hinos de louvor. A porta é Cristo,
e o louvor é a maneira de entrarmos nessa porta.
Todas as vezes que você louva, você abre a porta
da graça em sua vida. A graça não é uma doutrina ou
ensino, mas é o próprio Cristo.
Em Apocalipse 3.20, o Senhor Jesus disse que
está à porta, se alguém ouvir a sua voz e abrir a porta,
Ele entrará para cear com ele. O Senhor é a própria
graça, e nós abrimos a porta com o louvor.
Iadar é traduzido como “louvor” em pouco mais
da metade das vezes em que é mencionado em nossas
Bíblias, mas no restante é traduzido como “ações de
graças”. Gratidão e louvor possuem a mesma raiz
no hebraico.
Olhando assim, fica fácil entender como o louvor
e a gratidão abrem a porta da graça. O contrário de

A porta da graça

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louvor e gratidão é murmuração e reclamação. Nós
louvamos quando reconhecemos que temos mais do
que merecemos, mas reclamamos quando pensamos
que não recebemos o que merecíamos. A raiz da mur-
muração é a justiça própria.
Todas as vezes que permitimos uma atitude de
justiça própria, nós anulamos a graça e cancelamos
a promessa de Deus. Louvar é a melhor maneira de
vigiarmos contra a justiça própria e ficarmos firmes
na graça de Deus.

O louvor é uma porta de


esperança
E lhe darei as suas vinhas dali e o vale de Acor,
por porta de esperança; e ali cantará, como nos
dias da sua mocidade e como no dia em que subiu
da terra do Egito. (Os 2.15 – RC)
O vale de Acor vem de Acã. Você deve lembrar-
-se de que Acã foi aquele que pecou pegando para
si das coisas sagradas que Deus mandou que fossem
tiradas de Jericó e consagradas a Ele. Josué, por meio
do Urim e Tumim, tirou sorte e foi revelado que Acã
era o culpado. Ele, então, foi apedrejado e o vale onde
ele morreu passou a se chamar Acor. Acor quer dizer
“tribulação, distúrbio, inquietação” (leia Josué 7).
O Senhor diz que, se estivermos no vale de tris-
teza e tribulação (Acor), Ele nos dará uma porta de

O Evangelho da graça e a oração respondida

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esperança. E a porta de esperança é que cantaremos
como nos dias da mocidade, como nos dias em que fo-
mos salvos. Cante no vale da tribulação e Deus abrirá
uma porta de esperança. A esperança é uma confiante
expectativa de que coisas boas virão no futuro. Há
coisas tremendas atrás da porta de esperança.

O louvor traz vitória


Depois da morte de Josué, os filhos de Israel con-
sultaram o SENHOR, dizendo: Quem dentre
nós, primeiro, subirá aos cananeus para pelejar
contra eles? Respondeu o SENHOR: Judá subirá;
eis que nas suas mãos entreguei a terra. (Jz 1.1-2)
Cada vez que o povo de Israel partia de um lugar
no deserto, a primeira tribo a seguir adiante era a tribo
de Judá. Mas em Juízes lemos algo que define um prin-
cípio espiritual, Judá deve sempre lutar primeiro. Judá
significa louvor, e o louvor deve sempre vir primeiro.
Não importa o tipo de luta, adversidade ou inimigo
que você esteja enfrentando, simplesmente louve.

O louvor é porta de riqueza


Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a
glória do SENHOR nasce sobre ti. Porque eis que
as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos;
mas sobre ti aparece resplendente o SENHOR, e
a sua glória se vê sobre ti. (Is 60.1-2)

A porta da graça

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Normalmente, essa profecia é mencionada como
se referindo ao milênio, mas o verso 3 fala a respeito
das trevas que cobrem a terra, portanto é mais apro-
priado concluir que se refere aos dias de hoje, pois hoje
as trevas cobrem as nações que há na terra.
No verso 11, lemos que nossas portas ficarão
abertas continuamente para recebermos as riquezas
das nações. Se as portas estão abertas, as riquezas das
nações serão trazidas a nós.
As tuas portas estarão abertas de contínuo; nem
de dia nem de noite se fecharão, para que te sejam
trazidas riquezas das nações, e, conduzidos com
elas, os seus reis. (Is 60.11)
Mas o que essas portas representam hoje? A res-
posta está clara no verso 18.
Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra,
de desolação ou ruínas, nos teus limites; mas aos
teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas,
Louvor. (Is 60.18)
Os muros se chamam salvação. A palavra “sal-
vação” é Yeshua em hebraico e é o próprio nome do
Senhor Jesus. Mas é maravilhoso quando entendemos
que as portas se chamam louvor. O verso 11 diz que a
porta deve ficar aberta continuamente, o louvor deve
ser contínuo em nossa vida. E o resultado disso é que
as riquezas das nações serão trazidas a nós.
Não louvamos para sermos enriquecidos com
coisas naturais, mas para nos enchermos d’Ele, que é
a verdadeira riqueza.

O Evangelho da graça e a oração respondida

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A chave de davi

C
reio que profeticamente nós somos a igreja
de Filadélfia. A igreja de Filadélfia é a igreja
que verá o arrebatamento. De todas as sete
igrejas do Apocalipse, ela é a única que, além de não
ter sido repreendida, recebeu o elogio do Senhor. A
essa igreja, o Senhor apareceu como aquele que tem
as chaves de Davi, que abre e ninguém fecha, e que
fecha e ninguém pode abrir.
Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas
coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem
a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e
que fecha, e ninguém abrirá. (Ap 3.7)

A chave de davi

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Em Apocalipse 1.18, o Senhor diz que possui as
chaves da morte e do inferno, e agora afirma possuir tam-
bém a chave de Davi. No entanto, em 3.20, Ele diz que
está à porta batendo. Apesar de ter as chaves, o Senhor
está batendo à porta do coração dos crentes de Laodiceia.
Mas como podemos entender a chave de Davi em
nossa vida? Isaías 22 diz que essa chave não é apenas
de Davi, mas é a chave da casa de Davi.
Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi;
ele abrirá, e ninguém fechará, fechará, e ninguém
abrirá. (Is 22.22)
O que é a casa de Davi? O que ela significa?
Zacarias 12 nos dá a resposta: a casa de Davi é onde
foi derramado o espírito da graça e de súplicas.
E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de
Jerusalém derramarei o espírito da graça e de
súplicas; olharão para aquele a quem traspas-
saram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por
um unigênito e chorarão por ele como se chora
amargamente pelo primogênito. (Zc 12.10)
Quando juntamos essas verdades, entendemos
que a chave de Davi está relacionada com o espírito da
graça. A graça não é uma coisa, mas o próprio Senhor
Jesus. Nós temos a chaves da casa de Davi porque te-
mos o espírito do favor sobre nós. Quanto mais favor
desfrutamos, mais portas abertas são colocadas diante
de nós. Portas abertas são um sinal de favor.

O Evangelho da graça e a oração respondida

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A essa igreja de Filadélfia, o Senhor disse que
abriu uma porta que ninguém poderá fechar (Ap
3.8). Ele faz isso porque possui a chave de Davi, e
essa chave nos foi dada.

O que é a chave de davi?


O fato de ser chamada de chave de Davi tam-
bém é algo que devemos entender. A vida de Davi
foi claramente caracterizada por ações de graças,
louvor e adoração.
O problema é que, em vez de louvar, nós recla-
mamos. É próprio da natureza humana caída a recla-
mação e a murmuração. O louvor não é algo natural,
por isso tem de ser aprendido. O louvor não flui es-
pontaneamente, temos de nos disciplinar para louvar.
Vamos entender algo sobre a reclamação. Na
verdade, ela é a maior expressão da justiça própria,
do merecimento próprio. Se alguém acha que mere-
ce algo melhor, sua atitude é sempre de murmurar,
mas onde não há merecimento próprio, o louvor
toma lugar. Se, porém, alguém acha que tem mais
do que merece, sua atitude é sempre de gratidão e
louvor. Quem reconhece que nada merece nunca
reclama, pois se não merecia e não recebeu, não há
nenhuma reivindicação.
O Senhor Jesus disse sobre os fariseus: “Pois
veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem

A chave de davi

29
demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe,
e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo
de publicanos e pecadores!” (Mt 11.18-19). Em ou-
tras palavras, nada podia agradar a esse tipo de gente.
Não importa quão boa é a pregação, eles acharão
algo para reclamar. Imagino que no céu dirão que o
trono de Deus é muito brilhante, ou que o ambiente
é calmo demais e gostariam de mais barulho.
A desculpa que dão é que são espontâneos e se-
guem o que sentem no espírito. Tenha muito cuida-
do com isso! Normalmente, essas pessoas dizem que
seguem o sentimento do Espírito, mas, na verdade,
elas seguem aquilo de que gostam e evitam o que
não gostam. Se não gostam de algo, elas dizem que o
Espírito não está fluindo naquilo ou que determinada
coisa não tem unção.
A primeira coisa que Adão fez depois da queda foi
reclamar. Ele disse a Deus: “A mulher que tu me deste
[...]” A principal característica da natureza caída é viver
procurando faltas e culpados. Mas se queremos a chave
de Davi em nossa vida, precisamos aprender a louvar.
Não podemos falar de Davi sem falar dos salmos de
adoração e do tabernáculo que ele edificou em Jerusalém,
que ficou conhecido como o Tabernáculo de Davi.
Quando o povo entrou na terra de Canaã, o
Tabernáculo foi levantado em Gilgal. Depois de
Gilgal, ele foi levado para Siló. De Siló, ficou em
Gibeon até que o Templo foi construído. Mas nos

O Evangelho da graça e a oração respondida

30
dias em que o Tabernáculo estava em Siló, a Arca
foi levada pelos filisteus e nunca mais voltou para o
Tabernáculo. Depois que ela voltou dos filisteus, ficou
vinte anos na casa de Abinadabe, e depois, três meses
na casa de Obede-Edom. É nesse momento que Davi
entra em cena e leva a Arca para Jerusalém e a coloca
no Tabernáculo que ele levantou em Sião.
A Arca simboliza o próprio Senhor Jesus e a sua
presença no meio do seu povo. Davi levantou outro
Tabernáculo em Jerusalém e colocou ali a Arca, de
maneira que os sacrifícios e os rituais aconteciam
diariamente no Tabernáculo, mas a presença de Deus
estava em Sião. O Tabernáculo sem a Arca simboliza
o cristianismo religioso sem a presença de Deus, mas
o Tabernáculo de Davi nos fala daqueles que genuina-
mente adoram o Senhor e vivem um relacionamento
com o Pai por meio de Cristo.
O Tabernáculo de Davi é um tipo da igreja no
Velho Testamento. Nós somos o Tabernáculo de Davi
que foi restaurado.
Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o
tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de
suas ruínas, restaurá-lo-ei. (At 15.16)
No Tabernáculo de Davi, não havia sacrifícios,
mas adoração contínua com música, louvor e ações
de graças. Durante as vinte e quatro horas do dia, os
sacerdotes e levitas se revezavam adorando o Senhor
diante da Arca da Aliança.

A chave de davi

31
Evidentemente, a chave de Davi é algo que está
relacionado com louvor e adoração. Quanto mais
louvamos e adoramos o Senhor, mais Ele usa a chave
de Davi em nossa vida. Davi descobriu que, sempre
que ele passava por tribulações ou era atacado pelo
inimigo, quando ele começava a adorar com salmos,
imediatamente o Senhor lhe dava a vitória. Quando
ele se via cercado por todos os lados e parecia não haver
escape, ele louvava o Senhor e uma porta era aberta
diante dele de forma sobrenatural.
Vamos ver como Davi enfrentava suas lutas e
problemas e como o Senhor usava a chave para abrir
portas diante dele. Não importa qual o seu problema,
o que você precisa é de portas abertas.
Davi foi chamado de homem segundo o coração
de Deus (At 13.22). As Escrituras revelam que, quan-
do ele enfrentava problemas, ele adorava o Senhor com
salmos e hinos. Em vez de chafurdar na derrota e ficar
tateando nas trevas, ele olhava para o céu e erguia sua
voz ao Rei dos reis.

Salmo 3 – escolha descansar


no senhor
Já no fim de sua vida, Absalão, seu filho, tentou
usurpar o trono de Israel. Davi poderia ter es-
colhido retaliar enviando suas tropas leais, mas
ele não tinha um coração para pelejar contra seu
próprio filho. Assim, decidiu fugir de Absalão, a

O Evangelho da graça e a oração respondida

32
quem amava profundamente. Ele estava com o
coração partido e cheio de angústia. Você pode
imaginar como ele estava arrasado pela traição
do próprio filho. Mas, em vez de mergulhar na
amargura e autopiedade por causa da tribulação,
ele cantou ao Senhor um cântico de adoração no
monte das Oliveiras (2Sm 15.30-31).

Porém tu, SENHOR, és o meu escudo, és a mi-


nha glória e o que exaltas a minha cabeça. Com
a minha voz clamo ao SENHOR, e ele do seu
santo monte me responde. (Sl 3.3-4)
Enquanto Davi adorava o Senhor, as circuns-
tâncias ao seu redor foram mudadas para o seu bem.
Deus fez com que os conselheiros de Absalão ficassem
desnorteados.
Algumas pessoas pensam que, quando estão ado-
rando, estão dando alguma coisa a Deus. A verdade é
bem o contrário, enquanto adoramos, Ele é que nos
dá coisas, liberando sua sabedoria, graça e vida sobre
nós. Deus não precisa da nossa adoração. Ele possui
miríades de anjos que o adoram continuamente de
forma perfeita. Deus não é um megalomaníaco, que
exige que declaremos o quanto Ele é maravilhoso. Ele
não depende de nós para ser Deus.
A adoração é apenas uma resposta do nosso cora-
ção ao seu amor por nós. Quando o contemplamos
e conhecemos sua graça e amor insondáveis, somos
irresistivelmente atraídos para a sua presença. E,

A chave de davi

33
enquanto adoramos, algo sobrenatural acontece,
somos transformados de glória em glória na sua
própria imagem (2Co 3.18).
Muito antes de o inimigo roubar a sua vitória, ele
rouba a sua canção. Antes de arrancar a sua alegria, ele
cala o seu louvor. E muito antes que perceba, você se
torna crítico, pessimista, depressivo e mal-humorado.
Não permita que o diabo tenha êxito. Deixe que o lou-
vor do Senhor esteja continuamente em seus lábios e o
seu coração esteja sempre consciente da sua presença.
A Palavra de Deus diz que Paulo e Silas estavam
numa cadeia presos por causa do evangelho. À meia-
-noite, eles cantavam hinos ao Senhor e, enquanto
louvavam, as cadeias se abriram, porque aquele que
tem a chave de Davi abriu todas elas.
Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam
e cantavam louvores a Deus, e os demais com-
panheiros de prisão escutavam. De repente,
sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os
alicerces da prisão; abriram-se todas as portas,
e soltaram-se as cadeias de todos. (At 16.25-26)

Salmo 34 – escolha adorar o


senhor
O Salmo 34 foi escrito quando Davi estava na
caverna de Adulão. Ele escreveu um dos seus salmos
mais poderosos durante um dos tempos mais difíceis

O Evangelho da graça e a oração respondida

34
da sua vida. Na introdução do salmo, há uma expli-
cação dizendo que Davi o escreveu quando se fingiu
de louco na presença de Abimeleque. Vamos entender
o contexto desse salmo.
Quando Davi matou Golias, ele não o fez com
uma espada, mas com a sua funda. Ele derrubou
o gigante com uma pedra e depois o matou com a
espada do próprio Golias. Aquela espada não pôde
livrar Golias. Mas agora Davi estava com o sacerdote
Aimeleque em Nobe e pergunta se ele não tinha uma
lança ou espada. O sacerdote responde que tinha
guardada a espada de Golias. Davi a pega e diz: “Não
há outra semelhante a essa”.
Aquela espada parecia agora tão extraordi-
nária para Davi, mas ela não pôde livrar Golias.
Infelizmente, até os poderosos caem dos lugares
elevados da fé. Não pense que as coisas que mundo
usa os estão ajudando, não estão. Por isso, não tente
usar suas ferramentas, armas e estratégias. Quando
estamos fracos na fé, presumimos que as táticas do
mundo são melhores.
Davi, mesmo agora com a espada de Golias,
estava fugindo com medo de Saul e surpreendente-
mente foi se refugiar em Gate. Você deve se lembrar
de que Golias era exatamente dessa cidade. Agora
Davi estava numa situação tão caótica que ele foi
buscar refúgio justamente no rei de Golias. Que
situação deplorável!

A chave de davi

35
Quando Davi chegou a Gate, os servos do rei
o reconheceram como aquele que tinha derrubado
Golias. Então, eles disseram ao rei: “Este não é Davi,
o rei da sua terra? Não é a este que se cantava nas
danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém
Davi, os seus dez milhares?”
Ouvindo isso, Davi teve muito medo do rei de
Gate. A Bíblia, então, nos diz que ele mudou seu
comportamento fingindo ser louco, agarrava-se nas
portas e deixava correr saliva pela barba (1Sm 21.11-
13). Por causa disso, o rei de Gate o mandou embora.
Você consegue imaginar o estado mental de Davi
nessa situação? O campeão de Israel estava se arrastan-
do no chão, babando como um doido. Então, a Palavra
de Deus diz no versículo seguinte que Davi saiu dali e
se refugiou na caverna de Adulão (1Sm 22.1).
Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de
Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa
de seu pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-
se a ele todos os homens que se achavam em aperto,
e todo homem endividado, e todos os amargurados
de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns
quatrocentos homens. (1Sm 22.1-2)
Agora que você compreendeu o contexto do
Salmo 34, veja o que Davi ministrou ao Senhor den-
tro da caverna. Ele poderia se esconder ali cheio de
autopiedade e condenação, mas, em vez disso, ele
louvou ao Senhor.

O Evangelho da graça e a oração respondida

36
Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu
louvor estará sempre nos meus lábios. Gloriar-
se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o
ouvirão e se alegrarão. Engrandecei o SENHOR
comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome.
Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me
de todos os meus temores. (Sl 34.1-4)
Davi escolheu não ser derrotado pelas suas cir-
cunstâncias. Ele decidiu bendizer o Senhor em todo
tempo, não apenas em tempo de bonança, mas, acima
de tudo, em tempos de aflição.
Ele entrou na caverna em desespero, mas algo
aconteceu enquanto ele adorava o Senhor. Não ape-
nas ele foi transformado, mas também os homens
que estavam com ele. O texto diz que “ajuntaram-se
a ele todos os homens que se achavam em aperto, e
todo homem endividado, e todos os amargurados de
espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns
quatrocentos homens” (1Sm 22.2).
Ele certamente encorajou esses endividados e
amargurados de espírito a cantar o verso 3 do Salmo
34: “Engrandecei o SENHOR comigo, e todos, à
uma, lhe exaltemos o nome”. Por causa disso, cum-
priu-se o verso 5, que diz que eles contemplaram o
Senhor e foram iluminados.
Aqueles homens foram transformados de glória
em glória porque contemplaram o Senhor enquanto
Davi adorava. Depois disso, eles se tornaram os valen-
tes de Davi, matadores de gigantes e foram fiéis até o
fim (leia 2Sm 23.8-39).

A chave de davi

37
Davi tinha em seu exército homens especiais. O
principal deles era Josebe-Bassebete. Ele agitou sua
lança contra oitocentos homens e os feriu de uma só
vez (2Sm 23.8-13). Outro era Eleazar. Este era valente
e em uma batalha lutou contra os filisteus até sua mão
ficar grudada na espada. O terceiro era Sama. Certa
vez, ele se colocou no meio de um terreno cheio de
lentilhas quando Israel fugia dos filisteus e feriu so-
zinho todos eles. Por causa dele, o Senhor realizou
grande vitória naquele dia.
No mesmo princípio, quando escolhemos adorar
o Senhor hoje, não podemos evitar ser transformados.
Você pode começar como um endividado e amargu-
rado, mas terminará como um valente do Senhor.

Cante com as palavras de davi


O Salmo 57 também foi escrito quando Davi es-
tava na caverna de Adulão. Num dos momentos mais
depressivos da vida de Davi, a sua canção era grandiosa
(Sl 57.7-11). A chave de Davi para a vitória era o louvor.
Se queremos ter a chave de Davi, precisamos can-
tar as suas palavras. Houve um rei chamado Ezequias,
que fez justamente isso. O texto de 2 Reis 18 descre-
ve Ezequias dizendo que ele “confiou no SENHOR,
Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve
seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre
os que foram antes dele. E assim, foi o SENHOR com
ele; para onde quer que saía, alcançava bom êxito”.

O Evangelho da graça e a oração respondida

38
Confiou no SENHOR, Deus de Israel, de ma-
neira que depois dele não houve seu semelhante
entre todos os reis de Judá, nem entre os que
foram antes dele. Assim, foi o SENHOR com
ele; para onde quer que saía, lograva bom êxito.
(2Rs 18.5,7)
O rei Ezequias trouxe reavivamento ao povo e
restaurou o louvor e a adoração na casa de Deus. Ele
estabeleceu os levitas e os sacerdotes para ministrarem
com instrumentos exatamente como Davi tinha feito
séculos antes (2Cr 29.25-26). Mas o mais importante
é que ele ordenou que esses ministros louvassem o
Senhor com as palavras de Davi.
Então, o rei Ezequias e os príncipes ordenaram
aos levitas que louvassem o SENHOR com as
palavras de Davi e de Asafe, o vidente. Eles o
fizeram com alegria, e se inclinaram, e adoraram.
(2Cr 29.30)
É maravilhoso que tenhamos o livro de Salmos
em nossa Bíblia, de maneira que podemos adorar
a Deus hoje com as palavras de Davi. Nós somos a
igreja que possui a chave da casa de Davi, a chave
do espírito de graça e súplicas, a chave que abre e
ninguém pode fechar. Isso é maravilhoso! Ninguém
pode fechar a porta que Ele abre. Lembre-se, porém,
de que o Senhor fecha uma porta hoje para amanhã
abrir uma maior ainda. Não se desanime se porventura
uma porta se fechar.

A chave de davi

39
Conta-se que, certa vez, um homem estava
viajando num barco que naufragou, só ele escapou.
Então, ele foi parar numa ilha deserta. Ali, tentando
sobreviver debaixo de chuva e sol, clamou a Deus
e pediu a graça de poder construir uma choupana
para se abrigar dos elementos da natureza. O Senhor
o capacitou e ele construiu uma choupana. Lá vivia
com tranquilidade, mas o seu desejo era ir embora.
Um dia, ele orou ao Senhor pedindo-lhe que enviasse
alguém para resgatá-lo. Numa manhã, ele estava na
praia e começou a chover. De repente, um raio caiu
em cima da sua choupana, incendiando-a. Aquilo o
deixou desolado e chateado com Deus. Primeiro, o
barco afundara e agora a choupana tinha sido destru-
ída. “Numa ilha tão grande, o raio tinha de cair justa-
mente em cima da minha choupana?”, lamentava ele.
Parado na praia, martirizando-se ao ver a choupana
pegando fogo, percebeu que um navio vinha em sua
direção. Finalmente seria resgatado. Depois de subir
no navio, perguntou ao comandante: “Como é que
vocês descobriram que eu estava perdido aqui?” O
comandante respondeu: “Nós não sabíamos, mas de
longe vimos uma choupana queimando e imaginamos
que fosse o sinal de alguém pedindo socorro”.
Às vezes, para o barco da salvação chegar, Deus
precisa queimar sua choupana. Esse incêndio é só
um sinal de que algo maior está vindo lá do mar. O
Senhor tem a chave.

O Evangelho da graça e a oração respondida

40
Para quando não
souber como orar

N
ós somos vasos de barro. Tudo o que Deus faz
Ele o faz por meio de vasos frágeis de barro.
Temos alguma beleza e glória, mas ainda so-
mos vasos de barro. Gostaríamos de ser vasos de aço
super-resistentes, mas em vez disso, Deus resolveu
manifestar a sua glória em vasos de barro. É como
se a beleza do tesouro colocado dentro desses vasos
ficasse ainda mais realçada pela fragilidade do barro.
Não gostamos de ser vasos de barro e até que-
remos ser o tesouro, mas o tesouro é Ele em nós.
Enquanto estivermos aqui, sempre seremos vasos
frágeis de barro.
Para quando não souber como orar

41
Como vasos de barro, temos de admitir que, al-
gumas vezes quando oramos, o nosso homem exterior
ainda luta com dúvidas, mas mesmo assim insistimos
em fé. Apesar das dúvidas, a oração flui e logo vemos
a manifestação da resposta. É assim para lembrarmos
que o poder é sempre de Deus, e nós somos apenas
frágeis vasos de barro.
Temos, porém, este tesouro em vasos de barro,
para que a excelência do poder seja de Deus e não
de nós. Em tudo somos atribulados, porém não
angustiados; perplexos, porém não desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos,
porém não destruídos. (2Co 4.7-9)
Paulo diz que muitas vezes somos atribulados,
mas não precisamos ficar angustiados, pois temos a
paz de Deus em nosso coração. Algumas vezes, ficamos
perplexos. Caso você não entenda o que é perplexida-
de, é só se lembrar dos 7 a 1. Você simplesmente não
consegue entender como essas coisas acontecem. Mas
mesmo quando perplexos, não desanimamos. Como
vasos de barro, podemos ficar abatidos, mas a graça
de Deus não deixa que sejamos destruídos.

Vasos quebrados liberam poder


Parece paradoxal, mas há poder dentro de frágeis
vasos de barro para destruir todo poder do inimigo.
Em Juízes 7, lemos a história de como Gideão venceu

O Evangelho da graça e a oração respondida

42
os midianitas com apenas trezentos homens. Eles de-
veriam tão somente tocar a trombeta e quebrar o vaso
de barro que carregavam com uma tocha acesa dentro.
Todos nós somos como esse vaso de barro e
dentro dele resplandece a luz de Cristo. Quando
esse vaso é quebrado, a glória do Senhor se mani-
festa. Mas quando o vaso é quebrado, a trombeta,
o shofar, precisa ser tocada. A trombeta é o chifre
do carneiro que morreu. Quando tocamos o shofar,
anunciamos a morte do carneiro, e dessa forma o
inimigo é derrotado.
Então, repartiu os trezentos homens em três com-
panhias e deu-lhes, a cada um nas suas mãos,
trombetas e cântaros vazios, com tochas neles.
Assim, tocaram as três companhias as trombetas
e despedaçaram os cântaros; e seguravam na mão
esquerda as tochas e na mão direita, as trombe-
tas que tocavam; e exclamaram: Espada pelo
SENHOR e por Gideão! E permaneceu cada um
no seu lugar ao redor do arraial, que todo deitou
a correr, e a gritar, e a fugir. (Jz 7.16; 20-21)
O Senhor permite tribulações e perseguições
apenas para que o vaso de barro seja quebrado e pos-
samos proclamar a morte do carneiro pelo toque da
trombeta. Se você tem enfrentado situações difíceis e
há uma grande pressão sobre você, não tenha receio
de ser um vaso de barro quebrado. O poder de Deus
se manifesta em nosso quebrantamento.

Para quando não souber como orar

43
O Senhor manda que os soldados toquem trom-
betas de chifres de carneiro. Essas trombetas são cha-
madas de shofar. O que elas representam? O carneiro
aponta para Cristo. Para ter o chifre, o carneiro precisa
ser morto. Assim, a trombeta de chifre de carneiro,
quando tocada, anuncia a morte do Senhor.
Deus gosta de trabalhar com o fraco e com o
insignificante. Gideão era o menor em sua casa, e sua
família, a mais pobre de sua tribo (Jz 6.15-16). É por
isso que o Senhor não deixou que ele pelejasse com
vinte e dois mil homens, pois Israel poderia presumir
que a vitória veio pelo seu grande exército. Em vez
disso, o Senhor usou apenas trezentos homens.
Tudo isso vai contra a sabedoria humana. Esta
é a razão por que o Senhor foi crucificado num lugar
chamado Caveira; na verdade, apenas o crânio da ca-
veira. Isso é para mostrar que a cruz é o fim de toda
inteligência humana, toda lógica da carne.
Na primeira multiplicação dos pães, eram cinco
pães para mais de cinco mil pessoas, mas na segunda
multiplicação, eram sete pães para quatro mil. Nossa
lógica é que, quanto maior for a necessidade, maiores
serão os recursos, mas a lógica de Deus é, quanto maior o
problema, menos recursos são necessários (Mc 8.19-20).
Deus ama nossa fraqueza, porque é no meio da
fraqueza que Ele pode manifestar a sua graça. Mas
fraqueza aqui não é a fraqueza do pecado, e sim a
fragilidade que é própria dos vasos de barro.

O Evangelho da graça e a oração respondida

44
Gemidos atraem a atenção
de deus
Como somos vasos de barro, nem sempre temos
orações grandiosas para fazer. Há dias em que temos
apenas um gemido em nosso coração. Mas não pense
que tal gemido não tenha valor diante de Deus.
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito;
os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por
causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a
Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se
da sua aliança com Abraão, com Isaque e com
Jacó. (Êx 2.23-24)
O que Deus ouviu no meio do povo de Israel?
O gemido. Muitas vezes, o nosso clamor é apenas um
gemido profundo. Ele não é uma oração perfeita ou
bem articulada, mas apenas o clamor que flui da dor.
Eu sei que existem gemidos inexprimíveis quando
oramos em línguas, mas aqui é apenas um gemido
de dor (Rm 8.26).
Deus ouviu o gemido e se lembrou da aliança.
Será que o nosso gemido ainda hoje faz com que Deus
se lembre da sua aliança? Sei que há gemidos de auto-
piedade e murmuração, e esses Deus não ouve, mas
há gemidos genuínos de dor. Se gememos confiados
na aliança, é certo que Deus ouvirá.
Normalmente, rejeitamos os gemidos porque
pensamos que são um sinal de murmuração, e muitas

Para quando não souber como orar

45
vezes são mesmo, mas eles podem também ser uma
expressão profunda de oração genuína.
Também não gostamos de gemidos porque pen-
samos que precisamos parecer fortes o tempo todo.
Não precisamos parecer fracos diante dos homens, mas
diante de Deus é a coisa mais apropriada a se fazer.
Há pessoas que são tão fortes e silenciosas que
mesmo no meio da dor mais excruciante não ex-
pressam nenhuma emoção. Isso é negar a própria
humanidade. Deus não pode usar aqueles que vi-
vem assim, pois o seu poder se manifesta em nossa
fraqueza humana.
Eu sei que desejamos ser fortes, mas Deus quer
que sejamos fracos para que o seu poder se manifes-
te em meio à nossa fraqueza. É por isso que somos
vasos de barro, para que a excelência do poder seja
de Deus, e não nossa (2Co 4.7). Deus ama quando
somos fracos porque aí a sua graça pode nos suprir
completamente.
Ainda ouvi os gemidos dos filhos de Israel, os quais
os egípcios escravizam, e me lembrei da minha
aliança. (Êx 6.5)
Depois que Deus ouviu o gemido do povo de
Israel, Ele liberou as sete promessas da redenção, nos
versos 6 a 8.
Eu vos tirarei de debaixo das cargas do Egito.
Eu vos livrarei da sua servidão.

O Evangelho da graça e a oração respondida

46
Eu vos resgatarei com braço estendido e com
grandes manifestações de julgamento.
Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus.
Sabereis que eu sou o SENHOR, vosso Deus,
que vos tiro de debaixo das cargas do Egito.
Eu vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão,
a Isaque e a Jacó.
Eu vo-la darei como possessão.
Tudo isso por causa de gemidos diante de Deus.
Assim, não tenha receio de gemer diante de Deus.

O nosso suspiro toca o céu


Há poder em um suspiro profundo de um
coração sequioso diante de Deus. Mas lamentavel-
mente muitos se tornaram tão fortes que no meio
da dor não derramam sequer uma lágrima. Deus
não pode usar pessoas assim, elas perderam a essên-
cia humana de vasos de barro. Deus ama quando
somos expressivos, mostrando o profundo anseio
de nosso coração.
Depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse:
Efatá!, que quer dizer: Abre-te! (Mc 7.34)
A palavra grega para “suspiro” é stenazo. Essa
mesma palavra é traduzida em outras partes do Novo
Testamento como “gemido”. Assim, gemer e suspirar
têm a mesma expressão.

Para quando não souber como orar

47
Há momentos em que precisamos olhar para
o céu e liberar um profundo suspiro. Não conheço
ninguém que ora pelos enfermos dessa forma, mas o
Senhor o fez. O amor sempre suspira porque o amor
se importa com a dor.
Não tenha receio de suspirar clamando ao
Senhor pelo milagre, mas suspire também por sua
presença. O alvo do Senhor é que, antes de tudo,
estejamos com Ele.
Então, designou doze para estarem com ele e
para os enviar a pregar e a exercer a autoridade
de expelir demônios. (Mc 3.14-15)
Sempre pensamos que o Senhor separou os dis-
cípulos para irem pregar e expulsar demônios, mas
antes disso, Ele disse que deveriam estar com Ele. Na
verdade, é porque tinham estado com Ele que pode-
riam pregar.
Podemos orar em todo o tempo se apenas apren-
dermos a suspirar pelo Senhor. Se pararmos por um
instante e invocamos o nome do Senhor com um
suspiro profundo, isso é oração diante de Deus.
Entenda que o suspiro é também um gemi-
do diante de Deus. Há um gemido de dor, mas há
também o gemido que é o anseio de um coração
que ama. É por isso que a Palavra de Deus diz que
precisamos gemer em nosso íntimo ansiando pela
volta do Senhor.

O Evangelho da graça e a oração respondida

48
Todos nós deveríamos gemer ou suspirar pela
volta do Senhor como o povo de Israel gemia pela
libertação.
Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste ta-
bernáculo se desfizer, temos da parte de Deus
um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos
céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, as-
pirando por sermos revestidos da nossa habitação
celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos
e não nus. Pois, na verdade, os que estamos nes-
te tabernáculo gememos angustiados, não por
querermos ser despidos, mas revestidos, para que
o mortal seja absorvido pela vida. (2Co 5.1-4)
Vivemos dias tão angustiantes que gememos em
nosso espírito pela volta do Senhor. Veja que o gemido
é um anseio, uma aspiração pelo céu. Há gemidos de
dor, mas há gemidos de saudade e de amor.
Porque sabemos que toda a criação, a um só
tempo, geme e suporta angústias até agora. E
não somente ela, mas também nós, que temos as
primícias do Espírito, igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a
redenção do nosso corpo. (Rm 8.22-23)

Deus vê as nossas lágrimas


Quando a pressão crescer em você, as lágri-
mas jorrarão dos seus olhos. Deus vê as nossas
lágrimas! Ezequias orou e também chorou. E
Para quando não souber como orar

49
Deus respondeu-lhe, dizendo que tinha visto as
suas lágrimas.
Volta e dize a Ezequias, príncipe do meu povo:
Assim diz o SENHOR, o Deus de Davi, teu pai:
Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; eis que
eu te curarei; ao terceiro dia, subirás à Casa do
SENHOR. (2Rs 20.5)
Aquilo que não pode mover o nosso coração tam-
bém não pode mover o coração de Deus. As lágrimas
são completamente inúteis se não são derramadas
diante de Deus. E cada lágrima derramada diante de
Deus será guardada por Ele.
Contaste os meus passos quando sofri perseguições;
recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não
estão elas inscritas no teu livro? (Sl 56.8)
O Senhor colocará as suas lágrimas em um vaso,
o que significa que Ele se lembrará de todos os seus
sofrimentos. Não estou dizendo que Deus apenas nos
ouve quando choramos, estou afirmando que as lágri-
mas são um sinal de poder em sua oração.
Embora as lágrimas algumas vezes fluam por
causa de uma alegria genuína, usualmente elas são
causadas por pressão além da medida. As lágrimas
descarregam os fardos do coração (Jó 16.20).
Diante do homem, o choro é um sinal de fraque-
za, mas diante de Deus é a coisa mais apropriada a se
fazer. Eu frequentemente digo que feliz é o homem

O Evangelho da graça e a oração respondida

50
que derrama as suas lágrimas diante de Deus, pois
quem nunca chorou diante de Deus não sabe o que é
comunhão ou o que é estar perto de Deus, tampouco
sabe como lançar o fardo sobre o Senhor.
Quando seu caminho na terra parecer comple-
tamente bloqueado, quando você for provocado de
todas as formas, quando todos o acusarem de estar
errado e tudo ao redor parecer se levantar contra
você, então esse será o tempo de você chorar diante
de Deus, pois este é o caminho de escape, a maneira
de resolver os problemas.
Jamais houve um crente fiel que nunca tenha
derramado lágrimas.
Estou cansado de tanto gemer; todas as noites
faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o
alago. (Sl 6.6)
Davi chorou cada noite até poder como que
nadar no seu leito. O que é realmente precioso para
Deus não são as nossas lágrimas em público com o
objetivo de sermos vistos pelos homens, mas o nosso
choro secreto, as lágrimas que nós derramamos diante
d’Ele e somente Ele vê. Lágrimas diante de Deus são
verdadeiras e preciosas.
Quando os filhos de Israel foram levados cativos
e espalhados entre as nações, pessoas os ridiculariza-
vam. Foi debaixo de tais circunstâncias que os filhos
de Coré escreveram um salmo muito significativo.

Para quando não souber como orar

51
Minhas lágrimas têm sido meu alimento dia e
noite, enquanto continuamente me dizem: o teu
Deus onde está? (Sl 42.3).
As lágrimas mostram o nível da pressão dentro de
nós. Há um poder tremendo na oração liberada com
pressão, e essas orações normalmente são banhadas
de muitas lágrimas. Um desejo profundo é a primeira
condição para a oração respondida e o caminho pelo
qual o poder é liberado.

Clame com todo o seu ser


Hebreus diz que o Senhor Jesus foi ouvido por
causa do forte clamor diante de Deus. A força desse
clamor certamente foi proporcional à pressão que
estava sobre Ele.
Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido,
com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a
quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido
por causa da sua piedade. (Hb 5.7)
O tempo de fogo varia, mas não desista. Você
verá que Deus irá com você até o fim da sua vida. Não
adianta ensinar-lhe princípios de oração, porque não
existe fórmula mágica de oração. Se você é alguém que
tem derramado sua alma na oração, algo certamente
vai acontecer. Não desista!

O Evangelho da graça e a oração respondida

52


3
Sumário
1. Saia da lei e permaneça na Graça 7
2. Como permanecer debaixo do favor 27
3. A maldição da lei 41
4. Os dois trabalhadores 53
O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

6
Saia da lei e permaneça
na Graça

M
esmo sendo crentes do Novo Testamento
ainda podemos viver como se estivéssemos
na lei do Velho Testamento. Na verdade
num mesmo dia podemos alternar momentos na lei e
outros na graça. Não se preocupe, isso é normal. Ainda
estamos avançando, pois nossa mente foi condiciona-
da a pensar sempre nos termos da lei e não da graça.
No entanto precisamos vigiar e para isso é fundamen-
tal entendermos todas as formas que a lei e a graça podem
assumir em nosso dia a dia. Quero colocar sete paralelos
entre a lei e a graça. Procure vigiar para permanecer na graça.
Saia da lei e permaneça na Graça

7
Lei é favor merecido; graça é favor
imerecido
Se você crê no evangelho você será conduzido
ao sucesso, saúde, vida, paz, prosperidade, vitória,
proteção, segurança, restauração e muito mais. Tudo
isso por causa da sua abundante graça. Você não re-
cebeu pouca graça, mas recebeu uma abundante e
transbordante graça. Não creia em um evangelho com
uma pequena graça, o verdadeiro evangelho promete
infinitas bênçãos porque procede de uma graça abun-
dante (Rm. 5:17).
Deus o abençoa não porque você é bom, mas
porque ele é bom. A graça é baseada na bondade de
Deus para com você e não no seu próprio desempe-
nho. A graça é o favor imerecido de Deus. Ela não é
um prêmio pelo quanto você é fiel. Se a graça fosse
um prêmio ela seria um favor merecido.
Essa, na verdade, é a grande diferença entre a
velha e a nova Aliança. A velha Aliança é baseada na
lei. A lei é favor MERECIDO – quando você obe-
dece perfeitamente aos mandamentos então você é
abençoado. Mas a graça é favor IMERECIDO – o
Senhor Jesus obedeceu perfeitamente, então você é
abençoado quando crê nele.
Você está debaixo de qual aliança? A antiga
aliança do favor merecido ou a nova aliança do favor
imerecido? Favor merecido ou imerecido?
O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

8
Se você acredita que a sua bênção depende de
cumprir as condições da lei então você ainda está de-
baixo da antiga aliança e ainda não desfruta das boas
novas do evangelho.
A graça é o evangelho e o evangelho é uma pes-
soa: Cristo. Graça não é teologia. Não é uma doutri-
na. Graça é Cristo. Receber a abundância da graça é
receber a abundância de Cristo.
Só temos a graça porque temos a Cristo. A graça
veio com Cristo porque ele próprio é a graça que se
fez gente. Cristo é a graça e a verdade. Se conhecemos
a verdade que é a graça, então somos libertos.
Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés;
a graça e a verdade vieram por meio de Jesus
Cristo. Jo. 1:17
Muitos pensam que a verdade da graça e do per-
dão dos pecados é uma mensagem muito simples, para
novo convertido. Mas isso é um engano pois se fosse
assim tão simples os crentes não viveriam debaixo de
constante culpa e condenação.
É a mensagem do evangelho da graça que gera
fé em nosso coração. Numa ocasião Paulo estava pre-
gando e um homem paralítico se encheu de fé para ser
curado. Aquele homem tinha nascido aleijado e talvez
pensasse que sua condição fosse resultado de uma pu-
nição divina, mas quando ouviu sobre o perdão dos
pecados imediatamente se encheu de fé e foi curado.

Saia da lei e permaneça na Graça

9
Em Listra, costumava estar assentado certo ho-
mem aleijado, paralítico desde o seu nascimento,
o qual jamais pudera andar. Esse homem ouviu
falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo
que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta
voz: Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e
andava. At. 14:8-10
A fé vem pelo ouvir a Palavra, mais especifica-
mente a Palavra do evangelho. Em Romanos 10:17 se
diz que a fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo.
E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação,
pela palavra de Cristo. Rm. 10:17
Somente a palavra de Cristo pode gerar fé, e a
palavra de Cristo é a mensagem do evangelho de que
fomos perdoados e justificados em Cristo. Era esse
evangelho que Paulo pregava e que encheu aquele
paralítico de fé.
Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se
vos anuncia remissão de pecados por intermédio
deste; e, por meio dele, todo o que crê é justifica-
do de todas as coisas das quais vós não pudestes
ser justificados pela lei de Moisés. At. 13:38-39
Quanto mais revelação você tiver da obra consu-
mada de Jesus, mais receberá fé para enfrentar qual-
quer situação em sua vida.
Uma vez que você está em Cristo e sua dívida
foi paga, o seu pecado foi completamente apagado.
Então aos olhos dEle não há nenhuma condenação

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

10
sobre você. Você é justo, mas aos olhos naturais você
ainda peca. Todos nós estamos sujeitos ao pecado,
mas diante de Deus você agora é justo. Essa verdade
porém é recebida por fé. A Bíblia declara que o justo
vive pela fé (Rm 1.17).

Lei é buscar ter justiça própria;


graça é receber a justiça de Cristo
E ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé. Fp. 3:9
Aqueles que andam na lei não guardam real-
mente todos os mandamentos, mas eles escolhem
alguns que eles consideram mais importantes e
quando julgam que os cumprem ele se enchem de
justiça própria.
Quando temos justiça própria nós decaímos da
graça e saímos de debaixo do favor. A justiça própria
é uma forma de dizer que não precisamos da obra
de Cristo, que podemos ser aprovados por Deus por
nossos próprios méritos.
A justiça própria pode assumir muitas faces.
Somos constantemente tentados pelo diabo a confiar
em nossos méritos, por isso precisamos vigiar.
Cada vez que nos justificamos perdemos a justiça
que vem de Cristo.

Saia da lei e permaneça na Graça

11
Lei é demanda; graça é provisão
Pense sempre em termos de provisão. Não pen-
se em termos de demanda. Essa é uma maneira de
fazer distinção entre a lei e a graça. O que é lei? Lei
é demanda, é exigência, é Deus demandando algo
do homem. O que é graça? Graça é provisão, é Deus
suprindo você para fazer aquilo que Ele mesmo exi-
giu. A lei Ele diz: “faça!”. A graça diz: “eu vou fazer
por você!”.
Quem vive pensando em demanda está sempre
angustiado e preocupado. Pessoas que vivem com
pensamento de demanda estão sempre presumindo
algo do tipo: “ah, se tão somente eu tivesse isto”, “ah,
se eu tivesse aquilo”. Ele está sempre pensando no que
ele supostamente não tem.
Toda demanda resulta em uma sensação de ca-
rência. Mas se você tem a mentalidade de suprimento,
você vai confessar que o Senhor já lhe deu e que você
não está vendo, mas Deus já mandou a provisão.
Quem vive em termos de demanda está sempre
debaixo de pressão e de angústia. Este é o tipo de
pensamento que o diabo gosta de produzir em você:
“você tem que ser perfeito, tem que fazer isto ou aqui-
lo”. Quem pensa em termos de suprimento descansa,
porque ele sabe que Deus, em sua riqueza e glória, vai
supri-lo em todas as suas necessidades. Ele sabe que é
abençoado com toda sorte de bênçãos.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

12
O que define minha identidade não é aquilo que
eu faço, mas aquilo que Ele fez. O que define você
não é aquilo que você realiza, mas aquilo que ele já
realizou por você, a obra está consumada.
Por que muitos não querem liderar na igreja?
Porque vivem com pensamento de demanda: “se eu
for líder, vou ter que saber dar direção, vou ter que
multiplicar a célula”. O pensamento de demanda faz
com que ele olhe para si e conclua que não consegue,
que está além de sua capacidade.
Mas se você já disciplinou sua mente para pensar
em termos de provisão você não se preocupa com as
demandas. Se vier o desafio para liderar, você sabe
que o Senhor já lhe deu a palavra, que o Espírito do
Senhor está em você e encherá a sua boca. Este é o
líder que frutifica e avança! Não raciocine em termos
de demanda, mas sim em termos de provisão de Deus.
Jesus nunca pensava em termos de demanda, mas
sim de suprimento. Os discípulos disseram para Jesus
que ele teria que mandar o povo embora porque já era
tarde e não tinham comido nada. O que o Senhor
responde a eles? Dê vocês mesmos comida para o
povo. Felipe fez as contas e disse ao Senhor: “vamos
precisar de tantos mil denários para suprir este povo
todo”. Pensamento de demanda gera sempre desâni-
mo e frustração. O Senhor falou para dar alimento
para o povo. O mesmo Deus que permite a demanda,
Ele próprio vai trazer o suprimento.

Saia da lei e permaneça na Graça

13
Aqueles cinco pães e dois peixes eram suprimen-
to, o Senhor pensa com base no suprimento. Isto deve
ser assim em todas as áreas da sua vida. Mude o seu
condicionamento mental.
Quando você muda sua maneira de pensar, e
passa a pensar de acordo com o Novo Testamento em
termos de provisão, a ansiedade e o peso desaparecem
da sua vida e surge uma santa expectativa de que coi-
sas boas estão por acontecer. A graça do Senhor não
é uma doutrina para você aprender teoricamente, é
algo para você viver no seu dia a dia.

Lei é o que você é para Deus; graça é


o que Deus é para você
Porque o pecado não terá domínio sobre vós;
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.
Rm. 6:14
A Palavra de Deus é absolutamente clara, se você
está debaixo da graça o pecado não terá mais domínio
sobre você. Por extensão podemos afirmar que o diabo
não terá mais domínio sobre você. Pobreza e enfer-
midade não terão mais dominio sobre você. Mesmo
que você ainda peque já não é mais escravo do diabo.
Lei é o que você é para Deus, mas graça é o que
Deus é para você. Assim num mesmo dia podemos
alternar entre a lei e a graça algumas vezes. Você não
perde a sua salvalçao e nem perde a sua justificação,

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

14
mas você pode estar debaixo da lei ou da graça depen-
dendo de onde a sua mente está focada.
Podemos declarar esse texto da seguinte maneira:
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois
não estais debaixo do que você é para Deus, e sim
debaixo do que Deus é para você.
O que Deus é para mim? Ele é para justiça, sabe-
doria, redenção e salvação. Ele é para mim minha cura
e saúde. Ele é a minha torre forte, minha defesa, meu
libertador, protetor e provedor. Ele é tudo para mim.
Quantro mais você está consciente do que Deus é para
você em Cristi, mais graça você recebe.
Mas se em vez disso o seu pensamento for: “será
que estou agradando a Deus?” “Será que ele está ira-
do comigo?” “Tenho eu feito algo errado diante de
Deus?” Se você está sempre pensando no que você é
para Deus você estará de forma prática debaixo da lei.
E esse é o motivo porque coisas ruins têm domínio
sobre a sua vida.
A lei o faz ocupado consigo mesmo, sempre cheio
de introspecção, mas a graça o faz sempre ocupado
com Cristo. E quanto mais você o contempla e medita
no que ele é para você mais favor você recebe e mais
transformação acontece.
Deus não está tratando você com base no que
você é para ele, mas ele trata você com base naquilo
que Cristo é em você.

Saia da lei e permaneça na Graça

15
Lembre-se, porém, que sem fé a graça não pode
atuar. O diabo está sempre ao derredor questionan-
do você dizendo: “se você é filho de Deus como tais
acoisas aconteceram?” “Se você é filho de Deus prova
com o seu comportamento!” “Se você é filho de Deus
como você está pecando?”
Não duvide que você é filho. Às vezes a borbo-
leta pousa sobre o lixo, mas ela ainda continua sendo
borboleta, ela não volta a ser uma lagarta. Em vez
disso ela voa para fora do lixo porque a sua natureza
é de borboleta.

A lei nos faz conscientes de nós


mesmos; a graça nos faz conscientes
de Cristo
A origem de toda dor e tristeza em nossa vida é o
Eu, o ego. Quando vivemos focados no ego perdemos
o favor. Quando você está debaixo da lei a lei faz com
que você fique focado em si mesmo. A lei diz: “Não
farás isso e não farás aquilo!” A graça, por outro lado,
nos faz conscientes de Cristo.
A maneira de sermos livres de uma vida focada
no Eu é estar consciente de Cristo e entender que Ele
agora é a nossa verdadeira identidade. Tudo o que
ele é em sua majestade e glória Deus colocou na sua
conta. Toda a sua bondade e amor Deus colocou na
sua conta. Tudo o que ele é nós somos nesse mundo.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

16
Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que,
no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois,
segundo ele é, também nós somos neste mundo.
I Jo. 4:17
Quanto mais você se esquece de si mesmo e foca
a sua atenção em Cristo mais você é transformado de
forma sobrenatural. Quando você encontra Cristo
você encontra a si mesmo, pois você está nele.
E todos nós, com o rosto desvendado, contem-
plando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
II Cor. 3:18
Tudo o que ele é nós somos. Tudo o que ele pos-
sui nós temos. Por isso é tão importamte contemplar
o Senhor e conhecer o que ele é e o que ele possui
porque tudo o que ele é e tem nos pertence também.
Muitos pensam que essa verdade não é prática e
imaginam que ensinar uma série de “faça isso e não
faça aquilo” é algo prático. Mas não é. O que é prático
é ver o Senhor Jesus. Quando o contemplamos somos
transformados, de forma espontânea sem nem estarmos
conscientes da mudança, na própria imagem do Senhor.
Esse é o verdadeiro cristianismo. Não somos mudados
pelo nosso esforço, mas pelo Espírito do Senhor.
Quando você vê o Senhor Jesus você se torna
como ele é. Enquanto Pedro fixou seus olhos em Jesus

Saia da lei e permaneça na Graça

17
ele pode andar sobre as águas, mas no momento em
que deu crédito ao inimigo e começou a olhar para a
força do mar e do vento ao redor ele começou a sub-
mergir (Mt. 14:28-32).
Como o Senhor se identificou conosco como seu
povo em nosso sofrimento, nós agora precisamos nos
identificar com ele na sua vida em glória.
Qual o sinal de que o estamos contemplan-
do? Porque há muitos que olham, mas nem todos
contemplam. O contemplar envolve uma dose de
deslumbramento.
Precisamos entender que há uma diferença entre
familiaridade e intimidade. Os discípulos andaram com
Jesus, comeram com ele, acordaram de manhã com
o Senhor e a todo que o Senhor ia eles iam também.
No entanto nenhum deles pode ser comparado com o
centurião que se encontrou com Jesus uma única vez
e sabia quem era o Senhor. Os dicípulos estavam fa-
miliarizados, mas o centurião conheceu a intimidade.
A mulher siro-fenícia encontrou o Senhor uma
única vez, sabia quem ele era e o Senhor disse que
ela tinha uma grande fé. Mas dos discípulos muitas
vezes se disse que tinham pequena fé. Estavam todo
o tempo com o Senhor, mas muitas vezes deixaram
de perceber quem ele realmente era.
Maria esteve aos pés do Senhor uma única vez,
mas ela o conheceu mais intimamente que qualquer
discípulo que andava todo o dia com Jesus.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

18
Nós hoje podemos estar manuseando coisas espi-
rituais e mesmo assim estar apenas familiarizado com
essas verdades. O seu coração queima por causa do
amor dele por você? Há muitos familiarizados porque
seu coração é frio mesmo quando pregam e ensinam
as verdades da graça de Deus.
O Senhor se identificou conosco em nosso
sofrimento, pecado, pobreza e vergonha; agora é
tempo de nos identificarmos com ele em sua vida,
santidade e honra.
Davi é um tipo do Senhor Jesus, o rei ungido
e rejeitado. E quando Davi estava peregrinando de
caverna em caverna fugindo pelo deserto houve um
grupo de homens que se identificou com ele em seus
sofrimentos. Mas houve um amigo de Davi, chamado
Jônatas, que não o seguiu, e nem se identificou como
seguidor de Davi.
Jônatas amava a Davi e em muitas ocasiões o
abençoou chegando mesmo a fazerem uma alian-
ça. Mas eu creio que ele falhou quando não quis se
identificar com Davi, estar onde Davi estava. Como
resultado ele morreu muito jovem, muito cedo. Mas
entre aqueles que se identificaram com Davi nenhum
deles morreu. Quando Davi foi coroado rei eles reina-
ram com Davi como capitães de cem e de milhares.
Hoje o nosso rei Jesus está à destra de Deus
Pai, mas ele espera que nos identifiquemos com ele.
Quando nos identificamos com ele nós temos prazer
no que ele tem prazer.

Saia da lei e permaneça na Graça

19
Na lei a impureza é contagiosa; na
graça a santidade é contagiosa
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta,
agora, aos sacerdotes a respeito da lei: Se alguém
leva carne santa na orla de sua veste, e ela vier a
tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou
no azeite, ou em qualquer outro mantimento,
ficará isto santificado? Responderam os sacerdo-
tes: Não. Então, perguntou Ageu: Se alguém que
se tinha tornado impuro pelo contato com um
corpo morto tocar nalguma destas coisas, ficará
ela imunda? Responderam os sacerdotes: Ficará
imunda. Ag. 2:11-13
O que o texto está dizendo é que na lei uma
coisa santa se tornava impura se tocasse em algo
impuro, mas uma coisa impura não se tornava santa
porque tocou em algo puro. Em outras palavras, a
lei faz com que a impureza seja contagiosa. A lei faz
o pecado infeccioso.
Paulo faz uma afirmação estonteante em I
Coríntios 7. Ele diz que o cônjuge incrédulo é santi-
ficado pelo convívio com o cônjuge crente.
Porque o marido incrédulo é santificado no con-
vívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada
no convívio do marido crente. Doutra sorte, os
vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são
santos. I Cor. 7:14

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

20
O que Paulo diz é que debaixo da graça a
santidade é contagiosa. Cada filho de Deus precisa
estar claro que a bênção de Deus está sobre a sua
casa por causa dele.
A primiera coisa que o Senhor fez depois de pre-
gar o sermão do monte foi purificar um leproso. O
Senhor tocou o leproso, mas em vez de ficar impuro
foi o leproso que se tornou limpo. Um sacerdote da
lei jamais poderia tocar um leproso, mas o sacerdote
segundo a ordem de Melquisedeque toca o leproso e
ele se torna limpo. Na graça nós transmitimos pureza.

A lei nos desafia a fazer; a graça


nos desafia a crer
Lei e graça são opostos entre si assim como fazer
e crer são antagônicos. Eles não podem ser colocados
juntos pois são diferentes como noite e o dia. Ou vive-
mos pela lei ou vivemos pela graça, mas não podemos
viver pelos dois. Ou nós vivemos pela obras ou pela fé.
Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de
todo aquele que crê. Ora, Moisés escreveu que o
homem que praticar a justiça decorrente da lei
viverá por ela. Mas a justiça decorrente da fé
assim diz... Rm. 10:4-6
Há dois tipos de justiça, uma é a justiça que
procede da lei e outra a que vem da fé. Uma é pelas
obras, a pessoa tem cumprir todos os mandamentos

Saia da lei e permaneça na Graça

21
então Deus a considera justa. Essa é a justiça da lei.
A outra justiça procede da fé quando o homem crê
corretamente Deus o declara justo.
A justiça da lei é baseada no fazer, nas obras.
Paulo diz que o homem que praticar a justiça de-
corrente da lei viverá por ela, mas o justo segundo a
nova Aliança viverá pela fé. Ele viverá pela fé e não
pelo fazer das obras.
Quando você baseia sua vida na obediência você
não consegue ter fé, porque você vai perceber que não
consegue fazer tudo que devia ter feito. A obediência
nunca é completa por isto, você não tem uma base
onde apoiar a sua fé. Então de manhã quando você
acordar ao invés de avaliar o que você tem feito, avalia
o que você crê.
O Velho Testamento era baseado na lei e a lei é
completamente baseada na obediência. Mas o Novo
Testamento é baseado na obra de Cristo, não naquilo
que você faz ou fez, no seu merecimento ou obediên-
cia, mas na obediência de Cristo. Então, o que se quer
de mim é que eu apenas creia. Tudo aquilo que Ele fez
agora se aplica em mim. Quando você acordar pela
manhã pratique isto. Quando você baseia sua vida na
sua própria obediência então nós temos um problema.
O que é viver com base na Lei? O que é lei? Lei
é você obedecer para ser abençoado. Qual o veredi-
to para ele estar debaixo de maldição? Os da fé são
abençoados, e os que vivem pelas obras da lei são

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

22
amaldiçoados (Gl 3.9). Este é o motivo porque existe
muita maldição no meio dos crentes. Por que há tanta
maldição? Por que ainda há muitos doentes entre nós?
Por que há tanta pobreza e miséria ainda no meio dos
crentes? Porque ao invés de viver por fé em Cristo
eles ainda vivem confiados na própria obediência. E
quando você vive confiado na própria obediência você
então cai debaixo de maldição. (Gl 3.8)
A benção de Deus é somente para aqueles que
vivem baseados na obra de Cristo, que vivem pela
fé. Quando você vive nesta fé o que acontece com
você? A benção e o favor de Deus estão sobre sua
vida. Você precisa ter esta disciplina espiritual: está
baseando sua vida no quanto tem obedecido ou no
quanto tem crido? A obediência não é raiz, a obediên-
cia é consequência. Quando você faz da obediência a
raiz, ela vira lei, Velho Testamento. Mas quando você
transforma a raiz em fé, a verdadeira fé vai resultar
em obediência, mas sem perceber, você obedece a
vontade de Deus.

Lei é o nosso amor a Deus; graça é o


amor dele por nós
O ponto central é o amor de Deus por nós e não
o nosso amor por ele. Nosso amor por ele será apenas
uma resposta do amor que recebemos. Quando en-
tendemos que somos amados, então nós o amamos.

Saia da lei e permaneça na Graça

23
No contexto da última Ceia podemos tomar
Pedro e João como dois tipos de crentes. Pedro repre-
senta aqueles que se gloriam no quanto amam a Deus
e João representa aqueles que se gloriam no quanto
são amados pelo Pai.
O nome Pedro significa pedra e nesse contexto
podemos dizer que ele representa a lei. João significa
“O Senhor é gracioso”. Quando andamos pela lei nós
nos gloriamos que amamos a Deus, pensamos que
cumprimos o primeiro mandamento. Mas quando
conhecemos a graça de Deus somos conquistados para
amá-lo. No dia da luta o que nos sustenta não é o nos-
so amor por ele, mas saber e crer que somos amados.
Na última Ceia o Senhor disse que um deles o
trairia. Pedro representa aqueles que se apóiam eu seu
próprio amor pelo Senhor e ele rapidamente disse:
“por ti darei a própria vida!” Aqueles que se gloriam
no quanto amam o Senhor estão na verdade confian-
do na carne e estão condenados à queda. Somente
a queda pode abrir-lhe os olhos para ver que aquilo
quenos sustenta é o amor dele por nós.
Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-
-te agora? Por ti darei a própria vida. Respondeu
Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em
verdade te digo que jamais cantará o galo antes
que me negues três vezes. Jo. 13:37-38
A queda é a disciplina parta aqueles que con-
fiam na sua carne, mas para aquele que confia que

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

24
é amado o Senhor promete que ele permanecerá até
que ele venha.
A apóstolo João era o discípulo a quem Jesus
amava. Ele se identifica dessa forma no momento da
última Ceia.
Não pense que o Senhor amava mais a João
que aos demais, ele emava atodos igualmente. Então
por que João se identifica como o discípulo a quem
o Senhor amava? Simplesmente porque ele se sentia
amado. O Senhor amava a todos, mas João sabia
que era amado. João praticava o amor do Senhor.
Precisamos cultivar continuamente um senso de que
somos amados.
Pedro e João São dois estilos de vida. Dois tipos
de ministério. Qual dos dois você acha que enfrentou
melhor a crise? No final João estava ao pé da cruz, mas
Pedro negou a Jesus praguejando.
Com qual deles você gostaria de se identificar?
Não confie em seu próprio amor pelo Senhor, mas
descanse no amor dele por você. O nosso amor por
ele é lei, mas o amor dele por nós é graça.
Lembre-se sempre da diferença entre a lei e a
graça. A lei condena o melhor de nós, mas a graça
perdoa o pior entre nós. A lei é a exigência de Deus,
mas a graça é o seu suprimento.

Saia da lei e permaneça na Graça

25
O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

26
Como permanecer
debaixo do favor

H
á pessoas que trabalham muito e parecem
não desfrutar do fruto do seu trabalho.
Algumas coisas que poderiam ser feitas em
alguns dias levam meses ou até anos. Há alguns que
parecem trabalhar fielmente, são diligentes e dedica-
dos; mas, ainda assim, todo o seu esforço parece in-
frutífero. São pessoas que exercitam fé e se entregam à
oração, mas seus esforços produzem pouco resultado.
Onde está o problema? Creio que o problema seja a
falta da bênção do Senhor.
Como permanecer debaixo do favor

27
A bênção de Deus é o resultado do seu favor.
Estar debaixo do favor de Deus significa que as coisas
fluem facilmente para nós. As pessoas até comentam
que para nós tudo parece mais fácil. Nem trabalha-
mos tanto, mas os resultados são enormes. Apesar de
o nosso trabalho ser falho e da fé ser deficiente, ainda
assim os frutos são visíveis.
Nada mais é importante que estar debaixo do
favor. Mas não estamos todos debaixo do favor de
Deus em Cristo? Sim e não. O favor está sempre
sobre nós, o problema é que nem sempre permane-
cemos na posição do favor. Quando saímos dessa
posição nós remamos muito, mas a praia parece
sempre muito distante.
Se não estamos debaixo do favor, todos os nos-
sos esforços são inúteis. Podemos até ter cinco pães
e dois peixinhos, mas eles não serão suficientes para
alimentar a multidão. A vida normal de um crente é
uma vida abençoada debaixo do favor, e a obra nor-
mal de um cristão é uma obra abençoada. Se a nossa
experiência contradiz isso, devemos ir ao Senhor para
recebermos luz.
Evidentemente estar debaixo do favor não signi-
fica que não teremos lutas e problemas. As Escrituras
dizem que José estava debaixo do favor de Deus e mes-
mo assim passou por adversidades. Mas cada provação
foi como um degrau a mais onde ele pôde desfrutar
de maior favor ainda.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

28
O favor de Deus não tem nada a ver com
nossa habilidade ou capacidade. Algumas vezes
olhamos para um irmão e, de acordo com a nossa
avaliação, deveria haver certos resultados no seu
trabalho. Mas os resultados não correspondem às
nossas expectativas. Enquanto há um outro irmão
que consideramos mal equipado para o serviço,
mas o seu trabalho tem um grande resultado. O
fruto é totalmente desproporcional à sua capaci-
dade. Como explicar isso? É porque a frutificação
depende do favor de Deus e não de nossas habi-
lidades. Quando estamos debaixo do favor, os
resultados são sempre surpreendentes.
Em relação às coisas humanas, sempre racio-
cinamos em termos de causa e efeito; mas, quando
estamos debaixo do favor, os efeitos são sempre
extraordinários porque a causa é o próprio Deus
trabalhando por nós.
Desfrutar do favor é a coisa mais importante
em nossas vidas. A vontade de Deus é que todos os
seus filhos desfrutem desse favor continuamente, mas
tristemente muitos não permanecem na posição do
favor. O que pode nos levar a perder o favor? Creio
que Paulo nos dê a resposta em Gálatas 5:
De Cristo vos desligastes, vós que procurais jus-
tificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós,
pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça
que provém da fé. (Gl 5.4,5)

Como permanecer debaixo do favor

29
A graça de Cristo é o favor de Deus sobre nós.
Mas Paulo diz que podemos decair dessa graça. Isso
não significa que perdemos a nossa salvação, como
alguns equivocadamente pensam. Decair da graça
significa sair de debaixo do favor de Deus.
Nós decaímos da graça quando vivemos se-
gundo a lei. Se vivemos ainda na lei, deixamos de
desfrutar do favor.
Aqueles que vivem na lei invariavelmente ma-
nifestarão, em algum momento, duas características:
justiça própria e sentimento de condenação. Essas são
as duas características dos que vivem na lei. Quem
procura se justificar pela lei sai do favor.

1. A justiça própria
Sempre pensamos que a falta de favor está rela-
cionada com o pecado, mas o Senhor não se intimida
diante do pecado. Sabemos que apenas os pecadores
receberam milagres do Senhor Jesus. A Palavra de
Deus condena o pecado, mas precisamos admitir
que o pecado não foi impedimento para que pessoas
recebessem os milagres de Jesus.
Por outro lado, não temos o relato de nenhum
fariseu recebendo coisa alguma do Senhor. Por que isso
aconteceu? Simplesmente por causa da justiça própria.
Aqueles que andam na lei não guardam realmen-
te todos os mandamentos, mas escolhem alguns que

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

30
consideram mais importantes e, quando julgam que
os cumprem, eles se enchem de justiça própria.
Quando temos justiça própria, nós decaímos da
graça e saímos de debaixo do favor. A justiça própria
é uma forma de dizer que não precisamos da obra
de Cristo, que podemos ser aprovados por Deus por
nossos próprios méritos.
Cada vez que nos justificamos, perdemos a jus-
tiça que vem de Cristo. O motivo de procurarmos
sempre ter razão e ficarmos sempre magoados com
outros é porque pensamos que temos alguma justiça
em nós mesmos.
Em Cristo, não somos mais pecadores, mas
precisamos reconhecer que ainda temos a carne, e
em nossa carne não habita bem nenhum. Precisamos
rejeitar toda justiça que procede da lei, pois ela é se-
gundo a carne.
É verdade que assumimos que temos pecado, mas
dificilmente assumimos que em nossa carne não habita
nada bom. Sempre pensamos que há coisas boas em
nós e por causa disso seremos abençoados. Mas não
há nada bom em nossa carne. Somente podemos ser
abençoados por causa da obra de Cristo. Se confiarmos
em nossa justiça própria, perdemos o favor.
Sempre que pensamos que somos parcialmente
bons e que há algumas partes boas em nós, somos
desqualificados para o favor. Em Levítico 13, lemos

Como permanecer debaixo do favor

31
sobre a lei da lepra. Se uma pessoa tivesse lepra na
cabeça, era considerada impura. Se tivesse na barba,
era impura. Se tivesse numa queimadura ou numa
ferida, era impura. Mas, se a lepra estivesse no corpo
inteiro, era declarada limpa (Lv 13.12,13).
Em outras palavras, quando reconhecemos que
não há nada de bom em nossa carne, somos qualifi-
cados para o favor. Até mesmo quando estamos de
joelhos confessando o nosso pecado, nós pensamos:
“Até que não sou tão mau assim! Estou quebrantado,
confessando meu pecado”. Isso é justiça própria.
Em 2 Coríntios, Paulo exorta os irmãos a não
receberem a graça de Deus em vão. Mas como isso
acontece? Para responder essa pergunta, temos de
ir ao verso anterior no qual ele diz que Cristo foi
feito pecado por nós, para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus.
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus. (2Co 5.21)

E nós, na qualidade de cooperadores com ele,


também vos exortamos a que não recebais em
vão a graça de Deus. (2Co 6.1)

Esta é a graça que recebemos: Cristo se tornou


a nossa justiça. Se, todavia, entendemos a graça, mas
ainda confiamos em nossa justiça própria, nós torna-
mos vã a graça e saímos de debaixo do favor.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

32
Nós entramos debaixo do favor quando decla-
ramos ousadamente: “Eu sou justiça de Deus em
Cristo Jesus!” Nunca pense que a bênção é pelo seu
merecimento. Nunca se glorie dizendo que cumpriu as
condições para ser abençoado. Nunca pense que você
merece a bênção. Quando agimos assim, saímos do
favor. Mas devemos sempre declarar que tudo é por
causa da justiça de Cristo.
A melhor coisa que podemos fazer na presença
de Deus é tomar o lugar de Cristo, pois ele já tomou
o nosso lugar. Cristo não teve de pecar para ser feito
pecado e nem você tem de praticar a justiça para ser
feito justo. É tudo obra de Deus.
Estar debaixo do favor é deixar a graça reinar em
nossa vida, mas a graça somente pode reinar por meio
da justiça. Você quer que o favor reine em sua vida?
Então rejeite toda justiça própria.
A fim de que, como o pecado reinou pela morte,
assim também reinasse a graça pela justiça para a
vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.
(Rm 5.21)
Quando caímos, nós sempre queremos nos hu-
milhar diante de Deus, então sempre prometemos
que nunca mais faremos aquilo de novo. Mas isso é
um tipo de justiça própria. A coisa mais humilde a
se fazer é reconhecer que na cruz o seu pecado já foi
cravado e você já recebeu a justiça de Cristo.

Como permanecer debaixo do favor

33
2. O sentimento de vergonha e
condenação
Quando a graça reina, você entra no favor. Mas
a graça não pode reinar com sentimento de conde-
nação. A graça não pode reinar por meio do esforço
próprio para se fazer o melhor. A graça não pode
reinar pela vergonha nem pela constante consciência
do pecado. A graça não pode reinar se temos uma
constante expectativa do mal vindo sobre nós por
causa do nosso pecado.
Aqueles que procuram guardar a lei nem sempre
presumem que cumpriram toda a vontade de Deus.
Algumas vezes eles sabem que caíram no pecado, e o
resultado disso é que se enchem de condenação.
Acalentar o sentimento de condenação é dizer
que o sacrifício de Cristo não teve valor ou é insu-
ficiente para resolver a questão do pecado. Quando
agimos assim, estamos deixando de desfrutar da graça
e por isso saímos de debaixo do favor.
O que muitos não percebem é que a introspecção
e o sentimento de condenação são justiça própria dis-
farçada. É a carne tentando mostrar como está triste
pelo pecado, com o fim de ter algum mérito.
Aqueles que possuem justiça própria estão sem-
pre olhando para eles mesmos, pensando o quanto
são bons e aprovados em suas obras, mas aqueles que
aceitam condenação também são ocupados consigo
O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

34
mesmos, sempre se olhando com o alvo de encontrar
alguma coisa boa em si.
Aqueles que se entregam à introspecção estão sem-
pre se avaliando para ver se são santos. Mas o que é san-
tidade? O entendimento convencional diz que santidade
é fazer a coisa certa. Mas a palavra santidade significa
“separado”, é “hagiasmos” no original.
Isso significa que você foi diferenciado do resto do
mundo de incrédulos. Lá no Egito, o povo de Israel foi
separado das pragas do Egito. Isso significa que fomos
separados da crise que está acontecendo lá fora. Fomos se-
parados de toda praga e enfermidade que assola o mundo.
Mas você se pergunta: “Será que sou mesmo santo?”
Deus não manda você mesmo se sondar, mas o Salmo
139.23,24 diz que ele mesmo nos sonda. E quando Deus
nos sonda, ele vê que temos a justiça de Cristo. Somos
justos e inculpáveis.
Você está mais consciente do seu pecado ou mais
consciente da justiça e do sangue de Jesus? A tradição
nos ensina a ficarmos ocupados conosco mesmos, mas o
resultado disso é sempre culpa e condenação. Por causa
disso, saímos de debaixo do favor.
Uma das coisas que me ensinaram é que deveria
sondar o meu coração antes de adorar a Deus. O pro-
blema é que, quando fazia isso, o resultado era sempre
condenação. Quanto mais eu me sondava, mais me
sentia indigno de adorar. Dessa maneira, no lugar de
ficar mais consciente do meu Salvador, eu ficava mais
consciente de mim mesmo e dos meus pecados.

Como permanecer debaixo do favor

35
A ideia de estar certo antes de adorar a Deus é
uma tradição humana. Não tem sentido eu me lavar
antes de tomar banho. Alguns dizem: “Preciso con-
sertar a minha vida antes de vir a Jesus!” Isso é dito
por pessoas não convertidas e por crentes também.
Depois de convertidos, dizemos: “Preciso con-
sertar a minha vida antes de ser usado por Deus,
antes de receber o milagre, antes de liderar, etc.”.
Em Lucas 7.37, uma mulher pecadora veio adorar
o Senhor. Mas foi só no final que os seus pecados
foram perdoados (v. 47).
Não importa a sua condição, venha para Jesus!
Ele é quem vai transformá-lo! Você não tem de
procurar o pecado, pois está adorando o perdoador.
Não tem de procurar a doença, pois está adorando
o curador.
Precisamos ser livres de nos ocuparmos conosco
mesmos e nos ocuparmos de Cristo. Nós pensamos
que tudo depende de nosso comportamento, nossa
obediência, nossa justiça, mas na verdade tudo de-
pende de Cristo. A obra consumada de Cristo foi
completa e perfeita para sempre.
O Senhor quer que tenhamos consciência do
perdão, e não consciência do pecado.
Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para
sempre quantos estão sendo santificados. E disto
nos dá testemunho também o Espírito Santo;
porquanto, após ter dito: Esta é a aliança que

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

36
farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor:
Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua
mente as inscreverei, acrescenta: Também de
nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e
das suas iniquidades, para sempre. Ora, onde
há remissão destes, já não há oferta pelo pecado.
(Hb 10.14-17)

E no verso 22, lemos:


[...] aproximemo-nos, com sincero coração, em
plena certeza de fé, tendo o coração purificado
de má consciência e lavado o corpo com água
pura. Guardemos firme a confissão da esperan-
ça, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.
(Hb 10.22,23)

A má consciência mencionada em Hebreus 10


é uma consciência que está sempre consciente do
pecado, e não do perdão. É a culpa e a condenação
que impedem as pessoas de receberem a cura e toda
sorte de bênção. Elas simplesmente concluem que
não merecem.
Elas não duvidam de que Deus possa fazer, elas
duvidam de que ele queira fazer, porque pensam que
tudo depende do próprio merecimento.
Por que a condenação é tão perigosa? Por causa
da culpa. Sempre que nos sentimos culpados, instin-
tivamente concluímos que alguém precisa pagar pelo
pecado. Geralmente nós mesmos temos de pagar.

Como permanecer debaixo do favor

37
Vou descrever o que acontece quando você é cons-
ciente do pecado: seu corpo responde à necessidade de
punição e você começa a desenvolver depressão e doenças.
Muitos crentes não estão doentes por causa do
pecado, mas por causa da culpa que vem pela conde-
nação na mente.
Outras vezes, em vez de se punir, você começa a
punir a sua família porque alguém precisa ser culpado.
Aí começa o abuso verbal e até físico.
Inconscientemente você passa a acreditar que não
merece o sucesso e começa a se autossabotar para se punir
e levar a si mesmo a falhar. Você sabota também os relacio-
namentos. Simplesmente acha que não merece o sucesso.
Você precisa entender que Jesus já foi punido em
seu lugar. Pare de se condenar e se punir. A existência
da culpa e da condenação na sua vida mostra que você
não acredita realmente que foi perdoado. Não acredita
que está debaixo do favor.
Evidentemente não estou falando de quem deseja
viver no pecado. Estou falando de crentes nascidos de
novo que vivem debaixo de condenação pensando,
com isso, agradar a Deus, mas infelizmente deixam
de desfrutar do favor.
Quanto mais você ouvir sobre a graça e receber reve-
lação, mais fé você terá para desfrutar das bênçãos de Deus.
Uma maneira simples de você perceber a diferença
entre graça e lei é esta: graça diz respeito a suprimento e

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

38
lei diz respeito a demandas e exigências. Andar pela graça
significa viver pelo suprimento de Deus em todas as áreas
e em todos os aspectos do cotidiano.
A lei sempre diz: Faça isso! É sempre uma demanda.
Mas a graça fornece o suprimento para cumprir a vontade
de Deus. A lei exige justiça, mas a graça nos dá o supri-
mento para sermos justos.

Como permanecer debaixo do favor

39
O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

40
A maldição da lei

A
braão foi o primeiro a respeito do qual se diz
que creu em Deus. Assim, quando cremos,
como ele creu, nos tornamos como ele e nos
relacionamos com Deus na mesma base na qual ele
se relacionou.
Veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa
visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu
escudo, e teu galardão será sobremodo grande.
Respondeu Abrão: SENHOR Deus, que me ha-
verás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro
da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais
Abrão: A mim não me concedeste descendência,
e um servo nascido na minha casa será o meu

A maldição da lei

41
herdeiro. A isto respondeu logo o SENHOR, di-
zendo: Não será esse o teu herdeiro; mas aquele
que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então,
conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e
conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será
assim a tua posteridade. Ele creu no SENHOR,
e isso lhe foi imputado para justiça (Gn 15.1-6).
Quando Abraão estava ve­lho e sem filhos, Deus
lhe prometera uma posteridade. Considere atentamen-
te o que aconteceu:
Deus fez uma promessa a Abraão.
Abraão creu em Deus. Humanamente falando,
era impossível que ele fosse pai, mas mesmo assim
Abraão creu na fidelidade de Deus.
Como resultado, a fé de Abraão lhe foi atribuída
como justiça, isto é, ele foi aceito como justo exclu-
sivamente por causa da fé.
Veja bem que Abraão foi considerado justo
diante de Deus não porque ele tivesse cumprido a
lei ou tivesse se circuncidado – até porque a lei e a
circuncisão nem tinham sido dadas –, mas ele foi
considerado justo simplesmente porque creu na
promessa de Deus. Hoje nós também somos consi-
derados justos do mesmo que Abraão, apenas crendo
na promessa de Deus.
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justifi-
caria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho
a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

42
De modo que os da fé são abençoados com o crente
Abraão (Gl 3.8).
Todo aquele que crê em Deus sem confiar
em seus próprios méritos é feito filho de Abraão,
pois foi assim que Abraão foi justificado. Por isso,
os da fé são abençoados como Abraão. A bênção
de Abraão é uma bênção dupla: a justificação e o
Espírito Santo. É com esses dois dons que Deus
abençoa todos que estão em Cristo. Quando cre-
mos em Cristo e em Sua obra completa na cruz,
somos aceitos como justos diante de Deus e tam-
bém recebemos o Espírito Santo em nós. Essas
duas bênçãos caminham juntas. Todo aquele que
é justificado recebe o Espírito e todo o que tem o
Espírito foi justificado.
É importante dizermos isso para que fique claro
que a justificação não é algum tipo de maquiagem
espiritual que Deus aplica em nós. Não é um tipo de
faz de conta. Deus nos livre de tal coisa. A justificação
é um fato espiritual. Somos justificados pela fé sim-
plesmente porque, quando cremos, Deus coloca em
nós o Seu Espírito. Seu Espírito em nós é também a
nossa justiça.
Para que o crente possa receber essas duas bên-
çãos, a justificação e o dom do Espírito, ele não tem
de fazer nada. Tem apenas de crer. Não precisa pra-
ticar obra alguma da lei, mas apenas confiar na graça
como fez Abraão.

A maldição da lei

43
Dois princípios de vida
E é evidente que, pela lei, ninguém é justifica-
do diante de Deus, porque o justo viverá pela
fé. Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele
que observar os seus preceitos por eles viverá
(Gl 3.11,12).
Somente podemos ter um relacionamento corre-
to com Deus se formos justificados. Ser justificado é o
oposto de ser condenado. Ser justificado é ser declara-
do justo e estar debaixo do favor imerecido de Deus e
do Seu sorriso. Mas como podemos ser justificados?
Teoricamente, há duas possibilidades: a justificação
pela lei ou a justificação pela graça mediante a fé.
A ideia do religioso é que ele será justificado se
obedecer aos mandamentos da lei. Dessa forma, ele
vive se esforçando para ser aceito por Deus e receber
o Seu favor. Quando ele julga ter obedecido, enche-
-se de justiça própria e se julga merecedor da bênção
de Deus. Mas, como inevitavelmente acontece, ele
acaba caindo em algum ponto e se enche de conde-
nação e culpa.
A verdade é que não podemos ser justificados por
obras da lei, porque a lei não procede de fé. Aqueles
que vivem tentando praticar os preceitos da lei con-
fiam em sua própria força, não dependem de fé e, por
isso, estão condenados ao fracasso. Em oposição a isso,
temos aqueles que simplesmente creem na obra de

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

44
Cristo. Eles sabem que não possuem mérito algum,
por isso descansam na obra de Cristo. Eles não ficam
olhando para si mesmos em busca de alguma justiça,
mas, em vez disso, olham constantemente para Cristo
e Sua obra realizada na cruz. A justificação é exclu-
sivamente pela fé pelo simples motivo de que não
conseguimos cumprir os mandamentos da lei.

Dois resultados
Uma vez que esses dois princípios de vida são
estabelecidos, eles vão conduzir o homem a dois re-
sultados distintos: a bênção ou a maldição (vv. 10,14).
A bênção é ser colocado debaixo da graça de Deus,
debaixo do Seu favor imerecido. A maldição é o oposto
disso, é ficar debaixo da maldição e do juízo de Deus.
A maldição é tudo aquilo que está escrito em
Deuteronômio 28 e inclui pelo menos quatro coisas:
condenação, morte, doença e miséria. Como o ho-
mem é incapaz de cumprir a lei, ele está debaixo da
maldição da lei, mas, em Cristo, somos livres dessa
maldição por causa do evangelho da graça.
Paulo nos diz que a bênção de Abraão está re-
lacionada conosco por dois motivos. Em primeiro
lugar, porque somos justificados, como foi Abraão,
pela fé. Quando cremos como creu Abraão, somos
justificados. Abraão é chamado de o “pai da fé” e to-
dos os que creem são seus filhos. Por isso, a bênção
de Abraão nos alcança.
A maldição da lei

45
Como a maldição e a bênção chegam até nós? Os
que andam pelo caminho da lei recebem a maldição.
Os que andam pelo caminho da lei são aqueles que
confiam em seus méritos próprios para agradar a Deus.
Tais pessoas estão debaixo de maldição. O caminho da
fé é o caminho oposto ao caminho da lei (vv. 7-9). Os
que andam exclusivamente pela fé na obra de Cristo
são os que herdam a bênção. O primeiro grupo con-
fia em suas próprias obras; o segundo confia na obra
consumada de Cristo na cruz.

Se vivemos pela lei, estamos debaixo


de maldição
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão de-
baixo de maldição; porque está escrito: Maldito
todo aquele que não permanece em todas as coisas
escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gl 3.10).
Há uma maldição sobre todos os que fracassam
em guardar todos os mandamentos da lei (Dt 27.26).
Infelizmente, existem hoje muitos crentes que prefe-
rem depender de seus esforços, e não do Senhor Jesus.
Eles só dependem de Jesus para a salvação, mas depois
disso eles acham que é responsabilidade deles a vitória
sobre o pecado, o diabo e o mundo.
Sabemos que todos os crentes já foram redimidos
da maldição da lei através da obra do Senhor Jesus,
que se fez maldição em nosso lugar. Contudo, quando

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

46
um crente rejeita a graça de Deus e depende de suas
próprias obras para ser abençoado, ele volta a ficar
debaixo da maldição da lei.
Isso não significa que ele perde a salvação, signi-
fica apenas que ele se exclui da alegria das bênçãos que
Jesus comprou para ele com o Seu sangue. Quando
você volta a depender de suas próprias obras para ser
abençoado por Deus, está retornando ao sistema da
lei e recaindo novamente sob a maldição da lei.
Paulo diz que rejeitar a graça é decair da graça
para as obras. Ao contrário do que muitos imaginam,
isso não significa cair no pecado. Decair da graça é
voltar a depender de obras para agradar a Deus. Paulo
diz em Gálatas 5.4: “Vós que procurais justificar-vos
na lei; da graça decaístes.
Decair da graça é voltar a depender das suas
próprias obras para ser abençoado por Deus. Quem
age assim está retornando ao sistema da lei, o sistema
do favor merecido, e assim cai novamente debaixo da
maldição da lei. No Verso 10, Paulo diz que “todos
quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de
maldição”. Ninguém é capaz de cumprir os padrões
perfeitos da lei. No momento em que falha em um
ponto, será culpado de todos.
Mas a graça de Deus se revela no verso 14, que
diz: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-
-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em

A maldição da lei

47
madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos,
pela fé, o Espírito prometido (Gl 3.13,14).
Ao morrer na cruz, Jesus nos redimiu da maldi-
ção da lei. A maioria dos crentes acredita que é amal-
diçoada quando peca, mas a Palavra de Deus afirma
que já fomos redimidos da maldição da lei. Mesmo
se você falhar, a lei não pode condená-lo, porque, em
Cristo, já está perdoado e justificado. Na verdade, já
morremos para a lei. Não estamos mais debaixo da
lei e da sua maldição.
Mas, se você resolve voluntariamente voltar ao
padrão da lei e depender do seu esforço próprio para
ser justo, a própria lei vai trazer a maldição, e a bên-
ção de Abraão não pode fluir em sua vida. O pecado
já não é mais problema, pois o Senhor Jesus já pagou
nossa dívida, o problema é a insistência do homem
em confiar nos seus próprios esforços.
A ter­rível função da lei é condenar, não justifi-
car. Nenhum homem jamais foi ou será justificado
diante de Deus pelas obras da lei, ou seja, pelas suas
boas obras e seu bom comportamento. Uma vez que
todos falharam em guardar a lei (ex­ceto Jesus), Paulo
teve de escrever dizendo que “todos quantos, pois, são
das obras da lei, estão debaixo de maldição” (v. 10).
A única maneira de fugir da maldição não é pelas
nossas obras, mas pela obra de Cristo. Ele nos redi-
miu da maldição da lei (v. 13). A nossa maldição foi

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

48
transferida Ele. Ele a colocou voluntaria­mente sobre
si mesmo, a fim de nos libertar dela.
Uma vez que sabemos que Ele assumiu a nossa
maldi­ção e que devemos estar n’Ele para ser remidos dela,
como nos unimos a Ele? A resposta é: pela fé. É por isso
que Paulo diz que “o justo viverá pela fé” (v. 11). E dessa
forma, “recebemos pela fé o Espírito prometido” (v. 14).

A maldição da lei
A afirmação categórica da Palavra de Deus é que,
quando vivemos pela fé no favor imerecido de Deus,
nós somos resgatados da maldição da lei. Aqueles
que vivem com base em seu merecimento e andam
confiados em seu esforço e justiça própria inevita-
velmente ainda sofrem debaixo da maldição da lei,
mesmo sendo salvos.
O que é a maldição da lei? A única maneira de
descobrirmos é voltando à lei. Ela está descrita no
capítulo 28 de Deuteronômio e envolve basicamente
quatro coisas: miséria, enfermidade, condenação e
morte. Por causa da obra consumada da cruz, não
precisamos mais viver debaixo dessas maldições.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
ele próprio maldição em nosso lugar, porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
no madeiro; para que a bênção de Abraão che-
gasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que
recebêssemos pela fé o Espírito prometido [...]

A maldição da lei

49
E se sois de Cristo, também sois descendentes
de Abraão, e herdeiros segundo a promessa (Gl
3.13,14,29).
Não vamos enumerar aqui todas as maldições
da lei por falta de espaço, mas você pode ler com cui-
dado a descrição em Deuteronômio 28. Com base
nesse capítulo, podemos dizer que a maldição inclui
os seguintes aspectos:

Maldito no corpo
Fome (vv. 17,33)
Pestilência, tumores, sarna, prurido (vv. 21,27)
Cegueira (vv. 28, 29,35)
Toda enfermidade conhecida pelo homem (v. 61)

Maldito na família
Filhos doentes ou que não servem a Deus (vv.
18,32,41)
Infidelidade no casamento ou o casamento des-
truído (30)

Maldito na mente
Confusão (v. 28)
Perturbação de espírito (v. 28 - opressão, 33,65)
Loucura (v. 28)
Medo de perder a vida (vv. 66,67)

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

50
Maldito na capacidade de sustentar a família
Fracasso das colheitas (vv. 18,30,40)
Seca (v. 24)
Ataques por insetos (vv. 21,38,39,42)
Fracasso nos negócios (vv. 16,30)
Animais domésticos estéreis (v. 28)
Falta de alimento e de bens materiais (vv. 17,18)
Ladrões que roubam (vv. 31,33)

Maldito na própria existência


Todas estas maldições virão sobre ti, e te perse-
guirão, e te alcançarão, até que sejas destruído (v. 45).
Assim com fome, com sede e com falta de tudo,
servirás aos teus inimigos (v. 48).

Maldito na guerra
Derrota na guerra, os inimigos tomarão tudo (vv.
36,43,49,50,51)
Sobre quem vinha essas maldições? Sobre todo
aquele que quebrava algum mandamento. Dessa for-
ma, todo homem está debaixo de maldição, porque
todos pecaram e quebraram a lei de Deus. Todavia,
na nova aliança, não estamos mais debaixo da lei, ela
não mais nos diz respeito. Em Cristo, somos libertos
da maldição porque não estamos mais debaixo da lei
e recebemos a justiça de Cristo.

A maldição da lei

51
Mas, quando um crente resolve viver novamen-
te debaixo da lei, o resultado é que a maldição da lei
poderá vir sobre ele novamente. E por que alguém em
sã consciência iria querer voltar a viver debaixo da lei?
Por causa do engano do diabo. O inimigo tem con-
vencido a muitos que não basta crer em Cristo para
ser justo, mas que eles também precisam guardar os
mandamentos da lei. Não caia no engano do diabo,
pois o alvo dele é fazer com que você sofra novamente
debaixo da maldição da lei.
A única forma de um crente voltar a sofrer debai-
xo da maldição da lei é quando ele decide viver com
base no mérito da lei. Quando um crente decide se
relacionar com Deus com base na troca, ele imediata-
mente cai na maldição da lei. Em Gálatas 3.10, Paulo
diz que aqueles que se relacionam com Deus com base
no mérito da lei estão debaixo de maldição:
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão
debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito
todo aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las
(Gl 3.10).

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

52
Os dois trabalhadores

Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus,


e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que
trabalha, o salário não é considerado como favor,
e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha,
porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé
lhe é atribuída como justiça (Rm 4.4,5).
Escrevendo aos romanos, Paulo explica o prin-
cípio da justificação pela fé, e não pelas obras. Ele
baseia seu raciocínio em Abraão, que foi justificado
somente pela fé, sem ter obra alguma diante de Deus.
Ele apenas creu na graça de Deus e isso lhe foi impu-
tado para justiça. A maneira como Deus nos justifica
é exatamente essa, por crermos na Sua graça.
Os dois trabalhadores

53
Para ilustrar esse princípio, Paulo fala a respeito
de dois trabalhadores. Primeiro, você tem o traba-
lhador que trabalhou e, portanto, merece receber o
salário. Para esse trabalhador, o salário não é um favor
do patrão, mas se trata de uma dívida que precisa ser
paga. Quem trabalha não pede favor, mas cobra o que
lhe é devido. Em oposição a esse, temos um segundo
trabalhador que não trabalhou. Não sabemos porque
ele não trabalhou, mas o fato é que ele precisa do sa-
lário, e por isso mesmo ele vem para receber no dia
do pagamento.
Consegue imaginar a cena? Esse segundo tra-
balhador está ali na fila na maior cara de pau diante
do patrão, que lhe diz: “O que você veio fazer? E ele
responde: “Vim receber”. “Mas você não trabalhou”,
replica o patrão. “Mas eu creio que o senhor é um pa-
trão generoso que me ama, por isso eu estou aqui para
receber”. Porque aquele trabalhador crê naquele que
justifica o ímpio, sua fé lhe é atribuída como justiça.
Isso é completamente insano neste mundo caído, mas
essa é justamente a graça de Deus.
O patrão é o Deus de toda provisão e riqueza,
e os trabalhadores somos nós. A pergunta que lhe
faço hoje é: qual trabalhador é você? A terminologia
bíblica para definir esses dois trabalhadores é “graça”
e “lei”. Esses são dois princípios de vida. O primeiro
trabalhador representa aquele que vive pela lei. Ele
vem receber o salário porque trabalhou e, portanto,

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

54
merece o salário. Para ele, o salário é uma dívida. Esse
é o que vive segundo o princípio da lei. A lei nos fala
de merecimento e justiça própria. Existem muitos
irmãos dentro da igreja que ainda se relacionam com
Deus com base na lei e no merecimento.
O segundo trabalhador também veio receber, mas
ele representa aqueles que andam pelo princípio da
graça. Ele não vem confiado no seu mérito ou justiça
própria, mas confia unicamente na graça de Deus.
Qual a diferença entre a lei e a graça? A lei exige
justiça, enquanto a graça concede justiça. A lei é o que
eu faço para Deus com intuito de ser abençoado, mas a
graça é o que Deus em Cristo já fez por mim para que
eu seja abençoado. A lei depende do homem. Segundo
a lei, tudo depende do homem e, se o homem não
fizer por merecer, não pode ser abençoado. Isso é a
lei, mas a graça é confiar que tudo depende de Deus.
Há algum tempo, eu estava almoçando num
domingo quando recebi uma ligação de um de nos-
sos pastores dizendo que precisava da minha ajuda.
Imediatamente me dispus e lhe perguntei o que estava
acontecendo. Ele disse que tinha acontecido algo e por
isso ele estava sem condições de pregar. Eu insisti para
saber qual era o problema, então ele me disse que tinha
discutido com sua esposa. Isso não é algo tão grave
assim, por isso insisti para saber que o tinha aconte-
cido. Ele contou que não tinha sido uma discussão
qualquer, mas eles tinham erguido a voz um contra o

Os dois trabalhadores

55
outro, falaram de uma maneira muito áspera e, num
certo momento, a esposa lhe deu um empurrão. Ele
me disse que estava com seu espírito abatido e sem
condições de falar.
Naquele momento, eu percebi que era uma
boa ocasião para ajudá-lo a se tornar como o se-
gundo trabalhador da parábola. Eu lhe disse: “Você
já confessou o seu pecado? Crê que foi perdoado?
Então, hoje será um dia importante em sua vida.
Hoje, o seu ministério vai mudar. Faça o seguinte:
você irá pregar no primeiro culto e sua esposa, no
segundo, e eu e minha esposa estaremos aí para
ouvir vocês ministrando”.
Sei que você está pensando que eu fui muito
duro com ele, mas a verdade é que eu queria que
ele conhecesse a graça de Deus. Eu a expliquei a ele:
“Hoje, você vai aprender que Deus não o usa porque
você merece, mas por causa de Sua graça. Hoje, você
vai entender que Deus não o usa porque você foi
bonzinho naquele dia. Não pense que você merece
a bênção de Deus quando você é carinhoso e amá-
vel com sua esposa. Hoje, você vai aprender que sua
justiça é Cristo e que Sua justiça é a mesma tanto no
dia em que você é bonzinho quanto no dia em que
discute com a sua esposa”.
Evidentemente, eu não agiria dessa forma se ele
tivesse cometido um pecado escandaloso, pois, nes-
se caso, haveria a necessidade de disciplina, mas

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

56
muitos vivem debaixo de condenação diante da
acusação maligna.
Ele insistiu comigo para não pregar, pois estava se
sentindo muito mal, mas eu lhe expliquei que aquela
sensação era apenas acusação do diabo. Muitas vezes,
pensamos que precisamos aceitar a acusação porque
realmente estamos errados, mas isso é mentira. Não
devemos aceitar acusação em circunstância alguma.
Às 17 horas, eu e minha esposa estávamos lá sen-
tados no primeiro banco. Ele pregou no primeiro culto
e foi uma bênção, a palavra fluiu e o ambiente estava
muito bom. Mas o segundo culto foi ainda melhor.
Sua esposa começou dizendo que não era digna de
estar ali e toda a congregação começou a se comover.
A unção de Deus era muito viva no ambiente. Mas
aquele casal de pastores ficou realmente estupefato.
Como Deus poderia abençoá-los quando haviam saído
tão fora do padrão?
Eles haviam descoberto uma verdade fundamen-
tal para todo cristão, tudo depende de Cristo e da Sua
justiça. Não a nossa, mas a justiça d’Ele. Nossa justi-
ça é uma pessoa, Cristo. Quando nos comportamos
bem, nossa justiça é Cristo, mas se nos comportamos
mal, ainda somos justos, pois nossa justiça é Cristo.
Entretanto, é preciso ter uma grande fé para receber
o salário sem ter trabalhado. Em outras palavras, é
preciso de uma grande fé para pedir a bênção quando
sabemos que não a merecemos.

Os dois trabalhadores

57
Alguém pode questionar: “Mas justamente no
dia em que menos mereciam, esse foi o dia em que
mais foram abençoados?”. Simplesmente porque
ninguém vai poder se gloriar diante de Deus dizendo
que fizeram ou mereceram alguma coisa. Não podem
ter glória pela bênção naquele dia. No dia do juízo, o
Senhor Jesus vai receber toda a glória, mas, para que
Ele tenha toda a glória, é preciso que todo o trabalho
seja d’Ele. Alguns imaginam que podem se gloriar da
unção que possuem, dizendo: “Eu orei, eu trabalhei
para isso, eu paguei o preço”. Esses são como os traba-
lhadores que vieram para receber porque trabalharam.
Se hoje a sua obra não é feita pela graça, ela não será
aceita diante de Deus.
É sempre bom lembrar a definição teológica da
graça. Graça é o favor imerecido. Se é merecido, já
não é graça, mas lei. Quem trabalhou merece receber,
isso é lei. Mas quem não trabalhou nunca poderia
merecer o salário, mas se mesmo assim o patrão lhe
dá o dinheiro, isso é graça.
Você prefere a lei ou a graça? Não existe ninguém
com a mente sã que prefira a lei. Mas mesmo assim so-
mos tentados a viver pela lei do merecimento. Quando
avaliamos que não merecemos, não conseguimos nos
relacionar com Deus, não temos fé para pedir grandes
coisas e imaginamos que Ele está irado conosco. Esse
é o quadro do primeiro trabalhador. Se, naquele mês,
ele não pôde trabalhar por alguma razão, vai passar

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

58
fome achando que merece ficar sem pagamento,
afinal ele não trabalhou mesmo.
O problema hoje é que muitos pregam a lei do
Velho Testamento. Não estou dizendo que o Velho
Testamento não é Palavra de Deus, eu mesmo sou
professor de Velho Testamento. Todavia, o Velho
Testamento deve ser ensinado para falar de Cristo
de forma alegórica, como sombra, enquanto, no
Novo Testamento, pregamos Cristo como realida-
de. Muitos falam do Velho Testamento sem mostrar
Cristo e o resultado é que tomam a lei e a misturam
com o Novo Testamento. O resultado é confusão.
O Velho Testamento é a lei, enquanto o Novo
Testamento é a graça. São duas coisas incompatíveis,
não é possível estar nos dois ao mesmo tempo. Se
pregamos a lei, anulamos a graça.
Deuteronômio 28 diz que “se atentamente
ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuida-
do de fazer segundo tudo quanto está escrito no
livro da lei, então, e somente então, virão e te
alçarão todas essas bênçãos”. A bênção no Velho
Testamento não era para quem queria, mas era
somente para quem obedecia. Isso significa que
não precisamos mais obedecer? Devemos obedecer,
mas não mais vivemos pela lei do merecimento.
Inconscientemente muitos vão assimilando o pa-
drão do merecimento e vivem uma vida pesada
cheia de jugos e fardos.

Os dois trabalhadores

59
Os dois trabalhadores
O que acontece com aquele irmão que vive como
aquele primeiro trabalhador, aquele que acha que
merece o seu salário? Como vive com base no méri-
to pessoal, ele acredita que somente pode receber a
bênção se a merecer. Imagine um líder de célula. Ele
passou a semana toda e não conseguiu separar um
tempo para orar. Como será atitude dele no dia da
reunião? Ele terá ousadia para falar? Quem vive pelo
merecimento sempre cai na acusação do diabo. O
inimigo lhe diz: “Você não orou, você não cumpriu
as condições, então você não merece ser abençoado.
Não seja hipócrita, é melhor até parar de liderar!”.
Normalmente, quem vive como o primeiro trabalha-
dor da parábola não aceita liderar porque imagina que
nunca conseguirá trabalhar o suficiente para merecer
o pagamento da bênção.
Para muitos irmãos, a liderança é algo que eles
evitam a todo custo porque lhes parece algo angustioso
e pesado. É pesado porque eles sentem sempre que não
oraram o suficiente, não leram a Bíblia o suficiente,
não foram bons o suficiente, então eles se sentem con-
tinuamente em falta diante de Deus. Não vivem em
liberdade, mas estão sempre debaixo de condenação.
A coisa toda fica mais complicada quando
esse trabalhador conclui que ele cumpriu todas as
condições e, portanto, merece receber a bênção.
Então, naquela semana, ele ora todos os dias, estuda

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

60
meticulosamente a mensagem, age bem em casa e no
trabalho, em fim, comporta-se como um bom crente.
Confiado nisso, ele presume que a reunião da célula
será uma bênção tremenda, mas, para o seu deses-
pero, a reunião é muito pesada e ninguém percebe a
presença de Deus.
O que ele não percebe é que, ao concluir que
merece a bênção, ele ficou com um problema diante
de Deus. Como orou todos os dias, ele pode cobrar de
Deus uma reunião abençoada. Como foi fiel durante
toda a semana, ele pode cobrar que a célula cresça.
Como, ainda assim, Deus não o abençoa, ele presume
que deve ter um Acã que está impedindo a bênção de
Deus no grupo. Mas a verdade é que Deus não pode
nos abençoar se nos relacionamos com Ele com base
na lei, no merecimento e na justiça própria.
Não estou dizendo que você pode viver relaxa-
damente, que não precisa orar ou viver em santidade.
O problema é quando você transforma tudo isso em
moeda de troca com Deus. Oração, por exemplo, é
uma necessidade espiritual de quem ama e se rela-
ciona com o Pai, mas muitos a transformam em lei.
Quando fico sem orar, sinto fome, mas muitos, quan-
do ficam sem orar, sentem acusação. Essas pessoas
fazem da oração a moeda de troca com Deus. Se elas
oram uma hora por dia, então podem receber uma
alma na célula. Mas se quiserem dez almas, terão de
orar dez horas por dia.

Os dois trabalhadores

61
Muitos nem ousam pedir alguma bênção, por-
que se sentem indignos de receber. Eles são como o
trabalhador que acha que merece o salário. Esse tra-
balhador vive quase sempre debaixo de condenação
porque nunca consegue cumprir todas as condições
para receber a bênção. Quando você se relaciona com
Deus com base na troca, você tem sérios problemas.
Quem vive debaixo da lei vive sempre com a
alma cansada, porque pensa que tem de agradar a
Deus com algo que precisa fazer. Evidentemente,
todos nós precisamos ter obras, trabalhar para Deus,
mas isso precisa ser resultado de um relacionamento,
e não uma constante tentativa de conquistar o amor
e o favor de Deus.
Você é muito amado do Senhor, e Ele deseja
abençoá-lo tremendamente, mas Ele não pode aben-
çoar a lei, porque, se Ele abençoar o que vive segundo
lei, estará anulando o sacrifício de Cristo. É como se
Ele dissesse que Cristo não precisava ter morrido. Se
fosse possível agradar a Deus o suficiente para merecer
a Sua bênção, não precisaria de Cristo ter vindo para
morrer em nosso lugar. O sacrifício de Cristo é a base
de tudo. É a obra perfeita e consumada que nos faz
justos diante de Deus.
Quando você orar, faça-o confiado na justiça de
Cristo que lhe foi dada gratuitamente. Se pensamos
que estamos bem com Deus porque oramos e jeju-
amos, então somos como os fariseus. Nada do que

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

62
fazemos nos faz aceitáveis diante de Deus. Somente
pelo sangue de Cristo podemos nos aproximar d’Ele:
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus
(2 Co 5.21). Agora eu sou justiça de Deus, porque
minha justiça é Cristo.
Muitos imaginam que não podem pedir uma
bênção grande porque não são dignos. Então, quando
eles veem alguém recebendo uma grande bênção, logo
concluem que tal pessoa deve ser muito boa, santíssima.
Por causa disso, idolatram homens abençoados, porque
pensam que são muito melhores que os demais. Se sou-
béssemos que, onde abundou o pecado, superabundou
a graça, teríamos outra opinião. Aquele que foi mais
abençoado certamente era o menos merecedor, mas
creu na graça, creu que poderia receber sem trabalhar.
Uma outra característica dos que vivem pela lei é
que sua vida cristã é muito penosa. Um acha que para
ganhar a bênção tem de trabalhar muito, enquanto o
outro vem receber sem trabalhar. Qual dos dois vive
melhor? Evidentemente, é o primeiro que vive penan-
do. Lembre-se de que o princípio da lei é abençoar
quem merece, enquanto graça é abençoar quem não
merece. Você não pode comprar a bênção, não pode-
mos fazer barganha com Deus. A única maneira de
recebermos é pela graça.
Aquele que vive pela lei tenta fazer Deus ficar em
dívida com ele. Você fez a sua parte, então agora Deus

Os dois trabalhadores

63
tem de fazer a d’Ele. Ele agora está em débito com
você. Mas Deus não nos deve coisa alguma, pois Suas
condições são altíssimas e jamais poderíamos cumpri-
-las, por isso Cristo veio cumprir a lei em nosso lugar.
Muitos temem que, diante dessa mensagem,
os irmãos não queiram mais trabalhar ou contribuir
na casa de Deus, mas é exatamente o oposto disso
que acontece. Se você experimentar a graça de Deus,
você será tão atraído pelo Senhor que sua vida será
completamente transformada. Aquele que se sente
amando tentará corresponder ao amor que ele recebe,
mas aquele que não se sente amando, invariavelmente
cairá no pecado. Aquele primeiro trabalhador acredita
que o Senhor só ama aquele que trabalha. Quando ele
não trabalha, também não se sente amado.
Infelizmente, muitos ainda não tiveram uma
experiência de descobrir o amor de Deus por eles.
Simplesmente, não se sentem amados. Eles observam
outros que são abençoados e nem possuem uma vida
tão reta assim, enquanto eles que se esforçam tanto
para viver em santidade ainda vivem uma vida mise-
rável. Qual a conclusão inevitável? Deus não me ama,
ou então me ama menos que a outros.
Se um crente não se sente amando, a vida cristã
será para ele uma mera obrigação religiosa e legalista.
Servem a Deus com base no medo da condenação.
Eles até pregam para os outros que Jesus os ama,
mas a mensagem deles não tem poder, porque eles

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

64
mesmos não se sentem amados. Buscou tanto aque-
la bênção e ela não veio, fez tudo que sabia e nada
aconteceu, e agora aquele outro que não fez nada,
está recebendo a bênção.
Desde o começo, o Senhor quis lhe dar muito
mais, mas você só pediu o que acha que merece pelo
trabalho que fez. Porque vive na lei, não tem fé para
pedir coisas maiores. O tamanho dos seus pedidos a
Deus é o tamanho da revelação que você tem da graça.
Se você é líder, saiba que o tamanho do seu minis-
tério não é a expressão da sua capacidade, o tamanho
do seu ministério não é na proporção da sua inteligên-
cia, o tamanho do seu ministério não é o tamanho da
sua habilidade para realizar coisas, mas ao contrário do
que todos pensam, o tamanho do seu ministério revela
o quanto você conhece a graça de Deus. Porque quem
conhece a graça pede muito, quem conhece pouco só
pede um pouquinho ou não pede nada.
A bênção é para quem não merece. Se merecer
já não é bênção, mas pagamento de dívida. Enquanto
você achar que merece muito não vai receber nada,
porque você está se identificando com o trabalhador
errado, o trabalhador que vive segundo a lei.
Lembre-se de que há dois tipos de homens tra-
balhando sob dois princípios de vida: a lei e a graça.
Há irmãos que vivem cansados e aqueles que pensam
que a visão e o ministério da igreja estão destruindo a
vida deles. Na vida da igreja, temos esses dois tipos de

Os dois trabalhadores

65
trabalhadores: temos aqueles que trabalham e por isso
esperam o pagamento, e temos os que não trabalham
e igualmente esperam receber o pagamento.
Os primeiros não precisam exercitar fé, pois o
pagamento para eles é uma dívida. Eles trabalham e
merecem. Para o segundo grupo, o pagamento é uma
questão de fé. Eles não merecem receber nada, mas
precisam crer no Deus que justifica o ímpio.
Os primeiros trabalhadores vivem segundo a lei;
enquanto o segundo grupo vive pela graça. Aqueles
que trabalham pela lei confiam em seu mérito pesso-
al. Presumem que somente poderão ser abençoados
se merecerem, e por isso vivem debaixo de constante
condenação. Será que orei o suficiente, estudei o su-
ficiente, será que fui bom o suficiente? Eles acreditam
que a obra é feita pelo seu esforço, pelo seu braço e,
portanto, vivem debaixo de condenação, porque sa-
bem que nunca conseguem cumprir a exigência para
receber a bênção.
Quando julgam ter cumprido as condições, se
sentem bem, mas isso é passageiro, porque logo come-
çam a sentir novamente condenação. Eles vivem com
a alma cansada, porque pensam que devem agradar
a Deus pelas suas obras. Pensam que o pagamento
é algo que eles conquistam, mas o pagamento nos é
dado pela graça.
Pensam que a vida cristã é sempre penosa.
Concluem, pois, que existe alguma verdade misteriosa

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

66
que eles ainda não conhecem, e por isso não pros-
peram. Presumem que existem alguns mais amados
por Deus que outros. Pensam que alguns são mais
amados porque são mais santos e por isso possuem
maior bênção.
Como posso me tornar como o segundo
trabalhador, aquele que não trabalhou, mas veio
receber? Gostaria de compartilhar pelo menos três
princípios espirituais.

Como podemos nos tornar como o


segundo trabalhador?

1. Precisamos crer no Deus que justifica


o ímpio
O primeiro princípio é que você precisa crer no
Deus que justifica o ímpio. A afirmação de Paulo a
respeito do segundo trabalhador é realmente ousada.
Ele diz que o segundo trabalhador veio receber sem
ter trabalhado porque ele crê nos Deus que justifica
o ímpio. Um Deus que justifica o ímpio? Que Deus
é esse? Que mensagem é essa? Todo aquele que ensi-
na que Deus justifica o ímpio será perseguido, como
Paulo foi. Os fariseus não aceitam esse ensino em
hipótese alguma.
Em outras palavras, você precisa reconhecer que
não merece, que não possui justiça própria, que não

Os dois trabalhadores

67
é bom o suficiente para receber a bênção de Deus.
Precisamos reconhecer que a nossa justiça própria é
como trapo de imundícia, mesmo depois de conver-
tido. Devemos estar entre aqueles que creem que a
nossa justiça é Cristo.
Precisamos entender que fomos justificados, e
não apenas perdoados. Ser perdoado é bom, mas é
diferente de ser justificado. Ser considerado justo é
muito superior. Suponha que você tenha me roubado
algo. Isso faz de você um ladrão. Mas suponha que eu
tenha lhe perdoado. Nesse caso, você seria um ladrão
perdoado, mas continuaria sendo um ladrão. Você não
se tornaria justo simplesmente porque eu lhe perdoei.
Deus deseja ter mais que pecadores perdoados. No
céu, não há ladrões perdoados, só há justos.
Ser justo é diferente de ser um pecador perdoado.
Qual é a única maneira de ser justo? Seria se, por um
milagre, você morresse e então ressuscitasse, nascesse
de novo. Então, você não teria mais passado. Somente
assim poderia ser considerado justo. E foi exatamen-
te isso que Deus fez conosco em Cristo. Quando o
Senhor Jesus derramou o Seu sangue na cruz, Ele
perdoou todos os nossos pecados.
Você é perdoado, mas existe uma verdade ainda
maior: quando Cristo morreu, nós morremos com
Ele, e quando Ele ressuscitou, nós ressuscitamos com
Ele, e agora Ele é a nossa vida. E se Ele é a nossa vida,
isso significa que Ele também é a nossa justiça. Você

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

68
foi enxertado no justo, você agora é membro do justo.
Só existe um que é justo, o Senhor Jesus Cristo, e você
é justo porque você está n’Ele.
Você foi enxertado em Cristo e Ele agora é a sua
justiça. Se Cristo é a sua justiça, então naquele dia em
que você pensa que não se comportou bem, você ainda
é justo. A sua justiça é Cristo, e não os seus atos de
justiça. Se a sua justiça forem os seus atos, então você
ainda está vivendo na lei, porque, pela lei, só é justo
aquele que obedece. Mas, pela graça, mesmo naquele
dia em que desobedece, você ainda continua sendo
justo. Sei que parece muito bom para ser verdade, mas
é verdade e é bom mesmo!
É claro que você deve se arrepender e confessar
sempre que o Espírito lhe mostrar o seu pecado, mas
quando você confessa seu pecado e se arrepende, você
continua sendo justo. Todavia, se você não crê no Deus
que o justifica mesmo quando você não parece ser tão
justo, você nunca conseguirá avançar na vida cristã.
Não dá para servir a Deus se achando sempre
um miserável que não merece coisa alguma. Não
conseguimos expulsar demônios se pensamos que
não temos justiça para isso. Diante do inimigo, não
teremos fé e retrocederemos. Precisamos fazer todas
as coisas sabendo que a nossa justiça é Cristo.
Mas ainda há muitos entre nós que vivem se-
gundo a lei. Outro dia, alguém veio contar-me que
manifestou um demônio numa de nossas células.

Os dois trabalhadores

69
Naquele momento, o líder mandou que o endemo-
ninhado olhasse para a sua mão e lhe disse: “Olhe
para essa mão! Aqui tem oito anos de santidade. E
agora essa mão com oito anos de santidade será co-
locada sobre você”.
É triste, mas mesmo oito anos de santidade não
são suficientes para expulsar um demônio. Precisamos
da justiça de Cristo. Aquele líder deveria, na verdade,
dizer assim para o diabo: “Olhe para mim! Você não
está vendo a mim, mas está vendo a Cristo, porque
eu estou em Cristo e você não pode resistir-Lhe. Eu e
Cristo somos um, porque aquele que se une ao Senhor
se tona um só espírito com Ele. Eu sou membro d’Ele
agora. Então, quando eu colocar a minha mão sobre
você, será Cristo quem estará colocandoO. Somente
assim podemos ter ousadia verdadeira. Não depende-
mos de nossa justiça, mas de Cristo.
Aqueles que vivem pela lei estão sempre se
olhando para ver se possuem algum mérito diante
de Deus. A introspecção é um grande problema na
vida cristã. Muitos vivem debaixo de acusação todo
o tempo e pensam que isso é o convencimento do
Espírito. Qual a diferença entre o Espírito Santo
trazendo convencimento do pecado e o acusador tra-
zendo acusação e condenação? Na verdade, o Espírito
não precisa mais convencer o crente a respeito do seu
pecado. Nós temos cônjuges que desempenham essa
função muito bem.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

70
Todo crente possui uma consciência em seu espí-
rito e imediatamente ele sabe quando fez algo fora da
Palavra de Deus. Ninguém precisa de uma revelação
especial para saber que pecou. O Espírito Santo está
trabalhando para convencer o crente que ele é justo
em Cristo. Mesmo quando você falha, Ele está sempre
presente para lembrá-lo que você é purificado pelo
sangue do Cordeiro. O que realmente precisamos é
que o Espírito Santo nos dê revelação de que Cristo
é a nossa justiça.
Quando falhamos, precisamos ser lembrados que
ainda somos justiça de Deus em Cristo. Para crer que
Deus ainda nos vê como justos mesmo quando erra-
mos, é necessária uma grande revelação do Espírito
Santo. A justificação pela fé somente pode ser enten-
dida pela revelação do Espírito.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado,
da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem
em mim (Jo 16.8).
Ele veio para convencer o mundo. E mesmo as-
sim não é convencê-lo de cada pecado no plural, mas
do pecado no singular. O pecado é a descrença na obra
de Cristo. Esse versículo se refere aos incrédulos. Mas
o verso seguinte complementa quando o Senhor diz
aos discípulos: “[...] da justiça, porque vou para o Pai,
e vós não me vereis mais” (Jo 16.9). Observe que aqui
ele estava falando com os discípulos.

Os dois trabalhadores

71
Porque precisamos ainda ser convencidos da
justiça? Simplesmente porque pensamos que somos
justos quando fazemos coisas corretas, mas o ser justo
é permanecer justo diante de Deus por sustentar uma
fé correta no sangue de Jesus. O Espírito Santo é o
ajudador. Ele foi enviado para ajudá-lo, e não para
importuná-lo. Ele não é um sujeito implicante que
veio para atormentá-lo o tempo todo mostrando o
quanto você é indigno.
Abandone toda introspecção. Ficamos olhando
para nós mesmos tentando achar algum mérito, al-
guma coisa boa na qual possamos nos firmar para rei-
vindicar a bênção. Mas quando você olha para Cristo
e se esquece de si mesmo, você tem fé para receber
aquilo que precisa de Deus.
A introspecção abate a sua fé. O Espírito Santo
é o seu ajudador. Ele está aqui para levantar você, e
não para abatê-lo. Ele está aqui para gerar fé, e não
incredulidade. Ele está aqui para trazer justiça, paz e
alegria no espírito. O reino de Deus não é comida e
nem bebida, mas é justiça, paz e alegria no espírito
(Rm 14.17). Isso significa que todas as vezes que o
Espírito Santo está operando, você vai sentir justiça,
paz e alegria; mas toda vez que o diabo estiver agindo,
você se sentirá desqualificado, amarrado, triste e infe-
liz. É verdade que o Espírito Santo também produz
em nós uma tristeza segundo Deus, mas mesmo essa
tristeza é vida dentro de nós.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

72
2. Precisamos de uma grande fé para
receber sem trabalhar
É preciso muita fé para não trabalhar e mesmo
assim chegar para receber o salário. Muitos de nós não
temos mais porque achamos que não merecemos, ou
seja, estamos ainda nos relacionando com Deus se-
gundo o mérito da lei.
A grande arma do diabo contra os crentes é a
acusação. Ela é a causa por que não temos mais líderes
sendo levantados em nosso meio. Os irmãos se ava-
liam e concluem que Deus nunca poderá abençoar o
trabalho deles, pois são indignos. Muitos estão sempre
procurando alguém ungido para orar por eles, porque
imaginam que Deus não os ouve, mas certamente
ouvirá aquele ungido que é mais santo.
Não estou dizendo que não podemos receber
oração e ministração uns dos outros, mas isso torna-
-se um problema quando agimos com uma mente
religiosa. Antes, orávamos aos santos católicos para
que eles pedissem a Deus por nós, já que, sendo eles
santos, Deus não lhes negaria um pedido. Mas quan-
do viemos para a vida da igreja, apenas trocamos o
santo católico pelo pastor ungido. Pensamos que ele
está mais perto de Deus e, por isso, se ele orar por nós,
então receberemos.
Uma vez que Cristo é a nossa justiça, nós po-
demos orar com ousadia, pois já não é segundo o

Os dois trabalhadores

73
nosso merecimento, mas segundo a justiça de Cristo.
Precisamos ter claro que jamais mereceremos coisa
alguma, tudo é por meio de Cristo.
Existem nos evangelhos dois exemplos de pes-
soas a respeito das quais Jesus disse que tinham uma
grande fé: o centurião romano e a mulher cananéia.
O que eles tinham em comum? Ambos eram gentios
e estavam fora da aliança de Deus com Israel, por isso
não mereciam receber a bênção, mas, mesmo assim,
eles creram que receberiam. Eles não tinham direito
a receber coisa alguma de Deus, mas se achegaram ao
Senhor somente confiados na graça. Eles tiveram uma
grande fé (Mt 8.5-10; 15.21-28).
Ninguém pode ter fé se anda pela lei. A lei o
condena o tempo todo e, assim, sua fé é anulada. Em
Romanos 4.14, Paulo diz que, se os da lei é que são
os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa. A
bênção de Deus provém da fé, para que seja segundo
a graça.
Enquanto estamos tentando merecer, nada re-
cebemos de Deus, pois Ele jamais abençoa o homem
que possui alguma justiça própria. A bênção é sempre
para aquele que não merece, pois somente esse pode
experimentar da graça.
Graça é o favor imerecido. Se o favor é merecido,
então é lei. E como ninguém jamais pode cumprir a
lei, também ninguém jamais receberá milagre algum
se não for pela graça. Essas duas pessoas não tinham

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

74
como merecer a bênção, não tinham justiça própria
em que se apoiar, chegaram exclusivamente pela graça.
Através desses dois exemplos, o Senhor está di-
zendo que fé grande tem aquele que crê sem merecer,
que vai receber sem ter trabalhado. Mesmo quando o
diabo provou que você não é digno de receber coisa
alguma, você continua com a mão estendida, dizendo
que vai receber por causa da graça de Deus, e não por
causa de si mesmo, vai receber por causa de Cristo
Jesus. Esse é o que possui uma grande fé.
3. Precisamos desistir de negociar com
de Deus
Desista de fazer barganha com Deus. Aquele que
vive na lei se relaciona com Deus de forma doentia.
Nunca sabe se Deus está bem com ele. Se as circuns-
tâncias são boas, então Deus está feliz; se as circuns-
tâncias são más, então Deus está irado. Não avalie o
amor de Deus com base nas circunstâncias. Trocar
favor é viver como aquela criança despetalando a rosa
e dizendo: “Bem me quer, mal me quer”. Passamos a
avaliar o amor de Deus com base nas circunstâncias
e no nosso bom comportamento.
Toda religião é baseada em troca. A base de toda
religião é a lei. Toda religião funciona da seguinte
maneira: se você se comporta bem, terá bênção; mas,
se comporta-se mal, será punido. Esse tipo de rela-
cionamento religioso produz escravidão. Toda religião

Os dois trabalhadores

75
é escravidão, e se voltamos a viver pela lei, estamos
entrando na escravidão também. Como a religião es-
craviza? Todo religioso procura sempre aplacar a ira
do seu Deus e obter o seu favor através de boas obras.
Talvez você fique espantado, mas os crentes que
vivem pela lei ainda seguem esse mesmo caminho das
religiões pagãs. Eles não sacrificam pessoas, mas estão
sempre procurando uma forma de agradar a Deus
e convencê-lO a abençoar-lhes. Veja, por exemplo,
sua tentativa de receber uma bênção financeira. Você
tenta dar o dízimo, mas, se não resolve, você decide
dar além do dízimo. Ainda assim, a bênção não vem
e, de repente, você ouve alguém dizendo que você
precisa entregar o seu Isaque. Você faz de tudo para
ser abençoado do mesmo jeito que aqueles religiosos
primitivos. Mudaram os sacrifícios, mas permanece
o mesmo princípio, a troca de favores.
Não precisamos mais nos sujeitar a esse tipo de
escravidão, pois agora somos filhos. Somos abenço-
ados porque somos filhos, e não porque somos bon-
zinhos. Podemos desfrutar da herança porque somos
filhos, e não porque nos comportamos bem.
Você avalia o amor de Deus com base nas
circunstâncias exatamente como quando você era
criança. Quando era criança você gostava de pegar
uma flor e ficar despetalando e dizendo: “Bem me
quer, mal me quer”. Será que é possível se relacionar
com Deus assim? Você acorda de manhã e tropeça no

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

76
quarto escuro: “Mal me quer”. Quando entra no car-
ro novinho e lembra que foi o Senhor quem lhe deu:
“Bem me quer”. No caminho, o pneu furou: “mal me
quer”. Chegou no trabalho e foi promovido: “Bem
me quer”. Voltou para casa e a esposa estava doente:
“Mal me quer”. Alguns, infelizmente, se relacionam
com Deus dessa maneira. O amor de Deus depende
do que acontece ao redor. Quando vivemos assim,
ficamos doentes da alma.
Quando não temos revelação de que o amor de
Deus já nos alcançou, quando vivemos buscando o
favor que já recebemos, quando desconhecemos que
o preço já foi pago na cruz, vamos tentar barganhar
as bênçãos diante de Deus.
O problema da troca é que, quando os problemas
aumentam, você também precisa aumentar a moeda.
A cotação da bênção sobe no mundo espiritual quan-
do as dificuldades vêm. Não estou dizendo que não
podemos dar coisas para Deus. É claro que podemos!
Mas não precisamos fazer trocas com Deus.
Esta é a mensagem do Novo Testamento: de-
sista de merecer, a bênção é para quem não merece.
Se merece, já não é bênção, é dívida. Se é bênção,
então você não mereceu. Estamos tão acostumados a
lidar com as coisas no mundo que temos dificuldade
de nos relacionar com Deus. No mundo, todas as
coisas são recebidas por mérito. Se trabalhou, recebe
o salário; se estudou, será aprovado; se esforçou-se,

Os dois trabalhadores

77
será recompensado. É bom que as coisas sejam assim
no mundo, mas precisamos entender que, diante de
Deus, as coisas são o oposto. Nosso relacionamento
com Deus somente pode ser pela graça.
Esses dois trabalhadores representam dois tipos
de vida, duas formas de se relacionar com Deus: a lei
e a graça. A lei e a graça são opostas entre si. Se de-
sejamos agradar a Deus, precisamos andar segundo
a graça.
Segundo a lei, tudo depende do homem e da sua
obediência. Segundo a graça, tudo depende de Jesus e
do que Ele realizou na cruz. A lei exige justiça, mas a
graça concede justiça. A lei diz: “Faça!”. Mas a graça
diz: “Eu faço por você!”. Tudo sobre a lei tem a ver
com você olhando para si mesmo. Mas tudo sobre a
graça tem a ver com você vendo a Jesus.

O Evangelho da graça e a ibertação da maldição da lei

78
Sumário
1. Herdeiros do mundo 7
2. A realidade da nova criação 17
3. A pedra que se tornou coluna 29
4. Três bases para se apropriar da herança – geração
benjamim 43
Herdeiros do mundo

N
ós somos abençoados com a bênção de Abraão.
Porque hoje estamos em Cristo, a bênção de
Abraão chegou até nós.
Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a
sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do
mundo, e sim mediante a justiça da fé. (Rm 4.13)
A promessa de Deus a Abraão é que ele seria herdei-
ro do mundo. No original, a palavra “mundo” é kosmos.
Tudo o que você poderia desejar hoje para a sua vida está
incluído aqui. Certamente inclui a cura e a prosperidade.
Herdeiros do mundo

7
É difícil ser herdeiro do mundo e também cheio de
enfermidades. A saúde está incluída aqui na herança do
mundo. Prosperidade e provisão também estão incluídos,
pois não podemos dizer que somos herdeiros do mundo
e ainda vivermos na pobreza.

A promessa é para os
descendentes de abraão
A promessa foi feita a Abraão e a sua descendência.
E quem é a descendência de Abraão? Certamente, ela se
refere a nós que somos de Cristo.
E, se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão e herdeiros segundo a promessa. (Gl 3.29)
Essa promessa de sermos herdeiros do mundo não
foi dada por intermédio da lei. E esta é a razão por que
muitos não desfrutam dessa promessa. A promessa é
recebida somente mediante a justiça da fé.
A igreja tem tentado receber as bênçãos através da
lei, enquanto o Senhor diz claramente que é somente
mediante a justiça que vem da fé. Essa promessa não pode
ser realidade em sua vida se você está tentando merecê-
-la por sua obediência aos mandamentos. Se você ainda
segue o sistema de merecimento pessoal, está desquali-
ficado para ser um herdeiro do mundo.
No Velho Testamento, o Senhor disse: “Se você ou-
vir a minha voz e obedecer a todos esses mandamentos,
O Evangelho da graça para reinar em vida

8
então todas essas bênçãos virão e o alcançarão. Mas se
quebrar um deles, a maldição virá sobre você” (Dt 28).
Tiago diz que, se alguém vive pela lei, mas tropeça num
único mandamento, se torna culpado de todos.
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas trope-
ça em um só ponto, se torna culpado de todos.
(Tg 2.10)
Na Velha Aliança, se você quebrasse um único
mandamento, seria culpado de todos, e o resultado era a
maldição. Mas, na Nova aliança, se você cumprir o único
mandamento de crer na obra consumada de Cristo, você
será considerado justo como se houvesse cumprido todos
os mandamentos e assim receberá a bênção.
Podemos dizer que hoje as pessoas não vão para o
inferno porque quebram os muitos mandamentos da
lei, mas elas são condenadas por não obedecer ao único
mandamento de crer no Senhor. No mesmo princípio,
nós somos declarados justos por cumprirmos esse único
mandamento de crer em Cristo.
Cristo se fez maldição em nosso lugar para que a
bênção de Abraão chegasse a nós.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-
-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque
está escrito: Maldito todo aquele que for pendu-
rado em madeiro), para que a bênção de Abraão
chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de
que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
(Gl 3.13-14)

Herdeiros do mundo

9
O Senhor nos resgatou apenas da maldição da
lei, e não das bênçãos da lei. As bênçãos continuam
sobre nós porque hoje o preceito da lei se cumpre em
nós que andamos pela fé.

Abraão recebeu a promessa


porque foi declarado justo
A palavra “mundo” mencionada em Romanos
4.13 é kosmos, que significa todo o mundo organiza-
do com suas riquezas, seus bens, seus recursos e suas
vantagens. A promessa não é apenas para Abraão, mas
também para a sua descendência.
Essa promessa é manifestada e demonstrada na
vida de Abraão. A primeira coisa que Deus fez por ele
foi torná-lo muito rico. Gênesis 13.2 diz que Abraão
era muito rico; possuía gado, prata e ouro. Mas toda
essa riqueza não lhe foi dada porque ele não tinha de-
feitos. Na verdade, Abraão cometeu muitos erros. Ele
era justo para com Deus, mas tinha defeitos. Ele, por
exemplo, mentiu a respeito de sua esposa. Quando um
rei quis a sua esposa para o seu harém, ele disse: “Tudo
bem! Ela é minha irmã”. E a razão para a sua mentira
não era muito espiritual, ele tinha medo de morrer.
Se eu fizesse isso com a minha esposa, não pre-
cisaria ter medo de um rei me matar. Ela mesmo
resolveria isso. A situação se complicou por causa de
sua mentira, e Deus teve de intervir para livrar Sara.

O Evangelho da graça para reinar em vida

10
Abraão, pois, não era perfeito, mas era justo aos olhos
de Deus.
Não existe nenhum registro nas Escrituras de
que Deus tenha repreendido Abraão. Na verdade, por
causa dele, Deus repreendeu reis. Na segunda vez em
que Abraão mentiu sobre sua esposa, Deus apareceu
em sonho ao rei Abimeleque e lhe disse: “Vais ser
punido de morte por causa da mulher que tomaste,
porque ela tem marido” (Gn 20.3).

Abraão recebeu o dom da


justiça, o mesmo dom que nós
temos hoje
Uma coisa que precisamos ter em mente é que
Abraão não tinha o conceito dos Dez Mandamentos
porque a lei ainda não havia sido dada. Ele andou pela fé.
Isso, porém, não significa que ele não tinha
consciência da vontade de Deus. José, por exemplo,
resistiu ao ataque da mulher de Portifar, dizendo:
“Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria
contra Deus?” (Gn 39.9). Ele não conhecia a lei, mas
era consciente de seu relacionamento com o Senhor.
Quando removemos a lei, nós entramos no ver-
dadeiro relacionamento com Deus. Já não seguimos
uma lei impessoal, mas agora lidamos com o coração
do Pai. É fácil pecar contra uma lei, mas é difícil pecar
contra um pai amoroso.

Herdeiros do mundo

11
Hoje, nós cumprimos a vontade de Deus por
causa do Espírito que habita em nós, e não por causa
da lei. Na verdade, Paulo diz que, se somos guiados
pelo Espírito, já não estamos debaixo da lei.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob
a lei. (Gl 5.18)
Todavia, mesmo se você pecar, Deus ainda o vê
como justo. Bem-aventurado o homem a quem Deus
não imputa pecado (Rm 4.6-9). E por que Deus não
imputa pecado? Porque, há dois mil anos, todos os
nossos pecados foram imputados no corpo do Senhor
Jesus, de maneira que hoje Ele não vê pecado em nós,
pois já os viu e puniu no corpo do Senhor. Isso nos
faz livres, não livres para viver no pecado, mas livres
para fazer a vontade de Deus e viver para Ele.

Por que não vemos a bênção de


abraão sobre a igreja hoje?
Por que não vemos os irmãos herdando o mundo
de acordo com a promessa de Deus? A resposta é que
os herdeiros não são mediante a lei, mas por meio da
justiça da fé.
Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se
a fé e cancela-se a promessa. (Rm 4.14)
Se você perguntar a um crente hoje o que anula
a fé, ele imediatamente dirá que é o pecado. Ainda

O Evangelho da graça para reinar em vida

12
que o pecado seja muito ruim, a verdade é que é a lei
que anula a promessa. Nunca é demais lembrar-se de
que a lei é um sistema de relacionamento com Deus
baseado no merecimento. Lei é favor merecido, mas
graça é o favor imerecido.
Assim, a fé é anulada quando vivemos no padrão
da lei, ou seja, procurando merecer a bênção de Deus. A
justiça própria faz com que a fé não tenha efeito. Assim,
olhamos para a igreja hoje e exteriormente as pessoas pa-
recem muito corretas moralmente, mas não desfrutam da
promessa. A razão é que a fé foi anulada. Estão tentando
sempre merecer a bênção e o favor de Deus, em vez de
descansar na obra consumada do Senhor Jesus.
Alguns ainda acalentam o pensamento equivo-
cado de que a graça leva ao pecado. Mas assim como
não podemos entrar na água e não nos molhar, não
podemos mergulhar na graça e não ser santos.

Os que herdam o mundo reinam


em vida
Quando entramos na promessa de ser herdeiros
do mundo, nós compreendemos como podemos reinar
em vida. Nós reinamos porque recebemos a promessa
de herdar o mundo.
Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou
a morte, muito mais os que recebem a abundância
da graça e o dom da justiça reinarão em vida por
meio de um só, a saber, Jesus Cristo. (Rm 5.17)

Herdeiros do mundo

13
O que pode levar um crente a reinar como rei
nesta vida? A resposta é simples: a abundância da graça
e o dom da justiça. Nós precisamos desfrutar de mais
graça, graça sobre graça, abundante graça, para que
vivamos na realidade do dom da justiça. Isso vai nos
dar a fé e o descanso para reinarmos em vida, nós que
já somos herdeiros do mundo.
Se cada vez que você for orar por um enfermo
e o diabo vier acusá-lo do pecado que você cometeu
ontem, você ficar paralisado, não poderá reinar sobre
as obras do diabo. Mas se você se lembrar de que re-
cebeu o dom da justiça, então haverá fé para reinar
sobre a enfermidade.
O que pode cancelar a promessa? Mesmo na
Nova Aliança, a promessa é condicional. O que cance-
la a promessa é a lei, o merecimento, a justiça própria.
Alguns podem dizer que herdar o mundo é uma
promessa para o futuro. Sim, no futuro reinaremos
com Cristo, mas hoje podemos reinar sobre as circuns-
tâncias e podemos desfrutar de saúde, abundância e
provisão. No futuro, julgaremos o mundo e até mes-
mo os anjos (1Co 6.2-3). Mas hoje precisamos saber
que tudo é nosso.
Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque
tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas,
seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as
coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e
vós, de Cristo, e Cristo, de Deus. (1Co 3.21-23)

O Evangelho da graça para reinar em vida

14
Tudo é vosso em cristo
Aqueles que procuram ser justos diante de Deus
por meio da lei estão decaindo da graça e se desligan-
do de Cristo.
De Cristo vos desligastes, vós que procurais jus-
tificar-vos na lei; da graça decaístes. (Gl 5.40)
Desligar-se de Cristo é torná-lo sem efeito em sua
vida. Se Cristo é a sua sabedoria e você está desligado
d’Ele, qual é o resultado? Vai continuar sem entendi-
mento e vivendo em confusão. Se Cristo é a sua cura
e você está desligado d’Ele, o que vai acontecer? Vai
permanecer doente. Ele está em você, mas sem efeito,
sem poder.
Mais uma vez, precisamos perguntar o que faz
com que Cristo se torne sem efeito em nossa vida. A
resposta está clara: é quando procuramos nos justificar
na lei. Ao contrário do que muitos imaginam, não é o
pecado que nos desliga de Cristo, é a justiça própria
que procede da lei.

Herdeiros do mundo

15
O Evangelho da graça para reinar em vida

16
A realidade da
nova criação

Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém co-


nhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos
Cristo segundo a carne, já agora não o conhe-
cemos deste modo. E, assim, se alguém está em
Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já pas-
saram; eis que se fizeram novas. II Cor 5:16-17
A declaração enfática da palavra de Deus é que
somos nova criação. As coisas antigas já passaram.
A melhor maneira de compreendermos a Bíblia
é comparando escritura com escritura. Assim gosta-
ria de usar o texto de apocalipse 21 como ilustração
da nova criação.
A realidade da nova criação

17
O livro de apocalipse é um livro de símbolos. No
capítulo 5, por exemplo, João tem uma visão de Jesus
como um cordeiro com sete chifres. O cordeiro com
sete chifres é apenas um símbolo. Os chifres simbolizam
poder e o número sete significa perfeição. Assim Cristo
é o Cordeiro que possui todo o poder e autoridade.
Nesse sentido podemos dizer que a Nova
Jerusalém também é um símbolo. Ë evidente que li-
teralmente existe a Nova Jerusalém com ruas de ouro
que um dia descerá do céu, mas ela é também um
símbolo da nova criação.

O que são as coisas antigas que


passaram?
Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe.
Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que
descia do céu, da parte de Deus, ataviada como
noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi
grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o taber-
náculo de Deus com os homens. Deus habitará
com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo
estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras
coisas passaram. E aquele que está assentado no
trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fi-
éis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito.
Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.

O Evangelho da graça para reinar em vida

18
Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da
água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e
eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Ap. 21:1-7
Abraão teve duas mulheres em sua vida, Sara que
era sua esposa e Agar uma concubina. Paulo diz que
essas mulheres são símbolos de coisas espirituais. Agar
simboliza o monte Sinai que representa a Lei e Sara
simboliza a Nova Jerusalém que é o oposto do monte
Sinal, ou seja Sara é a graça.
Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres
são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao
monte Sinai, que gera para escravidão; esta é
Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e
corresponde à Jerusalém atual, que está em es-
cravidão com seus filhos. Mas a Jerusalém lá de
cima é livre, a qual é nossa mãe. Gl. 4:24-26
O monte Sinal representa a lei, pois toda a lei pro-
cede do monte Sinai. Hoje a vontade de Deus é que
saiamos do monte Sinai e permaneçamos no monte Sião.
As duas mulheres representam duas alianças.
Agar é a lei e Sara a graça. Paulo também diz que
Agar representa a Jerusalém terrena e Sara a celestial.
A Jerusalém terrena que está em Israel está em
escravidão porque creem no monte Sinai, a lei. Mas
a palavra de Deus diz que a Jerusalém do céu, a Nova
Jerusalém é Sara. Ela é livre e mãe de todos os creem.
De onde você é? Se você é nova criação então você é
filho da Jerusalém celestial.

A realidade da nova criação

19
Mesmo hoje em dia os judeus chamam Jerusalém
de Ierushalaim. Em hebraico toda palavra terminada
em im é plural, assim eles declaram no próprio idioma
que há duas Jerusaléns, uma terrena e outra celestial.
Nós, porém, somos parte da Nova Jerusalém.
O verso 3 diz: Eis o tabernáculo de Deus com os
homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de
Deus, e Deus mesmo estará com eles.
Essas coisas já aconteceram. Hoje Deus tabernacu-
lou conosco em Cristo e na verdade até fez de nós sua
casa ou tabernáculo. Deus é conosco? Gloria a Deus
que Emanuel já veio. Nós já somos povo de Deus ou
isso é algo que ainda acontecerá? Pela nova Aliança nós
já somos seu povo e ele é o nosso Deus (Hb. 8:10).
Não leia tudo isso como se fosse algo para o futuro.
Sim, um dia veremos a face de Deus e também veremos
a Nova Jerusalém, mas hoje tudo isso já é realidade na
nova criação. A diferenças é que hoje essas realidades
são invisíveis.
Tudo isso está escrito am apocalipse 21 para nos
mostrar a realidade de II Coríntios 5:17. Nós somos
a nova criação.
O verso 4 diz que Deus lhes enxugará dos olhos
toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram. Hoje o Consolador já nos foi enviado e ele
enxuga as lágrimas de nossos olhos.

O Evangelho da graça para reinar em vida

20
Não haverá mais morte, pranto e nem dor, incluin-
do enfermidades, porque as primeiras coisas passaram.
Essas primeiras coisas são justamente as coisas antigas
mencionadas em II Coríntios 5:17.
Então o que são as coisas antigas? São as primeiras
coisas mencionadas como Morte, pranto dor, enfermi-
dade e sofrimento. Essas coisas antigas já passaram. Veja
que essas coisas antigas procedem da maldição da lei.
A lei é uma coisa antiga que passou.
II Coríntios 5:17 diz que as coisas antigas passaram
e eis que se fizeram novas. E Deus mesmo diz no verso
5: Eis que faço novas todas as coisas. Para nós que somos
nova criação tudo se fez novo. Deus já fez isso em nós.
Todas essas coisas que passaram são o resultado
da maldição da lei que é morte, dor e sofrimento.
Mas na nova criação a maldição foi removida. Tudo
agora é novo.
A maldição foi removida porque somos filhos da
Graça, a Jerusalém celestial. As coisas antigas são as
coisas relacionadas com a velha Aliança.
No verso 6 vemos a declaração: Tudo está feito!
Quem disse isso? Aquele que é o alfa e o ômega, o
princípio e o fim. E onde ele disse isso? No Calvário
ele bradou: está consumado!
Uma vez que estamos em Cristo nós somos uma
nova criação. Deus não diz que os incrédulos são nova
criação, mas apenas aqueles que estão em Cristo.

A realidade da nova criação

21
Mas se é assim porque os
crentes ainda sofrem todas
essas coisas?
Não vos lembreis das coisas passadas, nem con-
sidereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que
está saindo à luz; porventura, não o percebeis?
Eis que porei um caminho no deserto e rios, no
ermo. Is. 43:18-19

As coisas antigas são sempre a velha Aliança. A


coisa nova a que se refere Isaías é na verdade a Nova
Aliança. A Nova Aliança é a Aliança eterna. Não ha-
verá outra coisa nova.
Eu sei que em todo reavivamento as pessoas
dizem que Deus está fazendo algo novo. Mas isso é
apenas uma força de expressão. Nada pode ser mais
novo que a Cruz. Quando o Espírito abre os olhos
do seu povo para a Nova Aliança tudo parece novo.
No entanto o que parece novo é apenas a verdade
que desde o princípio recebemos. Todo avivamento
é apenas a redescoberta das coisas novas.
Nós agora estamos na nova criação, mas ainda
temos em nosso corpo e em nossa mente coisas antigas.
A palavra de Deus diz que pelo fato de considerar e
lembrar constantemente das coisas antigas o inimigo
ganha espaço em nossa carne.

O Evangelho da graça para reinar em vida

22
Quando você sentir a dor da enfermidade no
seu corpo, não gaste tempo considerando isso, mas
declare que você agora é nova criação e essa doença
não faz parte da sua nova vida. Tudo depende de como
consideramos a verdade.
Quando aceitamos as palavras de condenação,
doença e morte estamos considerando as coisas an-
tigas. Mas o Senhor diz que elas já passaram, mas
quando você as aceita elas permanecem.
Para vivermos a realidade de II Coríntios 5:17
precisamos aplicar primeiro o verso 16 que diz:
Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém
conhecemos segundo a carne; e, se antes conhe-
cemos Cristo segundo a carne, já agora não o
conhecemos deste modo. II Cor. 5:16
Paulo diz que não devemos conhecer a ninguém
de acordo com a carne. Não devemos considerar
aquilo que somos na carne como a nossa verdadeira
condição e realidade. A verdadeira realidade é o que
somos em Cristo, e em Cristo somos nova criação.
Deus está dizendo que devemos crer que somos
uma nova criação ainda que o nosso corpo diga que
não somos. Ainda que nossos sentimentos e sensações
digam que não somos. Mesmo que a nossa experiên-
cia humana diga que não somos. Não devemos nos
ver segundo a carne. Nem a nós nem aos irmãos que
estão em Cristo. Quanto mais cremos mais vemos.

A realidade da nova criação

23
O que temos de fazer para
andar nessa nova criação?
Nós vimos Isaías dizendo para que não conside-
remos as coisas antigas, mas agora vejamos o que o
apóstolo Paulo nos ensina.
Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é
que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instru-
ídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido
de que, quanto ao trato passado, vos despojeis
do velho homem, que se corrompe segundo as
concupiscências do engano, e vos renoveis no es-
pírito do vosso entendimento, e vos revistais do
novo homem, criado segundo Deus, em justiça
e retidão procedentes da verdade. Ef. 4:20-24
A primeira coisa que precisamos entender é a
respeito da verdade em Jesus. Existe uma diferença
entre fato é verdade. É um fato que seu corpo está
doente, mas a verdade é que Cristo levou na cruz todas
as nossas enfermidades. O fato é temporário, mas a
verdade é eterna. A verdade está em Cristo e ele diz
que somos uma nova criação.
Depois Paulo diz que devemos nos despojar do
velho homem no que diz respeito ao trato passado, o
comportamento antigo, e nos renovarmos no espírito do
nosso entendimento, ou seja, renovarmos a nossa mente.
Essa é a maneira como nos despimos de nosso
velho comportamento e nossa velha experiência, pela
renovação do espírito da mente. Comece a pensar de

O Evangelho da graça para reinar em vida

24
si mesmo como sendo uma nova criação. Comece a
renovar a sua mente com a verdade de que as coisas
antigas passaram e tudo se fez novo.
Eu não sou mais temperamental, sou uma nova
criação. Não sou mais impuro e nem escravo do pecado,
sou uma nova criação. Não importa se na minha família
existe essa enfermidade hereditária, eu sou nova criação.
Não há mais maldição sobre mim, sou nova criação.
Eu faço parte de uma nova espécie, uma nova criação.
Nós não somos velha criação e nova criação ao
mesmo tempo. O velho homem já morreu. Não há
mais velho homem em mim, mas ainda existe hábitos,
comportamentos e pensamentos antigos. E como nós
os removemos? Não é pela força, pela luta, pela força de
vontade ou por alguma disciplina, mas pela renovação
da mente, a renovação do espírito do entendimento.
Comece a pensar que você é nova criação. Creia e se
veja como um novo homem.
O nosso problema é que vivemos considerando as
coisas antigas e declarando que ainda somos velha criação.

Como andamos nessa nova


criação?
Podemos aprender isso a partir do exemplo do
próprio Senhor Jesus. Ele nos mostra como ele anda-
va em harmonia com aquilo que ele realmente era e
é. Ele é a brilhante estrela da manhã. Ele é o pão da

A realidade da nova criação

25
vida. Ele é a água da vida, ele é tudo aquilo que o seu
coração sempre desejou.
Antes de manifestar o poder de quem ele era,
o Senhor sempre fazia uma declaração, ele sempre
confessava dizendo: “Eu Sou”.
Vemos, por exemplo, a ressureição de Lázaro.
Quando alguém morre temos o pior cenário possível.
Nessa situação qual foi a primeira coisa que o Senhor
disse? Eu sou a ressurreição e a vida (Jo. 11:25).
O Senhor nem tinha morrido ainda, mas ele de-
clarou que era a ressurreição. Ele não disse: eu espero
que eu seja a ressureição. Nada disso, ele afirmou ca-
tegoricamente, Eu Sou. Ele estava certo de quem ele
era. Nós também precisamos chegar a um ponto de
renovação da mente em que temos completa convic-
ção que somos nova criação. Eu não espero ser, mas
eu sou nova criação em Cristo.
Porque o Senhor disse que era a ressurreição e a
vida, então a ressureição e a vida se manifestaram e
Lázaro foi ressuscitado. Você precisa confessar antes
que possa ver. Alguns esperam pelo dia em que não
vejam mais enfermidade ou pecado em sua vida para
poderem declarar que são nova criatura. Se você não diz
você nunca verá. Confesse primeiro e então você verá.
Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas
que se não vêem; porque as que se vêem são tempo-
rais, e as que se não vêem são eternas. II Cor. 4:18

O Evangelho da graça para reinar em vida

26
A orientação do apóstolo é que atentemos, conside-
remos as coisas que são invisíveis, porque estas são eter-
nas. As coisas que vemos são temporárias e passageiras.
O que é invisível? A Nova Jerusalém e a nova
criação. Mas essas são realidades eternas. O que são
as coisas visíveis? A velha criação e a carne. Mas elas
já passaram e nos tornamos parte da Nova Jerusalém,
a nova criação.
Aprenda a ignorar o que você vê e sente.
Comece a confessar as coisas invisíveis que são eter-
nas. Deus é invisível, mas é eterno. Nós andamos
por fé e não por vista.
Visto que andamos por fé e não pelo que vemos.
II Cor. 5:7
Comece a confessar aquilo que Deus diz. Ele diz
que somos nova criação e ele não pode mentir, então
mesmo que não vejamos declararemos que somos
nova criação, que somos justiça de Deus em Cristo.

Temos justiça e força


Um outro exemplo está em João 9. Antes de
curar o cego, o Senhor Jesus declarou: Eu Sou a luz
do mundo.
Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com
a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, dizendo-lhe:
Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer
Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo. Jo. 9:5-7

A realidade da nova criação

27
Aquele homem era cego de nascença, assim ele
vivia em trevas, nunca tinha visto a luz. Mas agora o
Senhor está prestes a lhe dar a visão da luz, mas antes
ele faz a confissão: Eu Sou a luz.
Ele não disse que era o pão da vida, o que de fato
ele era, e nem declarou que era a água da vida, o que
ele fez em outro contexto, mas ele disse que era a luz
porque essa era a necessidade naquele momento. Antes
de curar o cego o Senhor fez a confissão.
Você nunca verá a menos que você confesse. Nós
fomos feitos à imagem de Deus, se o Senhor fez a con-
fissão entes de ver, nós temos de agir da mesma forma.
O Senhor espera que seu povo confesse. Ele diz
isso em Isaías 45:24.
De mim se dirá: Tão-somente no SENHOR há
justiça e força; até ele virão e serão envergonhados
todos os que se irritarem contra ele. Is. 45:24
Em Cristo nós temos justiça e força. E o que
acontecerá quando você confessar? As pessoas verão
o favor de Deus sobre você e aqueles que se irritarem
com você serão envergonhados.
Quando você confessa que no Senhor você tem
justiça e força todos os seus inimigos serão confundi-
dos e envergonhados.
Lembre-se, porém que você precisa confessar.
Declare agora “eu sou nova criação em Cristo!”.

O Evangelho da graça para reinar em vida

28
A pedra que se
tornou coluna

Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeita-


da, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita
e preciosa, também vós mesmos, como pedras que
vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de
Jesus Cristo. (1Pe 2.4-5)
A Palavra de Deus diz que somos pedras espi-
rituais. Em Israel, nos dias do Antigo Testamento,
eles se referiam àquelas rochas que estavam sobre os
montes ou pelo caminho apenas como sendo pedras.
A pedra que se tornou coluna

29
Mas quando tomavam essas pedras e as traziam para
casa, eles as talhavam e lhes davam alguma forma para
uma utilidade específica numa edificação, então aquela
rocha era chamada de pedra viva. Hoje, nós somos
feitos pedras vivas na casa de Deus.
O Senhor Jesus é a pedra viva, e nós somos fei-
tos semelhantes a Ele, pois recebemos da sua própria
vida. Todos nós éramos pedras largadas num lugar
qualquer, mas fomos trazidos para a Casa de Deus.
Antes, nós éramos sem forma e vazios, mas hoje es-
tamos sendo talhados e moldados segundo a vontade
de Deus. Ele está cortando fora coisas desnecessárias
em nossa vida, mas lembre-se sempre de que Ele não
faz isso enviando-nos doenças, pobreza e maldições.
Mesmo assim, o processo é doloroso. Algumas vezes,
você se sentirá pressionado, mas esta é a forma como
Ele nos molda.
Quando nós moldamos e talhamos a pedra, au-
mentamos o seu valor. Se você pega um pedaço de
ferro que não vale mais do que cem reais e o derrete e
o molda na forma de uma ferradura de cavalo, o seu
valor aumenta dez vezes mais. Mesmo o ouro, que
já é muito caro, tem o seu valor muito aumentado
quando é trabalhado em uma corrente ornamentada.
É o mesmo material, mas agora trabalhado. Nas mãos
do Senhor, o seu valor vai sempre aumentar, porque
Ele está trabalhando em sua vida.
Todos nós sabemos da ilustração do ouro de-
purado pelo fogo. Certamente, isso nos fala de algo

O Evangelho da graça para reinar em vida

30
doloroso, mas o resultado é que o ouro se torna ainda
de maior valor.
Todos nós já fomos feitos pedras vivas na Casa de
Deus, mas a vontade de Deus é que sejamos transfor-
mados em colunas na sua edificação. Quando Salomão
levantou o templo, ele construiu duas colunas diante
do pórtico e lhes chamou pelo nome de Jaquim e Boaz.
Jaquim significa “ele estabelecerá”, e Boaz significa
“nele está a força” (1Rs 7.21).
Todos os crentes são pedras vivas na Casa de
Deus, mas os vencedores são feitos colunas. Em
Apocalipse 3.12, o Senhor disse que o vencedor será
feito coluna no santuário de Deus.
Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do
meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também
sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cida-
de do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do
céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo
nome. (Ap 3.12)
Na Epístola aos Gálatas, Paulo diz que Pedro
e Tiago eram colunas na igreja (Gl 2.9). Creio que
Pedro é um exemplo de como somos feitos colu-
nas na Casa de Deus. Inicialmente, ele foi feito
pedra, mas depois se tornou coluna na igreja. Meu
encargo hoje é dizer-lhe que Deus deseja também
fazer de você uma coluna em sua casa. O processo
do Senhor com Pedro pode ser também percebido
em nossa vida.

A pedra que se tornou coluna

31
Sendo feito pedra
No dia seguinte, estava João outra vez na com-
panhia de dois dos seus discípulos e, vendo Jesus
passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois
discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus.
E Jesus, voltando-se e vendo que o seguiam,
disse-lhes: Que buscais? Disseram-lhe: Rabi (que
quer dizer Mestre), onde assistes? Respondeu-lhes:
Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde Jesus
estava morando; e ficaram com ele aquele dia,
sendo mais ou menos a hora décima. Era André,
o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham
ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. Ele
achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a
quem disse: Achamos o Messias (que quer dizer
Cristo), e o levou a Jesus. Olhando Jesus para ele,
disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás cha-
mado Cefas (que quer dizer Pedro). (Jo 1.35-42)
Pedro veio a Jesus trazido pelo seu irmão André.
Tanto João como André eram originalmente discípu-
los de João Batista. Eles ouviram quando João Batista
viu Jesus passar e dizer a respeito dele: “Eis o Cordeiro
de Deus [...]” (Jo 1.36). Imediatamente, João e André
seguiram Jesus e, logo em seguida, André trouxe
Simão, seu irmão, a Jesus.
Quando Jesus viu Simão, disse-lhe: “Tu és
Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que
quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Nós sabemos que Pedro

O Evangelho da graça para reinar em vida

32
ainda não tinha o Espírito do modo como o recebeu
depois que Jesus ressuscitou, mas podemos dizer que
ele se converteu aqui. Ele conheceu a Jesus como o
Cordeiro de Deus.
Pedro, porém, não tinha ainda sido conquistado
pelo Senhor. Ele era como muitos crentes hoje. Eles
se converteram, participam do culto, mas a sua vida
ainda é completamente secular. Eles são pedras, mas
não fazem parte da edificação da Casa de Deus, não
compreendem o propósito de Deus para eles e também
não se importam muito com isso. Assim era Pedro,
tinha se convertido, mas voltou a pescar. Ele era con-
vertido, mas ainda não era consagrado.

A pedra é quebrada
Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para
ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de
Genesaré; e viu dois barcos junto à praia do lago;
mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam
as redes. Entrando em um dos barcos, que era o de
Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia;
e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.
Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao
largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-
lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite,
nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as
redes. Isto fazendo, apanharam grande quantidade
de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. Então, fizeram

A pedra que se tornou coluna

33
sinais aos companheiros do outro barco, para que fos-
sem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos,
a ponto de quase irem a pique. Vendo isto, Simão
Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor,
retira-te de mim, porque sou pecador. Pois, à vista da
pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de
todos os seus companheiros, bem como de Tiago e
João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse
Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador
de homens. (Lc 5.1-10)
O Senhor Jesus tinha trazido Pedro das trevas
para a luz do seu conhecimento como Messias, mas
ainda havia uma obra mais profunda a ser feita nele.
Logo em seguida, o Evangelho de Lucas diz que
o Senhor viu dois barcos à beira do mar da Galileia
e resolveu entrar num deles, e aquele era o barco de
Pedro. Depois de ensinar as multidões assentado no
barco, o Senhor mandou que Pedro lançasse as redes
para pescar.
Tudo o que o Senhor faz é com um propósito.
Sempre que o Senhor lhe pede algo, não é porque
Ele precisa, mas porque Ele quer uma posição para
abençoá-lo. Se Deus lhe pediu o seu tempo, seu di-
nheiro ou seu talento, pode ter certeza de que Ele quer
liberar mais favor sobre a sua vida.
Pedro replicou dizendo que tinham trabalhado
toda a noite e não tinham pegado nada, mas sob a
palavra do Senhor lançaria as redes. O resultado foi

O Evangelho da graça para reinar em vida

34
que pegaram tanto peixe que tiveram de pedir ajuda
aos barcos vizinhos.
Os pensamentos de Deus são sempre mais eleva-
dos que os nossos. Nós pensamos num emprego, mas
Ele pensa numa posição. Nós pensamos em ter uma
esposa e nos casar, mas Deus pensa numa geração. Ele
é sempre generoso em seus planos para nós.
Quando Pedro viu aquilo, ele se prostrou aos pés
do Senhor, dizendo: “Senhor, retira-te de mim, porque
sou pecador”. Pedro já era convertido, mas agora teve
uma experiência mais profunda de arrependimento,
mudança de mente. Alguma coisa aconteceu com
Pedro naquele momento. Ele provou da graça e do
amor de Jesus, porque é a bondade de Deus que nos
conduz ao arrependimento.
Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e to-
lerância, e longanimidade, ignorando que a
bondade de Deus é que te conduz ao arrependi-
mento? (Rm 2.4)
Pedro não teve primeiro de se arrepender para
depois fazer a pesca miraculosa. Foi o contrário, pri-
meiro ele provou a bênção da pesca e isso produziu
nele mudança de vida. No Velho Testamento, debai-
xo da lei, nós primeiro temos de mudar para depois
provar da bênção, mas nos dias do Novo Testamento,
nós primeiro provamos do seu amor e da sua bênção,
e isso produz em nós a mudança.

A pedra que se tornou coluna

35
André apresentou a Pedro o Senhor como o
Messias, mas agora ele o está conhecendo como o
Filho de Deus.

A pedra é trabalhada
Depois disso, o Senhor leva os seus discípulos
a Cesareia de Felipe e pergunta-lhes quem o povo
dizia ser Ele. Eles responderam que alguns diziam
que o Senhor era João Batista; outros, Elias; e outros,
Jeremias ou algum dos profetas. “Mas vós, continuou
ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão
Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16.13-18).
Por causa dessa revelação, Jesus diz mais uma
vez que ele já não era Simão, mas Pedro. Ele já tinha
sido feito pedra quando se converteu, mas agora era
uma pedra ainda mais apropriada para a edificação.
Depois dessa revelação, o Senhor começa a dizer
que era necessário ir a Jerusalém sofrer muitas coisas e
morrer, mas, nesse momento, Pedro resolve repreendê-
-lo. Ao fazer isso, o Senhor mostra que ele estava se
tornando pedra de tropeço cada vez que cogitava das
coisas dos homens, e não das de Deus (Mt 16.21-23).
A pedra pode crescer para se tornar uma coluna ou
cair e se tornar pedra de tropeço.
É impressionante o sequência de experiências de
Pedro nessa ocasião. Primeiro, ele teve a revelação de

O Evangelho da graça para reinar em vida

36
que Jesus era o Filho de Deus. Depois, no capítulo
17, o Senhor o leva a um alto monte e se transfigura
diante dele. Agora, ele não recebe apenas a revelação,
mas tem uma visão. E, logo em seguida, o próprio
Deus fala dos céus, dizendo: “Este é meu Filho amado
[...]”. Não há como sermos trabalhados por Deus a
não ser vendo a Cristo. Quando nós o contemplamos,
somos transformados (2Co 3.18).

A pedra é transformada
Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para
vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti,
para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando
te converteres, fortalece os teus irmãos. Ele, porém,
respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto
para a prisão como para a morte. (Lc 22.31-33)

Havia algo na vida de Pedro que era uma porta


aberta para o diabo. Talvez fosse a sua impulsividade
para falar rapidamente ou a sua precipitação para agir,
mas o fato é que o diabo o reclamou para ser peneira-
do, o Senhor, porém, intercedeu por ele. Muito antes
de enfrentarmos qualquer luta, o Senhor já orou por
nós. Nós sabemos que Pedro falhou, mas o Senhor
orou para que a fé dele não falhasse. Quando a fé
permanece, nós temos vitória no final.
Uma das obras mais difíceis do Espírito Santo em
nossa vida é nos convencer da nossa justiça própria.

A pedra que se tornou coluna

37
Depois de ouvir o Senhor dizer que o diabo iria pe-
neirá-lo, creio que Pedro deveria se humilhar e pedir
mais oração ainda, mas, em vez disso, ele se gabou do
seu próprio mérito. Simplesmente declarou que esta-
va pronto. Quando a nossa confiança é colocada em
nossa própria fidelidade e amor, então nos enchemos
de justiça própria. Algumas vezes, a única solução para
a justiça própria é a queda. Poucas horas depois disso,
Pedro negou Jesus três vezes (Lc 22.54-61).
Mas na terceira vez que ele o negou, o Senhor
olhou para ele. O que Pedro viu naquele olhar?
Certamente não foi condenação. O Senhor esta-
va lhe dizendo que a sua fé iria permanecer e ele
seria restaurado.
Três dias depois, quando as mulheres foram ao
túmulo, elas encontraram um anjo que lhes disse:
“Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno,
que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui;
vede o lugar onde o tinham posto. Mas ide, dizei a seus
discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a
Galiléia; lá o vereis, como ele vos disse” (Mc 16.5-7).
Observe a expressão “e a Pedro”. Esta é a prova
de que o seu amor permanece inalterado, e somente
quando conhecemos esse amor, podemos estar firmes.
Precisamos ter os olhos abertos para perceber que
o ponto central é o amor de Deus por nós, e não o
nosso amor por Ele. Nosso amor por Ele será apenas

O Evangelho da graça para reinar em vida

38
uma resposta do amor que recebemos. Quanto en-
tendemos que somos amados, então nós o amamos.
A apóstolo João era o discípulo a quem Jesus
amava. Ele se identifica dessa forma no seu evange-
lho. Não é que o Senhor Jesus o amava mais que aos
outros, ele é que se sentia amado.
Na última ceia, o Senhor disse que um deles o
trairia. Pedro representa aqueles que se apoiam em seu
próprio amor pelo Senhor, e ele rapidamente disse:
“Por ti darei a própria vida!”
Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-
-te agora? Por ti darei a própria vida. Respondeu
Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em
verdade te digo que jamais cantará o galo antes
que me negues três vezes. (Jo 13.37-38)
João, porém, estava reclinado no peito do Senhor
e perguntou quem era o traidor (Jo 13.23-26).
Somente João soube quem trairia Jesus. Aquele que se
gloriava no seu amor pelo Senhor pediu para aquele
que se gloriava em ser amado pelo Senhor para saber
quem era o traidor. São dois estilos de vida. Dois tipos
de ministério. No fim, João estava ao pé da cruz, mas
Pedro negou Jesus.
Com qual deles gostaríamos de nos identificar?
Não confiamos em nosso próprio amor pelo Senhor,
mas descansamos no seu amor por nós. O nosso pró-
prio amor é lei, mas o amor d’Ele é graça. O nosso

A pedra que se tornou coluna

39
próprio amor torna-se um tipo de justiça própria
quando colocamos nisso a nossa confiança. Mas po-
demos sempre nos gloriar em seu amor por nós. Para
que pudesse se tornar uma coluna, Pedro ainda tinha
de ser tratado em sua justiça própria.

A pedra se torna uma coluna


O Senhor apareceu primeiro a Pedro, como diz
Lucas 24.34 e 1 Coríntios 15.5. Não sabemos como
foi esse encontro, mas certamente ali Pedro foi res-
taurado. Alguns dias depois, o Senhor apareceu nova-
mente aos discípulos no mar da Galileia quando eles
estavam pescando e mais uma vez Pedro experimenta
uma pesca maravilhosa (Jo 21.4-14). A princípio, os
discípulos não o reconheceram, mas quando viram
que era Jesus, Pedro foi o primeiro a pular na água e
ir ao seu encontro. Ele já estava completamente res-
taurado, pois seu ímpeto era de se aproximar, e não
de se afastar de Jesus.
O Senhor prepara para eles uma refeição na
praia e depois os serve. Mesmo depois de ressurreto, o
Senhor continua servindo. Antes de dar a Pedro uma
tarefa de alimentar as ovelhas, o Senhor primeiro o
alimenta. Antes de suprir a Casa de Deus, precisamos
ser supridos pelo Senhor.
Depois de comer a comida que o Senhor lhes
tinha preparado, o Senhor Jesus pergunta três vezes

O Evangelho da graça para reinar em vida

40
a Pedro se ele o ama. Isso não pode ser percebido em
português, mas o Senhor usa a palavra agapao na
primeira e na segunda vez. Agapao significa o amor
na sua forma mais elevada, o amor de Deus, mas a
resposta de Pedro é sempre phileo, que significa um
amor de amigo, um amor limitado.
Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão
Pedro: Simão, filho de João, amas-me [agapao]
mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim,
Senhor, tu sabes que te amo [phileo]. Ele lhe disse:
Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-
-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me
amas [agapao]? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor,
tu sabes que te amo [phileo]. Disse-lhe Jesus:
Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez
Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me
amas [phileo]? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter
dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-
-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que
eu te amo [phileo]. Jesus lhe disse: Apascenta as
minhas ovelhas. (Jo 21.15-17)
Creio que isso mostra que Pedro deixou de con-
fiar em si mesmo e de se gloriar no quanto amava
o Senhor. Baseado na resposta de Pedro, o Senhor
lhe diz: “Aapascenta os cordeirinhos”. Uma vez que
rejeitamos a justiça própria e confiamos unicamente
no amor do Senhor por nós, estamos prontos para ser
colunas. São as colunas que alimentam os cordeirinhos
e cuidam das ovelhas.

A pedra que se tornou coluna

41
É preciso renunciar a toda confiança em si mes-
mo e depender unicamente do Senhor. Alguns dias
antes, Pedro se gloriava que poderia morrer pelo
Senhor, mas agora ele não confia em nada que procede
de si mesmo. Somente esses sustentam a obra como
colunas. Somente esses são feitos vencedores.
A coisa mais preciosa para o Senhor sãos suas
ovelhas, no entanto o Senhor confiou o cuidado delas
a um homem que apenas alguns dias antes o tinha
negado diante de uma empregada. Onde abundou o
pecado, superabundou a graça de Deus.

O Evangelho da graça para reinar em vida

42
Três bases para se
apropriar da herança
– geração benjamim

T
emos ouvido que somos profeticamente a
Geração de Josué, aqueles que vão entrar na
posse da herança, ou mesmo a geração de
Samuel, aqueles que vão estabelecer o reino. Tudo isso
é muito bonito e mostra a riqueza profética da Palavra
de Deus. Mas hoje gostaria de mencionar que somos
também a geração de Benjamim, ou seja, a geração
que experimentará a plenitude da graça de Deus.
Três bases para se apropriar da herança – geração benjamim

43
Filhos da mesma mãe
Nós somos filhos de um mesmo pai, mas nem
todos são filhos da mesma mãe. A mãe de Isaque foi
Sara e em Gálatas 4 diz que Sara representa a graça,
enquanto a mãe de Ismael foi Hagar que representa o
monte Sinai, ou seja, a lei. Tudo o que procede do mon-
te Sinai produz escravidão, mas a nossa mãe é a graça.
Hagar sempre gera Ismael, que é chamado de
fruto da carne. Ismael aponta para tudo o que procede
de nossa própria força. Sara, por outro lado, sempre
gera um fruto espiritual representado por Isaque.
Gerar segundo a carne é fazer segundo o esforço
humano, ao passo que gerar mediante a promessa da
fé é depender exclusivamente da graça e do poder de
Deus. Ismael nasceu segundo a carne e Isaque nasceu
segundo a graça. A carne sempre acompanha a lei e,
a graça sempre depende da fé.
Em Romanos 6 (vs. 14) diz que o pecado não
terá domínio sobre nós porque não estamos debaixo
da lei, mas debaixo da graça. Quando estamos de-
baixo da graça somos livres do pecado. Não é a graça
que nos faz pecar, mas em 1 Coríntios 15 (vs. 56) diz
que a força do pecado é a lei. Quanto mais tentamos
guardar a lei pior nos tornamos.
Imagine se você estivesse sozinho no prédio da
igreja. Aqui há muitas portas, mas imagine se na fren-
te de uma delas estivesse escrito: “não passe por essa

O Evangelho da graça para reinar em vida

44
porta!” Você vai olhar ao derredor e se não houver
mais ninguém olhando você certamente vai espiar
aquela porta. As outras portas não tentam você, mas
há alguma coisa a respeito da lei que o atrai. Nada de
errado com a lei, ela é perfeita e santa, mas não tem
o poder de te fazer santo e perfeito.
Aqueles que ainda vivem na lei são filhos espiritu-
ais de Hagar e por isso não podem desfrutar da herança.

Filhos e herdeiros
Em Hebreus 5 (vs. 13) diz que todo aquele que
se alimenta de leite é inexperiente na palavra da jus-
tiça, porque é criança. Se você pensa que a palavra da
justiça é a sua conduta você ainda é um bebê, mas se
sabe que a justiça é um dom, então você já é maduro
na fé. A sua maturidade depende de como você en-
tende a palavra da justiça.
Precisamos entender que fomos feitos justiça
de Deus no dia em que Cristo se fez pecado por nós
na cruz. O Senhor se fez pecado cometendo pecado?
Claro que não. E você foi feito justo praticando a
justiça? Também não. Veja que é o mesmo princípio.
O meu pecado foi colocado em Cristo e a justiça dEle
foi colocada em mim. Cristo se fez pecado sem nunca
pecar, e eu sou feito justo sem ter praticado a justiça.
Essa é a loucura do evangelho.
Ismael começou a perseguir a Isaque quando en-
tendeu que dele seria a herança. O mesmo acontece

Três bases para se apropriar da herança – geração benjamim

45
em todas as épocas. O nosso problema não é com
os ímpios, mas com os próprios irmãos. Possuímos
o mesmo pai, mas não somos filhos da mesma mãe.
Ismael é filho da lei, mas Isaque é filho da graça e
somente os filhos de Sara podem possuir a herança.
O filho único de quatro anos de idade, herdeiro
de um homem bilionário, não pode dirigir sua Ferrari
e nem pilotar seu avião. Não é porque não é amado
ou porque não é o herdeiro, mas pela simples razão
de que é uma criança. Enquanto é imaturo ele nada
difere de um escravo (Gl 4.1).
Mas está sob tutores e curadores até ao tempo
predeterminado pelo pai. Assim, também nós, quando
éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos
rudimentos do mundo (Gl 4.2-3). Quando um pai
se relaciona com seu filho pequeno na cozinha ele o
enche de proibições. Não toque nas facas! Não chegue
perto do fogão! Não abra o forno! E assim por diante.
Isso nada mais é que a lei atuando. Enquanto somos
imaturos estamos debaixo da lei, aqui chamada por
Paulo de rudimentos do mundo.
Comumente as pessoas pensam que a graça é ele-
mentar enquanto a lei é profunda, mas a visão de Deus
é exatamente o inverso. Quem precisa da lei ainda é
um bebê na fé. Vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim
de que recebêssemos a adoção de filhos (Gl 4.4-5).

O Evangelho da graça para reinar em vida

46
A geração benjamim
Jacó teve doze filhos. Dez deles eram filhos de Lia
e das servas, mas dois eram filhos de Rachel, e esses
eram José e Benjamim. Os dez filhos simbolizam a lei
e os dez mandamentos, mas os dois filhos de Rachel
representam algo mais precioso.
O nome Rachel significa “cordeiro ou ovelha”.
Ela morreu dando a luz a Benjamim e nesse sentido
simboliza o Cordeiro de Deus que morreu para dar a
luz a geração de Benjamim.
José é um dos mais completos tipos do Senhor
Jesus, devido ao grande número de correlações. Vamos
mencionar apenas as principais circunstâncias comuns
entre Jesus e José:
™™ As palavras Jesus e José têm a mesma raiz no
hebraico.
™™ Não se menciona pecado de José na Bíblia.
™™ Amado do pai – (Gn 37.3 e Lc 3.22).
™™ Enviado por Ele – (Gn 37.14-16 e Lc 20.13).
™™ Invejado e rejeitado pelos irmãos – (Gn 37.11 e
Mc 15.10).
™™ Odiado por causa do seu testemunho – (Gn 37.2
e Jo 7.7).
™™ Odiado por causa de sua glória vindoura – (Gn
37.8 e Mt 26.64-66).

Três bases para se apropriar da herança – geração benjamim

47
™™ Alvo de conspiração – (Gn 37.18 e Jo 5.15-16).
™™ Vendido pelos irmãos (plano de Judá-Judas) –
(Gn 37.26-27 e Mc 14.10-11).
™™ Vitorioso na tentação – (Gn 39.12 e Hb 4.15).
™™ Condenado injustamente – (Gn 39.20 e Mt
26.59-60).
™™ Entre dois transgressores – (Gn 39.20, 40.2-3 e
Is 53.12, Mt 27.38).
™™ Exaltado como Salvador do mundo – (Gn 41.41-
45 e At 5.31).
™™ Ganhou uma noiva entre os gentios.
™™ Tudo lhe foi colocado nas mãos.
™™ Reconciliou seus irmãos consigo e os exaltou.
™™ Seus irmãos o reconheceram como Rei.
Quando José foi levantado como Primeiro
Ministro do Egito, seus irmãos vieram para buscar
pão porque havia fome na terra. Mas José lhes disse
que não lhes daria pão enquanto Benjamim não es-
tivesse diante dele.
Quem é Benjamim? É aquele que compartilhava
com José do mesmo pai e da mesma mãe. Se José é
um tipo de Cristo, então Benjamim representa os ir-
mãos do Senhor por parte de mãe. Se a mãe é a graça,
então ele aponta para nós hoje. Quando trouxeram
Benjamim a José as suas primeiras palavras para ele
foram: “Deus lhe conceda graça!” (Gn 43.29).

O Evangelho da graça para reinar em vida

48
Nós somos a geração de Benjamim. Somos aque-
les que receberam graça. A Palavra de Deus declara que
no tempo da fome, José deu a Benjamim cinco vezes
mais pão que a seus outros irmãos. Creio que durante
os tempos de crises e dificuldades financeiras, a gera-
ção de Benjamim receberá cinco vezes mais provisão
porque somos filhos da Graça e irmãos do Senhor.
Precisamos perceber o quanto José amava seu
irmão Benjamim. A primeira vez que José chorou
quando viu seus irmãos foi quando Benjamim apa-
receu (Gn 43.30). Por que isso aconteceu? Porque
embora fossem todos filhos de um mesmo pai, eles
não tinham a mesma mãe. Somente José e Benjamim
tinham a mesma mãe. Isso significa que embora to-
dos os cristãos sejam filhos do mesmo pai, nem todos
possuem a mesma mãe.
O pai representa Deus, mas quem são as mães?
Lia representa a lei e Raquel representa a graça. O
nome Lia significa fraca ou cansada, enquanto Raquel
significa ovelha ou cordeiro. Em outras palavras, a lei
nos faz fracos.
Por outro lado Raquel significa ovelha e é um
verdadeiro quadro da graça de Deus. Isso aponta para
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Somos os que foram gerados pelo Cordeiro, filhos da
graça, somos a geração de Benjamim.
Nós somos aqueles que vão desfrutar de um su-
primento cinco vezes maior. Não precisamos temer o

Três bases para se apropriar da herança – geração benjamim

49
futuro ou as circunstâncias, pois somos o irmão amado
de nosso José. Podemos descansar nas bênçãos da Nova
Aliança e da nossa posição como irmãos daquele que
é o mais poderoso em todo o universo.

O Evangelho da graça para reinar em vida

50
Sumário
1. O desfrute da obra consumada 7
2. O descanso da graça 17
3. Senta, anda e permanece 29
4. Crescendo em glória 43
O desfrute da obra
consumada

U
ma base fundamental da Nova Aliança é enten-
der que fomos inseridos em uma obra já con-
sumada. Tudo aquilo que diz respeito à nossa
redenção foi terminado no Calvário quando o Senhor
disse: “está consumado!” Não podemos acrescentar nada
a essa obra, pois ela está pronta.
No Velho Testamento o jardim do Édem é uma
alegoria da obra consumada. No sexto dia Deus con-
sumou toda a sua obra de criação. Ele então colocou o
homem no Édem. O homem não foi colocado ali para
O desfrute da obra consumada

7
ajudar a Deus a terminar a obra, mas apenas para cul-
tivar e guardar.
Deus colocou o homem no jardim e lhe disse para
cultivar e guardar. Essas eram as duas únicas atribuições
do homem: cultivar e guardar. Foi Deus quem plan-
tou o jardim e não o homem. O homem foi colocado
numa obra já consumada. O homem não foi criado
para ajudar a Deus a terminar a sua obra.
Eu creio que Deus trouxe a igreja hoje a essa mes-
ma posição. Não somos chamados para terminar a obra,
antes fomos introduzidos numa obra já consumada e,
como Adão, somos designados apenas para cultivar e
guardá-la. Você não pode acrescentar nada à obra con-
sumada, pode apenas cultivar e guardá-la.
Para que o homem pudesse cultivar a guardar o
Senhor disse que ele deveria dominar e sujeitar a cria-
ção. Hoje também recebemos autoridade para sujeitar
e dominar sobre as obras do diabo, mas fazemos isso
guardando e cultivando a obra que já foi consumada
na cruz. Não somos chamados para terminar a obra de
Cristo, mas para guardá-la.
O alvo do diabo é fazer com que homem saia
da posição da obra consumada, assim como era o seu
objetivo que o homem saísse do Édem. Como ele fez
isso? Ele tentou o homem a se tornar o que ele já era.
O homem já era imagem e semelhança de Deus, mas
o diabo o enganou dizendo que se comesse do fruto se
tornaria como Deus.
O Evangelho da graça para viver no descanso

8
Hoje o inimigo usa a mesma estratégia. Você já é
justo, mas ele tenta convencê-lo que você precisa fazer
algo para se tornar justo. Ele quer que você duvide que
já é, para que então você tente se tornar pela sua força
naquilo que Deus diz que você já é. Quando agimos as-
sim desprezamos a obra consumada e decaímos da graça.
Quando Adão caiu no pecado ele já não estava
guardando a obra consumada. Por causa disso ele foi
expulso do Jardim e agora deveria lavrar a terra de que
fora formado. O que você prefere, guardar o jardim ou
lavrar a terra? A terra é de onde nossa carne foi formada
e lavrá-la significa viver pelo seu esforço próprio. Por
causa disso muitos acreditam que o esforço próprio é
bom e que devem viver assim. Mas a verdade é que o
esforço próprio é o centro da carne.
A carne não é o nosso corpo. Ela está em nosso
corpo, mas não é o corpo. O nosso corpo é templo
do Espírito. Mas quando confiamos em nossa força
natural estamos agindo na carne. Abraão gerou Ismael
na carne, ou seja, pelo seu esforço próprio.
Deus odeia a carne, pois ela leva o homem e
presumir que pode fazer por si mesmo como se fosse
Deus. A carne tenta terminar aquilo que Deus disse
que já está consumado, terminado.
Quando cremos na obra consumada nós lutamos
na posição de vitória e não para obter vitória. Você
luta para ter vitória ou luta declarando que já recebeu
a vitória na cruz? A compreensão dessa verdade vai de-
terminar se você viverá em vitória ou não.

O desfrute da obra consumada

9
Mas como eu posso dizer que a obra da cura já
foi consumada na cruz se ainda estou sentido dores
no meu corpo? O nosso Deus é aquele que chama
as coisas que não são como se já fossem. Deus fez de
Abraão um pai de nações quando ele não tinha filhos
e sua esposa ainda era estéril.
Deus se alegra quando cremos que a obra já está
terminada mesmo que pareça que nem foi iniciada ain-
da. Nosso esforço é para entrar no descanso. Só pode
descansar quem crê que tudo já está terminado.
Essa é a verdadeira batalha espiritual, guardar a
obra consumada. Esse é o bom combate da fé, igno-
rar os sintomas do meu corpo e declarar a verdade da
obra de Cristo na Cruz.
Você está guardando o jardim ou está lavrando
a terra? Nosso corpo vem da terra, por isso lavrar a
terra é cultivar a carne. O jardim representa a obra
consumada do Senhor Jesus.
Uma vez que você é salvo você foi salvo com a
justiça eterna em sua vida. Você antes era como um
lagarta, mas quando você nasceu de novo houve uma
metamorfose e você se tornou numa borboleta.
Quando você era uma lagarta embora tivesse muitas
pernas seu progresso era muito lento, tinha que empregar
muito esforço para alcançar muito pouco. Mas agora em
sua nova vida você pode voar sobre as circunstâncias.
Mas pode ser que essa borboleta caia num monte
de lixo, mas quando isso acontece ela vai lutar para

O Evangelho da graça para viver no descanso

10
sair porque a sua natureza não é mais do lixo. Alguns
ensinos, porém, nos fazem crer que a borboleta volta
a ser uma lagarta quando cai no lixo. Isso não é ver-
dade. Nós recebemos a justiça eterna de Cristo e isso
não pode mais ser revertido.
Creia que você é uma nova criação. Tudo o que diz
respeito a Cristo agora diz respeito a você também, pois
como ele é nós somos nesse mundo.
A única coisa que Adão tinha de fazer no Edem era
semear sementes. Sementes representam a obra consu-
mada numa forma embrionária. Somente crentes podem
semear ou dar para Deus. Os ímpios ainda estão em
dívida com Deus. Você não pode dar algo para alguém
a a quem você deve. Toda dádiva vai para a conta da sua
dívida. Se a terra não é sua como você pode semear? Mas
para os crentes a dívida já foi paga. A terra pertence ao
nosso Pai e podemos semear o quanto quisermos.
Tudo o que temos de fazer hoje é semear. Se você
crê que Deus vai te dar filhos então vá para a sua casa
e deite-se com a sua esposa. É tolice declarar o tempo
do todo que você vai ter filhos se nunca se deita com a
sua esposa. Se você crê que Deus quer prosperá-lo en-
tão venha para a casa de Deus e semeie o quanto deseja
colher. A fé se expressa na semeadura. A semente não é
sua obra, mas a obra consumada do Calvário.
Algumas vezes você passa na rodovia e vê homens
andando no campo. Do seu ponto de vista eles estão
apenas andando, mas o que você não vê é que eles estão
semeando. Às vezes nos questionamos porque certas

O desfrute da obra consumada

11
pessoas são tão abençoadas, mas o que não vemos é que
elas estão semeando. Você não vê a semeadura a menos
que esteja muito perto. Se você quer uma colheita que
nunca teve comece hoje a semear o que nunca semeou.
Gostaria de realçar três atitudes de fé que devemos
ter para guardar a obra consumada da cruz em nossa vida.

Tenha a atitude de descanso


Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a
promessa de entrar no descanso de Deus, suceda
parecer que algum de vós tenha falhado. Porque
também a nós foram anunciadas as boas-novas,
como se deu com eles; mas a palavra que ouviram
não lhes aproveitou, visto não ter sido acompa-
nhada pela fé naqueles que a ouviram. Nós, po-
rém, que cremos, entramos no descanso. Hb 4:1-3

A primeira atitude e a mais importante é a atitude


de descanso. O descanso só tem sentido quando chega-
mos ao fim de um trabalho. Uma vez que o Senhor disse
que está consumado ele se assentou. Se também cremos
que a obra está terminada nós devemos descansar.
A maneira de entrarmos no descanso da obra
consumada é crendo. Precisamos ouvir a palavra, mas
esse ouvir deve ser acompanhado de fé. Creia no que
Deus diz a seu respeito. Creia no que Cristo realizou
na cruz em seu favor. A filha de Jairo tinha morrido,
mas o Senhor diz para ele crer somente. Quando

O Evangelho da graça para viver no descanso

12
estiver com fome apenas coma, quando estiver com
sede apenas beba, mas quando estiver no meio da
tribulação apenas creia.
A palavra de Deus diz que depois de ter oferecido
o sacrifício pelo pecado Cristo se assentou. O fato de
ter consumado a obra da redenção significa que não há
mais inimigos? Claro que há, eles continuam lá, mas
veja a atitude do Senhor, ele está sentado aguardando
que os inimigos sejam colocados debaixo dos seus pés.

Tenha a atitude do trono


Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a
exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes
os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem
remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido,
para sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí
em diante, até que os seus inimigos sejam postos
por estrado dos seus pés. Hb. 10:11-12

Nós estamos assentados com Cristo, então a nos-


sa atitude deve ser a mesma que ele tem, nós também
descansamos e aguardamos que os nossos inimigos
sejam colocados debaixo dos nossos pés. Essa é a ati-
tude de quem está sentado no trono.
Quando o inimigo se levantar contra você assuma
a atitude do trono. Creia que você está acima dele e
você verá todos debaixo dos seus pés.

O desfrute da obra consumada

13
Em Romanos 10 Paulo diz que aquele pratica a
justiça da lei vive por ela. Mas a justiça decorrente da
fé apenas diz, fala. Assim a lei é baseada no fazer, mas
a fé se expressa no falar.
Ora, Moisés escreveu que o homem que prati-
car a justiça decorrente da lei viverá por ela.
Mas a justiça decorrente da fé assim diz...
Rm. 10:5-6
Deus fez todas coisas apenas falando. A obra de Deus
é falar. Hoje Deus quer que atuemos da mesma forma.
Uma forma de entender a diferença entre a lei
e a graça é entendendo que aqueles que vivem na lei
estão sob o espírito de servidão. O servo faz as coi-
sas. Mas na nova Aliança fomos feitos filhos e con-
sequentemente reis e sacerdotes (Ap. 1:6). Assim na
Nova Aliança nós apenas falamos porque somos reis
sentados em tronos. Servos fazem, mas reis ordenam.
No palácio todos os que trabalham são servos e escra-
vos, mas o rei não faz, ele fala e as coisas acontecem.
Como sacerdotes nós usamos as palavras para adorar
e louvar a Deus e como reis usamos nossa palavra
para alterar as circunstâncias.
Veja os seus inimigos debaixo dos seus pés. Quem
está no trono precisa apenas comandar e as coisas
acontecem. Você já está sentado com Cristo nos lu-
gares celestiais acima de todo principado e potestade
(Ef. 2:6). Dessa posição você pode reinar em vida.

O Evangelho da graça para viver no descanso

14
E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez as-
sentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Ef. 2:6

Tenha a atitude de serviço


Existe uma obra consumada, mas há uma outra
em andamento. A obra de redenção já foi terminada,
mas agora o Espírito está preparando a Igreja e nessa
obra nós somos cooperadores.
O Novo Testamento diz claramente que fomos
feitos sacerdotes, mas devemos admitir que no Velho
Testamento existiam levitas e sacerdotes que serviam a
Deus. Na verdade os levitas eram ajudantes, coopera-
dores dos sacerdotes. Todos nós na vida da Igreja somos
também levitas, pois cooperamos na obra de Deus.
Entre os levitas havia três grupos: os coatitas, os
meraritas e os gersonitas. Os coatitas tinham a respon-
sabilidade de carregarem a Arca da Aliança e todos os
utensílios do lugar santo como o Candelabro, a mesa
dos pães e o altar de incenso.
Os gersonitas estavam encarregados das cortinas
e da coberturas do tabernáculo. E os meraritas por
sua vez tinham a incumbência de cuidarem das tá-
buas, colunas e bases do Tabernáculo. Os sacerdotes
eram responsáveis pelos ofícios do Templo, mas sem
o trabalho dos levitas o ministério deles não podia ser
exercido. Na obra de Deus mesmo as coisas pequenas
são importantes.

O desfrute da obra consumada

15
Mas há um ponto interessante quando a escritura
descreve o serviço dos levitas. A expressão é que eles
serviam numa guerra.
Da idade de trinta anos para cima até aos cin-
qüenta será todo aquele que entrar neste serviço,
para algum encargo na tenda da congregação.
É este o serviço das famílias dos gersonitas para
servir e levar cargas. Nm. 4:23-24
A palavra serviço no verso 24 é “tsaba” no he-
braico e surpreendentemente significa fazer guerra,
combater. Na descrição do serviço dos meraritas nos
versos 29 e 30 a mesma palavra é usada. Todo levita
que estava envolvido no serviço da Casa de Deus es-
tava na verdade envolvido numa batalha espiritual.
A batalha espiritual também acontece quando
estamos envolvidos na obra de Deus. E mesmo aquela
atividade tida como menor de todas tem impacto no
mundo espiritual.
É claro que a maneira bíblica de liberarmos fé
é falando com a autoridade do trono, mas quando
estivermos envolvidos no trabalho da igreja devemos
nos lembrar que o diabo está sendo derrotado em cada
trabalho aparentemente insignificante que fazemos na
Casa de Deus.

O Evangelho da graça para viver no descanso

16
O descanso da graça

T
anto no Velho como no Novo Testamento, a
palavra “santo” significa que algo ou alguém
foi separado para Deus.
Dentro da hermenêutica, existe um princípio
chamado de princípio da primeira menção, segundo
o qual a primeira menção de algo na Bíblia determina
em linhas gerais o seu sentido no resto das Escrituras.
A primeira menção de “santo” está em Gênesis 2.
E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou;
porque nele descansou de toda a obra que, como
Criador, fizera. (Gn 2.3)

O descanso da graça

17
Deus não descansou porque estava cansado.
Ele descansou porque a sua obra estava terminada.
Observe que a primeira menção de “santidade” na
Bíblia está associada ao descanso. O descanso é a
coisa mais santa que podemos fazer. Ele traz o fa-
vor de Deus.
A primeira menção de “graça” está em Gênesis
6.8, onde se diz que Noé achou graça diante do
Senhor. A revelação está oculta no nome de Noé. O
nome Noé significa “descanso”, isso quer dizer que
o descanso achou graça diante do Senhor. Quanto
mais você vive no descanso, mais a graça de Deus
vem sobre você.
Quando falo de descanso, evidentemente não
estou falando de deixar de trabalhar ou viver passi-
vamente, antes estou me referindo a algo da alma.
Muitos vivem cheios de ansiedade, angústia e preocu-
pações que os tira do descanso. Isso é mau aos olhos
do Senhor. Ele deseja que vivamos na paz do descanso.
Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.
Porque aquele que entrou no descanso de Deus,
também ele mesmo descansou de suas obras, como
Deus das suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar na-
quele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo
o mesmo exemplo de desobediência. (Hb 4.9-11)
Deus descansou porque toda a sua obra está ter-
minada e Ele está nos dizendo para termos a mesma
atitude. Quando entramos no descanso de Deus, é

O Evangelho da graça para viver no descanso

18
impressionante como fazemos todo o nosso trabalho
sem estresse ou ansiedade.
A ordem do Senhor é que nos esforcemos para
entrar no descanso. Este é o único lugar no Novo
Testamento onde se diz que devemos nos esforçar,
mas veja que é o esforço do descanso.
Hoje, nós estamos assentados com Cristo nos
lugares celestiais. O sentar-se é a posição de descanso,
e dessa posição a autoridade do trono nos é liberada.
Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa
do grande amor com que nos amou, e estando
nós mortos em nossos delitos, nos deu vida jun-
tamente com Cristo, — pela graça sois salvos,
e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus;
para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema
riqueza da sua graça, em bondade para conosco,
em Cristo Jesus. (Ef 2.4-7)
É maravilhoso saber que Deus é rico em bon-
dade e misericórdia. Não se diz que Ele é rico em
sua ira, mas rico em misericórdia. Por causa do seu
grande amor, nos ressuscitou com Cristo e nos fez
assentar com Ele.
Nossa posição hoje é sentados com Cristo. O ato
de sentar-se significa que o trabalho foi terminado.
No Velho Testamento, o sacerdote nunca sentava
porque seu trabalho nunca terminava. Ele deveria re-
petir todos os dias os mesmos sacrifícios. Havia muitos

O descanso da graça

19
móveis no Tabernáculo, mas não havia uma cadeira,
porque o sacerdote não podia sentar diante de Deus.
Mas Hebreus diz que Cristo, o nosso sumo
sacerdote, depois de ter feito a expiação pelos pe-
cados, assentou-se à destra do Pai. Por que Ele se
assentou? Porque a obra estava terminada. Mas a
verdade mais profunda é que nós também estamos
assentados com Ele.
Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a
exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes
os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem
remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido,
para sempre, um único sacrifício pelos pecados,
assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí
em diante, até que os seus inimigos sejam postos
por estrado dos seus pés. (Hb 10.11-13)
Você sabe onde está o diabo e todos os problemas
e obstáculos que você tem enfrentado? Estão debaixo
dos pés daquele que está assentado (Ef 1.20-22). O
Senhor está muito acima de toda enfermidade, mal-
dição e obra do maligno, e nós estamos sentados com
Ele na mesma posição.
O diabo sempre se coloca diante de você para per-
guntar: “O que você vai fazer a respeito dessa ou daquela
situação?” Nossa resposta precisa ser essa: “Vou sentar e
descansar”. Ao fazer isso, você está dizendo que não há
mais nada a ser feito, porque a obra já foi consumada
por Cristo. Parece que a obra não está terminada, você

O Evangelho da graça para viver no descanso

20
sente que não está terminada, incontáveis vozes dizem
que não está terminada, mas você se senta e apenas de-
clara: “está consumado”. Quando você faz isso, alguma
coisa acontece com o seu problema.
O inimigo vai tentar ao máximo tirá-lo dessa
posição, pois ele sabe que, enquanto você está nes-
sa posição, as bênçãos fluem na sua vida, a vitória é
abundante e boas coisas acontecem. Então, o alvo
do diabo é fazê-lo ficar tumultuado e atribulado por
dentro, sem descanso e paz. Por isso, precisamos nos
esforçar para permanecer no descanso.
Você sabe como Deus define o mal? Em Hebreus
3, a Palavra do Senhor diz que um perverso coração de
incredulidade é o que nos impede de entrar no descanso.
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em
qualquer de vós perverso coração de incredulidade
que vos afaste do Deus vivo. (Hb 3.12)
A palavra “perverso” aqui é poneros no grego
e o seu significado primário é “cheio de labores,
aborrecimentos, fadigas, pressionado e atormentado
pelos labores”. O sentido secundário de poneros é
“o mal moral, a iniquidade”. Mas veja que o sentido
primário da palavra é justamente perder o descanso.
Quando Deus diz para não termos um coração per-
verso, está dizendo para rejeitarmos um coração que
não tem descanso, cheio de estresse, preocupação,
ansiedade e medo.

O descanso da graça

21
Isso é muito interessante porque o Senhor disse
em Lucas 21 que a condição para sermos livrados da
grande tribulação é ter um coração que não está em-
briagado com as preocupações e ansiedades da vida.
Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos
suceda que o vosso coração fique sobrecarregado
com as conseqüências da orgia, da embriaguez e
das preocupações deste mundo, e para que aquele
dia não venha sobre vós repentinamente, como
um laço. (Lc 21.34)
O vencedor, portanto, é aquele que entra no des-
canso. A Canaã na qual somos desafiados a entrar no
Novo Testamento é o descanso. É interessante como
valorizamos muito o mal moral, pensamos sempre que
este é o pior tipo de maldade. Mas a Palavra de Deus
nos mostra que perder a paz e viver sem descanso é
ser reprovado por Deus.

Condenação
Toda religião é baseada no mesmo princípio: se
comportamos bem, somos abençoados; se compor-
tamos mal, somos condenados. Mas o cristianismo
é essencialmente diferente. Nele, onde abundou o
pecado superabundou a graça de Deus.
Um cristão jamais deveria aceitar acusação em sua
mente em circunstância alguma. Quando aceitamos
acusação, tendemos a interpretar as circunstâncias
como juízo divino e daí perdemos a paz.

O Evangelho da graça para viver no descanso

22
Tendo Paulo ajuntado e atirado à fogueira um feixe
de gravetos, uma víbora, fugindo do calor, prendeu-
-se-lhe à mão. Quando os bárbaros viram a víbora
pendente da mão dele, disseram uns aos outros:
Certamente, este homem é assassino, porque, salvo
do mar, a Justiça não o deixa viver. (At 28.3-4)
Paulo tinha sido preso injustamente, depois passou
por um naufrágio e perdeu tudo, e agora foi mordido
por uma cobra. No entanto, ele permanece completa-
mente sereno, porque não interpreta o amor de Deus
pelas circunstâncias. Mesmo que venha o mal, ele sabe
que Deus pode transformar tudo para o seu bem.
Os bárbaros, por outro lado, seguiam a teologia
comum a toda religião, eles viam o mal sempre como
castigo divino. Qualquer religioso numa situação
assim entra em desespero, mas Paulo saiu dali e foi
usado para curar todos os enfermos da ilha.

Medo
O medo é outro instrumento maligno para nos
tirar da posição de paz e descanso. Quando cedemos
ao medo, nossa alma fica atribulada e cansada.
Muitos pensam que o sofrimento de Jó durou a
vida toda, isso não é verdade. Os mestres na Palavra
dizem que não foi mais que nove meses. A Bíblia
nunca diz para considerar o sofrimento de Jó, mas o
seu fim (Tg 5.11). Alguns dizem que são como Jó,

O descanso da graça

23
então estejam certos de serem abençoados como foi
Jó no fim dos nove meses.
No capítulo 3.25, Jó diz: “Aquilo que temo me
sobrevém, e o que receio me acontece”. Durante muito
tempo, eu tive medo de sentir medo. E quanto mais
medo eu tinha, mais medo eu sentia de ter medo,
porque me foi dito que, quando sentimos medo,
atraímos coisas ruins.
Mas a verdade é que o medo possui uma raiz
mais profunda, a condenação. No capítulo 1, vemos
Jó oferecendo sacrifícios, mas por que ele os estava
oferecendo? Ele temia que talvez tivesse pecado.
Decorrido o turno de dias de seus banquetes, cha-
mava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se
de madrugada e oferecia holocaustos segundo o
número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham
pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus
em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.
(Jó 1.5)
Jó vivia debaixo de acusação e medo. Podemos
dizer que era o sentimento de condenação e acusação
que produzia o medo, que, por sua vez, gerou todo
tipo de doença em Jó. Tudo isso evidentemente veio
do maligno.
Precisamos sempre nos lembrar de que Deus não
é o nosso problema. Antes, é o acusador quem nos
importuna o tempo todo.
O Evangelho da graça para viver no descanso

24
Ansiedade
Na noite em que foi traído, algumas horas
antes da sua crucificação o Senhor suou sangue. A
primeira área que o Senhor deseja redimir em nossa
vida é a área do estresse, medo e ansiedade na men-
te. Esta é a razão por que Ele primeiro derramou
sangue no seu suor.
Antes da queda, Deus havia dado um trabalho ao
homem, portanto o trabalho é de Deus, porque Ele
também trabalha. Mas depois da queda, o Senhor disse
que o homem trabalharia com suor. O suor tornou-se
o símbolo da maldição. O homem hoje trabalha cheio
de ansiedade e angústia.
Por causa disso, o Senhor não aceita o suor na
sua obra. Na casa de Deus, tudo deve feito dentro
do descanso.
Tiaras de linho lhes estarão sobre a cabeça, e
calções de linho sobre as coxas; não se cingirão a
ponto de lhes vir suor. (Ez 44.18)

Jesus sabia que, dentro de algumas horas, iria


morrer, por isso Ele prometeu duas coisas. A primeira
foi outro consolador. Ele nos ensinará todas as coisas.
Não somente as verdades doutrinárias da Palavra, mas
nos ensinará como ser bons pais, bons cônjuges, como
prosperar, como lidar com problemas e tudo o mais
que precisarmos.
O descanso da graça

25
Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai
enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as
coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho
dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não
vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o
vosso coração, nem se atemorize. (Jo 14.26-27)

Mas a segunda coisa que Ele nos deixou foi a


sua paz. Imagine um homem muito rico que está à
beira da morte e deseja nos dar alguma coisa. Ele
certamente daria o seu bem mais precioso. Foi exa-
tamente isso que o Senhor fez, Ele nos deixou a sua
paz. A sua paz é um senso de segurança, seguridade,
prosperidade e felicidade.
Não importa quão grande seja o problema,
quão severa a situação ou quão terrível o diagnósti-
co, o Senhor deseja que nada disso controle o nosso
coração. Se o nosso coração permanecer na paz, nós
veremos o milagre.
A saudação do Novo Testamento é sempre a gra-
ça e a paz. A graça nos dá todas as coisas livremente,
porque o sangue de Jesus já pagou todo o preço. Mas
paz mantém todas coisas que nos são dadas pela graça.
A paz mantém o que a graça dá.
Por causa disso, a primeira coisa que o diabo
procura fazer é tirar a nossa paz. Antes que ele possa
nos roubar qualquer coisa, ele precisa gerar em nós
um coração atribulado.

O Evangelho da graça para viver no descanso

26
Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e
vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém
para devorar. (1Pe 5.7-8)

O diabo não pode manipular um crente cheio de


paz. Ele anda ao derredor procurando alguém cheio de
ansiedade. Se as suas emoções estão sempre agitadas e
sua mente está sempre atribulada, então você se torna
comida para o diabo. Mas se você não permite seu co-
ração ficar angustiado, ele não tem espaço contra você.
A estratégia do diabo é levá-lo a pensar que Deus
está sempre irado com você. Pedro diz que o diabo
anda em derredor como um leão que ruge. Por que
o diabo age como um leão? O seu objetivo é trazer
medo às pessoas.
Como o bramido do leão, assim é a indignação
do rei; mas seu favor é como o orvalho sobre a
erva. (Pv 19.12)

Esse rei é o Senhor Jesus, e sua ira é como o


bramido do leão. Mas Ele não está rugindo contra
nós, e sim contra o inimigo, mas o seu favor é como
o orvalho sobre nós.
Eu já assisti Discovery Channel e sei que leões
não rugem quando caçam. Na verdade, eles se apro-
ximam da presa com muito cuidado e silêncio, mas
eles rugem quando querem assustar. Quando o diabo

O descanso da graça

27
ruge como o leão, ele está tentando imitar o Senhor e
fazer parecer que Deus está irado conosco, porque a
ira do rei é como o rugido do leão, e assim nos deixar
angustiados. O rugido do diabo está mentindo que
Deus está irado conosco. Isso faz com que os crentes
fiquem incapacitados.

O Evangelho da graça para viver no descanso

28
Senta, anda e
permanece

A
s Escrituras declaram que o reino de Deus é
justiça, paz e alegria no Espírito. Isso significa
que o grande sinal de que pregamos o evange-
lho corretamente é quando sentimos alegria e paz ao
receber a Palavra de Deus.
Porque o reino de Deus não é comida nem be-
bida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito
Santo. (Rm 14.17)
Mas e quanto à justiça? Essa justiça não seria as
nossas obras de obediência? No Novo Testamento,
Senta, anda e permanece

29
duas justiças são mencionadas. Em Filipenses 3.9,
Paulo diz que quer ser achado em Cristo, não tendo
justiça própria, que procede de lei, mas sim tendo a
justiça que é mediante a fé em Cristo, a justiça que
procede de Deus, baseada na fé.
E ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé. (Fp 3.9)
A justiça que depende de nossa obediência aos
mandamentos é a justiça própria, que não depende
de fé. Mas a justiça do reino de Deus é a justiça base-
ada na fé. Quando o Senhor Jesus disse que devemos
buscar o reino de Deus e a sua justiça, Ele estava se
referindo a esse tipo de justiça, aquela que procede de
Deus, baseada na fé (Mt 6.33).
Não estamos mais debaixo da lei em forma de
ordenanças. Fomos libertos da lei. Mas isso significa
que não existem mandamentos no Novo Testamento?
Certamente eles existem, mas não são como os manda-
mentos da lei. É como se o Senhor dissesse: “Ordeno
ao homem faminto que coma”. Ordeno ao cansado
que descanse”. No meio teológico, isso é chamado de
imperativos divinos.
Todavia, antes de enfatizarmos os imperativos,
precisamos entender os indicativos. Você certamente
deve se lembrar das aulas de gramática. Todo verbo

O Evangelho da graça para viver no descanso

30
possui um tempo e um modo. O tempo é presente,
passado ou futuro, mas o modo pode ser indicativo ou
imperativo (é claro que existe também o subjuntivo,
mas não vamos falar dele). Os imperativos de Deus
são baseados nos seus indicativos.
Os indicativos nos dizem o que somos, o que
temos e o que podemos fazer em Cristo. É somen-
te em função disso que somos capazes de obedecer
aos imperativos.
Porque Cristo nos amou, devemos amar a nossa
esposa como Ele nos amou. Porque fomos ricamen-
te perdoados, devemos perdoar livremente a quem
nos ofende. Porque somos uma nova criação, já não
viveremos como os ímpios. Porque o Espírito Santo
agora habita em nós, já não usaremos o nosso corpo
para a impureza e a prostituição. Nossa obediência
aos imperativos divinos é apenas uma consequência
do poder dos indicativos da cruz.
No Velho Testamento, as pessoas obedeciam
para se tornarem justas e santas. Hoje, no Novo
Testamento, nós já fomos feitos justos. Dessa for-
ma, nós obedecemos porque é assim que os justos
vivem. Na lei, as pessoas obedeciam para se torna-
rem justas; na graça, nós fomos feitos justos e por
isso obedecemos.
Precisamos crer e confessar que fomos feitos
justiça de Deus em Cristo. Mandamentos são para

Senta, anda e permanece

31
ímpios e profanos, mas os justos precisam apenas crer
na verdade dos indicativos da Palavra de Deus.
Tendo em vista que não se promulga lei para
quem é justo, mas para transgressores e rebeldes,
irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, par-
ricidas e matricidas, homicidas. (1Tm 1.9)
Não é possível crer na coisa certa e não viver da
maneira certa. Sua conduta é sempre o resultado de
sua crença. Se vivemos errado, é porque cremos errado.
Evidentemente, o comportamento é importante, mas
a ênfase maior é sempre sobre o que cremos.
Os indicativos sempre apontam para Cristo
e sua obra consumada na cruz. Quanto mais você
contempla a Cristo, mais se torna como Ele. Se não
ensinamos os indicativos de nossa união com Cristo,
não temos posição para exigir dos irmãos os impe-
rativos de Deus.
Em todas as epístolas do Novo Testamento, Paulo
começa ensinando o indicativo de nossa posição em
Cristo. A isso os mestres chamam de Kerigma, que
significa proclamação. Somente depois disso, ele ex-
põe os imperativos de Deus, também chamados de
Didaquê. Toda epístola paulina é dividida em duas
partes: Kerigma e Didaquê. O Kerigma é a base para
praticarmos o Didaquê. Sem o Kerigma, o Didaquê
é apenas um conjunto de regras comum à maioria
das religiões.

O Evangelho da graça para viver no descanso

32
Vamos tomar a Epístola aos Efésios e observar
mais atentamente esse princípio. Podemos dividir a
epístola em três partes usando três palavras: senta,
anda e permanece. O sentar é o Kerigma, enquanto
o andar e o permanecer são o Didaquê.

1. Senta
A primeira parte de Efésios vai do capítulo 1 ao
3. A palavra-chave dessa primeira parte é “senta”. Nós
estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais.
Primeiro, Cristo se assentou (1.20), depois nós nos
assentamos com Ele.
E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.
(Ef 2.6)
A vida cristã não começa com uma faça, mas
com um está feito. Deus trabalhou seis dias para
só então descansar, mas o primeiro dia do homem
foi o sétimo, o dia do descanso. O mesmo prin-
cípio se aplica à redenção. Cristo já trabalhou e
terminou a obra, então somos convidados para o
seu descanso.
Quando Deus livrou o povo de Israel da escra-
vidão do Egito e os conduziu para Canaã, Ele fez
questão de mencionar que o povo não teria de fazer
coisa alguma. Eles entrariam em casas que não tinham
construído, poços que não tinham cavado e plantações
Senta, anda e permanece

33
que não tinham semeado. Eles iriam participar da
bênção da obra completa de Deus.
Havendo-te, pois, o SENHOR, teu Deus, intro-
duzido na terra que, sob juramento, prometeu a
teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes
e boas cidades, que tu não edificaste; e casas cheias
de tudo o que é bom, casas que não encheste; e
poços abertos, que não abriste; vinhais e olivais,
que não plantaste. (Dt 6.10-11)
O mesmo princípio se aplica à obra de Cristo.
Se Adão já recebeu o jardim pronto e o povo de Israel
herdou uma nação pronta, nós também recebemos
uma salvação completa.
Estar assentado significa que tudo está termi-
nado. Como tudo está terminado, eu posso sentar e
descansar. O Senhor disse: “Está consumado!” Isso
significa que eu sou convidado a participar de uma
obra que já está terminada.
No cristianismo, somos convidados a participar
de uma obra que já está pronta. Na sua morte e ressur-
reição, Cristo já nos fez justos e santos. Isso significa
que, em Cristo, já estamos prontos. Já somos filhos de
Deus, justos, santos, habitação do Espírito, coerdeiros
e muito mais. A partir do conhecimento de tudo isso
que já somos, podemos começar a nossa vida cristã.
Uma das coisas mais extraordinárias do evange-
lho é o fato de todas as coisas estarem concluídas em
Cristo. Infelizmente, muitos ensinam que, se formos

O Evangelho da graça para viver no descanso

34
diligentes o suficiente, um dia seremos santos, um dia
seremos justos. A verdade, porém, é que hoje você já
é santo, justo e inculpável. Talvez as suas ações ainda
não correspondam à sua nova posição e identidade,
mas a verdade a seu respeito hoje é que você é um jus-
to aperfeiçoado. O nosso problema é que invertemos
a ordem das coisas espirituais. Nós fizemos da obra
consumada o nosso alvo final. Mas a nossa vida cristã
começa na obra consumada de Cristo.
Do ponto de vista de Deus, nós já somos com-
pletos em Cristo. Nós fomos aperfeiçoados. Assim, o
seu ponto de partida é que você é perfeito em Cristo.
Não faça do ponto de partida o seu alvo final. O nosso
ponto de partida é a obra consumada na cruz. Quando
Cristo disse: “Está consumado!”, este é o nosso iní-
cio. E porque Ele consumou a obra, eu já começo na
posição de justo e santo.
Você não começa a batalha espiritual esperando
que o inimigo seja derrotado. Você já começa a guerra
na posição de vencedor, porque Cristo já triunfou.
Você não começa a jornada como um pecador que
procura ter uma vida justa e então receber a bênção
de Deus. Nada disso. Você começa na posição de justo
já abençoado com toda sorte de bênção espiritual.
Com base nessa obra consumada, nós não ora-
mos para ter a vitória, mas oramos porque Cristo já
venceu e agora podemos experimentar essa vitória.
É por isso que Paulo diz que já fomos abençoados

Senta, anda e permanece

35
com toda sorte de bênção espiritual. Nós começa-
mos como abençoados, e não como quem ainda vai
receber a bênção.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos tem abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo. (Ef 1.3)
Quando você crê que já é santo e justo em Cristo,
você entra no descanso. É por isso que a palavra-chave
da primeira parte de Efésios é “senta”. Estamos assen-
tados com Cristo no descanso da sua obra concluída.
Mas quando tentamos nos tornar santos e
justos com base em nossas obras, o resultado é um
imenso cansaço. Desgastamo-nos buscando vitória,
orando para ter justiça. Mas há um grande descan-
so quando oramos a partir da vitória que já temos,
da justiça que já possuímos. Eu oro na posição da
vitória. Cristo já venceu e, nessa posição de vitória,
eu enfrento o inimigo.
Nós podemos descansar porque Cristo terminou
a obra e se assentou. Quando você recebeu Jesus em
sua vida, você foi aperfeiçoado para sempre. É exa-
tamente isso que declara a Palavra de Deus. Pare de
tentar adquirir e comece a receber o favor, a cura, e
todas as bênçãos que o Senhor conquistou na cruz.
Há dois mil anos, Ele disse: “Está consumado!” Tudo
o que precisamos para uma vida abundante e vitoriosa
já foi conquistado na cruz.

O Evangelho da graça para viver no descanso

36
Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um
único sacrifício pelos pecados, assentou- se à destra
de Deus, aguardando, daí em diante, até que os
seus inimigos sejam postos por estrado dos seus
pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou
para sempre quantos estão sendo santificados.
(Hb 10.12-14)
No Velho Testamento, o sacerdote ficava o tempo
todo de pé ministrando diariamente e oferecendo os
mesmos sacrifícios que não podiam retirar o pecado.
No tabernáculo, não havia nenhum móvel preparado
para que o sacerdote se assentasse. Não havia nenhuma
cadeira no santo lugar ou no átrio. É assim porque a
obra do sacerdote nunca era consumada. Mas a obra
do Senhor Jesus foi consumada, por isso Ele se assen-
tou. E também nos fez assentar junto com Ele.
Assentar-se na Bíblia simboliza descanso. Isso
significa que Ele consumou a obra para que pudésse-
mos nos assentar com Ele. Pare de depender de seus
esforços para se qualificar e obter as bênçãos de Deus
em sua vida. Se Ele nos deu esse milagre pela graça,
então podemos estar certos de que sua graça também
nos dará todos os milagres menores, como cura, pros-
peridade ou casamentos restaurados.
As últimas palavras de Cristo na cruz foram:
“Está consumado!” É aqui que tudo começa. Quando
a obra de Cristo termina, a nossa começa. Nós come-
çamos a nossa vida cristã com o “está consumado!”

Senta, anda e permanece

37
Não ore mais na posição de um pecador que procura
misericórdia. Se você age assim, Deus não o ouvirá.
Você não é mais um pecador, você é filho. O nosso
clamor agora é “Aba, Pai”! Muitos acham que devem
sempre orar como o pecador da parábola que Jesus
contou. Dizem: “Tem misericórdia de mim que sou
pecador!” Mas isso foi antes de você se converter, ago-
ra você foi justificado. Milagres acontecem quando
cremos nessa verdade eterna. O Espírito Santo vem
para confirmar a mensagem.
Cuidado para não ser natural com as coisas de
Deus. A verdadeira mensagem do evangelho é algo
sobrenatural. Ser natural é dizer algo como: “Faça o
seu melhor para agradar a Deus e, algum dia quando
Deus vir que você é sincero o suficiente, fiel o suficien-
te, então você será justo”. O sobrenatural, por outro
lado, é quando Deus diz que eu sou justo em Cristo
mesmo que eu ainda não veja a justiça em mim.

2. Anda
A segunda parte de Efésios inclui os capítulos 4
e 5. A palavra-chave dessa parte é “anda” (Ef 4.1,17;
5.2,8,15).
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que
andeis de modo digno da vocação a que fostes
chamados. (Ef 4.1)
A ideia é bem clara, uma vez que entendemos a
nossa posição em Cristo e tudo o que nos foi dado

O Evangelho da graça para viver no descanso

38
por meio da obra consumada, podemos agora andar.
O sentar-se é a base do andar. É somente porque en-
tendemos a nossa vocação que somos capazes de andar
de modo digno.
Efésios 4.25 começa com a expressão “por isso”.
Isso significa que todas as exortações à santidade são
baseadas nos versos anteriores. Em 4.1, diz que ga-
nhamos uma nova posição, uma nova vocação, por
isso devemos andar de acordo com ela.
O Novo Testamento sempre nos mostra quem
somos e então nos exorta a andar de acordo com isso.
Nós fomos ressuscitados com Cristo, então devemos
ter um padrão de vida celestial. Somos membros uns
dos outros, por isso não podemos mentir. Fomos fei-
tos filhos de Deus, somos da realeza, da família real,
por isso devemos ter nobreza em nossos atos. Não
podemos ser avarentos e mesquinhos simplesmente
porque isso não é nobre, não combina mais conosco.
Toda exortação é sempre baseada no que somos,
temos e podemos fazer em Cristo. Sem compreender a
nossa posição, a exortação se torna um tipo de legalismo.
A nossa santificação antes de ser uma separação
de algo, é uma separação para alguém. É possível ser
separado do Egito, mas ainda assim morrer no deserto.
Santificação é ser separado para Deus, mas ser separa-
do para Deus significa desfrutar de todos os indicativos
do que somos em Cristo. A verdadeira santificação é
entender o que somos, temos e podemos fazer n’Ele.

Senta, anda e permanece

39
Veja a base de Paulo para apresentar cada im-
perativo de Deus. Ele nunca se refere à lei do Velho
Testamento, mas sempre aponta para a nossa posição
e realidade em Cristo.
Fale cada um a verdade com o seu próximo, por-
que somos membros uns dos outros.
Por isso, deixando a mentira, fale cada um a
verdade com o seu próximo, porque somos mem-
bros uns dos outros. (Ef 4.25)
Não fique irado para não dar lugar ao diabo.
Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a
vossa ira, nem deis lugar ao diabo. (Ef 4.26-27)
Não entristeça o Espírito de Deus, porque fomos
selados por Ele e hoje Ele é a nossa marca de proprie-
dade. É claro que o pecado é ruim, mas o que mais
entristece o Espírito é a justiça própria. A mesma pa-
lavra usada em Efésios 4.30, lupeo, é a mesma usada
em Marcos 3.5, quando Jesus ficou indignado com o
fato de os fariseus não terem compaixão do homem
com a mão ressequida. O que entristece o Espírito é
o mesmo que entristeceu a Jesus.
E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. (Ef 4.30)
Perdoe aos outros, porque você foi ricamente
perdoado em Cristo. Quando entendo o quanto sou
amado, estou apto a amar também.

O Evangelho da graça para viver no descanso

40
Antes, sede uns para com os outros benignos,
compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como
também Deus, em Cristo, vos perdoou. (Ef 4.32)
Porque somos filhos de Deus, devemos ago-
ra procurar imitá-lo. Ser filho de Deus não é uma
mera ilustração bonita; antes, trata-se da realidade
mais assombrosa do Novo Testamento. Nós temos
a natureza divina, temos a sua natureza, e por isso
podemos imitá-lo.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos ama-
dos. (Ef 5.1)
Ande em amor, porque Cristo nos amou e se
entregou por nós. João diz que nós amamos por que
Ele nos amou primeiro (Jo 4.19).
E andai em amor, como também Cristo nos amou
e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e
sacrifício a Deus, em aroma suave. (Ef 5.2)
Porque já somos santos, devemos rejeitar toda
impureza. Não é rejeitar para ser santo, mas rejeitar
porque já somos santos e isso não é mais apropria-
do para nós.
Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou
cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como
convém a santos. (Ef 5.3)
Não somos mais filhos da desobediência, por isso
não devemos agir como eles.

Senta, anda e permanece

41
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque,
por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos
da desobediência. (Ef 5.6)
Porque somos luz, devemos andar como filhos da
luz. A nossa realidade é luz, precisamos apenas viver
de acordo com ela.
Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz
no Senhor; andai como filhos da luz (porque o
fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça,
e verdade). (Ef 5.8-9)
Não precisamos nos embriagar com vinho, pois
podemos nos encher do Espírito. Não é uma lei de
não se embriagar, mas uma conclusão de bom senso,
se eu tenho o Espírito para me embriagar, não preciso
mais do vinho.
E não vos embriagueis com vinho, no qual há
dissolução, mas enchei-vos do Espírito. (Ef 5.18)
As mulheres se submetem aos maridos como ao
Senhor.
As mulheres sejam submissas ao seu próprio ma-
rido, como ao Senhor. (Ef 5.22)
Os maridos amam as suas esposas porque enten-
dem o quanto são amados pelo Senhor.
Maridos, amai vossa mulher, como também
Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou
por ela. (Ef 5.25)

O Evangelho da graça para viver no descanso

42
Os casais não se separam porque sabem que o seu
casamento representa a união de Cristo com a igreja,
e Ele jamais se separará de nós.
[…] por que deixará o homem a seu pai e a sua
mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois
uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me
refiro a Cristo e à igreja. (Ef 5.31-32)
Todo o nosso andar é baseado em nosso sentar
e descansar na obra consumada de Cristo. Não vive-
mos mais de acordo com a lei. Não obedecemos para
sermos abençoados, mas porque fomos abençoados
na cruz, agora podemos obedecer. Não obedecemos
para sermos justos, mas porque já somos justos. Não
rejeitamos o pecado para sermos santos, mas já somos
santos. Tudo é baseado na obra de Cristo.
A lei é simplesmente seguir o conhecimento do
bem e do mal, mas hoje temos a árvore da vida com
o seu fruto à nossa disposição. Seguir o bem e rejeitar
o mal não é suficiente, isso é apenas justiça própria.
Precisamos seguir a perfeição do Pai e fazer a sua von-
tade, porque esta agora é a nossa natureza.
O cristianismo não é uma questão de mudança
de comportamento, mas mudança de vida e nature-
za. Os ímpios também mudam de comportamento,
alguns bebiam e depois deixam o álcool, outros eram
violentos e mudam de atitude. Mas mudança de com-
portamento é muito pouco, Deus nos deu uma nova
natureza. Antes, éramos pecadores, agora somos filhos
com a sua natureza.

Senta, anda e permanece

43
3. Permanece
Nós estamos envolvidos numa verdadeira guer-
ra espiritual. Por isso, na terceira parte de Efésios, a
palavra-chave é “permanece”.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para
que possais resistir no dia mau e, depois de terdes
vencido tudo, permanecer inabaláveis. (Ef 6.13)
Ficar ou permanecer é o resultado do sentar-se e
do andar. Porque eu descanso na obra consumada de
Cristo, eu posso andar de acordo com a sua vontade.
E, uma vez que estou andando na luz, o inimigo vem
para me resistir. Nesse momento, devemos permane-
cer inabaláveis.
O inimigo vai nos atacar com enfermidades, pro-
blemas financeiros, pessoas se levantarão contra nós e
teremos pressões de todos os lados, mas ainda assim
podemos ser inabaláveis em nossa fé até ver todas as
obras do diabo debaixo de nossos pés.
Só estamos prontos para a batalha espiritual
quando aprendemos a sentar e a andar. Sem o sentar
no descanso na obra consumada e sem o andar na
luz da nossa posição como justos, não temos como
enfrentar o inimigo. Só podemos permanecer numa
posição inabalável quando entendemos que a batalha
é do Senhor. Ele vai pelejar por nós. É isso que apren-
demos quando nos assentamos com Cristo.

O Evangelho da graça para viver no descanso

44
O inimigo, porém, não se importa com aqueles
que mentem e enganam nos seus negócios, vivem de-
baixo de impureza e sensualidade ou levam uma vida
profana. O diabo simplesmente os deixa em paz. Ele
quer que tais pessoas até prosperem por que eles são
um mau testemunho para o reino de Deus.
Mas o inimigo odeia aqueles que aprenderam
a descansar, que possuem uma vida cheia de alegria,
com o fogo do Espírito nos olhos e um testemunho
cheio de vida. Quando essas pessoas chegam, o am-
biente se torna cheio da presença de Deus. São elas
que enfrentarão a batalha espiritual.
Permanecer significa estar firme numa posição
de vitória. O inimigo está tentando tirar a bênção, a
cura, a prosperidade, a glória, mas você simplesmente
permanece no terreno firme da vitória já conquis-
tada na cruz.
Não oramos para alcançar uma posição de vitória,
nós já estamos nessa posição. Não oramos por vitória,
mas nós oramos na posição de vencedor. Já vencemos,
por isso permanecemos.
Alguns oram para ficarem mais perto de Deus,
mas nós oramos porque já fomos aproximados pelo
sangue. Alguns clamam para que Deus venha, mas
nós sabemos que Ele já habita em nós. Mude a sua
abordagem e perspectiva. Permaneça na posição que
Cristo nos conquistou.

Senta, anda e permanece

45
O Evangelho da graça para viver no descanso

46
Crescendo em glória

Antes, alguém, em certo lugar, deu pleno teste-


munho, dizendo: Que é o homem, que dele te
lembres? Ou o filho do homem, que o visites?
Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de
glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre
as obras das tuas mãos. Todas as coisas sujeitaste
debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou
todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio.
Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a
ele sujeitas; vemos, todavia, aquele que, por um
pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus,
por causa do sofrimento da morte, foi coroado
de glória e de honra, para que, pela graça de
Deus, provasse a morte por todo homem. Porque

Crescendo em glória

47
convinha que aquele, por cuja causa e por quem
todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos
à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos,
o Autor da salvação deles. Pois, tanto o que san-
tifica como os que são santificados, todos vêm de
um só. Por isso, é que ele não se envergonha de
lhes chamar irmãos. (Hb 2.6-11)
Esse texto de Hebreus é uma citação do Salmo
8. No Salmo, a palavra “coroaste” é atar, que significa
“cercar, rodear”. Então, a coroa aqui não é necessa-
riamente algo que se coloca na cabeça, mas algo que
nos cerca ao derredor.
Isso significa que, quando o homem foi criado,
Deus o envolveu ao derredor com glória e honra.
Certamente, Adão estava envolvido com esplendor
radiante, com um brilho celestial. Adão não estava
vestido com roupas, mas estava revestido de glória.
É por causa dessa glória que ele podia sujeitar e
dominar sobre toda a criação. É a glória que lhe dava
autoridade e poder para sujeitar. Os animais não se
sujeitavam a Adão por causa de algum tranquilizante
que ele lhes aplicava, mas apenas por causa da sua
presença. Certamente, tudo o que ele tinha de fazer
era falar, comandar e todos os animais obedeciam.
Por isso, Hebreus diz que, por causa da glória, tudo
foi sujeito aos seus pés.
Tudo o que Adão tinha que ter feito com a ser-
pente era ter mandado que ela saísse do jardim. Mas,

O Evangelho da graça para viver no descanso

48
uma vez que nada disse, ele permitiu que as coisas
acontecessem. Sempre que nos calamos, permitimos
que coisas aconteçam.
Assim, a nossa coroa não é algo que colocamos
na cabeça, mas é uma glória que nos envolve como
uma cápsula, uma redoma. Todavia, no dia em que o
homem pecou, ele perdeu a sua glória.
Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.
(Rm 3.23)
Mas agora o Senhor Jesus foi feito homem coro-
ado de glória e honra, e Ele provou a morte por todo
homem para conduzir novamente os filhos à glória.
No verso 10, lemos que todas as coisas existem
para Ele e por Ele. Se o nosso casamento é para Ele,
então teremos um casamento por meio d’Ele. Se a nossa
profissão é para Ele, então por Ele seremos capacitados.
Ainda no verso 10, lemos que Jesus teve de ser
aperfeiçoado. A palavra “perfeito” aqui é teleios, que
significa “ser completo”. Sendo plenamente Deus, o
Senhor já era perfeito. Nada lhe faltava. Ele era ple-
namente autossuficiente e completo. Mas quando se
fez homem, uma coisa lhe faltava, Ele tinha de sofrer
e morrer. Como Deus, Ele nunca tinha sofrido e nem
podia passar pela morte. Assim, para que pudesse ser
o nosso sumo sacerdote e nos representar diante de
Deus, Ele tinha de ser aperfeiçoado passando pelo
sofrimento e pela morte.

Crescendo em glória

49
E por que o Senhor fez tudo isso? O texto diz
que foi para trazer os filhos à glória. Muitos pen-
sam que Ele fez a fim de nos levar para o céu. Mas
Hebreus diz que foi para nos restaurar a glória.
Evidentemente, provaremos a glória nos céus, mas
no contexto de Hebreus, a glória e a honra são para
hoje. O Senhor quer envolver seus filhos com esplen-
dor, saúde, beleza e presença radiante. Ele morreu
para nos trazer de volta a glória que o homem per-
deu no Éden.
Mesmo que nem tenhamos consciência disso,
a verdade é que, quando nascemos de novo, somos
coroados de glória e honra. Há algo misterioso a res-
peito dos filhos de Deus. A maneira como Deus faz
isso é nos fazendo um com Cristo. É por isso que,
no verso 11, lemos que o que santifica bem como os
que são santificados são um.
Hoje, você está coroado, cercado de honra e
glória. Viva de acordo com essa realidade. Não res-
ponda aos que não possuem glória e honra. Quando
alguém o agredir ou criticar com palavras, não res-
ponda nada. Eles estão em outro nível, porque não
possuem glória nem honra, mas você lhes dá glória
e honra quando responde a eles. Não compartilhe
sua glória com a carne. O alvo daquele que o agride
é ter sua glória e honra, mas não responda nada a
ele. Cale-se, sorria e deixe sua luz brilhar.

O Evangelho da graça para viver no descanso

50
Como crescer em glória

1. Ouça o pai falando com você


Pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e
glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi en-
viada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do
céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no
monte santo. (2 Pe 1.17-18)

Pedro está aqui relembrando o dia em que


Jesus foi transfigurado diante dele no monte (eu
particularmente creio que era o monte Hermon).
Ele diz que o Senhor Jesus recebeu honra e glória da
parte de Deus. E como o Senhor recebeu essa hon-
ra e glória? Pedro diz claramente: “Quando lhe foi
enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo” (2 Pe 1.17). Jesus recebeu
honra e glória quando ouviu o Pai declarar que Ele
era amado. Eu creio que nós também recebemos
honra e glória quando ouvimos o Pai dizer o mesmo
a nosso respeito.
Precisamos ter em mente que hoje estamos em
Cristo, e tudo o que diz respeito a Ele também diz
respeito a nós. Nós somos amados de Deus e Ele tem
prazer em nós em Cristo e por meio de Cristo. Sempre
que você declara essa verdade, a glória se torna mais
forte em você.

Crescendo em glória

51
Todas as coisas neste mundo atacam essa verda-
de de que somos amados de Deus. Seja a mídia, seja
a forma desonrosa como as pessoas tratam uma às
outras, tudo nos leva a sentir que não somos impor-
tantes e nem amados. Tudo nos empurra para sermos
apenas mais um rosto na multidão, mais um número
de identidade. Mas a verdade é que Ele nos conhece
pelo nome e nos ama. Ele sabe quantos fios de cabelo
há em nossa cabeça porque nos ama.
Creio que cada vez que dizemos a alguém que ele
é amado de Deus e que o Pai tem todo prazer nele,
nós estamos coroando-o de glória e honra. Creio que
devemos declarar isso a nós mesmos com fé para nos
encher de glória. Quando somos cheios de glória,
nosso corpo se torna mais saudável e nossa mente se
torna lúcida e clara.
Jesus venceu a acusação dos fariseus e a traição
dos homens porque Ele sabia que era amado. Quando
presumimos que não somos amados, pensamos que
nossas falhas mudarão o amor de Deus por nós.
Sempre que isso acontece, nossa fé se torna mais fraca.
Não devemos permitir que as circunstâncias definam o
amor de Deus por nós. Mesmo no meio da tribulação,
você é amado. Não permita que alguma performance
negativa ou resultado ruim defina quem você é. Você
é amado de Deus.
Quando agimos corretamente, não é difícil crer
que somos amados, mas o teste de fé é crer no amor

O Evangelho da graça para viver no descanso

52
de Deus quando falhamos. A verdade é que o amor de
Deus permanece inalterado. Se você declarar em fé que
é amado de Deus nesses momentos, você se encherá de
um poder tal que a tentação perderá completamente
a força sobre você.
Não sabemos quantas vezes o Pai declarou que
Jesus era o Filho amado no qual Ele tinha todo o pra-
zer. Está registrado que Ele falou no dia do batismo,
mas não lemos isso no relato da transfiguração de
Jesus. No entanto, Pedro estava lá e ele diz que o Pai
declarou que Jesus era amado.
Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe
abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo
como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos
céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo. (Mt 3.16-17)

No dia do batismo, o céu se abriu para Jesus.


Precisamos ter clareza de que o céu se abre unicamente
para Ele. Se você traz Jesus para a sua vida, então o
céu se abre sobre você. Se você traz Jesus para o seu
casamento, o céu se abre para o seu casamento. Se
você traz Jesus para o seu negócio, o céu se abre sobre
a sua empresa. O céu não está aberto para nós, mas
somente para Jesus. Se estivermos n’Ele e Ele em nós,
o céu estará aberto para nós.
Até esse momento, Jesus não tinha feito coisa al-
guma, nenhum milagre, mas Ele já era amado. Assim

Crescendo em glória

53
como Ele, nós não somos amados porque fizemos algo,
mas unicamente porque somos filhos.
Logo em seguida, o Senhor é levado ao deserto
para ser tentado pelo diabo. Nesse ponto, o inimigo
diz: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras
se transformem em pães”. Veja que ele não disse:
“Se você é um Filho amado de Deus, então manda
[...]”. Ele omitiu o amado porque sabe que quando
entendemos que somos amados, a tentação perde
completamente o poder.
Quando pensamos que não somos amados pelo
nosso cônjuge, então nos abrimos para o adultério.
Quando pensamos que não somos amados por Deus,
nos abrimos para o pecado. Muitos se aprofundam no
pecado porque imaginam que, uma vez que tenham
caído, Deus já não os ama, então caem mais profunda-
mente no erro. Mas se tivessem a ousadia de declarar
que são filhos e que são amados mesmo quando estão
sujos, então seriam imediatamente levantados. Mesmo
no mundo, as pessoas alcançam sucesso quando sabem
que são amadas.
Zig Ziglair conta que, em certa ocasião, passou
por um mendigo pedindo esmolas. Esse mendigo dava
uma caneta a quem lhe desse um dólar de esmola. Ao
passar por ele, Zig Ziglair deu-lhe um dólar. Quando
já estava adiante, ele voltou e disse ao mendigo:
“Eu lhe dei um dólar, agora quero minha caneta”.
Prontamente, o mendigo lhe deu uma. Diante disso,

O Evangelho da graça para viver no descanso

54
Zig Ziglair lhe disse: “A partir de hoje, você não é mais
um mendigo, mas um homem de negócio.
Anos depois, um homem abordou Zig Ziglair em
uma de suas palestras e lhe disse: “Você não deve se
lembrar de mim, mas eu sou aquele mendigo que lhe
vendeu uma caneta anos atrás. Depois daquele dia,
eu mudei a ideia a meu próprio respeito e minha vida
inteira mudou. Eu me tornei realmente um homem
de negócio.
É um fato da vida que gente ferida acaba ferindo
os outros. Gente que se sente perdoada acaba per-
doando. Aquele que foi amado vai conseguir amar
os outros.
Devemos investir nas crianças, pois é nessa fase
que mais precisam ouvir que são amadas. Certa vez,
perguntaram a um grande doutor porque ele havia
decidido dar aulas para crianças no ensino fundamen-
tal. Ele disse: “O que é mais fácil? Escrever o nome
em um tijolo com a argila ainda fresca ou depois que
passou pelo forno e se endureceu? Eu quero escrever
algo na vida dessas crianças!”. Que resposta extraor-
dinária! Nada é impossível para Deus, mas é muito
fácil ganhar as crianças.
Creio que a primeira condição para se disciplinar
um filho é antes reafirmar a ele seu amor incondicio-
nal. Quando a criança sabe que é amada desse modo,
sua resposta à disciplina é muito melhor.

Crescendo em glória

55
Depois que o Senhor ressuscitou, Ele se sentou com
Pedro na praia do Mar Galileia e lhe perguntou:
“Simão, filho de João, amas-me mais do que estes
outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que
te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros
(Jo 21.15).
O Senhor está mostrando sua prioridade. A
prioridade não são as ovelhas mais velhas, mas os
cordeiros. Os cordeiros são os bebês das ovelhas. As
crianças são a prioridade de Deus e devem ser a nossa
também. Se amamos o Senhor, então devemos cuidar
dos cordeiros. Aqueles que cuidam das crianças na
vida da igreja precisam saber que estão próximos do
coração de Deus.
Nem todos percebem o quanto o Senhor ama
as crianças. Ele disse que qualquer que fizer tropeçar
a um desses pequeninos que creem n’Ele, melhor lhe
seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande
pedra de moinho e fosse afogado na profundeza do
mar (Mt 18.6).
Não devemos confundir as coisas. Não estou di-
zendo que Deus tem prazer em nós quando pecamos.
Certamente não. O que estou afirmando é que o seu
amor por nós permanece inalterado mesmo quando
pecamos. Deus tem prazer em nós porque estamos em
Cristo, e não por causa de nossas obras de justiça. No
entanto, se escolhemos andar no pecado, certamente
Ele não tem prazer em nós.

O Evangelho da graça para viver no descanso

56
2. Procure agradar a deus
Uma vez que ouvimos o Pai nos dizendo o quanto
somos amados, a reação natural em nosso coração é um
desejo de agradá-lo. Conhecer o amor nos faz querer
obedecer. Obediência traz ainda mais honra e glória.
Em Hebreus 2.9, lemos que o Senhor foi coro-
ado com glória e honra por causa do sofrimento da
morte. Em outras palavras, a obediência resultou em
glória e honra.
Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo
sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do
sofrimento da morte, foi coroado de glória e de
honra, para que, pela graça de Deus, provasse a
morte por todo homem. (Hb 2.9)
Nós também crescemos em glória quando obe-
decemos completamente. Existe algo de glória quan-
do temos a unção de Deus sobre nós e andamos em
santidade. Quanto mais andamos em santidade, mais
as pessoas percebem a vida de Deus em nós. Tenho
visto pessoas cuja presença simplesmente muda o
ambiente. Elas transmitem vida e pureza. Tais pessoas
não podem ser ignoradas por causa do peso de glória.
Quando elas falam, vão abençoar ou incomodar os
que estão ao redor.
Todas as coisas neste mundo trabalham para
que você acredite que não possui honra e glória. Por
isso, você precisa se encher do Senhor para crescer
em glória.

Crescendo em glória

57
Se realmente sentimos e sabemos que somos
amados, o resultado deve ser um desejo profundo
de agradar a Deus. Realmente só há glória e honra
quando praticamos o bem.
Glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que
pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao
grego. (Rm 2.10)
A palavra “glória” no hebraico é kabod, que
significa “peso”. Há irmãos que, quando falam, suas
palavras têm um peso tão grande que as pessoas têm
de respeitar. Uma vez que você nasceu de novo, você é
como uma cidade edificada sobre o monte, não pode
ser ignorado. Aqueles que estão em trevas vão ver a
sua luz. Essa luz é a sua glória. Aqueles que estão em
trevas serão atraídos a você.

3. Apenas contemple o senhor


Depois de ouvir que somos amados e desejar obe-
decer ao Senhor, somos conquistados pela sua graça
e buscamos conhecê-lO ainda mais. Assim, quanto
mais O contemplamos, mais somos transformados
de glória em glória.
E todos nós, com o rosto desvendado, contem-
plando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
(2 Co 3.18)

O Evangelho da graça para viver no descanso

58
Nós somos transformados apenas por contemplar
a glória do Senhor. Contemplar é algo que não exige
esforço humano. Eu preciso apenas me disciplinar
para não ser distraído por outras coisas enquanto es-
tou contemplando.
Na nova aliança, não somos mudados pelo nos-
so esforço, mas apenas por olhar para Jesus. Quando
as pessoas O contemplam, elas são transformadas. E
somos transformados de glória em glória. Nós pode-
mos crescer nessa glória, basta que tenhamos os olhos
abertos para contemplar o Senhor.
Não pense que você é transformado por contem-
plar a si mesmo e se penalizar por todos os defeitos que
possui. Nada disso. O que você faz não define quem
você é. Você é aquilo que Deus faz você se tornar. Você
é aquilo que Deus diz que você é. Você pode comer
como um porco, mas isso não faz de você um porco.

Crescendo em glória

59
Sumário
1. O fluir do rio 7
2. A espada do espírito 17
3. A oração em línguas 27
4. O segredo da vida abundante 37
O fluir do rio

O Senhor Jesus disse em João 7.37:


No último dia, o grande dia da festa, levantou-
-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha
a mim e beba. Quem crer em mim, como diz
a Escritura, do seu interior fluirão rios de água
viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que
haviam de receber os que nele cressem; pois o
Espírito até aquele momento não fora dado,
porque Jesus não havia sido ainda glorificado.
(Jo 7.37-39)
Hoje, nós somos templo do Espírito Santo, de
onde o rio de água viva está fluindo. A sua vontade é
que sigamos a direção do rio, pois quando seguimos
O fluir do rio

7
o rio, temos frutificação, saúde, prosperidade e toda
sorte de bênçãos.
A primeira menção do rio está em Gênesis, e
ali se diz que, onde rio corre, há ouro, e o ouro des-
sa terra é bom. Isso significa que, onde rio corre, há
prosperidade e sucesso (Gn 2.10). A vontade de Deus
é que sigamos o rio.
Em Ezequiel, lemos a respeito do rio que sai do
santuário.
Depois disto, o homem me fez voltar à entrada
do templo, e eis que saíam águas de debaixo do
limiar do templo, para o oriente; porque a face
da casa dava para o oriente, e as águas vinham
de baixo, do lado direito da casa, do lado sul do
altar. Ele me levou pela porta do norte e me fez dar
uma volta por fora, até à porta exterior, que olha
para o oriente; e eis que corriam as águas ao lado
direito. Saiu aquele homem para o oriente, tendo
na mão um cordel de medir; mediu mil côvados
e me fez passar pelas águas, águas que me davam
pelos tornozelos. Mediu mais mil e me fez passar
pelas águas, águas que me davam pelos joelhos;
mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas
que me davam pelos lombos. Mediu ainda outros
mil, e era já um rio que eu não podia atravessar,
porque as águas tinham crescido, águas que se
deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia
passar. E me disse: Viste isto, filho do homem?
Então, me levou e me tornou a trazer à margem
do rio. Tendo eu voltado, eis que à margem do rio

O Evangelho da graça para viver no descanso

8
havia grande abundância de árvores, de um e de
outro lado. Então, me disse: Estas águas saem para
a região oriental, e descem à campina, e entram
no mar Morto, cujas águas ficarão saudáveis. Toda
criatura vivente que vive em enxames viverá por
onde quer que passe este rio, e haverá muitíssimo
peixe, e, aonde chegarem estas águas, tornarão
saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer
que passe este rio. Junto a ele se acharão pescadores;
desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar para
se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas
espécies, será como o peixe do mar Grande, em
multidão excessiva. Mas os seus charcos e os seus
pântanos não serão feitos saudáveis; serão deixados
para o sal. Junto ao rio, às ribanceiras, de um e
de outro lado, nascerá toda sorte de árvore que dá
fruto para se comer; não fenecerá a sua folha, nem
faltará o seu fruto; nos seus meses, produzirá novos
frutos, porque as suas águas saem do santuário;
o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de
remédio. (Ez 47.1-12)

Flui para o oriente


No verso 1, lemos que o rio flui para o oriente.
Na Palavra de Deus, o oriente ou leste é sempre o local
da glória de Deus.
Então, o homem me levou à porta, à porta que
olha para o oriente. E eis que, do caminho do
oriente, vinha a glória do Deus de Israel; a sua
voz era como o ruído de muitas águas, e a terra
resplandeceu por causa da sua glória. (Ez 43.1-2)

O fluir do rio

9
Quando seguimos o rio, ele sempre flui para o
oriente, em direção à glória de Deus. Se seguimos o
fluir do rio, o resultado é sempre a glória de Deus.
O Senhor Jesus é o perfeito exemplo desse rio,
por onde Ele ia, havia vida, e onde Ele tocava, havia
cura. Eu creio que a mesma coisa deve acontecer no
corpo de Cristo hoje, onde fluirmos nesse rio, haverá
bênção e Deus será glorificado.

Do lado direito
No verso 2, lemos que as águas fluíam do lado
direito da casa. As águas fluem para o oriente. Assim,
o lado direito é o sul. O lado direito sempre fala de
importância e prioridade na Palavra de Deus. O lado
direito também aponta para a justiça de Deus.
A justiça de Deus no Novo Testamento é a justiça
que procede da fé. Quando entendemos que somos
justificados pela fé e rejeitamos toda justiça própria,
o resultado é que o rio pode fluir de nós.
O grande impedimento para o fluir é o mereci-
mento. Quando tentamos merecer o fluir do Espírito
pelas nossas próprias obras em vez de confiar na obra
consumada, na verdade, impedimos o fluir. Descanse
no favor imerecido e creia que a justiça de Cristo está
em você, e então um rio de vida fluirá do seu interior.
O testemunho constante que ouvimos das pesso-
as é que, depois de entenderem o evangelho da graça,

O Evangelho da graça para viver no descanso

10
elas se tornam mais sensíveis ao Espírito, a ponto de
chorarem sempre que ouvem a pregação. Todas dizem
que sentem uma grande paz e alegria. É isso que o rio
faz em nós. Suas águas são de descanso.

Os níveis do rio
Nos versos de 3 a 5, lemos que há quatro níveis
de profundidade do rio: águas que dão no tornozelo,
nos joelhos, nos lombos e aquelas nas quais só se pas-
sa a nado. Quando as águas dão nos tornozelos, nós
ainda podemos seguir na direção que queremos, mas
quando entramos em águas profundas, elas nos levam.
O homem que mede com o cordel é o Senhor
Jesus. Nós somos medidos por Ele e, nesse processo,
podemos ser disciplinados. Mas nunca pense que Ele
envia doenças e pragas sobre você; antes, Ele permite
desapontamentos, frustrações e portas fechadas para
que nos voltemos para Ele.
Antes que Deus possa trazê-lo a um lugar mais
alto, antes que um novo nível de fluir venha à sua
vida, Ele vai testá-lo. Deus não pode promovê-lo a
um lugar onde os seus padrões não podem mantê-lo.
O Senhor não o promoverá a um lugar onde você não
terá domínio próprio.
Deus ama tanto você que Ele o testará antes de
lhe dar mais dinheiro ou promovê-lo a uma posição
de destaque em sua empresa. A vontade d’Ele é que

O fluir do rio

11
a bênção o faça avançar e não destrua você e sua fa-
mília. Antes que José fosse promovido a governador
do Egito, ele passou por vários testes. Os testes são a
maneira de Deus nos promover.
O Senhor vai medi-lo, e se você for encontrado
fiel no pouco que tem recebido, Ele o colocará numa
posição mais elevada. Se você faz esse pouco com zelo,
de todo o seu coração, em fidelidade e lealdade, então
Ele o promoverá.
Deus mede para abençoar. Observe que, sempre
que o Senhor mede, o nível das águas sobe. O Senhor
não remove o fluir, Ele mede para aumentar as águas
do rio em nossa vida. O Senhor não mede para dimi-
nuir, mas para promover.
O alvo é que possamos chegar ao nível em que
não podemos andar no rio, mas que somente possa-
mos atravessá-lo a nado. Não é maravilhoso quando o
Espírito nos leva? Decidimos coisas levados pelo rio,
oramos e pregamos sem nem ter muito tempo para
preparar, pois o rio nos governa. Podemos chegar ao
nível em que vida e poder são liberados constante-
mente a partir de nós.

Com árvores nas margens


Depois disso, nos versos 6 e 7, lemos que, onde
o rio fluía, havia grande abundância de árvores nas
margens. Isso significa que, onde o rio flui, ali sempre
há frutificação e multiplicação.

O Evangelho da graça para viver no descanso

12
Não faça as coisas apenas porque é certo ou por-
que é conveniente. Não faça as coisas apenas porque
parece lucrativo. Faça porque há dentro de você uma
convicção que procede do Senhor. Faça porque há um
forte amém dentro do seu coração.
O texto de Ezequiel não diz, mas sabemos que
a árvore que está ao lado do rio é a Árvore da Vida.
No meio da sua praça, de uma e outra mar-
gem do rio, está a árvore da vida, que produz
doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês,
e as folhas da árvore são para a cura dos povos.
(Ap 22.2)
Há crentes que estão esperando chegar ao céu
para desfrutar de vida e receber cura pelas folhas da
árvore da vida. No céu, não há doentes, a cura é para
hoje. No céu teremos um corpo glorificado, mas hoje
precisamos de saúde. Se hoje há um rio de vida fluindo
de nós, há também o fruto da árvore da vida dispo-
nível para nós. Deus quer que comamos do fruto da
vida, que é Cristo.
Muitos ainda hoje na igreja vivem pela árvore
do conhecimento do bem e do mal, mas nós pode-
mos viver pela árvore da vida. Lembre-se, porém,
de que a árvore da vida cresce onde existe o rio da
vida fluindo. O resultado de seguir o rio é que temos
alimento, frutificação e saúde, porque as folhas da
árvore são para cura.

O fluir do rio

13
Gerando vida
Junto ao fluir do rio, há a menção de grande
quantidade de peixes. Os peixes sempre nos falam das
vidas que ainda não conhecem o Senhor. Quando o
rio de Deus que flui de você tocar os seus colegas in-
crédulos ou a sua família que ainda não se converteu,
eles receberão vida. Eles são como o Mar Morto, que
se torna vivo quando o rio chega até ele.
O “Mar Morto” ficará repleto de peixes de todos
os tipos. Nas Escrituras, o peixe aponta para as almas. O
Senhor disse que nos faria pescadores de homens. Na ver-
dade, onde o rio está fluindo, ali sempre haverá pescadores.
É interessante que uma parte do Mar Morto não
será feita saudável, mas será deixada para o sal. Se você
for a Israel hoje, verá que o Mar Morto já está dividido
em duas porções, mas a parte maior receberá a vida
do rio. Isso mostra profeticamente que aqueles que
serão salvos nos últimos dias serão um número maior
do que os que foram salvos até hoje.

Produzindo frutos
No Salmo 1, lemos que somos como árvore
plantada, não uma árvore que nasceu por si só, mas
uma árvore cultivada junto a correntes de água. Essas
correntes de água certamente apontam para o rio do
Espírito. Por causa disso, sua folhagem nunca murcha
e tudo o que faz é bem-sucedido.

O Evangelho da graça para viver no descanso

14
Bendito o homem que confia no SENHOR e
cuja esperança é o SENHOR. Porque ele é como
a árvore plantada junto às águas, que estende as
suas raízes para o ribeiro e não receia quando
vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano
de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar
fruto. (Jr 17.7-8)
Se você seguir o rio, suas folhas serão sempre
verdes e você nunca deixará de dar frutos. Não fique
inquieto por causa daqueles que vivem em sequidão
e morrem cedo. Não sabemos nada da vida deles.
Devemos deixar todo julgamento ao Senhor. Quanto
a nós, porém, nos firmaremos na promessa de sua
palavra, que não pode falhar.
Não há substitutos para o fluir do Espírito e para
o alimento da Palavra de Deus. Precisamos desenvol-
ver um coração sensível e buscar constantemente ser
cheios do Senhor.

O fluir do rio

15
O Evangelho da graça para viver no descanso

16
A espada do espírito

H
á situações em nossa vida em que não sa-
bemos como orar. Podemos saber todos
os princípios de fé, entender como fazer
batalha espiritual e mesmo assim não saber lidar
com certas situações. Eu creio que, por causa disso, o
Senhor nos deu algo bem distinto na Nova Aliança,
a oração em línguas.
Em Marcos 16.17, o Senhor disse que, em seu
nome, falaríamos novas línguas. É preciso destacar
que a palavra “nova” é kainos no grego e significa
“algo novo, sem precedente, de um novo tipo”. O
falar em línguas é, pois, o falar movido pelo Espírito
A espada do espírito

17
Santo algo completamente novo, sem precedentes.
São novas línguas.
Nessas situações em que não sabemos como orar,
precisamos orar em línguas. É isso que Paulo diz em
Romanos 8.
Também o Espírito, semelhantemente, nos assis-
te em nossa fraqueza; porque não sabemos orar
como convém, mas o mesmo Espírito intercede
por nós sobremaneira, com gemidos inexprimí-
veis. (Rm 8.26)
A palavra “fraqueza” aqui pode ser traduzida tam-
bém como “enfermidade”. Muitas vezes, não sabemos
todas as coisas envolvidas num momento de doença,
por isso não sabemos como orar. Mas quando isso
acontece, podemos orar pelo Espírito, pois Ele ora
em nós com gemidos inexprimíveis. Esses gemidos
inexprimíveis são as línguas.
Deixar de orar em línguas pode significar uma
perda espiritual para nós, pois o Espírito não terá meios
de orar por meio de nós. Quando a Bíblia diz que Ele
nos assiste, significa que Ele se junta a nós na oração.
Nós oramos em línguas e Ele ora através de nós.

As línguas do pentecostes
O Espírito Santo foi dado no dia da festa de
Pentecostes. Isso não aconteceu por acaso, mas foi
o cumprimento do tipo do Velho Testamento. Em

O Evangelho da graça para viver no descanso

18
Levítico 23, temos a descrição da festa, e no verso
18, lemos que dez holocaustos deveriam ser ofereci-
dos. Por que dez? Porque representa a lei. Isso signi-
fica que, na Nova Aliança, a lei foi substituída pelo
Espírito Santo.
Com o pão oferecereis sete cordeiros sem defeito
de um ano, e um novilho, e dois carneiros; holo-
causto serão ao SENHOR, com a sua oferta de
manjares e as suas libações, por oferta queimada
de aroma agradável ao SENHOR. (Lv 23.18)
Em Gálatas 5, Paulo diz que aqueles que são
guiados pelo Espírito não estão mais debaixo da lei. O
Espírito Santo é a nova lei impressa em nosso coração.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob
a lei. (Gl 5.18)
No Velho Testamento, quem queria prosperar
não podia parar de falar do livro da lei. Mas hoje os
que prosperam não podem parar de falar pelo Espírito,
ou seja, em línguas.
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, me-
dita nele dia e noite, para que tenhas cuidado
de fazer segundo tudo quanto nele está escrito;
então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-
-sucedido. (Js 1.8)
A vontade de Deus, no Velho Testamento, era
que o povo não cessasse de falar do livro da lei. Hoje,
a lei foi substituída pelo Espírito Santo, mas o Senhor

A espada do espírito

19
ainda deseja que o seu povo não pare de falar do
Espírito e pelo Espírito.
Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sem-
pre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios
que confessam o seu nome. (Hb 13.15)

Orai sem cessar. (1Ts 5.17)


Eu creio que a única maneira como podemos
orar continuamente é oferecendo sacrifícios de louvor
e orando em línguas, pois são formas de oração que
podemos exercitar sem usar a mente.
O dia de Pentecostes era um dia santo e nenhuma
obra servil poderia ser feita nele. Era um sábado para
descanso (Lv 23.24-25). Quando oramos em línguas,
nós experimentamos o verdadeiro pentecoste e temos
descanso diante de Deus.
A primeira coisa que Deus fez com a igreja depois
que Cristo foi glorificado foi enchê-la com o Espírito.
E Ele fez isso enviando línguas de fogo sobre ela. O
primeiro ato certamente mostra aquilo que é mais
importante e prioritário. Deus deseja encher a sua
igreja com o Espírito Santo com a evidência do falar
em línguas. A chave para andar na Nova Aliança é o
enchimento com o Espírito.
Para o povo de Israel, a festa do Pentecostes era
a celebração por Deus lhes ter concedido a lei. Êxodo
32 narra o primeiro pentecoste. Moisés tinha descido

O Evangelho da graça para viver no descanso

20
do monte Sinai com as duas tábuas da lei com os Dez
Mandamentos. As pessoas, porém, estavam lá embaixo
adorando um bezerro de ouro. Moisés, então, vendo
que o povo estava desenfreado em todo tipo de orgia
e idolatria, posicionou-se.
Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois
Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos
seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial
e disse: Quem é do SENHOR venha até mim.
Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi,
aos quais disse: Assim diz o SENHOR, o Deus
de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado,
passai e tornai a passar pelo arraial de porta em
porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a
seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram
os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e
caíram do povo, naquele dia, uns três mil ho-
mens. (Êx 32.25-28)
No primeiro pentecoste, três mil morreram pela
espada de Levi, os sacerdotes. No Novo Testamento,
três mil foram salvos. Como eles foram salvos? Pela
nova espada que, em vez de matar, traz salvação. Os
novos sacerdotes receberam espadas que são línguas
de fogo.
Quando você ora em línguas pelas pessoas, você
quebra jugos e os coloca em liberdade. A espada do
Espírito em nossa boca é a palavra rhema que destrói
o inimigo.

A espada do espírito

21
Orar em línguas é entrar no
descanso
Muitos podem pensar que seja algo muito peno-
so orar em todo o tempo. Mas a promessa de Deus é
que, se oramos em línguas, desfrutamos de descanso.
Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estranha
falará o SENHOR a este povo, ao qual ele disse:
Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é
o refrigério; mas não quiseram ouvir. (Is 28.11-12)
A promessa é de descanso e refrigério. No Salmo
23, o Senhor nos conduz a águas de descanso que
refrigeram a nossa alma. Em Hebreus 4, somos exor-
tados a entrar no descanso. Na verdade, devemos nos
esforçar para entrar nele.
Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso,
a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo
exemplo de desobediência. (Hb 4.11)
Assim, o orar em línguas é uma forma de entrar-
mos no descanso e termos refrigério para a nossa alma. A
maneira de esforçarmos, eu creio, é orando em línguas.

Orar em línguas é a espada do


espírito
O falar em línguas é a espada do Espírito. Em
Efésios 6, temos a lista das partes de nossa armadura
espiritual.

O Evangelho da graça para viver no descanso

22
Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e
vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés
com a preparação do evangelho da paz; embra-
çando sempre o escudo da fé, com o qual podereis
apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
Tomai também o capacete da salvação e a espa-
da do Espírito, que é a palavra de Deus; com
toda oração e súplica, orando em todo tempo no
Espírito e para isto vigiando com toda perseve-
rança e súplica por todos os santos. (Ef 6.14-18)
A salvação é o nosso capacete. Fico pensando
que aqueles que não têm certeza da sua salvação tam-
bém não possuem um capacete espiritual. Eles estão
sujeitos a todo tipo de ataque, o que produz medo e
tormento espiritual.
O escudo é a fé. Com o escudo da fé, nós apa-
gamos os dardos inflamados do diabo.
A couraça da justiça nos protege das acusações
do diabo. Podemos manter o nosso coração em paz
porque sabemos que a nossa justiça é Cristo. Aqueles
que ainda acreditam que a sua justiça é a sua própria
obediência não possuem essa couraça.
O cinto é a verdade. O cinto é aquela peça que
nos dá firmeza para o combate. Quando não estamos
firmados na verdade do evangelho, não temos firmeza
e convicção na guerra.
Os nossos sapatos são o evangelho. Quando
caminhamos na verdade do evangelho, nossos passos
são firmes e nosso caminhar é correto.

A espada do espírito

23
Por fim, temos a espada do Espírito. A espada
é o Espírito. Comumente, as pessoas pensam que a
espada é a palavra de Deus, mas, na verdade, a espada
é o Espírito Santo. Podemos dizer que a espada é o
Espírito, que é a Palavra Rhema de Deus.
O Senhor Jesus disse: “As palavras que eu vos
tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6.63). Isso signi-
fica que a Palavra de Deus flui pelo Espírito. A palavra
rhema é, na verdade, o Espírito de Deus. Quando o
Espírito Santo ilumina um verso da Escritura, ele se
torna rhema em nosso espírito. A Bíblia em si mesma
não é rhema, mas quando o Espírito Santo vem sobre
ela, se torna rhema para nós.
Mas a espada do Espírito deve ser tomada orando
no Espírito. O que é orar no Espírito? Paulo diz, em
1 Coríntios, que a oração em línguas é uma oração
no Espírito.
Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito
ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.
(1Co 14.14)
Nós oramos no Espírito quando oramos em lín-
guas. A oração em línguas, portanto, é a espada do
Espírito sendo tomada de forma prática.
A razão para a existência de toda a armadura é
o uso da espada. Ninguém se veste de uma armadura
sem saber para onde ir. A armadura é para a guerra.
Todas as partes da armadura são defensivas, a única

O Evangelho da graça para viver no descanso

24
ofensiva é a espada do Espírito. E a maneira como
tomamos a espada é orando no Espírito, ou seja,
orando em línguas.
É por isso que somos tão resistidos quando ora-
mos em línguas. O inimigo lança pensamentos do
tipo: “Você está perdendo o seu tempo”, “Nada disso
está acontecendo. Pare com isso”. Ele querer pará-lo.
Por isso, persevere em orar. Mesmo que você não sinta
ou veja coisa alguma, o inimigo está sendo atingido.

A espada do espírito

25
O Evangelho da graça para viver no descanso

26
A oração em línguas

N
o Novo Testamento, o apóstolo Paulo nos
diz que o crente que fala em línguas edifica
a si mesmo. A palavra “edificar” aqui é oiko-
domeo, que “significa construir, restaurar e reparar”.
Uma das melhores maneiras de entrar no descan-
so e permanecer ali é orar em línguas durante todo
o dia. Você pode orar em línguas em seu caminho
para o trabalho ou ao ter uma pausa para o café. Se
você é uma dona de casa, você pode orar em línguas
enquanto cozinha ou lava a roupa. Quando você se
enche do Espírito Santo, experimenta a sua provisão
sobrenatural em tudo que você faz.
A oração em línguas

27
O que fala em outra língua a si mesmo se edifica
[...] (1Co 14.4)
Muitos pentecostais acreditam que, quando
alguém fala em línguas, edifica ou constrói o seu
homem espiritual. Isso é verdade, mas a Bíblia não
diz que quem ora em línguas somente edifica o seu
espírito. Ela diz que quem ora em línguas “edifica a
si mesmo” (1Co 14.4). Isso significa que todo o seu
espírito, alma e corpo estão envolvidos no processo,
pois é preciso falar, e isso envolve sua boca, que é
parte de seu corpo físico; envolve sua fala, que é parte
de sua alma; ela, porém, não entende, e envolve seu
espírito. Então, aquele que fala em línguas edifica o
seu espírito, alma e corpo.
Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito
ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.
(1Co 14.14)
Quando ora em línguas, você pode estar orando
a respeito do seu futuro ou mesmo por um ente que-
rido que está distante. Você não vai saber sobre o que
está orando a menos que Deus lhe revele. Isso é assim
porque a sua mente não está envolvida.
Mas eu não preciso saber sobre o que estou oran-
do? Às vezes, é melhor não saber. Quando eu oro em
línguas, simplesmente confio na bondade de Deus e
creio que estou orando por tudo o que Ele tem plane-
jado para mim para acontecer em seu tempo perfeito.

O Evangelho da graça para viver no descanso

28
Ore especialmente quando você sente vontade
de orar, porque você sentiu um peso no coração. Ore
até sentir uma liberação, como se a carga fosse remo-
vida. O Espírito Santo vai saber exatamente o que
está acontecendo, quem está em luta e como orar por
livramento (Rm 8.27).
Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até aos confins da terra. (At 1.8)
Antes de Jesus voltar para o céu, Ele disse aos
seus discípulos que “esperassem a promessa do Pai”
(At 1.4). A igreja primitiva sabia a qual promessa Jesus
estava se referindo, porque Ele determinou aos seus
discípulos “que não se ausentassem de Jerusalém, mas
que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse Ele, de
mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com
água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo,
não muito depois destes dias” (At 1.4-5). Jesus estava
se referindo ao batismo no Espírito Santo com o falar
em línguas (At 2.1-4).
O Senhor quer que você entenda o valor da pro-
messa do Pai, pois Ele disse: “Mas recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas [...]” (At 1.8). Em outras palavras, nós
mesmos testemunhares d’Ele.
Isso ocorre porque o poder que recebemos quan-
do somos batizados no Espírito Santo é o mesmo

A oração em línguas

29
poder que tornou Pedro tão ungido que até mesmo
os doentes foram colocados nas ruas para que a sua
sombra passasse sobre eles e pudesse curá-los (At
5.15). A Escritura diz que até os lenços e aventais
de Paulo estavam tão saturados com a unção do
Espírito que, quando eles tocavam, as enfermidades
fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se
retiravam (At 19.12).
Quando somos batizados no Espírito Santo,
seremos testemunhas de que não há problema que o
Senhor Jesus não possa resolver. Nenhuma doença é
um desafio grande para o poder do Espírito em você,
porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus
são filhos de Deus (Rm 8.14).

Orar em línguas nos coloca em


sintonia com o espírito
Um dos grandes benefícios da oração em lín-
guas é que nos tornaremos sensíveis à direção do
Espírito Santo.
O descanso não é inatividade ou preguiça, mas
a atividade dirigida pelo Espírito Santo. Quanto
mais você ora em línguas, mais sente a liderança do
Espírito. Ele vai levá-lo para fora do seu vale de de-
pressão, da dívida ou doença e vai trazê-lo para um
lugar alto de saúde e prosperidade!

O Evangelho da graça para viver no descanso

30
Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo,
porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as
vossas petições, pela oração e pela súplica, com
ações de graças. (Fp 4.6)
Deus não quer que você seja medroso, inquie-
to ou ansioso. Em vez disso, sua vontade é que não
estejamos ansiosos por nada; em tudo, porém, sejam
conhecidas, diante de Deus, as nossas petições, pela
oração e pela súplica, com ações de graças.
Assim, quando você tiver um cuidado ou preo-
cupação, transforme imediatamente essa preocupação
em oração. Isso é súplica. Mas quando você estiver
perturbado por uma preocupação e não souber como
orar, ore no Espírito, que é a oração em línguas. E no
meio dessa oração, dê graças a Deus, porque Ele já
enviou sua vitória. Isso é ação de graças.
E se eu estou preocupado com alguma coisa,
por quanto tempo devo orar? Simplesmente continue
orando. Ore no Espírito até que o peso da preocupa-
ção seja dissipado, e a paz de Deus, que excede todo
o entendimento, guardará o seu coração em Cristo
Jesus (Fp 4.7).
Eu creio que todos nós seríamos menos ansiosos
e desfrutaríamos mais de nossa vida se percebêssemos
esta verdade: nosso Abba Pai é tão forte que não há
nada que Ele não possa fazer, e Ele é tão amoroso que
não há nada que Ele não queira fazer por nós!

A oração em línguas

31
Orar em línguas traz descanso
O profeta Isaías descreve o falar em línguas como
“descanso” e “refrigério”.
Pelo que por lábios gaguejantes e por língua estra-
nha falará o SENHOR a este povo, ao qual ele
disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado;
e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. (Is
28.11-12)
Para combater o estresse, muitas pessoas recorrem
a tabaco, álcool ou tranquilizantes. Essas coisas, além
de ter efeitos colaterais prejudiciais, são caras e muitas
vezes levam a vícios e escravidão.
Deus tem algo melhor para nós. É poderoso, não
custa nada e não tem efeitos secundários nocivos. Ele
chama isso de “descanso” e “refrigério”. A que Ele está
se referindo? Ao falar em línguas – “por lábios estra-
nhos e por outra língua”.
O próprio apóstolo Paulo faz uma referência a
Isaías em 1 Coríntios 14.21. O dom de línguas foi
profetizado desde o Velho Testamento.

Orar em línguas é orar em


linha com a vontade de deus
E aquele que sonda os corações sabe qual é a
mente do Espírito, porque segundo a vontade de
Deus é que ele intercede pelos santos. (Rm 8.27)

O Evangelho da graça para viver no descanso

32
Você não gostaria de fazer orações eficazes,
que estão sempre em linha com a vontade de Deus?
Quando você ora no Espírito, é exatamente isso o
que acontece.
Quando oramos em nossa língua conhecida,
oramos de acordo com a nossa compreensão limitada
das coisas, por isso estamos sujeitos ao erro e podemos
orar errado. Algumas vezes, temos pensamentos do
tipo: “Não é egoísta da minha parte orar assim?” Ou
“Eu estou orando de acordo com a vontade de Deus?”
É por isso que Deus nos dá o dom da oração em
línguas. Quando oramos em línguas ou no Espírito
Santo, nunca oramos fora da vontade de Deus, porque
o Espírito Santo “intercede por nós de acordo com
a vontade de Deus. Em outras palavras, nós oramos
orações perfeitas de acordo com a vontade de Deus
quando oramos em línguas.
E esta é a confiança que temos para com ele: que,
se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade,
ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto
ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos
os pedidos que lhe temos feito. (1Jo 5.14-15)
Não é maravilhoso que Deus colocou em você o
Espírito Santo, que ora perfeitamente? Ele conhece o co-
ração de Deus e sabe precisamente do que você necessita.
O Espírito Santo é como o seu advogado ou
consultor jurídico. Ele sabe o que lhe pertence legal-
mente. Ele sabe quais são os seus direitos comprados

A oração em línguas

33
pelo sangue de Jesus. Ele conhece todas as cláusulas da
Nova Aliança, por isso pode colocar o seu caso diante
de Deus de forma perfeita.
Quando você ora em línguas, permite ao Espírito
Santo fazer orações perfeitas através de você. Ele faz
a sua petição diante de Deus. Ele sabe onde você tem
errado e qual é a raiz do problema. Ele também tem a
solução e pode ganhar o seu caso com sabedoria. Com
o Espírito Santo do seu lado como seu advogado, você
não nunca pode ser derrotado.
Romanos 8 diz que o Espírito Santo nos ajuda
em nossa fraqueza. Por exemplo, nós não sabemos
o que Deus quer que oremos, mas o Espírito Santo
intercede por nós com gemidos que não podem ser
expressos em palavras. E o Pai sabe o que o Espírito
está dizendo, porque o Espírito intercede por nós em
harmonia com a sua perfeita vontade.
Como resultado disso, Deus faz com que tudo
coopere para o bem daqueles que o amam e são cha-
mados segundo o seu propósito (Rm 8.26-28). Deixe
que o Espírito Santo interceda por meio de você oran-
do em línguas.
Às vezes, depois de orar muito e não vermos a
nossa cura, simplesmente paramos de orar, porque
não sabemos mais o que dizer. Temos orado por
todos os aspectos e confessamos todas as Escrituras
que conhecemos, e mesmo assim parece não haver
qualquer avanço.

O Evangelho da graça para viver no descanso

34
Para esse momento, Deus nos deu uma arma que
vai quebrar todas as barreiras, é orar em línguas. Quando
você não souber como orar, ore no Espírito Santo e per-
mita que Ele interceda por você e através de você. Ele
sabe exatamente qual é o problema e qual a melhor so-
lução para a sua vida. Ele não só vai interceder por você
em harmonia com a vontade de Deus, mas também fará
com que a sua alma descanse (Is 28.11-12).

Orar em línguas é um tipo de


intercessão
Também o Espírito, semelhantemente, nos assis-
te em nossa fraqueza; porque não sabemos orar
como convém, mas o mesmo Espírito intercede
por nós sobremaneira, com gemidos inexprimí-
veis. (Rm 8.26)
Apenas um gemido e você será ouvido! Basta que
um suspiro chegue ao trono de nosso Pai e ele será
atendido. Agora imagine quando esse gemido procede
do próprio Espírito de Deus!
Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito que-
brantado; coração compungido e contrito, não o
desprezarás, ó Deus. (Sl 51.17)
Quando nós, os filhos de Deus, oramos em lín-
guas, o Espírito Santo intercede por nós com gemidos
que alcançam o trono de Deus Pai. Quando oramos
assim, Ele se moverá poderosamente em nosso favor!

A oração em línguas

35
Orar em línguas libera poder
Ora, àquele que é poderoso para fazer infini-
tamente mais do que tudo quanto pedimos ou
pensamos, conforme o seu poder que opera em
nós. (Ef 3.20)
Quanto poder está operando em você agora? A
Palavra de Deus diz que o poder opera em nós. É um
poder tremendo que abala os céus e a terra, porque
vem do trono de Deus. Ele é capaz de fazer tudo muito
além daquilo que pedimos ou pensamos. O problema,
porém, é que muitos de nós não liberamos esse poder.
Deus quer que liberemos esse poder, porque há
coisas que não vão acontecer na terra até que possa-
mos agir junto com Ele. Jesus disse que “tudo o que
ligarmos na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o
que desligarmos na terra terá sido desligado nos céus”
(Mt 16.19). O que o Senhor está dizendo é que aquilo
que você permitir que aconteça o céu vai permitir. O
que você não permitir o céu também não permitirá.
Mas como podemos fazer uma oração tão poderosa?
Somente quando conhecemos perfeitamente a von-
tade de Deus. Nós não conhecemos a vontade de
Deus perfeitamente, mas o Espírito em nós conhece,
e quando oramos em línguas, estamos de fato ligando
na terra a perfeita vontade de Deus.

O Evangelho da graça para viver no descanso

36
O segredo da vida
abundante

A vontade de Deus é que você não apenas saiba


que ele te ama, mas que também creia e descanse nes-
se amor. Ele deseja que você o veja como o seu bom
pastor. De todas as alegrias que o Senhor nos dá para
descrevê-lo nas escrituras a imagem do pastor certa-
mente é a mais frequente.
O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.Ele
me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me
para junto das águas de descanso; refrigera-me
a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por
amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale

O segredo da vida abundante

37
da sombra da morte, não temerei mal nenhum,
porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu ca-
jado me consolam. Preparas-me uma mesa na
presença dos meus adversários, unges-me a cabeça
com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e mi-
sericórdia certamente me seguirão todos os dias da
minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR
para todo o sempre. Sl. 23
A expressão “nada me faltará” cobre todas as coi-
sas. Isso significa que eu posso colocar aqui qualquer
uma necessidade que me sobrevier. Ele é o meu pastor
e me proverá.

Os pastos verdejantes
A primeira coisa que ele faz para que você possa
desfrutar da sua provisão é fazê-lo deitar-se em pastos
verdejantes. A vontade de Deus é que você viva no des-
canso. Todas as bênçãos de Deus começam no descanso.
O livro de Efésios pode ser dividido em três par-
tes. Na primeira parte a palavra chave é “senta”. Na
segunda parte o ponto central é “anda” e na terceira
parte o pensamento central é “permanece”. O quanto
poderemos andar depende se primeiro aprendemos
a sentar. O sentar é o sinal do descanso. Só pode
caminhar na vida cristã quem o faz no descanso.
Nós descansamos na obra consumada de Cristo. É
porque ele consumou a obra da redenção é que eu
posso agora descansar.

O Evangelho da graça para viver no descanso

38
As águas tranquilas
O Senhor nos guia para águas tranquilas. Essas
águas de descanso não são águas paradas, pois nesse
caso estaria cheia de mosquitos e parasitas. São águas
que correm mansamente.
A maneira primária como o Senhor nos conduz
é pelo descanso e a paz. Não precisamos ser inteli-
gentes e espertos para conseguir perceber a direção
do Espírito, tudo o que temos de fazer é perceber a
presença ou ausência de paz.
As águas apontam para o Espírito Santo fluindo
em nós. Se as águas são turbulentas, então não faça
nada. Não importa se é uma decisão a respeito de algo
pequeno ou se diz respeito à sua carreira, ele sempre
nos guia por meio de águas tranquilas.

A restauração da alma
A restauração da alma traz uma ideia de cura.
A palavra alma também poderia ser traduzida como
vida. Isso significa que os pastos verdes, o descanso e
as águas que fluem mansamente têm o poder de res-
taurar a nossa vida.

As veredas da justiça
Ele nos guia pelas veredas da justiça. Lembre-se
sempre que a justiça não é algo que você faz, mas um
dom que você recebe.

O segredo da vida abundante

39
Em Israel podemos ver nos montes a forma como
os pastores conduzem os seus rebanhos. Eles vão con-
tornando o monte enquanto sobem. Eles avançam em
espiral. Isso significa que eles dão a volta e passam pelo
mesmo lugar, mas cada vez num nível diferente, mais
alto. Em Israel eles chama isso de veredas da justiça.

O vale da sombra da morte


O Senhor nos guia para as águas de descanso e
também nos guia pelas veredas da justiça. Mas agora
vemos que a ovelha pode andar pelo vale da sombra
da morte. O Senhor certamente não a conduziu para
esse lugar, a ovelha chegou ali por si mesma.
A expressão “ainda que” significa que não temos
necessariamente de passar por esse vale. Não é algo que
está determinado sobre nós. Quando o Senhor nos guia
ele nos leva para pastos verdejantes e águas tranquilas,
mas quando caminhamos pelo nosso entendimento
sempre chegamos num lugar de sombra e morte.
Mas ainda que isso aconteça não precisamos ficar
desesperados. O Senhor é aquele que deixa as noventa
e nove e vai em busca da que se perdeu. Ainda que
a situação seja o resultado de sua própria escolha o
Senhor não vai abandoná-lo dizendo: “você criou o
problema, agora você o resolve!” Mesmo nesse vale o
Senhor estará com você.
Criminosos e ladrões se escondem nas sombras.
Não é uma questão de ter medo do escuro como

O Evangelho da graça para viver no descanso

40
crianças, mas quando se vive em cidades do Brasil
você sabe o que se esconde nas sombras.
Você percebe uma mudança na narrativa nesse
verso? Até aqui ele diz: O senhor é meu pastor; ele me
faz repousar; ele me guia, ele fala do Senhor, mas agora
ele fala com o Senhor e diz: “não temerei mau nenhum
porque tu estás comigo”. No meio do vale é o momento
de falar com o Senhor e não sobre o Senhor. Antes ele
falava do Senhor na terceira pessoa, mas agora ele se
dirige ao Senhor diretamente com intimidade.
A vara e o cajado nos consolam porque apontam
para o Espírito Santo consolador. A vara é para ser
usada contra os lobos que se levantarem contra mim.
O cajado possui uma curva na extremidade para o
pastor puxar a ovelha para si.

Uma mesa preparada


O pastor leva as ovelhas para um lugar elevado e ali
ele lhes dá uma comida especial, normalmente algum
tipo de fruta silvestre. As ovelhas comem dos pastos
verdejantes, mas também recebem alimentos especiais.
Uma mesa é coloca diante dos inimigos. Todos
nós queremos desfrutar do pão do céu distantes de
qualquer inimigo, queremos comer do Senhor sem
nenhum sintoma em nosso corpo. Mas Deus quer que
comamos enquanto os sintomas ainda estão presentes,
comemos mesmo ser mudanças nas circunstâncias.
Nós comemos enquanto o adversário nos encara.

O segredo da vida abundante

41
Nos dias de Davi quando um rei era vencido ele
era amarrado diante do vencedor que fazia uma refei-
ção diante dele. Essa era a prova de que eram todos
inimigos derrotados.
Não precisamos temer o inimigo rugindo ao
nosso derredor. I Pedro 5:8 diz que o diabo anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém
para devorar. Não sou entendido de leões, mas eu
assisto Discovery channel e já vi leões caçando. Eles
jamais chegam diante das gazelas rugindo, antes eles
se aproximam com todo silêncio.
Se o diabo está rugindo é porque ele sabe que
não pode devorar o rebanho e está tentando matar
a ovelha com o próprio medo dela. Mas eu penso
que há ainda um a outra razão pela qual o inimigo
ruge. Creio que é para que você pense que o Leão da
tribo de Judá é que está rugindo e assim você fique
assustado presumindo que ele está irado com você.
Quando o adversário rugir apenas se alimente do
pão da vida na presença dele.

O óleo sobre a cabeça


Mas o Senhor não apenas nos alimenta, mas ele
unge a nossa cabeça. Por que o pastor ungia a cabeça da
ovelha? No campo há muita mosca e elas atacam a ca-
beça da ovelha fazendo-a ficar irritada e impedindo-a
de comer e também podiam transmitir doenças. Mas
quando o óleo era aplicado as moscas se afastavam.

O Evangelho da graça para viver no descanso

42
As moscas são um símbolo dos demônios. Um
dos nomes do diabo é belzebu que significa “senhor
das moscas”. A unção espanta as moscas.
O cálice transborda porque Deus ama exceder
a nossa expectativa. Efésios 3:20 diz que Deus é po-
deroso para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder
que opera em nós. Pense grande e peça grande. Você
tem um Deus grande que ama exceder suas mais
altas expectativas.

A bondade e a misericórdia
Bondade e misericórdia me seguirão todos os dias
da minha vida. A palavra seguir aqui significa perse-
guir, correr atrás até alcançar. A bondade e a graça de
Deus estão correndo atrás de mim e me alcançando
a cada dia.
A bondade e graça de Deus correm atrás de nós e
habitamos na casa do Senhor. Mas o Salmo 27 nos reve-
la o que acontece quando habitamos na casa do Senhor.
O SENHOR é a minha luz e a minha salvação;
de quem terei medo? O SENHOR é a fortale-
za da minha vida; a quem temerei? Quando
malfeitores me sobrevêm para me destruir, meus
opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem.
Ainda que um exército se acampe contra mim,
não se atemorizará o meu coração; e, se estourar
contra mim a guerra, ainda assim terei confiança.

O segredo da vida abundante

43
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que
eu possa morar na Casa do SENHOR todos os
dias da minha vida, para contemplar a beleza
do SENHOR e meditar no seu templo. Pois,
no dia da adversidade, ele me ocultará no seu
pavilhão; no recôndito do seu tabernáculo, me
acolherá; elevar-me-á sobre uma rocha. Agora,
será exaltada a minha cabeça acima dos inimigos
que me cercam. No seu tabernáculo, oferecerei
sacrifício de júbilo; cantarei e salmodiarei ao
SENHOR. Sl. 27:1-6
O segredo é contemplar a beleza do Senhor na
sua casa. Quando contemplamos somos transforma-
dos. Assim no dia da adversidade ele me acolherá, por
isso ainda que a guerra estoure contra mim mesmo
assim terei confiança. A bondade do Senhor está so-
bre mim.

O Evangelho da graça para viver no descanso

44


3
Sumário
1. Veja o Senhor na Páscoa 7
2. O confronto de duas alianças 17
3. Cláusulas da nova aliança 33
4. O servo de sangue 49
O Evangelho da graça e a Nova Aliança

6
Veja o Senhor na
Páscoa

A
Páscoa é um tipo de Cristo. O Novo
Testamento declara expressamente que o
Senhor Jesus é o nosso Cordeiro Pascal.
Lançai fora o velho fermento, para que sejais
nova massa, como sois, de fato, sem fermento.
Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi
imolado. I Cor. 5:7
Cada pormenor do capítulo doze de Êxodo é
um retrato da redenção que temos em Cristo Jesus
(Jo 1:29, I Pe 1:18-19).
Veja o Senhor na Páscoa

7
Uma nova vida
Em Êxodo 13:4 lemos: “Hoje, mês de Abibe, es-
tais saindo”. A palavra “Abibe” significa desabrochan-
te, florescente, tenro e verde. Desabrochar e florescer
significam o início da vida. No dia em que cremos no
Senhor e fomos salvos, a vida começou a desabrochar
dentro de nós. De fato, esse mês agora se tornaria o
primeiro mês, pois representa o começo de nossa vida.
Disse o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do
Egito: Este mês vos será o principal dos meses; será
o primeiro mês do ano. Falai a toda a congregação
de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um
tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos
pais, um cordeiro para cada família. Ex. 12:1-3

Um cordeiro para cada família


No dia dez do mês eles deveriam tomar um cor-
deiro. Era um cordeiro para cada família. Quando
Deus enviou seu Filho ele tinha a intenção de salvar
a família inteira. Sabemos que a salvação é individual,
mas a promessa é salvar toda a família.
Mas, se a família for pequena para um cordeiro,
então, convidará ele o seu vizinho mais próximo,
conforme o número das almas; conforme o que
cada um puder comer, por aí calculareis quantos
bastem para o cordeiro. Ex. 12:4

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

8
Observe que nunca se diz que o cordeiro é muito
pequeno, mas a questão é a família ser muito pequena.
O Senhor é maior do que todas as suas necessidades,
do que todos os problemas de sua família.
O vizinho será abençoado porque o cordeiro é grande
demais para a sua casa. Essa é a verdadeira motivação
para o evangelismo, temos muito e precisamos repartir.
O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; po-
dereis tomar um cordeiro ou um cabrito. Ex. 12:5
Por que o cordeiro deveria ser sem defeito?
Simplesmente porque ele iria representar o Senhor
Jesus, o verdadeiro cordeiro de Deus que não pos-
sui defeitos.
No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para
ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo! Jo. 1:29

Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis,


como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso
fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo. I Pe.
1:18-19
A Palavra de Deus nos mostra claramente que
o cordeiro era um símbolo do Senhor Jesus. Ele é o
cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Se você
creu no Cordeiro isso significa que os seus pecados
foram tirados, removidos.

Veja o Senhor na Páscoa

9
O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; po-
dereis tomar um cordeiro ou um cabrito. Ex. 12:6
O cordeiro era tomado no décimo dia, mas só era
sacrificado no décimo quarto. Um cordeiro de um ano
é um animal muito bonito e amável e, certamente as
crianças ficavam muito ligadas a ele emocionalmen-
te. Entretanto depois de cinco dias o pai sacrificava
o animal e isso com certeza fazia com que as crianças
chorassem por causa do cordeiro.
Creio que isso era exatamente o que Deus queria.
Seu alvo era que soubéssemos o quanto seu Filho Jesus
era maravilhoso e como ele deixou a sua glória e veio
habitar conosco cheio de graça e glória.
Nos cinco dias antes de sua crucificação o Senhor
esteve no Templo sendo examinado pelos fariseus. Eles
nem imaginavam que estavam examinando o cordeiro
de Deus. Se um cordeiro possuísse algum defeito ou
enfermidade depois de cinco dias se saberia.
O cordeiro tinha de ser sem defeito, e, para isso,
ele deveria ser observado durante quatro dias (12:5-6).
Do mesmo modo, Jesus foi observado.
Após ser aprisionado, o Senhor foi submetido
a seis exames:
™™ Três nas mãos dos sacerdotes, que o examinaram
de acordo com a lei de Deus (Mc. 11:27; 12:37;
14:53-65; Jo 18:13, 19-24).
™™ Três sob governantes romanos, que o testaram
de acordo com a lei romana (Jo. 18:28-19:6).

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

10
Pilatos repetiu três vezes que não achava nele falta
alguma (Jo. 18:38, 19:46). Ele passou por todos os
testes e foi achado sem culpa. Por isso, no dia exato
da Páscoa, Ele foi conduzido à morte como cordeiro
pascal. Assim, a morte de Jesus foi o exato cumpri-
mento do tipo.
E o guardareis até ao décimo quarto dia deste
mês, e todo o ajuntamento da congregação de
Israel o imolará no crepúsculo da tarde. Ex. 12:6
O crepúsculo da tarde para judeus era três horas da
tarde. Esse foi o exato momento que o Senhor entre-
gou o seu espírito.

O sangue aplicado
Tomarão do sangue e o porão em ambas as om-
breiras e na verga da porta, nas casas em que o
comerem. Ex. 12:7
O sangue era aplicado na porta pelo lado de fora.
Isso significa que o sangue não é para que nós vejamos,
mas para que Deus e o diabo vejam. Deus, quando vê
o sangue, fica satisfeito na sua justiça, e Satanás deve
se calar de toda acusação.
Não somos nós que avaliamos o valor do sangue
do cordeiro, mas Deus. Nós aplicamos pela fé, mas
é Deus quem avalia o poder do sangue. Lembre-se
que sem derramamento de sangue não há perdão
de pecados.
Veja o Senhor na Páscoa

11
No verso 13 o Senhor diz: “quando eu vir o san-
gue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga des-
truidora, quando eu ferir a terra do Egito.” O Senhor
não diz: “quando eu ver as suas obras de caridade... ou
quando ver que você tem um bom coração...” Aquele
povo tinha uma aliança com Deus e mesmo assim
tiveram de aplicar o sangue nas portas.
Isso não tem nada a ver com você ou com as suas
boas obras, mas tem a ver com o sangue de outro que
morreu no seu lugar. O sangue de Jesus foi aplicado
na sua vida? Pois saiba que o Deus agora vê o sangue
e não as suas falhas e fracassos. E quando Deus vê o
sangue a maldição e a praga não chegam a você.
O verso 22 diz que o sangue era aplicado com
hissopo (12:22). O que isso significa? I Rs.4:33 afirma
que Salomão discorreu sobre todas as plantas, desde o
cedro do Líbano, até o hissopo que brota do muro. O
Cedro representa a maior planta e o hissopo era umas
das menores. O Senhor disse que ainda que a nossa fé
seja pequena como um grão de mostarda ainda assim
será suficiente para mover montes.
O hissopo, assim, tipifica a fé. Deus não exige
que a nossa fé seja como o cedro do Líbano, Ele requer
que tenhamos um pouquinho de fé. Se um pecador
apenas disser de todo coração: “Senhor Jesus, obriga-
do por morreres por mim”, ele será salvo. Essa é a fé
semelhante ao hissopo que brota do muro. É por meio
dessa fé simples que o sangue é aplicado.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

12
O cordeiro deve ser comido
Naquela noite, comerão a carne assada no fogo;
com pães asmos e ervas amargas a comerão. Não
comereis do animal nada cru, nem cozido em
água, porém assado ao fogo: a cabeça, as pernas
e a fressura. Nada deixareis dele até pela manhã;
o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-
-eis. Ex. 12:8-10
O cordeiro não podia ser comido cru nem cozido
em água, mas assado no fogo. O que isso significa?
Quando Cristo foi levantado na cruz ele levou
sobre si como cordeiro de Deus todo o nosso pecado
e toda a nossa transgressão. Deus sendo santo e justo
precisa punir o pecado, mas ele também é amor e por
isso não queria punir o pecador. Para reconciliar a sua
justiça com o seu amor Deus enviou seu filho amado.
Dessa forma o Senhor tomou sobre si todos as nossas
iniquidades e recebeu sobre si todo o fogo da justa ira
de Deus sobre o pecado.
Pare de se condenar pelo que fez no passado,
Cristo já sofreu a condenação no seu lugar. Viver se
punindo e se condenando é rejeitar o sacrifício do
cordeiro de Deus na cruz. O Senhor Jesus consumiu
todo o fogo da ira de Deus. Hoje não há mais fogo de
ira sobre você. Pare de tentar pagar pelo seu pecado
com toda sorte de auto flagelação, Cristo já pagou
todo o seu pecado na cruz. Não se perdoar é apenas

Veja o Senhor na Páscoa

13
um tipo detestável de orgulho que pensa poder pagar
o que só pôde ser pago pelo Filho de Deus na cruz.
Quanto mais você se alimenta do cordeiro
queimado na cruz pelo fogo do juízo, mais nutrido e
forte você se torna. A palavra de Deus diz que no dia
seguinte não havia nenhum enfermo entre os filhos
de Israel. Eles foram curados quando comeram do
cordeiro assado. Mas não apenas isso, também não
havia nenhum pobre. Na cruz ele se fez pobre para que
pela sua pobreza nos tornássemos ricos (II Cor. 8:9).
Mas, a eles, os fez sair com prata e ouro, e entre as
suas tribos não houve um só enfermo. Sl. 105:37
Pense nisso! Havia em torno de 3 milhões saindo
do Egito e entre eles não havia nenhum doente. Eles
tinham sido escravos, viviam em condições ruins fa-
zendo o pior tipo de trabalho. Certamente havia mui-
tos doentes no meio deles, mas naquela noite todos
foram curados. Como escravos eram todos pobres,
mas no dia seguinte saíram com ouro e prata.
O que significa comer o cordeiro cru? Hoje em
dia, aqueles que não crêem na redenção de Cristo
tentam comê-lo cru. Isso quer dizer que tais pessoas
o consideram um bom exemplo de homem, mas não
a redenção de Deus para nós. Isto é tentar comer o
cordeiro cru.
O cordeiro também não podia ser cozido em
água. Comer Cristo assim é considerar a sua morte
não como morte para redenção, mas como simples
martírio pelas mãos dos homens. Muitos não crêem

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

14
que Jesus morreu por nossos pecados, mas dizem ape-
nas que Ele foi morto pelo sistema político da época.
Tais pessoas também negam a sua divindade.
Desta maneira o comereis: lombos cingidos,
sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis
à pressa; é a Páscoa do SENHOR. Ex. 12:11
Quando participamos da mesa do Senhor deve-
mos estar prontos para partir. O povo deveria estar
pronto para a libertação da opressão do Egito e hoje
devemos comer com a expectativa confiante que toda
obra maligna é desfeita em nossa vida.
O cordeiro devia ser comido com pães sem fer-
mento (12:8). Todo fermento deveria ser retirado. O
fermento é sempre um tipo de pecado. O Senhor falou
do fermento dos fariseus (Mt.16:6), e Paulo mandou
lançar fora o velho fermento (I Cor.5:7). Devemos
lançar fora todo fermento, ou seja, todo pecado co-
nhecido e manifesto.
Ao mesmo tempo em que comemos o cordeiro
com pão sem fermento, devemos comê-lo com ervas
amargas (12:8). Isso simboliza o nosso arrependimen-
to e o gosto amargo referente às coisas pecaminosas.
Prontos para partir
Desta maneira o comereis: lombos cingidos, san-
dálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa;
é a Páscoa do SENHOR. Ex. 12:11
Esta era a maneira como o povo de Israel deveria
comer o cordeiro. Enquanto comiam, eles estavam se

Veja o Senhor na Páscoa

15
constituindo em um exército. Poucos percebem logo
ao se converterem, que entraram em uma guerra.
Êxodo 12:11 diz que eles comiam com os lombos
cingidos. Antes éramos frouxos, mas ao nos conver-
termos, nos tornamos firmes e equipados, isto porque
o soldado deve sempre estar pronto para o combate.
Também foi dito ao povo que tivesse sandálias
nos pés. Isto mostra que deviam estar prontos para
uma jornada. Estar cingidos nos lombos é estar revesti-
do da verdade e da justiça, segundo Efésios 6:14. Estar
calçado é estar preparado com o Evangelho da paz.
O povo também deveria estar com o cajado à
mão. Esse cajado está estreitamente ligado com o
Diabo; é para a guerra. Efésios 6:16 diz que devemos
ter na mão o escudo da fé, para poder apagar os dar-
dos inflamados do Diabo, e a espada do Espírito, para
poder atacar e desfazer as obras malignas. O cajado
aponta, então, para o ataque e a defesa espiritual: pelo
escudo e pela espada (Ef.6:17). Nunca podemos nos
esquecer que somos um exército.
E, por fim, deveria comer às pressas. Isto nos fala
que não devemos ser ligados ao mundo, mas estarmos
sempre preparados para partir daqui. Estamos aqui
de passagem.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

16
O confronto de duas
alianças

A
cruz é a justiça de Deus fazendo o pagamen-
to pelo amor de Deus. Todos os atributos de
Deus se harmonizaram na morte do Senhor. O
amor se encontrou com a justiça. A Palavra de Deus
diz que a justiça e o amor se beijaram no Calvário.
O pecado não lhe pode mais ser imputado, porque a
justiça de Deus foi satisfeita.
A lei foi magnificada e cumprida na cruz. Nós
não estamos mais sob a lei não porque podemos
quebrá-la, mas porque ela foi cumprida. E, por-
que ela foi cumprida por Cristo, não estamos mais
O confronto de duas alianças

17
sujeitos a ela. Todo atributo de Deus é glorificado na
cruz. Não é a misericórdia acontecendo sem a justiça,
e nem é justiça sem misericórdia.
Se Deus exerceu misericórdia desrespeitando a
sua justiça, então Ele não é mais confiável, pois se Ele
desconsidera a justiça em um ponto, vai desconside-
rar em outros, e assim nunca teremos segurança. Mas
Deus, por nos amar tanto, pagou o preço da nossa con-
denação. Ele é misericordioso, mas agora nos perdoa
porque é justo. A dívida foi paga. Ele não nos declara
perdoados porque nos ama, mas porque é justo.
A Bíblia diz que Deus tem misericórdia de quem
quiser ter misericórdia. Isso significa que a sua miseri-
córdia pode estar sobre nós hoje, mas acabar em um
certo dia. A misericórdia é boa, mas Deus não é mo-
ralmente obrigado a exercê-la. Na verdade, sabemos
que a misericórdia um dia vai cessar e a ira de Deus
virá sobre este mundo.
Mas hoje Ele nos perdoa porque é justo, e Ele não
pode escolher ser ou não justo. Ele precisa ser sempre
justo, e isso traz segurança para a nossa alma. Ele é fiel
e justo para nos perdoar. O perdão não é mais uma
questão de misericórdia, mas de justiça.
Se o seu pecado já foi punido na cruz, Deus é
justo em declará-lo perdoado e justo. Se a sua enfer-
midade já foi levada na cruz, então Deus é justo em
curá-lo. Esta é a base da Nova Aliança. Deus é justo
e o justificador dos que têm fé em Jesus (Rm 3.26).

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

18
[…] tendo em vista a manifestação da sua
justiça no tempo presente, para ele mesmo ser
justo e o justificador daquele que tem fé em
Jesus. (Rm 3.26)
A lei foi dada por meio de Moisés, mas mil e
quinhentos anos depois a graça e a verdade vieram
por meio de Jesus Cristo. Hoje, a presente verdade é
a Nova Aliança.
Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido
sem defeito, de maneira alguma estaria sendo
buscado lugar para uma segunda. E, de fato,
repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o
Senhor, e firmarei nova aliança com a casa
de Israel e com a casa de Judá, não segundo a
aliança que fiz com seus pais, no dia em que os
tomei pela mão, para os conduzir até fora da
terra do Egito; pois eles não continuaram na
minha aliança, e eu não atentei para eles, diz
o Senhor. Porque esta é a aliança que firmarei
com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz
o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas
leis, também sobre o seu coração as inscreverei;
e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E
não ensinará jamais cada um ao seu próximo,
nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece
ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde
o menor deles até ao maior. Pois, para com as
suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos
seus pecados jamais me lembrarei. (Hb 8.7-12)

O confronto de duas alianças

19
O próprio Deus diz que a Velha Aliança tinha
defeito. Deus achou defeito num sistema perfeito
porque o seu povo é imperfeito. Agora Deus faz uma
nova aliança e Ele mesmo diz que cumprirá todas as
cláusulas dessa aliança, e não há menção de condições
impostas ao seu povo.
Em primeiro lugar, Ele diz que vai escrever suas
leis em nosso coração. Eu gostaria de poder colocar
dentro do meu filho o desejo de comer brócolis, mas
não tenho esse poder. Deus, porém, pode, e é exata-
mente isso o que Ele fez, Ele colocou a sua lei dentro
de nós. Hoje, nós temos em nosso coração o desejo
de fazer a sua vontade.
A segunda cláusula da Nova Aliança é: “[…] eu
serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. Esta é uma
afirmação poderosa, pois se estivermos doentes, Ele
será o nosso Deus e nós teremos cura. Se estivermos
necessitados, Ele será o nosso Deus e nós teremos
plena provisão.
A terceira cláusula é que “todos conhecerão o
Senhor, desde o menor deles até ao maior”, diz o Senhor.
O conhecimento de Deus hoje é intuitivo dentro de nós.
Nós podemos ter comunhão com Ele em nosso espíri-
to. Não importa se somos crianças ou velhos, cultos ou
iletrados, todos podemos conhecer a Deus.
Por fim, na última cláusula da Nova Aliança,
o Senhor diz: “[…] para com as suas iniqüidades,
usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

20
me lembrarei”. Esta é a cláusula que torna possível
todas as outras. Debaixo da lei, o Senhor disse que
visitaria a iniquidade dos pais nos filhos até tercei-
ra e a quarta geração, mas agora Ele não se lembra
mais de nossos pecados (Êx 20.5). Enquanto Deus se
lembra, Ele julga, mas agora não há mais lembrança
de nenhum dos nossos pecados. Isso significa que
não há mais condenação sobre nós e nem sobre os
nossos filhos e netos.
Na Velha Aliança, os sacrifícios de sangue de
animais cobriam os pecados dos filhos de Israel
durante somente um ano; o processo tinha de ser
repetido a cada ano (Hb 10.3). Mas agora o sangue
de Jesus removeu os pecados – passados, presentes e
futuros – dos crentes, completa e perfeitamente, de
uma vez por todas (Hb 10.11-12).Qual é a parte do
homem na Nova Aliança? Ele não tem de fazer coisa
alguma, apenas crer. O justo viverá pela fé.
Por que muitos não conseguem crer que a lei foi
escrita em nosso coração? Por que não conseguem
crer que Deus é o seu Deus no meio da necessi-
dade? Por que pensam que não podem conhecer
o Senhor? Tudo isso é porque não creem que o
Senhor se esqueceu do seu pecado. Infelizmente,
muitos crentes ainda vivem debaixo de condenação
acreditando que o seu pecado está sempre diante
de Deus. Por causa disso, vivem na expectativa do
juízo, e não na expectativa da bênção.

O confronto de duas alianças

21
1. A velha aliança é uma promissória
de dívida, mas a nova aliança traz paz
Existe uma grande diferença entre a Velha
Aliança e a Nova Aliança. Infelizmente, é possível viver
nos dias do Novo Testamento, mas ainda se relacionar
com Deus nas bases da Velha Aliança, o que produz
um terrível problema espiritual.
Na Velha Aliança, Deus exigia justiça do homem,
mas hoje, na Nova Aliança, Ele transmite justiça ao
homem através da obra consumada de Jesus (Rm 4.5-
7). É por isso que o justo vive pela fé, pois ele não vê
essa justiça, mas Deus vê. A nossa justiça hoje é um
dom que recebemos, e não um comportamento que
adquirimos. Mas se ainda vivemos segundo a lei, fi-
caremos todo o tempo tentando nos tornar o que já
somos em Cristo, justos.
Em 2 Coríntios 3.6-18, Paulo faz um paralelo entre
as duas alianças, mostrando pelo menos cinco grandes
diferenças. A primeira é que a Velha Aliança é uma nota
promissória de dívida, mas a Nova Aliança traz paz.
O qual nos habilitou para sermos ministros de
uma nova aliança, não da letra, mas do espíri-
to; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.
(2Co 3.6)
A palavra “letra” usada aqui em 2 Coríntios
3.6 poderia ser traduzida como a “lei do Velho
Testamento”. Na verdade, a palavra “letra” ainda hoje

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

22
é usada como sinônimo de nota promissória, carta de
fiança, declaração escrita de débito ou dívida. Não é
por acaso que o governo emite um documento chama-
do LTN, Letras do Tesouro Nacional. Quando você
adquire uma LTN, o governo passa a ser seu devedor.
Você passa a ter uma carta promissória chamada de
Letra do Tesouro.
Nesse sentido, então, pregar a letra é pregar a
dívida que as pessoas possuíam com Deus de acordo
com a lei. Isso significa que nós hoje não pregamos
mais a lei do Velho Testamento. Não estou dizen-
do que não podemos pregar o Velho Testamento,
pois eu mesmo sou professor de Velho Testamento.
Mas somente podemos pregá-lo se for para apontar
para Cristo.
Não fomos chamados para pregar acusação e
condenação. O Senhor disse que Ele mesmo não
nos acusa. Na verdade, ele é o advogado (1Jo 2.1).
Ele disse que quem nos acusa é Moisés.
Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai;
quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado
a vossa confiança. (Jo 5.45)
E sabemos que Moisés representa a lei. Isso sig-
nifica que a lei é que nos acusa. Pregar a lei nos leva a
acusar e condenar as pessoas. Muitos fazem isso com
boa intenção, mas estão matando as pessoas em vez
de lhes ministrar vida.

O confronto de duas alianças

23
Dificilmente, um pastor prega unicamente a lei.
Normalmente, o que se prega é um tipo de mistura do
Novo com o Velho Testamento. A mistura é o grande
problema.Muitos misturam o evangelho da graça com
a lei. Eles creem que são salvos pela graça, mas tam-
bém acreditam que a comunhão com Deus depende
de guardarem os mandamentos da lei. Acreditam
que somente aqueles que cumprem os mandamentos
têm as suas orações respondidas. Vivem como se não
fossem justificados pelo sangue.
A letra de dívida não pode gerar fé em ninguém,
apenas condenação e medo. A lei é muito simples e
se constitui na base do pensamento das religiões do
mundo. Se fizer o bem, eu ganho; se fizer o mal, eu
perco. Ninguém precisa de revelação do Espírito para
entender esse princípio.
Mas a verdade da graça é completamente diferen-
te. É preciso luz do Espírito para entender como aque-
le que não merece pode ainda assim ser abençoado.
É preciso revelação para entender que a nossa relação
com Deus não é baseada mais em nosso mérito. Sem
a luz do Espírito, o evangelho é loucura, mas a lei é
vista como algo sensato pelos religiosos.
Como ministros da Nova Aliança, precisamos ser
cuidadosos para não pregarmos para que as pessoas se
sintam culpadas, mas perdoadas. Se formos ministros
da letra, vamos pregar a condenação. Aquele que é
ministro da letra não tem uma palavra de esperança,
mas apenas de medo.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

24
2. A velha aliança resulta em
morte, mas a nova aliança é
ministério do espírito
E, se o ministério da morte, gravado com le-
tras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de
os filhos de Israel não poderem fitar a face de
Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda
que desvanecente, como não será de maior glória
o ministério do Espírito! (2Co 3.7-8)
Paulo diz que o ministério da morte foi grava-
do com letras em pedras. Todos nós sabemos que
somente a lei foi gravada em pedras. Assim, a lei é o
ministério da condenação. O ministro que prega a
letra sempre vai condenar as pessoas, mas aquele que
tem o ministério do Espírito sempre ministrará fé no
coração das pessoas.
Segundo a lei, tudo depende do homem e da sua
obediência. Segundo a graça, tudo depende de Jesus e
do que Ele realizou na cruz. A lei exige justiça, mas a
graça concede justiça. A lei diz: “Faça!”, mas a graça
diz: “Eu faço por você!”
Pregar a Velha Aliança produz morte. Paulo diz
que a Velha Aliança é o ministério da morte. A prin-
cipal causa de morte nas igrejas é a pregação da lei.
A principal causa de um ambiente pesado na célula é
porque os irmãos ainda pregam a lei.
Quando pregamos a lei, o ambiente fica pesado
por causa da condenação, do medo e da vergonha.

O confronto de duas alianças

25
Quando pregamos condenação, sempre mostrando o
quanto as pessoas são falhas, nós enchemos a reunião
de morte. Mas se ministramos a graça, o Espírito pode
agir livremente.
O conceito comum é que a reunião fica pesada
por causa do pecado das pessoas, mas a verdade é que,
se pregamos a graça, as pessoas em pecado logo expe-
rimentarão o perdão de Deus. Condenar o pecador
não libera vida, mas perdoá-lo, sim.
Uma diferença fundamental entre a Velha e a
Nova Aliança é que, na Velha Aliança, somente a
impureza e a morte eram transmitidas, mas nunca a
vida e a santidade. É por isso que um sacerdote levita
jamais poderia impor as mãos sobre um leproso ou
orar por um morto, mas o Senhor Jesus tocou no le-
proso e, em vez de Ele ser contaminado, foi o leproso
que recebeu vida e cura.Isso está claramente ilustrado
num exemplo dado em Ageu 2.11-13.
Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta,
agora, aos sacerdotes a respeito da lei: Se alguém
leva carne santa na orla de sua veste, e ela vier a
tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou
no azeite, ou em qualquer outro mantimento,
ficará isto santificado? Responderam os sacer-
dotes: Não. Então, perguntou Ageu: Se alguém
que se tinha tornado impuro pelo contato com
um corpo morto tocar nalguma destas coisas,
ficará ela imunda? Responderam os sacerdotes:
Ficará imunda.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

26
Não precisamos temer tocar nas pessoas, pois a
vida de Deus em nós é mais poderosa que a obra do
maligno na vida delas. Nós transmitimos vida e poder,
mas não recebemos as coisas do diabo.
Em 1 Coríntios 7, Paulo diz que a mulher cren-
te santifica o marido descrente. Assim, o descrente é
abençoado pelo convívio com o crente, mas o crente
não pode ser atingido. Esta é a glória da Nova Aliança.
Na Velha Aliança, os filhos de Israel estavam sob
o ministério da morte (2Co3.6), mas hoje os crentes
estão sob o ministério da vida abundante de Jesus
(2Co 3.6; Jo 10.10).

3. A velha aliança traz condenação,


mas a nova aliança ministra a justiça
Porque, se o ministério da condenação foi glória,
em muito maior proporção será glorioso o minis-
tério da justiça. (2Co 3.9)

Tudo sobre a lei tem a ver com você olhando para


si mesmo. Mas tudo sobre a graça tem a ver com você
vendo Jesus. Este é o grande teste para você saber se
tem vivido na lei ou na Nova Aliança. Uma maneira
simples de avaliarmos que tipo de ministro somos é
observando se a nossa pregação leva as pessoas para
si mesmas ou para Cristo. Se as estimulamos a serem
introspectivas e olharem para a própria performance,
então pregamos a lei.
O confronto de duas alianças

27
4. A velha aliança é um véu, mas na
nova aliança nós somos transformados
por contemplar a cristo
Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao
dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga
aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sen-
do revelado que, em Cristo, é removido. Mas
até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto
sobre o coração deles. Quando, porém, algum
deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.
(2Co 3.14-16)
A lei é um véu. Enquanto andamos pela Velha
Aliança da lei, nossos olhos espirituais ficam vendados,
mas quando nos voltamos para a graça do Senhor,
então recebemos revelação. Se queremos revelação,
precisamos remover o véu da lei.
O nome Ló significa “véu” em hebraico. Isso
indica que Ló é um símbolo do crente que ainda vive
na lei. É por isso que, depois que se separou de Ló, o
Senhor disse a Abraão: “Levanta os olhos para o nor-
te, para o sul, o leste e o oeste” (Gn 13.14). Quando
o véu foi removido, Abraão estava pronto para ver.
Embora sejam justificados pela fé, muitos cren-
tes ainda vivem segundo o princípio da lei. Por causa
disso, ainda permanece um véu sobre eles, como está
escrito em 2 Coríntios 3.14.Somente o evangelho tem
poder para transformar o homem, pelo simples fato

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

28
de que somente a mensagem do evangelho tem poder
para gerar fé no coração.
Paulo diz que somos transformados apenas por
contemplar a glória de Deus. E como contemplamos
a glória? Certamente, cada vez que pregamos a Nova
Aliança, estamos pintando um quadro do Senhor Jesus
diante dos irmãos. Se eles conseguem contemplar o
quadro que pintamos, então são transformados. Mas
se, em vez de pintarmos um quadro vívido de Cristo,
nós pregamos a lei, então não há transformação na
vida dos irmãos. Eles sairão cheios de culpa e conde-
nação, mas não haverá nenhuma mudança de vida.
A lei pode trazer condenação, mas ela não tem
poder para transformar o homem. Somos habituados
a pensar que a transformação é fruto do nosso esforço
e empenho, mas Paulo diz que somos transformados
apenas por contemplar o Senhor.
E todos nós, com o rosto desvendado, contem-
plando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
(2Co 3.18)
Contemplar é algo que não exige esforço hu-
mano. Eu preciso apenas me disciplinar para não ser
distraído por outras coisas enquanto estou contem-
plando. Na Nova Aliança, nós mostramos o Senhor em
nossa pregação, e quando as pessoas o contemplam,
elas são transformadas.

O confronto de duas alianças

29
Os filhos de Israel não podiam entrar no santo
dos santos (onde estava a presença de Deus). Somente
o sumo sacerdote podia fazê-lo, somente uma vez por
ano, no Dia da Expiação (Lv 16.2,14). Hoje, porém,
os crentes podem entrar na santa presença de Deus,
como também podem chegar com ousadia ao seu
trono de graça para encontrar misericórdia e graça
em suas necessidades, devido à perfeita expiação de
Jesus (Hb 4.16).
Na Nova Aliança, todos somos feitos sacerdotes
e podemos ministrar diante da Arca. Este é o centro
da revelação da nova aliança, pois Cristo veio habitar
dentro de nós. E se Cristo habita em nós, somos feitos
reis e sacerdotes.

5. A velha aliança produz um


comportamento sem transformação
do coração, mas na nova aliança somos
transformados de glória em glória
Aqueles que vivem pela lei possuem apenas um
senso de obrigação, mas vivem uma vida falsa. É como
se dissessem: “Eu fiz porque você mandou que eu fi-
zesse, mas eu não queria fazer. Eu fiz porque você me
constrangeu a fazer, mas nunca foi meu desejo fazer.
Eu fiz para que você se sinta feliz, mas não queria
fazer”. Isso é um relacionamento falso. É como o ga-
roto que diz: “Você me manda ficar sentado, mas por

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

30
dentro eu estou em pé”. Esse ficar sentado não tem
valor algum, é fruto de imposição.
Quem vive assim está sempre com medo. Medo
de quê? Medo de ser punido se não fizer. Deus man-
dou, eu tenho de fazer; se eu não fizer,Ele me castiga.
Meu pai mandou, eu tenho de fazer; senão ele me
castiga. Minha mulher mandou, então eu tenho de
fazer mesmo.A vida na lei é uma vida falsa, porque
não vem de dentro. É uma vida amedrontada com o
constante assombro da punição. É uma vida oprimida,
porque o tempo todo a pessoa está sendo lembrada
de que está fora do padrão.
A obediência à lei não tinha o poder de eliminar
o pecado da vida das pessoas. A lei não tem poder de
tornar alguém santo, justo e bom. Mas hoje o pecado
não tem domínio sobre os crentes (Rm 6.14), pois o
poder de Jesus para vencer a tentação se manifesta
quando eles sabem que são justos em Cristo, inde-
pendentemente de suas obras (Rm 4.6).
Aqueles que vivem na lei estão o tempo todo
conscientes de si mesmos. É assim porque o seu rela-
cionamento com Deus depende do quanto obedecem
aos mandamentos da lei. Os filhos de Israel eram
desviados de sua confiança na bondade de Deus por-
que sempre olhavam para si mesmos, para ver quão
bem ou mal se saíam (estavam sempre conscientes de
si mesmos). Hoje, na Nova Aliança, somos desafia-
dos a olhar para o Senhor. Os crentes possuem uma
tremenda confiança e segurança em Cristo porque

O confronto de duas alianças

31
agora olham para Jesus, e não para si mesmos (estão
conscientes de Cristo).
Precisamos ser cuidadosos para não misturarmos
a Velha com a Nova Aliança. Quando misturamos
a lei com a graça, o resultado é que a Nova Aliança
perde todo o poder.
Em Hebreus 13.12, a Palavra de Deus diz para
sairmos do arraial para encontrar com Cristo.
Por isso, foi que também Jesus, para santificar o
povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da por-
ta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando
o seu vitupério. (Hb 13.12-13)
A Carta aos Hebreus foi escrita para advertir
alguns sobre o risco de voltarem para o judaísmo.
Por isso, em vez de voltar, temos de sair do arraial. O
arraial aqui aponta para a velha aliança da lei. Cristo
está fora, e precisamos sair para encontrar com Ele.
Mais do que nunca, precisamos advertir aos irmãos a
saírem da lei e entrarem na graça.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

32
Cláusulas da nova
aliança

A
pesar de estarmos na Nova Aliança, há muitos
que ainda vivem de acordo com os preceitos
da Velha Aliança. No Velho Testamento, havia
um céu de bronze sobre a cabeça dos homens porque
nenhum deles podia cumprir as exigências da lei. No
entanto, no Novo Testamento não há mais céu de
bronze porque o céu foi aberto sobre nós.
Por que o céu está aberto? Porque você está em
Cristo. Lá no Calvário aconteceu a grande troca.
Cristo se tornou o que eu era para que eu seja o que
Ele é. Ele tomou o meu lugar na cruz para que hoje eu
Cláusulas da nova aliança

33
ocupe o lugar que é dEle na glória. Essa grande troca
do Calvário faz com que Deus trate hoje você como
se fosse Cristo. Você foi unido a Ele, e a posição dEle
é a sua. Quando você chega diante de Deus, Cristo
está chegando junto com você.
É verdade que o céu está aberto apenas sobre
Cristo. A Bíblia diz que, no dia do batismo, quando
ele entrou na água, os céus se abriram sobre Ele. O
céu não está aberto sobre mim ou sobre você indivi-
dualmente. Como então Deus pode nos abençoar?
Ele nos coloca em Cristo, por isso desfrutamos do
céu que está aberto sobre Ele.

O princípio do representante
Deus se relaciona conosco com base no represen-
tante. Esse é um princípio presente em toda a Palavra
de Deus. Ninguém pode chegar diante de Deus di-
retamente. É por isso que Jesus disse que ninguém
vai ao Pai senão por meio dEle. Ele é o nosso sumo
sacerdote, o nosso representante. Quando Adão pe-
cou, por exemplo, nós pecamos com ele, porque ele
nos representava e nós estávamos nele. Hoje o Senhor
Jesus é o segundo Adão, o cabeça de uma nova raça.
Quando nós cremos em Cristo, somos colocados
nEle de forma que Ele se torne nosso representante.
Se Ele obedeceu, para Deus é como se nós tivéssemos
obedecido. Se Ele venceu, a vitória é nossa também.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

34
“Porque, como, pela desobediência de um só ho-
mem, muitos se tornaram pecadores, assim tam-
bém, por meio da obediência de um só, muitos
se tornarão justos” (Rm. 5:19).
Deus quer que saibamos que na cruz o Senhor
Jesus se tornou o que nós éramos, para que possamos
nos tornar o que Ele é.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus” (2 Co. 5:21).
Como o Senhor Jesus, que nunca cometeu pe-
cado, se tornou pecado? Ele recebeu o nosso pecado.
Como nós, que nunca praticamos a justiça, nos tor-
namos justos? Nós recebemos a justiça dEle. Essa é
a grande troca do Calvário. Quando Jesus recebeu o
nosso pecado, Deus O julgou e O puniu. Quando
recebemos a Cristo como a nossa justiça, Deus nos
abençoa. O Senhor não merecia se tornar pecado, e
nós não merecemos ser feitos justos.
Davi e Golias ilustram o princípio do represen-
tante. Golias desafiou o exército de Israel, dizendo:
“escolham um para lutar comigo. O que vencer a luta,
venceu a guerra”! Quando Davi o venceu, a vitória
não foi somente de Davi, mas de todo o Israel. Davi
e Golias eram representantes. O mesmo princípio se
aplicava ao sumo sacerdote, que representava o povo
diante de Deus. Se ele entrasse no Santo dos santos e

Cláusulas da nova aliança

35
caísse morto, seria arrastado para fora, e toda a nação
saberia que Deus o havia rejeitado. A nação, então,
teria um ano ruim com derrota para os inimigos,
seca e fome. Quando o sumo sacerdote saía do Santo
dos santos vivo, ele erguia a sua mão para abençoar a
nação e, naquele momento, o povo sabia que Deus o
havia aceitado, e ele teria um grande ano com chuva e
abundância. Deus estava dizendo que, se o seu sumo
sacerdote é bom, você está bem.
Porém, bons sumos sacerdotes envelheciam e
morriam. É por causa disso que a segurança no Velho
Testamento não era permanente. Aquele bom sumo
sacerdote ficava velho, e as pessoas olhavam temerosas
para o filho dele, que o sucederia, e que não tinha um
bom comportamento. Agora, nós temos um sumo
sacerdote que vive para sempre. Quando o sumo sa-
cerdote é aceito, nós somos aceitos também, e hoje o
nosso sumo sacerdote é Jesus.
João diz que como Ele é nós somos nesse mun-
do. Se Ele é aceito por Deus, nós também somos. Se
Ele é justo, nós também somos. Se Ele é saudável,
nós também somos. Se Ele é próspero, nós também
somos. Se Ele está debaixo do favor de Deus, nós
também estamos.

A BASE DA REDENÇÃO É A JUSTIÇA


Deus hoje não tem alternativa senão perdoá-lo.
Deus é bom, misericordioso, mas Ele não perdoa
O Evangelho da graça e a Nova Aliança

36
você por causa da sua bondade, e sim por causa da
Sua fidelidade e justiça. Ele poderia relacionar-se com
você com base na misericórdia, contudo, Deus não é
moralmente obrigado a ter misericórdia de ninguém
para sempre (Rm. 9:15). Certo dia, Ele poderia dizer:
“chega de ter misericórdia, eu vou te condenar”! Um
dia essa misericórdia vai cessar, e o juízo de Deus virá
sobre esse mundo.
Então, para que tivéssemos segurança, Ele as-
sinou um documento e fez uma aliança. Deus pode
escolher ter misericórdia de quem Ele quiser e pelo
tempo que quiser, mas Ele não pode escolher entre
ser ou não justo. Ele precisa ser justo sempre. Ele não
planejou que vivêssemos como muitos crentes, certos
que são salvos num dia e no outro não. Estão bem
com Deus hoje, amanhã não têm certeza. Ele fez uma
aliança de que perdoaria as nossas iniquidades e dos
nossos pecados jamais se lembraria porque Ele é justo.
É possível ter uma misericórdia injusta. Suponha
que um certo irmão errou comigo e me roubou um
dinheiro. Ele vem, pede perdão, e eu posso simples-
mente perdoá-lo e esquecer o assunto. Nós fazemos
assim porque não temos justiça em nós, por isso não
podemos cobrar justiça sobre os outros. Essa é a razão
porque perdoamos livremente. Com o juiz, todavia,
não é assim. Se esse irmão fosse levado ao juiz, ele não
poderia ser simplesmente perdoado, e o juiz exigiria o
cumprimento da lei e o condenaria. Deus é o juiz, e

Cláusulas da nova aliança

37
Ele não pode simplesmente esquecer o nosso pecado.
O crime precisa ser punido. O problema é que Deus
nos ama e não quer nos condenar, mas a sua justiça
exige a condenação. Como conciliar o amor com a
justiça? Deus tinha a solução: Ele mesmo veio e pagou
pelo crime em nosso lugar. Assim, o perdão de Deus
é baseado na sua justiça.
Uma vez que a dívida foi paga, Ele não tem outra
alternativa a não ser nos considerar inocentes, sem
culpa. No Calvário, o amor e a justiça se beijaram,
como diz a Palavra de Deus, assim como a graça e a
verdade se encontraram. A cruz é o centro do universo,
é a justiça de Deus pagando pelo amor de Deus. Todos
os atributos de Deus se harmonizaram na morte do
Senhor. O pecado não pode mais ser imputado a você
porque a justiça de Deus foi satisfeita, e a lei foi mag-
nificada e cumprida na cruz. Nós não estamos mais
sob a lei porque não podemos quebrá-la, mas porque
ela foi cumprida por Cristo. Todo atributo de Deus é
glorificado na cruz. Não é a misericórdia acontecendo
sem a justiça, e nem é justiça sem misericórdia.
Desse modo, se Deus exerceu misericórdia des-
respeitando a sua justiça, então Deus não é mais con-
fiável, pois, se Ele desconsidera a justiça em um ponto
vai desconsiderar em outros, e assim nunca teremos
segurança. Se o seu pecado já foi punido na cruz, Deus
é justo em declarar você perdoado e justo. Se a sua
enfermidade já foi levada na cruz, então Deus é justo
O Evangelho da graça e a Nova Aliança

38
em curá-lo. Essa é a base da Nova Aliança. Deus é justo
e o justificador dos que têm fé em Jesus (Rm. 3:26).
“Tendo em vista a manifestação da sua justiça no
tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justi-
ficador daquele que tem fé em Jesus” (Rm. 3:26).

AS CLÁUSULAS DA NOVA ALIANÇA


A lei foi dada por meio de Moisés, mas 1500 anos
depois a graça e a verdade vieram por meio de Jesus
Cristo. Hoje a presente verdade é a Nova Aliança.
“Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido
sem defeito, de maneira alguma estaria sendo
buscado lugar para uma segunda. E, de fato,
repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o
Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de
Israel e com a casa de Judá, não segundo a aliança
que fiz com seus pais, no dia em que os tomei
pela mão, para os conduzir até fora da terra
do Egito; pois eles não continuaram na minha
aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor.
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa
de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na
sua mente imprimirei as minhas leis, também
sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu
Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinará
jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao
seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque
todos me conhecerão, desde o menor deles até ao
Cláusulas da nova aliança

39
maior. Pois, para com as suas iniqüidades, usa-
rei de misericórdia e dos seus pecados jamais me
lembrarei” (Hb. 8:7-12).
O próprio Deus diz que a Velha Aliança tinha
defeito porque o seu povo é imperfeito. Agora, Deus
fez uma Nova Aliança, e Ele mesmo diz que cumprirá
todas as cláusulas dessa aliança e não haverá menção de
condições impostas ao seu povo. O texto de Hebreus
8 é uma citação de Jeremias 31:33-34, onde são co-
locadas as cláusulas da Nova Aliança. O Senhor diz
que fará quatro coisas:
™™ Na sua mente imprimirei as minhas leis;
™™ Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo;
™™ Não ensinará jamais cada um ao seu próximo,
dizendo: Conhece ao Senhor;
™™ Dos seus pecados jamais me lembrarei.

Na sua mente imprimirei as


minhas leis
Em primeiro lugar, Ele diz que vai escrever suas
leis em nosso coração. Eu gostaria de poder colocar
dentro do meu filho o desejo de comer brócolis, mas
não tenho esse poder. Deus, porém, pode e é exata-
mente isso o que Ele fez. Ele colocou a Sua lei dentro
de nós e hoje temos no nosso coração o desejo de fazer
a Sua vontade. O problema da lei é que ela não muda

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

40
o interior do homem. Ela toca apenas o exterior, e isso
não satisfaz a Deus.
Vamos usar o casamento como ilustração.
Imagine que o meu casamento é uma união segundo o
princípio da lei. Eu chego para a minha esposa e digo
os mandamentos da minha lei. Primeiro mandamento:
“amará o teu marido de todo o teu coração, de toda a
tua e de todo o teu entendimento”. Segundo manda-
mento: “farás comida todos os dias para o teu mari-
do”. Terceiro mandamento: “beijarás o teu marido”.
Quarto mandamento: “farás sexo com o teu marido”
Então, certo dia cheguei em casa, vi o jantar pronto e
fiquei contente. Eu então perguntei à minha esposa:
“por que você fez o jantar?” Ela disse: “é o segundo
mandamento. Eu até nem queria fazer a comida, mas
eu tenho de cumprir o mandamento”. Se eu chego e
lhe peço um beijo, ela prontamente me beija, dizendo
que esse é o terceiro mandamento. Eu fico confuso e
pergunto a ela: “você me ama?” “Claro!” Ela responde.
“Esse é o primeiro mandamento, lembra”?
Creio que nenhum de nós gostaria de estar ca-
sado com uma mulher que nos beija ou faz sexo co-
nosco porque a lei manda. Nós queremos ser amados.
Imagine um casamento segundo a graça. Em vez de
dar à minha esposa mandamentos, eu decido conquis-
tar o coração dela mostrando-lhe o quanto eu a amo.
Eu trabalho e faço todo sacrifício para que ela seja
suprida e feliz. Um dia eu chego em casa, e a comida

Cláusulas da nova aliança

41
não foi feita. Imediatamente eu saio para comprar co-
mida, mas, como não tem restaurante aberto, compro
os ingredientes e eu mesmo cozinho.
No fim eu lhe pergunto: “você me ama?” “Como
posso não amar?” Responde ela. “Você me ama tanto
que me conquistou com tanto carinho e dedicação.”
A Velha Aliança é “amarás o Senhor teu Deus”, mas
a Nova Aliança é: “nós amamos porque Ele nos amou
primeiro”. Hoje o nosso amor é uma resposta ao amor
dEle por nós (1 Jo. 4:19).

Eu serei o seu deus, e eles serão o


meu povo
A segunda cláusula da Nova Aliança é: “Eu serei
o seu Deus e eles serão o meu povo”. Essa é uma afir-
mação poderosa, pois, se estivermos doentes, Ele será
o nosso Deus e nós teremos cura. Se estivermos ne-
cessitados, Ele será o nosso Deus e nós teremos plena
provisão. Quando o anjo veio anunciar o nascimento
do Senhor, ele disse que o seu nome seria “Salvador”,
literalmente Yeshua. Ele não veio nos ensinar um ca-
minho de como ser salvo, mas veio para nos salvar,
porque Ele mesmo é a nossa salvação.
Essa é uma diferença entre a lei e a graça. Quando
pregamos a lei, dizemos às pessoas o que elas preci-
sam fazer, mas, quando pregamos a graça, falamos do
que o Senhor faz por nós. Quando temos uma crise
no casamento, não pensamos que precisamos de um

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

42
salvador, mas presumimos que devemos aprender
como nós mesmos podemos salvar o nosso casamento.
Queremos aprender como transformar nosso casa-
mento da água para o vinho, no entanto, não temos
como fazer isso, a não ser que Jesus seja convidado
a fazer o milagre. Muitos pastores pregam um tipo
de autoajuda. Se você está em crise no casamento, te
ensinarei sete passos para salvá-lo e dez passos para ter
uma união feliz. Tudo isso é o que você mesmo pode
fazer, mas viver na graça significa crer que Ele mesmo
vai nos tirar do buraco.
Imagine uma pessoa se afogando. Você a vê e en-
tão lhe atira um livro, dizendo: “Pega aí! Meu último
livro: ‘Como aprender a nadar em cinco lições!’”. O
que essa pessoa precisa é de um salvador que a tire
da água e a leve para o lugar seguro, mas tudo o que
oferecemos são regras para que ela mesmo se salve.
Muitos buscam métodos, mas Deus nos dá Cristo.
Quando Ele faz, o milagre acontece num instante,
e não leva toda a vida. Se alguém quer produzir um
vinho excelente, isso vai levar de 15 a 25 anos, mas
o Senhor fez o melhor vinho num instante. Por isso,
você não precisa esperar por tanto tempo, apenas peça
ao Salvador para te salvar.
Sempre associamos salvação com ser salvo do
inferno e da condenação, mas a palavra salvar é sozo,
e significa muito mais que isso. Podemos ser salvos de
uma enfermidade, de uma vida de pobreza e, é claro,

Cláusulas da nova aliança

43
de um casamento ruim. Porém, nosso Salvador não
nos salva destruindo o casamento, mas muda a nossa
sorte e nos salva de tudo isso.

Todos me conhecerão
A terceira cláusula é que “todos conhecerão
o Senhor, desde o menor deles até ao maior, diz o
Senhor”. O conhecimento de Deus hoje é intuitivo
dentro de nós. Podemos ter comunhão com Ele em
nosso espírito. Não importa se somos crianças ou ve-
lhos, cultos ou iletrados, todos podemos conhecer a
Deus. Por fim, na última cláusula da Nova Aliança, o
Senhor diz: “para com as suas iniquidades, usarei de
misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei”.
Essa é a cláusula que torna possível todas as outras.
Debaixo da lei, o Senhor disse que visitaria a
iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta
geração, mas agora Ele não julga mais, porque não se
lembra mais de nossos pecados (Ex. 20:5). Isso sig-
nifica que não há mais condenação sobre nós e nem
sobre os nossos filhos e netos. Na Velha Aliança, os
sacrifícios de sangue de animais apenas cobriam os
pecados dos filhos de Israel durante somente um ano,
e o processo tinha de ser repetido a cada ano (Hb.
10:3). Agora, o sangue de Jesus removeu os pecados –
passados, presentes e futuros – dos crentes, completa e
perfeitamente, de uma vez por todas (Hb. 10:11-12).
Mas qual é a parte do homem na Nova Aliança? Ele

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

44
não tem de fazer coisa alguma, apenas crer. O justo
viverá pela fé.
Por que muitos não conseguem crer que a lei foi
escrita em nossos corações? Por que não conseguem
crer que Deus é o seu Deus no meio da necessidade?
Por que pensam que não podem conhecer o Senhor?
Tudo isso é porque não creem que o Senhor se es-
queceu do seu pecado. Infelizmente, muitos crentes
ainda vivem debaixo de condenação, acreditando que
o seu pecado está sempre diante de Deus. Por causa
disso vivem na expectativa do juízo, e não da bênção.
Muitos ainda chegam a Deus na posição de pecadores,
mas você hoje foi declarado justo. Certa vez o Senhor
contou uma parábola do fariseu e do publicano.
“Dois homens subiram ao templo com o propósi-
to de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O
fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo,
desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não
sou como os demais homens, roubadores, injus-
tos e adúlteros, nem ainda como este publicano,
jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé,
longe, não ousava nem ainda levantar os olhos
ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê
propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu
justificado para sua casa, e não aquele; porque
todo o que se exalta será humilhado; mas o que
se humilha será exaltado” (Lc. 18.10-14).

Cláusulas da nova aliança

45
Este texto não está ensinando você como se re-
lacionar com Deus hoje, mas a maneira de ser salvo.
Quem será salvo é aquele que atendeu o apelo e vem
à frente chorando, batendo a mão no peito e pedindo
misericórdia ao Senhor porque reconhece que é um
pecador. Depois que você é salvo, vai continuar orando
assim? Claro que não. Muitos de nós, depois de salvos,
continuamos orando como se não fôssemos justos.
Então, alguém diz: “Mas está escrito, foi Jesus
quem disse”. Não, essa foi a sua oração no primeiro
dia. Depois que você fez a oração do pecador, você
se tornou filho. Se você orar hoje na posição de um
pecador, Deus não o ouvirá. Ore como filho: “Pai, eu
sou teu filho e sou co-herdeiro com Cristo. Fui justi-
ficado pela fé e hoje tenho a justiça de Cristo. Meus
pecados foram todos cancelados e tu não te lembras
de nenhum deles”. Essa é uma oração poderosa porque
honra a Aliança.
Deus é seu pai. Você é filho e herdeiro. Você não
é herdeiro porque se comporta bem, mas porque é
filho. Muitos não conseguem ter esperança por causa
do medo da condenação e da ira de Deus. A verdade
é que sobre nós não há mais condenação, e o Senhor
jurou que não mais se iraria contra nós.
Porque isto é para mim como as águas de Noé;
pois jurei que as águas de Noé não mais inundariam
a terra, e assim jurei que não mais me iraria contra ti,
nem te repreenderia (Is. 54:9).

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

46
A nossa esperança não é baseada em algo vago,
mas está firmada na fidelidade de Deus em sua alian-
ça. O Senhor se comprometeu a nos dar um grande
futuro por causa da Nova Aliança.
“Farei com eles aliança eterna, segundo a qual
não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu
temor no seu coração, para que nunca se apartem
de mim” (Jr. 32:40).

Cláusulas da nova aliança

47
O Evangelho da graça e a Nova Aliança

48
O servo de sangue

O
bede-Edom é um personagem miste-
rioso na Palavra de Deus. Não sabemos
muito a seu respeito, mas ele se tornou
importante, pois foi depois de receber a Arca
em sua casa que Davi conseguiu levá-la para
Jerusalém.
Por que ele foi tão abençoado com a Arca,
enquanto Davi, o homem segundo o coração de
Deus, não desfrutou inicialmente da mesma bên-
ção? Para compreendermos isso, precisamos pri-
meiro entender o contexto em que Obede-Edom
aparece em cena.
O servo de sangue

49
O problema da força humana
Nos dias de Saul, ninguém se importava com a
Arca da Aliança. Davidecidiu, então, trazê-la para
Jerusalém. A Arca é um símbolo do Senhor Jesus,
o Emanuel, a presença de Deus no meio do seu
povo. Davi ansiava pela bênção da presença de
Deus. A Escritura diz que ele, então, ajuntou o
povo e foram buscar a Arca da Aliança que estava
na casa de Abinadabe.
A Palavra de Deus diz que “Davi e toda a casa
de Israel alegravam-se perante o SENHOR, com toda
sorte de instrumentos de pau de faia, com harpas,
com saltérios, com tamboris, com pandeiros e com
címbalos” (2Sm 6.5). Aconteceu, porém, que “quan-
do chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à
arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram.
Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e
Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali
junto à arca de Deus (2Sm 6.6-7).
O anseio de Davi era correto, ele queria trazer a
Arca para o centro da nação. Hoje também precisamos
trazer Cristo de volta para o centro da vida da igreja,
para o centro da nossa vida. Mas o que Davi ainda não
entendia é que a obra de Deus deve ser feita da manei-
ra de Deus. Ele tinha colocado a Arca num carro de
boi. Esta foi a maneira como os filisteus devolveram a
Arca ao povo de Israel. Deus havia permitido que eles

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

50
agissem assim porque não conheciam a revelação da
aliança, mas Davi não poderia seguir o caminho deles.
Quando os bois tropeçaram, Uzá tentou segurar
a Arca. Ele tinha boa intenção, mas mesmo assim
morreu diante do Senhor. Na Palavra de Deus, os
nomes são significativos, e Uzá significa força. Muitos
devem conhecer a famosa metralhadora israelense
chamada Uzi. Pois o nome Uzi tem o mesmo sen-
tido de Uzá.
Muitos afirmam que o segredo para ter a presença
de Deus é o louvor e a adoração. Veja, porém, que não
havia falta de louvor, música e dança. O verso 5 diz que
Davi e todo o povo cantavam ao Senhor, e mesmo as-
sim houve morte. É claro que louvor e adoração estão
envolvidos com a presença de Deus, mas eles não são
o segredo. Infelizmente, existe muito louvor sem um
senso da graça de Deus, existe muita adoração sem o
sangue. Há um tipo de louvor que não passa de uma
performance artística, um show natural.
O que impediu Davi de trazer a Arca foi a força
humana representada por Uzá. Se o louvor ou o mi-
nistério está baseado na força do homem, não haverá
presença de Deus.
Desgostou-se Davi, porque o SENHOR irrompe-
ra contra Uzá; e chamou aquele lugar Perez-Uzá,
até ao dia de hoje. Temeu Davi ao SENHOR,
naquele dia, e disse: Como virá a mim a arca do
SENHOR? (2Sm 6.8-9)

O servo de sangue

51
A graça de Deus não é retirada por causa do peca-
do do homem, mas a graça é retida por causa da força
do braço do homem. A graça de Deus é maior que o
pecado, mas a força humana pode parar o mover de
Deus. Quando a prostituta veio a Jesus, Ele a recebeu,
pois a graça era maior que o pecado dela. Quando os
publicanos – que eram como os nossos políticos cor-
ruptos de hoje – foram a Jesus, o Senhor os recebeu,
porque a graça era maior do que o pecado deles.
Já ouvi pessoas dizendo coisas como: “O pecado
parou o mover de Deus, o pecado apagou o aviva-
mento”. Mas se o pecado pode parar o avivamento,
então ele nem mesmo poderia ter começado, pois o
pecado já estava lá. Na verdade, o avivamento cessa
quando o homem traz a lei, seus controles humanos
e o esforço natural.
As únicas pessoas que não puderam receber do
Senhor Jesus foram aquelas que se achavam fortes e
santas. Para aqueles que presumiam ter alguma justiça
própria, a graça não podia fluir.
Em vez de avaliar onde tinha errado, Davi sim-
plesmente desistiu de levar a Arca. No lugar de se
voltar para a Escritura para entender o caminho de
Deus, ele se encheu de medo e levou a Arca para a
casa de Obede-Edom.
Não quis Davi retirar para junto de si a arca do
SENHOR, para a Cidade de Davi; mas a fez
levar à casa de Obede-Edom, o geteu. (2Sm 6.10)

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

52
Obede-edom era um servo do sangue
Davi estava com medo e com raiva, sentindo-se
humilhado. Ele certamente concluiu que a Arca era
muito perigosa e clamou: “Como trarei a mim a Arca
de Deus?” Assim, ele manda que a levem para a casa que
estava logo defronte. Então, os soldados batem à porta e
dizem: “Senhor Obede-Edom, nós precisamos deixar a
Arca aqui na sua casa. Talvez Obede-Edom tenha pergun-
tado: “Por que vocês estão trazendo para a minha casa?
A última pessoa que tocou nela morreu”. Mas agora a
história é completamente diferente. Durante os três me-
ses em que a Arca ficou na casa de Obede-Edom, Deus
abençoou a sua casa e tudo o que ele tinha.
Ficou a arca do SENHOR em casa de Obede-
Edom, o geteu, três meses; e o SENHOR o aben-
çoou e a toda a sua casa. (2Sm 6.11)
Josepho, um historiador judeu, diz que Obede-
Edom era muito pobre, mas em três meses ele se tor-
nou muito rico por causa da Arca.
A bênção que Obede-Edom recebeu não foi algo
interior no coração, mas foi algo que as pessoas po-
diam ver. Era notória e visível a bênção de Deus em
sua casa. É maravilhoso quando somos abençoados
de uma forma que todos podem ver e são obrigados
a reconhecer que o Senhor é conosco.
Potifar viu que o Senhor era com Joséporque ele
era próspero,diz a Bílbia. No mesmo princípio, todo

O servo de sangue

53
o povo viu que a bênção e o favor de Deus estavam
sobre Obede-Edom e sua casa por causa da Arca, da
presença de Deus.
Deus abençoou aquela casa de uma forma ex-
traordinária. Naquela mesma noite, Obede-Edom
acorda e o medo desaparece, ele sente algo maravi-
lhoso e diz: “Eu sempre quis este sentimento, mas
eu nunca o tinha sentido antes”. Ele começa a sentir
amor, um amor perfeito que acaba com todo medo.
Ele fica maravilhado e sente a presença de Deus como
um aroma no ar. Há um prazer e uma paz na casa que
nunca houve antes. Ele acorda de manhã e todos os
seus filhos estão obedientes, e sua esposa está mais
afetuosa. Todos os seus filhos começam a tirar nota
dez na escola e o senhor e senhora Obede-Edom estão
ainda mais apaixonados um pelo outro. Eles estão cada
vez mais criativos e do nada conseguem ganhar muito
dinheiro como nunca ganharam antes.
No seu jardim, todas as plantas estão ficando
enormes e elas têm um sabor ainda mais gostoso. As
pessoas passam na frente da sua casa e ficam maravilha-
das com o favor de Deus ali. Elas até gostam de ficar
na casa de Obede-Edom, pois sentem algo especial ali.
Qual o segredo da bênção de Obede-Edom?
Em primeiro lugar, precisamos entender o sentido
do seu nome. “Obede” significa “servo” em hebraico,
e “Edom” significa “vermelho”. Assim, o significado
seria servo do vermelho, mas isso não faz sentido.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

54
Entretanto, a coisa toda fica clara quando entendemos
que “Edom” é uma palavra derivada de “dam”, que
significa “sangue”.
Adão, por exemplo, é “Adam”em hebraico, que
significa “vermelho como sangue”. Assim, podemos
dizer que Obede-Edom significa “servo do sangue”.
Quando nos tornamos servos do sangue, nós temos
a sua presença.
A prova de que essa interpretação é correta é o
fato de que, na primeira vez que Davi tentou levar a
Arca, havia louvor, mas não havia holocaustos; en-
tretanto, na segunda vez, além do louvor, havia um
sacrifício a cada seis passos.
O Senhor Jesus é a Videira verdadeira; na cruz,
Ele foi moído e prensado, e, como resultado, o vinho
intoxicante da sua vida foi liberado para nós. Gênesis
49 diz que o sangue é sangue de uvas.
Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho
da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará
as suas vestes no vinho e a sua capa, em sangue
de uvas. (Gn 49.11)

Obede-edom era geteu


Há ainda algo sobre Obede-Edom que precisa ser
mencionado. Ele era geteu, ou seja, da cidade de Gate.
Muitos mestres dizem que ele era levita da cidade de
Gate-Rimon. Muitos, na verdade, não querem admitir

O servo de sangue

55
que ele poderia ser de Gate, a cidade filisteia de onde
era Golias, o inimigo de Davi, pois nesse caso teriam
de admitir que Deus abençoou um gentio antes de
abençoar Davi.Eu, porém, creio que ele era filisteu e
sua história foi registrada para mostrar que a bênção
de Deus vem também sobre os gentios.
No início do seu ministério, o Senhor foi a
Nazaré. Ali, Ele entrou numa sinagoga e leu Isaías 61.
Ao terminar o texto, Ele disse:
Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ou-
vir. Todos ficaram surpresos perguntando se não
era ele o filho de José. Mas eles ficaram furiosos
quando o Senhor lhes disse: Havia muitas viú-
vas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se
fechou por três anos e seis meses, reinando grande
fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias
enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom.
Havia também muitos leprosos em Israel nos dias
do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado,
senão Naamã, o siro. (Lc 4.25-27)
Por que o povo ficou tão irado? Aquela viúva
não era judia, era fenícia. Naamã também não era
de Israel, mas da Síria. Eles não tinham participação
nas promessas de Israel, mas mesmo assim foram os
únicos abençoados. Eles não mereciam, mas mesmo
assim receberam.
O Senhor deu um exemplo de provisão e cura
para duas pessoas que não eram de Israel. O que o

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

56
Senhor queria dizer com isso? Ele estava dizendo ao
povo: “Não pensem que vocês merecem”. Quando
você reconhece que não merece e mesmo assim vai
a Deus para receber, como Naamã e a viúva fizeram,
então você obtém o que está pedindo. Nunca confie
no quão bom ou obediente você é para merecer a
bênção de Deus.
Também devemos nos lembrar de que as duas pes-
soas que Jesus disse que tinham uma fé muito grande
eram gentias: a mulher cananeia e o centurião romano.

O favor e a bênção sobre


obede-edom
A bênção sobre Obede-Edom foi tão evidente
que avisaram Davi. Eu creio que, nesse momento,
Davi ficou enciumado e disse: “Essa bênção não pode
ficar apenas sobre uma casa. Vamos buscar a Arca na
casa de Obede-Edom e trazê-la para Jerusalém para
abençoar toda a nação”.
Então, avisaram a Davi, dizendo: O SENHOR
abençoou a casa de Obede-Edom e tudo quanto
tem, por amor da arca de Deus; foi, pois, Davi
e, com alegria, fez subir a arca de Deus da casa
de Obede-Edom, à Cidade de Davi. (2Sm 6.12)
Imagino que, quando Obede-Edom ouviu Davi
bater à porta de sua casa, ele ficou muito triste. Era
maravilhoso demais ter a presença de Deus na sua casa.

O servo de sangue

57
Por causa disso, ele se tornou porteiro do Tabernáculo
para guardar a Arca. Ele e toda a sua família foram
com a Arca para Jerusalém. Se a Arca vai, eu também
vou com ela (2Cr 15.17-18).Davi levantou Obede-
Edom para ser um porteiro no Tabernáculo. Ele seria
um guardião da Arca.
Designaram, pois, os levitas Hemã, filho de Joel;
e dos irmãos dele, Asafe, filho de Berequias; e
dos filhos de Merari, irmãos deles, Etã, filho de
Cusaías. E com eles a seus irmãos da segunda
ordem: Zacarias, Bene, Jaaziel, Semiramote,
Jeiel, Uni, Eliabe, Benaia, Maaséias, Matitias,
Elifeleu e Micnéias e os porteiros Obede-Edom e
Jeiel. (2Cr 15.17-18)
São os porteiros que decidem quem pode en-
trar. Eles são sensíveis ao que está acontecendo. Os
próprios filhos de Obede-Edom também foram ser-
vir no Tabernáculo de Davi. Mas ele não era apenas
porteiro, também se tornou músico e foi designado
para ministrar na presença da Arca. Agora esse filisteu
Obede-Edom não somente foi apontado como um
levita, mas também está tocando harpa para Deus.
Asafe, o chefe, Zacarias, o segundo, e depois Jeiel,
Semiramote, Jeiel, Matitias, Eliabe, Benaia,
Obede-Edom e Jeiel, com alaúdes e harpas; e
Asafe fazia ressoar os címbalos. (1Cr 16.5)
Se continuamos lendo, veremos como Deus
abençoou Obede-Edom. Ele teve oito filhos e todos
eles se tornaram homens maravilhosos.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

58
Os filhos de Obede-Edom: Semaías, o primogê-
nito, Jeozabade, o segundo, Joá, o terceiro, Sacar,
o quarto, Natanael, o quinto, Amiel, o sexto,
Issacar, o sétimo, Peuletai, o oitavo; porque Deus
o tinha abençoado. (1Cr 26.4)
No versículo 6, diz que o seu filho mais velho
teve filhos que dominaram sobre a casa de seu pai e
foram homens valentes, e o versículo 8 diz que eram
homens capazes e robustos, saudáveis.
Todos estes foram dos filhos de Obede-Edom; eles,
seus filhos e seus irmãos, homens capazes e robustos
para o serviço, ao todo, sessenta e dois. (1Cr 26.8)
Os irmãos e primos de Obede-Edom também vi-
raram porteiros. Todos eram filisteus, eram os inimigos
do povo de Deus, mas quando descobriram o quanto o
Senhor é bom, eles foram completamente transformados.
A Arca trouxe criatividade e expansão de conhe-
cimento. Isso é exatamente o que o favor de Deus faz,
quando o recebemos, Ele muda tudo. Vamos passar
uma eternidade inteira descobrindo o quão bom e
maravilhoso Ele é.

Davi se torna servo do sangue


Mesmo homens de Deus às vezes se esquecem
de ler a Palavra de Deus. Naqueles três meses, Davi
certamente pesquisou e descobriu que os levitas é
quem deveriam carregar a Arca nos ombros. Mas,

O servo de sangue

59
apesar disso, ele fez algo que não tinha feito antes,
sacrificou ao Senhor.
Nós somos esses sacerdotes que carregam a Arca.
Isso é um quadro de um campeão sendo levantado pelos
seus companheiros. Nós fomos chamados como sacer-
dotes para levantar o Senhor Jesus, a verdadeira Arca.
Sucedeu que, quando os que levavam a arca do
SENHOR tinham dado seis passos, sacrificava
ele bois e carneiros cevados. (2Sm 6.13)
Quiriate-Jearim ficava a doze quilômetros de
Jerusalém, mas Davi resolveu oferecer um sacrifício a
cada seis passos. Ele se tornou radical com o sangue.
Creio que isso deve apontar para nós que caminha-
mos a cada seis dias e no sétimo participamos da Ceia.
Creio que é tempo de termos a Ceia toda semana.
Somos servos do sangue e bebemos o sangue da uva
para termos vida.
Davi dançava com todas as suas forças diante do
Senhor vestido com uma estola sacerdotal de linho.
Ele era rei, mas se colocava como sacerdote diante
de Deus. Isso certamente aponta para nós, pois hoje
somos reis e sacerdotes.
Precisamos ser servos do sangue, apresentar-nos
sempre confiados na justiça de Cristo e devemos agir
em fé como sacerdotes. Nesse contexto, o louvor e a
adoração certamente terão um grande impacto. O
resultado disso é que teremos o favor e a bênção da
presença do Senhor entre nós.

O Evangelho da graça e a Nova Aliança

60
Sumário
1. A condenação do acusador 7
2. Não olhe dentro da arca 15
3. As raízes do engano 31
4. Nenhuma condenação 45
A condenação do
acusador

O que justifica o perverso e o que condena o justo


abomináveis são para o SENHOR, tanto um
como o outro. Pv. 17:15

N
ós somos justiça de Deus em Cristo. Quando
vamos a Deus devemos ir como filhos e não
como pecadores.
Deus não gosta quando pecadores chegam diante
dele como justos. Mas Deus também não se agrada
quando depois de sermos justificados nos chegamos
A condenação do acusador

7
diante dele como pecadores. Quando agimos assim
estamos nos fazendo como hipócritas.
Você sabe o que é hipocrisia? É quando você fin-
ge ser o que não é. Um pecador que age como justo
é hipócrita. Mas um justo que age como pecador é
também hipócrita.
Você não é mais um pecador, mas é justiça de
Deus em Cristo. Comece a se comportar dessa forma.
Sempre lemos esse versículo de Provérbios 17:15
pensando em outros nos condenando, mas também
se aplica a nós quando nós mesmos nos condenamos.
Quando fazemos isso estamos condenando um justo.
Se fomos justificados então não podemos ser conde-
nados nem por nós mesmos.
Se você se condena está fazendo algo abominá-
vel a Deus, porque você está condenando aquele que
Deus declarou inocente.
Por que Deus detesta a hipocrisia, quando você
finge ser o que não é? Porque mesmo que eu ame você,
ainda assim você nunca se sentirá amado e nunca
receberá esse amor, porque estava fingindo e nunca
receberá esse amor pelo que você é.
Se você finge ser alguma coisa diante de Deus
você nunca terá certeza do amor dele por você, pois
sempre haverá uma voz dizendo: “você é amado por-
que ele não te conhece!” Assim Deus sempre resiste
ao hipócrita.
Seja livre do medo, da condenação e da culpa

8
Mas quando desnudamos a nossa alma diante de
Deus e ainda assim ele nos revela o seu amor, então
nos sentimos realmente amados, pois Ele viu quem
somos e mesmo assim nos amou.
Deus ama a honestidade e a sinceridade no ín-
timo. Tentar parecer ser algo diante de Deus é como
tentar se vestir com as folhas da figueira. Não passa
de justiça própria que para Deus não passa de trapos
de imundícia.

O condenador está condenado


Deus nos declara justos, mas nós devemos con-
cordar com ele, mesmo que não vejamos a nossa jus-
tiça. A mudança acontece quando você concorda com
Deus. E Deus diz que você agora é justo em Cristo.
Andarão dois juntos, se não houver entre eles
acordo? Am. 3:3
Se não concordamos com o que Deus diz a co-
munhão com ele fica comprometida.
Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca
saiu o que é justo, e a minha palavra não tornará
atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho, e
jurará toda língua. De mim se dirá: Tão-somente
no SENHOR há justiça e força; até ele virão e
serão envergonhados todos os que se irritarem
contra ele. Is. 45:23-24

A condenação do acusador

9
Em Isaías 53 temos a obra de redenção do Senhor
Jesus. Ele foi moído pelas nossas iniquidades e o casti-
go que nos traz a paz estava sobre ele. Mas o capítulo
54 fala dos resultados da redenção.
Todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR;
e será grande a paz de teus filhos. Serás estabe-
lecida em justiça, longe da opressão, porque já
não temerás, e também do espanto, porque não
chegará a ti. Is. 54:13-14

Toda arma forjada contra ti não prosperará;


toda língua que ousar contra ti em juízo, tu
a condenarás; esta é a herança dos servos do
SENHOR e o seu direito que de mim procede,
diz o SENHOR. Is. 54:17
A nossa herança é que toda arma forjada contra
nós não prosperará. Deus não diz que não haverá
armas contra nós, mas ele diz que essas armas não
prosperarão.
Esse verso nos fala do tribunal de Deus. A lín-
gua que se levanta em juízo contra nós é a do diabo.
Dificilmente o diabo nos acusa de coisas falsas, nor-
malmente a sua acusação é sobre algo verdadeiro,
coisas que realmente fizemos.
Mas na justiça de Deus somos declarados ino-
centes por causa da justiça do nosso substituto. Uma
vez que somos declarados inocentes o acusador agora
deve ser condenado.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

10
O alvo do acusador é nos condenar à morte, mas
agora que somos declarados inocentes, o acusador é
que deve morrer.

O medo da morte vem da


condenação
Visto, pois, que os filhos têm participação comum
de carne e sangue, destes também ele, igualmente,
participou, para que, por sua morte, destruísse
aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte,
estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.
Hb. 2:14-15
Esse texto nos mostra claramente que a morte
não vem de Deus. O diabo é aquele que detém o po-
der da morte. Mas ele não tem qualquer poder nele
mesmo, todavia ele usa o poder de outra coisa para
trazer a morte. Essa coisa é a lei, pois a palavra de Deus
diz claramente que a lei traz a morte.
A árvore do conhecimento do bem e do mal, que
não é chamada de árvore da morte e nem árvore do
pecado, hoje é a lei. II Coríntios 3:7-9 diz que a lei
é um ministério de condenação e morte gravado em
pedra. A única parte da lei que foi gravada na pedra
são os mandamentos.
Sabendo que a lei produz morte, o que faz o
diabo? Ele procura levar o crente a viver pela lei, para

A condenação do acusador

11
dessa forma poder trazer acusação e condenação. Ele
diz ao crente que cada vez que ele faz algo errado ele
deve esperar que algo ruim aconteça como punição.
Algumas vezes as pessoas até mesmo esperam pela
morte. Em outras palavras o poder da morte está na
acusação. Se você aceita a condenação o inimigo ga-
nha espaço.
O nome do diabo é satanás que significa acusa-
dor. Somente quando você aceita acusação você entra
debaixo do poder da morte.
O texto diz que vivíamos sujeitos à escravidão
por causa do medo da morte, então hoje precisamos
receber uma revelação de Deus que nos livre do medo
da morte. É certo que o Senhor Jesus fez algo para nos
libertar. Pela sua morte ele destruiu o diabo. A pala-
vra destruir aqui não significa aniquilar, mas significa
destituir o diabo do poder que ele tinha.
E ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na
fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição,
e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-
-me com ele na sua morte. Fp. 3:9-10
A justiça própria é aquela que procede da lei.
Quando tentamos produzir a nossa própria justiça
pela nossa obediência nós estamos agindo baseados na
lei. Paulo, porém, diz que ele não tem justiça própria,

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

12
mas somente a que é mediante a fé em Cristo, a justiça
que procede de Deus, baseada na fé.
O resultado disso é que podemos conhecer o
Senhor e o poder da sua ressurreição. Por que ainda
somos tão pobres no conhecimento de Cristo? Por
que experimentamos tão pouco do poder da ressur-
reição? Simplesmente porque a justiça da fé não tem
sido pregada.

A experiência da vitória
Precisamos fazer com que essa vitória seja experi-
mentada também em nossa vida. O Senhor já venceu,
mas precisamos ter a experiência de vitória em nossa
vida pessoal.
No livro de Josué lemos da guerra onde cinco reis
cananeus foram derrotados. Eles foram derrotados e
presos numa caverna, depois Josué mandou que os
capitães colocassem os pés sobre o pescoço daque-
les reis. Isso nos mostra que uma coisa é derrotar o
inimigo, outra coisa é fazer disso a nossa experiência
(Js. 10:16-24).
Porque convém que ele reine até que haja posto
todos os inimigos debaixo dos pés. O último ini-
migo a ser destruído é a morte. I Cor. 15:25-26
Quando o Senhor Jesus ressuscitou, a morte foi
vencida. Então o que significa colocar os inimigos

A condenação do acusador

13
debaixo dos pés? Os pés são uma parte do corpo e o
corpo de Cristo é a Igreja. Isso nos mostra que a vitória
já foi conquistada, como na história daqueles cinco
reis, mas agora é preciso colocar o inimigo debaixo
dos pés da Igreja. Isso é experiência.
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à mi-
nha direita, até que eu ponha os teus inimigos
debaixo dos teus pés? Mt. 22:44
O Senhor está dizendo que os inimigos foram
todos derrotados, mas hoje ele está colocando todos
eles debaixo de nossos pés, o corpo de Cristo.
Hoje nós estamos sentados com Cristo à destra
de Deus Pai (Ef. 2:6). Assim aquilo que o Pai diz para
o Senhor Jesus também se aplica a nós. E o que ele
diz é assenta-te. Essa é a única coisa que o Pai nos diz
para termos os inimigos derrotados. Quando nos as-
sentamos os inimigos são colocados debaixo de nossos
pés. Essa é a atitude do trono.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

14
Não olhe dentro
da arca

Andavam os de Bete-Semes fazendo a sega do


trigo no vale e, levantando os olhos, viram a arca;
e, vendo-a, se alegraram. O carro veio ao campo
de Josué, o bete-semita, e parou ali, onde havia
uma grande pedra; fenderam a madeira do carro
e ofereceram as vacas ao SENHOR, em holo-
causto. Os levitas desceram a arca do SENHOR,
como também o cofre que estava junto a ela, em
que estavam as obras de ouro, e os puseram sobre
a grande pedra. No mesmo dia, os homens de
Bete-Semes ofereceram holocaustos e imolaram
sacrifícios ao SENHOR. Feriu o SENHOR os

Não olhe dentro da arca

15
homens de Bete-Semes, porque olharam para
dentro da arca do SENHOR, sim, feriu deles
setenta homens; então, o povo chorou, porquanto
o SENHOR fizera tão grande morticínio entre
eles. Então, disseram os homens de Bete-Semes:
Quem poderia estar perante o SENHOR, este
Deus santo? E para quem subirá desde nós?
Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de
Quiriate-Jearim, dizendo: Os filisteus devolve-
ram a arca do SENHOR; descei, pois, e fazei-a
subir para vós outros. (1Sm 6.13-15;19-21)
A Arca da Aliança era o móvel mais sagrado do
tabernáculo. Deus deu instruções muito específicas
sobre como ela deveria ser construída. Não vamos nos
deter em cada detalhe, mas cada um deles nos permite
ter uma descrição mais clara do Senhor Jesus.
A Arca da Aliança aponta para a pessoa e obra do
Senhor Jesus Cristo. Ele é a peça central do coração de
Deus. Vamos a uma breve descrição da Arca.

De madeira e ouro
Em primeiro lugar, a Arca era feita de madeira de
acácia recoberta com ouro. A madeira é um símbolo
bíblico da humanidade, mas a madeira de acácia é
conhecida por sua aparência rústica e sua resistência,
simbolizando o homem caído. Cristo veio em seme-
lhança de carne pecadora enquanto homem, mas n’Ele
nunca houve pecado.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

16
O ouro, por sua vez, aponta para a divindade do
Senhor. A madeira recoberta com ouro nos mostra que
Cristo era plenamente homem e ao mesmo tempo
plenamente Deus.

Com uma tampa


A Arca da Aliança possuía uma tampa. A tampa
era feita de uma chapa maciça de ouro que cobria a
caixa. Essa tampa era chamada de propiciatório. A
palavra “propiciatório” significa “apaziguar, recon-
ciliar duas pessoas satisfazendo as exigências de uma
sobre a outra”.
Por isso mesmo, convinha que, em todas as coi-
sas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser
misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas
referentes a Deus e para fazer propiciação pelos
pecados do povo. (Hb 2.17)
O Senhor Jesus fez a propiciação pelos nossos
pecados para nos reconciliar com Deus, satisfazendo
a sua justa exigência sobre nós.
Suponha que uma pessoa esteja em débito com
outra, mas não é capaz de pagar a dívida. Parece não
haver meios para solucionar o problema, mas uma
terceira pessoa paga a dívida da primeira cumprindo
assim a exigência do segundo e apaziguando a sua ira.
Quando as exigências são cumpridas, o devedor e
o credor são reconciliados. Cristo nos reconciliou com

Não olhe dentro da arca

17
Deus, satisfazendo as justas exigências de Deus sobre
nós. Cristo não é apenas aquele que nos reconcilia
com Deus, mas Ele mesmo é o sacrifício propiciatório.
Além disso, Ele é o próprio local, o propiciatório. É
no propiciatório que Deus vem ter comunhão com o
homem. Temos comunhão com Deus apenas estando
em Cristo.
Cristo é, portanto, aquele que propicia, é o sacri-
fício propiciatório e é o próprio propiciatório, o lugar
onde Deus e seu povo redimido se reúnem.
A quem Deus propôs, no seu sangue, como pro-
piciação, mediante a fé, para manifestar a sua
justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado
impunes os pecados anteriormente cometidos.
(Rm 3.25)

Com uma bordadura de ouro


A Arca tinha uma bordadura de ouro ao derredor.
Essa bordadura é traduzida como coroa ou grinalda
em algumas versões. A coroa da glória de Deus estava
em Cristo.
Quando Cristo estava na terra, os homens teste-
munharam que não viram n’Ele aparência nem formo-
sura alguma – esta é a madeira de acácia, dura e sem
beleza –, mas todos puderam testificar que n’Ele havia
uma aparência de glória, havia uma gloriosa expressão
de Deus, esta era a bordadura de ouro.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

18
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão
exata do seu Ser, sustentando todas as coisas
pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas. (Hb 1.3)
Cristo era cheio de majestade, glória e realeza,
no entanto Ele veio para servir, e não para ser servido.
Ele se tornou o rei-servo na cruz.

Três itens eram guardados na


arca
O livro de Hebreus declara que havia três coisas
dentro da Arca da Aliança:
Ao qual pertencia um altar de ouro para o incenso
e a arca da aliança totalmente coberta de ouro, na
qual estava uma urna de ouro contendo o maná,
o bordão de Arão, que floresceu, e as tábuas da
aliança. (Hb 9.4)
O primeiro item que estava dentro da Arca
eram as tábuas de pedra onde Deus escreveu os Dez
Mandamentos. O que significam essas tábuas? Por um
lado, a lei é uma revelação do caráter de Deus. Por ela,
ficamos sabendo que tipo de Deus Ele é.
Através de Gênesis 1, ficamos sabendo que Deus
é o criador de todas as coisas. Mas, por aquele capítu-
lo, não ficamos sabendo que tipo de Deus Ele é. Não
sabemos, por meio de Gênesis 1, se Deus é amor ou

Não olhe dentro da arca

19
ódio, se é um Deus de trevas ou de luz. Nem sabemos
se Ele é santo ou injusto.
A lei foi dada justamente para que pudéssemos
saber que tipo de Deus é o nosso Deus. Mas a lei tam-
bém mostra a nossa rebelião e a nossa incapacidade
de cumprir as justas exigências de Deus.
O segundo item dentro da Arca era a vara de Arão
que floresceu. A vara é, antes de tudo, um símbolo da
ressurreição e da escolha divina. Cristo é aquele que
venceu a morte. Mas a vara também floresceu num
contexto em que o povo estava murmurando contra
a escolha de Arão como sacerdote. Deus, então, a fez
florescer para mostrar ao povo que fora Ele quem es-
colhera Arão. Assim, a vara de Arão nos fala também
da rebelião do homem contra a liderança constituída
por Deus.
O último item era um pote de ouro contendo
o maná. Evidentemente, nós sabemos que o Senhor
Jesus é o pão que desceu do céu e Ele é o cumprimen-
to final do maná. A Bíblia chama o maná de pão dos
anjos (Sl 78.25). Quando o povo de Israel comeu dele,
ninguém ficou doente durante os quarenta anos de
peregrinação. Ainda assim, eles chamaram o maná de
pão sem valor, ou pão vil (Nm 21.5). Então, o pote de
ouro com maná nos fala também da rebelião contra
a provisão de Deus.
Você consegue perceber que cada item na Arca
fala dos nossos pecados e rebelião contra Deus? Mas

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

20
o que Deus fez com nossos pecados e rebelião? Ele os
colocou dentro da Arca e os cobriu com o propicia-
tório, a tampa da Arca.
Era sobre o propiciatório que o sangue do sa-
crifício de animais era aspergido. Ao fazer isso, Deus
estava dizendo que não queria ver os pecados e a re-
belião do homem. Os nossos pecados estão cobertos
pelo sangue do propiciatório. Deus não pode vê-los
quando eles estão cobertos pelo sangue. É por isso
que, no Velho Testamento, Israel se alegrava cada vez
que o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos no
dia da expiação e colocava o sangue do animal sobre
o propiciatório.
Quando o sangue estava sobre o propiciatório,
Deus não podia ver a rebelião contra a sua lei nos Dez
Mandamentos. Ele não podia ver a rejeição do seu sa-
cerdócio constituído na vara de Arão. E Ele não podia
ver a rejeição da sua provisão no pote de ouro com o
maná. Ele via somente o sangue sobre o propiciatório.

Cristo é o propiciatório
E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do
mundo inteiro. (1Jo 2.2)
O Senhor Jesus se tornou o nosso sacrifício a
fim de desviar para Ele mesmo a ira de Deus que era
destinada a nós.

Não olhe dentro da arca

21
O propiciatório era feito de uma peça maciça de
ouro que recebia pancadas até atingir a forma ideal.
Do mesmo modo, para que Cristo tomasse o nosso
lugar e fosse o nosso propiciatório, Ele teve de ser
brutalmente espancado, para que, pelas suas feridas,
fôssemos sarados.
Em cima do propiciatório, havia dois querubins
(Êx 25.18). Esses querubins tipificam a glória e a san-
tidade de Deus. Podemos ver na Bíblia que eles estão
relacionados com a glória de Deus.
Então, saiu a glória do SENHOR da entrada
da casa e parou sobre os querubins. (Ez 10.18)

E sobre ela, os querubins de glória, que, com a sua


sombra, cobriam o propiciatório. Dessas coisas,
todavia, não falaremos, agora, pormenorizada-
mente. (Hb 9.5)
Mas também vemos que eles estão relacionados
com a santidade e a justiça de Deus. Depois que o ho-
mem pecou, Deus colocou querubins com espadas de
fogo para impedir que ele se chegasse à árvore da vida.
E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente
do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que
se revolvia, para guardar o caminho da árvore
da vida. (Gn 3.24)
No livro de Apocalipse, lemos novamente sobre
a árvore da vida. Mas agora o caminho foi aberto.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

22
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente
da árvore da vida que se encontra no paraíso de
Deus. (Ap 2.7)

Bem-aventurados aqueles que lavam as suas


vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes
assista o direito à árvore da vida, e entrem na
cidade pelas portas. (Ap 22.14)
Esses versículos indicam que algo aconteceu para
abrir o caminho para a árvore da vida. Quem abriu? E
quando foi aberto? Hebreus nos dá a resposta:
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no
Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo
e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu,
isto é, pela sua carne. (Hb 10.19-20)
O caminho para a árvore da vida foi aberto pelo
sangue de Jesus. Os querubins que guardavam o ca-
minho nos deixam passar por causa do sangue. Por
causa disso, o propiciatório era o local onde Deus se
encontrava com o seu povo.
Ali, virei a ti e, de cima do propiciatório, do
meio dos dois querubins que estão sobre a arca do
Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que
eu te ordenar para os filhos de Israel. (Êx 25.22)
O local onde Deus fala conosco é por meio da
reconciliação realizada por Cristo na cruz. Mas como
podemos nós, que somos pecadores, nos encontrar

Não olhe dentro da arca

23
com Deus, que é santo e justo, para ouvir a sua voz?
Em Levítico 16, lemos que, no dia da expiação, o
sacerdote entrava ali para aspergir o sangue sobre o
propiciatório.
Tomará do sangue do novilho e, com o dedo,
o aspergirá sobre a frente do propiciatório; e,
diante do propiciatório, aspergirá sete vezes do
sangue, com o dedo. Depois, imolará o bode da
oferta pelo pecado, que será para o povo, e trará
o seu sangue para dentro do véu; e fará com o
seu sangue como fez com o sangue do novilho;
aspergi-lo-á no propiciatório e também diante
dele. (Lv 16.14-15)
A questão crucial era o aspergir do sangue em
cima do propiciatório. No dia da expiação, os sacrifí-
cios eram oferecidos em cima do altar no átrio. Esses
sacrifícios eram uma nota promissória da verdadeira
expiação realizada por Cristo na cruz. Quando Cristo
pagou a dívida, a nota promissória foi colocada de
lado. O sangue dos animais fazia apenas a expiação
(que significa cobrir), mas o sangue de Jesus faz a
redenção (que é o pagamento completo da dívida).
Depois que os animais eram mortos no altar, o
sangue era levado para dentro do Santo dos Santos
e aspergido sete vezes em cima do propiciatório. O
número sete significa completeza. Agora, por causa do
sangue, o homem podia ter comunhão com Deus. Sua
justiça representada pelos querubins estava satisfeita.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

24
Se fôssemos ter com Deus sem o sangue, Ele veria
os mandamentos na Arca e seríamos condenados por-
que quebramos a sua lei. Mas, com o sangue cobrindo,
Deus fica satisfeito na sua justiça. Se o próprio Deus
não quer ver o conteúdo da Arca sem a cobertura do
sangue, por que nós haveríamos de querer? Só pode-
mos olhar para dentro da Arca através do sangue do
propiciatório.
Mas e se olharmos para dentro da Arca? Para isso,
temos de remover o propiciatório; e sem propiciató-
rio, não temos o sangue aspergido; e sem o sangue,
estamos debaixo da condenação da lei. Sem o sangue
do propiciatório, estaremos conscientes de todos os
pecados que a lei nos mostra, do pecado da rebelião
contra a autoridade de Deus simbolizado pela vara
que floresceu e do pecado de rejeitar a provisão de
Deus. Tudo isso tem profundas consequências em
nossa vida espiritual.

Alguém retirou a tampa


Naqueles dias, era muito perigoso para qualquer
pessoa levantar o propiciatório e descobrir os pecados
e a rebelião que Deus tinha coberto. O propiciatório
não deveria ser levantado em momento algum, e as
consequências por fazê-lo eram severas. As Escrituras,
porém, dizem que alguns moradores de Bete-Semes
resolveram tirar a tampa da Arca, e o resultado foi que
muitos deles foram destruídos.

Não olhe dentro da arca

25
É interessante ver três coisas que aconteceram
com os moradores de Bete-Semes depois que tiraram
a tampa da arca e olharam para dentro.

a. Em primeiro lugar, houve morte e


choro
Feriu o SENHOR os homens de Bete-Semes, por-
que olharam para dentro da arca do SENHOR,
sim, feriu deles setenta homens; então, o povo
chorou, porquanto o SENHOR fizera tão grande
morticínio entre eles. (1Sm 6.19)
Quando retiramos a tampa, olhamos para a lei.
Deus não quer que a lei seja exposta, porque ela repre-
senta a nossa rebelião e ministra apenas morte e conde-
nação. Hoje, muitos gostam até de fazer pôsteres dos
Dez Mandamentos, mas, no Velho Testamento, Deus
manteve a lei escondida debaixo do propiciatório.
Não pense que ficar se olhando e ficar consciente
o tempo todo do pecado produz algum tipo de alegria.
A vida de muitos crentes é mais cheia de dor e angústia
do pecado do que da alegria da salvação.
Os Dez Mandamentos são chamados no Novo
Testamento de ministério da morte e da condenação
(2Co 3.6-9).
O qual nos habilitou para sermos ministros de
uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica. E,
se o ministério da morte, gravado com letras em
pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

26
Israel não poderem fitar a face de Moisés, por cau-
sa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente,
como não será de maior glória o ministério do
Espírito. Porque, se o ministério da condenação
foi glória, em muito maior proporção será glorioso
o ministério da justiça. (2Co 3.6-9)
A lei sempre ministra condenação e morte, mas
a graça sempre ministra justiça e vida.

b. Em segundo lugar, eles disseram:


“quem poderia estar perante o senhor,
este deus santo?”
Então, disseram os homens de Bete-Semes: Quem
poderia estar perante o SENHOR, este Deus san-
to? E para quem subirá desde nós? (1Sm 6.20)
Isso é sentimento de condenação e acusação.
Todas as vezes que tiramos o propiciatório, só nos
resta olhar para o alto padrão da lei que não podemos
atingir. Passamos a ter consciência do pecado, e não
consciência da justificação. Esta é a base que o diabo
usa para trazer culpa e condenação.
Essa pergunta poderia ser colocada de muitas
formas: “Quem poderia liderar perante o Senhor, este
Deus santo?”, “Quem poderia servir ao Senhor, este
Deus santo?”, “Quem poderia ser ouvido pelo Senhor,
este Deus santo?”
Todo ser humano entende intuitivamente a ne-
cessidade de pagar pelo pecado. Crianças que não são

Não olhe dentro da arca

27
disciplinadas se tornam ansiosas e problemáticas por-
que erraram, mas não sentiram que pagaram pelo erro.
Entretanto, quando são disciplinadas, elas ficam em paz.
Creio que as doenças possuem um componente
de autopunição. Quando a pessoa peca, intuitivamente
quer que alguém pague. Algumas vezes, os filhos pagam,
o cônjuge paga, e muitas vezes a pessoa se torna doen-
te como um tipo de autopunição inconsciente. Mas,
quando cremos que todo pecado já foi pago, a doença
perde espaço em nossa vida.
As doenças autoimunes são uma evidência desse
princípio. Tudo o que os médicos podem dizer a res-
peito dessas doenças é que elas são o próprio organismo
atacando a si mesmo. Os médicos podem aliviar os
sintomas, mas não podem curar esse tipo de doença.
Todo requerimento divino somente pode ser sa-
tisfeito de uma forma divina. Autopunição não satisfaz
a justiça de Deus, por isso Cristo veio para ser punido
em nosso lugar.

c. Em terceiro lugar, eles disseram: “os


filisteus devolveram a arca do senhor;
descei, pois, e fazei-a subir para vós
outros”
Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de
Quiriate-Jearim, dizendo: Os filisteus devolveram a
arca do SENHOR; descei, pois, e fazei-a subir para
vós outros. (1Sm 6.21)

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

28
Quando retiramos a tampa, nós olhamos para a
lei, e o resultado é que fugimos de Deus. Quando o
homem comeu do fruto da árvore do conhecimento
do bem e do mal, ao ouvir a voz de Deus, ele fugiu.
Aqueles homens de Bete-Semes fugiram de Deus.
Eles tiveram uma atitude exatamente oposta à que teve
Davi. Em 1 Crônicas 13.12, Davi disse: “Como trarei
a mim a arca de Deus?” Mas os de Bete-Semes disse-
ram exatamente o contrário: “Para quem subirá a Arca
desde nós?” Aqueles que presumem estar debaixo do
juízo de Deus não correm para Ele, mas correm d’Ele.
Sempre que retiramos a tampa, sentimos conde-
nação, e o resultado não é mais intimidade e comu-
nhão, mas distanciamento e medo. A introspecção
não nos aproxima de Deus, antes nos faz fugir d’Ele.
Quando nos afundamos na introspecção, sentimo-nos
indignos, e o resultado é um profundo sentimento de
desqualificação e condenação.
A vontade de Deus é que olhemos para Cristo.
Precisamos olhar para a redenção do Calvário e en-
tender tudo o que a Nova Aliança nos garantiu. Isso é
o mesmo que olhar para o propiciatório. Se olharmos
para o sangue derramado, veremos que Deus está sa-
tisfeito e assim teremos paz diante d’Ele.

Não olhe dentro da arca

29
Seja livre do medo, da condenação e da culpa

30
As raízes do engano

Q
uando lidamos com qualquer problema,
precisamos primeiro lidar com sua raiz se
desejamos resolvê-lo.
Muitas vezes temos plantas malignas nascendo
em nossas vidas. As folhas e os frutos dessas plantas
são a pobreza, a enfermidade, a ansiedade, a depressão
e muitas coisas ruins.
Para resolver esses problemas, nós arrancamos
as folhas e tentamos remover os frutos assim que eles
brotam. Todavia, percebemos que logo em seguida eles
brotam novamente.
Como resolver esse problema? Apenas lidar com as
folhas e frutos nunca vai eliminar a planta. Precisamos
As raízes do engano

31
perceber que existe algo abaixo da superfície, que sus-
tenta todas as doenças que vemos acima. Precisamos
lidar com as raízes. Só podemos eliminar uma planta
se removermos as suas raízes.
Normalmente não temos consciência do que está
abaixo do solo, por isso lidamos apenas com aquilo que
vemos na superfície.
Do mesmo modo, as doenças crônicas, os proble-
mas conjugais, a depressão, a ansiedade e os problemas
financeiros são como as folhas de uma planta doente.
Você pode arrancar as folhas doentes, mas é uma ques-
tão de tempo até que a doença se manifeste novamente.

A raiz da vergonha
Basicamente a vergonha é a consciência da
culpa. E o que produz no homem a consciência de
culpa? Muitos pensam que é o pecado, mas na ver-
dade é a lei.
Antes da lei o pecado estava no mundo, mas o
homem não tinha consciência do pecado porque não
havia lei. A lei então foi dada para revelar o pecado
que já estava lá.
A lei é a base da tentação e depois é também a
base da vergonha e da culpa. Se o diabo queria destruir
o homem, por que ele não tentou Eva a matar Adão?
Simplesmente porque a única lei era não comer do fruto
da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ele só
pode tentar com base na lei.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

32
Quando Adão e Eva foram criados, a Palavra de
Deus diz que eles estavam nus e não se envergonhavam.
Na verdade eles estavam revestidos da glória de Deus.
Essa glória é o que lhes permitia dominar sobre
toda a criação. Mas, no momento em que pecaram,
eles foram destituídos da glória de Deus (Rm 3.23).
Depois que pecaram, o Senhor veio ter com eles e
lhes perguntou: “Adão, onde está você?” É interessante
que a primeira pergunta do Velho Testamento é “Onde
está o homem?” Mas a primeira pergunta do Novo
Testamento é “Onde está o rei?” (Mt 2.2). É assim
porque quando você descobre onde está Cristo, então
você entende onde você está.
E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe
perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua
voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e
me escondi. (Gn 3.9,10)
Certa vez um pastor foi visitar um membro da
igreja e, depois de bater várias vezes na porta da casa,
ninguém abriu. Ele então deixou debaixo da porta um
bilhete com Apocalipse 3.20 escrito: “Eis que estou à
porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a por-
ta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.
No domingo seguinte, aquele membro veio à frente no
momento da oferta e deixou dentro do gazofilácio um
bilhete para o pastor, com Gênesis 3.10 escrito: “Ouvi
a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e
me escondi”.

As raízes do engano

33
Gênesis 3.10 nos conta como o medo entrou neste
mundo. Essa é a primeira menção de medo na Palavra de
Deus. O homem não foi criado para viver com medo.
Hoje as pessoas têm medo de muitas coisas, mas
a origem de todos os medos é o medo da morte. A pes-
soa diz, por exemplo, ter medo de voar de avião, mas o
medo na verdade é da morte. Deus não quer que você
viva com medo, com medo do futuro, com medo de
envelhecer, com medo de não ter o suficiente, medo de
perder alguém, etc.
Adão disse que teve medo porque percebeu que es-
tava nu. Ele sentiu-se envergonhado, essa é a origem do
medo. Adão ficou consciente do pecado e o resultado foi
a vergonha. Tudo começa com a consciência de culpa.
Deus havia dito para Adão que, se ele comesse do
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele
morreria. Ele tinha acabado de comer e não tinha morrido
(pelo menos não fisicamente) então, Adão certamente con-
cluiu que Deus o mataria. Essa é a origem de todo medo.
A base do medo é o pensamento de que não somos
amados. É o pensamento de que precisamos primeiro mu-
dar, ser melhores, para só depois termos o amor de Deus.
Muitos vivem procurando conquistar o amor de
Deus fazendo coisas. Mas quanto mais fazem, mais
falham e então se sentem menos amados.
Consciência de pecado e vergonha são coisas si-
nônimas, mas o Senhor diz que no lugar da vergonha
haverá dupla honra (Is 61.7).

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

34
A raiz do medo
A vida de muitos cristãos é completamente cheia
de medos. Vivem atormentados com medo de Deus
não ouvir a sua oração.
Temos medo do amanhã porque tememos ser
abandonados.
Tememos o futuro porque pensamos que não
merecemos seu cuidado e amor.
Tememos os desafios da obra.
Temos medo de correr risco.
Temos medo de depender exclusivamente dele
e viver pela fé.
Todo medo é proveniente da falta de conheci-
mento do quanto somos amados.
O amor é definido no Novo Testamento não
como o nosso amor a Deus, mas o amor dele por nós.
Temos ouvido muitas pregações dizendo que temos
de amar a Deus. Mas como podemos fazer isso? Se
for apenas um mandamento, jamais conseguiremos
cumpri-lo. Ninguém jamais conseguiu cumprir a lei,
nem mesmo Davi cumpriu o primeiro mandamento.
Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos
amado a Deus, mas em que ele nos amou e en-
viou o seu Filho como propiciação pelos nossos
pecados. (1Jo 4.10)

As raízes do engano

35
Precisamos ter os olhos abertos para perceber
que o ponto central é o amor de Deus por nós e não
o nosso amor por ele. Nosso amor por ele será apenas
uma resposta do amor que recebemos. Quando en-
tendemos que somos amados, então nós o amamos.
A apóstolo João era o discípulo a quem Jesus
amava. O próprio apóstolo se identifica dessa forma
no seu evangelho.
Na última ceia, o Senhor disse que um deles o
trairia. Pedro representa aqueles que se apoiam em seu
próprio amor pelo Senhor, e rapidamente disse: “Por
ti darei a própria vida!”
Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-
-te agora? Por ti darei a própria vida. Respondeu
Jesus: Darás a vida por mim? Em verdade, em
verdade te digo que jamais cantará o galo antes
que me negues três vezes. (Jo 13.37,38)
João, porém, estava reclinado no peito do Senhor
e perguntou-lhe quem era o traidor:
Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus
discípulos, aquele a quem ele amava; a esse
fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta
a quem ele se refere. Então, aquele discípulo,
reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-
-lhe: Senhor, quem é? Respondeu Jesus: É aquele
a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou,
pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o
a Judas, filho de Simão Iscariotes. (Jo 13.23-26)

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

36
Somente João soube quem trairia Jesus. Aquele
que se gloriava no seu amor pelo Senhor pediu para
aquele que se gloriava em ser amado pelo Senhor. São
dois estilos de vida, dois tipos de ministério. No final,
João estava ao pé da cruz, mas Pedro negou Jesus.
Com qual deles gostaríamos de nos identificar?
Não confiamos em nosso próprio amor pelo Senhor,
mas descansamos no amor dele por nós. O nosso pró-
prio amor é lei, mas o amor dele é graça.
Por isso, precisamos entender a diferença entre
a lei e a graça. A lei condena o melhor de nós, mas a
graça perdoa o pior entre nós.
No monte Sinai, o Senhor mandou tirar as san-
dálias dos pés porque aquele era um lugar santo. Mas,
na parábola do filho pródigo, o pai mandou que se
colocassem as sandálias nos pés do filho que estava
perdido e foi achado.
Na parábola do filho pródigo, o pai nem mesmo
cumpriu a lei. Pela lei, ele deveria entregar o seu filho
rebelde aos anciãos para ser apedrejado. Mas, em vez
disso, ele correu, abraçou-o e o beijou.
Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde,
que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe
e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, seu pai
e sua mãe o pegarão, e o levarão aos anciãos da
cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é
rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz,
é dissoluto e beberrão. Então, todos os homens da

As raízes do engano

37
sua cidade o apedrejarão até que morra; assim,
eliminarás o mal do meio de ti; todo o Israel
ouvirá e temerá. (Dt 21.18-21)
Deus não quer nos condenar. Nós amamos sim-
plesmente porque somos amados.
Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no
Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segun-
do ele é, também nós somos neste mundo. No amor
não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele
que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos
porque ele nos amou primeiro. (1Jo 4.17-19)
Precisamos nos alimentar do amor de Cristo
todos os dias para vencermos todo medo. Só o amor
lança fora o medo.
No Velho Testamento, quando alguém ia oferecer
uma oferta pacífica, normalmente era um cordeiro.
Desse cordeiro eram separados o peito e a coxa, que
eram assados e dados ao sacerdote.
O peito era movido diante do Senhor e simboliza o
amor de Cristo. A coxa é a parte mais forte e representa
o poder de Cristo e deveria ser alçada diante de Deus.
Quando temos uma oferta movida e outra levantada,
temos a imagem da cruz (Nm 18.11,12; Lv 10.14).
Essa é a nossa comida pois somos os sacerdotes
do Novo Testamento. Nós somos esses sacerdotes e nos
alimentamos do peito, ou seja, do amor do Senhor, e

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

38
também da sua coxa, que é o seu poder. Amor e poder
são a nossa dieta espiritual e temos isso porque nos
alimentamos de Cristo.
Nós vencemos o diabo quando descansamos que
somos amados pelo Pai.
No dia do batismo, o céu se abriu para Jesus e
o Pai declarou: “Esse é meu filho amado, em quem
tenho todo o meu prazer!” Até esse momento, Jesus
não tinha feito coisa alguma, nenhum milagre, mas
ele já era amado. Assim como ele, nós não somos
amados porque fizemos algo, mas unicamente porque
somos filhos.
Logo em seguida, o Senhor é levado ao deserto
para ser tentado pelo diabo. Nesse ponto, o inimigo
diz: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães”. Veja que ele não disse: “Se você
é um filho amado de Deus, então manda...” Ele omitiu
o amado porque sabe que, quando entendemos que so-
mos amados, a tentação perde completamente o poder.
Você nunca saberá o quanto Deus o ama até você
entender o quanto o Pai ama a Cristo. Você precisa
entender o quanto Cristo é amado; mas, ainda assim,
Deus Pai o entregou para ter você. Esse é o quanto
você é amado. Deus entregou o que tinha de mais
precioso para ter você.
Por muito tempo, eu entendi o verso que diz
que a fé atua pelo amor como sendo o meu próprio

As raízes do engano

39
amor, mas na verdade se refere ao amor de Deus.
Quando entendemos que somos amados, a fé pode
fluir livremente.
Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem
a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que
atua pelo amor. (Gl 5.6)

A raiz da condenação
Depois de manifestar vergonha e medo, nós
percebemos a condenação em Adão. Quando nos
sentimos condenados, nós condenamos os outros.
Então, disse o homem: A mulher que me deste
por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.
(Gn 3.12)
A base da condenação é a consciência de si mesmo.
Não existe nada mais problemático do que ficar ocupa-
do consigo mesmo em todo o tempo. A introspecção
é um problema grave porque nos deixa bloqueados.
Uma vez que cedemos à vergonha e ao medo, nós
nos vemos enredados pela condenação e pela acusação.
Gosto sempre de meditar em como um israelita
oferecia o cordeiro como oferta pelo pecado. O ofer-
tante trazia o cordeiro ao tabernáculo e o apresenta-
va diante do sacerdote. O sacerdote então avaliava o
cordeiro. Veja bem que ele não avaliava o ofertante,
mas o cordeiro. Se o cordeiro fosse aceito, o ofertante
era aceito também.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

40
Depois disso o ofertante impunha as mãos sobre
o animal. Nesse momento duas coisas aconteciam:
os pecados do ofertante eram transferidos para o
cordeiro, e a justiça do cordeiro era transferida para
ele. Logo em seguida, o animal era morto. Quando o
cordeiro era imolado, todos os pecados do ofertante
eram perdoados. Ele ia embora completamente justo
diante de Deus.
Foi exatamente isso o que aconteceu na cruz. O
problema é que ainda pensamos que o Senhor está
nos avaliando para ver se podemos ser aceitos. Nada
pode estar mais distante da verdade. Ele sempre olha
para o Cordeiro, Jesus; e, se o Cordeiro é aceito, nós
somos aceitos também.
Não é uma questão do quão bom você é, mas
do quão bom é o Cordeiro. Os olhos de Deus estão
sobre o Cordeiro, e não sobre você. Se Jesus é o seu
Cordeiro, então fique em paz, você está perdoado.
O vencedor possui muitas características, segundo
o livro de Apocalipse, mas certamente a principal é que o
vencedor subjuga toda acusação e condenação do diabo.
Eles, pois, o venceram por causa do sangue do
Cordeiro e por causa da palavra do testemunho
que deram e, mesmo em face da morte, não ama-
ram a própria vida. (Ap 12.11)
Eles venceram quem? Os versos anteriores fazem
uma descrição do inimigo.

As raízes do engano

41
E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente,
que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo
o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com
ele, os seus anjos. Então, ouvi grande voz do céu,
proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o
reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo,
pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o
mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do
nosso Deus. (Ap 12.9,10)
Ele é chamado de antiga serpente que se tornou
um dragão. Depois de muitos séculos se alimentando
do pó da terra, ele cresceu. O pó da terra se refere à
carne do homem, que foi feito do barro.
Mas ele também se chama diabo e satanás. Diabo
significa adversário, e satanás significa acusador. Como
diabo, ele é o sedutor, mas como satanás, ele nos acusa
de dia e de noite.
Muito embora ele roube, seu nome não é ladrão.
Embora ele seja um assassino, seu nome não é assassi-
no. Seu nome é acusador porque todo o seu trabalho
procede do sentimento de condenação.
Culpa, condenação e acusação são aspectos de
uma mesma obra maligna. Essa é a obra do diabo. Ele
virá diversas vezes para fazer você se sentir culpado por
algo que pensou. Ele o fará se sentir culpado de seu
papel de pai. Ele o fará se sentir culpado como prove-
dor do lar, como membro do corpo de Cristo, como
líder. Ele o fará se sentir culpado até por ficar doente.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

42
É o diabo quem procura criar em nós o hábito
de sempre procurar um culpado. Se a reunião está pe-
sada, começamos a procurar um culpado. Se a igreja
enfrenta um problema, logo procuramos um “Acã”
que seja o culpado.
Em João 9, quando os discípulos encontraram
um cego à beira do caminho, eles perguntaram:
“Quem pecou? Ele ou os seus pais?” O Senhor ja-
mais age como condenador, por isso ele respondeu:
“Nenhum dos dois. Ele nasceu assim para que nele se
manifeste a glória de Deus!”
Quando houver um problema, simplesmente
enfrente-o. Não pergunte de quem é a culpa! Gostamos
de culpar nossos pais pelos mais diferentes problemas
que enfrentamos. Culpamos até nossos antepassados.
Precisamos aprender a lidar com os problemas da maneira
de Jesus. Não interessa quem é o culpado, esse problema
será uma oportunidade para Deus mostrar a sua glória.
Como podemos vencer a acusação e a condena-
ção? Em primeiro lugar, nós vencemos pelo sangue
do Cordeiro.
Estamos habituados a clamar pelo sangue como
um tipo de proteção contra todo tipo de ataque do
diabo. Não sou realmente contra isso, mas precisamos
reconhecer que não é essa a principal finalidade do
sangue de Jesus.
A principal razão de o sangue ter sido derramado
foi o perdão dos nossos pecados. O sangue nos oferece
proteção contra todo tipo de condenação. Quando

As raízes do engano

43
você entende que o sangue o fez justo e que todos os
seus pecados são perdoados, então você está protegido
contra a acusação.
A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o
deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; por-
que isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança,
derramado em favor de muitos, para remissão de
pecados. (Mt 26.27,28 – grifo do autor)
Quando você ouvir a voz do acusador, lembre-se
de que agora, pois, não há nenhuma condenação para
os que estão em Cristo Jesus. Agora não importa o que
o diabo condena em você, pois o sangue de Jesus foi
derramado para o perdão de todos os nossos pecados.
É por isso que Isaías 54 diz que nenhuma arma
forjada contra nós prosperará:
Toda arma forjada contra ti não prosperará;
toda língua que ousar contra ti em juízo, tu
a condenarás; esta é a herança dos servos do
SENHOR e o seu direito que de mim procede,
diz o SENHOR. (Is 54.17)
O diabo está sempre levantando a sua língua
contra nós em juízo, mas somos nós agora que o
condenamos quando confessamos o sangue de Jesus.
Essas são as três raízes profundas que o diabo usa
para nos atacar. A culpa, o medo e a condenação são a
raiz de todos os males que enfrentamos. Se aprender-
mos a removê-las, vamos desfrutar de vida abundante.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

44
Nenhuma condenação

O
sentimento de acusação está na origem de
todos os nossos problemas espirituais. O
inimigo é chamado de acusador de nossos
irmãos. Satanás significa acusador. Esse é o seu prin-
cipal trabalho.
Ele aponta as nossas faltas constantemente.
Quando fazemos algo certo, não é certo o suficiente.
Se fazemos algo bom, não é bom o suficiente. Se faze-
mos algo errado, ele nos lembra disso constantemente.
Ele é aquele que nos acusa de dia e de noite (Ap 12.10).
O seu alvo é trazer acusação na vida do crente
e, ainda assim, não ser detectado. Na verdade muitos
Nenhuma condenação

45
crentes confundem a acusação do diabo com o con-
vencimento do Espírito Santo.
Creio que o maior alvo do maligno seja nos
acusar e, mesmo assim, não ser detectado. As pessoas
se sentem mal e presumem que o Espírito Santo está
falando com elas. Pensam que se sentem mal para
aprender alguma lição espiritual.
A ação do diabo é sempre muito sutil, mas
hoje eu quero mostrar a diferença entre a sua ação
e a do Espírito Santo, e assim desmascarar toda a
obra do maligno.

O sentimento de acusação e
condenação
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os
que estão em Cristo Jesus. (Rm 8.1)
Romanos 8.1 é a porta de entrada para a vida
no Espírito. Agora não há mais separação entre Deus
e nós, não há mais nenhuma condenação sobre nós.
No capítulo 7, Paulo estava lutando com a lei.
Ele disse que a lei é santa; e o mandamento, santo, e
justo, e bom. Mas nós somos carnais. E quanto mais
tentamos cumprir a lei, mais o pecado se manifesta.
Não há nada de errado com a lei; mas, quando a lei
entra em contato com a carne, o resultado é pecado.
Deus não deu a lei para que o homem fizesse
o bem por meio dela. A lei não foi dada para poder

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

46
justificar o homem. Deus deu a lei para que pela lei
viesse o conhecimento do pecado (Rm 3.20). E o
que acontece quando você tem conhecimento do
pecado? Condenação.
É por isso que o diabo gosta de usar a lei, pois
por meio dela ele nos condena constantemente. Ele
usa a lei de Deus contra o povo de Deus. A lei é a base
de toda a sua acusação.
No dia em que Adão pecou, ele primeiro sentiu
vergonha e depois foi tomado de medo. Quando o
Senhor vem para ter comunhão com ele, Adão foge
com medo. Ele diz ao Senhor: “Ouvi a tua voz no
jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.
Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas
nu?” Em outras palavras, o Senhor perguntou: “Quem
te disse que você estava nu?”
Quem disse foi o diabo. Embora não seja declara-
do no texto, fica evidente que o Senhor está se referin-
do ao diabo. Uma vez que Adão quebrou a lei de não
comer do fruto da árvore do conhecimento, o inimigo
veio para lhe mostrar que ele agora era sujo, indigno,
nu e não podia mais ter comunhão com Deus.
No final, Deus disse que o homem teria que suar
para conseguir o alimento. Mas antes disso, o homem
ouviu a voz de Deus e se escondeu porque teve medo.
Antes disso ele viu que estava nu. Deus lhe perguntou:
“Quem te disse estavas nu?” Essa é uma referência

Nenhuma condenação

47
ao diabo. A primeira coisa que aconteceu depois do
pecado foi a acusação e condenação.
Tudo começa com a condenação. Uma vez que
há condenação, vem a vergonha e a culpa. Uma vez
que há culpa, surge o medo, e o medo vai gerar es-
tresse. E o estresse, por sua vez, vai gerar todo tipo de
doença e depressão.
A condenação é a raiz de onde se originam todos
os nossos problemas emocionais, físicos e espirituais.
Se subjugarmos a condenação, poderemos viver real-
mente como vencedores que reinam em vida.
Muitos pensam que o problema é o pecado, e o
pecado realmente é um problema, mas há algo mais
profundo que o pecado: a lei. Paulo diz enfaticamente
que a força do pecado é a lei:
O aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado é a lei. (1Co 15.56)
Se a consequência da lei é sempre a condenação,
isso significa que o sentimento de condenação e acu-
sação é que dá força ao pecado. Poderíamos dizer, em
outras palavras, que a força do pecado é a condenação.
Sempre que você ler sobre a lei no Novo
Testamento, você deve pensar em condenação. A lei
traz o conhecimento do pecado e, com o conheci-
mento, a condenação. Ser liberto da lei é ser livre de
toda condenação.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

48
Em 2 Coríntios 3.9, Paulo chama a lei de minis-
tério da condenação em oposição ao evangelho, que
é chamado de ministério da justiça. O ministério da
condenação sempre produz morte, mas a justiça de
Cristo traz vida.
Quando alguém realmente tem a revelação de
que não está mais debaixo de condenação, essa pes-
soa vence o pecado. Em João 8, o Senhor disse para
a mulher pega em adultério: “Nem eu tampouco te
condeno, vai e não peques mais”.
Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?
Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém,
Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco
te condeno; vai e não peques mais. (Jo 8.10,11)
A mulher só poderia cumprir a ordem de não
pecar mais porque tinha recebido o dom da não con-
denação. Quem se sente debaixo de condenação, está
condenado a repetir o pecado sempre.
Estar debaixo da lei é o mesmo que estar debai-
xo de condenação. Paulo disse que o pecado não terá
domínio sobre nós porque não estamos mais debaixo
da lei, ou seja, debaixo de condenação (Rm 6.14). E se
o pecado não tem domínio, então a pobreza não terá
domínio, a doença, a maldição e o diabo não terão mais
domínio sobre nós porque estamos debaixo da graça.
A lei significa receber o favor com a condi-
ção de obedecermos ao mandamento. Como não

Nenhuma condenação

49
obedecemos, o resultado da lei é sempre condenação.
Mas hoje estamos debaixo do favor imerecido, da
graça de Deus.
Há pessoas que pensam que, quando pregamos
sobre a não condenação, estamos fazendo Deus to-
lerante com o pecado. A verdade é exatamente o
oposto disso.
O motivo pelo qual não há condenação é porque
os nossos pecados foram todos condenados na cruz
do Calvário. Desde aquele pecado mais sutil que
ocorre em nossa mente, até aquele mais grotesco,
foram todos colocados sobre o Senhor Jesus na cruz.
Deus não ignorou nenhum deles.
O motivo de não termos condenação hoje é
justamente porque os nossos pecados já foram con-
denados no corpo de outro. Um mesmo crime não
pode ser punido duas vezes.
Romanos 8.1 não está baseado na misericórdia de
Deus, mas está baseado na sua justiça. Se o pecado já foi
condenado, então ele é justo em nos declarar inocentes.
O diabo não tem nenhum direito de nos condenar.
Eu sei que nós ainda pecamos, mas a resposta
a toda acusação e condenação é o sangue de Jesus.
A alma que pecar, essa morrerá, tal é o veredicto da
lei, mas o Senhor Jesus sofreu a punição da morte
por causa dos nossos pecados.

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

50
Como podemos perceber que estamos debaixo
de condenação?
a. Uma sensação constante de
incapacidade
Uma vez que alguém aceita as acusações de
Satanás, durante todo o tempo ele sentirá que está
errado. Quando se ajoelha para orar, ele pensa que
está errado e que Deus não ouvirá suas orações. Se
é convidado a falar na reunião, ele recusa porque
sempre pensa que não está qualificado. Ele nem
ousa pensar em liderar porque se sente muito inca-
paz. Durante todo o tempo, pondera quão mau e
indigno ele é. Vive consumido pelo sentimento de
incapacidade. Não existe nem um momento em que
não se lembre de sua indignidade.
Ninguém que aceite acusações pode permanecer
na posição do vencedor. Você deve rejeitar as acu-
sações infundadas e também aquelas que possuem
uma causa. Se você errou, precisa apenas do sangue
de Jesus e não de acusações.
b. Sempre procurando o culpado
Quem se sente debaixo de condenação, tenta
diminuir a sensação procurando culpados. Eles reco-
nhecem que erraram, mas isso nunca teria acontecido
se não fosse o fulano ou o beltrano que o levou a pecar.
Adão culpou a Deus pelo seu pecado, pois ele
disse: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu

Nenhuma condenação

51
da árvore, e eu comi”. Para Adão, Deus mesmo é o
culpado, pois foi ideia dele criar a mulher.

c. Escondendo-se de Deus
Quem vive debaixo de acusação está sempre se
escondendo para não ter de se envolver em nada na
vida da igreja. A maior causa de não termos mais lí-
deres é o espírito de acusação sobre os irmãos.

d. Sentimento de complacência e
passividade
Uma outra forma de aceitar acusação é a atitude
passiva de aceitar a condenação porque julgamos que
a merecemos.
Nunca permita que o diabo diga que você merece
essa doença, merece aquele problema, merece isso ou
aquilo porque você realmente pecou. Você pecou, mas
Jesus já sofreu a punição por esse pecado. Um mesmo
pecado não pode ser punido duas vezes. Se o Senhor
já foi punido, não precisamos mais receber nenhuma
condenação. Agora, pois, não há nenhuma conde-
nação, pois você foi declarado inocente, sem culpa.
Muitos pensam que o sofrimento de Jó durou a
vida toda, isso não é verdade. Os mestres na Palavra
dizem que não foram mais que nove meses.
A Bíblia nunca diz para se considerar o sofrimen-
to de Jó, mas sim o seu fim (Tg 5.11). Alguns dizem

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

52
que são como Jó, então estejam certos de serem aben-
çoados como foi Jó no final dos nove meses.
No capítulo 3.25, Jó diz:
Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio
me acontece.
Durante muito tempo eu tive medo de sentir
medo. E quanto mais medo eu tinha, mais medo eu
sentia de ter medo porque me foi dito que, quando
sentimos medo, atraímos a nós coisas ruins.
Mas a verdade é que o medo, como já menciona-
mos, possui uma raiz mais profunda, a condenação.
No capítulo primeiro, vemos Jó oferecendo sacrifícios,
mas por que ele os estava oferecendo? Ele temia que
talvez tivesse pecado:
Decorrido o turno de dias de seus banquetes, cha-
mava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de
madrugada e oferecia holocaustos segundo o número
de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os
meus filhos e blasfemado contra Deus em seu cora-
ção. Assim o fazia Jó continuamente. (Jó 1.5)
Jó vivia debaixo de acusação e medo. Podemos di-
zer que era o sentimento de condenação e acusação que
produzia o medo que, por sua vez, gerou todo tipo de
doença em Jó. Tudo isso evidentemente veio do maligno.
Precisamos sempre nos lembrar de que Deus não
é o nosso problema. Antes, é o acusador quem nos
importuna todo o tempo.

Nenhuma condenação

53
e. Autopunição
Uma outra forma de aceitarmos condenação é
punindo a nós mesmos. A autopunição é um tipo de
justiça própria. É uma forma de tentar pagar pelos
próprios pecados. Mas Cristo já pagou por cada um
deles em nosso lugar.
Judas puniu-se a si mesmo e nunca experimentou
o perdão de Cristo. Se tivesse procurado Jesus, ele o
teria visto na cruz, pagando pelo seu pecado. No en-
tanto, ele foi se enforcar para se redimir, mas ninguém
pode pagar a sua dívida diante de Deus.

f. Sentimento de inferioridade
Eventualmente o diabo procura disfarçar a acu-
sação com o sentimento de humildade cristã e, por
isso, muitos vivem debaixo de acusação, pensando que
isso é alguma virtude. Mas humildade não é ficar o
tempo todo olhando para si mesmo e se desqualifi-
cando. Humildade é contemplar o Senhor e se apegar
à sua Palavra.
Não creia nas acusações mais do que você crê
no sangue. Quando pecamos, desonramos a Deus;
mas, quando aceitamos acusações, desonramos muito
mais. É vergonhoso pecar, mas não crer no sangue é
mais vergonhoso ainda.
O sangue precioso de Jesus é a base da luta espiri-
tual. Se não sabemos o valor do sangue, não podemos

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

54
lutar. Não podemos vencer se temos uma consciência
cheia de culpa. Mas, para vencer todos os argumen-
tos do inimigo contra nós, precisamos apenas crer
no sangue. Quem aceita as acusações de satanás está
negando o poder do sangue da cruz.
Nós não vencemos por causa de nosso mérito e
nem porque temos crescido ou tido experiências; nós
vencemos por causa do sangue. Uma vez que você
aceita o sangue, o poder de satanás está anulado.

O testemunho do Espírito
Santo
O Espírito Santo é o selo de Deus em nós. Selo
significa segurança e garantia. Mas o Espírito Santo
também é testemunha. A testemunha é aquela que
fala do que tem visto e ouvido.
A maioria de nós pensa no Espírito Santo uni-
camente como poder de Deus. Então, para esses, a
comunhão com o Espírito é apenas para se ter poder
para pregar, expulsar demônios e curar enfermos.
No entanto, o Senhor Jesus disse que ele tinha
de ir para poder enviar-nos o Espírito, pois o Espírito
viria para convencer, testificar e testemunhar.
Jesus disse claramente que o Espírito Santo viria
para convencer e não para condenar. Se você sente
condenação, então não é obra do Espírito Santo. E
ele veio para nos convencer de quê?

Nenhuma condenação

55
a. Para convencer do pecado, da justiça
e do juízo
Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá,
porque, se eu não for, o Consolador não virá para
vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado,
da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem
em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não
me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste
mundo já está julgado. (Jo 16.7-11)
Em primeiro lugar, o Espírito convence do
pecado. Veja que é pecado no singular, indicando a
condição ou a natureza pecaminosa. Quando nós
ainda não somos convertidos, o Espírito Santo nos
convence de que somos pecadores e precisamos de
um Salvador.
Mas, depois que nos convertemos, Ele não fica
nos incomodando e perturbando, mostrando os nos-
sos pecados (no plural) o tempo todo.
Ninguém consegue viver com alguém que cons-
tantemente está apontando os seus pecados. É difícil
desfrutar da vida ao lado de um crítico que nos im-
portuna o tempo todo. Nós fugimos de amigos que
nos censuram e apontam nossos erros todo o tempo.
Na verdade nós nem nos aproximamos de tais pessoas.
Mas aqueles que conseguem ver em nós virtudes
que nem nós mesmos vemos, são os melhores amigos.
Seja livre do medo, da condenação e da culpa

56
Na verdade até nos apaixonamos por pessoas assim.
Somos atraídos por pessoas que acreditam em nós e
veem potencial em nós. Esse é o testificar do Espírito
Santo, nosso amigo.
Depois que nos convertemos, já não precisamos
ser convencidos do pecado, mas agora precisamos ser
convencidos de que somos justos em Cristo.
Jesus disse que o Espírito iria nos convencer da
justiça. Por que ele complementou com a expres-
são “[...] porque eu vou para o Pai, e não me vereis
mais”? Simplesmente porque, enquanto estava com
os discípulos, eles podiam ver a sua face amorosa e
seus olhos de aceitação.
Sabemos que o Senhor não aprova o pecado; mas,
quando os discípulos falhavam, eles podiam ver nos
olhos do Senhor o perdão e a aceitação.
Hoje, quando falhamos, como podemos saber
que ele ainda nos ama? É o Espírito Santo que nos
convence da justiça. A justiça do Novo Testamento
é a justiça de Cristo que nos foi dada pela graça por
meio da fé. Precisamos ser convencidos dessa justiça
frequentemente. Não vemos justiça em nós mesmos,
por isso precisamos que o Espírito testifique que somos
justos por causa de Cristo.
Por fim, o Senhor disse que o Espírito iria con-
vencer do juízo, porque o príncipe deste mundo já
está julgado. Veja que é o diabo que já está julgado

Nenhuma condenação

57
e condenado, não somos nós. O juízo é sobre o
príncipe deste mundo e não sobre nós. Precisamos
ser convencidos de que o diabo já está condenado e
debaixo de nossos pés.

b. Para testificar que somos filhos


Porque não recebestes o espírito de escravidão,
para viverdes, outra vez, atemorizados, mas re-
cebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica
com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
(Rm 8.15,16)
A palavra adoção aqui seria melhor traduzida
como “filiação”, pois recebemos o poder de sermos
feitos filhos de Deus.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos
que creem no seu nome. (Jo 1.12)
Portanto adoção aqui não significa aquela adoção
em que pessoas tomam filhos de outros para serem
seus próprios filhos.
Então o que é esse Espírito de adoção? É o pró-
prio Espírito Santo testificando que somos filhos.
Vamos imaginar que um homem muito rico resolveu
pegar uma criança de rua e fazer dela seu filho.
Esse homem rico alimenta aquela criança, veste-
-a de boas roupas, treina-a nas melhores escolas, mas

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

58
tem uma coisa que aquele homem não pode fazer. Se
o garoto tem um grande sentimento de inferioridade,
ele não se sentirá confortável na mansão, mas preferirá
ficar na rua.
O homem rico não pode colocar o espírito de
grandeza dentro do garoto. Mas Deus fez isso por nós.
Ele colocou o Espírito de filiação em nós e, por esse
Espírito, clamamos Aba!
Mas o Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus. O inimigo está constantemen-
te tentando impedir o testificar de que somos filhos,
porque filhos reinam. Servos não reinam, mas filhos,
sim. Ele quer nos manter debaixo de um espírito de
escravidão para vivermos atemorizados.

c. Para testemunhar que somos


perdoados
E disto nos dá testemunho também o Espírito
Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a alian-
ça que farei com eles, depois daqueles dias, diz
o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis
e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta:
Também de nenhum modo me lembrarei dos
seus pecados e das suas iniquidades, para sempre.
(Hb 10.15-17)
O Espírito Santo nos dá testemunho de que fo-
mos completamente perdoados. Aqui o testemunho
é para nós e não em nós.

Nenhuma condenação

59
Algumas pessoas ficam procurando sentir que
seus pecados foram perdoados, mas isso é um grande
erro. O Espírito Santo testemunha para nós, e não
em nós, que os nossos pecados foram perdoados.
Os nossos pecados foram todos cravados na cruz
de Cristo, por isso hoje o Espírito Santo testemu-
nha que ele não se lembra mais de nossos pecados.
Quem está testemunhando sobre o poder do perdão
da cruz não é homem e nem anjo, mas o próprio
Espírito Santo.
Se quisermos viver a vida plena e abundante que
o Senhor veio nos dar, precisamos vencer toda acu-
sação e condenação. Mas, para isso, evidentemente
não podemos confundir a acusação do maligno com
o convencimento do Espírito.
Paulo nos fala de uma diferença fundamental
em 2 Coríntios 7:
Porque a tristeza segundo Deus produz arrepen-
dimento para a salvação, que a ninguém traz
pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.
(2Co 7.10)
A obra do Espírito sempre gera vida, mas a voz
do diabo traz morte. Que o Espírito Santo encha a
sua vida do santo falar divino que o enche de vida!

Seja livre do medo, da condenação e da culpa

60
Sumário
1. O fluir do rio 7
2. A espada do espírito 17
3. A oração em línguas 27
4. O segredo da vida abundante 37
O que fazer quando não
sabemos o que fazer

V
ocê já esteve numa situação em que as circuns-
tâncias ao seu redor parecem completamente
sem esperança? Já se viu totalmente sobrecar-
regado e imobilizado diante de um desafio que você
não tem a menor ideia de como enfrentar? Esta era
exatamente a situação de Judá em 2 Crônicas 20. Eles
estavam cercados por três poderosos inimigos sedentos
de sangue. Tudo parecia demonstrar que eles teriam
um fim trágico.
Há momentos em nossa vida em que enfren-
tamos desafios simultaneamente vindos de todas as
O que fazer quando não sabemos o que fazer

7
direções. Talvez seja o desemprego que está ameaçando
destruir o seu casamento, ou uma enfeRmidade que o
definha lentamente, ou mesmo uma terrível opressão
na mente. Dia a dia, a sua situação parece ficar pior
apesar de todo o seu esforço.
Em tempos assim, o que fazer quando não sabe-
mos o que fazer? Eu creio que a resposta pode ser en-
contrada na narrativa da batalha de Josafá. Há muitos
princípios de fé nesse relato que podem fortalecer o
seu coração hoje. Quero mostrar sete coisas que Deus
nos diz no meio da batalha.
Então, veio o espírito do Senhor no meio da con-
gregação, sobre jaaziel, filho de zacarias, filho de
benaia, filho de jeiel, filho de matanias, levita,
dos filhos de asafe, e disse: dai ouvidos, todo o
Judá e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei
Josafá, ao que vos diz o Senhor. Não temais, nem
vos assusteis por causa desta grande multidão,
pois a peleja não é vossa, mas de Deus. Amanhã,
descereis contra eles; eis que sobem pela ladeira de
ziz; encontrá-los-eis no fim do vale, defronte do
deserto de Jeruel. Neste encontro, não tereis de pe-
lejar; tomai posição, ficai parados e vede o salva-
mento que o Senhor vos dará, ó Judá e Jerusalém.
Não temais, nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes
ao encontro, porque o Senhor é convosco. Então,
Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo
o Judá e os moradores de Jerusalém também
se prostraram perante o Senhor e o adoraram.
Dispuseram-se os levitas, dos filhos dos coatitas

O Evangelho da graça para viver no descanso

8
e dos coreítas, para louvarem o Senhor, Deus de
israel, em voz alta, sobremaneira. Pela manhã
cedo, se levantaram e saíram ao deserto de tecoa;
ao saírem eles, pôs-se Josafá em pé e disse: ouvi-
-me, ó Judá e vós, moradores de Jerusalém! Crede
no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede
nos seus profetas e prosperareis. (2Cr 20.14-20)

1. Não tenha medo


E disse: dai ouvidos, todo o Judá e vós, moradores
de Jerusalém, e tu, ó rei Josafá, ao que vos diz o
Senhor. Não temais, nem vos assusteis por causa
desta grande multidão, pois a peleja não é vossa,
mas de Deus. (2Cr 20.15)
“Não temais!” Esta é a primeira palavra que o
Senhor nos dá no meio da batalha.
Josafá não era alguém extraordinário; antes, era
uma pessoa comum como eu e você. Diante do ini-
migo, ele teve medo. Rejeite, portanto, a acusação de
que Deus não o ouvirá por causa do medo.
Mesmo com medo, a primeira coisa que Josafá
fez foi buscar o Senhor (2Cr 20.3). Em vez de se
afundar em pensamentos de derrota, decida buscar
o Senhor. Não alimente pensamentos de frustração
e desapontamento com o Senhor. Ele não é o autor
dos seus problemas. Ele é o autor da fé e da vitória.
Tudo bem em assumir que estamos com medo.
Não se sinta condenado por isso. No entanto, em vez
O que fazer quando não sabemos o que fazer

9
de falar do seu medo, Josafá declarou a grandeza e o
poder de Deus em sua oração (20.6). A palavra de
Deus na sua boca vai liberar fé no seu coração. Deus
faz com que todas as coisas cooperem para o seu bem
(Rm 8.28). Ele prepara uma mesa para você na pre-
sença dos seus adversários (Sl 23.5).
É noRmal sentiRmos medo, mas nessa hora
precisamos meditar no quanto somos amados, pois
o amor lança fora o medo (1Jo 4.18), O medo de
que Deus nos deixará sozinhos por causa de nossos
pecados. A esperança enche o seu coração quando
você crê que é amado pelo pai. Você pode ter a ex-
pectativa de que coisas tremendas e maravilhosas
virão por causa desse amor.
Não importa quão difíceis as circunstâncias pa-
reçam, coloque a sua confiança no Senhor. Você pode
esperar o melhor, porque ele não o trata com base no
seu merecimento, mas com base no favor e na graça.
Deus fala aos seus filhos muitas vezes na palavra, di-
zendo: “não temas” (is 41.10).
Porque eu, o Senhor, teu Deus, te tomo pela tua
mão direita e te digo: não temas, que eu te aju-
do. (Is 41.13)

Mas agora, assim diz o Senhor, que te criou, ó


jacó, e que te foRmou, ó israel: não temas, por-
que eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és
meu. (Is 43.1)

O Evangelho da graça para viver no descanso

10
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos conta-
dos. Não temais! Bem mais valeis do que muitos
pardais. (Lc 12.7)
Em Josué 1, por três vezes, o Senhor diz a Josué:
“não temas”. Creio que esse é o nosso maior desafio,
vencer o medo.

2. Não desanime
A segunda palavra do Senhor no meio da batalha
é: “não vos assusteis” (2Cr 20.15). O que significa
não se assustar? Significa não ficar estressado, não
ficar perturbado, não se angustiar e não se preocupar.
Não temas, porque eu sou contigo; não te assom-
bres, porque eu sou o teu Deus. (Is 41.10)
Muitos perdem a disposição por causa dos obs-
táculos e resistências do inimigo. Mas a palavra para
nós é: “tende bom ânimo”.
Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo
que, enquanto no corpo, estamos ausentes do
Senhor. (2Co 5.6)
Davi diz algo poderoso no salmo 118. Ele de-
clara que “melhor é buscar refúgio no Senhor do
que confiar no homem. Melhor é buscar refúgio no
Senhor do que confiar em príncipes. Todas as nações
me cercaram, mas em nome do Senhor as destruí (Sl
118.8-10). Por que ele tinha essa confiança? Basta ver

O que fazer quando não sabemos o que fazer

11
como ele começa e teRmina o salmo, tanto o primei-
ro como o último verso declaram: “rendei graças ao
Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia
dura para sempre”.
Quando você enche a sua mente da bondade do
Senhor e declara viver debaixo da sua graça, você tem
ânimo para enfrentar os inimigos.

3. A batalha não é sua


A terceira palavra do Senhor é fundamental: “[...]
Pois a peleja não é vossa, mas minha” (2Cr 20.15).
Hoje, o Senhor está dizendo as mesmas palavras
para você no meio do seu problema. Espere n'Ele,
pois ele te ama! Quando você sabe que a batalha
não é sua, você não precisa viver com medo e de-
sencorajamento. A batalha é do Senhor e nela não
precisaremos lutar. O jovem davi sabia disso, então
ele disse a golias:
Saberá toda esta multidão que o Senhor salva,
não com espada, nem com lança; porque do
Senhor é a guerra, e ele vos entregará nas nossas
mãos. (1Sm 17.47)
Moisés disse a mesma coisa aos filhos de israel
diante do exército de faraó.
Moisés, porém, respondeu ao povo: não temais;
aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que,
hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes,

O Evangelho da graça para viver no descanso

12
nunca mais os tornareis a ver. O Senhor pelejará
por vós, e vós vos calareis. (Êx 14.13-14)
É interessante lembrar que a palavra “salvação”
em hebraico é yeshua, que, na verdade, é o nome de
Jesus. Assim, a salvação é a pessoa de Jesus, e ele está
com você.
A maneira como o Senhor mandou que o povo
fosse para a guerra foi completamente estranha para
o homem natural. Ele mandou que os cantores esti-
vessem na linha de frente louvando ao Senhor. Isso
se parece mais com uma missão suicida do que uma
tática militar. Mas aquela não era uma batalha comum,
aquela batalha era do Senhor.
Diz a escritura que “tendo eles começado a cantar
e a dar louvores, pôs o Senhor emboscadas contra os
filhos de amom e de moabe e os do monte seir que vie-
ram contra Judá, e foram desbaratados” (2Cr 20.22).

4. Posicione-se
A quarta palavra é: “tomai posição”.
Neste encontro, não tereis de pelejar; tomai po-
sição, ficai parados e vede o salvamento que o
Senhor vos dará, ó Judá e Jerusalém. Não temais,
nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes ao encontro,
porque o Senhor é convosco (2Cr 20.17)
Nós nos posicionamos em fé. Gosto da ordem
dada no verso 20: “ouvi-me, ó Judá e vós, moradores de
O que fazer quando não sabemos o que fazer

13
Jerusalém! Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis segu-
ros; crede nos seus profetas e prosperareis” (2Cr 20.20).
Não seja como cego, que se debate sem saber para
onde ir, tentando resolver os problemas na sua própria
força. Deus não quer que você viva num estado cons-
tante de ansiedade, incerteza, estresse e medo. Creia
no Senhor! Creia nos homens do Senhor! Creia que
a batalha é do Senhor!
Muitos estão sofrendo porque não creem no
Senhor, não creem na sua palavra e nem em seus pro-
fetas. A crise deles é uma crise de fé. Mas quando nos
posicionamos em fé, nós vemos a vitória do Senhor
em nossa guerra.

5. Permaneça em sua posição


A quinta palavra do Senhor é: “fique parado”
(2Cr 20.17). O que você faz quando não sabe o que
fazer? A direção do Senhor é para ficar parado. Não
é uma postura passiva, mas uma atitude confiante de
que o Senhor é quem peleja por nós. Ficar parado é
o mesmo que Permanecer na posição mencionada
em efésios 6.
Portanto, tomai toda a aRmadura de Deus, para
que possais resistir no dia mau e, depois de terdes
vencido tudo, Permanecer inabaláveis. (Ef 6.13)
Nós ficamos parados no descanso da obra con-
sumada de cristo. O inimigo vai nos atacar com

O Evangelho da graça para viver no descanso

14
enfermidades, problemas financeiros, pessoas se levan-
tarão contra nós e teremos pressões de todos os lados,
mas ainda assim podemos ser inabaláveis em nossa fé
até ver todas as obras do diabo debaixo de nossos pés.
Sem o sentar no descanso na obra consumada,
não temos como enfrentar o inimigo. Só podemos
permanecer numa posição inabalável quando entende-
mos que a batalha é do Senhor. Ele vai pelejar por nós.
Permanecer significa estar firme numa posição
de vitória. O inimigo está tentando tirar a bênção,
a cura, a prosperidade, a glória, mas você simples-
mente peRmanece no terreno firme da vitória já
conquistada na cruz.
Não oramos para alcançar uma posição de vi-
tória, nós já estamos nessa posição. Não oramos por
vitória, mas nós oramos na posição de vencedor. Já
vencemos, por isso permanecemos.
Alguns oram para ficar mais perto de Deus,
mas nós oramos porque já fomos aproximados pelo
sangue. Alguns clamam para que Deus venha, mas
nós sabemos que ele já habita em nós. Mude a sua
abordagem e perspectiva. Permaneça na posição em
que cristo nos conquistou.

6. Veja o salvamento de Deus


A sexta palavra do Senhor no meio da luta é:
“veja a salvação do Senhor” (2Cr 20.17).

O que fazer quando não sabemos o que fazer

15
Milagres vão começar a acontecer. Deus está
operando por amor do seu nome. Não estamos en-
volvidos numa obra humana. Quem luta contra nós
luta contra o rei.
Judá não levantou uma única espada naquele dia,
mas eles venceram a batalha. Na verdade, a batalha foi
vencida antes mesmo de chegarem ao palco da guerra.
Quando eles começaram a cantar louvores, o Senhor
colocou a emboscada diante dos inimigos.
Sempre que prego essa palavra, gosto de mostrar o
poder do louvor, mas hoje quero mostrar que as palavras
usadas no louvor são até mesmo mais importantes. Em
tempos de grande aflição e tribulação, como podemos
manter uma fé que espera ver a ação poderosa do Senhor?
A palavras que eles cantaram ao Senhor naquele
dia foram: “rendei graças ao Senhor, porque a sua mise-
ricórdia dura para sempre” (2Cr 20.21). Este é o louvor
usado não apenas no livro de salmos, mas em muitos
momentos cruciais da história do povo de israel. Foi
esta a primeira canção cantada no tabernáculo de davi
(1cr 16.7,34). Também foi esta a ministração no dia
da dedicação do templo (2Cr 7.3).
Eu creio que há algo de especial nessas duas simples
frases. Eu creio que o Senhor deseja que repitamos essa
canção sempre que passaRmos por uma tribulação.
Muitos estão se debatendo porque não creem que
o Senhor é bom e sua misericórdia dura para sempre.
A palavra “misericórdia” é hesed em hebraico e ela é

O Evangelho da graça para viver no descanso

16
usada para traduzir a palavra “graça” no novo testa-
mento em hebraico.
Não importa quantas vezes você tem trope-
çado no pecado e nem se a situação que você está
enfrentando é culpa de suas próprias escolhas. Você
consegue declarar que a misericórdia do Senhor dura
para sempre?
Enquanto você estiver ministrando, o Senhor vai
perseguir os seus inimigos. Você apenas verá o salva-
mento do Senhor.

7. Enfrente o inimigo com


confiança
A sétima palavra do Senhor é: “amanhã saí-
-lhes ao encontro, porque o Senhor é convosco”
(2Cr 20.17).
Não devemos ser pretensiosos ou arrogantes,
mas podemos estar confiantes e seguros. Por quê?
Porque ele está conosco. O nome do Senhor é ema-
nuel, Deus conosco.
O povo precisou de três dias para pegar todos os
despojos da batalha. Havia uma grande abundância
de riqueza (20.25). No quarto dia, eles se reuniram
no “vale da bênção” e ali adoraram o Senhor (20.26).
No futuro, você vai se lembrar desse tempo não como
dias de luta, mas como o tempo da bênção.

O que fazer quando não sabemos o que fazer

17
Existem mais de sete mil promessas de Deus em
toda a bíblia. E quando o Senhor fala conosco, a sua
palavra não pode voltar vazia.
Assim será a palavra que sair da minha boca:
não voltará para mim vazia, mas fará o que me
apraz e prosperará naquilo para que a designei.
(Is 55.11)
Deus nos fala poderosamente essas sete coisas no
meio de nossas batalhas.

O Evangelho da graça para viver no descanso

18
Você quer amar a vida
e ver dias felizes?

Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes


refreie a língua do mal e evite que os seus lábios
falem dolosamente; aparte-se do mal, pratique
o que é bom, busque a paz e empenhe-se por
alcançá-la. Porque os olhos do senhor repousam
sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às
suas súplicas, mas o rosto do senhor está contra
aqueles que praticam males. (1Pe 3.10-12)

A
Mar a vida e desejar viver dias felizes nem
sempre são considerados anseios legítimos
entre os cristãos. Lamentavelmente, muitas
pessoas alimentam ideias erradas a respeito de Deus.
Você quer amar a vida e ver dias felizes?

19
Acreditam, por exemplo, que ele deseja enviar doenças
e enfeRmidades ao seu povo. Um Deus que manda
doenças certamente não quer que amemos a vida ou
tenhamos dias felizes.
Mas glória a Deus porque isso não é verdade. Se
fosse assim, teríamos de concluir que todo médico está
quebrando a lei, todo hospital é uma casa de rebelião
contra Deus e toda enfeRmeira trabalha para o anti-
cristo. Tais pessoas pregam que a doença traz glória
para Deus, mas elas mesmas não estão querendo que
Deus seja glorificado na vida delas dessa foRma.
A verdade é que não é da vontade Deus que viva-
mos doentes e nem necessitados. O senhor jesus curou
todos os enfeRmos que vieram a ele, mas nem uma
única vez ele enviou doença sobre alguém. A vontade
de Deus é que amemos a vida e tenhamos dias felizes.
No céu, não haverá enfeRmos e nem hospitais,
por isso o senhor jesus ensinou que devemos orar para
que a vontade de Deus seja feita na terra assim como
é no céu. A vontade de Deus é que amemos a vida e
desfrutemos de dias felizes.
Aqueles dias em que nem conseguimos levantar
da cama não são dias felizes. Aqueles dias em que dis-
cutimos com o nosso cônjuge e choramos sozinhos
não são bons dias. Aqueles dias em que não temos
o suficiente para pagar nossas despesas não são dias
felizes. Uma vida assim não dá para ser amada. Mas
pedro diz que podemos amar a vida e ver dias felizes.

O Evangelho da graça para viver no descanso

20
É muito bom acordar de manhã e poder dizer: “eu
amo estar vivo! Eu amo esta vida!” Infelizmente, muitos
acreditam que a vida cristã é uma vida de sofrimento
e privação, sem prazer ou alegria. Mas é o contrário
disso. Na presença do senhor, há plenitude de alegria.

Você pode esperar ser feliz


Querer ver dias felizes não é um mero otimismo,
mas uma forte expectativa de que bons dias virão. A
esperança bíblica não é como a esperança no mundo.
No mundo, há apenas um otimismo ou pensamento
positivo, mas a esperança bíblica está baseada na fide-
lidade de Deus. O mundo consegue no máximo ter
pensamento positivo, mas nós confiamos na promessa
da palavra de Deus.
A esperança bíblica é a elpis no grego, que sig-
nifica “uma forte expectativa de que um futuro bom
realmente acontecerá”. E acontecerá por que sabemos
e cremos que somos amados pelo pai.
O mundo sempre diz que não devemos ter uma
expectativa muito grande, mas o pai nos desafia a ter
grandes expectativas confiados n’Ele. O mundo teme
ficar desapontado, mas os que confiam no senhor são
cheios de uma expectativa positiva sobre o futuro.
Precisamos ter em nossa mente o quadro do futuro
que desejamos para nós. Você pode esperar coisas boas
porque cristo se tornou o que você era para que você

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

21
se torne o que ele é. Ele recebeu o que você merecia
para que hoje você receba o que ele merece. Ele merece
saúde? Merece prosperidade e sucesso? Merece paz e
alegria? Merece ser feliz? Então, é isso que você receberá.
Se a sua postura é de dúvida, você não terá coisa
alguma. Não diga: “quem sabe, talvez Deus faça”.
Antes, tenha completa clareza da grande troca do
calvário e do amor de Deus por você.
Pensamento positivo não funciona, pela simples
razão de que todo homem possui uma consciência
dentro de si. E em algum momento, essa consciência
perguntará: “com base em que você pensa que terá um
futuro melhor? Você tem feito muitas coisas erradas.
O que o faz pensar que merece ser feliz?”
O mundo não possui resposta para essa questão,
mas nós conhecemos a troca do calvário. O senhor
tomou o que eu merecia para que eu receba o que
ele merece. Quando confiamos no sangue de jesus,
o nosso passado é apagado e o nosso futuro torna-se
brilhante. Porque não temos mais passado é que po-
demos ter uma grande expectativa do futuro.
Muitos não conseguem ter esperança por cau-
sa do medo da condenação e da ira de Deus. Mas a
verdade é que sobre nós não há mais condenação, e o
senhor jurou que não mais se iraria contra nós.
Porque isto é para mim como as águas de noé; pois
jurei que as águas de noé não mais inundariam a
terra, e assim jurei que não mais me iraria contra
ti, nem te repreenderia. (Is 54.9)

O Evangelho da graça para viver no descanso

22
Outro dia, ouvi alguém dizer: “quero tudo o que
mereço nesta vida. Eu posso ganhar meu próprio di-
nheiro e fazer a minha própria vida”. Isso é soberba
e justiça própria. Eu não quero o que eu mereço, eu
quero o que cristo merece.
A nossa expectativa não é baseada em algo vago
e nem é um tipo de salto no escuro, mas está fiRma-
da na fidelidade de Deus em sua aliança. O senhor se
comprometeu a nos dar um grande futuro por causa
da nova aliança.
Farei com eles aliança eterna, segundo a qual
não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu
temor no seu coração, para que nunca se apartem
de mim. (Jr 32.40)
Deus tem prazer em nos prosperar e nos dar
dias felizes.
Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer
na minha retidão; e digam sempre: glorificado
seja o senhor, que se compraz na prosperidade do
seu servo! (Sl 35.27)

Ele se alegra em nos dar coisas boas, pois se nós,


sendo maus, sabemos dar coisas boas a nossos
filhos, muito mais o pai (Mt 7.9-11).
Deus quer que seus parentes e amigos vejam o
quanto ele o tem abençoado para que o nome d’ele seja
glorificado. É surpreendente, mas a bênção de Deus
sobre nós vai produzir temor nos outros.

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

23
Jerusalém me servirá por nome, por louvor e
glória, entre todas as nações da terra que ouvi-
rem todo o bem que eu lhe faço; espantar-se-ão e
tremerão por causa de todo o bem e por causa de
toda a paz que eu lhe dou. (Jr 33.9)
A razão pela qual podemos ter uma forte expec-
tativa de um futuro bom é porque o amor de Deus
foi derramado em nosso coração. Quanto mais me-
ditamos no quanto somos amados, maior expectativa
temos. Mas no momento em que pensamos que a sua
ira virá sobre nós, perdemos a bênção da esperança.
Ora, a esperança não confunde, porque o amor de
Deus é derramado em nosso coração pelo espírito
santo, que nos foi outorgado. (Rm 5.5)
E como podemos amar a vida e ver dias felizes?
Pedro nos dá a resposta. A palavra de Deus é a reve-
lação da sua vontade, e o plano de Deus para nós é
que tenhamos o tipo de vida que ele sonhou para nós.

Refreie a sua língua do mal


O conceito comum é que refrear a língua do mal é
não falar obscenidades e vulgaridades. Evidentemente,
não vamos falar tais tipos de palavras, mas creio que
pedro está falando de algo mais profundo. Quando o
povo de israel estava para entrar em canaã, eles ouvi-
ram o relatório dos espias que falaram coisas ruins a
respeito da terra prometida.

O Evangelho da graça para viver no descanso

24
E, diante dos filhos de israel, infamaram a terra
que haviam espiado, dizendo: a terra pelo meio
da qual passamos a espiar é terra que devora os
seus moradores; e todo o povo que vimos nela são
homens de grande estatura. (Nm 13.32)
Falar mal é falar com incredulidade, falar de
foRma negativa, falar o oposto do que Deus disse.
Deus disse que era uma terra que manava leite e mel,
mas eles disserem que era uma terra que devorava os
seus moradores.
Cada vez que você fala de si mesmo algo diferente
do que Deus diz em sua palavra, você está falando mal.
Tão-somente não sejais rebeldes contra o senhor e
não temais o povo dessa terra, porquanto, como
pão, os podemos devorar; retirou-se deles o seu am-
paro; o senhor é conosco; não os temais. (Nm 14.9)
Os outros espias disseram que eles eram como
gafanhotos diante dos gigantes, afiRmaram que a
terra devorava os seus moradores, mas josué e calebe
disseram que os gigantes é que seriam pão para eles.
É interessante que a palavra refaim no hebraico
significa “cura ou vigor” no plural. Quando devora-
mos os nossos gigantes, nós ganhamos mais cura, mas
quando pensamos que a promessa de Deus é que nos
devora, então caímos enfeRmos.
E quando calebe entrou em canaã, ele disse que se
sentia tão jovem quanto quarenta anos antes. Depois

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

25
disso, ele pediu que josué lhe desse hebrom como
herança. E hebrom estava infestada de gigantes. Ele
sabia qual era o segredo da sua longevidade.
Creio que é por essa razão que paulo diz, em ro-
manos 5, que nos gloriamos nas próprias tribulações.
Ele sabia que elas são alimento espiritual.
Você está em cristo. Hoje, Deus não olha para
você, mas olha para cristo como seu representante.
Pois, assim como ele é, nós somos neste mundo. A
questão já não é: “será que estou agradando a Deus?”
Mas a questão é: “cristo está agradando a Deus?” O
senhor jesus veio para se tornar como você na cruz,
para que hoje você seja como ele diante de Deus.
Um grande problema é tentar se relacionar com
Deus baseado no seu próprio eu. Você olha o que
deveria ser e, como não consegue ser, então fica depri-
mido. É daí que vem todo estresse e cansaço da alma.
Quanto mais ocupado pensando em si mesmo, mais
angústia sentimos, mas quanto mais ocupado olhando
para cristo, mais liberdade experimentamos.
Provérbios 18.21 Diz que na sua boca está o poder
da vida e da morte. Você vai ter vida ou morte, tudo
depende daquilo que você diz. Você vai ou não amar
a vida, tudo depende do que você confessa. Você pode
abrir a sua boca e liberar a palavra para ver dias felizes.
Você pode fazer isso porque é filho. Como fi-
lho, você recebeu autoridade para mandar que as

O Evangelho da graça para viver no descanso

26
montanhas se lancem no mar, você tem autoridade.
Você nunca alcançará o palácio falando como campo-
nês. É hora de mudar sua postura. Você tem a iden-
tidade de filho de Deus. Veja-se como filho de Deus.
Ande como filho de Deus. O mundo espiritual vai
respeitá-lo se você respeitar o que Deus diz a seu res-
peito. O diabo vai respeitá-lo quando você concordar
com o que Deus diz a seu respeito.

Aparte-se do mal
Eu gosto sempre de dizer que não há nada bom
que eu possa fazer para Deus me amar mais. E também
não há nada errado que eu venha a fazer que o faça
me amar menos. Entretanto, eu preciso dizer ainda
outra verdade: depende de mim o fato de Deus estar
satisfeito comigo ou não. Minhas filhas aprenderam
isso bem cedo. Uma coisa é o meu amor por elas, ou-
tra coisa a minha satisfação com elas. Muitas pessoas
presumem que uma vez que Deus as ama, ele está
satisfeito com elas.
É por isso que também nos esforçamos, quer pre-
sentes, quer ausentes, para lhe seRmos agradáveis.
(2Co 5.9)
Muitas vezes, quando as pessoas entendem as
boas novas do evangelho, elas concluem que agora
seu estilo de vida não importa mais. É verdade que o
nosso estilo de vida não vai deteRminar se Deus nos

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

27
ama ou não, mas o nosso estilo de vida ainda é im-
portante. Lembre-se de que, mesmo que ele nos ame,
ele pode não estar satisfeito conosco.
A vontade de Deus é que nos apartemos do mal
para o nosso próprio bem. O pecado tem consequ-
ências que fazem com que não amemos a vida. O pe-
cado nos faz perder a alegria de viver. E nós podemos
dizer não ao pecado porque temos provado da graça
de Deus. Quando provamos da graça de Deus, nós
espontaneamente nos apartamos do mal e do pecado
porque desejamos agradá-lo.
Porque o pecado não terá domínio sobre vós;
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.
(Rm 6.14)

A palavra de Deus diz que aqueles que receberam


a graça já não estão debaixo do domínio do pecado.
Um grande sinal de que alguém provou da graça é que
ele tem vitória sobre o pecado.
Mas como a graça pode nos ajudar a vencer o
pecado? Simplesmente porque, quando sabemos que
fomos perdoados, somos conquistados pelo amor de
Deus, e isso nos afasta do pecado. Quanto mais nos
sentimos amados, mais nos afastamos do pecado e
procuramos agradar a Deus. É um fato da vida que
filhos que se sentem amados serão mais obedientes
que filhos que não se sentem amados.

O Evangelho da graça para viver no descanso

28
Busque a paz
Existe uma paz que temos para com Deus. Essa
paz não precisamos buscar porque já a temos, pois
fomos justificados (Rm 5.1). Mas há uma paz que é o
descanso. Esta precisamos buscar. A paz e o descanso é
a canaã do novo testamento. Isso está claro em hebreus
4. A escritura nos adverte que o povo de israel não
entrou no descanso de canaã, e hoje precisamos entrar
no descanso da vida em cristo. Na verdade, precisa-
mos nos esforçar para entrar no descanso (Hb 4.11).
Quando Deus livrou o povo de israel da escra-
vidão do egito e os conduziu a canaã, ele fez questão
de mencionar que o povo não precisaria fazer coisa
alguma. Eles entrariam em casas que não tinham cons-
truído, poços que não tinham cavado e plantações que
não tinham semeado. Eles participariam da bênção da
obra completa de Deus.
Havendo-te, pois, o senhor, teu Deus, introduzi-
do na terra que, sob juramento, prometeu a teus
pais, abraão, isaque e jacó, te daria, grandes e
boas cidades, que tu não edificaste; e casas cheias
de tudo o que é bom, casas que não encheste; e
poços abertos, que não abriste; vinhais e olivais,
que não plantaste. (Dt 6.10-11)

O mesmo princípio se aplica à obra de cristo.


Se adão já recebeu o jardim pronto e o povo de israel

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

29
herdou uma nação pronta, nós também recebemos
uma salvação completa.
Temos salvação quando descansamos no que
Deus fez por meio de cristo. A maior de todas as
bênçãos que recebemos é a salvação, e ela é recebida
quando descansamos. Se a salvação é recebida assim,
por que as outras bênçãos nos seriam dadas de outra
foRma? Todas as bênçãos são recebidas pelo descanso
da fé. Deus deseja que vivamos no descanso porque
a fé é o descanso.
No salmo 23, a primeira coisa que o senhor faz é
nos levar para repousar em pastos verdejantes e descan-
sar junto das águas tranquilas. Assim, a primeira con-
dição para teRmos a provisão de Deus é o descanso.
O suprimento só flui quando descansamos em Deus.
O senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele
me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me
para junto das águas de descanso. (Sl 23.1-2)
Podemos ver o mesmo princípio no salmo 91.
Todas as bênçãos que o salmista descreve estão dispo-
níveis somente para aquele que está descansando na
sombra do onipotente.
O que habita no esconderijo do altíssimo e des-
cansa à sombra do onipotente. (Sl 91.1)
O suprimento de Deus está disponível para
aquele que descansa no seu poder. O poder de Deus

O Evangelho da graça para viver no descanso

30
é liberado quando entramos no descanso. O descanso
é a expressão mais poderosa de fé.
Porque assim diz o senhor Deus, o santo de israel:
em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa
salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vos-
sa força, mas não o quisestes. (Is 30.15)
A prosperidade e o sucesso vêm quando temos
grandes ideias, e as novas ideias fluem quando estamos
relaxados. A visão e os sonhos se renovam quando
entramos no descanso.
Em Êxodo 17, amaleque veio guerrear contra
israel em refidim. A palavra refidim significa “lugar
de descanso”. Amaleque sempre vem para lutar contra
você no seu lugar de descanso. A palavra amaleque
vem de outra palavra hebraica amal, que significa
“dor, fardo pesado e trabalho árduo”. Veja que isso é
exatamente o oposto de descanso.
Deus disse que haveria guerra peRmanente
contra amaleque. Isso significa que esta é a única
guerra para a qual somos chamados: a guerra do
descanso. É a guerra para vencer a tentação de fazer
as coisas em nossa própria força sem depender do
poder de Deus.
Nós devemos, sim, lutar pelas almas dos homens,
por nossa casa, nossa família, nossos filhos e cônjuge,
mas essa luta precisa ser no descanso de quem sabe
que a obra já foi completada.

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

31
Em Mateus 12.43, Jesus disse que, quando um
demônio sai de uma pessoa, ele procura um lugar
para descansar. Isso significa que o diabo não tem
descanso e seu alvo é fazer com que vivamos também
sem descanso, em preocupação, medo e angústia o
tempo todo. Mas quando entramos no descanso, nós
retiramos todo espaço do diabo em nós. O inimigo
não pode entrar onde existe o descanso de Deus.

Porque os olhos do senhor


repousam sobre os justos
Quem são os justos do novo testamento? Não são
aqueles que obedecem aos mandamentos da lei, mas
aqueles que receberam o dom da justiça. A justiça na
nova aliança é um dom que recebemos de Deus. Não
vem de nossas obras, mas da fé.
Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou
a morte, muito mais os que recebem a abundân-
cia da graça e o dom da justiça reinarão em vida
por meio de um só, a saber, jesus cristo. (Rm 5.17)
A nossa justiça é um dom de Deus. Você foi
feito tão justo como jesus, não por meio do seu
comportamento, mas pela fé n’ele e em sua obra
consumada na cruz.
Seu direito de ser justo foi comprado pelo sangue
de jesus. Mas muitos crentes ainda vivem debaixo de
condenação e acusação. Não podemos amar a vida se

O Evangelho da graça para viver no descanso

32
estamos sempre sentindo condenação e acusação em
nossa mente. Também não temos como esperar viver
dias felizes se estamos sempre com a expectativa de
que coisas ruins vão acontecer conosco por causa de
nossos pecados. Quando, porém, entendemos que
fomos completamente perdoados e feitos justos diante
de Deus, já não tememos o futuro, mas cremos que
Deus nos ama e está preparando coisas boas para nós.
Pedro diz que os olhos do senhor repousam so-
bre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas
súplicas. Se Deus ouve nossas orações, então podemos
ter certeza que amaremos a vida e teremos dias felizes.
A razão por que muitos crentes vivem uma vida
infeliz e nem mesmo amam a vida é porque acredi-
tam na mentira de que Deus está zangado com eles.
Estão sempre com a sensação de que não fizeram o
suficiente e se sentem sempre em falta. Por causa disso,
vivem uma vida que, na verdade, não amam. Num
momento, eles pregam que Deus cura, mas em outro
declaram que Deus lhes mandou uma doença para
ensinar-lhes uma lição. Num momento, Deus os faz
prosperar, em outro lhes dá pobreza para aprenderem
a humildade. Num momento, ele perdoa os meus pe-
cados, mas depois eu sou responsável por todos eles.
A verdade é que algumas vezes creem que ele os ama,
mas quase sempre sentem que Deus está zangado com
eles. Simplesmente não dá para amar a vida e ver dias
felizes vivendo desse jeito.

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

33
Por causa da obra consumada de jesus, a ira de
Deus não pode mais estar sobre nós. Toda a ira de
Deus por causa do pecado caiu sobre o senhor jesus
na cruz. Se toda a ira já caiu sobre jesus, então ele não
pode estar irado conosco. Não estamos mais debaixo
da velha aliança segundo a qual Deus às vezes estava
feliz com você e às vezes estava zangado. Hoje, ele tem
total prazer em você por causa de jesus.
Não há nada que você possa fazer para Deus
amá-lo mais e não há nada que você faça que o leve
a amá-lo menos.

Promessas aos justos


Você pode se apropriar das promessas feitas aos
justos. No livro de provérbios, temos muitas delas.
Lembre-se de que hoje você é justo porque recebeu
a justiça de cristo. Você é justiça de Deus em cristo.
A maldição do senhor habita na casa do perverso,
porém a morada dos justos ele abençoa. (Pv 3.33)

Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora,


que vai brilhando mais e mais até ser dia per-
feito. (Pv 4.18)

O senhor não deixa ter fome o justo, mas rechaça


a avidez dos perversos. (Pv 10.3)

Sobre a cabeça do justo há bênçãos, mas na boca


dos perversos mora a violência. (Pv 10.6)

O Evangelho da graça para viver no descanso

34
A memória do justo é abençoada, mas o nome
dos perversos cai em podridão. (Pv 10.7)

A boca do justo é manancial de vida, mas na


boca dos perversos mora a violência. (Pv 10.11)

Aquilo que teme o perverso, isso lhe sobrevém,


mas o anelo dos justos Deus o cumpre. (Pv 10.24)

A obra do justo conduz à vida, e o rendimento


do perverso, ao pecado. (Pv 10.16)

Como passa a tempestade, assim desaparece o


perverso, mas o justo tem perpétuo fundamento.
(Pv 10.25)

O justo jamais será abalado, mas os perversos não


habitarão a terra. (Pv 10.30)

O justo é libertado da angústia, e o perverso a


recebe em seu lugar. (Pv 11.8)

O mau, é evidente, não ficará sem castigo, mas


a geração dos justos é livre. (Pv 11.21)

Quem confia nas suas riquezas cairá, mas os


justos reverdecerão como a folhagem. (Pv 11.28)

O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha


almas é sábio. (Pv 11.30)

Pela transgressão dos lábios o mau se enlaça, mas


o justo sairá da angústia. (Pv 12.13)

Você quer amar a vida e ver dias felizes?

35
O homem de bem deixa herança aos filhos de seus
filhos, mas a riqueza do pecador é depositada
para o justo. (Pv 13.22)

Na casa do justo há grande tesouro, mas na renda


dos perversos há perturbação. (Pv 15.6)

O senhor está longe dos perversos, mas atende à


oração dos justos. (Pv 15.29)

Porque sete vezes cairá o justo e se levantará;


mas os perversos são derribados pela calamida-
de. (Pv 24.16)
Você talvez pense que essas promessas são para
aqueles que se consideram justos pelas obras da lei.
Mas eclesiastes diz que não há justos segundo a lei.
Somente aqueles que foram lavados pelo sangue do
cordeiro podem desfrutar da bênção do justo.
Não há homem justo sobre a terra que faça o bem
e que não peque. (Ec 7.20)

O Evangelho da graça para viver no descanso

36
Creia e confesse

E
xiste algo que somente os filhos de deus possuem:
a fé segundo deus. Sem fé é impossível agradar
a deus. Aquele que crê atrai a atenção do senhor
sobre si. É claro que a santidade também agrada ao se-
nhor, mas nada o atrai como a fé. Na verdade, a fé é um
tipo especial de santidade. Aquela mulher que sofria de
fluxo quebrou a lei ao tocar nas vestes do senhor. Pela
lei, ela não podia tocar em ninguém, mas, mesmo assim,
a fé daquela mulher fez o senhor parar toda a multidão.
A fé é a coisa mais importante aos olhos de deus.
Na esfera do espírito, a fé simplesmente destrói as
obras do diabo, por isso ele sempre tenta nos manter
na esfera dos sentidos. Muitos somente dão atenção
Creia e confesse

37
ao que veem, ouvem e sentem. Enquanto você per-
manece na esfera da fé, você é vencedor, mas quando
o inimigo consegue mantê-lo na esfera dos cinco sen-
tidos, você é derrotado.
Não ensinamos fé da forma como o faz a nova
era. Eles ensinam que o importante é ter fé, não impor-
tando em quê. Acreditam na força da fé por si mesma.
É um tipo de autossugestão. Mas isso é absolutamente
falso. É vital saber em quem você crê.
Também é importante dizer que exercitar fé é
muito mais simples do que a maioria dos crentes pen-
sa. A primeira coisa que precisamos saber sobre fé é
que ela opera por meio de nossas palavras.

A fé é um espírito
Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está
escrito: eu cri; por isso, é que falei. Também nós
cremos; por isso, também falamos.II Cor. 4:13.
Veja que a fé não é questão de fórmula, mas de
espírito. Paulo diz que temos o mesmo espírito de fé
de abraão, moisés ou davi. Sendo a fé um espírito,
ela é contagiosa e por isso pode se espalhar. Quando
temos alguém na célula cheio de fé, toda a atmosfera
da reunião é saturada de fé. No mesmo princípio,
quando alguém aparece dizendo as dEz razões porque
ele não pode fazer algo, o espírito de incredulidade se
espalha por todo o ambiente, porque a fé é um espírito.

O Evangelho da graça para viver no descanso

38
Você deve se lembrar do dia em que os doze espias
foram enviados para espiar a terra de canaã. Depois
de quarenta dias, eles voltaram e dEz deles disseram:
“não podemos conquistar essa terra. As muralhas são
muito largas, os gigantes muito altos, e somos muito
pequenos.” Mas dois deles, Josué e calebe, disseram:
“vamos conquistar a terra, como pão os podemos
devorar; retirou-se deles o seu amparo; o senhor é
conosco; não os temais” (Nm. 14:9).
Toda a nação acreditou nos dez espias e, por causa
disso, morreram no deserto, mas a respeito de calebe,
o senhor disse que nele havia um espírito diferente. O
que havia nele? Um espírito de fé. Que o senhor possa
dizer a respeito de nós que temos um espírito diferente.
Porém o meu servo calebe, visto que nele houve
outro espírito, e perseverou em seguir-me, eu o
farei entrar a terra que espiou, e a sua descen-
dência a possuirá. Nm. 14:24

Quando cremos falamos


Na segunda parte de I Coríntios 4:13, paulo diz:
“eu cri; por isso, é que falei. Também nós cremos; por
isso, também falamos.” A nossa fé é liberada em nossas
palavras. Simplesmente não podemos crer em silêncio.
Se você crê em algo, fale em voz alta.
A maneira como exercitamos fé é bem sim-
ples: nós cremos e falamos. Como nós recebemos a

Creia e confesse

39
salvação? É claro que foi pela fé. Mas como exercita-
mos essa fé? Simplesmente falando.
Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação. Rm. 10:10
A maneira como recebemos todas as bênçãos é
da mesma forma como recebemos a maior de todas
–, a salvação. Tudo o que o senhor conquistou na
cruz é nosso, mas por que alguns crentes desfrutam
de mais bênçãos que outros? Será que é porque o
senhor dá mais para uns que para outros? Claro que
não! A maneira como recebemos todas as bênçãos do
calvário é a mesma de como recebemos a salvação:
crendo e falando.

Fale ao monte
No dia seguinte, quando saíram de betânia, teve
fome. E, vendo de longe uma figueira com folhas,
foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa.
Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas;
porque não era tempo de figos. Então, lhe disse
jesus: nunca jamais coma alguém fruto de ti! E
seus discípulos ouviram isto. Mc. 11:12-14

E, passando eles pela manhã, viram que a figueira


secara desde a raiz. Então, pedro, lembrando-se,
falou: mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste
secou. Ao que jesus lhes disse: tende fé em deus;
porque em verdade vos afirmo que, se alguém

O Evangelho da graça para viver no descanso

40
disser a este monte: ergue-te e lança-te no mar,
e não duvidar no seu coração, mas crer que se
fará o que diz, assim será com ele. Mc. 11:20-23
Deixe-me compartilhar algumas coisas sobre
figueiras em israel. Durante o inverno as figueiras
perdem as suas folhas e, então, na primavera, as folhas
brotam novamente. Quando as folhas voltam, todos
sabem que dentro de mais seis semanas o tempo dos
figos estará chegando.
Mas, comumente, no tempo quando as folhas
brotam, também brotam os figos temporãos. Era por
esses figos que o senhor estava procurando. Mas se
uma figueira não tem esses primeiros figos tempo-
rãos, isso demonstrava que, seis semanas depois, não
haveria figo nenhum.
As folhas da figueira foram mencionadas pela
primeira vez quando adão e eva tentaram fazer cintas
para si (Gn. 3:7). Elas simbolizam a obra humana
procurando ter justiça própria diante de deus. É um
esforço humano para tentar cobrir o pecado sem o
sangue de jesus. A figueira com folhas e sem frutos
foi amaldiçoada por jesus.
Mas o que queremos enfatizar hoje é a forma
como o senhor ministrou fé. Não é normal falar com
árvores, mas foi exatamente isso o que o senhor fez.
Isso significa que podemos falar com demônios, e eles
fugirão; podemos falar com a tempestade, e ela vai se

Creia e confesse

41
acalmar; podemos falar com a doença, e ela vai sair.
Essa é a maneira bíblica de expressarmos fé.
Foi exatamente esse o ensino do senhor: “se al-
guém disser a este monte: ergue-te e lança-te no mar, e
não duvidar, assim sucederá”. É preciso falar ao monte;
devemos falar às nossas circunstâncias.
O monte pode ser qualquer coisa que se oponha
diante de você. Pode ser uma enfermidade, um proble-
ma financeiro, um obstáculo ou qualquer outra coisa.
Gostamos de falar com deus a respeito da montanha,
mas o senhor disse que devemos falar ao monte.
O que o senhor nos ensina é o mesmo que
paulo disse: “tendo, porém, o mesmo espírito da
fé, como está escrito: eu cri; por isso, é que falei.”
Não podemos exercer fé em silêncio. É preciso li-
berar a palavra.
A morte e a vida estão no poder da língua; o que
bem a utiliza come do seu fruto. Pv. 18.:1

A fé e as obras
Fé é a moeda do céu. Mas, frequentemente,
o inimigo enviará alguém para lhe dizer que crer e
confessar não são suficientes, você deve fazer alguma
coisa. Certamente, ele lhe dirá que, antes de exercitar
fé, você precisa ter uma vida santa. O inimigo lhe dirá:
“ você tem problemas com a ira e, também, com a
impurEza, como você acha que apenas crer e falar será
O Evangelho da graça para viver no descanso

42
suficiente? A verdade é que ele está com medo de que
você comece a andar em fé.
Quando passamos a acreditar que crer e falar não
são o suficiente, então concluímos que precisamos ter
alguma ação, alguma obra. Creio que essa tem sido
a causa de muitos problemas espirituais na vida de
homens de deus.
Por acreditar que não era suficiente confessar e
crer, um homem com diabetes resolveu parar de tomar
insulina. Infelizmente, ele não viveu muito tempo.
Um pastor achou que confessar e crer era insuficien-
te e resolveu fazer uma grande dívida para comprar
o prédio da igreja. Lamentavelmente, seu ministério
faliu. O que havia de errado com essas pessoas? Elas
deixaram de exercitar fé da maneira de deus e resolve-
ram agir na força humana. O resultado foi o inverso
do que esperavam.
Mas não devemos ter um comportamento coe-
rente com a nossa fé? É claro que sim. Se estou orando
por chuva, é melhor comprar um guarda-chuva. Se
estou orando por um carro, então preciso começar a
aprender a dirigir. Mas eu não vou sair e comprar um
carro sem dinheiro. Quando ajo assim, estou tentando
fazer algo acontecer na minha força.
A palavra de deus não diz que a fé sem obras é
morta? Esse é um texto bíblico que tem sido muito
abusado. As pessoas já nem atentam para o contexto
em que tiago disse essas palavras.

Creia e confesse

43
Alguns usam esse texto para dizerem que a fé só
tem valor se praticarmos também a lei. Há duas ilus-
trações que tiago usa ao fazer essa afirmação. Primeiro,
ele fala de abraão prestes a sacrificar isaque e, depois,
de raabe recebendo os espias. Abraão estava prestes a
matar e raabe teve de mentir para proteger os espias.
Não são, portanto, boas ilustrações para sancionar os
dEz mandamentos.
Tiago pergunta: “não foi por obras que abraão foi
justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio
filho, isaque?” Evidentemente, ele não foi justificado
diante de deus. Muito antes de abraão ter um filho,
deus já o havia justificado diante dele. Gênesis 15:6
diz que abraão creu no senhor, e isso lhe foi imputado
para justiça. Vinte anos depois, ele oferece isaque no
altar. Isso já não era justificação diante de deus, mas
diante dos homens.
Todos nós temos uma justiça diante dos homens
e uma justiça diante de deus. A nossa justiça diante de
deus é pela fé, mas a nossa justiça diante dos homens
é segundo as nossas obras feitas em fé.
Mas a verdade é que fé e obras são conceitos
opostos. O padrão de fé de jesus é: creia e fale, creia
e confesse. Não é creia e faça alguma coisa. Quando
deus criou todas as coisas, ele apenas falou. Não houve
uma ação correspondente. Ele não falou e depois fEz
alguma coisa. Esse é o tipo de fé segundo deus.

O Evangelho da graça para viver no descanso

44
Todas as vEzes que alguém nos diz que crer e
falar não são suficientes, o resultado é que paramos
de falar, e o fluir também cessa. A fé, também, é blo-
queada quando pensamos que só podemos confessar
se tivermos uma vida completamente santa.
Mas a santidade é recebida pela fé do mesmo jeito
que a salvação. Não é uma questão de performance,
mas de fé. Pedro, explicando aos irmãos de jerusalém
sobre a conversão de cornélio, disse que o coração
deles tinha sido purificado pela fé.
Ora, deus, que conhece os corações, lhes deu teste-
munho, concedendo o espírito santo a eles, como
também a nós nos concedera. E não estabeleceu
distinção alguma entre nós e eles, purificando-
-lhes pela fé o coração. At. 15:8-9
Paulo diz que cristo se tornou para nós salvação
e santificação. Então, não é uma questão de perfor-
mance, mas ter a presença dele em nós.
Mas vós sois dele, em cristo jesus, o qual se nos
tornou, da parte de deus, sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção. I Cor. 1:30
Uma vEz que entendemos que somos santos nele,
temos ousadia para crer e falar e, quando exercitamos
fé dessa maneira simples, vemos a manifestação do
poder de deus.

Creia e confesse

45
O Evangelho da graça para viver no descanso

46
Graça e fé

M
uitos ainda estão vivendo no engano de ten-
tarem se libertar de uma prisão que já está
aberta. Vivem miseravelmente sendo muito
ricos. Aceitam maldições quando são abençoados com
toda sorte de bênção espiritual. Devemos constante-
mente nos apropriar das bênçãos da obra consumada
da cruz. Quero lembrá-lo de três aspectos da plena sal-
vação por meio da obra consumada de cristo na cruz.

1. Nenhuma maldição sobre nós


O movimento de “batalha espiritual” ensina a
necessidade de se quebrar maldições hereditárias e de
Graça e fé

47
se anular compromissos que ficaram pendentes com o
diabo, mesmo após a pessoa ter sido convertida a cristo.
Ensina-se que herdamos as maldições que acompanha-
ram nossos antepassados por causa de seus pecados e
pactos demoníacos e que precisamos anular estas mal-
dições hereditárias. Um dos textos usados para defender
este ponto é êxodo 20.5, Quando deus ameaça visitar a
maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta gera-
ção dos que o aborrecem. Entretanto, ensinar que deus
faz cair sobre os filhos as consequências dos pecados dos
pais é só metade da verdade.
A escritura nos diz igualmente que, se um filho
de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai,
temer a deus, e andar em seus caminhos, nada do
que o pai fez virá cair sobre ele. A conversão e o arre-
pendimento individuais “quebram”, na existência das
pessoas, a “maldição hereditária” (um efeito somente
possível por causa da obra de cristo). Este foi o ponto
enfatizado pelo profeta ezequiel em sua pregação ao
povo de israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel
18). Através do profeta ezequiel, deus os repreendeu,
afirmando que a responsabilidade moral é pessoal
e individual diante dele (Ez 18.4B,20) e que, pela
conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre
da “maldição” dos pecados de seus antepassados (Ez
18.14-19). Essa passagem é muito importante, pois
nos mostra de que maneira o próprio deus interpreta
(através de ezequiel) o significado de Êxodo 20.5.

O Evangelho da graça para viver no descanso

48
O apóstolo paulo nos esclarece que o escrito de
dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tor-
nado sem qualquer efeito sobre nós: jesus o anulou na
cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13), Ou seja, toda e qualquer
condenação que pesava sobre nós foi removida com-
pletamente quando cristo pagou, de forma suficiente
e eficaz, nossa culpa diante de deus. Ora, se a obra de
cristo no calvário em nosso favor foi poderosa o sufi-
ciente para remover de sobre nós a própria maldição
da santa lei de deus, quanto mais qualquer coisa que
poderia ser usada por satanás para reivindicar direitos
sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades ma-
lignas por nós ou por nossos pais na nossa ignorância.
Basta um estudo simples nas escrituras, da lin-
guagem usada para descrever nossa redenção, para que
não fique qualquer dúvida a respeito da nossa reden-
ção. Paulo diz que fomos comprados por preço (1Co
6.20). A palavra "comprado" é agorazo, um termo
grego que significa comprar, redimir, pagar um resgate.
Essa expressão era usada para o ato de comprar um
escravo na praça ou pagar seu resgate para libertá-lo,
e este, sendo agora livre, não deveria se deixar outra
vez escravizar (1Co 7.23). Fomos resgatados (lutrou)
pelo precioso sangue de cristo (1Pe 1.18; Ap 5.9).
Não há nenhuma maldição que cristo já não tenha
quebrado na cruz e que não tenha já sido desfeita na
hora da conversão (novo nascimento) (2co 5.17). O
que os crentes precisam é de santificação, e não quebra
de maldição, para crescerem mais em mais no conhe-
cimento de deus e no serviço d'ele.

Graça e fé

49
2. Nós participamos de uma
obra já acabada
Qual foi o trabalho que deus deu a adão no éden?
Certamente, deus o criou para crescer, multiplicar-se
e ter domínio sobre toda a criação, então deus fez
um jardim e colocou o homem ali para o cultivar e
guardar. A obra foi acabada por deus e o trabalho do
homem era apenas cultivar e guardar. No mesmo prin-
cípio, hoje somos chamados para cultivar e guardar a
obra já acabada pelo senhor na cruz (gn 2.8-10,15).
Não precisamos concluir a obra da redenção
com algum esforço próprio, precisamos apenas crer e
descansar na obra consumada de cristo. Certamente,
nós estamos aqui para crescer, multiplicar e exercer
domínio, mas isso é somente uma expressão da obra
consumada de cristo. À medida que guardamos e
cultivamos a obra consumada, nós crescemos e exer-
cemos domínio.
Muitos, por exemplo, lutam para alcançar vitória,
mas eles deveriam lutar já na posição de vitória. Estão
lutando para derrotar o diabo em sua vida quando
deveriam estar proclamando a derrota de satanás na
cruz. Estão confessando a fé para serem abençoados
quando deveriam estar confessando que eles já são
abençoados. O problema é que, no momento em que
tentamos terminar uma obra que já está acabada, caí-
mos na incredulidade. A palavra de deus, por exemplo,

O Evangelho da graça para viver no descanso

50
declara que nós já temos o perdão dos pecados. Não
temos de alcançar o perdão, mas nós já temos (Cl
1.14; Ef 1.7).
Quando os pecados são perdoados, eles são eli-
minados de nossas vidas. É por isso que precisamos
perdoar uns aos outros, pois quando não perdoamos,
retemos o pecado em nossa própria vida (jo 20.23).
Filhos que não perdoam os pais pelo alcoolismo aca-
bam se tornando alcoólatras.
Setenta semanas estão determinadas sobre o teu
povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar
a transgressão, para dar fim aos pecados, para
expiar a iniquidade, para trazer a justiça eter-
na, para selar a visão e a profecia e para ungir o
santo dos santos. (Dn 9.24)
Muitos estão esperando o cumprimento dessa
profecia, mas ela já se cumpriu. Pelo sangue de jesus,
a iniquidade foi expiada e pecados foram acabados
em nossa vida pessoal.

3. Os benefícios da graça
somente são desfrutados pela fé
A parte de deus é dar, mas a sua parte é apro-
priar-se. Uma das perguntas que ouço mais fre-
quentemente é: “o que preciso fazer para receber
as bênçãos de deus?”. Ela geralmente é seguida por
esta explicação: “eu já orei, já li a bíblia, vou à igreja,

Graça e fé

51
entrego meus dízimos e até faço jejum, no entanto
nada disso parece me ajudar a receber a bênção que
estou buscando em deus”.
Na explicação que dão para a sua pergunta,
é que se encontra a raiz do problema. Eles caíram
na armadilha de associar a resposta de deus ao seu
desempenho. Não compreenderam corretamente a
relação entre graça e fé. Por definição, graça significa
um favor imerecido. Portanto, a boa notícia é que a
graça não tem nada a ver com você. Por outro lado,
a fé é uma resposta positiva ao que deus já provi-
denciou pela graça. Em outras palavras, a fé é a sua
resposta positiva para a graça de deus. A fé somente
pode se apropriar daquilo que deus já lhe deu pela
graça. A graça é a parte de deus, mas a fé é a sua
parte. A graça e a fé trabalham juntas, e elas devem
estar em equilíbrio.
Efésios 2.8-9 Diz: “porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de deus;
não de obras, para que ninguém se glorie”. Nesse ver-
sículo, uma verdade profunda está sendo declarada.
Ela diz que somos salvos pela graça através da fé. Pense
nisso da seguinte maneira: a graça é o que deus faz; a
fé é o que nós fazemos como resposta. A salvação não
é somente pela graça. Se fosse, todos seriam salvos e
iriam para o céu, pois a graça de deus é a mesma para
todos (Tt 2.11). Ele já deu o dom da salvação a todos
através de jesus. Mas a salvação depende também da

O Evangelho da graça para viver no descanso

52
fé. É pela fé que uma pessoa recebe o que foi feito há
dois mil anos.
A maioria das pessoas acredita que, a fim de ser-
mos salvos, precisamos pedir a deus para nos perdoar
os nossos pecados, mas isso não é o que a bíblia ensina.
Em 1 João 2.2, Afirma-se que jesus é a propiciação
pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos
próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. Jesus
não apenas morreu por aqueles que ele sabia que iria
aceitá-lo, ele morreu por todos os pecadores que já
viveram na terra. E ele morreu antes que você ou eu
existíssemos. Aqui está uma verdade radical que po-
deria me expulsar da maioria das igrejas: o pecado não
é mais um problema diante de deus! Os pecados do
mundo inteiro – passado, presente e futuro – já foram
perdoados na cruz. Mesmo um homem como adolf
hitler teve a graça estendida a ele. Jesus amava hitler
e pagou por seus pecados assim como fez pelo seu e
o meu. Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11).
A salvação já foi oferecida a todos os homens
pela graça, mas eles precisam crer para serem salvos.
Se decidirmos não crer, então vamos para o inferno
mesmo tendo sido perdoados. O inferno está cheio
de gente perdoada, e o céu está cheio de pessoas que
mereciam o inferno, mas que creram na graça para
terem o perdão. Deus já fez a parte d'ele, agora cabe
a você receber a verdade pela fé e assim torná-la uma
realidade em sua vida.

Graça e fé

53
Em joão 1.29, João batista disse: “eis o cordeiro
de deus, que tira o pecado do mundo!”. Mas o que,
então, levará as pessoas ao inferno? É o pecado de re-
jeitar a jesus cristo como seu salvador pessoal. É por
isso que jesus disse em joão 16.8-9 Que o espírito
santo viria para convencer o mundo do pecado, da
justiça e do juízo: do pecado, porque não creem n'ele.
Muitos tomam essa passagem da escritura e pregam
que o espírito santo está aqui para nos convencer de
todos os nossos pecados. O espírito santo está aqui
para convencê-lo do pecado único de não receber a
jesus como seu salvador. O único convencimento é o
de crer em jesus cristo.
Quando não entendemos a graça de deus, não
temos fé para nos apropriar das bênçãos. A revelação
da graça traz fé sobrenatural, mas quando não a temos,
associamos todas as bênçãos ao nosso desempenho.
E se olhamos para o nosso desempenho, não temos
fé. A graça de deus tem proporcionado a você não só
a salvação, mas também o suprimento para todas as
suas necessidades. Antes que você tivesse uma neces-
sidade financeira, deus já havia dado a provisão em
cristo. Antes que você ficasse doente, deus, através da
graça, já havia provido a sua cura (1Pe 2.24). Antes
que você ficasse desanimado, deus já o havia abenço-
ado com todas as bênçãos espirituais (Ef 1.3). Deus
antecipou todas as necessidades que você poderia ter
e providenciou suprimento para elas através de jesus
antes de você vir a existir. Isso é graça.

O Evangelho da graça para viver no descanso

54
Tudo aquilo que deus proveu pela graça há dois
mil anos atrás agora se torna uma realidade quando
acionado pela fé. A fé se apropria do que deus já pro-
videnciou. A fé não faz deus fazer aquilo que não é
a sua vontade. Graça e fé trabalham juntos, e nossa
parte é aceitar o que deus já fez. A graça é equilibrada
com a fé. Não é a verdade que o liberta; é a verdade
que você conhece que o libertará (Jo 8.32).
Deus fez tudo dando o seu filho, jesus. Sua graça
providenciou tudo através do sacrifício de jesus. Isso é
maravilhoso porque não há absolutamente nada que
possamos fazer para merecê-la, e nada podemos fazer
para perdê-la. Nossa parte é simples: nós responde-
mos à sua graça pela fé apropriando-nos do que já
foi realizado. Apesar de ser tão simples, a maioria
dos cristãos não compreende esse conceito. Isso é
fundamental para o seu relacionamento com deus e
pode ser a razão pela qual você não está vendo as suas
orações respondidas. Muitos enfatizam graça e outros
enfatizam fé. Mas poucos enfatizam o equilíbrio entre
graça e fé. Graça sem a sua resposta positiva de fé não
vai salvá-lo, e fé que não é uma resposta à graça de
deus o coloca debaixo da condenação. Mas colocar a
sua fé no que deus já fez por você graciosamente é a
vitória que vence o mundo (1Jo 5.4).

Graça e fé

55
Sumário
1. A vida pela fé ou pela obediência 7
2. Os que decaem da graça 19
3. A maldição da lei 37
4. Os dois montes 49
A vida pela fé ou pela
obediência

O
Novo Testamento declara que o justo viverá
pela fé. O nosso problema é que, em vez de
vivermos pela fé, nós nos esforçamos para
viver pela obediência. Em outras palavras, em vez de
nos relacionarmos com Deus com base na fé, nos re-
lacionamos com base em nossa obediência.
Você não foi chamado para viver pela obediência,
mas pela fé. Evidentemente, a obediência é muito im-
portante, mas é preciso esclarecer que ela não é a raiz,
mas o fruto da vida cristã. A fé é a raiz. Aquele que
vive pela fé pode manifestar obediência, mas aquele
A vida pela fé ou pela obediência

7
que vive com base em sua obediência nunca consegue
ter fé, pelo simples motivo de que ele nunca pensa
ter obedecido o suficiente, ou então, hipocritamente,
presume que cumpre toda a lei e por isso merece a
bênção de Deus.
Muitos irmãos, quando acordam pela manhã,
olham para si mesmos buscando ver as áreas em que
precisam melhorar ou questionando se Deus está com
eles mesmo depois de terem falhado. Em vez disso,
deveriam acordar todos os dias e se perguntar: “qual
a minha fé para esse dia?” A pergunta fundamental
a cada dia é: “em que tenho crido?”, E não: “em que
tenho obedecido?”
Quando um irmão está enfermo, qual é o seu
questionamento? Ele se pergunta onde tem errado ou
se há pecado não confessado em sua vida. Ao fazer esses
questionamentos, ele está procurando descobrir se tem
algum merecimento. E todas as vezes que procuramos
algum merecimento, nós caímos na justiça própria,
que procede da lei. O fato de questionarmos sobre a
nossa obediência em vez de declararmos a nossa fé
mostra que ainda estamos debaixo da lei.
Não estou dizendo que a obediência não é im-
portante. O que estou dizendo é que o justo vive pela
fé. No momento em que o justo baseia sua vida na
obediência que tem ou deixa de ter, ele se apoia num
terreno movediço, e o resultado é a queda.
O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

8
A obediência não é lei quando provém de fé,
mas quando confiamos em nossa obediência para nos
relacionar com Deus, então ela se torna lei. Viver pela
lei é viver pelo princípio da justiça própria e do me-
recimento. Sempre que nos relacionamos com Deus
com base em nosso merecimento, estamos tentando
nos aproximar confiados na lei. Paulo diz que isso é
muito grave, porque a lei traz duas terríveis consequ-
ências: a maldição e a incredulidade.
De modo que os da fé são abençoados com o crente
Abraão. Todos quantos, pois, são das obras da lei
estão debaixo de maldição; porque está escrito:
maldito todo aquele que não permanece em todas
as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las.
E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Ora, a lei não procede de fé, mas: aquele que ob-
servar os seus preceitos por eles viverá. (Gl 3.9-12)

Primeira consequência:
maldição
Em primeiro lugar, viver pela lei nos coloca de-
baixo de maldição. Paulo diz claramente em Gálatas
3.10 Que “todos quantos, pois, são das obras da lei
estão debaixo de maldição”.
Pare com a introspecção, pare de tentar encontrar
em si mesmo alguma virtude ou mérito para se apresentar

A vida pela fé ou pela obediência

9
diante de Deus e receber a bênção. Apenas creia que
você é justiça de Deus em Cristo. Você não é justo por-
que obedece, mas porque crê na obra consumada do
Senhor Jesus.
Aqueles que vivem pela lei precisam entender que
somente serão aceitos por Deus se cumprirem todos
os mandamentos. Se quebrar apenas um, será culpado
de todos. Como nenhum homem consegue cumprir a
lei, o resultado é a maldição da desobediência descrita
em Deuteronômio 28.
Se você vive pela obediência da lei, lembre-se
de que somente poderá ser abençoado se cumprir
todos os mandamentos. Não adianta se esforçar
para cumprir alguns ou se desculpar pela sua boa
intenção. Se quebrar um único mandamento, será
amaldiçoado.
Em Gálatas 3.10, Paulo diz claramente que aque-
le que não permanece em todas as coisas escritas no
livro da lei para praticá-las será amaldiçoado. O resul-
tado de quem tenta viver pela lei é sempre maldição. É
triste, mas esta é a razão por que muitos crentes ainda
padecem debaixo de maldição.
Todavia, quando entendemos que o justo vive
pela fé, já não olhamos para nós mesmos tentando
achar mérito, mas confiamos que Cristo já cumpriu
as justas exigências de Deus, então nós descansamos,
porque já somos justos pela fé em Cristo.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

10
Você é quem escolhe a forma como quer se re-
lacionar com Deus. Você pode se relacionar baseado
na lei, na qual terá de esforçar-se todo o tempo para
merecer a bênção pela obediência, ou você escolhe
se relacionar pela fé. Pela fé, nós declaramos que
Cristo se tornou a nossa justiça e hoje nos achega-
mos ao pai confiados unicamente na justiça d’ele,
e não na nossa.
No início do seu ministério, o Senhor foi a
Nazaré. Ali ele entrou numa sinagoga e leu isaías 61.
Ao terminar o texto, ele disse: “hoje, se cumpriu a es-
critura que acabais de ouvir”. Todos ficaram surpresos
perguntando se não era ele o filho de José. Mas eles
ficaram furiosos quando o Senhor lhes disse:
Havia muitas viúvas em israel no tempo de
Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis
meses, reinando grande fome em toda a terra; e
a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma
viúva de Sidom de sidom. Havia também mui-
tos leprosos em israel nos dias do profeta eliseu,
e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o
siro. (Lc 4.25-27)
Por que eles ficaram tão irados? Aquela viúva
não era judia, era fenícia. Naamã também não era
de israel, mas da síria. Eles não tinham participação
nas promessas de israel, mas mesmo assim foram os
únicos abençoados. Eles não mereciam, mas mesmo
assim receberam.

A vida pela fé ou pela obediência

11
O Senhor deu um exemplo de provisão e cura
para duas pessoas que não eram de israel. O que o
Senhor queria dizer com isso? Ele estava dizendo ao
povo: “não pensem que vocês merecem. Quando você
reconhece que não merece, mas mesmo assim vem a
Deus para receber, como Naamã e a viúva fizeram,
então você obtém o que está pedindo. Nunca confie
no quão bom ou obediente você é para merecer a
bênção de Deus.
Mas se estamos livres da lei, será que podemos
agora fazer o que quisermos? Claro que não! Fazer o
que quer é também um tipo de escravidão. Fomos
libertos da lei porque agora temos o Espírito habi-
tando em nós para nos guiar. Quem vive pela lei se
guia pelo certo e o errado, mas quem é guiado pelo
Espírito segue a vida de Deus.
O problema daqueles que vivem pela lei é a hi-
pocrisia de pensarem que cumprem a lei. Eles podem,
na verdade, cumprir alguns mandamentos, mas não
cumprem todos. Veja o mandamento de amar o pró-
ximo como a si mesmo. Será que há entre nós alguma
mãe que cuida dos filhos do vizinho como cuida dos
seus próprios? É evidente que não. Todo pensamento
de merecimento é hipocrisia e engano.
Todo crente deveria estar debaixo da bênção, mas
quando escolhe viver pela lei, o resultado é maldição.
O livro de Gálatas foi escrito para crentes, portanto
os crentes podem ainda padecer debaixo de maldição.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

12
Mas veja bem que o problema não é o pecado, e sim
a justiça própria, o desejo de se justificar diante de
Deus para merecer a bênção.
Para o pecado, temos a provisão do sangue, mas
se confiamos na justiça própria, nossas obras são
contadas como iniquidade. É isso o que Deus diz a
respeito de Caim.
Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio
é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo
Caim, que era do maligno e assassinou a seu ir-
mão; e por que o assassinou? Porque as suas obras
eram más, e as de seu irmão, justas. (1Jo 3.11-12)
João diz que abel era justo e Caim era maligno.
Mas o que abel fez para ser chamado de justo? Ele apenas
confiou no sangue para se apresentar diante de Deus. Se
confiamos no sangue, Deus nos vê como justos.
Caim não ofereceu o sangue, mas o fruto da terra.
Na palavra de Deus, a lavoura simboliza o trabalho e
o esforço humano (gn 4.2). O fruto da terra é o fruto
daquilo que está debaixo de maldição. Ao oferecer a
Deus do melhor de sua lavoura, Caim estava oferecen-
do a Deus as suas boas obras e a sua justiça própria.
Sabemos que isso é inaceitável diante de Deus.
Ao oferecer do fruto da terra, Caim estava ofere-
cendo algo a Deus sem derramamento de sangue, de
acordo com o seu entendimento próprio. Isso significa
que ele rejeitou o caminho da redenção de Deus que
tinha aprendido de seus pais.

A vida pela fé ou pela obediência

13
Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei,
se purificam com sangue; e, sem derramamento
de sangue, não há remissão. (Hb 9.22)
Caim inventou a sua própria religião com sua pró-
pria maneira de agradar a Deus. Ele seguiu o seu próprio
conceito do que deve ser certo ou errado. Oferecendo
algo sem derramamento de sangue, estava se assumindo
justo diante de Deus. Se a nossa justiça não é procedente
da fé, então não somos aceitáveis diante de Deus.
E ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé. (Fl 3.9)
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos
tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção. (1Co 1.30)
João diz que Caim matou o seu irmão porque as
suas obras já eram más. O que é ter obras malignas?
É confiar na justiça própria. Quando confiamos na
justiça própria, inevitavelmente todas as obras da carne
acabarão se manifestando.
Mas será que isso significa que basta assumir
que sou pecador para receber a bênção de Deus?
Reconhecer-se pecador é o primeiro passo; depois dis-
so, precisamos reconhecer que Cristo se fez pecado por
nós para que agora possamos ser feitos justos diante
de Deus. Dessa forma, nos achegamos confiados que

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

14
fomos feitos justos pelo sangue da cruz. Confiamos
no merecimento de Cristo, e nunca em nosso próprio.

Segunda consequência:
incredulidade
A segunda consequência de viver pelo mereci-
mento da obediência aos mandamentos é a increduli-
dade. Em Gálatas 3.12, Paulo diz claramente que “a lei
não procede de fé”. Quem vive pela lei não tem base
para exercer fé, e sem fé é impossível agradar a Deus.
Quem julga ter obedecido acha que agora merece
receber a bênção e assim não precisa ter fé. Ele con-
fia que Deus será justo para abençoá-lo. Tais pessoas
desconhecem o alto critério da justiça de Deus e a
impossibilidade de o alcançarmos. Todavia, quando
reconhecemos que não temos justiça, mas mesmo
assim cremos no Deus que justifica o ímpio, essa fé
nos é atribuída como justiça (rm 4.5).
Todos os milagres do Senhor foram feitos exclu-
sivamente pela fé. Em nenhum momento, o Senhor
exigiu das pessoas um bom comportamento antes de
fazer o milagre. As pessoas certamente tinham proble-
mas conjugais, ressentimentos e intrigas, mas o Senhor
nunca lhes disse que primeiro deveriam cumprir os
mandamentos antes de curá-las.
Em nenhum momento, o Senhor faz os milagres
com base no merecimento das pessoas, mas sempre

A vida pela fé ou pela obediência

15
com base na fé. Todos os enfermos que vieram a Jesus
foram curados. Será que todas eles cumpriam a lei
perfeitamente? Claro que não! Eles somente recebiam
pela fé. A graça depende de fé, mas a lei é a confiança
nas próprias obras e méritos.
Aquelas pessoas não eram perfeitas. Certamente
tinham pecados. Elas não receberam o milagre com
base em quão santas eram. Infelizmente, muitos ainda
estão focados em sua obediência em vez de apenas crer.
Na verdade, quanto mais olham para o que têm feito,
menos fé conseguem ter. Mas, quando entendemos
que a justiça é pela fé, espontaneamente nos colocamos
na posição de receber o favor de Deus.
Que tipo de vida você deseja? Uma vida de esfor-
ço para merecer ou uma vida de fé? Não precisamos
mais viver debaixo de maldição. No entanto, existe
uma condição para a bênção: crer na justiça que proce-
de da fé. Quanto mais confiamos em nossa obediência
aos mandamentos, mais maldição nós vemos e menos
fé conseguimos ter.

Creia no evangelho do Deus feliz


Segundo o evangelho da glória do Deus bendito,
do qual fui encarregado. (1Tm 1.11)

Esse texto de 1 timóteo é muito interessante.


Ele faz uma descrição de Deus verdadeiramente pe-
culiar. A palavra “bendito” no grego é makarios , que

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

16
significa “feliz, bem-aventurado”. Paulo diz que ele
prega o evangelho da glória do Deus feliz. A palavra
usual para “bendito” é eulogia , mas aqui Paulo usa a
palavra makarios, que significa “feliz e até exultante,
alguém que está pulando de alegria”.
Nós pregamos um Deus feliz, e não um Deus
irado, sempre a ponto de perder a paciência e nos
castigar a qualquer momento. Esta não é maneira
como o mundo vê o pai, mas a verdade é que ele
é um Deus feliz. Como precisamos conhecer o pai
mais profundamente! Precisamos ter os nossos olhos
constantemente abertos para ver mais d’ele em Cristo.
Assim diz o Senhor: não se glorie o sábio na
sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem
o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar,
glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu
sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça
na terra; porque destas coisas me agrado, diz o
Senhor. (Jr 9.23-24)
Por que Deus está feliz? Porque ele está satisfeito
com a obra do seu filho Jesus Cristo na cruz do calvário.
Ele é feliz quando assumimos que somos pecadores e
nos achegamos unicamente confiados na obra de Cristo.
Quando o Senhor estava na terra, muitas pessoas
vieram a ele. Alguns vieram para ouvi-lo como mestre.
Eles o viam como superstar e talvez quisessem saber
o seu segredo para fazer tantas curas e atrair tantas
multidões. Se fosse hoje, muitos viriam para pedir

A vida pela fé ou pela obediência

17
autógrafos ou tirar uma selfie ao seu lado. Eles o viam
como mestre, mas não como salvador.
Se você está se afogando no mar e vê alguém na
praia, você espera que ele seja o seu salvador, o salva-
-vidas. Mas talvez ele lhe diga: “você já leu meu livro
como aprender a nadar em dez lições?” Isso obviamen-
te não faz nenhum sentido. O Senhor não é resposta
para aqueles que o buscam como um mestre ou como
modelo. Evidentemente, Cristo é o maior mestre e o
mais perfeito modelo, mas vê-lo assim não irá salvá-lo.
Para todos aqueles que vieram a ele como mestre,
o Senhor deu ensinos que eles jamais seriam capazes
de cumprir; porém, para aqueles pecadores que vieram
não para aprender, mas para ser salvos, ele revelou o
seu amor e profunda compaixão.
Se você diz que não tem pecado, o Senhor não
pode fazer coisa alguma em sua vida, pois ele é o sal-
vador dos pecadores. Somente pecadores são recebi-
dos pelo salvador. Se você diz que é completamente
pecador, ele lhe diz que é completamente salvador,
mas se você diz que é apenas parcialmente pecador,
ele será apenas parcialmente salvador. Tudo depende
de como você se apresenta.
O que faz Deus feliz é quando os pecadores vêm
a ele. Quando ele pode perdoar os pecados pela obra
da cruz, pelo sangue de Jesus, então ele é feliz. Quando
nos julgamos justos e merecedores, nós entristecemos
a Deus, mas quando nos achegamos confiados apenas
nos méritos de Cristo, nós podemos contemplar a
glória do Deus feliz.
O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

18
Os que decaem
da graça

S
empre que falamos a respeito da graça de Deus,
algumas pessoas gostam de mencionar o tex-
to de Hebreus 12, que diz que sem santidade
ninguém verá o Senhor. Mas essas pessoas não leem
todo o texto, que, na verdade, exorta os irmãos a não
se apartarem da graça de Deus.
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemen-
te, por que ninguém seja faltoso, separando-se da
graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargu-
ra que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados. (Hb 12.14-15)

Os que decaem da graça

19
A única maneira de seguirmos a paz com todos e
termos santificação é tendo certeza de que não estamos
nos separando da graça de Deus. Sem a graça de Deus,
a santidade é impossível. Algumas pessoas, porém, pen-
sam que a salvação é uma questão de santidade, mas o
Novo Testamento enfatiza todo o tempo que a salvação
é somente pela graça mediante a fé no evangelho.
São as boas novas do evangelho de que os nossos
pecados foram cravados na cruz, é a revelação de que
somos justificados pela fé, e não por obras da lei, é a
fé que Cristo já pagou por todas as nossas iniquidades
que nos salva. A nossa santificação é apenas o resultado
da nossa fé na obra da cruz.
Quando, pela fé, nós contemplamos o Senhor, o
resultado é que andamos em santidade. Você precisa
ter clareza de que santidade não é o tamanho do seu
cabelo, o comprimento da sua saia e nem a maquiagem
no seu rosto. A santidade é Cristo. Algumas pessoas
fazem tudo isso e, no entanto, possuem o coração
cheio de amargura e ressentimento, como diz o texto
de Hebreus. Tais pessoas não andam em santidade.

O que acontece quando nos


separamos da graça?
A exortação do autor de Hebreus é para que não
nos separemos da graça de Deus. Separar-se da graça
é sair de debaixo do favor de Deus. Ele menciona al-
gumas consequências de separação do favor.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

20
Atentando, diligentemente, por que ninguém
seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem
haja alguma raiz de amargura que, brotando,
vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam con-
taminados; nem haja algum impuro ou profano,
como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o
seu direito de primogenitura. Pois sabeis também
que, posteriormente, querendo herdar a bênção,
foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependi-
mento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.
(Hb 12.15-17)
Hebreus 12 nos mostra que, sem a graça de Deus,
não podemos ter paz com os homens e nem seguir
a santidade. Sem a graça de Deus, inevitavelmente
cairemos no ressentimento e na amargura. Qual a
relação entre separar-se da graça e cair no ressenti-
mento? Essa relação nem sempre é fácil de entender.
Toda pessoa ressentida é cheia de justiça própria. Ela
se julga merecedora de coisas boas e, quando alguém
erra com ela, pensa que tem o direito de cobrar justi-
ça. Ressentimento é o maior sinal de justiça própria.
A única coisa que nos separa da graça de Deus
é a justiça própria. Quando nós confiamos em nossa
justiça própria, nós estamos dizendo que não preci-
samos da graça de Deus. Somente pode desfrutar da
graça aquele que reconhece que não tem merecimento
algum. E aquele que reconhece que não possui mere-
cimento nenhum também não cobra justiça e perfei-
ção dos outros. Uma vez que foi tão generosamente

Os que decaem da graça

21
perdoado, ele está pronto a perdoar os outros tam-
bém. Assim, se estamos na graça, não há lugar em
nós para a amargura.
Na oração do pai nosso, Jesus disse que, se não
perdoarmos aos homens as suas ofensas, tampouco
o nosso pai celestial nos perdoará as nossas. Muitos,
equivocadamente, enxergam aqui algum tipo de bar-
ganha com Deus: “eu perdoo, então o Senhor me
perdoa”. Não é nada disso.
A pessoa que se recusa a perdoar está dizendo com
a sua atitude que ela é boa e tem mérito o suficiente
para exigir justiça do outro. Ela se acha boa e não pode
admitir que outros errem com ela. Na verdade, ela é
cheia de justiça própria.
Quem possui justiça própria está dizendo que
não precisa da justiça que vem de Cristo. E, se não
precisa da justiça de Cristo, o seu pecado permanece.
Você não troca com Deus o perdão do seu pecado
quando perdoa os outros, mas você admite precisar
do perdão de Cristo quando reconhece que não
possui justiça própria e por isso mesmo não exige
justiça dos outros.
O que o Senhor disse foi que não podemos rece-
ber favor e graça se permanecemos na justiça própria.
Ficou claro, então, que nos separamos da graça quando
confiamos em nossa justiça própria. Mas ainda não

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

22
ficou completamente claro como a justiça própria
produz em nós ressentimento.
Para entendermos a relação entre amargura e
justiça própria, precisamos entender como surge a
justiça própria. Será que aqueles que possuem justiça
própria querem desagradar a Deus? Claro que não!
Na verdade, eles procuram cumprir todos os manda-
mentos para merecer o amor e a aprovação de Deus.
A justiça própria surge do nosso desejo de conquistar
o amor de Deus.
O problema está em tentar conquistar o amor de
Deus para merecer a sua bênção. Suponha que você
tenha feito tudo o que achava necessário para ter a
bênção de Deus e, no entanto, o irmão do lado, que
nem é tão fiel, recebeu a bênção e você não. O que
você sente nessa hora? Amargura e ressentimento.
Muitos não vão admitir, mas vivem ressentidos com
o próprio Deus, pois, afinal, eles são fiéis, mas não
recebem o favor de Deus.
Essa situação pode ser claramente percebida na
vida do irmão do filho pródigo na parábola que Jesus
contou em lucas 15. O irmão do filho pródigo é um
exemplo de como a amargura vem sobre aquele que
é cheio de justiça própria.
Jesus disse que um homem tinha dois filhos. Um
dia, o mais Novo chegou ao seu pai e pediu a heran-
ça a que tinha direito. Pedir a herança com o pai em

Os que decaem da graça

23
vida é o mesmo que desejar a sua morte, um grande
desrespeito. Mas o pai lhe deu a herança. Então, ele
saiu e foi para um país distante, onde gastou todo o
dinheiro na orgia e na bebedice.
Quando acabou todo o dinheiro, não tendo
como sobreviver, arrumou um trabalho de cuidador
de porcos. Ali, ele passava tanta fome que deseja co-
mer a comida dos porcos. Um dia, porém, ele caiu
em si e disse:
Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe
direi: pai, pequei contra o céu e diante de ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me
como um dos teus trabalhadores. E, levantando-
-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe,
quando seu pai o avistou, e, compadecido dele,
correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse:
pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, dis-
se aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa,
vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias
nos pés; trazei também e matai o novilho cevado.
Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho
estava morto e reviveu, estava perdido e foi acha-
do. E começaram a regozijar-se. (Lc 15.18-24)
Se pararmos a história nesse ponto, nos alegra-
remos com o pai, que teve de volta o seu filho que
estava perdido. Todos dirão o quanto o pai é amoro e
perdoador para aceitar um filho como aquele. Mas a
história se complica quando o filho mais velho chega.
O filho mais velho estava tão longe de casa quanto seu

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

24
irmão mais Novo. Ele enxergava a si mesmo como um
servo do seu pai e se julgava merecedor das bênçãos.
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e,
quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu
a música e as danças. Chamou um dos criados
e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou:
veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novi-
lho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele
se indignou e não queria entrar; saindo, porém,
o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu
a seu pai: há tantos anos que te sirvo sem jamais
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste
um cabrito sequer para alegrar-me com os meus
amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desper-
diçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste
matar para ele o novilho cevado. (Lc 15.25-30)

Vamos ser francos, as razões do filho mais velho


parecem bem lógicas. Se ele fosse conversar com você
e lhe contasse a história, você certamente ficaria do
lado dele. Tudo parece uma grande injustiça. Ele sem-
pre foi um bom filho, fez tudo para agradar ao pai e
nunca ganhou dele nenhum cabritinho para fazer um
churrasco com os amigos.
Ele disse: “eu nunca desobedeci às suas ordens”. O
que talvez você não perceba é que ele era cheio de justiça
própria. Eu fico pensando o quanto seria difícil para o
irmão mais velho fazer o mesmo que fez o filho pródi-
go – cair de joelhos e dizer: “pai, pequei contra o céu e
contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho”.

Os que decaem da graça

25
Imagine esse homem que se achava tão responsá-
vel caindo de joelhos, enterrando a cabeça no peito de
seu pai e dizendo que ele era indigno de ser chamado
de filho. É quase impensável. Ele não tinha feito nada
de errado. Não tinha pecado contra o céu ou contra o
seu pai. Certamente não podia ver que não era digno
de ser chamado filho de seu pai. Mas isso é exatamente
o que ele precisava fazer, porque o seu coração não era
um com o seu pai.
O irmão do filho pródigo tentou ganhar o amor
do pai sem saber que já era amado. Ele tentou ganhar
o amor do pai sendo um filho obediente, e por isso
achava que merecia pelo menos um cabrito assado.
Mas, em vez de ele receber, o seu irmão pecador é que
tinha recebido o novilho cevado e uma festa. Por não
se sentir amado, ele caiu na amargura e ressentimen-
to, pois, do seu ponto de vista, o pai era injusto. Esta
é a maneira como surge a justiça própria, é quando
tentamos conquistar o amor e o elogio do pai. Do
seu ponto de vista, o pai não o amava ou pelo menos
amava mais o irmão do que a ele. Isso o enchia de re-
volta e ressentimento. Tudo isso porque ele se achava
bom e justo. Se ele se visse tão pecador quanto o ir-
mão, não haveria espaço para a amargura e ele estaria
também festejando.
Toda pessoa cheia de justiça própria vive cheia
de amargura, pois ela pensa que tem praticado to-
dos os mandamentos e mesmo assim não consegue

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

26
ter a bênção ou o favor de Deus. A justiça própria
é o resultado do nosso desejo de conquistar o amor
e a aprovação de Deus. Para ter o seu amor, nós nos
esforçamos fazendo boas obras e tentando obedecer
aos mandamentos. Quando achamos que consegui-
mos cumprir o padrão, nos enchemos de justiça e
merecimento próprio. O problema é que perdemos
o favor de Deus quando confiamos em nossa justiça,
e o resultado é que ficamos ressentidos porque outros
notórios pecadores recebem o favor e nós não.
Esta é a explicação para a amargura em todos os
relacionamentos. Se o marido se esforça para agradar a
sua esposa e percebe que ela não reconhece seus méri-
tos, ele se enche de ressentimento se ela, por exemplo,
não o elogiar e, em vez disso, elogiar o líder da célula.
Qual o problema desse marido? Ele faz todas
as suas obras para ter o amor da esposa, e não por-
que sente que é amado por ela. Podemos aplicar esse
princípio em todos os nossos relacionamentos. Você
faz as boas obras para conquistar o amor ou porque
sabe que é amado? A resposta a isso o coloca debaixo
da lei ou da graça. Lei é amar a Deus, mas graça é ser
amado por ele.
Uma esposa procura de todas as formas agradar ao
seu marido, ela cozinha, lava, passa e faz sexo sempre que
ele deseja, mas um dia o marido resolve elogiar outra mu-
lher na frente dela. Nesse momento, a mulher se enche
de amargura porque se vê injustiçada. Se ela não tivesse

Os que decaem da graça

27
justiça própria, mérito próprio, ela não ficaria ressentida.
A justiça própria é a origem de todos os pecados.
Isso também é muito comum na vida de pastores.
Eles se esforçam para ser bons pastores, procuram viver
uma vida absolutamente íntegra e irrepreensível, mas
a bênção parece que vem sempre para aquele pastor
da congregação ao lado que parece ser tão pecador.
Eles vivem lutando com as finanças, mas aquele pas-
tor comprou um grande prédio para se reunir. Eles se
esforçam para crescer, mas as multidões sempre vão
para a igreja do outro. Eles não conseguem entender,
por isso presumem que aquela igreja não é de Deus,
pois Deus não abençoaria alguém assim. A verdade,
porém, é que eles vivem amargurados, como o irmão
do filho pródigo. Nunca quebraram nenhum man-
damento, mereciam muitas bênçãos, mas o outro
pecador recebe maior graça.
Creio que agora ficou fácil perceber como a amar-
gura está relacionada com a justiça própria. Sempre
que procuramos conquistar o amor de Deus em vez de
crer que já somos amados, caímos na justiça própria.
O texto de Hebreus 12 diz que a amargura é
contagiosa. Uma vez que ela surge, vai contaminar a
muitos. Toda pessoa amargurada gosta de comparti-
lhar com os outros as razões do seu ressentimento. A
amargura simplesmente destrói a vida da igreja.
O texto de Hebreus diz que, uma vez que há
amargura, a próxima consequência é a impureza.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

28
Mas há alguma relação entre amargura e impureza?
Em minha experiência, tenho visto, por exemplo, que
normalmente uma mulher só cai em adultério se es-
tiver ressentida com o seu marido. Ela pensa que não
é amada e por isso se permite pecar. Um crente está
propenso ao pecado quando sente que não é amado
por Deus. É triste, mas quando caem em pecado, mui-
tos presumem que Deus não os ama mais. Mal sabem
que isso fará com que caiam ainda mais no pecado.
A impureza sexual não é a raiz, ela é o fruto. Tudo
começa quando a pessoa se separa da graça de Deus.
Uma vez que sai da graça, ela cai no ressentimento, e
do ressentimento vem a impureza sexual. O resultado
final é que a pessoa pode se tornar como Esaú, que
não atribuiu valor às coisas espirituais, pois vendeu a
bênção da primogenitura por um prato de comida.
Quanto mais nos separamos da graça, mais nos tor-
namos naturais e indiferentes às bênçãos de Deus.
No passado, eu pensei que Esaú não podia se
arrepender ou não teve um arrependimento genuíno.
Mas, lendo outras traduções, percebi que isso é um
erro. A tradução na linguagem de hoje diz que Esaú
vendeu os seus direitos de filho mais velho por um
prato de comida. E depois ele quis receber a bênção
do seu pai. Mas foi rejeitado porque não encontrou
um modo de mudar a mente de isaque para receber
a bênção, embora procurasse fazer isso até mesmo
com lágrimas. Na verdade, foi isaque que não se ar-
rependeu, ou mudou de mente, em relação à bênção

Os que decaem da graça

29
da primogenitura. Isso está claro na versão da bíblia
na linguagem de hoje.
E tomem cuidado também para que ninguém
se torne imoral ou perca o respeito pelas coisas
sagradas, como Esaú, que, por causa de um prato
de comida, vendeu os seus direitos de filho mais
velho. Como vocês sabem, depois ele quis receber
a bênção do seu pai. Mas foi rejeitado porque
não encontrou um modo de mudar o que havia
feito, embora procurasse fazer isso até mesmo com
lágrimas. (Hb 12.16-17)
Esaú é colocado em Hebreus como exemplo
de alguém que decaiu da graça. Mas decair da graça
significa tentar se justificar cumprindo a lei, e Esaú
viveu muito antes da lei. Como, pois, ele decaiu da
graça? Creio que ele sempre tentou conquistar o amor
do pai por meio de sua performance, suas boas obras.
Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua
caça; Rebeca, porém, amava a Jacó. (Gn 25.28)
Isaque amava Esaú por causa de suas boas obras,
mas Rebeca amava Jacó, ponto final. Evidentemente,
Esaú percebia que o amor do seu pai era condicional.
Esaú é o bom filho, Jacó é que era o problemático.
Esaú tentou agradar ao seu pai, mas no fim seu irmão
é que recebeu a bênção. Isso o deixou furioso, mas
o problema é que seu pai não quis lhe dar a mesma
bênção. Ele deve ter pensado: “de que adiantou eu ser
um bom filho?” Certamente veio o ressentimento e a

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

30
amargura. Todas as vezes que tentamos conquistar o
amor de Deus por meio de nossas obras, nós caímos na
justiça própria e consequentemente decaímos da graça.
Os pais devem ser cuidadosos para não condi-
cionar o seu amor aos filhos à performance deles. Isso
faz com que os filhos fiquem toda a vida buscando
conquistar o amor dos pais. O garoto procurou ser
um bom estudante, um filho obediente toda a sua
vida, mas um dia seu pai elogia seu primo falando
o quanto ele é motivo de orgulho. Ao ouvir isso, o
menino se enche de amargura, pois ele está cheio de
méritos. Ele fez o melhor, comportou-se bem e não
adiantou nada. Depois disso, ele pode vir a se tornar
um filho muito problemático, cheio de todo tipo de
comportamento ruim. Esta é a origem de todos os
distúrbios familiares.
A palavra de Deus diz que Esaú se casou com
mulheres fora da vontade de seus pais, e isso se tornou
motivo de angústia para Rebeca e isaque. Obedecer
para ser amado é justiça própria; obedecer porque sabe
que é amado é graça de Deus. Esta é a diferença entre
o Novo e o velho Testamento.
É importante frisar que todas essas consequên-
cias, como amargura, impureza e desprezo pelas coisas
espirituais, acontecem por uma única razão: porque
nos separamos da graça de Deus. Esta é a raiz de onde
procedem todos os nossos problemas.

Os que decaem da graça

31
O que nos separa da graça?
De Cristo vos desligastes, vós que procurais
justificar-vos na lei; da graça decaístes. (Gl 5.4)
Paulo diz aos Gálatas que nos desligamos de
Cristo, nos separamos d’ele, quando procuramos nos
justificar pelas obras da lei. Estar desligado de Cristo
é algo terrível. Há uma tradução que diz que Cristo
não tem efeito em nossas vidas. Ele está em nossa vida,
mas sem efeito prático. Desligar-se de Cristo significa
que Cristo não tem efeito em nosso casamento, em
nossas finanças, em nossos relacionamentos ou nosso
trabalho. Quando você está doente, você quer que
Cristo tenha efeito, faça diferença em você. Se precisa
de direção, você quer que Cristo tenha efeito em você.
Desligar-se de Cristo aqui em Gálatas não signi-
fica perder a salvação. Desligar-se de Cristo é como ser
casado e não se relacionar com a esposa. Ela está em
casa, vive junto com você, mas você não desfruta das
bênçãos do casamento. Paulo está dizendo exatamente
isso, que, embora sejamos salvos, não desfrutamos de
Cristo e seu favor.
O que faz com que Cristo, que já faz parte de
sua vida, não tenha efeito algum em seu corpo, em
sua alma, em sua vida ou seu casamento? Muitos di-
rão que o problema é o pecado, mas o pecado nunca
foi impedimento para que as pessoas recebessem o
milagre do Senhor Jesus. A maior acusação que os

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

32
fariseus fizeram ao Senhor foi chamá-lo de amigo de
pecadores.
As prostitutas, os coletores de impostos e to-
dos os pecadores receberam o Senhor com alegria.
Todos eles, quando tocaram no Senhor, receberam o
milagre. Para eles, Cristo tinha um efeito poderoso.
Quando receberam do Senhor, eles não eram per-
feitos, mas a imperfeição deles não foi impedimento
para o milagre.
Paulo diz que aquilo que nos separa de Cristo e
nos faz decair da graça é a justiça própria. Em suas
palavras, é tentar nos justificar na lei. Sempre que
procuramos ser aceitos por Deus pela nossa perfor-
mance, pela nossa obediência aos mandamentos, nós
decaímos da graça.
Os pecadores podiam receber os milagres do
Senhor, mas os fariseus não receberam nada. Por
quê? Porque eles pensavam que mereciam receber os
milagres, uma vez que obedeciam aos mandamentos.
Na verdade, não obedeciam, mas pensavam que sim.
Precisamos ter muito cuidado para não receber
a graça de Deus em vão. Receber a graça em vão é ter
a graça de Deus em nossa vida e mesmo assim conti-
nuar tentando merecer a bênção de Deus. Se vivemos
confiando em nossos méritos e em nossa força própria,
estamos desprezando o suprimento perfeito da graça
de Deus. O resultado é como ter uma esposa, mas
viver sem desfrutar dela.

Os que decaem da graça

33
Hebreus 4 diz que há um trono da graça. Se nos
achegarmos a ele, receberemos graça para socorro.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto
ao trono da graça, a fim de recebermos miseri-
córdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna. (Hb 4.16)
Qual a condição para nos achegarmos ao trono
da graça? Simplesmente não merecer nada de Deus.
Não possuir nenhuma justiça própria. Se você se
acha merecedor, então esse trono não é para você. O
problema é que somente a partir do trono da graça
podemos receber misericórdia. Se alguém não vier a
esse trono, para onde irá?

Permanecer em Cristo é
permanecer na graça
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mes-
mo, se não permanecer na videira, assim, nem vós
o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu
sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em
mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem
mim nada podeis fazer. Se alguém não perma-
necer em mim, será lançado fora, à semelhança
do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo
e o queimam. Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis
o que quiserdes, e vos será feito. (Jo 15.4-7)

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

34
Em João 15, o Senhor disse que devemos per-
manecer n’ele. Alguns pensam que permanecerão em
Cristo se orarem bastante, jejuarem ou lerem a bíblia.
Todas essas coisas são boas, mas podemos fazer todas
elas e ainda estar separados de Cristo. Como, então,
permanecer n’ele?
Creio que Paulo nos dá a resposta. Nós perma-
necemos em Cristo quando permanecemos na graça.
Quando decaímos da graça, nós nos separamos de
Cristo. Isso evidentemente não significa perder a sal-
vação, como pensam alguns, mas significa que não
desfrutamos do seu favor em nossas vidas.
Se permanecer em Cristo é permanecer na graça,
então fica fácil entendermos a promessa do verso 7,
que diz: “pedireis o que quiserdes, e vos será feito”. Eu
penso que esta é a maior promessa de toda a palavra
de Deus. Não há limites de bênçãos para quem per-
manece na graça. Debaixo do favor de Deus, podemos
pedir tudo o que quisermos.
A justiça própria é a maior expressão da carne e
do ego. Todas as vezes que confiamos em nossa própria
justiça, em nosso próprio mérito ou em nossa força,
nós decaímos da graça. Muitos pensam que ser fiel
implica prometer que farão o máximo para obedecer
e não entendem que dar o máximo tem a confiança
na carne envolvida. Isso significa que não podemos
prometer fazer o melhor ou dar o máximo? Sim, mas
devemos fazer isso segundo a graça de Deus. Devemos

Os que decaem da graça

35
sempre dizer: “pela graça de Deus, vou fazer isso ou
aquilo”.
Rejeite hoje toda tentação de merecimento pró-
prio. Viva sua vida como quem não tem mérito. Isso
vai afetar todos os seus relacionamentos e o livrará da
amargura. O favor de Deus afeta todas as áreas de sua
vida e, quando você está debaixo do favor, a glória do
céu invade a terra. Não aceite viver nenhum dia sem
a bênção do favor.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

36
A maldição da lei

A
braão foi o primeiro a respeito do qual se diz
que creu em Deus. Assim, quando cremos,
como ele creu, nos tornamos como ele e nos
relacionamos com Deus na mesma base na qual ele
se relacionou.
Veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão,
e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e
teu galardão será sobremodo grande. Respondeu
Abrão: Senhor Deus, que me haverás de dar, se
continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é
o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim
não me concedeste descendência, e um servo nas-
cido na minha casa será o meu herdeiro. A isto

A maldição da lei

37
respondeu logo o Senhor, dizendo: Não será esse
o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti
será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e
disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que
o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade.
Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para
justiça (Gn 15.1-6).
Quando Abraão estava ve­lho e sem filhos, Deus
lhe prometera uma posteridade. Considere atentamen-
te o que aconteceu:
Deus fez uma promessa a Abraão.
Abraão creu em Deus. Humanamente falando,
era impossível que ele fosse pai, mas mesmo assim
Abraão creu na fidelidade de Deus.
Como resultado, a fé de Abraão lhe foi atribuída
como justiça, isto é, ele foi aceito como justo exclu-
sivamente por causa da fé.
Veja bem que Abraão foi considerado justo diante
de Deus não porque ele tivesse cumprido a lei ou ti-
vesse se circuncidado – até porque a lei e a circuncisão
nem tinham sido dadas –, mas ele foi considerado
justo simplesmente porque creu na promessa de Deus.
Hoje nós também somos considerados justos do mes-
mo que Abraão, apenas crendo na promessa de Deus.
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justifi-
caria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho
a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

38
De modo que os da fé são abençoados com o crente
Abraão (Gl 3.8).
Todo aquele que crê em Deus sem confiar em
seus próprios méritos é feito filho de Abraão, pois foi
assim que Abraão foi justificado. Por isso, os da fé
são abençoados como Abraão. A bênção de Abraão é
uma bênção dupla: a justificação e o Espírito Santo.
É com esses dois dons que Deus abençoa todos que
estão em Cristo. Quando cremos em Cristo e em Sua
obra completa na cruz, somos aceitos como justos
diante de Deus e também recebemos o Espírito Santo
em nós. Essas duas bênçãos caminham juntas. Todo
aquele que é justificado recebe o Espírito e todo o que
tem o Espírito foi justificado.
É importante dizermos isso para que fique claro
que a justificação não é algum tipo de maquiagem
espiritual que Deus aplica em nós. Não é um tipo de
faz de conta. Deus nos livre de tal coisa. A justificação
é um fato espiritual. Somos justificados pela fé sim-
plesmente porque, quando cremos, Deus coloca em
nós o Seu Espírito. Seu Espírito em nós é também a
nossa justiça.
Para que o crente possa receber essas duas bên-
çãos, a justificação e o dom do Espírito, ele não tem
de fazer nada. Tem apenas de crer. Não precisa pra-
ticar obra alguma da lei, mas apenas confiar na graça
como fez Abraão.

A maldição da lei

39
Dois princípios de vida
E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que
observar os seus preceitos por eles viverá (Gl
3.11,12).
Somente podemos ter um relacionamento corre-
to com Deus se formos justificados. Ser justificado é o
oposto de ser condenado. Ser justificado é ser declara-
do justo e estar debaixo do favor imerecido de Deus e
do Seu sorriso. Mas como podemos ser justificados?
Teoricamente, há duas possibilidades: a justificação
pela lei ou a justificação pela graça mediante a fé.
A ideia do religioso é que ele será justificado se
obedecer aos mandamentos da lei. Dessa forma, ele
vive se esforçando para ser aceito por Deus e receber
o Seu favor. Quando ele julga ter obedecido, enche-
-se de justiça própria e se julga merecedor da bênção
de Deus. Mas, como inevitavelmente acontece, ele
acaba caindo em algum ponto e se enche de conde-
nação e culpa.
A verdade é que não podemos ser justificados por
obras da lei, porque a lei não procede de fé. Aqueles
que vivem tentando praticar os preceitos da lei con-
fiam em sua própria força, não dependem de fé e, por
isso, estão condenados ao fracasso. Em oposição a isso,
temos aqueles que simplesmente creem na obra de

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

40
Cristo. Eles sabem que não possuem mérito algum,
por isso descansam na obra de Cristo. Eles não ficam
olhando para si mesmos em busca de alguma justiça,
mas, em vez disso, olham constantemente para Cristo
e Sua obra realizada na cruz. A justificação é exclu-
sivamente pela fé pelo simples motivo de que não
conseguimos cumprir os mandamentos da lei.

Dois resultados
Uma vez que esses dois princípios de vida são
estabelecidos, eles vão conduzir o homem a dois re-
sultados distintos: a bênção ou a maldição (vv. 10,14).
A bênção é ser colocado debaixo da graça de Deus,
debaixo do Seu favor imerecido. A maldição é o oposto
disso, é ficar debaixo da maldição e do juízo de Deus.
A maldição é tudo aquilo que está escrito em
Deuteronômio 28 e inclui pelo menos quatro coisas:
condenação, morte, doença e miséria. Como o ho-
mem é incapaz de cumprir a lei, ele está debaixo da
maldição da lei, mas, em Cristo, somos livres dessa
maldição por causa do evangelho da graça.
Paulo nos diz que a bênção de Abraão está re-
lacionada conosco por dois motivos. Em primeiro
lugar, porque somos justificados, como foi Abraão,
pela fé. Quando cremos como creu Abraão, somos
justificados. Abraão é chamado de o “pai da fé” e to-
dos os que creem são seus filhos. Por isso, a bênção
de Abraão nos alcança.

A maldição da lei

41
Como a maldição e a bênção chegam até nós? Os
que andam pelo caminho da lei recebem a maldição.
Os que andam pelo caminho da lei são aqueles que
confiam em seus méritos próprios para agradar a Deus.
Tais pessoas estão debaixo de maldição. O caminho da
fé é o caminho oposto ao caminho da lei (vv. 7-9). Os
que andam exclusivamente pela fé na obra de Cristo
são os que herdam a bênção. O primeiro grupo con-
fia em suas próprias obras; o segundo confia na obra
consumada de Cristo na cruz.

Se vivemos pela lei, estamos


debaixo de maldição
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão
debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito
todo aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las
(Gl 3.10).
Há uma maldição sobre todos os que fracassam
em guardar todos os mandamentos da lei (Dt 27.26).
Infelizmente, existem hoje muitos crentes que prefe-
rem depender de seus esforços, e não do Senhor Jesus.
Eles só dependem de Jesus para a salvação, mas depois
disso eles acham que é responsabilidade deles a vitória
sobre o pecado, o diabo e o mundo.
Sabemos que todos os crentes já foram redimidos
da maldição da lei através da obra do Senhor Jesus,

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

42
que se fez maldição em nosso lugar. Contudo, quando
um crente rejeita a graça de Deus e depende de suas
próprias obras para ser abençoado, ele volta a ficar
debaixo da maldição da lei.
Isso não significa que ele perde a salvação, signi-
fica apenas que ele se exclui da alegria das bênçãos que
Jesus comprou para ele com o Seu sangue. Quando
você volta a depender de suas próprias obras para ser
abençoado por Deus, está retornando ao sistema da
lei e recaindo novamente sob a maldição da lei.
Paulo diz que rejeitar a graça é decair da graça
para as obras. Ao contrário do que muitos imaginam,
isso não significa cair no pecado. Decair da graça é
voltar a depender de obras para agradar a Deus. Paulo
diz em Gálatas 5.4: “Vós que procurais justificar-vos
na lei; da graça decaístes.
Decair da graça é voltar a depender das suas
próprias obras para ser abençoado por Deus. Quem
age assim está retornando ao sistema da lei, o sistema
do favor merecido, e assim cai novamente debaixo da
maldição da lei. No Verso 10, Paulo diz que “todos
quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de
maldição”. Ninguém é capaz de cumprir os padrões
perfeitos da lei. No momento em que falha em um
ponto, será culpado de todos.
Mas a graça de Deus se revela no verso 14, que
diz: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-
-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está

A maldição da lei

43
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em
madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos,
pela fé, o Espírito prometido (Gl 3.13,14).
Ao morrer na cruz, Jesus nos redimiu da maldi-
ção da lei. A maioria dos crentes acredita que é amal-
diçoada quando peca, mas a Palavra de Deus afirma
que já fomos redimidos da maldição da lei. Mesmo
se você falhar, a lei não pode condená-lo, porque, em
Cristo, já está perdoado e justificado. Na verdade, já
morremos para a lei. Não estamos mais debaixo da
lei e da sua maldição.
Mas, se você resolve voluntariamente voltar ao
padrão da lei e depender do seu esforço próprio para
ser justo, a própria lei vai trazer a maldição, e a bên-
ção de Abraão não pode fluir em sua vida. O pecado
já não é mais problema, pois o Senhor Jesus já pagou
nossa dívida, o problema é a insistência do homem
em confiar nos seus próprios esforços.
A ter­rível função da lei é condenar, não justifi-
car. Nenhum homem jamais foi ou será justificado
diante de Deus pelas obras da lei, ou seja, pelas suas
boas obras e seu bom comportamento. Uma vez que
todos falharam em guardar a lei (ex­ceto Jesus), Paulo
teve de escrever dizendo que “todos quantos, pois, são
das obras da lei, estão debaixo de maldição” (v. 10).
A única maneira de fugir da maldição não é
pelas nossas obras, mas pela obra de Cristo. Ele nos

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

44
redimiu da maldição da lei (v. 13). A nossa maldição
foi transferida Ele. Ele a colocou voluntaria­mente
sobre si mesmo, a fim de nos libertar dela.
Uma vez que sabemos que Ele assumiu a nossa
maldi­ção e que devemos estar n’Ele para ser remidos
dela, como nos unimos a Ele? A resposta é: pela fé.
É por isso que Paulo diz que “o justo viverá pela fé”
(v. 11). E dessa forma, “recebemos pela fé o Espírito
prometido” (v. 14).

A maldição da lei
A afirmação categórica da Palavra de Deus é que,
quando vivemos pela fé no favor imerecido de Deus,
nós somos resgatados da maldição da lei. Aqueles
que vivem com base em seu merecimento e andam
confiados em seu esforço e justiça própria inevita-
velmente ainda sofrem debaixo da maldição da lei,
mesmo sendo salvos.
O que é a maldição da lei? A única maneira de
descobrirmos é voltando à lei. Ela está descrita no
capítulo 28 de Deuteronômio e envolve basicamente
quatro coisas: miséria, enfermidade, condenação e
morte. Por causa da obra consumada da cruz, não
precisamos mais viver debaixo dessas maldições.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
ele próprio maldição em nosso lugar, porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado

A maldição da lei

45
no madeiro; para que a bênção de Abraão che-
gasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que
recebêssemos pela fé o Espírito prometido [...]
E se sois de Cristo, também sois descendentes
de Abraão, e herdeiros segundo a promessa (Gl
3.13,14,29).
Não vamos enumerar aqui todas as maldições
da lei por falta de espaço, mas você pode ler com cui-
dado a descrição em Deuteronômio 28. Com base
nesse capítulo, podemos dizer que a maldição inclui
os seguintes aspectos:

Maldito no corpo
Fome (vv. 17,33)
Pestilência, tumores, sarna, prurido (vv. 21,27)
Cegueira (vv. 28, 29,35)
Toda enfermidade conhecida pelo homem (v. 61)

Maldito na família
Filhos doentes ou que não servem a Deus (vv.
18,32,41)
Infidelidade no casamento ou o casamento des-
truído (30)

Maldito na mente
Confusão (v. 28)
Perturbação de Espírito (v. 28 - opressão, 33,65)

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

46
Loucura (v. 28)
Medo de perder a vida (vv. 66,67)

Maldito na capacidade de sustentar a


família
Fracasso das colheitas (vv. 18,30,40)
Seca (v. 24)
Ataques por insetos (vv. 21,38,39,42)
Fracasso nos negócios (vv. 16,30)
Animais domésticos estéreis (v. 28)
Falta de alimento e de bens materiais (vv. 17,18)
Ladrões que roubam (vv. 31,33)

Maldito na própria existência


Todas estas maldições virão sobre ti, e te perse-
guirão, e te alcançarão, até que sejas destruído (v. 45).
Assim com fome, com sede e com falta de tudo,
servirás aos teus inimigos (v. 48).

Maldito na guerra
Derrota na guerra, os inimigos tomarão tudo (vv.
36,43,49,50,51)
Sobre quem vinha essas maldições? Sobre todo
aquele que quebrava algum mandamento. Dessa for-
ma, todo homem está debaixo de maldição, porque
todos pecaram e quebraram a lei de Deus. Todavia,

A maldição da lei

47
na nova aliança, não estamos mais debaixo da lei, ela
não mais nos diz respeito. Em Cristo, somos libertos
da maldição porque não estamos mais debaixo da lei
e recebemos a justiça de Cristo.
Mas, quando um crente resolve viver novamen-
te debaixo da lei, o resultado é que a maldição da lei
poderá vir sobre ele novamente. E por que alguém em
sã consciência iria querer voltar a viver debaixo da lei?
Por causa do engano do diabo. O inimigo tem con-
vencido a muitos que não basta crer em Cristo para
ser justo, mas que eles também precisam guardar os
mandamentos da lei. Não caia no engano do diabo,
pois o alvo dele é fazer com que você sofra novamente
debaixo da maldição da lei.
A única forma de um crente voltar a sofrer debai-
xo da maldição da lei é quando ele decide viver com
base no mérito da lei. Quando um crente decide se
relacionar com Deus com base na troca, ele imediata-
mente cai na maldição da lei. Em Gálatas 3.10, Paulo
diz que aqueles que se relacionam com Deus com base
no mérito da lei estão debaixo de maldição:
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão
debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito
todo aquele que não permanece em todas as
coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las
(Gl 3.10).

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

48
Os dois montes

Aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora,


porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por
todas, farei abalar não só a terra, mas também o
céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas
significa a remoção dessas coisas abaladas, como
tinham sido feitas, para que as coisas que não são
abaladas permaneçam. Por isso, recebendo nós
um reino inabalável, retenhamos a graça, pela
qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
reverência e Santo temor; porque o nosso Deus é
fogo consumidor. (Hb 12.26-29)

Os dois montes

49
P
arece surpreendente, mas o Senhor promete
que todas as coisas serão abaladas. Não é real-
mente o tipo de promessa que esperamos en-
contrar na Palavra de Deus. Isso significa que todos
nós passaremos por terremotos, furacões, enchentes
e tsunamis. Todos nós seremos sacolejados em nossa
vida financeira, ministerial, profissional, matrimonial
e emocional. As tribulações são inevitáveis. E por que
o Senhor permite que venham os terremotos? O ob-
jetivo de abalar todas as coisas é para que aquelas que
não são abaláveis permaneçam.
Tenho aprendido algo nesses dias, o problema
não são os problemas. O problema não são as tribula-
ções, mas o que sentimos no meio delas. O problema
é o medo, a angústia e a ansiedade que surge no meio
da luta, pois esses sentimentos demonstram o que pen-
samos: que podemos ser desamparados por Deus uma
vez que não somos suficientemente justos ou bons.
O raciocínio de muitos é que Deus somente ouve
as orações dos mais bonzinhos. Então, eles avaliam sua
vida e concluem que não têm sido suficientemente jus-
tos e bons, logo Deus não os ouvirá. O sentimento de
desamparo produz medo e ansiedade, pois não sabem
como enfrentarão a situação. Se tivessem certeza de
que Deus ouviria sua oração e que não existe pecado
separando-os de Deus, então se sentiriam seguros e
confiantes. Veja, pois, que esta é a raiz do problema, o
tipo de relacionamento que você possui com o Senhor.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

50
O problema não é a tribulação, mas o medo que
você tem de ser desamparado por Deus. O verdadeiro
problema é a maneira como você se relaciona com
Deus. Se o seu relacionamento com o Senhor é base-
ado no seu mérito próprio, então você será abalado
pelos furacões e tsunamis quando achar que não tem
sido bom o suficiente para merecer a bênção de Deus.
Mas a promessa de Deus é que podemos permanecer
inabaláveis no meio das tribulações.
Como podemos ter uma vida inabalável? O autor
de Hebreus diz que tudo depende de em qual monte
estamos edificando a nossa vida. Ele faz o contraste
entre o monte Sinai e o monte Sião. O que significa
esses dois montes? Indiscutivelmente, o monte Sinai
simboliza a lei, e o monte Sião representa a graça. A
conclusão é óbvia, se estamos no monte Sião, não po-
demos ser abalados. A Palavra do Senhor diz no Salmo
125.1 que “Os que confiam no Senhor são como o
monte Sião, que não se abala, firme para sempre”.
O texto nos mostra que apenas aquilo que procede
do monte Sião não pode ser abalado. Mas tudo aquilo
que é feito pelo homem baseado em sua força e em
seus méritos pode ser abalado, pois procede do Sinai.
Podemos ver claramente que ainda vivemos no
Sinai quando, no meio da tribulação, sentimos uma
sensação de separação e distanciamento e nos enche-
mos de ansiedade e medo. E por que sentimos essa
sensação de separação? Isso acontece porque ainda

Os dois montes

51
duvidamos que todos os nossos pecados foram per-
doados. Ainda imaginamos que há uma dívida não
paga em nosso nome diante de Deus.
A partir do verso 18, o autor de Hebreus faz um
paralelo entre o monte Sinai e o monte Sião, entre
a lei e a graça. Se queremos permanecer inabaláveis,
temos de nos mover para Sião. Aqueles que estão no
monte Sião não podem ser abalados. Eu creio nessa
promessa. A vida cristã normal não é aquela cheia de
ansiedade e medo. Mas, para isso, precisamos estar
em cima do monte correto.

O monte sinai
Sião simboliza a graça de Deus, enquanto o Sinai
representa a lei. O monte Sinai representa aqueles
que confiam em si mesmos, na sua justiça própria,
mas os que confiam no Senhor e na justificação que
procede da cruz são como o monte Sião. A lei traz
condenação, mas a graça diz que os nossos pecados
estão perdoados. Não existe mais dívida em nosso
nome lá no céu, fomos justificados pela fé. Este é o
monte Sião. É por isso que os que confiam no Senhor
não podem ser abalados.
Não pense que a lei é ruim. Não há nada de
errado com a lei. A lei é justa, santa e boa, mas ela
não tem o poder de nos fazer Santos, justos e bons. A
lei não foi dada para que nós a praticássemos, ela foi

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

52
dada para nos mostrar o quanto somos impotentes
e incapazes de cumprir a vontade de Deus em nossa
própria força.
Vamos ver a descrição do monte Sinai.
Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ar-
dente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade
[...] (Hb 12.18)
O topo do monte estava em chamas, mas ao
mesmo tempo havia trevas e escuridão. A lei é fogo,
mas não tem poder de iluminar. Ainda hoje, acontece
o mesmo. Quando andamos pela lei, sentimos trevas
no coração e falta de direção, sensação de medo e inse-
gurança. Mas esta não é a condição normal do cristão.
E ao clangor da trombeta, e ao som de palavras
tais, que quantos o ouviram suplicaram que não
se lhes falasse mais [...] (v. 19)
A vontade de Deus era fazer de Israel uma nação
de sacerdotes, mas quando o povo viu o monte Sinai
sacudido por terremotos, trovões, relâmpagos e fogo,
eles ficaram aterrorizados. Então, o que disseram a
Moises? “Fale você com Deus, ouça a sua palavra,
depois venha e conte-nos” (Êx 20.19).
O povo pediu a Moisés para representá-los dian-
te de Deus, porque não se sentiam em condições
de exercer o sacerdócio. Todos os que vivem na lei
estão buscando alguém para servir de intermediário
entre eles e Deus. Um claro sinal de alguém que vive

Os dois montes

53
na lei é que ele sempre está procurando quem possa
falar com Deus por ele. Pensa que Deus não o ou-
virá porque ele é tão pecador, então procura alguém
mais Santo e ungido para apresentar sua necessidade
diante de Deus.
Não estou dizendo que não devemos orar uns
pelos outros, mas nunca devemos fazer de ninguém
um intermediário entre nós e Deus. Esta é a base da
velha aliança. Na velha aliança, existia uma classe cle-
rical, mas no Novo Testamento, todos fomos feitos
sacerdotes diante do Senhor. Todos podem ouvir de
Deus, desde o menor até o maior.
O verdadeiro sacerdócio somente é possível
na graça. Os crentes que ainda vivem na lei sempre
querem impedir os outros de serem sacerdotes e eles
mesmos se sentem sempre desqualificados para ouvir
diretamente de Deus e ministrar ao povo sem inter-
mediários. O monte Sinai é o lugar do clericalismo.
Mas, no monte Sião, todos são feitos sacerdotes.
A visão de que cada crente é um ministro so-
mente pode ser praticada por quem vive na luz do
evangelho. Os que vivem no monte Sinai estão sempre
procurando por intermediários, porque eles se sentem
desqualificados diante de Deus. Mas louvo ao Senhor
porque a mensagem do evangelho nos alcançou.
Pois já não suportavam o que lhes era ordenado:
Até um animal, se tocar o monte, será apedre-
jado. (v. 20)

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

54
O monte Sinai não é lugar de vida, mas de mor-
te e condenação. Até os animais eram condenados
se chegassem perto do monte. Ainda hoje, quando
resolvemos andar pela lei, nós entramos num ter-
ritório onde o diabo vem para acusar e condenar.
Infelizmente, alguns acham que a sensação de con-
denação é algum tipo de virtude espiritual. Muitos
vivem no engano de se achar mais Santos quanto
mais condenados se sentem.
Deus não nos deu a lei para que andássemos por
ela, mas para que, por ela, pudéssemos descobrir que
somos pecadores. A vontade de Deus é nos levar para
outra montanha, o monte Sião.
Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo,
que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo!
(v. 21)
Moisés era o melhor entre o povo, mas até ele
se sentiu aterrorizado diante do monte Sinai. As
Escrituras afirmam que ele era o homem mais manso
que havia na terra e até mesmo falava com Deus face
a face (Êx 33.11; Nm 12.3). No entanto, sua justiça
não era suficiente para enfrentar o monte Sinai. Moisés
se sentia trêmulo e aterrado. A graça salva o pior de
nós, mas a lei condena o melhor de nós.
Aqueles que andam pela lei possuem essa sen-
sação constantemente, estão sempre com medo e
com receio de serem desqualificados. Estão sempre

Os dois montes

55
inseguros sobre o seu estado espiritual diante de Deus.
Mas hoje terminou o tempo do monte Sinai. Nunca
foi o propósito de Deus que o homem vivesse debaixo
da lei dada no monte Sinai. Deus mudou de monte.
Alguns acham que a maneira certa de se relacio-
nar com Deus é sentindo-se aterrorizado e trêmulo.
Era assim no Velho Testamento, mas já não é assim na
nova aliança. Paulo diz que “não recebemos o Espírito
de escravidão, para vivermos, outra vez, aterrorizados,
mas recebemos o Espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).
O sinal de que você chegou ao monte certo é
quando você é capaz de chamar Deus de Paizinho. A
palavra aba é “paizinho” em hebraico. É uma expres-
são que mostra uma profunda sensação de liberdade
e intimidade. Criancinhas não se sentem aterrorizadas
e trêmulas diante dos pais, mas se sentem seguras em
seus braços. Moisés se sentiu aterrorizado porque não
estava no monte Sião, estava no monte Sinai.

O monte sião
Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade
do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incon-
táveis hostes de anjos, e à universal assembléia
[...] (v. 22)
Precisamos ter em mente que Deus mudou a sua
habitação. Veja que não há ninguém no monte Sinai.

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

56
Deus não está lá, Jesus não está lá e nem mesmo os
anjos estão lá. Todos mudaram de residência. Estão
todos no monte Sião.
Em Sião, você chegou à cidade do Deus vivo, à
Jerusalém celestial, às incontáveis hostes de anjos, à
universal assembleia dos Santos. Você chegou ao lu-
gar onde Deus habita. Deus já saiu do monte Sinai,
Ele veio para o monte Sião. Ele já abandonou a lei e
agora veio para o evangelho da graça em Cristo Jesus.
Este é o lugar em que nós também temos de fazer a
nossa residência.
Deus não deseja ter um relacionamento conosco
baseado na lei. Porque, se for pela lei, Ele sempre terá
de voltar as costas para nós ou nos consumir e nos
destruir. Mas Deus ama a graça. Ele tem prazer em ser
gracioso. É por isso que o Senhor escolheu o monte
Sião para sempre. Podemos ver inúmeras menções do
monte Sião no Velho Testamento. Sião é o símbolo da
igreja que estava oculto na antiga aliança.
Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu Santo
monte Sião. (Sl 2.6)

Cantai louvores ao Senhor, que habita em Sião;


proclamai entre os povos os seus feitos. (Sl 9.11)

O Senhor é grande em Sião e sobremodo elevado


acima de todos os povos. (Sl 99.2)

Os dois montes

57
O Senhor enviará de Sião o cetro do seu poder, di-
zendo: Domina entre os teus inimigos. (Sl 110.2)

O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas


a prosperidade de Jerusalém durante os dias de
tua vida. (Sl 128.5)

Pois o Senhor escolheu a Sião, preferiu-a por sua


morada. (Sl 132.13)

De Sião te abençoe o Senhor, criador do céu e da


terra! (Sl 134.3)

Os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião


com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará
a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles
fugirá a tristeza e o gemido. (Is 35.10)

Os que confiam no Senhor são como o monte


Sião, que não se abala, firme para sempre.
(Sl 125.1)
Deus habita em Sião. Os que confiam no Senhor
são como o monte Sião, que não se abala. Muitos
ainda estão no monte Sinai pregando a lei, mas Deus
já se moveu para Sião há muito tempo.
[...] à igreja dos primogênitos arrolados nos céus,
e a Deus, o Juiz de todos, e aos Espíritos dos justos
aperfeiçoados [...] (v. 23)
Nós somos esses que possuem o nome arrolado
no céu. Nós somos a igreja dos primogênitos, porque

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

58
fomos feitos semelhantes ao primogênito, que é
Cristo, e também fomos incluídos n’Ele. Porque temos
o nome no céu, vivemos de acordo com os recursos do
céu. Não dependemos dos recursos humanos.
Observe que o texto diz que Deus é o juiz, mas
também fala dos justos aperfeiçoados. Isso é para nos
encorajar. O juiz de todos nos declarou justos. O ma-
gistrado celestial nos declarou inocentes. O juiz que
contempla os pensamentos dos homens, o Senhor que
vê os motivos do coração, que testa os desígnios de
cada ser humano, aquele que conhece todas as coisas
antes que aconteçam, este nos declarou justos. Este
que conhece todas as coisas pode declarar a verdade.
Não tenho medo da polícia e dos magistrados. Na
verdade, eu os vejo como amigos, pois eles mantêm o
ambiente a salvo para vivermos em segurança, mas se
faço algo errado, então sinto medo deles. O medo é
sempre do juízo. Mas o juiz me declarou justo, então
eu não tenho mais nada a temer.
[...] e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao
sangue da aspersão que fala coisas superiores ao
que fala o próprio Abel. (v. 24)
Onde nós encontramos o Senhor Jesus? No Sinai
ou em Sião? O Senhor está em Sião, o lugar da ma-
nifestação da graça.
A Palavra de Deus diz que o sangue fala. O
sangue de Jesus fala, mas o sangue de Abel também

Os dois montes

59
fala. O que o sangue de Jesus e o sangue de Abel es-
tão falando? Você conhece a história e Caim e Abel.
Houve um dia em que os dois foram ao culto adorar
a Deus. Chegando lá, Caim ofereceu a Deus do me-
lhor da lavoura, que representa o esforço próprio, mas
Abel ofereceu das primícias do rebanho, que apontam
para Cristo. Deus se agradou de Abel, mas não de
Caim. Percebendo isso, Caim foi tomado de inveja
e traiçoeiramente matou o seu irmão. Deus veio ter
com Caim e lhe disse: “Onde está Abel, teu irmão?”.
Ele respondeu: “Não sei! Acaso, sou eu tutor de meu
irmão?”. E disse Deus: “Que fizeste? A voz do sangue
de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.9-10).
O que você acha que o sangue de Abel estava
clamando diante de Deus? Estava clamando por jus-
tiça e vingança. Clamar por justiça não é ruim, não
é errado, mais diz a Bíblia que o sangue de Jesus fala
coisas superiores.
O que o sangue de Jesus está clamando? Lá na
cruz, quando o seu sangue foi derramando, quando
lhe colocaram a coroa de espinhos, açoitaram-no e
colocaram os cravos em suas mãos e em seus pés, o
que Jesus disse? “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem” (Lc 23.34). O sangue de Jesus está falando
de perdão, misericórdia e graça.

Ouça o sangue de Jesus


Agora, preste atenção no que diz o verso 25:
“Tende cuidado, não recuseis ao que fala” (Hb 12.25).

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

60
Quem está falando? O sangue de Jesus. Precisamos
ouvir o sangue. O sangue nos diz que somos perdo-
ados. O sangue proclama que somos justos pela fé.
Precisamos ser cuidadosos para não recusar ao que fala.
A nova aliança é sobre isso, o perdão dos peca-
dos. Muitos acham que isso é algo muito básico na
fé, mas é um erro. Muitos irmãos acham que o per-
dão dos pecados é um assunto muito banal e trivial.
Pensam que é algo para o Novo convertido. Mas isso
é um engano do diabo na mente. O inimigo quer
enganá-lo para mantê-lo no cativeiro. Se você não se
lembrar constantemente de que já foi perdoado, a sua
fé se torna fraca e sua mente se enche de acusações. O
perdão dos pecados é o que nos permite experimentar
coisas maiores em Deus.
Nesse ponto, voltamos ao versículo em que
começamos a nossa ministração. Como podemos
permanecer inabaláveis? Simplesmente ouvindo o
sangue. Ouça o que o sangue está falando. O sangue
está falando que você está perdoado.
Quando as pessoas não creem no perdão dos
pecados, elas se colocam num terreno abalável. E, se
elas são abaladas, vivem constantemente inseguras.
Elas temem quando a tribulação vem porque não têm
certeza de que todos os seus pecados são perdoados.
Mas quando você tem uma consciência clara de que é
totalmente perdoado, então você não é abalado diante
das circunstâncias. Depois de ouvir o sangue, você sabe

Os dois montes

61
que pode orar a Deus em nome de Jesus, porque não
há nada que pode impedi-lo de ter comunhão com
Deus. O perdão dos pecados é o centro do evangelho.
Não podemos recusar ouvir a voz que fala coisas
superiores. Porque, se recusarmos ouvir essa voz, es-
taremos num terreno movediço e abalável. Quando
você sabe que não há mais pecado entre você e Deus,
você tem um terreno sólido para embasar a sua fé. Sua
fé se torna inabalável.
Precisamos ter clareza de que a nova aliança é
sobre o perdão dos pecados. O Senhor nos mandou
celebrar a ceia para nos lembrarmos d’Ele e da nova
aliança, mas o que vemos são pessoas se lembrando do
pecado. E quanto mais se lembram do pecado, mais
abaladas se sentem.
Muitos acreditam que o perdão dos pecados é
apenas a porta e que, depois de entrar pela porta,
devem aprender coisas mais elevadas e profundas. O
problema é que não existe nada maior que o perdão
dos pecados. Não importa o nível de maturidade que
alcancemos, nós sempre precisaremos nos lembrar do
perdão dos pecados.
No qual [nele] temos a redenção, pelo seu sangue,
a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça. (Ef 1.7)

O perdão dos pecados gera fé


O perdão dos pecados não é somente o começo,
mas é a fundação e a fonte, ou seja, a origem de todas

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

62
as bênçãos. Pense um pouco sobre isso. O que impede
alguns de serem curados? É porque acham que têm
pecado não perdoado em sua vida. Ainda pensam que
a doença é um castigo divino. Por que não recebem
resposta para determinado pedido de oração? Porque
se sentem indignos de receber, pois ainda pensam que
há pecado em sua vida. Mas quando temos consciência
do perdão, nos tornamos inabaláveis.
Jesus mandou que seus discípulos fossem pelo
mundo, pregando arrependimento para remissão de
pecados. Quando as pessoas creem que seus pecados
são perdoados, elas ganham fé para serem curadas,
libertas, restauradas, enriquecidas e tudo o mais de
que precisarem. Esta é a fonte da nossa fé, o perdão
dos pecados.
O evangelho de Marcos nos conta que, em certa
ocasião, Jesus estava numa casa em Cafarnaum e um
grupo de amigos decidiram levar um paralítico para ser
curado por Ele. Mas quando chegaram à casa em que
Jesus estava, não podiam entrar por causa da grande
aglomeração de pessoas ali para ouvi-lO. Eles, então,
tiveram uma ideia: decidiram puxar o paralítico até
o telhado, quebrar a laje e descê-lo diante de Jesus.
Quando Jesus viu o paralítico sendo descido por cor-
das diante d’Ele, disse: “Filho, os teus pecados estão
perdoados” (Mc 2.5).
Não era exatamente aquilo que o paralítico espe-
rava ouvir naquele dia. Ele queria ser curado. Então,

Os dois montes

63
por que o Senhor resolveu perdoar os seus pecados
antes de curá-lo? Eu creio que a resposta está na maldi-
ção da lei. Deuteronômio 28 diz que “se atentamente
ouvires a voz do Senhor, teu Deus, tendo cuidado de
guardar todos os seus mandamentos [...], então virão
sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos” (Dt 28.1-
2). A bênção era resultado da obediência.
Todavia, se não ouvissem a voz de Deus, então
uma longa lista de maldições os alcançaria. As maldi-
ção podiam ser resumida em pobreza, doença e morte.
Aquele paralítico estava experimentando a mal-
dição da lei. Ele estava enfermo e, por causa dessa
enfermidade, tinha de mendigar. Doença e miséria
era o sinal de que ele era muito pecador para ser tão
amaldiçoado. Este certamente era o seu pensamento.
Mas, no momento em que Jesus disse que os seus
pecados estavam perdoados, ele entendeu que não
precisava mais estar debaixo de maldição. Se ele não
tinha pecado, então poderia desfrutar da bênção.
Jesus percebeu que os fariseus pensavam con-
sigo mesmos: “Por que diz este assim blasfêmias?
Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Mc
2.6-7) Então, disse-lhes: “Por que arrazoais sobre es-
tas coisas em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer
ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou
dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para
que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados, disse ao paralítico:

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

64
Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para
tua casa” (Mc 2.8-11).
A lógica de Jesus eram bem simples. A maldição
veio por causa do pecado. Se os pecados dele não es-
tiverem perdoados, ele não poderá andar. Todavia, se
ele foi realmente perdoado, eu vou mandá-lo andar e
ele terá de andar, pois já não há maldição do pecado na
vida dele. Portanto, a prova de que o paralítico estava
mesmo perdoado foi a cura instantânea.
Aquele homem teve fé para ser curado porque
primeiro creu que não tinha mais pecado. Foi o perdão
dos pecados que lhe trouxe fé. O mesmo princípio se
aplica hoje. Enquanto pensamos que ainda temos pe-
cado diante de Deus, não temos fé para receber coisa
alguma. Enquanto achamos que os nossos pecado não
foram perdoados, não temos fé para pedir grandes
coisas. Mas, no momento em que cremos no perdão,
a fé e a ousadia invadem o nosso coração. O perdão
dos pecados sempre vai gerar fé em nós. Nunca pense
que se trata de um assunto pequeno, trata-se, antes,
do ponto mais importante da nova aliança.
O que você deve pregar? Qual é a mensagem que
vai transformar o mundo? Seria a visão de células? O
discipulado? A mensagem que vai mudar o mundo é
aquela que o Senhor mandou os discípulos pregarem.
E que em seu nome se pregasse arrependimento
para remissão de pecados a todas as nações, co-
meçando de Jerusalém. (Lc 24.47)

Os dois montes

65
Essas são as boas-novas. Os nossos pecados já
foram perdoados. Jesus já levou todos eles na cruz.
Se você crer que é perdoado, também vai ser curado,
liberto, santificado, vai receber toda sorte de bênçãos.

O perdão dos pecados gera


amor
Mas não é apenas a nossa fé que depende do per-
dão dos pecados. O Senhor Jesus também disse que
aquele que é mais perdoado ama mais. Nosso amor
ao Senhor depende também do quanto entendemos
que fomos perdoados.
Convidou-o um dos fariseus para que fosse jan-
tar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu,
tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da
cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa
na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro
com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés,
chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxu-
gava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés
e os ungia com o ungüento. Ao ver isto, o fariseu
que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora
profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que
lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus
ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a
dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo
credor tinha dois devedores: um lhe devia qui-
nhentos denários, e o outro, cinqüenta. Não tendo
nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

66
a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais?
Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a
quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem.
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês
esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste
água para os pés; esta, porém, regou os meus pés
com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que
entrei não cessa de me beijar os pés. Não me un-
giste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo,
ungiu os meus pés. Por isso, te digo: perdoados
lhe são os seus muitos pecados, porque ela mui-
to amou; mas aquele a quem pouco se perdoa,
pouco ama. Então, disse à mulher: Perdoados são
os teus pecados. Os que estavam com ele à mesa
começaram a dizer entre si: Quem é este que até
perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua
fé te salvou; vai-te em paz. (Lc 7.36-50)
Jesus está dizendo aqui que o seu amor depen-
de do quanto você foi perdoado. Todos nós fomos
muito perdoados, o problema é que alguns não têm
consciência do tamanho do perdão que receberam. O
Senhor Jesus disse que aquele que é muito perdoado
esse ama mais.
Simão, o fariseu, pensava que não tinha peca-
do, por isso tratava Jesus de forma indiferente, mas
aquela mulher era pecadora. Na verdade, Jesus disse
que ela tinha muito pecado, mas ela sabia que estava
perdoada. Ela já havia sido perdoada pelo Senhor. Ela
não estava ali para ser perdoada, mas porque tinha

Os dois montes

67
sido perdoada. Não sabemos quem era ela, podia ser
Maria Madalena ou a mulher pega em adultério em
João 8, mas o fato é que ela amou o Senhor porque
tinha provado o perdão. E, naquele dia, ela estava ali
para adorar o Senhor.
Em sua adoração, ela não tinha limites para o
Senhor. Ela comprou um vaso de alabastro cheio de
perfume. Sabemos que um vaso desses custava tre-
zentos denários. Um denário era o salário de um dia
de um trabalhador, portanto trezentos era o salário
de quase um ano de trabalho. Mas ela não achou de-
mais aquele investimento porque foi muito perdoada.
Ela lavou os pés do Senhor com a suas lágrimas e os
enxugou com o próprio cabelo. Aquele que é muito
perdoado torna-se extravagante em sua relação com
o Senhor.
Por outro lado, Jesus disse que Simão não lhe deu
nem água para lavar os pés quando chegou ali, o que
era parte da etiqueta em Israel. Sempre que chegava
um visitante, o anfitrião lhe dava água para lavar os
pés e as mãos. Simão não fez isso e nem recebeu Jesus
com um beijo, o que também era usual em Israel. Mas
a mulher não se cansava de fazer muito mais.
A explicação de Jesus para aquilo era muito sim-
ples, ela foi muito perdoada, e quem é muito perdoa-
do ama mais, tem mais compromisso. O seu nível de
compromisso depende da sua percepção do perdão.
Quem é muito perdoado não fica discutindo a respeito

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

68
de dízimo, porque ama tanto que não coloca limites
em sua relação com o Senhor.
Aquele que não tem consciência do quanto foi
perdoado acha tudo difícil demais, a igreja cobra mui-
to, o culto sempre passa da hora, a visão está destruin-
do a sua vida. Mas aquele que é muito perdoado não
se importa de servir. Ele quer encontrar mais ocasiões
para expressar seu amor e gratidão. Para ele, a igreja
nunca pede demais, porque ele sempre está indo além.
Quem acha que não pecou muito também não
esta disposto a servir muito; afinal, não precisou de
tanto perdão. Não está disposto a liderar muito, não
está disposto a contribuir, porque tudo é visto como
um exagero. O fariseu não tinha noção do seu peca-
do, por isso não valorizava o perdão. Infelizmente,
há muitos assim em nosso meio. Não adianta cobrar
compromisso de gente que nem sabe que foi perdo-
ada, gente que nunca viu o próprio pecado. Se você
soubesse o tamanho do seu pecado, você iria valorizar
o tamanho do amor que foi manifestado a você.
Quem foi muito perdoado não tem receio de falar
das boas-novas do perdão. Para ele, evangelizar não
é um fardo que a igreja impõe. Ele quer que outros
sejam abençoados como ele foi.
Depois de muitos anos na vida da igreja, com o
tempo, nós nos esquecemos de quem éramos, de onde
estávamos. Esquecemo-nos do preço que foi pago e do
perdão que nos foi concedido. Mas é esse perdão que

Os dois montes

69
gera compromisso e amor. Sem a percepção do perdão,
fazemos tudo por causa de uma obrigação religiosa.

O perdão dos pecados nos


enche do Espírito
É importante ressaltar ainda que a maior bênção
de todas, o Espírito Santo, nos é concedida quando
cremos que nossos pecados são perdoados. O momen-
to em que o Espírito veio sobre Cornélio foi justa-
mente quando Pedro falou da remissão dos pecados.
Por que existem irmãos que são vazios apesar de
terem à sua disposição todo manjar do céu e poderem
se encher do vinho do Espírito cotidianamente? Por
que ainda há irmãos que estão secos? Não possuem
vida fluindo. Sabemos que são filhos, que são salvos,
mas não são cheios do Espírito. Existe uma relação en-
tre o perdão dos pecados e o enchimento do Espírito.
A Bíblia diz que havia um homem chamado
Cornélio. Ele era um prosélito sincero que queria ser-
vir a Deus com orações e esmolas. Certo dia, um anjo
apareceu-lhe e disse: “Cornélio! Este, fixando nele os
olhos e possuído de temor, perguntou: Que é, Senhor?
E o anjo lhe disse: As tuas orações e as tuas esmolas
subiram para memória diante de Deus. Agora, envia
mensageiros a Jope e manda chamar Simão, que tem
por sobrenome Pedro” (At 10.4-5).
Veja que o anjo não pregou a ele; antes, mandou
que buscasse a Pedro. Anjos não podem pregar as

O Evangelho da graça e a maldição do pecado e da lei

70
boas-novas do perdão porque nunca foram perdoa-
dos. Somente aqueles que experimentaram a graça do
perdão podem testemunhar aos outros.
Pedro, então, veio, entrou na casa dele, e come-
çou a expor o evangelho para toda a sua família:
Dele todos os profetas dão testemunho de que,
por meio de seu nome, todo aquele que nele crê
recebe remissão de pecados. Ainda Pedro falava
estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre
todos os que ouviam a palavra. (At 10.43-44)
Observe o momento em que o Espírito Santo foi
derramado sobre eles, foi justamente quando Pedro
falou que, em Cristo, nossos pecados são perdoados.
Quando entenderam que não tinham mais pecado,
imediatamente o Espírito caiu sobre eles e foram cheios.
O Espírito só pode entrar na casa que foi lava-
da pelo sangue. No momento em que foi lavada, o
Espírito entrou. Sabe por que muitos não são mais
cheios? Porque não têm consciência do perdão. Ainda
pensam que o pecado os está separando de Deus. Mas,
no momento em que entendem que, pelo sangue,
todos os nossos pecados são removidos, podem ser
imediatamente cheios.
Esta é a base na qual você pode se firmar para
nunca mais ser abalado. Você foi perdoado. Não há
mais dívida. O favor de Deus o alcançou.

Os dois montes

71


3
Sumário
1. Expressões da justiça própria 7
2. O manto de justiça 17
3. Os que decaem da graça 31
4. O irmão do filho pródigo 47
A justiça própria anula o evangelho da graça

6
Expressões da
justiça própria

A
condição para ter o favor de Deus é reconhecer
que não somos merecedores. Para reconhecer
isso, é preciso ter luz sobre a justiça própria.
Quando acreditamos possuir algum mérito, estamos
vivendo na lei.
Somente podemos dizer que estamos vivendo
na graça se vivemos confiados no favor imerecido. A
condição para desfrutarmos da graça é rejeitar a justiça
própria e reconhecer que não merecemos coisa alguma.
Quando acreditamos que temos algum mérito, nós ca-
ímos para a lei.

Expressões da justiça própria

7
O problema de viver segundo a lei é que ela sempre
traz maldição. Se não obedecemos completamente, o
resultado é maldição.
Todos quantos, pois, são das obras da lei es-
tão debaixo de maldição; porque está escrito:
Maldito todo aquele que não permanece em
todas as coisas escritas no Livro da lei, para
praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é
justificado diante de Deus, porque o justo viverá
pela fé. (Gl 3.10-11)
Ninguém, porém, jamais cumpriu a lei. Tiago 2.10
diz que qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em
um só ponto, se torna culpado de todos. A lei é como
um colar de pérolas, se o arrebentamos numa certa pé-
rola, todas as outras se perdem.
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça
em um só ponto, se torna culpado de todos. (Tg
2.10)
A justiça própria é o centro do ego, e o ego está
no centro de todo pecado. Quando tento me apresen-
tar diante de Deus com algum mérito próprio, estou
declarando que não preciso da justiça de Cristo. Estou
dizendo que Ele não precisava ter vindo morrer por
mim. Isso é desprezar a obra de Cristo, e Deus não pode
abençoar aquele que despreza Cristo.
Não quero estimular introspecção, pois isso tam-
bém é um tipo de justiça própria. Ficar nos olhando o

A justiça própria anula o evangelho da graça

8
tempo todo é uma forma de tentarmos ser perfeitos ou
encontrar algum mérito em nós. E quem procura supõe
que possui algum.
Apesar de não estimular a introspecção, precisa-
mos aprender a perceber a justiça própria e a rejeitá-la
sempre que ela se manifestar. Ninguém pode dizer que
não possui nenhuma justiça própria. Todos nós temos
alguma demanda com Deus. Assim, a melhor forma de
vencermos a justiça própria é confessarmos continua-
mente que somos justiça de Deus em Cristo.
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus. (2Co 5.21)
Aquele que anda pela justiça própria deseja ser
recompensado por Deus de acordo com as suas obras
e obediência. Mas, por meio de sua justiça própria, ele
nunca será abençoado, pois Deus resiste ao soberbo, mas
dá graça ao humilde.
Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que
são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os
outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus
resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede
a sua graça. (1Pe 5.5)
A única forma de recebermos a justiça é recebendo
o dom. A justiça é um dom que recebemos, e não algo
que fazemos.

Expressões da justiça própria

9
Se, pela ofensa de um e por meio de um só,
reinou a morte, muito mais os que recebem a
abundância da graça e o dom da justiça reina-
rão em vida por meio de um só, a saber, Jesus
Cristo. (Rm 5.17)
Nunca pense que a sua justiça é resultado da sua
obediência aos mandamentos, confesse sempre que a
sua justiça é Cristo. Se Cristo foi feito pecado na cruz,
você agora foi feito justiça de Deus n’Ele.
Isso não significa que somos livres para pecar. Na
verdade, nós somos livres do pecado. Mas ninguém pode
ter sucesso em alguma coisa se não tiver liberdade para
errar. A verdadeira liberdade inclui a liberdade de errar
e continuar sendo aceito. Não há como acertar senão há
liberdade para errar.A verdade é que aquele que nasceu de
novo deseja vencer o pecado e fazer a vontade de Deus.
O centro do evangelho é a justificação pela fé. Mas
hoje os pregadores encorajam as pessoas a buscar tornar-
-se justas pelas obras de obediência. Quando fazem isso,
caem na justiça própria e anulam o poder do evangelho.
Que diremos, pois? Que os gentios, que não bus-
cavam a justificação, vieram a alcançá-la, toda-
via, a que decorre da fé; e Israel, que buscava a
lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por
quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que
das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como
está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de
tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê
não será confundido. (Rm 9.30-33)

A justiça própria anula o evangelho da graça

10
Todas as promessas de Deus foram feitas ao justo.
Somente o justo é abençoado. Mas nunca pense que
o justo é aquele que supostamente obedece aos man-
damentos, o justo é aquele que crê e recebe o dom da
justiça em Cristo.

Aprenda a perceber a justiça própria


Deixe-me mostrar algumas expressões da justiça
própria. Todos os pecados procedem da justiça própria.
Quando entendemos o mecanismo como a justiça pró-
pria se manifesta, podemos vigiar para rejeitar sempre
que o sentimento de merecimento vier à nossa mente.
Orgulho e soberba - O centro da soberba é o
pensamento: “Fui eu que fiz com a minha força e
habilidade, por isso mereço a recompensa e a glória”.
Exigência e cobrança - Como tenho sido bom,
exijo que os outros sejam sempre perfeitos
comigo.
Reclamação e murmuração - Eu sou bom, não
mereço passar por isso. Mereço coisa melhor.
Ingratidão - Não recebi o que mereço. O outro ti-
nha obrigação de me dar isso ou fazer isso por mim.
Não aceitar exortação - Todos são errados, por-
tanto ninguém tem autoridade para me confrontar.
Rebeldia - Ninguém está qualificado para me lide-
rar. Eu sou bom, e somente alguém muito melhor
do que eu pode ter autoridade sobre mim.

Expressões da justiça própria

11
Medo - Deus somente ama os que são bons.
Preciso, pois, me tornar bom para ser aceito por
Ele. Assim, estou sempre com medo de não ser bom
o suficiente e sofrer o juízo de Deus.
Condenação - Aqueles que se acham justos estão
constantemente procurando o culpado em todas as
situações, e evidentemente nunca são eles mesmos.
Amargura e ressentimento - Como tenho feito
tudo corretamente, exijo que seja feita a justiça
sobre quem erra comigo.
Autopiedade - Como alguém tão bom quanto eu
pode sofrer? Consegue questionar até Deus, mas
não questiona a si mesmo.
Autocondenação - Quando eu mesmo me conde-
no, mostro o quanto sou piedoso e correto.
Inveja - Como ele pode ter e eu não? Ele não é
melhor do que eu. Isso é injustiça.
Ficar desapontado consigo mesmo - Nunca pen-
sei que seria capaz disso. Como alguém tão bom
quanto eu pode fazer algo assim?
Legalismo - Sou intolerante com a falha do outro
porque eu mesmo penso que não falho.
Idealismo - Todo idealismo é um tipo de legalis-
mo. Vivemos o tempo todo mostrando o quanto
a igreja está fora do padrão de Deus, o quanto as
pessoas estão distantes do padrão do cristianismo.

A justiça própria anula o evangelho da graça

12
Todos nós temos uma raiz de justiça própria que
precisamos rejeitar constantemente. O meu objetivo é
que você seja capaz de percebê-la no seu dia a dia.
Dessa forma, não desista de confessar que você é
justiça de Deus em Cristo. Faça as boas obras porque
você já é justo em Cristo, e não para se tornar justo ou
confiado em sua justiça própria. Faça as boas obras por-
que é amado, e não para conquistar o amor de Deus.
Qualquer coisa feita fora do fundamento da justiça
pela fé é obra morta diante de Deus. Não importa se
você orou, jejuou, deu dinheiro aos pobres, visitou os
enfermos, cuidou dos órfãos, sacrificou-se a ponto de se
tornar um missionário. Essas coisas todas são maravilho-
sas, mas se foram feitas fora do fundamento da justiça
pela fé, são apenas obras mortas.
Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que come-
remos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestire-
mos? Porque os gentios é que procuram todas estas
coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de
todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu
reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas. (Mt6.31-33)

Porque o reino de Deus não é comida nem bebida,


mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável
a Deus e aprovado pelos homens. (Rm 14.17-18)

Expressões da justiça própria

13
Quando vivemos de acordo com a justiça do reino
de Deus, somos agradáveis a Deus. E se Ele se agrada de
nós, podemos esperar toda sorte de bênção.
Todas as promessas de Deus são para os justos. Não
podemos ser justos de acordo com a lei, mas hoje somos
justificados pela fé em Cristo. Fomos feitos justos porque
a justiça de Cristo foi transferida a nós pela graça.

Promessas aos justos


Você pode se apropriar das promessas feitas aos jus-
tos. No livro de Provérbios, temos muitas delas. Lembre-
se de que hoje você é justo porque recebeu a justiça de
Cristo. Você é justiça de Deus em Cristo.
A maldição do SENHOR habita na casa do
perverso, porém a morada dos justos ele abençoa.
(Pv 3.33)

Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora,


que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.
(Pv 4.18)

O SENHOR não deixa ter fome o justo, mas re-


chaça a avidez dos perversos. (Pv 10.3)

Sobre a cabeça do justo há bênçãos, mas na boca


dos perversos mora a violência. (Pv 10.6)

A memória do justo é abençoada, mas o nome dos


perversos cai em podridão. (Pv 10.7)

A justiça própria anula o evangelho da graça

14
A boca do justo é manancial de vida, mas na boca
dos perversos mora a violência. (Pv 10.11)

Aquilo que teme o perverso, isso lhe sobrevém,


mas o anelo dos justos Deus o cumpre. (Pv 10.24)

A obra do justo conduz à vida, e o rendimento do


perverso, ao pecado. (Pv 10.16)

Como passa a tempestade, assim desaparece o


perverso, mas o justo tem perpétuo fundamento.
(Pv 10.25)

O justo jamais será abalado, mas os perversos não


habitarão a terra. (Pv10.30)

O justo é libertado da angústia, e o perverso a


recebe em seu lugar. (Pv 11.8)

O mau, é evidente, não ficará sem castigo, mas a


geração dos justos é livre. (Pv 11.21)

Quem confia nas suas riquezas cairá, mas os justos


reverdecerão como a folhagem. (Pv 11.28)

O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha


almas é sábio. (Pv 11.30)

Pela transgressão dos lábios o mau se enlaça, mas


o justo sairá da angústia. (Pv 12.13)

O homem de bem deixa herança aos filhos de seus


filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para
o justo. (Pv 13.22)

Expressões da justiça própria

15
Na casa do justo há grande tesouro, mas na renda
dos perversos há perturbação. (Pv 15.6)

O SENHOR está longe dos perversos, mas atende


à oração dos justos. (Pv 1529

Porque sete vezes cairá o justo e se levantará;


mas os perversos são derribados pela calamida-
de. (Pv 24.16)
Você talvez pense que essas promessas são para
aqueles que se consideram justos pelas obras da lei. Mas
Eclesiastes diz que não há justos segundo a lei. Somente
aqueles que foram lavados pelo sangue do Cordeiro po-
dem desfrutar da bênção do justo.
Não há homem justo sobre a terra que faça o bem
e que não peque. (Ec 7.20)

A justiça própria anula o evangelho da graça

16
O manto de justiça

A
condição para ter o favor de Deus é reconhecer
que não somos merecedores. Para reconhecer isso,
é preciso ter luz sobre a justiça própria. Quando
acreditamos possuir algum mérito, estamos vivendo na lei.
Somente podemos dizer que estamos vivendo na
graça se vivemos confiados no favor imerecido. A con-
dição para desfrutarmos da graça é rejeitarmos a justiça
própria e reconhecermos que não merecemos coisa al-
guma. Quando acreditamos que temos algum mérito,
nós caímos na lei.
O problema de viver segundo a lei é que ela sem-
pre traz maldição. Se não obedeço completamente, o
resultado é maldição.

O manto de justiça

17
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão de-
baixo de maldição; porque está escrito: Maldito
todo aquele que não permanece em todas as coisas
escritas no Livro da lei, para praticá-las. E é evi-
dente que, pela lei, ninguém é justificado diante de
Deus, porque o justo viverá pela fé. (Gl 3.10-11)
Ninguém, porém, jamais cumpriu a lei. Tiago 2.10
diz que qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em
um só ponto, torna-se culpado de todos. A lei é como
um colar de pérolas, se arrebentamos o colar numa certa
pérola, todas as outras se perdem.
Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em
um só ponto, se torna culpado de todos. (Tg 2.10)
A justiça própria é o centro do ego, e o ego está
no centro de todo pecado. Quando tento me apresen-
tar diante de Deus com algum mérito próprio, estou
declarando que não preciso da justiça de Cristo. Estou
dizendo que não precisava de Ele ter vindo morrer por
mim. Isso é desprezar a obra de Cristo, e Deus não pode
abençoar aquele que despreza Cristo.
Precisamos aprender a perceber a justiça própria e
a rejeitá-la sempre que ela se manifestar. Ninguém pode
dizer que não possui nenhuma justiça própria. Todos
nós temos alguma demanda com Deus.
Assim, a melhor forma de vencermos a justiça pró-
pria é confessarmos continuamente que somos justiça
de Deus em Cristo.

A justiça própria anula o evangelho da graça

18
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus. (2Co 5.21)
Aquele que anda pela justiça própria deseja ser
recompensado por Deus de acordo com as suas obras e
obediência. Mas pela sua justiça própria ele nunca será
abençoado, pois Deus resiste ao soberbo, mas dá graça
ao humilde.
Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que
são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os
outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus
resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede
a sua graça. (1Pe 5.5)
A única forma de recebermos a justiça é recebendo
o dom. A justiça é um dom que recebemos, e não algo
que fazemos.
Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou
a morte, muito mais os que recebem a abundância
da graça e o dom da justiça reinarão em vida por
meio de um só, a saber, Jesus Cristo. (Rm 5.17)
Nunca pense que a sua justiça é resultado da sua
obediência aos mandamentos, confesse sempre que a
sua justiça é Cristo. Se Cristo foi feito pecado na cruz,
você agora foi feito justiça de Deus n’Ele.
Isso não significa que somos livres para pecar. Na
verdade, nós somos livres do pecado. Mas ninguém pode
ter sucesso em alguma coisa se não tiver liberdade para

O manto de justiça

19
errar. A verdadeira liberdade inclui a liberdade de errar e
continuar sendo aceito. Não há como acertar se não há
liberdade para errar. A verdade é que aquele que nasceu
de novo deseja vencer o pecado e fazer a vontade de Deus.
O centro do evangelho é a justificação pela fé. Mas
hoje os pregadores encorajam as pessoas a buscar tornarem-
-se justas pelas obras de obediência. Quando fazem isso,
caem na justiça própria e anulam o poder do evangelho.
Que diremos, pois? Que os gentios, que não bus-
cavam a justificação, vieram a alcançá-la, toda-
via, a que decorre da fé; e Israel, que buscava a
lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por
quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que
das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como
está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de
tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê
não será confundido. (Rm 9.30-33)
Todas as promessas de Deus foram feitas ao justo.
Somente o justo é abençoado. Mas nunca pense que
o justo é aquele que supostamente obedece aos man-
damentos, o justo é aquele que crê e recebe o dom da
justiça em Cristo.

A mulher hemorrágica
Eu creio que os milagres do Senhor registrados
no evangelho foram escritos para serem sinais espi-
rituais. Assim, podemos vê-los como maravilhosas
alegorias espirituais.

A justiça própria anula o evangelho da graça

20
Apesar de haver muito ensino sobre cura no meio
da igreja hoje, precisamos reconhecer que o povo de
Deus ainda está enfermo. Creio que uma verdade ainda
está oculta dos nossos olhos, a verdade da justiça pela
fé e do favor imerecido. Ainda há muitos tentando se
qualificar para receber o milagre.
No capítulo 5 de Marcos, temos o registro da cura
da mulher hemorrágica e a ressurreição da filha de Jairo.
Esses dois sinais mostram que o único impedimento é
a justiça própria. A maneira como recebemos a cura é
a mesma como recebemos qualquer outro milagre de
Deus, pelo seu favor imerecido.
Esses dois milagres são descritos nos três evange-
lhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Quando um
evento é repetido três vezes, sabemos que o Espírito
Santo deseja enfatizar uma importante verdade espiri-
tual contida nele.
Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado,
afluiu para ele grande multidão; e ele estava junto
do mar. Eis que se chegou a ele um dos principais
da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostrou-
-se a seus pés e insistentemente lhe suplicou: Minha
filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre
ela, para que seja salva, e viverá. Jesus foi com
ele. Grande multidão o seguia, comprimindo-
-o. Aconteceu que certa mulher, que, havia doze
anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito
padecera à mão de vários médicos, tendo despen-
dido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada

O manto de justiça

21
aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo
ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por
entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque, dizia:
Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. E
logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no cor-
po estar curada do seu flagelo. Jesus, reconhecendo
imediatamente que dele saíra poder, virando-se no
meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas
vestes? Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a
multidão te aperta e dizes: Quem me tocou? Ele,
porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto.
Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia
do que nela se operara, veio, prostrou-se diante
dele e declarou-lhe toda a verdade. E ele lhe disse:
Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre
do teu mal. (Mc 5.21-34)
Quando lemos que a mulher gastou todo o seu
dinheiro com médicos, precisamos entender que os
médicos judeus daquele tempo não eram como os de
hoje. Eles eram religiosos e usavam a lei e as tradições
rabínicas para prescrever aos pacientes todo tipo de ri-
tual e superstição.
A primeira coisa que se diz da mulher é que ela
ouviu a respeito do Senhor Jesus. Nós sabemos que a
fé vem pelo ouvir. Ela não ouviu o Senhor pregando
pessoalmente, mas outros contaram-lhe a respeito da
sua palavra e do seu poder. O que ela ouviu certamente
não era a lei, porque aquilo que ela ouviu a capacitou a
receber. Muitos querem se qualificar para receber a cura,
mas o Senhor abençoa somente por sua graça.

A justiça própria anula o evangelho da graça

22
Levítico 15.25-27 mostra como deveria ser tra-
tada uma mulher hemorrágica. Ela não podia sequer
se aproximar do povo. Se ela tivesse ouvido o que a lei
dizia sobre a sua condição, nunca teria tido fé para tocar
no Senhor.
O que ela ouviu sobre Jesus? Creio que foi algo do
tipo: “Você se lembra daquele leproso? Jesus o purificou.
Ele era pecador, mas mesmo assim foi curado”. Todos
nós hoje precisamos ouvir a respeito da graça do Senhor
Jesus para sermos curados da mesma maneira que ela foi.
Essa mulher foi a única que recebeu o milagre do
Senhor sem que Ele tivesse percebido a princípio. Ela
teve uma atitude ativa para receber a cura. Ela recebeu
sem que Jesus tivesse a iniciativa. Ela iniciou a própria
cura.
O poder de Deus está disponível e presente entre
nós, mas nós temos iniciado a nossa cura? O Senhor fez
barro com saliva para curar um cego, ungiu a boca do
gago e agiu de muitas formas para curar os enfermos.
Todos eles receberam passivamente, mas essa mulher
foi buscar a sua cura ativamente. Ela tocou no Senhor.
Apesar de a multidão o apertar, somente o toque dela
veio de fé. Hoje, muitos levantam as mãos no culto, mas
há aqueles que tocam no céu.
O evangelho diz que ela tocou na orla da veste do
Senhor. Na orla da veste, havia um cordão azul, que
simboliza a graça de Deus que desceu do céu.

O manto de justiça

23
Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de
Israel e dize-lhes que nos cantos das suas vestes
façam borlas pelas suas gerações; e as borlas em
cada canto, presas por um cordão azul. E as borlas
estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de to-
dos os mandamentos do SENHOR e os cumprais;
não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos
vossos olhos, após os quais andais adulterando, para
que vos lembreis de todos os meus mandamentos,
e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. (Nm
15.37-40)
Como todo mestre em Israel, o Senhor Jesus cer-
tamente tinha um talit. O talit é um acessório religioso
judaico em forma de um xale feito de linho, tendo em
suas extremidades as franjas. Ele é usado como uma
cobertura principalmente no momento da oração.
Provavelmente, a mulher hemorrágica tocou na orla do
talit que o Senhor usava.
As duas pontas do talit são chamadas de tzitzit ou
asas. No último livro do Velho Testamento, lemos que
o Messias traria salvação nas suas asas.
Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá
o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; vós
saireis e saltareis como os bezerros da estrebaria.
(Ml 4.2 – TB)
O que ela tinha ouvido sobre Jesus certamente
é que Ele era o Messias. Então, ela pensou, se Ele é o
Messias, há cura em suas asas, ou seja, nas pontas do talit
que esvoaçavam enquanto Ele caminhava.

A justiça própria anula o evangelho da graça

24
Segundo a lei, uma mulher naquela condição não
podia tocar em ninguém. Ela nem poderia estar no meio
da multidão, deveria ficar fora da cidade. Quando veio
tocar em Jesus, ela quebrou a lei de Moisés.
A fé, porém, não se torna inoperante por causa do
pecado. Mesmo tendo desobedecido à lei, ela recebeu
a cura. Romanos 4.14 diz que é a lei, a justiça própria,
que torna a fé inoperante.
Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a
fé e cancela-se a promessa. (Rm 4.14)
Se for possível receber com base no merecimento,
então não há necessidade de fé. Se você pode obede-
cer o bastante para merecer a sua cura, então você não
precisa de fé. Mas quando você sabe que é imperfeito
e sua obediência é insuficiente, tudo o que lhe resta é
crer na graça. Dessa forma, é a nossa justiça própria que
nos impede de receber de Deus. Isaías diz que as nossas
justiças são detestáveis aos olhos do Senhor.
Mas todos nós somos como o imundo, e todas as
nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós
murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades,
como um vento, nos arrebatam. (Is 64.6)
Observe que são as nossas justiças que são cha-
madas de trapos de imundícia, e não o nosso pecado.
Quando você tenta se apresentar diante de Deus con-
fiado em seu próprio merecimento e obediência, Deus
vê isso como trapo de imundícia.

O manto de justiça

25
Surpreendentemente, a palavra “imundícia” usa-
da em Isaías é “menstruação” no original. Os trapos de
imundícia é o que aquela mulher tinha usado por doze
anos para conter uma menstruação que nunca parava.
Aquela mulher aponta simbolicamente para a igre-
ja. Enquanto a igreja está com hemorragia, ela não pode
ter filhos, nem ter frutos. Ela sempre tem de recorrer a
trapos de imundícia da justiça própria. A mulher tem a
hemorragia por causa da justiça própria, não por causa
do pecado.
A igreja sofre hoje não por causa do pecado, mas
por causa da justiça própria. Mas no momento em que
a mulher tocou na justiça do Senhor, representada pelo
talit, ela foi curada.
Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha
alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu
de vestes de salvação e me envolveu com o manto
de justiça, como noivo que se adorna de turban-
te, como noiva que se enfeita com as suas jóias.
(Is 61.10)
O Senhor está vestido com manto de justiça e com
vestes de salvação. E quando tocamos na sua justiça,
somos curados e nos tornamos frutíferos novamente.
A justiça do Senhor é revelada no evangelho (Rm
1.17). A justiça de Deus nos é atribuída graciosamente
pela fé. Ela é um dom que recebemos pela fé no evan-
gelho (Rm 5.17).

A justiça própria anula o evangelho da graça

26
A fé da mulher não era perfeita, porque ela veio e
tocou o Senhor por detrás. Com certeza, ela tinha ou-
vido que o Senhor é bom e não iria condená-la, mas ela
não o conhecia pessoalmente. Dessa forma, o ensino de
que precisamos conhecer o Senhor antes de recebermos
o milagre não é verdadeiro. Muitas vezes, recebemos o
milagre primeiro e só depois contemplamos a sua face.
Quando o Senhor lhe diz: “Vai em paz”, a tradu-
ção melhor seria: “Vai para dentro da paz”, “vai viver na
paz”. E a palavra “mal” é a mesma usada para descrever
os açoites que o Senhor Jesus levou. Pelas pisaduras do
Senhor, nós somos livrados das nossas (1Pe 2.24).

A filha de Jairo
Falava ele ainda, quando chegaram alguns da casa
do chefe da sinagoga, a quem disseram: Tua filha
já morreu; por que ainda incomodas o Mestre?
Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse ao chefe
da sinagoga: Não temas, crê somente. Contudo,
não permitiu que alguém o acompanhasse, senão
Pedro e os irmãos Tiago e João. Chegando à casa
do chefe da sinagoga, viu Jesus o alvoroço, os que
choravam e os que pranteavam muito. Ao entrar,
lhes disse: Por que estais em alvoroço e chorais? A
criança não está morta, mas dorme. E riam-se
dele. Tendo ele, porém, mandado sair a todos, to-
mou o pai e a mãe da criança e os que vieram com
ele e entrou onde ela estava. Tomando-a pela mão,
disse: Talitá cumi!, que quer dizer: Menina, eu te
mando, levanta-te! Imediatamente, a menina se

O manto de justiça

27
levantou e pôs-se a andar; pois tinha doze anos.
Então, ficaram todos sobremaneira admirados.
Mas Jesus ordenou-lhes expressamente que nin-
guém o soubesse; e mandou que dessem de comer
à menina. (Mc 5.35-43)
A mulher e a criança certamente apontam para
um significado profético por causa do número doze. A
mulher estava doente por doze anos, e a criança tinha
doze anos de idade. O doze fala do governo eterno de
Deus, e no seu governo Ele controla as gerações.
Eu creio que a filha de Jairo representa a nova
geração, e a mulher hemorrágica aponta para a igreja.
Enquanto a mulher permanece com hemorragia, a nova
geração não pode ser tocada. Mas depois que a igreja é
curada da justiça própria, ela também é curada da falta
de frutos, da esterilidade. Assim, algo acontece com a
próxima geração.
A Palavra do Senhor para Jairo foi: “Não temas, crê
somente”. Esta é a mensagem da graça. Não recebemos
nada por nossas obras ou merecimento, mas unicamen-
te pela fé. Não importa a situação pela qual você esteja
passando, a palavra do Senhor é a mesma: “Não temas,
crê somente”.
Quando chegou à casa de Jairo, o Senhor tomou a
criança e disse: “Talita cumi!” Todas as vezes que a lin-
guagem original é preservada na Bíblia, há uma razão es-
piritual. Há muitas palavras assim no Novo Testamento,
como maranata, anátema, aba ou efatá.

A justiça própria anula o evangelho da graça

28
Talita significa “menina”, mas também é uma pa-
lavra derivada de talit. O Senhor pegou o seu manto de
justiça, o talit, e colocou sobre a menina, talita. Agora
ela era a menina debaixo da justiça. O Senhor colocou a
justiça de Deus sobre a geração jovem. A justiça de Deus
se revela no evangelho, na graça, e não na lei (Rm 1.17).
Jairo significa “iluminado por Deus”. Precisamos de
pais espirituais que tenham recebido a luz de Deus para
entender o evangelho. Quando temos esses pais espiri-
tuais que são iluminados com a revelação do evangelho,
a nova geração renasce para Deus.
Por fim, depois de ressuscitar a menina, o Senhor
mandou que lhe dessem comida.
Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inex-
periente na palavra da justiça, porque é criança.
Mas o alimento sólido é para os adultos, para
aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bem, mas
também o mal. (Hb 5.13-14)
Qualquer um que ouve a expressão “palavra da
justiça” e pensa que se trata de se comportar bem de
acordo com o mandamento ainda é criança. Mas todo
aquele que entende que a palavra da justiça é a justiça
do evangelho, o dom da justiça que procede da fé, esse
é adulto.
Você pode conhecer toda a Bíblia, mas se não en-
tende que a justiça nessa dispensação é um dom para
aquele que crê, você ainda é um bebê espiritual.

O manto de justiça

29
O Senhor mandou que lhe dessem comida, e não
bebida. Leite é bebida, mas a comida sólida é para quem
já cresceu.
Mais do que nunca, precisamos ensinar a verdade
da justiça que procede da fé. A justiça do crente hoje é
um dom recebido pela graça. Rejeite toda justiça própria,
pois as nossas justiças são apenas trapos de imundícia
diante de Deus.

A justiça própria anula o evangelho da graça

30
Os que decaem
da graça

S
empre que falamos a respeito da graça de Deus,
algumas pessoas gostam de mencionar o texto de
Hebreus 12, que diz que sem santidade ninguém
verá o Senhor. Mas essas pessoas não leem todo o texto,
que, na verdade, exorta os irmãos a não se apartarem
da graça de Deus.
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemen-
te, por que ninguém seja faltoso, separando-se da
graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargu-
ra que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados. (Hb 12.14-15)

Os que decaem da graça

31
A única maneira de seguirmos a paz com todos e
termos santificação é tendo certeza de que não estamos
nos separando da graça de Deus. Sem a graça de Deus,
a santidade é impossível. Algumas pessoas, porém, pen-
sam que a salvação é uma questão de santidade, mas o
Novo Testamento enfatiza todo o tempo que a salvação
é somente pela graça mediante a fé no evangelho.
São as boas novas do evangelho de que os nossos
pecados foram cravados na cruz, é a revelação de que
somos justificados pela fé, e não por obras da lei, é a fé
que Cristo já pagou por todas as nossas iniquidades que
nos salva. A nossa santificação é apenas o resultado da
nossa fé na obra da cruz.
Quando, pela fé, nós contemplamos o Senhor, o
resultado é que andamos em santidade. Você precisa ter
clareza de que santidade não é o tamanho do seu cabelo,
o comprimento da sua saia e nem a maquiagem no seu
rosto. A santidade é Cristo. Algumas pessoas fazem tudo
isso e, no entanto, possuem o coração cheio de amargu-
ra e ressentimento, como diz o texto de Hebreus. Tais
pessoas não andam em santidade.

O que acontece quando nos


separamos da graça?
A exortação do autor de Hebreus é para que não
nos separemos da graça de Deus. Separar-se da graça é
sair de debaixo do favor de Deus. Ele menciona algumas
consequências de separação do favor.
Atentando, diligentemente, por que ninguém
seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem
haja alguma raiz de amargura que, brotando,

A justiça própria anula o evangelho da graça

32
vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam con-
taminados; nem haja algum impuro ou profano,
como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o
seu direito de primogenitura. Pois sabeis também
que, posteriormente, querendo herdar a bênção,
foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependi-
mento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.
(Hb 12.15-17)
Hebreus 12 nos mostra que, sem a graça de Deus,
não podemos ter paz com os homens e nem seguir a san-
tidade. Sem a graça de Deus, inevitavelmente cairemos
no ressentimento e na amargura. Qual a relação entre
separar-se da graça e cair no ressentimento? Essa relação
nem sempre é fácil de entender. Toda pessoa ressentida
é cheia de justiça própria. Ela se julga merecedora de
coisas boas e, quando alguém erra com ela, pensa que
tem o direito de cobrar justiça. Ressentimento é o maior
sinal de justiça própria.
A única coisa que nos separa da graça de Deus é a
justiça própria. Quando nós confiamos em nossa justiça
própria, nós estamos dizendo que não precisamos da gra-
ça de Deus. Somente pode desfrutar da graça aquele que
reconhece que não tem merecimento algum. E aquele
que reconhece que não possui merecimento nenhum
também não cobra justiça e perfeição dos outros. Uma
vez que foi tão generosamente perdoado, ele está pronto
a perdoar os outros também. Assim, se estamos na graça,
não há lugar em nós para a amargura.
Na oração do pai nosso, Jesus disse que, se não
perdoarmos aos homens as suas ofensas, tampouco o

Os que decaem da graça

33
nosso pai celestial nos perdoará as nossas. Muitos, equi-
vocadamente, enxergam aqui algum tipo de barganha
com Deus: “eu perdoo, então o Senhor me perdoa”.
Não é nada disso.
A pessoa que se recusa a perdoar está dizendo com
a sua atitude que ela é boa e tem mérito o suficiente para
exigir justiça do outro. Ela se acha boa e não pode ad-
mitir que outros errem com ela. Na verdade, ela é cheia
de justiça própria.
Quem possui justiça própria está dizendo que não
precisa da justiça que vem de Cristo. E, se não precisa
da justiça de Cristo, o seu pecado permanece. Você não
troca com Deus o perdão do seu pecado quando perdoa
os outros, mas você admite precisar do perdão de Cristo
quando reconhece que não possui justiça própria e por
isso mesmo não exige justiça dos outros.
O que o Senhor disse foi que não podemos receber
favor e graça se permanecemos na justiça própria. Ficou
claro, então, que nos separamos da graça quando con-
fiamos em nossa justiça própria. Mas ainda não ficou
completamente claro como a justiça própria produz em
nós ressentimento.
Para entendermos a relação entre amargura e jus-
tiça própria, precisamos entender como surge a justiça
própria. Será que aqueles que possuem justiça própria
querem desagradar a Deus? Claro que não! Na verdade,
eles procuram cumprir todos os mandamentos para me-
recer o amor e a aprovação de Deus. A justiça própria
surge do nosso desejo de conquistar o amor de Deus.

A justiça própria anula o evangelho da graça

34
O problema está em tentar conquistar o amor de
Deus para merecer a sua bênção. Suponha que você te-
nha feito tudo o que achava necessário para ter a bênção
de Deus e, no entanto, o irmão do lado, que nem é tão
fiel, recebeu a bênção e você não. O que você sente nessa
hora? Amargura e ressentimento. Muitos não vão admi-
tir, mas vivem ressentidos com o próprio Deus, pois,
afinal, eles são fiéis, mas não recebem o favor de Deus.
Essa situação pode ser claramente percebida na vida
do irmão do filho pródigo na parábola que Jesus contou
em lucas 15. O irmão do filho pródigo é um exemplo
de como a amargura vem sobre aquele que é cheio de
justiça própria.
Jesus disse que um homem tinha dois filhos. Um
dia, o mais Novo chegou ao seu pai e pediu a herança a
que tinha direito. Pedir a herança com o pai em vida é o
mesmo que desejar a sua morte, um grande desrespeito.
Mas o pai lhe deu a herança. Então, ele saiu e foi para
um país distante, onde gastou todo o dinheiro na orgia
e na bebedice.
Quando acabou todo o dinheiro, não tendo como
sobreviver, arrumou um trabalho de cuidador de porcos.
Ali, ele passava tanta fome que deseja comer a comida
dos porcos. Um dia, porém, ele caiu em si e disse:
Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe
direi: pai, pequei contra o céu e diante de ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me
como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se,
foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando
seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo,
o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: pai, pequei

Os que decaem da graça

35
contra o céu e diante de ti; já não sou digno de
ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos
seus servos: trazei depressa a melhor roupa, vesti-
-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés; trazei também e matai o novilho cevado.
Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho
estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.
E começaram a regozijar-se. (Lc 15.18-24)
Se pararmos a história nesse ponto, nos alegrare-
mos com o pai, que teve de volta o seu filho que estava
perdido. Todos dirão o quanto o pai é amoro e perdo-
ador para aceitar um filho como aquele. Mas a história
se complica quando o filho mais velho chega. O filho
mais velho estava tão longe de casa quanto seu irmão
mais Novo. Ele enxergava a si mesmo como um servo
do seu pai e se julgava merecedor das bênçãos.
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e,
quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu
a música e as danças. Chamou um dos criados
e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou:
veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novi-
lho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se
indignou e não queria entrar; saindo, porém, o
pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a
seu pai: há tantos anos que te sirvo sem jamais
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um
cabrito sequer para alegrar-me com os meus ami-
gos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou
os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar
para ele o novilho cevado. (Lc 15.25-30)
Vamos ser francos, as razões do filho mais velho
parecem bem lógicas. Se ele fosse conversar com você e

A justiça própria anula o evangelho da graça

36
lhe contasse a história, você certamente ficaria do lado
dele. Tudo parece uma grande injustiça. Ele sempre foi
um bom filho, fez tudo para agradar ao pai e nunca ga-
nhou dele nenhum cabritinho para fazer um churrasco
com os amigos.
Ele disse: “eu nunca desobedeci às suas ordens”. O
que talvez você não perceba é que ele era cheio de justiça
própria. Eu fico pensando o quanto seria difícil para o
irmão mais velho fazer o mesmo que fez o filho pródi-
go – cair de joelhos e dizer: “pai, pequei contra o céu e
contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho”.
Imagine esse homem que se achava tão responsá-
vel caindo de joelhos, enterrando a cabeça no peito de
seu pai e dizendo que ele era indigno de ser chamado
de filho. É quase impensável. Ele não tinha feito nada
de errado. Não tinha pecado contra o céu ou contra o
seu pai. Certamente não podia ver que não era digno
de ser chamado filho de seu pai. Mas isso é exatamente
o que ele precisava fazer, porque o seu coração não era
um com o seu pai.
O irmão do filho pródigo tentou ganhar o amor
do pai sem saber que já era amado. Ele tentou ganhar o
amor do pai sendo um filho obediente, e por isso achava
que merecia pelo menos um cabrito assado. Mas, em vez
de ele receber, o seu irmão pecador é que tinha recebido
o novilho cevado e uma festa. Por não se sentir amado,
ele caiu na amargura e ressentimento, pois, do seu ponto
de vista, o pai era injusto. Esta é a maneira como surge a
justiça própria, é quando tentamos conquistar o amor e
o elogio do pai. Do seu ponto de vista, o pai não o amava
ou pelo menos amava mais o irmão do que a ele. Isso o

Os que decaem da graça

37
enchia de revolta e ressentimento. Tudo isso porque ele
se achava bom e justo. Se ele se visse tão pecador quanto
o irmão, não haveria espaço para a amargura e ele estaria
também festejando.
Toda pessoa cheia de justiça própria vive cheia de
amargura, pois ela pensa que tem praticado todos os
mandamentos e mesmo assim não consegue ter a bên-
ção ou o favor de Deus. A justiça própria é o resultado
do nosso desejo de conquistar o amor e a aprovação de
Deus. Para ter o seu amor, nós nos esforçamos fazen-
do boas obras e tentando obedecer aos mandamentos.
Quando achamos que conseguimos cumprir o padrão,
nos enchemos de justiça e merecimento próprio. O
problema é que perdemos o favor de Deus quando
confiamos em nossa justiça, e o resultado é que ficamos
ressentidos porque outros notórios pecadores recebem
o favor e nós não.
Esta é a explicação para a amargura em todos os
relacionamentos. Se o marido se esforça para agradar a
sua esposa e percebe que ela não reconhece seus méritos,
ele se enche de ressentimento se ela, por exemplo, não o
elogiar e, em vez disso, elogiar o líder da célula.
Qual o problema desse marido? Ele faz todas as
suas obras para ter o amor da esposa, e não porque sente
que é amado por ela. Podemos aplicar esse princípio em
todos os nossos relacionamentos. Você faz as boas obras
para conquistar o amor ou porque sabe que é amado? A
resposta a isso o coloca debaixo da lei ou da graça. Lei é
amar a Deus, mas graça é ser amado por ele.
Uma esposa procura de todas as formas agradar ao
seu marido, ela cozinha, lava, passa e faz sexo sempre

A justiça própria anula o evangelho da graça

38
que ele deseja, mas um dia o marido resolve elogiar ou-
tra mulher na frente dela. Nesse momento, a mulher se
enche de amargura porque se vê injustiçada. Se ela não
tivesse justiça própria, mérito próprio, ela não ficaria res-
sentida. A justiça própria é a origem de todos os pecados.
Isso também é muito comum na vida de pastores.
Eles se esforçam para ser bons pastores, procuram viver
uma vida absolutamente íntegra e irrepreensível, mas a
bênção parece que vem sempre para aquele pastor da
congregação ao lado que parece ser tão pecador. Eles
vivem lutando com as finanças, mas aquele pastor com-
prou um grande prédio para se reunir. Eles se esforçam
para crescer, mas as multidões sempre vão para a igreja
do outro. Eles não conseguem entender, por isso pre-
sumem que aquela igreja não é de Deus, pois Deus não
abençoaria alguém assim. A verdade, porém, é que eles
vivem amargurados, como o irmão do filho pródigo.
Nunca quebraram nenhum mandamento, mereciam
muitas bênçãos, mas o outro pecador recebe maior graça.
Creio que agora ficou fácil perceber como a amar-
gura está relacionada com a justiça própria. Sempre que
procuramos conquistar o amor de Deus em vez de crer
que já somos amados, caímos na justiça própria.
O texto de Hebreus 12 diz que a amargura é conta-
giosa. Uma vez que ela surge, vai contaminar a muitos.
Toda pessoa amargurada gosta de compartilhar com
os outros as razões do seu ressentimento. A amargura
simplesmente destrói a vida da igreja.
O texto de Hebreus diz que, uma vez que há amar-
gura, a próxima consequência é a impureza. Mas há
alguma relação entre amargura e impureza? Em minha

Os que decaem da graça

39
experiência, tenho visto, por exemplo, que normalmen-
te uma mulher só cai em adultério se estiver ressentida
com o seu marido. Ela pensa que não é amada e por isso
se permite pecar. Um crente está propenso ao pecado
quando sente que não é amado por Deus. É triste, mas
quando caem em pecado, muitos presumem que Deus
não os ama mais. Mal sabem que isso fará com que caiam
ainda mais no pecado.
A impureza sexual não é a raiz, ela é o fruto. Tudo
começa quando a pessoa se separa da graça de Deus.
Uma vez que sai da graça, ela cai no ressentimento, e
do ressentimento vem a impureza sexual. O resultado
final é que a pessoa pode se tornar como Esaú, que não
atribuiu valor às coisas espirituais, pois vendeu a bênção
da primogenitura por um prato de comida. Quanto mais
nos separamos da graça, mais nos tornamos naturais e
indiferentes às bênçãos de Deus.
No passado, eu pensei que Esaú não podia se arre-
pender ou não teve um arrependimento genuíno. Mas,
lendo outras traduções, percebi que isso é um erro. A
tradução na linguagem de hoje diz que Esaú vendeu os
seus direitos de filho mais velho por um prato de comida.
E depois ele quis receber a bênção do seu pai. Mas foi
rejeitado porque não encontrou um modo de mudar a
mente de isaque para receber a bênção, embora procu-
rasse fazer isso até mesmo com lágrimas. Na verdade,
foi isaque que não se arrependeu, ou mudou de mente,
em relação à bênção da primogenitura. Isso está claro
na versão da bíblia na linguagem de hoje.
E tomem cuidado também para que ninguém
se torne imoral ou perca o respeito pelas coisas

A justiça própria anula o evangelho da graça

40
sagradas, como Esaú, que, por causa de um prato
de comida, vendeu os seus direitos de filho mais
velho. Como vocês sabem, depois ele quis receber
a bênção do seu pai. Mas foi rejeitado porque
não encontrou um modo de mudar o que havia
feito, embora procurasse fazer isso até mesmo com
lágrimas. (Hb 12.16-17)
Esaú é colocado em Hebreus como exemplo de al-
guém que decaiu da graça. Mas decair da graça significa
tentar se justificar cumprindo a lei, e Esaú viveu muito
antes da lei. Como, pois, ele decaiu da graça? Creio que
ele sempre tentou conquistar o amor do pai por meio
de sua performance, suas boas obras.
Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua
caça; Rebeca, porém, amava a Jacó. (Gn 25.28)
Isaque amava Esaú por causa de suas boas obras,
mas Rebeca amava Jacó, ponto final. Evidentemente,
Esaú percebia que o amor do seu pai era condicional.
Esaú é o bom filho, Jacó é que era o problemático. Esaú
tentou agradar ao seu pai, mas no fim seu irmão é que
recebeu a bênção. Isso o deixou furioso, mas o problema
é que seu pai não quis lhe dar a mesma bênção. Ele deve
ter pensado: “de que adiantou eu ser um bom filho?”
Certamente veio o ressentimento e a amargura. Todas
as vezes que tentamos conquistar o amor de Deus por
meio de nossas obras, nós caímos na justiça própria e
consequentemente decaímos da graça.
Os pais devem ser cuidadosos para não condicionar
o seu amor aos filhos à performance deles. Isso faz com

Os que decaem da graça

41
que os filhos fiquem toda a vida buscando conquistar
o amor dos pais. O garoto procurou ser um bom estu-
dante, um filho obediente toda a sua vida, mas um dia
seu pai elogia seu primo falando o quanto ele é motivo
de orgulho. Ao ouvir isso, o menino se enche de amar-
gura, pois ele está cheio de méritos. Ele fez o melhor,
comportou-se bem e não adiantou nada. Depois disso,
ele pode vir a se tornar um filho muito problemático,
cheio de todo tipo de comportamento ruim. Esta é a
origem de todos os distúrbios familiares.
A palavra de Deus diz que Esaú se casou com
mulheres fora da vontade de seus pais, e isso se tornou
motivo de angústia para Rebeca e isaque. Obedecer para
ser amado é justiça própria; obedecer porque sabe que é
amado é graça de Deus. Esta é a diferença entre o Novo
e o velho Testamento.
É importante frisar que todas essas consequên-
cias, como amargura, impureza e desprezo pelas coisas
espirituais, acontecem por uma única razão: porque
nos separamos da graça de Deus. Esta é a raiz de onde
procedem todos os nossos problemas.

O que nos separa da graça?


De Cristo vos desligastes, vós que procurais justifi-
car-vos na lei; da graça decaístes. (Gl 5.4)
Paulo diz aos Gálatas que nos desligamos de Cristo,
nos separamos d’ele, quando procuramos nos justificar

A justiça própria anula o evangelho da graça

42
pelas obras da lei. Estar desligado de Cristo é algo terrí-
vel. Há uma tradução que diz que Cristo não tem efeito
em nossas vidas. Ele está em nossa vida, mas sem efeito
prático. Desligar-se de Cristo significa que Cristo não
tem efeito em nosso casamento, em nossas finanças,
em nossos relacionamentos ou nosso trabalho. Quando
você está doente, você quer que Cristo tenha efeito, faça
diferença em você. Se precisa de direção, você quer que
Cristo tenha efeito em você.
Desligar-se de Cristo aqui em Gálatas não signi-
fica perder a salvação. Desligar-se de Cristo é como ser
casado e não se relacionar com a esposa. Ela está em
casa, vive junto com você, mas você não desfruta das
bênçãos do casamento. Paulo está dizendo exatamente
isso, que, embora sejamos salvos, não desfrutamos de
Cristo e seu favor.
O que faz com que Cristo, que já faz parte de sua
vida, não tenha efeito algum em seu corpo, em sua
alma, em sua vida ou seu casamento? Muitos dirão que
o problema é o pecado, mas o pecado nunca foi impe-
dimento para que as pessoas recebessem o milagre do
Senhor Jesus. A maior acusação que os fariseus fizeram
ao Senhor foi chamá-lo de amigo de pecadores.
As prostitutas, os coletores de impostos e todos
os pecadores receberam o Senhor com alegria. Todos
eles, quando tocaram no Senhor, receberam o milagre.
Para eles, Cristo tinha um efeito poderoso. Quando
receberam do Senhor, eles não eram perfeitos, mas a
imperfeição deles não foi impedimento para o milagre.

Os que decaem da graça

43
Paulo diz que aquilo que nos separa de Cristo e nos
faz decair da graça é a justiça própria. Em suas palavras,
é tentar nos justificar na lei. Sempre que procuramos
ser aceitos por Deus pela nossa performance, pela nossa
obediência aos mandamentos, nós decaímos da graça.
Os pecadores podiam receber os milagres do
Senhor, mas os fariseus não receberam nada. Por quê?
Porque eles pensavam que mereciam receber os milagres,
uma vez que obedeciam aos mandamentos. Na verdade,
não obedeciam, mas pensavam que sim.
Precisamos ter muito cuidado para não receber
a graça de Deus em vão. Receber a graça em vão é ter
a graça de Deus em nossa vida e mesmo assim conti-
nuar tentando merecer a bênção de Deus. Se vivemos
confiando em nossos méritos e em nossa força própria,
estamos desprezando o suprimento perfeito da graça de
Deus. O resultado é como ter uma esposa, mas viver
sem desfrutar dela.
Hebreus 4 diz que há um trono da graça. Se nos
achegarmos a ele, receberemos graça para socorro.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto
ao trono da graça, a fim de recebermos miseri-
córdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportuna. (Hb 4.16)
Qual a condição para nos achegarmos ao trono
da graça? Simplesmente não merecer nada de Deus.
Não possuir nenhuma justiça própria. Se você se acha
merecedor, então esse trono não é para você. O proble-
ma é que somente a partir do trono da graça podemos
receber misericórdia. Se alguém não vier a esse trono,
para onde irá?

A justiça própria anula o evangelho da graça

44
Permanecer em Cristo é permanecer
na graça
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mes-
mo, se não permanecer na videira, assim, nem vós
o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu
sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em
mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem
mim nada podeis fazer. Se alguém não permane-
cer em mim, será lançado fora, à semelhança do
ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o
queimam. Se permanecerdes em mim, e as minhas
palavras permanecerem em vós, pedireis o que
quiserdes, e vos será feito. (Jo 15.4-7)
Em João 15, o Senhor disse que devemos per-
manecer n’ele. Alguns pensam que permanecerão em
Cristo se orarem bastante, jejuarem ou lerem a bíblia.
Todas essas coisas são boas, mas podemos fazer todas
elas e ainda estar separados de Cristo. Como, então,
permanecer n’ele?
Creio que Paulo nos dá a resposta. Nós perma-
necemos em Cristo quando permanecemos na graça.
Quando decaímos da graça, nós nos separamos de
Cristo. Isso evidentemente não significa perder a salva-
ção, como pensam alguns, mas significa que não des-
frutamos do seu favor em nossas vidas.
Se permanecer em Cristo é permanecer na graça,
então fica fácil entendermos a promessa do verso 7, que
diz: “pedireis o que quiserdes, e vos será feito”. Eu penso
que esta é a maior promessa de toda a palavra de Deus.
Não há limites de bênçãos para quem permanece na

Os que decaem da graça

45
graça. Debaixo do favor de Deus, podemos pedir tudo
o que quisermos.
A justiça própria é a maior expressão da carne e
do ego. Todas as vezes que confiamos em nossa própria
justiça, em nosso próprio mérito ou em nossa força, nós
decaímos da graça. Muitos pensam que ser fiel impli-
ca prometer que farão o máximo para obedecer e não
entendem que dar o máximo tem a confiança na carne
envolvida. Isso significa que não podemos prometer
fazer o melhor ou dar o máximo? Sim, mas devemos
fazer isso segundo a graça de Deus. Devemos sempre
dizer: “pela graça de Deus, vou fazer isso ou aquilo”.
Rejeite hoje toda tentação de merecimento pró-
prio. Viva sua vida como quem não tem mérito. Isso
vai afetar todos os seus relacionamentos e o livrará da
amargura. O favor de Deus afeta todas as áreas de sua
vida e, quando você está debaixo do favor, a glória do
céu invade a terra. Não aceite viver nenhum dia sem a
bênção do favor.

A justiça própria anula o evangelho da graça

46
O irmão do
filho pródigo

Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles


disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me
cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não
muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo
o que era seu, partiu para uma terra distante e lá
dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele
país uma grande fome, e ele começou a passar
necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos
cidadãos daquela terra, e este o mandou para os
seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele
fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas

O irmão do filho pródigo

47
ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, dis-
se: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei,
e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei
contra o céu e diante de ti; já não sou digno de
ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus
trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai.
Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou,
e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante
de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa
a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no
dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai
o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, por-
que este meu filho estava morto e reviveu, estava
perdido e foi achado. E começaram a regozijar-
-se. Ora, o filho mais velho estivera no campo; e,
quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu
a música e as danças. Chamou um dos criados
e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou:
Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novi-
lho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se
indignou e não queria entrar; saindo, porém, o
pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a
seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um
cabrito sequer para alegrar-me com os meus ami-
gos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou
os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar
para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu
o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o
que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos
regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu
irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi
achado (Lc 15.11-32).

A justiça própria anula o evangelho da graça

48
O Senhor não nos salvou e nos abandonou para
fazermos o melhor que pudéssemos com a nossa vida
cristã. Ele nos salvou e agora continua conosco para nos
ensinar e ajudar a viver a vida cristã. É como um pai
que dá um carro ao seu filho. O filho nunca dirigiu e se
sente nas nuvens, mas ainda está inseguro, com medo
de bater o carro ou arranhá-lo. O pai não o abandona e
pacientemente lhe ensina a dirigir e a usar cada recurso
do carro. Em vez de dizer ao filho: “Vá e faça o melhor
que puder”, o pai diz: “Eu farei isso com você e o farei
enquanto você não puder”.
Todos conhecem a parábola do filho pródigo. Na
verdade, essa parábola deveria ser chamada de a parábola
do filho mais velho, pois ele é, na verdade, o personagem
central da história. Depois de gastar todo o dinheiro do
pai em uma vida dissoluta e mundana, ser abandonado
em um chiqueiro e comer comida de porcos, o filho
pródigo resolve que seria melhor ser empregado de seu
pai. Ao voltar para casa, o pai o recebe, não como em-
pregado, mas como um filho que estava perdido e foi
encontrado, faz-lhe uma festa, muda sua roupa e lhe
coloca um anel no dedo. Quando o filho mais velho vê
toda aquela festa, fica muito chateado com o pai.
A maioria dos irmãos não conhece muito a respeito
do irmão do filho pródigo, o irmão mais velho. Ele é
aquele que se recusou a participar da festa, pois não pos-
suía o mesmo coração do seu pai. Ele representa todos
aqueles cheios de justiça própria. São os guardadores de
regras que desejam ver os pecadores punidos publica-
mente para que aprendam uma lição.

O irmão do filho pródigo

49
Assim como o filho pródigo ainda vive em muitos
hoje, o mesmo acontece com seu irmão mais velho infe-
liz. Antes de sermos muito duros com esse cara, você já
pensou que ele talvez tenha alguma razão? Quero dizer,
como é que o Pai não fez nada legal para ele?
O filho mais velho estava trabalhando no campo
quando o filho mais novo retornou. Ele ficou do lado
de fora da casa mesmo depois de a festa ter começado.
Existe algo sobre o trabalho duro que parece despertar
uma atitude hipócrita dentro de nós. Aqueles que tra-
balham muito no campo do pai costumam desenvolver
uma atitude de superioridade sobre os demais.
Um dos servos lhe diz que seu irmão chegou em
casa e seu pai está extremamente feliz com isso. Essa
notícia é recebida com uma expressão imediata de
ciúme e raiva. Ele fica de mau humor e faz beicinho
como uma criança se recusando a entrar em casa.
Quando o pai sai para convencê-lo a participar da
festa, toda a raiva interior reprimida explode, borbu-
lhando para fora. O pedido do pai é recebido com
uma enxurrada de amargura.
Seu conceito errado do que agradava ao pai é re-
velado em três afirmações que ele faz no verso 29: “Mas
ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem
jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um
cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.”.
Essas afirmações resumem o falso pensamento que man-
tém as pessoas atoladas na religião em vez de desfrutarem
de uma vida plena em Jesus.

A justiça própria anula o evangelho da graça

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1. “Há tantos anos que te sirvo”
Ele acalentava o pensamento de que era o serviço a
chave para agradar ao coração do Pai. Certa vez, alguém
disse: “Não seria uma grande tragédia viver a vida toda
fazendo uma torta para Deus e no fim descobrir que Ele
não gosta de tortas?”.
Aqueles que possuem um pensamento como o
irmão do filho pródigo manterão um registro de tudo
o que fazem para Deus e até tentarão usar isso numa
possível barganha por uma bênção. Os dois filhos tinham
a mentalidade da troca e do merecimento. O primeiro
achou que tinha errado tanto que nem merecia ser cha-
mado de filho, mas ficaria contente em ser um servo na
fazenda do pai. O segundo trabalhou arduamente a vida
toda para ser merecedor da bênção do pai. Nenhum dos
dois conhecia o coração gracioso do pai.
Não fomos criados para trabalhar para Deus.
Quando Deus criou o homem, Ele o colocou num jar-
dim de delícias, e não numa linha de montagem de uma
fábrica. O que agrada a Deus é nosso relacionamento
com Ele como filhos. Não amamos nossos filhos pelo
que eles fazem por nós, tampouco o Senhor.
O irmão do filho pródigo esperava ter uma festa
como aquela, mas ele pensava que deveria fazer alguma
coisa melhor. Deveria servir o pai o máximo possível até
chegar ao ponto de merecer. Não é difícil imaginar sua
decepção e indignação com aquilo que, para ele, era uma
tremenda injustiça. Ele certamente dizia: “Eu tenho te

O irmão do filho pródigo

51
servido, ajudado a ficar mais rico, enquanto esse outro
irresponsavelmente gastou o teu dinheiro no pecado”.
O irmão mais velho é aquela criança que sempre
foi boazinha. Todos dizem que ela é bem comportada,
nunca faz nada de errado e sempre procura agradar a
seus pais. O irmão mais velho sempre se esforçou para
fazer a coisa certa e não conseguia entender por que seu
irmão caçula estava sempre fazendo algo que contrariava
ao pai. Ele foi sempre um bom garoto na escola e nunca
lhe ocorreu se rebelar.
Os irmãos mais velhos dos dias de Jesus eram os
fariseus. Eles eram as pessoas boas que se achavam me-
lhores do que os pecadores comuns. Eles mereciam um
tratamento especial do pai. Estes são aqueles de quem
Jesus disse: “Este povo honra-me com os lábios, mas o
seu coração está longe de mim” (Mt 15.8) . Eles entende-
ram as regras, mas não entenderam o que significava ter
um relacionamento com o Pai. Achavam que mereciam
o amor de Deus porque supunham ter se comportado
bem. Eles mereciam. Deus lhes devia. Mas ninguém será
aceito por Deus com base em seu merecimento. Muitos
nunca saíram de casa, mas nunca perceberam que eles
eram a casa. Eram desviados dentro de casa. Tentaram,
de todas as formas, obedecer para merecer, sem entender
que tudo era deles de graça.
O filho mais velho estava tão longe de casa quanto
seu irmão mais novo. Ele enxergava a si mesmo apenas
como um servo do seu pai. Ele disse: “Todos estes anos
tenho trabalhado como um escravo para o senhor e

A justiça própria anula o evangelho da graça

52
nunca desobedeci às suas ordens”. Eu fico pensando o
quanto seria difícil para o irmão mais velho fazer o mes-
mo que fez o filho pródigo – cair de joelhos e dizer: “Pai,
pequei contra o céu e contra ti. Já não sou digno de ser
chamado teu filho”. Mas ele jamais admitiu que estava
tão distante do pai quanto aquele que se afastara de casa.
Ao contrário, ele disse que nunca tinha desobedecido
às ordens de seu pai. Isso pode parecer correto, mas o
problema é que ele viu sua relação com o pai apenas
como uma questão de obedecer a ordens.
Ele obedeceu ao pai, mas nunca tinha respondido
ao amor de seu pai ou dado a ele um lugar em seu co-
ração. Imagine este homem moral e responsável caindo
de joelhos, enterrando a cabeça no peito de seu pai e
dizendo que ele era indigno de ser chamado de filho. É
quase impensável. Ele não tinha feito nada de errado.
Ele não tinha pecado contra o céu ou contra o seu pai.
Ele certamente não podia ver que não era digno de ser
chamado filho de seu pai. Mas isso é exatamente o que
ele precisava fazer, porque o seu coração não era um com
o seu pai. Ele queria ser bom para que o pai pudesse se
orgulhar de quem ele era e o que tinha feito, não porque
ele amava o pai e quisesse ser como ele.
É muito difícil para pessoas que se julgam boas e
morais perceberem sua necessidade de Deus. Elas ima-
ginam que não há nada de que elas precisam ser perdo-
adas, talvez alguma indiscrição menor, mas nada sério.
O problema é que se esquecem de que o relacionamento

O irmão do filho pródigo

53
com Deus é baseado na graça, e não no mérito. Pessoas
com a mentalidade daquele irmão mais velho têm difi-
culdade de compreender a graça. Esquecem-se da palavra
de Deus que diz: ENão há um justo, nem um sequer”
(Rm 3.10). A pessoa que está realmente caminhando
com Deus torna-se consciente de que não merece re-
ceber nada de Deus por causa de suas boas obras. Ela
não vive debaixo de acusação e de culpa, mas se sente
imensamente abençoada pela graça de Deus.
A mentalidade do irmão mais velho é que ele me-
recia as coisas do pai. Ele esteve na casa do pai e foi um
bom filho, por isso ele é o mais merecedor. Ele olha com
desprezo para aqueles que se desviaram e agora voltaram
querendo ser parte da casa do pai. Se fizéssemos uma
imagem do filho mais velho, nós o veríamos com os
braços cruzados em torno de seu corpo, enquanto o pai
está com o seus abertos para receber o filho desobedien-
te. Sua justiça própria o leva a endurecer-se, manter a
distância. Há uma luz que irradia do pai, mas ele está
de pé na escuridão.
Há um olhar de desdém em seu rosto. Seu corpo
está imóvel na presença daquele irmão que está necessita-
do. Em sua mente, ele gostaria que o irmão fosse embora.
Ele o convidaria para sair se pudesse. A presença desse
irmão mais novo tornou sua vida mais difícil e ele está
com ciúmes de seu lugar na casa do pai. Não há amor,
nem compaixão e nem acolhimento. Ele até poderia
ter recebido seu irmão como um empregado, mas não
como irmão. Ele não consegue ver os pecados em seu

A justiça própria anula o evangelho da graça

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próprio coração. É orgulhoso e cheio de justiça própria.
Retornar de uma queda no pecado parece muito mais
fácil do que, estando em casa, reconhecer o amor do pai.
Aquele que possui a mentalidade do filho mais velho
sempre possui queixas e reclamações sobre o quanto ele
tem trabalhado e de como tem sido pouco reconhecido.
Ele chafurda em seu ressentimento. Em sua inveja e amar-
gura, o filho mais velho só pode ver que seu irmão irres-
ponsável está recebendo mais atenção do que ele próprio
e conclui que ele é o menos amado dos dois.

2. “Jamais transgredi uma ordem tua”


Na primeira afirmação, vemos o trabalho e o ser-
viço como ênfase. Agora, porém, ele estava assumindo
que agradar ao pai era uma questão de guardar regras e
normas. Por causa disso, ele se recusava a participar da
festa da comunhão com o pai.
Quando éramos crianças, muitos de nós ouvimos
a mãe dizer: “Se você não se comportar direito, papai
do céu não gosta mais de você!”. O resultado é que nos
comportamos mal e, então, concluímos que estamos ex-
cluídos do amor do pai. Esse certamente foi o problema
do filho mais novo que caiu na farra. Mas o filho mais
velho achava que tinha se comportado bem. Assim, ele
concluiu que merecia o amor do pai.
Ele disse ao pai: “Eu jamais transgredi uma ordem
tua”. Mas eu duvido que esta afirmação seja verdadeira.
Ninguém jamais viveu o padrão perfeito da lei. Todos

O irmão do filho pródigo

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nós temos transgredido a lei. É notável a facilidade com
que aquele jovem podia esquecer as muitas vezes que o
pai lhe havia perdoado ao longo dos anos. Ele estava
cheio de justiça própria.
A justiça própria daqueles que se definem em
termos de regras, restrições e regulamentos é insu-
portável. Eles nunca se divertem e não permitem
que você se divirta também. Se não vivemos à al-
tura de suas expectativas, podemos esperar críticas,
punições e rejeições.
Você pode estar debaixo desse pensamento se
um sentimento constante de estar em falta o con-
trola. Parece que nunca orou o suficiente, nunca
contribuiu o suficiente, leu o suficiente ou se prepa-
rou o suficiente, enfim, você não é o suficiente para
agradar a Deus. Todos esses sentimentos são frutos
do pensamento de que precisamos ser ou fazer algo
para merecer a graça de Deus. Se for merecimento,
não é graça, é dívida, e, se é graça, então não há es-
paço para o mérito humano.
Você precisa entender de uma vez por todas que
é impossível agradar a Deus com obras. Somente agra-
damos a Deus confiando em Sua graça. Que obra pode
fazer o homem que seja suficientemente perfeita para
agradar ao Senhor do universo, que é perfeito em tudo?
É impossível agradar a Deus segundo os Seus critérios
divinos, somente podemos agradá-lo por causa de Sua
graça. É como um bebê que fez uma pequena obra de
arte com lápis de cor para o seu pai. Aquilo não tem
valor real, mas o pai amorosamente guarda na sala e
até emoldura.

A justiça própria anula o evangelho da graça

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O valor não está no que fazemos, mas nos olhos
de amor do pai sobre nós. Imagine que sofrimento se
aquele bebê ficasse esperando se tornar um Picasso
para poder agradar ao pai. Mas foi exatamente isso
que fez o irmão do filho pródigo. Nunca desfrutou de
sua herança porque esperava estar qualificado. Não lhe
parece familiar essa situação?
Não se relacione com Deus com base na responsa-
bilidade ou na lei da obrigação. Relacione-se com base
na graça. Se fizermos algo para Ele, isso deve ser visto
como um privilégio da graça, e não uma obrigação da lei.

3. “Nunca me deste um cabrito


sequer para alegrar-me com os meus
amigos”
O filho mais velho culpou seu pai recriminando
sua graça e amor para com o pródigo. Ele também des-
prezou a seu irmão. Ele disse: “Esse teu filho [...]”. Dá
para perceber a ponta de desprezo nessa colocação. Ele
não o chama de seu irmão e não demonstra nenhuma
alegria em seu retorno. Ele prefere vê-lo como algo vil
e desprezível. Além disso, não há amor ou respeito por
seu pai. Você notou como o pai acaba levando toda a
culpa? É tudo culpa dele. “Você nunca me deu um ca-
brito sequer para alegrar-me com os meus amigos; mas
vindo esse seu filho, que desperdiçou os teus bens com
meretrizes, você manda matar para ele o novilho cevado”
(Lc 15.29.30).

O irmão do filho pródigo

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Aquele filho viveu toda sua vida com um desejo
oculto não satisfeito. Ele sempre quis fazer um churrasco
com seus amigos, mas pensava que seu pai iria lhe negar o
novilho. Todos aqueles anos trabalhando e se esforçando
para ser um bom filho a fim de merecer aquele churrasco
com os amigos e agora aparece o filho ingrato e recebe
de graça tudo o que ele sempre quis. Ambos os filhos
desconheciam o próprio pai. O primeiro partiu para só
depois perceber o que havia perdido, e o segundo ficou
em casa sem nunca perceber que tudo era seu.
O que deve marcar o nosso coração é a atitude do
pai para com os dois filhos. Primeiro, vemos o pai cor-
rendo ao encontro do rebelde que o abandonara. Depois,
o vemos novamente saindo para buscar aquele que estava
nervoso do lado de fora da casa. Deus Pai ama o hipó-
crita, o presunçoso e o legalista egocêntrico assim como
Ele ama o rebelde e o pródigo desobediente. Quando o
pai encontra o seu filho mais velho, ele não o repreen-
de ou o censura, mas procura trazê-lo ao bom senso. O
que partiu estava constrangido de entrar, e o que ficou
se recusou a entrar. Nenhum dos dois conhecia o pai.
O pai diz ao filho que tudo o que tinha estava dis-
ponível para ele. Tudo o que ele tinha a fazer era pedir.
Uma atitude hipócrita ocorre frequentemente em pesso-
as que estão sentadas diante de uma grande bênção, mas
sem nunca reivindicá-la. Eles ficam chateados quando
veem os outros, que eles julgam não merecerem nada,
entrando e recebendo o que poderia ser deles, mas que
nunca pediram nem nunca reivindicaram.

A justiça própria anula o evangelho da graça

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Isso revela que o filho mais velho estava realmente
mais perdido do que o outro. Ele não tinha ido para um
país distante como outro, mas estava longe do coração do
pai. Apesar de tudo isso, o pai oferece graça ao menino.
Ele diz: “Meu filho, você sempre está comigo; tudo o
que é meu é seu. Agora, não fique com raiva porque eu
mostrei amor e graça para o seu irmão”.
Jesus termina a história com esse rapaz do lado de
fora da casa. Nós não sabemos o que aconteceu depois.
Crentes guardadores da lei são grandes candidatos a se-
rem irmãos do filho pródigo. Em sua busca pelo mere-
cimento, acabam perdendo a festa que acontece dentro
da casa. Quando pedem justiça em relação ao irmão,
deixam de receber a maravilhosa graça do pai.
A maior parte das coisas que nos pesam não fazia
parte da vida de Jesus. Seu ministério não parecia ter uma
agenda fixa ou rígida, mas tudo dependia do Espírito.
Sua vida de oração não era baseada em regras rígidas, mas
numa comunhão com o Pai. Depois de ouvir a voz de
Deus no batismo: “Eis meu filho amado, em quem me
comprazo!”, Ele foi levado ao deserto para ser tentado.
E a tentação foi: “Se você é filho de Deus, então pro-
ve”. Ele nunca tentou provar o que era fazendo alguma
coisa. Assim como Ele, nós não precisamos provar coisa
alguma, precisamos apenas assumir a nossa posição de
filhos. Nós somos filhos e isso é suficiente para termos
tudo do Pai.
Costumo dizer que precisamos ter uma santa cara
de pau para desfrutarmos da graça de Deus. Paulo diz
em Romanos 4.3,4 que, ao que trabalha, o salário não é

O irmão do filho pródigo

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considerado como favor, mas sim como dívida. Mas, ao
que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ím-
pio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. Imagine a cena:
– E aí, João, fez todo o serviço?
– Bem, Senhor. Não deu para fazer tudo. Na ver-
dade, eu nem trabalhei esse mês. Mas eu estou aqui para
receber o meu salário.
– Tudo bem, João. Pode passar na tesouraria e pe-
gar o seu cheque.
Tem cabimento? Se você trabalhasse o mês inteiro
e visse essa cena não ficaria indignado? Não dá para
condenar o irmão do filho pródigo. Todos nós even-
tualmente temos a mesma atitude dele. Mas Deus está
nos convidando hoje a usufruir de Sua graça superabun-
dante. Tenha a cara de pau de pedir tudo. Não importa
se você não fez todo o serviço, não se sente qualificado,
não orou o suficiente, não leu toda a Bíblia, não cum-
priu todas as condições nem pagou o preço. Apenas vá
receber o salário sem ter trabalhado. Deus não abençoa
quem merece, Ele abençoa aquele que crê a ponto de
ter essa cara de pau.
A casa está aberta para você. Não existem quartos
fechados, não há comidas proibidas, não há móveis em
que não possa subir, porque tudo é seu. Se parece haver
alguma restrição, é para o seu bem, afinal brincar com
faca é perigoso.

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