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O DIA QUE O COWBOY FOI ATROPELADO POR SEIS CAVALOS

Nos anos 90, tinha por hábito domingueiro frequentar um


badalado bar na orla de Ipanema, cuja maior atração era um
TOURO MECÂNICO, no qual aludido herói estilizado, costumava
galopar, após ingerir alguns litrinhos de chopp.

Usava chapéu country, e botas estilo texano, calça jeans e colete


de couro. Trepidava e esporava no lombo daquele simulador até
ser estupidamente arremessado no tatame. Metido a gineteador
de uma geringonça que simulava um verdadeiro touro xucro.

Se achava o bom, porque segurava alguns segundos aquela


merdaiada toda quando em máxima potência. Tanto voou que
em uma queda, tomou uma rabeada bem no meio do nariz,
parando no HPS para os devidos reparos.

Apesar de sofrer as mais variadas contusões, tinha por religião o


sagrado hábito de todos os domingos fazer a alegria dos
frequentadores do bar, esvoaçando das mais diversas maneiras,
e, não sossegava enquanto não estivesse suficientemente
“avariado” pela violência dos arremessos, sempre tentando
ultrapassar os limites, no breve tempo que corcoveava no
“touro” em velocidade máxima.

Nos dias úteis, aquele Cowboy era acostumado a montar sua


bike, pedalava do Moinhos de Vento até Ipanema, para temperar
seus hobbys, sempre pegava a trilha do Morro do Osso. Tinha
pernas e braços avantajados, verdadeiro atleta no alvorecer de
seus vinte e poucos anos. Muitas vezes se espatifava naquelas
íngremes trilhas no meio do morro, se levantava, e seguia o
treino, pois não adiantava ficar jogado no chão chorando.
Em ocasiões especiais, o Cowboy levava também “El Baldon”, um
balde de gelo em alumínio, com capacidade de um litro e meio,
amarrado em uma alça de couro estilo tira-colo, sempre munido
da seguinte fórmula: 1200 mls. (duas garrafas de cerveja clara), e
uma garrafinha de 300 mls. de cerveja Caracu.

Então, lá pelos meados de 1994, sábado fim de tarde, ocorreria


um verdadeiro rodeio, no Parque de Exposições de Esteio. No
meio da tarde daquele fatídico sábado, o Cowboy convocou
alguns amigos ex-colegas da Engenharia Agrícola, e, estilizado,
primeiro foi com seus camaradas para o bar em Ipanema,
bebericar e demonstrar suas habilidades no touro mecânico.
Naquela tarde, o touro estava mais calmo, quiçá tivesse achado
alguma máquina de lavar roupa e estremecido a noite inteira, ou
o operador pegou mais leve, pois sabia que o cowboy iria assistir
um rodeio de verdade, e também devia preservar o mesmo para
alegrar os frequentadores domingueiros.

Assim, naquele dia o Cowboy saiu inteiraço do bar, encheu “El


Baldon” no primeiro mercadinho da Zona Sul, e, riscou pro
Parque de Exposições em Esteio, para “barbarizar” nas
arquibancadas do Rodeio, não sem antes encher novamente “El
Baldon”... Após aquela babaquice toda de apresentação dos
Peões, oração e pá e guru-guru, começou o “grande” Rodeio.
Ocorreu que do ponto de vista do Cowboy, aqueles peões não
eram de nada, pois mal os touros pulavam e eles já caiam. –
RODEIO FALCATRUA, freneticamente gritava o Cowboy, - Esses
peões não são de nada... – frouxos... – FDPs...

PRIMEIRA ADVERTÊNCIA
Ante o manifesto do Cowboy, alguns recatados pais de família,
sentindo-se ofendidos com tais palavrões proferidos, retiraram-
se daquela arquibancada e reclamaram junto à segurança do
evento. Assim, lá estava aquele Cowboy alucinadamente louco
de cerveja, e ao mesmo tempo indignado, pois aquele Rodeio
havia frustrado sua expectativa, queria ver os Peões voarem
longe, e se esborracharem no chão, e não aquelas quedinhas
chinfrins, parecendo até leve aquecimento de judô.

O Cowboy estava tão alucinado, que nem reparou que as


pessoas em sua volta, incluindo seus amigos, foram se
distanciando. Nem tampouco reparou quando dois seguranças se
aproximaram, e, gentilmente conversaram com o mesmo,
pedindo para que ele tivesse modos e educação, pois haviam
famílias que tinham saído da arquibancada horrorizadas, com os
palavrões e grosserias expressadas por aquele troglodita, vestido
de Cowboy. O Cowboy baixou a crista...

Após alguns minutos, acabou o Rodeio, mas tinha apresentação


de umas bandas Country tops, era uma boa oportunidade para o
Cowboy expor seus conhecimentos na arte da conquista, pois
faziam incontáveis meses que não se relacionava
harmonicamente com o sexo oposto, e, não poderia existir lugar
melhor, pois sobressaía estilizado, bom papo e muita cerveja na
cabeça, vista que havia recarregado novamente El Baldon.

O SHOW

A primeira música foi “The Boxer”, que aflorou os sentimentos


daquele peça rara. O Cowboy vislumbrou a situação atrás de
alguma presa, localizou duas gatas e se aprochegou, pois as
minas deram moral. Me dei bem pensava o Cowboy, enquanto
compartilhava El Baldon e batia papo com elas. Lá pelas tantas,
necessitou ir ao banheiro, deixou El Baldon com as moças e foi
atender o chamado de sua natureza. Quando voltou viu que
outro cara estava apedrejando em cima de suas pombinhas, e,
pior, elas estavam dando moral para ele também.

De forma chucra, o Cowboy se aproximou do rapaz e já foi logo


dizendo: - Aí, elas tão comigo, cai fora! O rapazote saiu, e, as
minas seguiram bebericando e batendo papo com o Cowboy. Ao
acabar a cerveja, lá foi o Cowboy encher El Baldon, e, ao voltar
com o tanque cheio, novamente estava aquele cara xaropão em
cima dos brotos. Novamente o Cowboy mandou o chato
debandar da área, e, seguiu curtindo a festa com as gatas.

Lá pelas tantas, o Cowboy se retirou novamente, e, ao retornar,


lá estava o chato em cima das gurias. O Cowboy chegou mais
agressivo e pela última vez mandou o cara sair fora. Com isso, os
amigos do Cowboy viram que a coisa estava preta e resolveram
dar um basta. – Vamos pegar esse loco e retirar logo daqui, ele tá
muito doido. Assim se aproximaram do Cowboy o intimando
para que fossem embora. O Cowboy disse que só ia embora
depois de dar umas porradas naquele xarope. Os amigos
tentaram em vão dissuadi-lo, mas ele não queria saber, e disse
que os encontraria no estacionamento em poucos minutos.

Quando adolescente, entre os 12 e 13 anos o Cowboy havia


treinado Karatê em uma das melhores academias de Porto
alegre, sabia dar socos e chutes perfeitos, pois desde remota
época se pegava na porrada no mínimo três vezes por dia com
seu irmão, um ano e meio mais velho.

A música rolava animada, haviam quatro seguranças só no bico


daquele agitador, que estava completamente fora da casinha.
Pelo profissionalismo dos guardiões, os mesmos já haviam
detectado que a primeira advertência não havia surtido o devido
efeito. Assim, o Cowboy indignado se dirigiu para seu inimigo, ao
se aproximar, deu um chute na parte de trás do joelho do rival,
este, ao se virar, tomou um soco moderado no queixo. A música
parou, o Cowboy em base de ataque, o rapazote não reagiu,
somente o fitou com cara de apavorado pela ignorância como
fôra agredido, a multidão se afastou. Como a vítima não reagiu
aos dois golpes, a área limpou, o Cowboy resolveu debandar,
pois viu que quatro elementos grandões e uniformizados
estavam vindo em sua direção.

Primeiro saiu caminhando normalmente, mas, ao olhar para trás,


reparou que aquela equipe vinha caminhando em ritmo rápido
em sua direção, tratou de apressar o passo, a quadrilha
permanecia o seguindo. Quase correndo, o Cowboy se
aproximou do portão da saída, estava quase salvo, entretanto,
antes da saída haviam dois seguranças, um em cada lado do
portão.

Quando o Cowboy foi passar no meio dos dois seguranças, eis


que os outros quatro se aproximaram e gritaram aos porteiros: -
é ele... segurem ele... Imediatamente o Cowboy levou uma
rasteira dupla, caiu no chão, e só lembra de ter tomada uma
chuva de chutes, nos seus braços e pernas, seu chapéu voou pela
lateral. Imediatamente o Cowboy indagou: - que covardia é essa?
- Seis contra um? Ao que foi retrucado: – É covardia foi o que tu
fez, porque bateu no guri? Ainda no chão, o Cowboy de imediato
disse que seu primo era juiz em Esteio, o chefe dos seguranças
disse que podia ser primo do presidente que eles não iam deixar
assim. Levantaram o Cowboy, sob o espanto e comentários dos
transeuntes, que diziam: - Nossa que covardia desses
seguranças, seis batendo num... Aplicaram uma geral no
Cowboy, que estava “limpo” e documentado, resolveram
escoltar até a saída, ocasião em que o Cowboy reclamou seu
chapéu que havia voado, foi prontamente atendido, tendo sido
seu chapéu amassado pela força com que foi inserido na sua
cabeça.

No outro dia, um Domingo, ao se levantar, o Cowboy


apresentava doloridos hematomas nos braços e pernas,
rengando nas duas pernas, foi indagado por sua mãe, porque
estava mancando e eventualmente gemia, limitou-se a dizer que
tinha caído de bike na trilha.

Naquela tarde, a equipe do bar, bem como os frequentadores


estranharam a ausência do Cowboy.

Rapidamente o Cowboy se recuperou, e, agradeceu o


profissionalismo dos seguranças, pois como ele não tinha cagado
a pau o rapaz, os seguranças também não o agrediram em
qualquer ponto vital, nem tampouco em seu rosto. Até hoje tira
o seu chapéu aquela equipe de profissionais, pois poderiam ter
lhe deixado inválido, mas foram meticulosos na aplicação do
corretivo. Nunca mais o Cowboy se meteu em grandes
confusões.

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