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EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

FEDERAL DE PORTO ALEGRE (RS)

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA

PROCESSO Nº

FULANO DE TAL, brasileiro, casado, aposentado, RG ..., CPF ...,


domiciliado na Rua ..., Bloco ..., apartamento ..., bairro..., Porto Alegre
(RS), por seu procurador firmatário, vem, respeitosamente perante Vossa
Excelência, com fulcro nos artigos 674 e seguintes do Novo Código de
Processo Civil, apresentar

EMBARGOS DE TERCEIRO COM PEDIDO LIMINAR, contra


UNIÃO – FAZENDA NACIONAL, já qualificada nos autos do processo
em epígrafe, pelos substratos jurídicos e fáticos que ora declina:

PRELIMINARMENTE BEM DE FAMÍLIA –


IMPENHORABILIDADE

O Embargado, nos autos supra, requisitou a penhora do bem imóvel


MATRÍCULADO SOB O Nº ..., no Registro de Imóveis de ... . No
entanto não foi observado que o imóvel caracteriza bem de família, visto
que o local é residência e domicílio do embargante com a sua família.

Perante essa particularidade resta demonstrado que o imóvel mencionado


trata-se de um bem de família, conforme Lei nº 8.009, de 29 de março de
1990, em seu artigo 1º dispõe:

“Art. 1º  O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A
impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a
construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos
os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados.”

No mesmo sentido a Lei 6.742, de 05 de Dezembro de 1979 em seu artigo


19 estabelece que não há limite de valor para considerar o bem de família,
bem como delibera que os interessados devem residir no imóvel por dois
anos ou mais para ser considerado o bem de família, in verbis:
“Art. 19. Não há limite de valor para o bem de família desde que o imóvel
seja residência dos interessados por mais de dois anos.”

A lei é clara quanto à impossibilidade do mesmo poder ser penhorado,


como determina expressamente o artigo 1º, da Lei nº 8.009 de 29 de
março de 1990.

Outrossim, ressalta evidenciar que a moradia é um Direito e Garantia


Fundamental Constitucional, previsto no artigo 5º, incisos XI, XXII, além
de ser também um direito Social Constitucional previsto no
art. 6º da Constituição Federal, a qual não deve o Estado ou qualquer
outro interessado reprimir esse direito constitucional. Nesse sentido,
Nolasco (2008, p. 88) define o direito à moradia como sendo a posse
exclusiva de um lugar onde se tenha um amparo, que se resguarde a
intimidade e se tenha condições para desenvolver práticas básicas da vida.
É um direito erga omnes, um lugar de sobrevivência do indivíduo. É o
abrigo e o amparo para si próprio e seus familiares “[...] daí nasce o
direito à sua inviolabilidade e à constitucionalidade de sua proteção’’.
Não pode dessa maneira a família ser privada desse direito, ainda mais
pelo penhor ou outro modo de constrição legal.

DO MÉRITO

I - DOS FATOS

O ora embargado entrou com Ação de Execução em face de


CACHAÇARIA SONHO MEU LTDA., em 1º de dezembro de 2012,
processo autuado sob o nº ..., perante este DD. Juízo.
Após inúmeras infrutíferas tentativas para localizar o Réu, a presente
execução foi direcionada para a pessoa física do Sr. ..., em 25 de novembro
de 2013.

Em 27 de novembro de 2014 foi disponibilizada a citação por edital da


pessoa física do executado ..., cujo prazo transcorreu em 13 de fevereiro de
2015. Em 08 de maio de 2015 a execução fiscal nº.  ... foi apensada ao
presente feito, cujos efeitos da medida se estenderam ao presente feito. Em
27 de maio de 2015, a execução fiscal nº. ... foi apensada ao presente feito.
Em 14 de outubro de 2015 foi disponibilizado edital de citação, tendo
transcorrido prazo sem manifestação em 14 de dezembro de 2015. Em 17
de fevereiro de 2016 foi protocolizada e enviada a minuta de bloqueio no
BACENJUD, e, posteriormente, em 09 de março de 2016 operou-se
bloqueio de valor vil, restando por tal quantia desbloqueada. Em 16 de
março de 2016 o executado juntou procuração e contestou a penhora
online. Em 17 de março de 2016 a exequente requereu a constrição de
todos os veículos de propriedade das Executadas, pelo sistema RENAJUD,
bem como informações acerca da existência de bens declarados pelo(s)
devedor(es) à Receita Federal do Brasil, pelo sistema INFOJUD. Em 15 de
abril de 2016 foi deferida consulta no sistema RENAJUD, bem como
restrição à transferência de veículo. Em 25 de abril de 2016 a exequente
requereu a penhora e avaliação de 03 (três) veículos do executado. Em 07
de junho de 2016 feito suspenso. Em 08 de setembro de 2016 feito
reativado, em 15 de setembro de 2016 a exequente requereu a suspensão do
feito por 1 ano. Em 19 de setembro de 2017 feito reativado. Em 03 de
outubro de 2017 processo arquivado administrativamente. Em 12 de março
de 2021 a exequente apresentou pedido de reconhecimento de fraude à
credores na execução fiscal em relação aos imóveis de matrículas nº ... e ...
(este do ora embargante) do Registro de Imóveis de .... Em 20 de março de
2021 este DD juízo ordenou a intimação dos adquirentes dos respectivos
imóveis, para querendo oporem embargos de terceiro. Em 26 de abril do
corrente ano, o ora embargante foi intimado da presente execução.

Em data de 25 de Agosto de 2017, o embargante outorgou


INSTRUMENTO PÚBLICO DE PROCURAÇÃO ao Sr. ..., brasileiro,
corretor de imóveis, RG ..., CPF ..., residente e domiciliado na rua ...,
cidade (UF), CEP .... Conforme se verifica a procuração outorgou-lhe os
seguintes poderes:

"para o fim especial vender, prometer vender, ceder, prometer ceder,


permutar, ou de qualquer forma alienar a quem quiser, ou ainda para o
próprio outorgado, nos termos do artigo 117 do Código Civil
brasileiro, pelo preço, prazo e demais condições que ajustar, o seguinte
imóvel: o imóvel situado no Balneário Quintão, no Município de
Palmares do Sul, lote ..., da Quadra ..., melhor descrito e caracterizado
na Matrícula nº do Registro de Imóveis de Palmares do Sul; podendo,
para tanto outorgar e assinar todos os documentos e instrumentos, públicos
ou particulares, preliminares ou definitivos; receber o preço, passar recibo e
dar quitação; transmitir domínio, posse, direitos e ações; dar medidas,
confrontações, procedência e outras características; responder pela evicção;
retificar, ratificar, anuir ou aditar se necessário; prestar declarações, sob
responsabilidade civil e penal, sobre a existência ou inexistência de vínculo
obrigatório com a Previdência Social e da competente comprovação de
débito, dispensados por isto da apresentação da certidão negativa de débitos
do INSS e da certidão de quitação de tributos federais; fazer e assinar as
declarações exigidas por lei; representa-los perante as repartições públicas,
federais estaduais, municipais, inclusive INSS, Tabelionatos e Registro de
Imóveis tudo requerendo, promovendo e assinando o que julgar necessário,
inclusive tudo quanto se relacione com desmembramento; regularizar os
títulos aquisitivos; fazer as declarações exigidas por lei; enfim, usar dos
mais variados poderes em direito permitidos e indispensáveis ao fiel e cabal
desempenho do presente mandato, inclusive substabelecer.”.

Dito instrumento, em forma pública, foi lavrado às fls. ..., Livro Nº ..., do
TABELIONATO DE .... (doc. anexo)

Ocorre, Exa., que o embargante deu o referido imóvel à título de entrada,


pelo preço de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil Reais) para a aquisição de
uma casa no Balneário de Cidreira (Matrícula nº ...), essa avaliada em R$
80.000,00 (oitenta mil Reais), ocasião em que o embargante pagou a
diferença de R$ 40.000,00 (quarenta mil Reais) À VISTA, diretamente em
depósito bancário para o corretor ..., mais R$ 5.000,00 (cinco mil Reais), à
título de sinal.

O embargante adquiriu aludida casa em Cidreira, e, pagou os IPTU’s


atrasados, bem como ESCRITUROU a residência, e realizou a devida
AVERBAÇÃO NO REGISTRO DE IMÓVEIS DE CIDREIRA, TUDO
DENTRO DA LEGALIDADE.

No início do mês de Maio de 2018, eis que o embargante foi surpreendido


com a intimação de PENHORA DO IMÓVEL DE CIDREIRA. Tal
penhora foi tombada pelo Processo nº ..., que tramitou na Vara Cível do
Foro Regional do Partenon, na Comarca de Porto Alegre (RS). Ingressou
com os devidos Embargos, tendo os mesmos por procedentes em data de 19
de outubro de 2018, o embargado recorreu, e, TAL RECURSO RESTOU
POR IMPROVIDO EM 20 DE MARÇO DE 2019, TRANSITADO EM
JULGADO EM 27/06/2019 (docs. Anexos).
Entretanto Excelência, no dia 26 de abril do corrente ano, eis que o
embargante foi surpreendido com a intimação de NOVA PENHORA DO
IMÓVEL DE CIDREIRA, QUE TINHA COMPRADO DO CORRETOR
supracitado, ficando o embargante sob risco de perder sua casa (ora objeto
de penhora no feito executivo fiscal), amargurando profundo prejuízo, eis
que CORRE O RISCO DE PERDER SEU ÚNICO IMÓVEL, bem
como perder o que foi investido, fruto de diferenças residuais oriundas da
aposentadoria do embargante.

Desde que efetivou a compra da aludida casa, o embargante passou a


possuir a posse e propriedade do referido bem, cumpre salientar, que o
embargante realizou buscas junto ao Registro de Imóveis da cidade, e sobre
a residência em questão não constavam nenhum gravame ou constrição
judicial, conforme certidão emitida pelo próprio Registro (doc. Em anexo).

II – DO DIREITO

Conforme restou devidamente demonstrado por meio de todos os fatos já


descritos, o embargante está sofrendo lesão grave em seu patrimônio e
direito de propriedade, estando amparado pela legislação mencionada, em
especial ao que dispõe o artigo 674 do NCPC, que diz, in verbis:

“Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça
de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito
incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou
sua inibição por meio de embargos de terceiro.

§ 1o Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário,


ou possuidor.

§ 2o Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:

I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou


de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;

II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a


ineficácia da alienação realizada em fraude à execução;

III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de


desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte;

IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto


de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais
dos atos expropriatórios respectivos.”
Portanto, resta demonstrado ser o embargante parte legítima para opor
embargos de terceiro, vista que não foi citado, não participou do processo e
corre o risco de ter sua única propriedade restringida por ato judicial
de penhora.

Igualmente, deve-se considerar o disposto no artigo 678 do Novo Código


de Processo Civil, com o objetivo de afastar a restrição invasiva imposta
sobre o imóvel do embargante:

“Art. 678. A decisão que reconhecer suficientemente provado o domínio ou


a posse determinará a suspensão das medidas constritivas sobre os bens
litigiosos objeto dos embargos, bem como a manutenção ou a reintegração
provisória da posse, se o embargante a houver requerido.”

Reforçando o entendimento, entende o Superior Tribunal de Justiça:

Embargos de terceiro sobre imóvel alienado. Escritura pública de compra e


venda não levada a registro. Desde que a penhora tenha recaído sobre bens
transferidos à posse de terceiro, admissível são os embargos,
independentemente da circunstância de que a escritura pública de compra e
venda não tenha ainda sido levada a registro (STJ, REsp. 29.048-3 – PR.
Rel. Min. Barros Monteiro, j. Em 14.06.1993).

Na jurisprudência acima, percebe-se que, mesmo não tendo sido registrada


a escritura de compra e venda, afasta-se qualquer restrição quando se trata
de adquirente de boa-fé, conforme Súmula 84 do Superior Tribunal de
Justiça cujo teor segue abaixo:

"É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de


posse advinda de compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro."

DA INEXISTÊNCIA DE FRAUDE À EXECUÇÃO

Nos termos do CPC/15, em seu artigo 792, “a alienação ou oneração de


bem é considerada fraude à execução somente:

I – quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com


pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido
averbada no respectivo registro público, se houver;

II – quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do


processo de execução, na forma do art. 828;
III – quando tiver sido averbada, no registro do bem, hipoteca judiciária ou
outro ato de contrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude;

IV – quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o


devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;

V – nos demais casos expressos em lei.

E pelo que se depreende na matrícula do imóvel nº 28.287, no Registro de


Imóveis de Cidreira, o imóvel foi adquirido pelo embargante em 18 de
agosto de 2017, ocasião em que o feito executivo encontrava-se
SUSPENSO/SOBRESTADO (evento 81).

Ou seja, alguns elementos devem ser considerados:

a) Inexistência de coincidência temporal: Em 18 de agosto de 2017,


data da alienação do imóvel, A EXECUÇÃO ESTAVA
SUSPENSA/SOBRESTADA;

b) Insolvência: O executado dispunha de outros bens para suprir a


execução, não sendo suficiente a impugnada alienação para
configurar a insolvência do executado.

Conforme destaca a doutrina:

“Fundamental para a caracterização da fraude à execução é a existência de


litispendência ao tempo da alienação ou oneração do bem passível de
constrição executiva. Vale dizer: é imprescindível que o demandado tenha
sido citado validamente para o processo em curso (...). além da
litispendência, exige-se para a configuração de fraude à execução a
alienação ou oneração de bem sobre o qual pende ação fundada em direito
real ou a existência de demanda capaz de reduzir o demandado à
insolvência.” (MITIDIERO, Daniel. ARENHART, Sérgio Cruz.
MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil Comentado
– Ed. RT, 2017. e-book, art. 792).

Portanto, além da litispendência entre a ação e a alienação, o negócio


jurídico que se pretende anular deve ser suficiente a levar o executado à
insolvência, o que não ficou demonstrado no presente caso.

Presentes estão as circunstâncias que não evidenciam fraude à execução,


devendo ser coibida a constrição pleiteada, conforme precedentes sobre o
tema:
- AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA -
FRAUDE À EXECUÇÃO - ART. 792 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL - ALIENAÇÃO DO IMÓVEL ANTES DA DEMANDA -
INEXISTÊNCIA DE CONSTRIÇÃO JUDICIAL SOBRE O BEM -
SÚMULA Nº 375 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - DECISÃO
MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. Inexistindo constrição judicial
sobre o bem, assim como qualquer ação de execução ou capaz de reduzir o
devedor à insolvência, à época da alienação do imóvel, não há que se falar
em fraude à execução. Nos termos do enunciado de súmula nº 375 do
Superior Tribunal de Justiça, "o reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do
terceiro adquirente".(TJMS. Agravo de Instrumento n. 1402066-
94.2019.8.12.0000,  Bela Vista,  4ª Câmara Cível, Relator (a):  Des.
Vladimir Abreu da Silva, j: 02/04/2019, p:  03/04/2019)

FRAUDE À EXECUÇÃO - Alienação de bem imóvel após a formação do


título e que levou o devedor à insolvência - Inexistência de prova da má-fé
do adquirente - Boa-fé, neste caso, que se presume - Ônus do exequente, do
qual não se desincumbiu - Recurso desprovido. (TJSP;  Agravo de
Instrumento 2138725-71.2019.8.26.0000; Relator (a): Rui Cascaldi; Órgão
Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro de Franca - 3ª. Vara de
Família e Sucessões; Data do Julgamento: 12/12/2019; Data de Registro:
12/12/2019).

Assim, restou comprovado o exercício da propriedade/posse e a boa-fé do


adquirente, impondo-se a desconstituição da penhora.

No tocante ao imóvel estar caracterizado por BEM DE FAMÍLIA, A


Jurisprudência inúmeras vezes já se manifestou a este respeito, como
se pode constatar nos seguintes acórdãos:

“ IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA EMBARGOS


À EXECUÇÃO – Penhora nos autos da execução do único imóvel do
casal, utilizado para sua residência. – O imóvel residencial próprio do
casal é impenhorável e não responde por dívidas, conforme o
previsto na Lei 8009/90. – Demonstração nos autos de certidão
comprovando tratar-se de único imóvel da família. – Caracterização
como bem de família. – Não há que se falar em cerceamento de
defesa quando o magistrado indefere a produção de prova
testemunhal por entender já serem suficientes as já existentes nos
autos para solução da lide, pois a ele cabe dar rumo ao processo. –
Não caracterização de ofensa as garantias do contraditório e da ampla
defesa, pois não ocorre cerceamento de defesa quando o magistrado
conclui pela aplicação do artigo 330 do CPC por não haver
necessidade de produção de prova em audiência, dispensando-se,
inclusive, a audiência de conciliação. E ainda, o legislador entendeu
por bem proteger o único imóvel que serve como residência da
família de execuções por dívidas, pela qual, preenchidos os requisitos
legais, não é cabível a penhora. – REJEIÇÃO DA PRELIMINAR –
RECURSO IMPROVIDO. “

(Apelação cível. Processo nº 2003.001.17458. 4ª Câmara Cível. Rel.


Des. Sidney Hartung. Registrado em 24/11/2003. Julgado em
21/10/2003)

“ Agravo de Instrumento. Comprovado nos autos ser o imóvel


penhorado único bem da executada, impõe-se o reconhecimento do
mesmo como bem de família, como tal impenhorável, salvo as
exceções previstas na Lei 8009/90. A decisão de apelação em
embargos de terceiro que reconheceu transferência fraudulenta não
impede o direito à impenhorabilidade do bem de família, quando
comprovada esta condição nos autos. Desprovimento do recurso. “

(Agravo de Instrumento. Processo nº 2002.002.18657. 9ª Câmara


Cível. Rel. Des. Joaquim Alves de Brito. Registrado em 15/09//2003.
Julgado em 24/04/2003).

“ Embargos de Terceiro. Recurso tirado contra a decisão que fez


entender procedentes as argüições da embargante na fundamentação
da irregular penhora recaída sobre imóvel retratado como bem de
família. Lei nº 8.009/90. Impossibilidade do prosseguimento da
execução como tal operada. Razões insubsistentes aportadas com o
recurso. Apelo não provido. Decisão confirmada.” (Agravo de
Instrumento. Processo nº 2002.001.22675. 9ª Câmara Cível. Rel.
Des. Marcus T. Alves. Registrado em 14/05//2003. Julgado em
25/02/2003).

“ Embargos de Execução. Bem de família. Alegação de


impenhorabilidade. Único bem de propriedade do executado, em
condomínio com sua irmã. Ausência de comprovação em contrário.
Incidência da Lei nº 8.0089/90. Provimento do apelo.”(Apelação
Cível. Processo nº 2003.001.02282. 12ª Câmara Cível. Rel. Des.
Helena B. Klausner. Registrado em 09/09/2003. Julgado em
24/06/2003).

Processo: AGVPET 5587920125010007 RJ
Orgão Julgador:Sétima Turma
Publicação:2012-12-14
Julgamento: 21 de Novembro de 2012
Relator:Paulo Marcelo de Miranda Serrano

Desse modo, nos termos da jurisprudência consolidada sobre o tema e


do referido ditame legal, por ser impenhorável o imóvel residencial
próprio da entidade familiar, a penhora realizada carece de
fundamentação, pelo que deve ser desconstituída de pleno direito.

Tendo em vista que os presentes embargos encontram assentamento tanto


na legislação brasileira quanto nas Súmulas emanadas pela mais alta corte,
requer-se seja recebido, reconhecido e provido pelas razões de fato e direito
explanadas.

III - DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA

A nossa Carta Magna assegura às pessoas o acesso ao Judiciário, senão


vejamos:

“Art. 5º - LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e


gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

A parte autora, informa que é pobre na acepção legal do termo, não


possuindo condições de arcar com as custas de um processo e honorários
advocatícios, sem prejuízo de seu sustento e de sua família, razão pela qual
faz jus a justiça gratuita, nos termos da Lei nº 1060/50.

Verifica-se, pois, do cotejo dos dispositivos legais acima transcritos, com a


declaração de hipossuficiência financeira, que a promovente tem direito e
requer os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, pois não possui condições
para, arcar com as custas processuais, sem comprometer seu sustento
familiar.
IV - DOS PEDIDOS

Em face ao exposto, requer:

a) Sejam recebidos, autuados e processados os presentes embargos de


terceiro, com o apensamento à mencionada execução;

b) Seja acolhida a preliminar suscitada;

c) Seja deferida LIMINARMENTE A MANUTENÇÃO DA POSSE do


bem penhorado ao embargante, eis que provada a propriedade e posse do
bem;

d) Solicita prazo para a juntada das certidões que comprovam o fato de ser
este o único imóvel de propriedade do Embargante;

e) Seja determinada a suspensão imediata do processo de execução


mencionado, até decisão final de mérito dos presentes embargos, eis que
trata da totalidade dos bens penhorados naquele feito;

f) A citação do embargado para responder aos termos da presente ação;

g) Seja deferida ao embargante o benefício da justiça gratuita, nos termos


da Lei nº 1060/50.

h) A condenação do embargado em custas processuais e honorários de


sucumbência a serem fixados na proporção de 20% sobre o valor da causa;

i) Seja, ao final, JULGADO TOTALMENTE PROCEDENTE o


presente pedido, com o levantamento da penhora realizada sobre o bem de
propriedade do embargante, oficiando-se o órgão competente, prevalecendo
o Justo e Perfeito Direito.

Protesta-se provar o alegado, por todos os meios de provas em direito


admitidos, especialmente a documental.

Valor da causa: R$ 80.000,00 (equivalente ao valor do bem penhorado).

Nesses Termos.

Pede Deferimento.
Porto Alegre, 12 de maio de 2021.

Dr. César Alexandre Pereira Symanski


OAB/RS:. 74.294

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