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NHC V,5
Introdução
por Madeleine Scopello
Um título abre o tratado, e o tema do título é captado nas primeiras linhas do texto: "A
revelação (ou apocalipse) que Adão ensinou ao seu filho Seth no ano 700" (64, 2–4). O
tratado fecha com o mesmo título, precedido por algumas linhas que lembram o
conteúdo do texto: "Estas são as revelações (niapokalupsis) que Adão revelou para seu
filho Sete, e seu filho os ensinou a sua prole‖ (85, 19–22).
A Revelação de Adão é apropriadamente intitulada, uma vez que o tratado fornece uma
revelação transmitida por Adão ao seu amado filho Seth, o único filho de Adão a ter
herdado a centelha divina do conhecimento e, assim, ter a possibilidade de retornar à
sua casa celestial acima. Em contraste, um julgamento negativo é pronunciado sobre a
linhagem de Shem e, em menor grau, sobre os descendentes de Ham e Japheth. A
semente de Seth representa os escolhidos, que buscam o verdadeiro conhecimento
através de todas as suas gerações. Este ponto de vista é compartilhado por outros
tratados de Nag Hammadi e confirmado por pais da igreja que descrevem o que agora
chamamos de grupo gnóstico sethiano. A análise desses textos levou estudiosos da
religião gnóstica a considerar os sethianos como uma escola gnóstica de pensamento
com suas próprias tradições e escrituras sagradas.
No começo do texto, Adão lembra da época em que ele e Eva se tornaram conscientes
de sua semelhança com os grandes anjos. Eles também ficaram sabendo que eram
superiores ao deus que criou seus corpos. Adão recorda a ira deste deus, o arconte do
presente aeon, que colocou restrições a Eva e a si mesmo, para mantê-los na escravidão.
Mas o conhecimento que tinham perdido não desapareceu: entrou em outro grande aeon
e outra grande geração. Podemos notar que o adjetivo "grande" é frequente na
Revelação de Adão, e define seres e situações no mundo celestial. Adão explica a seu
filho Seth que ele foi nomeado pelo próprio Adão com o nome do humano celestial que
é "a semente da grande geração" (65, 5-9), e isso funciona como uma promessa de
conhecimento eterno dado a Seth e seus descendentes. Após este discurso introdutório,
Adão conta a Seth a revelação que recebeu enquanto dormia. Três pessoas, que não
puderam ser identificadas porque eram do mundo acima, apareceram para ele (65, 24–
32) e o convidaram a emergir do sono da morte e ouvir sobre "o reino eterno e a
semente daquele ser humano a quem a vida veio‖ (66, 1–6). Esta revelação, que começa
na Revelação de Adão 67, 14, relata os estágios da luta entre as figuras divinas
descendo periodicamente para este mundo e o criador inferior deste mundo, chamado
Sakla. A cada vinda desses grandes seres, o criador, identificado com o deus do Antigo
Testamento, reage provocando uma catástrofe natural, e ele pretende, assim, destruir as
pessoas que vêm da semente da vida e da gnosis. Mas através de cada evento, primeiro a
inundação/dilúvio (69, 1-16) e depois a destruição por fogo, enxofre e asfalto (75, 9-16),
os eleitos serão salvos pela intervenção de anjos celestes que aparecem em nuvens de
luz. Uma terceira vez, no futuro, um iluminador de conhecimento se manifestará e
realizará sinais e maravilhas (77, 1–3). Sua missão é entregar as almas dos eleitos, e o
criador irá descarregar sua raiva sobre ele até que ele sofra em sua carne (77, 16-18),
mas os poderes cósmicos serão incapazes de vê-lo. Durante a luta escatológica entre as
forças opostas, a glória se retirará para um lugar sagrado.
A Revelação de Adão tem paralelos marcantes com outros textos de Nag Hammadi que
focam a atenção na pessoa de Seth: o Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível, o
Segundo Discurso do Grande Seth e as Três Estelas de Seth. Com o Livro Sagrado ele
compartilha, por exemplo, uma angelologia comum e assuntos esotéricos judaicos.6
Conexões também podem ser desenhadas com o "texto sem título"(Sobre a Origem do
Mundo) do Bruce Codex.
BIBLIOGRAFIA
Alexander Böhlig and Pahor Labib, eds., Koptisch-gnostische Apokalypsen aus Codex
V von Nag Hammadi im Koptischen Museum zu Alt-Kairo; James H. Charlesworth, ed.,
The Old Testament Pseudepigrapha, 1.707–19 (George W. MacRae); Charles W.
Hedrick, The Apocalypse of Adam; ―The Apocalypse of Adam: A Literary and Source
Analysis‖; Rodolphe Kasser, ―Bibliothèque gnostique V: Apocalypse d’Adam‖; Bentley
Layton, The Gnostic Scriptures, 52–64; George W. MacRae, ―The Apocalypse of Adam
Reconsidered‖; Françoise Morard, ed., L’Apocalypse d’Adam; ―L’Apocalypse d’Adam
de Nag Hammadi: Un essai d’interprétation‖; ―Thématique de l’Apocalypse d’Adam du
Codex V de Nag Hammadi‖; Douglas M. Parrott, ed., Nag Hammadi Codices V, 2–5
and VI, 151–95 (George W. MacRae); Pheme Perkins, ―Apocalypse of Adam: The
Genre and Function of a Gnostic Apocalypse‖; James M. Robinson, ed., The Nag
Hammadi Library in English, 277–86 (George W. MacRae and Douglas M. Parrott);
Hans-Martin Schenke, Hans-Gebhard Bethge, and Ursula Ulrike Kaiser, eds., Nag
Hammadi Deutsch, 2.433–41 (Walter Beltz); Gedaliahu A. G. Stroumsa, Another Seed:
Studies in Gnostic Mythology.