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Sillogés Isnt 2595-4010 CAMPONESES ATINGIDOS PELA GUERRILHA DO ARAGUAIA: OS LIMITES INSTITUCIONAIS DA COMISSAO DE ANISTIA PEASANT ACHIEVED BY GUERRILHA DO ARAGUAIA: THE INSTITUTIONAL LIMITS, OF THE AMNESTY COMMISSION César Alessandro Sagrillo Figueiredo* Irene Gomes? Resumo: © maior problema enfrentado por aqueles que passaram pelo ditadura civil-militar, requerendo atualmente a declaracao da condicao de anistiado politico, seria a apresentacao de provas quanto aos prejuizos alegados. No caso especifico da Guerrilha do Araguaia (1972- 1975), a comprovagao dos fatos torna-se ainda mais dificil, uma vez que todo o evento ocorrido permaneceu na obscuridade até o final da década de 70 por imposi¢ao do arbitrio ditatorial, vindo a ter uma maior reverberagdo somente a partir dos anos 80, tais dificuldades, consequentemente, prejudicam a materialidade das provas nos processos. A partir do exposto, possuimos como objetivo principal examinar a tentativa de construcdo de provas para fins de declaraggo da condigao de anistiado politico e reparagio econdmica as vitimas camponesas durante a Guerriha do Araguaia junto a Comissao de Anistia, Para efeitos metodolégicos tratar-se-4 de um trabalho qualitative que visa uma revisdo bibliografica € histérico dos fatos corridos, bem coma trabalho de campo e entrevistas com os camponeses. Como resultado de pesquisa, constatamos a grande dificuldade dos moradores da regio na construgao da materialidade das provas, igualmente as dificuldades em face da inoperancia do Estado. Palavras-chave: Guerrilha do Araguaia. Camponeses. Comissio de Anistia. ‘Abstract: The biggest problem faced by those who went through the civil-military dictatorship, currently requiring the declaration of the condition of political amnesty, would be the presentation of evidence regarding the alleged damages. In the specific case of the Guerrilha do ‘Araguaia (1972-1975), proving the facts becomes even more difficult, since the whole event that took place remained in obscurity until the end of the 70s due to the imposition of dictatorial arbitration, having a greater reverberation only after the 1980s, such difficulties, consequently, impair the materiality of the evidence in the proceedings. Based on the above, we * Professor Adjunto Il em Ciéncia Politica ~ Curso de Licenciatura em Ciéncias Sociais da Universidade Federal de Tocantins (UFT). Doutor em Ciéneia Politica pela Universidade Federal do Rio Granide do Sul Pés-Doutor PPG Letras da UFT. Lider do Grupo de Pesquisa Violéncia e Estado, E-mail: cesarpolitika@gmailcom 2Possui graduagao em Direito pelo Centro Universitario de Barra Mansa (1996). Tem experiénciana rea de Direito, com &nfase em Direito Civil, Constitucional e Direitos Humanos. Ata com anistia politica (Art. 80 dos ADCTs da CF8B, Lei 10.559-02, Lel 6684-79), representou anistiandos, anistiados e associacées do Rio de Janeiro, Espirito Santo, Bahia, Si0 Paulo, Distrito Federal ¢ hoje trabalha com camponeses e ex combatentes orlundos da denominada Guerrilha do Araguaia © Batalha dos Perdidos, ins e Par8, E-mail: ireneanistia@gmall.com Digitalizado com CamScanner 12595 A830 Sillogés wvidenice for the purpone of deelarinnt poration to pearanl vietins during, 1h in, For inethodologieal puree it yall “facts that occurred, have avs main objective to « the condition of poltieal amie Guerrilla do Aragiiala before the Anne a qualitative work that alin at at bibtloy y Commun ‘aphic and historical review of aekall ve tekdwork and fnterviows wilh the peavant, As a resul of research yae foun the reat cifically of the resident of the reylon tn the eanstouction af the materiality of th evidence, as well as the dificultles In the face: of the Inoperability af the State Keywords: Guerrilla do Araguala, Peasants, Amnesty Comm Introdugio Para compreendermos 0 longo percurso da Anistla, bem como os direitos adlquiridos pelos oponentes, perseguldos ¢ vitimas da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), torna-se necessario 0 entendimento que existe um gradiente de lei disposigées constitucionais a ela atrelados, Estas lels vio desde 0 momento do processo cla Anistia politica de 1979 com a Lel 6.683 (BRASIL, 1979) até, mais recentemente, com acriago da Lei 10.559 (BRASIL, 2002), que definiu procedimentos acerca dos casos de requerimentos de indultos e respectivas reparagdes econdmicas, ‘A Lei 10.559 abarca como marco temporal o perfodo entre 18 de setembro de 1946 a5 de outubro de 1988, a fim de declarar como anistiaclos os cidadiios que foram vitimas do arbitrio do Estado via persegui¢do comprovadamente politico ideolégica com prejuizos diretos ou reflexos nas atividacles laborais. Iguakmente, por forga da Lei, institui uma Comissio de Anistia (CA), que exige para a construgao do requerimento que a vitima apresente as provas relativas as perseguicées exclusivamente politicas, assim como os prejulzos alegacios, para que possa declarar a condigao de anistiado solicitar, portanto, a reparacdo pecunidria prevista em lel, Essa legislagiio possibilita que a prépria CA busque nos drpdes competentes as informagées que entenda como necessarias, De acordo coma redagdo atualizada a partir de 20199: 3, Lel N° 10.559 fora crlada no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em 13 denovembro de 2002, no fmblto da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), que possula status cle mintstérlo, Em tempo, a atual redagio, dle acordo com a Lel N" 13,844, fol estabelecida no Ambito do Ministério da Mulher, da Familia e dos Direllos Humanos, que fol riadio em 2019 no governo de Jalr Bolsonaro, Jan/jun, 2020 Sillogés ~ v.3.n, Digitalizado com CamScanner Sillogés 158 2595-2820 ‘Art. 12. Fica criada, no mbito do Ministério da Mulher, da Familia e dos Direitos Humanos, a Comissao de Anistia, com a finalidade de examinar cos requerimentos referidos no art. 10 desta Lei e de assessorar 0 Ministro de Estado em suas decis6es (~] §3° Para os fins desta Lei, a Comisséo de Anistia podera realizar diligencias, requerer informacdes e documentos, ouvir testemunhas € emitir pareceres técnicos com o objetivo de instruir 05 processos € Fequerimentos, bem como arbitrar, com base nas provas obtidas, 0 valor das indenizacées previstas nos arts. 4° e 5* nos casos que nao for possivel identificar o tempo exato de punico do interessado“ Quanto as violagdes de Estado produzidas no espaco urbano, sobretudo os vinculados a cargos eletivos, funcionalismo publico e empresas estatais, hd uma série de documentos disponiveis no ambito das Secretarias de Seguranca Publica estaduais, ‘Arquivo Ptblico Nacional, bem como na Agéncia Brasileira de Inteligéncia (ABIN), em virtude de ser tributéria do espélio documental do Servico Nacional de Informacdes (SNI). Realgamos ainda a existéncia de um conjunto documental disponivel nos tribunais e demais érgios governamentais, via certidées, declaracdes e cépias dos documentos de registro da época dos fatos. Porém, referente 20 Ambito rural, hd uma imensa lacuna em face da invisibilidade dos crimes e da violéncia perpetrada pelo Estado. Talvez, uma das justificativas dessa obscuridade, além da distancia geogréfica que prejudica 0 acesso fisico e as informacées, também hé o fato das vitimas e os familiares ndo possuirem as vias legais para a efetivacdo dos meios para as deniincias, ocasionando que as reparagGes fiquem paralisadas ad infinitum. Igualmente, pesa muito fortemente, o medo que ainda paira sobe os moradores onde houve conflitos rurais e, especialmente, a falta de instncias organizadas da sociedade civil que os ampare, visto que ainda residem em reas remotas e desprovidas da presenca minima do Estado. *Grifamos no excerto a palavra escolhida pelo legislador “poders prépria CA possui a inicativa de buscar informages para a complementaggo dos requerimentos de anistia,no entanto, no estabelece ou orienta as situacGes passiveis dessa acao. Fica, portanto, a total critério e entendimento da CA 2 identificago da motivacZo para a busca de quaisquer documentos, lusive aqueles que somente ela pode solicitare obter respostas mais Sgeis.Em suma, o préprio Poder Executivo, que cometeu atos de excec3o no passado, tornar-se, no presente, ainsttuicéo incumbida de gir paraa solugso dos requerimentos que pedem oreconhecimento desses atos arbitrérios. Sillogés - v.3. n1.janfjun. 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés 19511 2595-4220 Ic exposto, nosso objeto se detémn nos camponeses que foram vitimas da stado durante o transcurso da Guerrilha do Araguaia (1972-1975), violéncia do E: conflito armado ocorrido entre os militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ¢ te do Pard, Portantto, ¢ Estado de as forcas armadas, no Norte do atual estado do Tocantins ¢ Sudoes em vista dla excepcionalidade do confito ter ocorride durante um perfodo excegio, torna-se, consequentemente, um fator extremamente complicado para as vitimas camponesas encontrarem provas disponiveis pelas vias pUblicas, a fim de construgiio ¢ encaminhamento dos requerimentos junto a Comissao de Anistia. A partir deste enunciado, 0 presente artigo possui coro objetivo principal examinar a tentativa de construgao de provas para fins da declaracéo da anistia ¢ reparacdo pecunidria as vitimas camponesas durante a Guerrilha do Araguaia. Ou sea, © trabalho 6 focado especificamente nesse grupo, justamente pelo fato das iniimeras dificuldades que esses camponeses possuem para conseguirem o requerimento juridico € entrarem com aco junto ao Estado, a fim de pleitear a sua condicao de anistiado politico e reparagdes decorrentes. Para efetivar o objetivo proposto, buscaremos refinar o artigo em duas etapas, }) num primeiro momento, propomos uma mirada no que foi o evento da quais sejai Guerrilha do Araguaia, mais detidamente acerca das acdes militares ¢ 2 violéncia idade perpetrada; e, 2) num segundo momento, abordaremos acerca da invisi camponesa na luta pelas reparacdes e a paralisia institucional do Estado no sentido de prestar informacées que subsidiam as ages, mesmo com tada a bibliografia produzide, acervo documental e oitivas encaminhadas para a Comissao de Anistia. Para efeitos metodolégicos tratar-se-4 de um trabalho qualitativo que visa uma revisdo bibliografica e reconstitui¢ao histérica dos fatos ocorridos. Quanto 20 material bibliografico foram utilizada uma literatura que versa sobre o tema, inclusive, o Relatério Final da Comisso Nacional da Verdade. Ainda, torna-se pertinente informar que foram empreendidas pesquisas® na regiao do Araguaia, especialmente entre os 5A Primeira Fase de contato com a regio do Araguaia aconteceu no ano de 2004, em Xambios-TO, casio em que foram ouvidos cerca de 40 camponeses e foram iniciados os trabalhos de ‘acompanhamento juridicos com os pedidos da declarac3o da condi¢io de anistiados politicos para Sillogés - v3. n.1.jan/jun.2020- Digitalizado com CamScanner Sillogés ISSN 2595-4830 anos de 2014 a 2020, respectivamente nos municipios de Marab3, So Domingos do ‘Araguaia, Palestina do Pars, $40 Geraldo do Araguaia, assim como no Tocantins, no municipio de XambioS e seu entorno, com vista a produzir entrevistas com os camponeses que foram afetados pelas Forgas Armadas e solicitam, no presente ias legais de Anistia inclusas nas Leis. momento, as providén ‘A Guerrilha do Araguaia: 0 saldo deletério das ages militares A regidio do Araguaia, no Norte do atual estado do Tocantins e no Sul do Paré, fora escolhida pela dirego do PCdoB para ser o palco da luta estratégica contra a ditadura civil-militar. Era um local de complicado acesso, no meio da Floresta Amaz6nica, 0 que tornava ainda mals dificil para os militantes serem descobertos. Ainda, era um lugar composto por um movimento continuo de trabalhadores rurais, zona de grilagem de terra e conflitos agrarios; com um grande atraso, tanto econémico quanto cultural em relagdo aos grandes centros urbanos, além de contar com riquezas naturais oriundas do extrativismo, fauna e flora, rios navegaveis e grande fonte de minério. Ou seja, seria o lécus ideal para fomentar um conflito e buscar uma insurrei¢ao armada (PORTELA, 1980). A partir do ano de 1967 comegaram a chegar na regio do Araguaia os primeiros militantes do PC do B, 0 que sucedeu até o ano de 1972. De acordo com relatério da Camponeses atingidas pela nominada Guerriha do Araguaia, a partir de um trabalho inicial como representagaojuridica desse grupo. ‘A partir de 2014 se inicia uma Segunda Fase, em conjunto com as associagées, mantendo um trabalho juridico em parceria com a Associago dos Torturados pela Guerrilha do Araguaia (ATGA) ea Associacao dos ex-combatentes da Guerrlha do Araguaia, parceria essa que perdurou até inicio do ano de 2016, No entanto, independentemente, as atividades de pesquisa tiveram prosseguimento até os dias atuai ocorrendo as visitas em diversos locais com a promogao das citivas diretas. Cronologicamente, entre 0s ‘anos de 2016 a 2018, foi estabelecido um aprofundamento das pesquisas de campo ¢ depoimentos colhidos, ocorrendo o Seguinte percurso e acompanhamento juridico com vistas aos encamninhamentos fegais & CA: total de aproximadamente 700 depoimentos divididos em a) 500 produzidos com vistas a acompanhamento juridico (Camponeses © ex combatentes na Guerrilha do. Araguaia e, b) 200 produzidos em conjunto, voluntariamente, com a Comissao Estadual da Verdade do Pars Posteriormente, entre os anos de 2018 e 2020, foram ouvidas numa Terceira Fase, sem vinculo institucional, aproximademente, mais 300 camponeses cujas as citivas foram formatadas como Escrituras Poblicas Declaratorias. Assim, o total geral de citivas ¢ em torno de 1000 pessoas que depuseram. Nessa tltima fase foram produzidas Escrituras Publicas Declaratérias registradas no cartério municipal, sendo que nesse bloco ha itivas de mais 200 camponeses atingidos também pela Batalha dos Perdidos/PA. Sillogés - v3. n.1.jan jun. 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés ISSN 2595-4830 Comissao Nacional da Verdade (CNV) houve um numero de militantes entre 67 a 73 individuos, divididos em grupos e baseados em 3 destacamentos com localidades diferentes, dentro dessa macro regio. Mediante instrugao partidéria, objetivo primeiro era o de se integrarem aos costumes e povo local, sem dizerem qual a razdo da sua presenca, ou seja, seriam apenas migrantes como tantos outros, apesar das diversidades da tipologia fisica, fato este que chamava a atengao dos moradores locais. Objetivavam, como estratégia final, 0 envolvimento da populac3o local para a construgio de uma sublevacao rural com bases comunistas, a fim de confrontar 0 governo ditatorial do perfodo a partir de um conflito armado no campo, de acordo com as diretrizes politicas maoistas do PCdoB naquele periodo. © Partido Comunista do Brasil (PC do B), desenvolveu téticas especificas ) manteve militantes em construcao da luta armada: 1) Afastou-se das acées urbana: acées de pequena expressdo para que continuasse a ser visto, no entanto; e, 3) dispendeu todos os esforcos partidarios para a constru¢o de atividade armada no interior do Estado. (© PC doB péde, em suma, concentrar recursos humanos e materiais na estruturagao de sua base guerrilheira, no que resolveu extraordinaria capacidade organizativa. A partir de 1967, fixou-se & margem esquerda do Rio Araguaia, no Sul do Pard, um grupo de militantes com treinamento na China: [..]. Paulatinamente, sobretudo a partir de 1970, chegaram outros militantes eo total atingiu 69, dispersos ao longo de um arco estendido de Xambiod até Marabé” (GORENDER, 1988, p. 263). Em virtude dos modos diferenciados dos militantes comunistas, construfam um discreto, mas efetivo, proselitismo social com vista a construir uma real base de apoio. Nesse percurso, os militantes comunistas foram cobrindo espacos onde faltavam o trabalho efetivo do Estado, por exemplo, com educagao, satide e outros servicos. Justamente por esse empenho, foram considerados de excepcional valia para a carente populago local, sendo rapidamente incorporados e bem vistos pela comunidade camponesa. Sillogés - v3. n.4.jan/jun. 2020 - Digitalizado com CamScanner Sillogés decorréncia dos conflitos Formoso, no estado de Golds. Havia, portanto, a manuter informacées, mantendo esforcos 2 fim de capturar estivessem dispersos, assim como identificer, sisternati subversao no ambito rural que porventura eclodisse. Essa rede de monitoramento nacional torna-se bem mai Golpe de 1964, com o fomento dos centros integredos ‘Armadas e, a partir dessas 2cdes combinadas, no inicio dos anos 70 comer: chegar na regiéo do Bico do Papagaio (TO) agentes do Estado, justamente, em v de rumores da continuidade de foco armado e da possibilidade de instalacso de érezs estratégicas rurais, fomentadas pelas organizagbes guerrilheiras urbanzs, informacGes que sempre eram extraidas Sob torturas (CHACEL, 2042). Nos anos de 1970 e 1971, as Forces Armadas estiveram em varios muni Maranhao € no Norte do antigo estado de Goiés, mais precisemente no Bico do Papagaio, numa primeira aco denominada de Operac3o Mesopotamia (IDEM. 2042). Mais adiante, em abril de 1972, chegaram, mediante investigacdo, nas regides onde estavam instalados os militantes do PC do B, como Porto Franco no Marenhao. Xambiod no antigo estado de Golds e alguns povoades ribeirinhos no Sudeste do Para. Essa aco investigativa militar se mostrou com sucesso e possibilitou o reconhecimer da érea averiguada, podendo, assim, Constatar a existéncia da prepara¢oe da tentative de implementacao de Guerritha no Norte do Brasil pelo PCdoB. Realcamos, contudo, jos do ito que as ages repressivas do gaverno tiveram inicio antes que o objetivo dos militantes pudesse ser colocado em prética, visto que descobriram os comunistas ainda no inicio das preparacées e da formaco politica 3 luta, ainda embrionéria, junto a comunidade focal, ou seja, ainda sem um vigoroso treinamento militar tanto dos militantes quanto dos camponeses. Retomando acerca das agdes militares, destacamos que entre os anos de 1971.3 1974 ocorreram constantes manobras militares © operacdes das forcas armadas em toda a regio, visando o desbaratamento de focos rurais e 0 aniquilamento da illogés - v3.1 janfjun. 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés ISSN 2595-4830 Guerrilha, sendo que no ano de 1975 houve a operacio final, denominada “Opera¢ao Limpeza". Mesmo as for¢as militares considerando 0 ano de 1975 como o encerramento formal da Guerrilha do Araguaia, as Forgas Armadas permaneceram no local de forma ininterrupta, uma vez que os agentes dos servigos de seguranca nacional e militares possuiam um objetivo claro: 1) monitorar a regio e noticiar qualquer indicio de mobilizagao para uma possivel nova insurrei¢ao, assim como, 2) a manutencdo de um trabalho continuo para impor medo na populacao local, mediante coacao sistematica das forcas de seguranca na regio a fim de nao divulgarem os crimes cometidos e -_ tampouco revelarem 0 local de sepultamento dos corpos dos guerrilheiros comunistas que tornaram-se desaparécidos politicos (REINA, 2019). A permanéncia direta ou indireta durou até meados dos anos 2000, de forma ostensiva. Reiteradamente havia adverténcias cobrando dos camponeses o siléncio, especialmente, para aqueles que foram acuados a participarem de forma direta em varias operagées militares na mata, por exemplo, na condicao de guias ou mateiros, situacao de trabalho forcado que colocam os préprios camponeses na linha de frente durante 0 processo de conflito. No intuito de sintetizar as informagées e campanhas militares sobre os fatos enunciados, abaixo segue uma sintese com os principais acontecimentos e as respectivas datas. Quadro 4 - Construco do Batalhio de Infantaria de Selva em Maraba/PA. Classificagao de Marabé como Area de Seguranca Nacional Operacdo Carajés itese das aces mi Descoberta dos primeiros indicios dos miltantes do PCdoB na regio. Operacéo Mesopotamia Descoberta efetiva dos guerrilheiros na regiéo do Araguaia Operacio de informagées e primeira campanha Operacéo Papagaio Operacao Sucuri Operacao Marajoara Sillogés - .3.n.1.janJ/jun, 2020 - Digitalizado com CamScanner Sillogés ISSN 2595-4830 LITSINN] Operacio Limpeza 7) Guerrados Perdis ou Segunda Guerra ou Guorra que Vein Depots Lei de anistia 6.689, de 28 de agosto >) Marabi/PA deixa de ser Area de Seguranga NacTonal. nareglio. MPF encontra base de informagées do exércit ‘Monitoramento e ameagas constantes de agentes do governo sobre camponeses. Fonte: Elaboragae do autor a partir de FIGUEIREDO (2005), CAMPOS FILHO (2012), GORENDER, (2014), MORAIS SILVA, (2005) e Relatério Final da Comiss0 Nacional da Verdadle (2014) Torna-se importante registrar, que a populacdo campesina era composta por migrantes de varios estados do Brasil, especialmente oriundos do Nordeste. Dessa forma, os camponeses estavam na regido com o singelo objetivo de erguerem suas ‘casas, trabalharem seu sustento e na lida didria pela sobrevivéncia, num local totalmente inéspito, onde nao havia estradas, energia elétrica e os caminhos eram abertos na mata junto aos leitos dos rios. Em sintese, até a eclosdo da Guerrilha, as preocupacdes campesinas se restringiam ao sustento da sua familia, suas rocas e 0 trato com os animais domésticos, sendo que os maiores inimigos eram as doencas que nao conseguiam tratar, justamente em face da auséncia do Estado nas necessidades mais basicas na saide da populagao. ‘A chegada dos militantes do PC do B, de forma repentina, quebra um pouco essa légica e chama a atenco imediata dos moradores, exatamente em virtude do biotipo diferenciado, da forma de falar, do modo de tratar a populacao local e, sobretudo, dos servicos que prestavam para aos camponeses*: ganham de imediato a simpatia dos moradores locais. Torna-se pertinente enfatizar que os camponeses nunca tiveram conhecimento da real motivacdo desse grupo naquela regiéo, haja visto que se silenciavam ante suas respostas quanto aos objetivos puramente campesinos, Muitos dos militantes do PC do B tinham formago médica, como foi o caso do conhecido ¢ admirado, pela populacdo, Dr. Jodo Carlos Haas Sobrinho, assim como a enfermeira Luiza Garlippe. Mediante entrevista, registra-se pelos moradores que fizeram inimeros partos na regio, distribuiram medicamentos para malaria, febre, vermes, bem como prestaram orientagées quanto a satide e estavam sempre presentes quando sclicitados, dispondo de ajuda para trato dos casos de doengas tropicais. Sillogés ~ v.3.n.1.jan/jun. 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés Issn 2595.48 io da Guerrilha na igualmente, calavam sobre os objetivos e da tentativa de implant regio do Araguaia, ‘0s camponeses somente tomaram conhecimento do verdadeiro objetivo ‘am os primeiros militares, ainda assim, contudo, no compreendiasn exatamente qual era o crime por eles praticado, assim como o porqué de se tornavarn perseguidos, presos, torturados ¢, finalmente, mortos. Na obra de Rornualdo Pessoa Campos Filho, Guerrilha do Araguaia: A esquerda em armas (2012, p. 128), esse dado & exposto com muita precisao: De qualquer forma, esse trabalho mal iniciado foi interrompido com o comeco da Guerrilha, em abril de 1972. As massas camponesas, em decorréncia disso, com poucas excecées, ficaram inseridas num movimento: de grandes proporgées politicas e militares, sem ter nogdo, até aquele momento preciso, do que estava acontecendo. Desconheciam, portanto, qualquer motivo que justificasse a presenga de um numero tao grande de soldados na regido. Sequer podiam entender porque eram chamados de terroristas e subversivos pessoas que mereciam deles alta considera¢ao. Os camponeses desconheciam o significado ou a existéncia das palavras como terrorista, comunista, democracia, ditadura do proletariado ou mesmo ditadura civil- militar, igualmente qualquer outro termo que enfocasse 0 ethos dos militantes do PCdoB. Conforme evidenciado, viviam da terra em sustento préprio da suas familias e estavam inseridos numa localidade onde o Estado era ausente das suas necessidades basicas, portanto, nao tinham acesso minimo & informacao sobre o que acontecia no pats e demais graméticas da esquerda, afim de poderem compreender minimamente do que se tratava a investida da operagao militar em curso na regio. Como exemplo da falta de compreensao e da precariedade vivida naquele lugar, é relevante destacar 0 fato que a maioria nao possuia nem certidao de nascimento, sendo que tiveram esse documento legal somente com a chegada, pela forca, do Estado naquele lécus, justamente pela necessidade imperiosa de identificar os moradores, em virtude do que 0 espaco todo se transformou numa violenta zona de conflito. Nesse percurso, a partir chegada das Forgas Armadas, os militantes do PC do B tiveram que buscar reflgio dentro da mata fechada, com vistas a sua sobrevivéncia e Sillogés - v3. n. jan /jun, 2020 - Digitalizado com CamScanner Sil logés ISSN 2595-4830 para fugit da exaltagio inplacivel da corporagio rnilitar, una vez que foram sentenclados a morte pelo alto escalagio das forgas armadas: nada deveria + vio deverla existir, consequentemente, todos veiculado pela finprensa © a Guerritha doveriam ser execttatlos, morlos © tornar-se-iam desaparecidos politicos (REINA, 2019). As ages militares empreendidas, Igualmente visavam perseguir, prender & cusago, ou mesmo suspeita, de que porventura lorturar os camponeses sob a compartilhavam dos mesmos ideais, pois os militares suspeitavam que moradores davamn apoio as agées subversivas dos comunistas, fato que possuia um fundo minimo de verdade, Somente apés primeiras incursées as Forgas Armadas entenderam que a conhecia realmente os objetivos politicos, entretanto, mesmo populagiio local assim, niio abrandaram a violéncia e os atos de lesa-humanidade como as torturas praticadas na populagéo local. As constantes torturas se generalizaram e esse instrumento foi utiizado sistematicamente como arma de guerra, sobretudo com 0 intuito de cortar qualquer ligagdo com a Guerrilha. Tais agées ficam claramente exemplificadas, quando identificamos, via pesquisa realizada na regiéo do Araguaia e com os depoimentos colhidos dos camponeses durante as oitivas, que estes eram retirados de suas terras, tendo suas casas € plantacdes destrufdas, exatamente para que os guerriheiros nao tivessem abrigo ou alimentos ao longo dos conflitos que perdurariam por anos. Em muitos casos, dependendo do objetivo e do local da manobra militar, o camponeses eram mantidos presos dentro de suas residéncias - impedidos de safrem para colher alimentos, cacar, pescar e plantar, pois permaneciam como reféns, melhor dito, como iscas em face que sua rea de terra estar cheia de militares - aguardando a chegada dos militantes comunistas a fim de efetivarem os confrontos armados. Essa situagao de opressao se generalizava para toda familia, uma vez que muitas esposas eram expulsas das suas terras juntamente com os seus maridos presos, que jd tinham sido cooptados como mateiros no trabalho forcado na mata. Com 0 objetivo de acompanhar os conjuges, carregavam consigo os seus filhos para as Bases Militares ou locais que as margeavam, onde jé se encontravam seus esposos mantidos presos ¢ a Sillogés ~ v3.1. janjun, 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés ISSN 2595-4830 Assim, explicitam que para poderem ficar no mesmo disposigio das manobras militar n nada receber. local erarn obrigadas a trabalhar na cozinha, na limpeza, contudo, Ainda, mediante depoimentos, salientam que a firn de manter urn ininimo para poderem sobreviver ¢ permanecerem com suas familias, muito camponeses convocados levantavam barracas cobertas de palha, junto as bases militares durante 0 servico forcado. . Em virtude das duras ages militares ¢ da opressio, a populagao local continuava a ter os militantes do PC do B como um povo muito educado ¢ prestativo, diferentemente dos militares. Desta forma, nao entendiam por que havia a nominagéo dos militantes como terroristas, uma vez que quem estava promovendo a opressao era a prépria corporagao armada. Conforme entrevistas, muitos afirmavam que, realmente, ‘quem propagava o terror era 0 exército, portanto, eles é quem eram e deveriam ser denominados como terroristas. De acordo Krsticevic e Affonso (2011, p. 361). ‘A maioria das operagées promoveu intimidagéo e agressio aos camponeses moradores da regio. Toda a popula¢ao, envolvida ou nao com os militantes, que vivia no entorno de onde se encontravam os destacamentos da guerrilha, sofreu agées violentas, massivas e ilegais perpctradas pelos militares. A primeira operacao que envolveu um ndmero considerdvel de agentes militares prendeu todos os homens maiores de idade das comunidades da regio, aproximadamente 400 camponeses, submetendo-os a torturas, maus tratos e tratamentos cruéis © degradantes. Ficaram por meses coletivamente detidos, sofrendo castigos coletivos intimidatérios ¢ humilhantes que antecediam os interrogatérios individuais. Todos eram suspeitos de colaborar com os militantes do PC do B e, eram tratados como inimigos rendidos, Embora haja farta documentacao bibliogréfica sobre tema, evidenciado acerca dos prejuizos causados aos camponeses em face da aco militar desmedida, o sistema de julgamentos administrative, via Comisséo de Anistia, instalado no presente momento no Ministério da Familia, Mulher e Direitos Humanos, exige, contudo, que sejam apresentadas provas individuais e especificas sobre a perda das plantagGes, das casas queimadas, da prisio domiciliar, entre tantos outros sinistros gravosos ocorridos na regio. Sillogés - v3.n.1.jan,/jun. 2020 Digitalizado com CamScanner ISSN 2595-4830 Sillogés Nesse percurso, 0 executive nacional cobra dados e documentos probatérios, os quais foram produzidos de maneira criminosa pela mesin: fatos durante os anos 1970. Portanto, inacessivels para as vitimas que ora argument: \¢3es pecunidrias. Esse mecanismo legal torna, por a instituigiio na ocasiae dos arn solicitando anistias ¢ repara conseguinte, extremamente deficitaria a efetivacdo dos tramites de recursos junto a5 varias modalidades e das instancias legais, assim como o efetivo requerimento as ~ndenizacdes dos camponesés no ambito da Comissao de Anistia. Dislogo entreas vitimas, fontes e pesquisas: rastros de memérias e dores impagaveis Conforme evidenciado pela literatura discorrida, torna-se possivel um didlogo muito forte dos dados coletados com os crimes causados pela corpora¢ao militar no advento da Guerrilha do Araguaia, Evidenciando essas conexées a partir das fontes bibliogréficas e da pesquisa de campo, igualmente com as entrevistas dos camponeses atingidos, buscamos, portanto, a compreensao de como pode ser possivel a construgs0 das provas, dentro do que o ordenamento legal considera como elemento probatério para encaminhamento das agées de Anistia. Nesse sentido, mesmo com o silenciamento dos fatos e dos crimes ocorridos pelo Estado, dialogamos a partir das diversas leituras que dizem respeito a possibilidade de geracdo de provas, ou seja, justamente em face da debilidade e da far, melhor dito, da no materialidade das provas ocultadas pela corpora¢ao jais, Assim, ancoramos nosso estudo revelacdo dos arquivos ¢ dos testemunhos of para a anilise dos requerimentos de anistia e reparagées junto a Comissao de Anistia, além dos testemunhos dos camponeses também na ampla bibliografia utilizada que serve como fonte, tanto pelo aporte produzido pela academia quanto pela Comissio Nacional da Verdade. Nesse sentido, para a construcao e anélise desse artigo, devemos evidenciar 0 forte peso do testerunho e da orelidade elaborada pelos camponeses sobre os fatos ocorridos, depoimentos que necessitam, via de regra, de um interlocutor letrado & egresso do mundo académico, a fim de fazer a captura dos testemunhos e dos dramas Sillogés - v3. n.1.jan/jun, 2020 Digitalizado com CamScanner Sillogés issn 3595-40 ys dentinchas vividos durante o percurso da Guerrilha do Araguaia, assim como efetivar de coagées que se mantém ininterruptamente ao longo dos anos. Ainda, dentro desse processo extremamente sensivel de construir narratives, chama especial atengao as dificuldades na reconstrugao da memoria ¢ da verdade, em virtude das indimeras lacunas nas lembrangas dos personagens advindos dos traumas, m mais gravosamente com os dramas sobretudo dos siléncios forgados que se impé vividos (POLLACK, 1989). Nesse sentido, a memér conjunto das lembrancas dos fatos, muitas vezes, como reflexo das marcas e das atual do vivido se constitul do cicatrizes que persistem. Justamente por isso nos ancoramos em HALBWACHS (2006) para a anilise, em que o autor denomina como meméria coletiva: [..] para que a nossa meméria se aproveite da meméria dos outros, nio- basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela ndo tenha deixado de concordar com as memérias deles © que existam muitos pontos de contato cntre uma e outras para que a Tembranga que nos fazem recordar venha a ser constitulda sobre uma base comum (HALBWACHS, 2006, p. 39). Além das entrevistas individuais, também, aportamos em inimeras obras que se debrucaram sobre os crimes cometidos na regio, tanto contra os guerrilheiros do PCdoB quanto contra os moradores da regido, dando, portanto, aval para a fundamentagdo das dentincias proferidas pelos camponeses junto as diversas instancias legais, visando requerimento para a Anistia, constituicdo de provas e presungio da veracidade dos fatos narrados. Nesse aporte, podemos destacar que algumas obras se dedicaram a trabalhar nas memérias dos préprios militares que realizaram as campanhas na regido, por exemplo, a obra de Luiz Maklouf Carvalho, 0 Coronel rompe o siléncio (2004), livro em que o autor entrevistou general Licio Augusto Ribeiro, agente militar que atuou diretamente dentro da Guerrilha do Araguaia e cuja entrevista resultou no livro. Ou seja, em virtude de ser portador de legitimidade sobre o tema, bem como pelo fato de ter estado no local como representante das forcas governamentais, torna- se figura de destaque na operaco militar e endossa, através da sua prépria entrevista, jun, 2020 - Sillogés - v.3. nA. jan Digitalizado com CamScanner ISSN 2595-4830 Sillogés osc armadas. Nessa obra, 0 general Licio, que usava 0 mes alribuldos as forg codinome Dr. Asdriibal, fora questionado pelo autor sobre as provas documentais relativas ao evento: dificil acredlitar que toda essa documentagio tenha sido destruida? = Mas eu the afirmo que infelizmente ela foi destruida. Nés ndo ternos nada esconder, entio nio podiamos incinerar esses documentos. O Orlando Geiscl jamais teria mandado incinerar esses documentos. Porque mio estarla dando esse trabalho todo. Estaria tudo Ia."A equipe do Dr. Asdribal foi com fulano de tal,” Estaria tudo documentado. = Hmilitares que tm documentacao, como se prova pelo material que tem chegado aimprensa? = Nao tem, Depois que eu sai do Exército, fui chamado por um companheiro meu, que lutou comigo ¢ foi da minha equipe, oficial de cavalaria, bigodudo, muito bom, Ele me disse: “Licio, nds vamos recompor toda a documentagio de Xambiod. E vocé tem que cooperar’. Eu disse: "Vocé td brincand = Recompor em que sentido: = Recompor a operagao antiguerrilha de Xambio8. Eu falo sobre o que eu sei, 0 outro fala na base do “Consta que ..”. Nao seria mais um documento oficial. A documentacao mesma foi destruida por ordem do general Bandeira, que ficou com alguma coisa. Depois a fitha dele passou isso para O Globo (CARVALHO, 2004, p. 201) Confrontando estas afirmativas contraditérias do préprio militar com a versdo oficial, nado obstante o Relatério Final da Comissao Nacional da Verdade enfatiza que as provas produzidas pelas Forcas Armadas foram incineradas em cumprimento de normas administrativas, as quais determinam a destruigo de todo acervo interno a cada 5 anos. Consideramos, entretanto, pouco crivel, justamente em face da grande mobilizagdo militar, das intimeras operacées investidas, da dimensao e do propésito da ago em si, assim como em razdo do grande contingente humano utilizado e do envolvimento de batalhées militares de varios estados da federacao. Portanto, essa versio oficial nao se materializa como verossimil, sobretudo quando confrontado com testemunho dos préprios militares que aludem possuirem arquivos particulares. Endossando a tese da possiblidade do nao compartilhamento da: iformagées de forma intencional, Figueiredo (2005) inclusive afirma a existéncia de grande sofisticagdo nas Sillogés - v3. n.1.jan/jun, 2020 Digitalizado com CamScanner

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