Você está na página 1de 3

O RESGATE DA MEMÓRIA DOS CAMPONESES PERSEGUIDOS E

TORTURADOS NA BATALHA DOS PERDIDOS

GOMES, Irene1
SOARES, Paulo Sérgio Gomes2

RESUMO: Cerca de 250 camponeses remanescentes da Batalha dos Perdidos querem que o Esta
do brasileiro os reconheça como anistiados políticos, bem como repare-os pelos danos
econômicos suportados, conforme dispõe a Constituição Federal e a lei 10.559/02. O objetivo
desse trabalho é apresentar os resultados de uma pesquisa realizada com oito remanescentes
dessa batalha a fim de revelar aspectos ainda pouco conhecidos dessa história, a partir da voz dos
que a vivenciaram, como forma de preservar a memória.
PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos; Prestação Jurisdicional; Batalha dos Perdidos;
Memória.

ABSTRACTO: Unos 250 campesinos que quedan de la Batalla de los Perdidos quieren que el
Estado brasileño los reconozca como amnistía política, así como los repara por el daño
económico sufrido, según lo dispuesto en la Constitución Federal y la ley 10.559 / 02. El
objetivo de este trabajo es presentar los resultados de una investigación realizada con ocho
vestigios de esta batalla con el fin de revelar aspectos de esta historia que aún son poco
conocidos, desde la voz de quienes la vivieron, como una forma de preservar la memoria.
PALABRAS CLAVE: Derechos Humanos; Adjudicación; Batalla de los perdidos; Memoria.

Introdução

A Batalha dos Perdidos, que muitos denominam Revolta do Perdidos e a mencionam


como uma “Segunda Guerrilha do Araguaia”, ocorreu entre os anos de 1976 e 1977,
caracterizando-se como um conflito sobre terras entre camponeses, grileiros e militares, que se
revelou uma injustiça contra os camponeses que apenas reivindicavam terras para trabalhar, num
movimento confundido com um recomeço da Guerrilha do Araguaia. Foi fortemente reprimido
pelos militares e ocasionou a fuga de centenas de camponeses para a mata e o abandono da terra
por outros. Os militares, atendendo ao cumprimento da Lei de Segurança Nacional, apoiados por
grileiros, perseguiram os camponeses e muitos foram presos e torturados, numa história que
envolve, ainda hoje, muitos aspectos desconhecidos. Para os camponeses, esse episódio
representou o drama da perseguição, tortura e expulsão das terras que reivindicavam para plantar
e sobreviver, sem envolver nenhuma justificativa ou significado político que os ligasse à
Guerrilha do Araguaia.

1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos,
da Universidade Federal do Tocantins (UFT) em parceria com a Escola Superior de Magistratura Tocantinense
(Esmat) E-mail: ireneanistia@gmail.com
2
Doutor em Educação. Professor no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Prestação Jurisdicional
e Direitos Humanos, da Universidade Federal do Tocantins (UFT) em parceria com a Escola Superior de
Magistratura Tocantinense (Esmat). Orientador. Bolsista Fapto. E-mail: psoares@uft.edu.br
Objetivos

Reconstituir a história e preservar a memória, bem como identificar as violações dos


Direitos Humanos num grupo de oito camponeses que vivenciaram a Batalha dos Perdidos.

Metodologia

Há poucos registros publicados sobre a Batalha dos Perdidos e temos muito material
gravado, que permitiu dar sentido ao problema e compreender a injustiça cometida contra os
camponeses. A coleta de dados ocorreu por meio de oitivas com grupos de camponeses, no
formato de Escrituras Públicas Declaratórias, para representar as memórias diferentes e
convergentes dos fatos. A abundância de informações permitiu identificar a data em que
chegaram à região, a localidade para a qual se dirigiram, a composição familiar quando de suas
chegadas, o que tinham na terra quando ocorreram os conflitos, o entendimento do conflito em
que estavam envolvidos, os detalhes da fuga a da vida no mato, as perdas que tiveram e as
torturas que sofreram, além da luta para recuperar suas perdas.

Resultados

As oitivas desvelaram a situação dos camponeses, suas queixas e pesares, além de


esclarecer aspectos da história que representaram prejuízos incalculáveis para eles. A pesquisa
procurou resguardar a memória e preservar a consciência história contra os horrores da ditadura
militar (1964-1985), descrita por Morissawa (2001, p. 95) como “uma longa noite escura”.
Como resultado, ficou evidente a violação dos Direitos Humanos mediante a prática de
crimes de lesa humanidade. Os camponeses envolvidos na Guerrilha do Araguaia e na Batalha
dos Perdidos regitrm famílias que fugiram 1) abandonaram a terra em tempo de colheita; 2)
permaneceram na mata entre 7 a 30 dias em condições adversas enfrentando a fome; 3) perderam
a casa, tiveram as plantações queimadas, saqueadas e a morte ou soltura dos animais domésticos
criados para a subsistência; 4) não retornaram para a terra após o fim dos conflitos. Os
patriarcas da família: 1) fugiram para a mata, permanecendo entre 7 a 30 dias em condições
adversas enfrentando a fome; 2) foram presos e torturados; 3) foram obrigados a servir como
mateiro ou em trabalhos forçados. As matriarcas da família: 1) abandonaram a terra e
acamparam nas proximidades da Base Militar em que o patriarca estava preso; 2) presenciaram a
prisão de filhos adolescentes; 3) passaram fome devido ao abandono da terra; 4) permaneceram
na casa recebendo ameaças para entregarem o paradeiro dos fugitivos; 5) sofreram violências
físicas e psicológicas.
Conclusão

Com a pesquisa foi possível reconstituir a história e preservar a memória, bem como
identificar as violações dos Direitos Humanos por meio de oito grupos de camponeses que
vivenciaram a Batalha dos Perdidos, num contexto de aparente confusão com a Guerrilha do
Araguaia, que resultou em perseguição e tortura.

Bibliografia

BRASIL. Famílias de camponeses da Revolta dos Perdidos dão depoimento na Comissão de


Direitos Humanos e Minorias. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/familias-de-camponeses-da-revolta-
dos-perdidos-dao-depoimento-na-comissao-de-direitos-humanos-e-minorias

MORISSAWA, M. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001.

Você também pode gostar