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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

ALEX ITCZAK

ANÁLISE DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO DE PERDA TOTAL DE


EXCITAÇÃO EM GERADORES SÍNCRONOS SOB CONDIÇÃO DE PERDA
PARCIAL DE CAMPO

Alegrete
2016
2

ALEX ITCZAK

ANÁLISE DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO DE PERDA TOTAL DE


EXCITAÇÃO EM GERADORES SÍNCRONOS SOB CONDIÇÃO DE PERDA
PARCIAL DE CAMPO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Engenharia
Elétrica da Universidade Federal do
Pampa, como requisito parcial para
obtenção do Título de Bacharel em
Engenharia Elétrica.

Orientador: Dr. Eduardo Machado dos


Santos

Alegrete
2016
3

Ficha catalográfica elaborada automaticamente com os dados fornecidos


pelo(a) autor(a) através do Módulo de Biblioteca do
Sistema GURI (Gestão Unificada de Recursos Institucionais) .

I88a Itczak, Alex


ANÁLISE DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO DE PERDA TOTAL
DE EXCITAÇÃO EM GERADORES SÍNCRONOS SOB CONDIÇÃO DE
PERDA PARCIAL DE CAMPO / Alex Itczak.
66 p.

Trabalho de Conclusão de Curso(Graduação)--


Universidade Federal do Pampa, ENGENHARIA ELÉTRICA,
2016.
"Orientação: Eduardo Machado dos Santos".

1. Sistemas Elétricos de Potência. 2. Perda Parcial


de Excitação. 3. Oscilação Estável de Potência. 4.
Gerador Síncrono. 5. Extração de Envoltória. I. Título.
4
5

Dedico este trabalho a todos que não


mediram esforços para que eu chegasse
até aqui, em especial aos meus pais,
Avelino e Inês, ao meu irmão Alan e a
minha noiva Rita.
6

AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por ter me cercado de pessoas especiais.
Minha eterna gratidão aos meus pais, Avelino e Inês, ao meu irmão Alan, pelo amor,
pelas lições de vida, pelo carinho, incentivo e pela fé depositada em mim. Muito
obrigado por toda dedicação, apoio e paciência para que esse sonho se tornasse
realidade.
A minha noiva Rita, sempre compreensiva, paciente e preocupada, estando sempre
ao meu lado em todas as horas. Sem você não teria ido tão longe.
Aos meus sogros Elder e Maria Ceci, por todo apoio e incentivo recebido.
Ao meu orientador e amigo Dr. Eduardo Machado dos Santos, pela orientação e
pelos ensinamentos compartilhados durante o desenvolvimento deste trabalho.
Aos colegas e amigos que fizeram a diferença nesta trajetória.
Aos membros e ao Grupo de Energia e Sistemas Elétricos de Potência (GESEP).
A todos os professores do curso, que muito contribuíram para o meu crescimento
pessoal e profissional.
7

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre


ombros de gigantes”.
Isaac Newton
8

RESUMO

Um gerador síncrono é uma fonte de tensão com frequência constante que fornece
potência a uma carga. A tensão em seus terminais é controlada pelo sistema de
excitação o qual fornece corrente contínua, induzindo um campo magnético, no
enrolamento do gerador. Porém, sabe-se que problemas podem ocorrer devido à
subexcitação do gerador, tais como o afundamento de tensão nos terminais do
gerador e a perda na capacidade de geração de potência ativa, além de o gerador
passar a consumir potência reativa, o que provoca o , aquecimento da máquina. Por
isso, surge a necessidade de estudos voltados para o desenvolvimento
metodologias de proteção do gerador síncrono que eliminem situações indesejadas
como àquelas causadas pelas perdas parcial e total de excitação da máquina.
Nesse contexto, o presente trabalho apresenta os problemas causados pela perda
parcial e total de excitação em geradores síncronos, através da realização de
simulações de situações onde ocorrem perdas de excitação, usando o software
DigSilent®. Além disso, uma metodologia para a detecção das perdas parciais e
totais de excitação, capaz de diferenciar esses fenômenos de uma oscilação estável
de potência, foi desenvolvida com base na análise dos sinais gerados nas
simulações. Tal técnica, fundamenta-se na extração das envoltórias dos sinais de
corrente e tensão nos terminais do gerador, as quais apresentam características
específicas, tanto nos eventos de perda de excitação quanto nos de oscilação de
potência. A detecção dessas características permite a classificação do respectivo
evento. Assim, a técnica proposta se mostrou rápida, precisa e com bom
desempenho na detecção de oscilações estáveis de potência e perdas de excitação,
totais ou parciais, quando comparada às metodologias tradicionais aplicadas para a
detecção de perdas de campo.

Palavras-Chave: filtro morfológico, envoltória, perda parcial de excitação, oscilação


de potência, gerador síncrono.
9

ABSTRACT

A synchronous generator is a constant frequency voltage source that supplies power


to a load, whose voltage at its terminals is controlled by the excitation system that
provides DC current to the field winding of the generator, which produces a magnetic
field. However, it is known that problems can occur due to the generator's under-
excitation, such as voltage sags at the generator terminals and loss of active power
generation capacity, and the generator starts to consume reactive power. , Heating
the machine. Therefore, there is a need for studies aimed at developing synchronous
generator protection methodologies that eliminate undesired situations such as those
caused by partial and total machine excitation losses. In this context, the present
work presents the problems caused by partial and total loss of excitation in
synchronous generators, through simulations of situations where excitation losses
occur, using DigSilent® software. In addition, a methodology for the detection of
partial and total excitation losses, capable of differentiating these phenomena from a
stable power oscillation, was developed based on the analysis of the signals
generated in the simulations. This technique is based on the extraction of the current
and voltage signal envelopes at the generator terminals, which have specific
characteristics in both excitation loss and power oscillation events. The detection of
these characteristics allows the classification of the respective event. Thus, the
proposed technique was fast, accurate and with good performance in the detection of
stable oscillations of power and excitation losses, total or partial, when compared to
the traditional methodologies applied for the detection of field losses.

Keywords: morphological filter, envelope, partial loss of excitation, power oscillation,


synchronous generator.
10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Sistema Genérico de controle do gerador Síncrono ...................................... 23


Figura 2- Elementos de um sistema de excitação ........................................................... 24
Figura 3- Sistema de Excitação CC .................................................................................... 26
Figura 4- Sistema de Excitação com Diodo Estacionário não controlado .................... 26
Figura 5- Sistema de excitação rotativa, sem escovas ................................................... 27
Figura 6- Sistema de excitação estática. ........................................................................... 27
Figura 7- Sistema composto por um gerador operando de maneira isolada ............... 29
Figura 8- Comportamento da tensão e corrente de campo durante a perda parcial e
total de excitação ................................................................................................................... 29
Figura 9– Comportamento da frequência durante a perda parcial e total de excitação
.................................................................................................................................................. 29
Figura 10 – Comportamento da Tensão RMS gerada durante a perda parcial e total
de excitação ............................................................................................................................ 30
Figura 11– Comportamento da Corrente RMS gerada durante a perda parcial e total
de excitação ............................................................................................................................ 30
Figura 12– Comportamento das Potências Ativa e Reativa RMS, gerada durante a
perda parcial e total de excitação ....................................................................................... 31
Figura 13- Operadores Síncronos operando em Paralelo .............................................. 31
Figura 14- Frequência dos geradores 1 e 2 durante a perda de excitação ................. 32
Figura 15 - Comportamento da Potência Reativa nos geradores 1 e 2 durante a perda
parcial de excitação. .............................................................................................................. 32
Figura 16- Característica da impedância Aparente durante a perda parcial e total de
excitação ................................................................................................................................. 35
Figura 17– Característica da impedância durante a oscilação estável de potência .... 36
Figura 18 - Característica do relé MHO Proposto por Mason (1949) ........................... 37
Figura 19- Característica da Impedância Utilizando a Metodologia de Mason(1949) 37
Figura 20– Característica da Impedância Utilizando a Metodologia de Mason(1949) 38
Figura 21- Característica de operação do relé MHO proposto por Berdy (1975) ....... 39
Figura 22- Característica da Impedância utilizando a metodologia de Berdy ............. 39
Figura 23 - Detecção da perda parcial e total de excitação utilizando a metodologia
de Berdy. ................................................................................................................................. 40
11

Figura 24 - Sistema Teste ......................................................................................................... 41


Figura 25– Fluxograma do filtro para a extração das envoltórias dos sinais de
corrente e tensão ................................................................................................................... 45
Figura 26– Fluxograma de detecção e classificação da perda de excitação e
oscilação estável de potência .............................................................................................. 46
Figura 27– Sinal de corrente senoidal para uma perda total de excitação em um
gerador de 390 MVA. ............................................................................................................ 48
Figura 28– Sinal de tensão senoidal para uma perda total de excitação em um
gerador de 390 MVA. ............................................................................................................ 49
Figura 29 – Envoltórias de corrente superior e inferior para uma perda de excitação
em um gerador de 390 MVA. ............................................................................................... 49
Figura 30 – Envoltórias de tensão superior e inferior para uma perda de excitação
em um gerador de 390 MVA. ............................................................................................... 50
Figura 31 – Diferenças das envoltórias de corrente para uma perda de excitação, em
um gerador de 390 MVA. ..................................................................................................... 50
Figura 32 – Diferença das envoltórias de tensão para uma perda total de excitação
em um gerador de 390 MVA ................................................................................................ 51
Figura 33 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para
uma perda total de excitação em um gerador de 390 MVA. .......................................... 51
Figura 34- Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de tensão para uma
perda total de excitação em um gerador de 390 MVA. ................................................... 52
Figura 35– Detalhe do Sinal de Variação entre as Diferenças das Envoltórias do
Sinal de Corrente, durante perda de excitação total para um gerador de 390 MVA. . 52
Figura 36– Detalhe do Sinal de Variação entre as Diferenças das Envoltórias do
Sinal de Tensão, durante perda de excitação para um gerador de 390 MVA............. 53
Figura 37– Sinal de corrente senoidal para uma excitação de 0,5 p.u., em um
gerador de 390 MVA. ............................................................................................................ 54
Figura 38– Sinal de tensão senoidal para uma de excitação de 0,5 p.u., em um
gerador de 390 MVA. ............................................................................................................ 54
Figura 39– Envoltórias de corrente superior e inferior para uma excitação de 0,5 p.u.,
em um gerador de 390 MVA. ............................................................................................... 55
Figura 40 – Envoltórias de tensão superior e inferior para uma excitação de 0,5 p.u.,
em um gerador de 390 MVA. ............................................................................................... 55
12

Figura 41– Diferenças das envoltórias de corrente para uma excitação de 0,5 p.u.,
em um gerador de 390 MVA. ............................................................................................... 56
Figura 42– Diferenças das envoltórias de tensão para uma excitação de 0,5 p.u., em
um gerador de 390 MVA. ..................................................................................................... 56
Figura 43 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para
uma perda de excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA ............................... 57
Figura 44 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para
uma perda de excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA. .............................. 57
Figura 45 – Detalhe das Envoltórias de corrente para uma oscilação estável de
potência em um gerador de 390 MVA com carregamento de 100%. ........................... 61
Figura 46 – Detalhe das Envoltórias de tensão para uma oscilação estável de
potência em um gerador de 390 MVA com carregamento de 100%. ........................... 61
Figura 47– Detalhe do sinal de diferença entre as amostras das envoltórias do sinal
de corrente, durante uma oscilação estável de potência em um gerador de 390 MVA
com carregamento de 100%. ............................................................................................... 62
Figura 48– Detalhe do sinal de diferença entre as amostras das envoltórias do sinal
de tensão, durante uma oscilação estável de potência em um gerador de 390 MVA
com carregamento de 100%. ............................................................................................... 62
13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Comportamento da Resistência e Reatância no Diagrama R-X................. 33


Tabela 2 - Paramêtros dos geradores síncronos de 390 e 500 MVA ............................. 41
Tabela 3 - Parâmetros da linha de transmissão ............................................................... 42
Tabela 4 - Parâmetros do transformador ........................................................................... 42
Tabela 5 – Carregamento do Gerador ............................................................................... 42
Tabela 6– Instantes de detecção e classificação de PE para os gerador de 390
MVA. ........................................................................................................................................ 53
Tabela 7 – Instantes de detecção e classificação de PPE para o gerador de 390MVA
.................................................................................................................................................. 58
Tabela 8 – Instantes de detecção e confirmação de PE para os geradores de
390MVA e 500MVA ............................................................................................................... 59
Tabela 9– Instantes de detecção da PE para as metodologias de Mason, Berdy e
FMEE ....................................................................................................................................... 60
Tabela 10 – Instantes de detecção e classificação da OEP........................................... 63
Tabela 11- Instantes de detecção e classificação da OEP............................................. 64
14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

GS – gerador síncrono
TR – transformador de potência
LT – linha de transmissão
P – potência ativa
P* – potência ativa de referência
Q – potência reativa
Q* – potência reativa de referência
Z - impedância
Vc – tensão de controle
Vc* – tensão de controle de referência
R – resistência
X – reatância
X1 – reatância sequência positiva
X2 – reatância sequência negativa
X0 – reatância sequência zero
Xd – reatância de eixo direto
X’d – reatância transitória de eixo direto
X’’d – reatância subtransitória de eixo direto
Xq – reatância de eixo de quadratura
Z – impedância
Z1 – impedância sequência positiva
Z2 – impedância sequência negativa
Z0 – impedância sequência zero
S – potência aparente
FP – fator de potência
PE – perda de excitação
OEP – oscilação estável de potência
FMEE – filtro morfológico de extração de envoltória
TP – transformador de potencial
TC – transformador de corrente
CA – corrente alternada
CC – corrente contínua
15

Vfase-fase – tensão medida entre as fases, tensão de linha


T’d0 –constante de tempo transitória de eixo direto
T’’d0 – constante de tempo subtransitória de eixo direto
T’’q0 – constante de tempo subtransitória de eixo de quadratura
H – constante de Inércia
PS - parâmetro de saturação
PS– parâmetro de saturação
B - susceptância de sequência positiva
B2 - susceptância de sequência negativa
B0 - susceptância de sequência zero
N – amostras por ciclo
n – amostra
16

LISTA DE SÍMBOLOS

ωr – velocidade rotórica
ωr* – velocidade rotórica de refêrencia
∆dif – diferença entre amostras
17

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19
1.1 Estrutura do Trabalho ................................................................................ 21
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 22
2.1 Gerador Síncrono .......................................................................................... 22
2.2 Princípio de Funcionamento do Gerador Síncrono .................................... 22
2.3 Controle do Gerador Síncrono no Sistema de Potência ............................ 22
2.4 Sistema de Excitação .................................................................................... 23
2.5 Elementos de um sistema de excitação ...................................................... 24
2.6 Classificação dos Sistemas de Excitação ................................................... 25
2.7 Sistema de Excitação CC .............................................................................. 25
2.8 Sistema de excitação CA .............................................................................. 25
2.9 Sistemas de excitação estáticos .................................................................. 27
2.10 Causas da perda de Campo ........................................................................ 28
2.11 Efeitos da perda de excitação .................................................................... 28
2.12 Diagrama R-X ............................................................................................... 32
2.13 Proteções do Gerador ................................................................................. 33
2.14 Proteção Contra a Perda Parcial de Excitação ......................................... 34
2.15 Oscilações Estáveis de Potência ............................................................... 35
2.16 Metodologia de Mason (1949) ..................................................................... 36
2.17 Metodologia de Berdy (1975) ...................................................................... 38
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 41
3.1 Parâmetros das Simulações ......................................................................... 41
3.2 Defeitos e Faltas ............................................................................................ 42
3.3 Filtro Morfológico para Extração de Envoltórias para Detecção da Perda
Parcial e Total de Excitação Além da Oscilação Estável de Potência ............ 42
4. ANÁLSE DOS RESULTADOS ............................................................................. 48
4.1. Caso 1 – PE para um gerador de 390MVA operando com 100% de
carregamento ....................................................................................................... 48
18

4.3. Resumo da atuação dos métodos para os casos de Perda de Excitação


analisados ............................................................................................................ 58
4.4. Oscilação Estável de Potência .................................................................... 60
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66
19

1 INTRODUÇÃO

O gerador síncrono é considerado o componente mais importante do sistema


elétrico, fazendo-se necessário utilizar uma proteção eficaz para este equipamento.
O gerador síncrono é uma fonte de tensão com frequência constante que fornece
potência a uma carga, sendo sua tensão terminal controlada pelo sistema de
excitação, o qual fornece corrente contínua ao enrolamento de campo do gerador,
produzindo campo magnético.
O gerador está sujeito a diversas condições anormais de funcionamento, tais
como: sobreaquecimento, sobretensões, motorização, perda de excitação, etc.
Dentre essas condições anormais, destaca-se a perda de excitação, fenômeno para
o qual utiliza-se uma proteção específica (função ANSI 40), a qual detecta a
subexcitação da máquina e a desconecta da rede mantendo a estabilidade do
sistema elétrico de potência.
Uma vez que a criação do campo magnético girante ocorre a partir da
energização do rotor com corrente contínua, o qual induz tensão nas bobinas do
estator, quando em movimento, pela variação do fluxo magnético, a tensão nos
terminais do gerador depende da intensidade da tensão na fonte de corrente
contínua.
Nesse contexto, durante a perda do sistema de excitação, há um súbito
aumento de velocidade do rotor do gerador, ocasionando um enfraquecimento no
acoplamento magnético entre o campo do rotor e do estator. Dessa maneira, o
gerador que operava de maneira síncrona começa a operar de maneira assíncrona,
recebendo correntes reativas do sistema, causando sobreaquecimento nas partes
fixas e móveis da máquina, além de causar um afundamento súbito de tensão na
barra da subestação.
Em relação ao desempenho da proteção do sistema, é comum ocorrerem
vários desligamentos impróprios de unidades geradoras se não existir um controle
da perda total ou parcial de excitação. Ressalta-se que, para um bom funcionamento
do relé de proteção contra perda de excitação (função ANSI 40), é necessário
realizar a coordenação entre a proteção e o ajuste do limite da subexcitação da
máquina. Segundo Coelho (2014), o ajuste típico da proteção contra perda de
excitação (função ANSI 40) sugere que se aplique a proteção contra a perda total de
excitação, sendo que a proteção do ajuste para a perda parcial de excitação pode
20

causar desligamento indevido, deixando o gerador vulnerável a graves danos


causados pela perda parcial. Além disso, a perda parcial de excitação também pode
afetar a estabilidade do sistema de energia.
Sendo assim, um relé de admitância exercendo a função ANSI 40 mede a
distância do ponto onde é instalado até o terminal remoto. Quando o sistema elétrico
funciona normalmente as impedâncias vistas pelo relé estão distantes das regiões
de operação, sendo essas definidas pelos seus ajustes. Durante a perda de
excitação, a impedância vista pelo relé se desloca do lugar geométrico das cargas
em direção à região de atuação do relé, desconectando o gerador subexcitado do
sistema caso a impedância entre na referida região de operação.
Nesse contexto, Mason (1949) propôs a utilização de um relé de distância
monofásico do tipo mho com região de atuação deslocada (offset mho) para detectar
a perda de excitação em máquinas síncronas. Tal metodologia apresenta bom
desempenho na sua aplicação, principalmente em situações que envolvam a perda
total de excitação. Com as mudanças nos parâmetros elétricos das máquinas e com
objetivo de melhorar a proposta de Mason, Berdy (1972) sugeriu a inclusão de uma
segunda unidade offset mho com atuação temporizada e com ajuste igual à
reatância de eixo direto do gerador síncrono, permitindo um ajuste de proteção para
a perda de excitação em condições severas e seletividade em algumas condições de
oscilação de potência e transitórios.
Embora as metodologias clássicas de Mason (1949) e Berdy (1972)
apresentem bom desempenho em situações que envolvam a perda total de
excitação, ambas falham para a maioria das perdas parciais de campo e atuam
indevidamente para situações de oscilação estável de potência.
Assim, este trabalho apresenta o melhoramento da metodologia proposta por
Gabe (2014), a qual é destinada à detecção da perda total de excitação. As
alterações realizadas no Filtro Morfológico para Extração de Envoltória (FMEE)
permitem que a técnica classifique também as perdas parciais de excitação e as
oscilações estáveis de potência, a partir da detecção das características
apresentadas pelas envoltórias dos sinais de corrente e tensão nos terminais da
máquina, as quais apresentam características particulares em cada dos eventos
(perda de excitação e oscilação estável de potência). Essa diferenciação se torna
importante, pois evita a atuação indevida da proteção, quando ocorre uma oscilação
estável de potência.
21

O sistema teste a partir do qual foram obtidas as formas de onda dos sinais
de corrente e tensão nos terminais de um gerador síncrono foi implementado no
software DigSILENT Power Factory®. Para tal, foram simulados diferentes casos de
perdas parciais e totais de excitação, além de situações envolvendo oscilações
estáveis de potência.
Por fim, a técnica proposta detecta corretamente as perdas parciais de
excitação e consegue diferenciá-las das oscilações estáveis de potência, além da
detecção de perdas totais de excitação, promovendo a rápida atuação do relé em
caso deperda de campo, garantindo a abertura do disjuntor e desconectando a
máquina do circuito o mais rápido possível, evitando que a mesma seja danificada
ou que o problema se propague para os outros componentes do sistema.

1.1 Estrutura do Trabalho

O Capítulo 1 apresenta a motivação que nos levou a desenvolver o trabalho e


a estrutura do mesmo.
O Capítulo 2 mostra uma breve revisão bibliográfica, sobre os conceitos de
máquinas síncronas, sistema de excitação, proteção contra a perda de excitação,
causas e efeitos da perda de excitação. Também fala das metodologias de Mason e
Berdy.
O Capítulo 3 apresenta a metodologia aplicada, bem como a descrição do
sistema teste, simulado no software DigSILENT PowerFactory®, a partir do qual
foram obtidos os sinais processados pelo algoritmo proposto.
O Capítulo 4 descreve a técnica proposta para a classificação e detecção da
perda de excitação ou oscilação estável de potência, a qual fundamenta-se na
extração da envoltória dos sinais de corrente e tensão processados.
No Capítulo 5, são apresentados os resultados e as discussões a cerca
destes para os processos de detecção e classificação da perda de excitação ou
oscilação estável de potência conseguidos através do FMEE. Os resultados obtidos
para a metodologia proposta são comparados aos apresentados pelas técnicas
clássicas de Mason e Berdy
Por fim, as considerações finais são feitas no Capítulo 6.
22

2 REVISÃO DA LITERATURA

A revisão da literatura deste trabalho aborda os conceitos a cerca dos


geradores síncronos, tais como seu controle de excitação e os tipos de sistemas de
excitação, bem como aborda as causas e os efeitos que a perda parcial de excitação
provoca no sistema elétrico de potência e na máquina síncrona. Por fim, apresenta
os métodos clássicos para a proteção do gerador síncrono contra a perda parcial e
total de excitação.

2.1 Gerador Síncrono

Os geradores síncronos produzem a maior parte da energia consumida no


mundo. Um gerador síncrono é uma fonte de tensão com frequência constante que
fornece potência a uma carga. Segundo Fitzgerald et al. (1996), a amplitude da
tensão é proporcional à frequência e a corrente de campo, bem como a corrente e o
fator de potência são determinados pelas características do gerador e da carga.

2.2 Princípio de Funcionamento do Gerador Síncrono

Em um gerador síncrono, o enrolamento de campo localizado no rotor produz


campo magnético, enquanto nos enrolamentos de armadura, são induzidas as
tensões. O rotor é alimentado por um sistema de anéis coletores e escovas
estacionárias, sendo que os anéis coletores são conectados as bobinas de campo
fornecendo corrente contínua ao rotor (PINHEIRO, 2007).
O rotor funciona como um eletroímã, que quando acoplado a uma turbina que
fornece força motriz, produz um movimento de rotação. Assim, o campo magnético
girante irá induzir tensão nos enrolamentos de armadura (CHAPMAN, 2005).

2.3 Controle do Gerador Síncrono no Sistema de Potência

O controle da potência ativa depende diretamente do controle de velocidade


do gerador. Já a potência reativa do sistema é dada em função da tensão terminal
do sistema, o qual é controlado pelo sistema de excitação. Boldea (2006) descreve o
princípio de funcionamento do gerador síncrono, o qual é apresentado na Figura 1.
23

Figura 1– Sistema Genérico de controle do gerador Síncrono

Fonte: Boldea (2006)

Segundo Boldea (2006), na Figura 1, a referência de potência ativa (P*) é


obtida através do controle de geração automático e a velocidade de referência (ωr*)
é obtida através da curva da velocidade (frequência) por potência ativa (ωr*/P*). A
relação entre a velocidade de referência e a velocidade rotórica (ωr) determina o
erro de velocidade. Esse erro é processado pelo sistema de controle do regulador de
velocidade, que posteriormente regula a velocidade da máquina primária.
O controle automático de potência reativa fornece a potência reativa de
referência (Q*). Sendo assim, a tensão de referência (Vc*) é obtida através da curva
tensão pela potência reativa (Vc*/Q*). O compensador de tensão mede a tensão
terminal e compensa a queda de tensão na impedância de magnetização do gerador
síncrono. O erro da tensão e do sinal do estabilizador do sistema de potência é
utilizado pelo controlador de tensão, controlando-se assim a tensão de excitação e a
tensão terminal.

2.4 Sistema de Excitação

A principal função de um sistema de excitação é fornecer corrente contínua


para o enrolamento de campo do gerador síncrono. Também, realiza as funções de
controle e de proteção responsáveis pelo funcionamento do gerador síncrono.
Os limites de capacidade da máquina síncrona dependem do sistema de
excitação, o qual realiza o controle de tensão e corrente de campo, garantindo que
24

os limites do sistema de geração e de outros equipamentos não sejam


ultrapassados, colaborando para manter a estabilidade do sistema, devendo
responder de forma rápida a perturbações (KUNDUR, 1994).
Além de controlar a tensão e a corrente de campo, o sistema de excitação
conta com as seguintes funções adicionais de controle e proteção:

 Controle do fluxo de potência reativa;

 Manutenção da estabilidade do sistema;

 Limitação do funcionamento da máquina e do sistema de excitação dentro


dos limites estabelecidos.

2.5 Elementos de um sistema de excitação

A Figura 2 apresenta um diagrama de blocos com um sistema típico de


controle de excitação de um gerador síncrono.

Figura 2- Elementos de um sistema de excitação

Fonte: Kundur (1994)

Os subsistemas apresentados na Figura (2) são descritos a seguir (KUNDUR,


1994).
 Excitatriz: como descrito anteriormente, é responsável pelo fornecimento
de corrente contínua para o enrolamento de campo do gerador síncrono;
25

 Regulador: processa o sinal de referência e os sinais do estabilizador, do


transdutor de tensão e compensador de carga, do limitador do circuito de
proteção para controle da excitatriz, além do sinal da excitatriz vindo do
circuito de realimentação;
 Transdutor de Tensão e Compensador de Carga: este subsistema retifica
e filtra a tensão terminal alternada para um nível contínuo, também
controla o fluxo de potência reativa da tensão terminal do gerador;
 Estabilizador: responsável por fornecer um sinal para o regulador a fim de
amortecer as oscilações do sistema de energia;
 Limitador e Circuitos de Proteção: garante os limites de capacidade da
excitatriz não sejam ultrapassados. Dessa forma, limita a tensão terminal
e a corrente de campo, controlando a subexcitação ou a sobre-excitação
da máquina.

2.6 Classificação dos Sistemas de Excitação

De acordo com Kundur (1994), os sistemas de excitação podem ser


classificados em três categorias, conforme a fonte de potência de excitação.
 Sistema de excitação CC;
 Sistema de excitação CA;
 Sistema de excitação estático;

2.7 Sistema de Excitação CC

Os sistemas de excitação CC utilizam geradores para fornecer corrente


contínua ao circuito de campo da máquina através de anéis coletores. A Figura 3
mostra um esquema simplificado de um sistema típico de excitação CC (KUNDUR,
1994).

2.8 Sistema de excitação CA

Os sistemas de excitação CA utilizam máquinas de corrente alternada como


fonte da excitatriz, normalmente são acoplados ao mesmo eixo do gerador principal.
A saída em corrente alternada é retificada por retificadores controlados ou não,
gerando corrente contínua para o campo do gerador. Os retificadores podem ser do
tipo fixo (estacionário) ou rotativo (KUNDUR, 1994).
26

Figura 3- Sistema de Excitação CC

Fonte: Kundur (1994)

2.8.1 Sistemas de Retificadores Fixos

Utilizam um alternador com um enrolamento de campo rotativo, sendo


acionado pelo eixo do gerador CA principal. A corrente para o enrolamento de
campo é obtida dos controles de excitação, através de anéis coletores. Um regulador
é utilizado para controlar a corrente alternada em retificadores não controlados. Já
para os retificadores controlados, o regulador controla a tensão CC da saída da
excitatriz. A Figura 4 mostra um sistema de excitação a diodo não controlado.

Figura 4- Sistema de Excitação com Diodo Estacionário não controlado

Fonte: Kundur (1994)


27

2.8.2 Sistemas de Retificadores Rotativos

Nos retificadores rotativos, os anéis coletores e escovas são eliminados.


Assim, a saída CC proveniente da excitatriz é conectada diretamente ao campo do
gerador principal. A Figura 5 mostra o sistema de excitação sem escovas onde a
armadura da excitatriz CA e os retificadores giram com o rotor do gerador principal
(KUNDUR, 1994).

Figura 5- Sistema de excitação rotativa, sem escovas

Fonte: Kundur (1994)

2.9 Sistemas de excitação estáticos

Nesse sistema de excitação todos os componentes são estáticos. Os


retificadores controlados ou não, fornecem a corrente de excitação diretamente ao
campo do gerador principal, sendo alimentados através de um gerador principal ou
de enrolamentos auxiliares do gerador. A Figura 6 mostra um sistema de excitação
estático com retificador controlado (KUNDUR, 1994).

Figura 6- Sistema de excitação estática.

Fonte: Kundur (1994)


28

2.10 Causas da perda de Campo

De acordo com a IEEE Std C.37.102TM (2007), a excitação em máquinas


síncronas é completa ou parcialmente perdida se houver:
 Abertura acidental do disjuntor de campo;
 Ocorrência de curto-circuito no circuito de campo;
 Falha no regulador de tensão;
 Mau contato nas escovas da excitatriz;
 Falha na fonte de alimentação do sistema de excitação.

2.11 Efeitos da perda de excitação

Segundo Kosow (1982), o enfraquecimento do acoplamento entre o campo


magnético do rotor e do estator ocorre quando um gerador síncrono perde seu
sistema de excitação ou está subexcitado. Desta forma, o rotor começa a girar com
uma velocidade diferente da nominal devido ao ajuste do regulador de velocidade, o
qual está ajustado para entregar a mesma quantidade de potência mecânica. Assim,
a máquina acelera, perde o acoplamento magnético e a potência ativa gerada é
reduzida.
Crossman (1942), diz que como o rotor o rotor gira com velocidade diferente
da nominal, o gerador síncrono passa a operar como gerador assíncrono,
consumindo reativos do sistema. Assim, altas correntes reativas são induzidas nos
enrolamentos de campo, no rotor e nos amortecedores. Quanto maior for o
carregamento da máquina, maior será o aquecimento do rotor. Logo, a pior situação
é quando a máquina opera à plena carga, podendo perder sincronismo se o sistema
não for capaz de compensar a potência reativa drenada e a redução da potência
ativa gerada pela máquina.
Para demonstrar alguns efeitos da perda parcial e total de excitação no
gerador síncrono foi realizada a simulação de um sistema operando com um gerador
síncrono de forma isolada, utilizando o software DigSILENT PowerFactory®. O
sistema teste montado é mostrado na Figura 7.
Para o referido sistema, foram simuladas a perda parcial e total de excitação
da máquina síncrona em t=0,5s. Como pode ser visto na Figura 8, no momento em
que ocorre a perda parcial ou total de excitação, a máquina acelera devido ao
regulador de velocidade estar ajustado para entregar a mesma potência mecânica.
29

Ainda, através da Figura 9, nota-se que a frequência cresce conforme a velocidade


rotórica da máquina.

Figura 7- Sistema composto por um gerador operando de maneira isolada

Fonte Autoria própria.

Figura 8- Comportamento da tensão e corrente de campo durante a perda parcial e total de excitação

Fonte: Autoria própria

Figura 9– Comportamento da frequência durante a perda parcial e total de excitação

Fonte: Autoria própria


30

Ressalta-se que, quanto maior for o nível de perda parcial de excitação, maior
será o afundamento de tensão e aumento da corrente nos terminais da máquina. As
Figuras 10 e 11 apresentam o afundamento de tensão nos terminais da máquina e o
respectivo aumento da corrente. Consequentemente, a potência ativa gerada diminui
gradativamente, bem como a potência reativa, a Figura 12 apresenta o
comportamento da potência ativa e reativa do gerador 1 durante a perda parcial e
total de excitação.

Figura 10 – Comportamento da Tensão RMS gerada durante a perda parcial e total de excitação

Fonte: Autoria própria

Figura 11– Comportamento da Corrente RMS gerada durante a perda parcial e total de excitação

Fonte: Autoria própria


31

Figura 12– Comportamento das Potências Ativa e Reativa RMS, gerada durante a perda parcial e
total de excitação

Fonte: Autoria própria

Para simular um sistema operando em paralelo com outros geradores, foi


montado um sistema teste no software DigSILENT PowerFactory®, conforme a
Figura 13. Nessas simulações, foram utilizados parâmetros iguais de operação para
as duas máquinas e os dados de perda parcial ou total foram obtidos no gerador 1.

Figura 13- Operadores Síncronos operando em Paralelo

Fonte: Autoria própria

Para a perda total de excitação, o gerador 1, que operava de maneira


síncrona, passa a operar de maneira assíncrona, afetando as máquinas em paralelo.
A Figura 14 mostra a perda de sincronismo com as demais máquinas do sistema.
32

Figura 14- Frequência dos geradores 1 e 2 durante a perda de excitação


66 66

65 65

64 64

Frequência GS 1 (Hz)

Frequência GS 2 (Hz)
63 63

62 62

61 61

60 60

59 59
0 5 10 0 5 10
Tempo (s) Tempo (s)

Fonte: Gabe (2014)

Também, durante a perda de excitação, o gerador 1 deixa de fornecer


potência reativa, passando a consumi-la. Analisando a Figura 15, percebe-se que a
potência reativa no gerador 1 diminui após a ocorrência da perda de excitação,
enquanto que a do gerador 2 aumenta, pois este deve fornecer potência suficiente
para alimentar a carga e suprir a demanda exigida pelo gerador 1.

Figura 15 - Comportamento da Potência Reativa nos geradores 1 e 2 durante a perda parcial de


excitação.
100 100

80 80
Portência Reativa GS 1 (MVAR)

Portência Reativa GS 2 (MVAR)

60 60

40 40

20 20

0 0

-20 -20

-40 -40
0 5 10 0 5 10
Tempo (s) Tempo (s)

Fonte: Gabe (2014)

2.12 Diagrama R-X

O diagrama R-X apresenta as componentes de impedância, sendo uma


ferramenta essencial na aplicação, comparação e avaliação do desempenho dos
relés de distância, os quais se aplicam à proteção dos geradores síncronos contra a
33

perda de excitação e subexcitação. Nesse diagrama, as resistências são


representadas no eixo das abcissas, enquanto que as reatâncias aparecem no eixo
das ordenadas. Os valores de R e X para proteção de geradores síncronos são
dados em termos das potências ativa e reativa nos terminais da máquina conforme
as Equações 1 e 2. Estas Equações foram propostas por Mason (1956) e são
válidas para qualquer condição trifásica. Ressalta-se que a polaridade das
impedâncias vistas no ponto de instalação da respectiva proteção depende do fluxo
das potências de acordo com a Tabela 1.

𝑉𝑓𝑎𝑠𝑒−𝑓𝑎𝑠𝑒 . 𝑃
𝑅= (1)
𝑃2 + 𝑄 2

𝑉𝑓𝑎𝑠𝑒−𝑓𝑎𝑠𝑒 . 𝑄
𝑋= (2)
𝑃2 + 𝑄 2

Tabela 1- Comportamento da Resistência e Reatância no Diagrama R-X


Condição R X
Potência Ativa de A para B +
Potência Ativa de B para A -

Potência Reativa de A para B +


Potência Reativa de B para A -
Fonte: Mason (1956)

2.13 Proteções do Gerador

A saída não planejada ou até mesmo a falha de um gerador pode criar graves
consequências ao sistema elétrico, caso o gerador não seja substituído por outra
unidade. Segundo Mamede Filho (2011), o gerador é o elemento do sistema elétrico
de potência que está mais sujeito a falhas, tornando o sistema de proteção mais
complexo.
Ainda segundo Mamede Filho (2011), o sistema de proteção dos geradores
tem que atender aos seguintes requisitos e características:
 Evitar a ocorrência de defeitos;
 Na ocorrência de defeito, minimizar os danos recorrentes;
 Não atuar para faltas além da zona de proteção;
34

 Limitar a corrente de defeito fase-terra para valores que os equipamentos


suportem;
 Operar com extrema rapidez para defeitos internos ao gerador.
O relé de admitância (MHO) tem como finalidade evitar que o gerador opere
de forma instável e/ou fora de sincronismo. A instalação deste relé é feita nos
terminais do gerador sendo que, a operação ocorre para condições específicas,
através do monitoramento da impedância aparente (BLACKBURN; DOMIN, 2007).
2.14 Proteção Contra a Perda Parcial de Excitação

Deve-se garantir que a tensão terminal do sistema esteja na faixa de ±0,5%


do valor ajustado desde a operação a vazio até a operação a plena carga e a
frequência deve ser mantida na faixa de ±5%. Durante as oscilações estáveis de
potência o sistema de excitação deve manter 20% do valor máximo, quando a
tensão dos terminais do gerador atingir 20% da tensão nominal (MAMEDE FILHO;
MAMEDE, 2011).
Segundo Dias (1992) e Elkateb (1992), a proteção deve garantir que a
atuação seja rápida para evitar danos ao gerador, bem como não atuar
desnecessariamente durante a ocorrência de oscilações estáveis de potência e
perturbações transitórias.
Nesse contexto, a Figura 16 apresenta a característica da impedância
aparente durante a perda parcial e total de excitação em um diagrama R-X a qual é
monitorada por relés de admitância seguindo a metodologia de Berdy, a qual será
descrita na Seção 2.17. Essa Figura apresenta as trajetórias descritas pela
impedância vista pela proteção para diferentes níveis de excitação e também para
diferentes carregamentos do gerador. Nessas figuras, pode-se observar que quanto
maior o carregamento do sistema, mais distante encontra-se o ponto de partida das
impedâncias (local geométrico das cargas durante a operação normal do sistema).
Para a perda total de excitação, independentemente do carregamento do
gerador, a impedância apresenta um comportamento bem definido, partindo do
primeiro quadrante, movendo-se em direção ao quarto quadrante e entrando na
região de atuação do relé de admitância. Para os demais níveis de subexcitação o
comportamento da impedância é semelhante. Entretanto, quanto menor for o nível
de excitação, mais rápido a impedância entra na zona de operação da proteção,
quanto maior for o carregamento do sistema. Em contrapartida, para 0,9 p.u. de
35

excitação, somente a impedância vista para o caso de carregamento igual a 25%


entra na zona de atuação da proteção.

Figura 16- Característica da impedância Aparente durante a perda parcial e total de excitação

Fonte: Autoria própria

2.15 Oscilações Estáveis de Potência

Mason (1956) diz que as oscilações de potência são picos de energia que
ocorrem logo após a remoção de um curto-circuito, ou quando geradores que não
estão sincronizados são ligados em paralelo ao sistema. A Figura 17 apresenta a
trajetória das impedâncias vistas pelos relés mho de Berdy no diagrama R-X, para
um caso de oscilação de potência.
36

Figura 17– Característica da impedância durante a oscilação estável de potência

Diagrama R-X
1.5

0.5
X( )

-0.5

-1 Zona Temporizada
Zona Instantânea
Zaparente
-1.5
-1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
R( )

Fonte: Gabe (2014)

Tendo em vista as Figuras 16 e 17, ressalta-se que a impedância aparente


durante a perda de excitação tem uma característica bem definida no plano R-X,
partindo do primeiro quadrante em direção ao quarto quadrante. Já para os casos de
oscilação de potência, a impedância vista pela proteção tem um comportamento
imprevisível, podendo passar por todos quadrantes do diagrama.

2.16 Metodologia de Mason (1949)

A metodologia de Mason (1949) utiliza um relé de distância do tipo MHO, o


qual monitora a tensão e a corrente nos terminais do gerador. Esse relé opera
quando a impedância vista entra na região de atuação delimitada pelo ajuste do
respectivo relé no diagrama R-X.
A Figura 18 mostra a característica de um relé MHO na função ANSI 40
(proteção para perda de excitação) no diagrama R-X. Os parâmetros de operação
são dados pelas características do gerador. O centro do círculo de operação tem
coordenadas (0, Xd/2+X’d/2), sendo X’d a reatância transitória de eixo direto da
máquina e X’d, a reatância subtransitória de eixo direto da máquina.
37

Figura 18 - Característica do relé MHO Proposto por Mason (1949)

Fonte :Autoria própria.

No diagrama R-X, o eixo positivo de R significa que o gerador está


fornecendo potência ativa ao sistema. Já o eixo negativo indica que está
consumindo energia ativa. Analogamente, a parte positiva do eixo X indica que o
gerador fornece potência reativa ao sistema, enquanto que a porção negativa
representa o consumo de potência reativa.
A fim de demonstrar o funcionamento da metodologia de Mason, a Figura 19
apresenta um exemplo da característica da impedância aparente no diagrama R-X
para a perda parcial e total de excitação de um gerador de 500 MVA com 100% de
carregamento.

Figura 19- Característica da Impedância Utilizando a Metodologia de Mason(1949)

Fonte: Autoria própria.


38

Quando a impedância aparente entra na zona de ajuste do relé, este envia


um sinal para a abertura do disjuntor, desconectando o gerador do sistema. Esta
ação é mostrada na Figura 20, onde se pode perceber que não há atuação deste
método para uma excitação de 0,9 p.u.

Figura 20– Característica da Impedância Utilizando a Metodologia de Mason(1949)

Fonte: Autoria própria

2.17 Metodologia de Berdy (1975)

A metodologia proposta por Mason (1949) apresenta operação indevida


durante situações em que ocorram oscilações estáveis de potência e transitórios.
Assim, Berdy (1975) propôs que a seleção e aplicação da perda de excitação deve
considerar os efeitos da oscilação estável de potência e do desempenho do
regulador de tensão. A Figura 21 mostra uma metodologia que utiliza dois relés
MHO com características definidas.
Berdy propôs que um relé possua atuação instantânea ajustado com diâmetro
de 1 p.u. na base do gerador. Já o segundo relé tem atuação temporizada e ajuste
igual à reatância do eixo direto do gerador síncrono. Essa configuração permite a
proteção quando a perda de excitação ocorre em condições mais severas e a
seletividade em algumas condições de oscilação de potência e transitórios, já que a
atuação da zona temporizada irá ocorrer após transcorrido o intervalo de tempo
ajustado.
39

Figura 21- Característica de operação do relé MHO proposto por Berdy (1975)

Fonte: Autoria própria.

A Figura 22 mostra o comportamento da impedância aparente durante uma


perda parcial e total de excitação para um gerador de 390 MVA com um
carregamento de 25%, utilizando a metodologia proposta por Berdy. Ainda, a Figura
23 apresenta as atuações das zonas instantânea e temporizada. Ressalta-se que as
perdas parciais de excitação de 0,5 p,u, e 0,9 p,u não são detectadas com a
metodologia de Berdy.

Figura 22- Característica da Impedância utilizando a metodologia de Berdy

Fonte: Autoria própria.


40

Figura 23 - Detecção da perda parcial e total de excitação utilizando a metodologia de Berdy.

Fonte: Autoria própria


41

3 METODOLOGIA

O sistema teste da Figura 24 foi implementado no software DigSILENT Power


Factory®, onde foram simulados diferentes casos de perdas parciais e totais de
excitação. Nessas simulações, foram analisados o comportamento da tensão na
barra de geração (Barra A), bem como as alterações nas potências ativas e reativas
das máquinas geradoras, após a incidência de um evento de perda parcial (tensão
de excitação menor que 1 p.u. e maior que zero) ou total de excitação em pelo
menos uma das máquinas.

Figura 24 - Sistema Teste

Fonte: Autoria própria

3.1 Parâmetros das Simulações

Foram utilizados nas simulações dois geradores síncronos com potências de


390 e 500 MVA, com diferentes parâmetros, conforme mostra a Tabela 2. As
características do transformador e das linhas de transmissão são apresentadas nas
Tabelas 3 e 4. Por fim, a Tabela 5 mostra os valores de carregamento do gerador
síncrono.

Tabela 2 - Paramêtros dos geradores síncronos de 390 e 500 MVA


Parâmetro Gerador Gerador Parâmetro Gerador Gerador
390 MVA 500 MVA 390 MVA 500 MVA
V (kV) 13,8 13,8 X0 (p.u.) 0,1400 0,1100
FP 0,96 0,96 T’do (s) 5,0 6,1
Xd (p.u.) 1,2000 1,600 T’’do (s) 0,1000 0,1050

X’d (p.u.) 0,2700 0,4800 T’qo (s) 0,09 0,18

X’’d (p.u.) 0,1800 0,3000 H (s) 5,5 4,0

Xq (p.u.) 0,7000 0,9500 PS-1,0(p.u.) 0,0790 0,1800

X2 (p.u.) 0,2100 0,2860 PS-1,2(p.u.) 0,3490 0,3333

Fonte: Gazen et al. (2010).


42

Tabela 3 - Parâmetros da linha de transmissão


Parâmetro Linha de Transmissão
V (kV) 500
Z1, Z2 (Ω) 0,0212+j0,1162
Z0 (Ω) 0,0848+j0,4649
B1, B2 (μS) 72,2566
Bo (μS) 72,4453
Fonte: Gazen et al. (2010).

Tabela 4 - Parâmetros do transformador


Parâmetro Transformador
S (MVA) 510
V (kV) 13,8/500
X1, X2, X0 (p.u.) 0,19
Fonte: Gazen et al. (2010)

Tabela 5 – Carregamento do Gerador


Carregamento Gerador 390 MVA Gerador 500 MVA
25% 93,6+j 27,3 MVA 120+j35 MVA
50% 187,2 +j 54,6 MVA 240+j70 MVA
75% 280,8 +j 81,9 MVA 360+j105 MVA
100% 374,4+j109,2 MVA 480+j140 MVA
Fonte: Gabe (2014)

3.2 Defeitos e Faltas

As simulações foram realizadas através do software DigSILENT


PowerFactory®, para três diferentes níveis de perda parcial de excitação (0,9 p.u.,
0,5 .pu., 0,2 p.u. e perda total de excitação). As perdas parcial e total de excitação
ocorrem em t=0,5s. A oscilação estável de potência é realizada através de um curto-
circuito trifásico de alta tensão nos terminais do transformador em t=0,5s, o qual é
removido em t=0,75s.

3.3 Filtro Morfológico para Extração de Envoltórias para Detecção da Perda


Parcial e Total de Excitação Além da Oscilação Estável de Potência

A metodologia para detecção da perda parcial e total de excitação bem como


a diferenciação com a oscilação estável de potência na máquina síncrona se dá
através de operadores morfológicos de dilatação e erosão, extraindo as envoltórias
dos sinais de corrente e tensão processados.
43

A diferenciação se dá a partir das características das envoltórias da perda de


excitação e da oscilação estável de potência. Sendo assim é possível diferenciar as
condições a qual a máquina está exposta através da análise dessas envoltórias.
Este capítulo descreve a metodologia proposta para detecção das perdas
parciais e totais de excitação, bem como para detecção das oscilações estáveis de
potência. Um fluxograma da metodologia também é apresentado para melhor
compreensão da lógica envolvida.

3.3.1 Filtro Para a Extração das Envoltórias dos Sinais de corrente e tensão

Com base na metodologia proposta por WU et al. (2009), o filtro morfológico


para a extração das envoltórias utiliza operadores da morfologia matemática que
auxiliam na extração das envoltórias dos sinais de corrente e tensão nos terminais
do gerador síncrono. A utilização desses operadores se dá pela capacidade de
detectar anomalias nos sinais processados, bem como extrair ou expandir elementos
constituintes das formas de onda dos sinais de corrente e tensão.
O filtro processa os valores de corrente e tensão, sendo cada um desses
sinais processados em uma janela contendo cada uma N/6 amostras, sendo N o
número de amostras por ciclo, conforme a Equação 3.

𝑊1 (𝑛) = [𝑥0 , 𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 , … , 𝑥𝑛 , ] (3)

Na equação (3), n representa a amostra atual. Essa janela é móvel e, a cada


nova amostra, o primeiro termo da janela (x0) é descartado e os demais são
deslocados para a esquerda, sendo a amostra atual colocada na posição xn.
Para cada janela os operadores morfológicos de erosão e dilatação são
aplicados, sendo estes modificados para a extração dos sinais das envoltórias de
corrente e tensão. A SE adotada para essa aplicação é nula, afim de não alterar os
valores de máximo e mínimo dos sinais processados. Assim os operadores de
dilatação e erosão são dados a partir das Equações (4) e (5), respectivamente.

𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) ⊕ 𝑆𝐸 = max(𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) )(𝑛) (4)

𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) ⊖ 𝑆𝐸 = min(𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) )(𝑛) (5)


44

Para cada sinal obtido através das equações (4) e (5), um sinal Y(n) é
extraído através da média aritmética da soma dos valores de erosão, conforme a
Equação 6.

(𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) ⊕ 𝑆𝐸 + 𝑊1(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) ⊖ 𝑆𝐸)


𝑌(𝑛) = (6)
2

Os valores de Yi(n) e Yv(n) são separados em valores maiores que zero,


compondo assim a pré-envoltória superior, sendo que a pré-envoltória inferior é
composta pelos valores menores que zero. As equações (7) e (8) mostram as
equações para pré-envoltória superior e pré envoltória inferior, respectivamente.

𝑃𝑟é_𝑒𝑛𝑣𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) = 𝑌(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛), 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑌(𝑉 𝑜𝑢 𝐼)(𝑛) < 0 (7)

𝑃𝑟é_𝑒𝑛𝑣𝑠𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) = 𝑌(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛), 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝑌(𝑉 𝑜𝑢 𝐼)(𝑛) < 0 (8)

A fim de evitar oscilações numéricas decorrentes da amostragem, os valores


das pré-envoltórias são alocados em uma janela móvel W2(n), a qual tem
comprimento igual a 5*N (5 ciclos), sendo atualizada da mesma maneira que W1(n).
Assim, (9) e (10), definem as envoltórias superior e inferior dos sinais de corrente e
tensão.

𝐸𝑛𝑣𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) = 𝑚á𝑥[𝑊2 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛)] (9)

𝐸𝑛𝑣𝑠𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) = 𝑚á𝑥[𝑊2 𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 (𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛)] (10)

A Figura 25 mostra o fluxograma do filtro para a extração das envoltórias dos


sinais de corrente e tensão. Essa Figura esboça o funcionamento da lógica de forma
paralela melhor entendimento, uma vez que as operações realizadas são análogas
para ambas às janelas, exceto pelas lógicas de decisão, as quais diferem para cada
envoltória. Ressalta-se que o esboço em paralelo do fluxograma foi feito apenas
para melhor entendimento do mesmo, já que as operações são feitas em cascata,
não prejudicando a velocidade de processamento da metodologia proposta.
45

Figura 25– Fluxograma do filtro para a extração das envoltórias dos sinais de corrente e tensão
Início
n=1

Aquisição de dados
(VA (n) e IA (n))

W1V (n) W1I (n)

W1V (n) + SE W 1I (n) + SE


W1V (n) - SE W 1I (n) - SE

YV (n)=[W1V (n) + SE Y I (n)=[W1I (n) + SE


+ +
W1V (n) - SE] / 2 W1I (n) - SE] / 2

SIM Y V (n)>0 NÃO SIM YI (n)>0 NÃO

Pré_Env Superior_V (n)= Pré_Env Inferior_V (n)= Pré_Env Superior_I (n)= Pré_Env Inferior_V (n)=
Y V (n) YV (n) Y I (n) Y I (n)

W 2_Superior_V(n) W 2_Inferior_V(n) W 2_Superior_I (n) W2_Inferior_I (n)

Env Superior_V (n)= Env Inferior_V (n)= Env Superior_I (n)= Env Inferior_I (n)=
máx[W 2_Superior_V (n)] máx[W2_Inferior_V (n)] máx[W 2_Superior_I (n)] máx[W2_Inferior_I (n)]

Fonte: Autoria própria

3.3.2 Detecção de evento no gerador síncrono e diferenciação entre a perda


parcial ou total de excitação e a oscilação estável de potência

A partir das envoltórias extraídas conforme a Seção anterior, é feita a


detecção e a classificação dos eventos no gerador síncrono. Assim, a metodologia
tem o objetivo de detectar as perdas parciais e totais de excitação e diferenciá-las
das oscilações estáveis de potência, sendo que estas podem fazer a função ANSI
40 atuar indevidamente. Dessa forma, a técnica detecta as oscilações estáveis de
potência. O fluxograma para detecção e classificação das perdas de excitação (PE)
e oscilações estáveis de potência (OEP) é mostrado na Figura 27.
46

Figura 26- Fluxograma de detecção e classificação da perda de excitação e OEP


Início
n=1

Envsuperior V (n) Extração de Envsuperior I (n)


Envoltórias
Envinferior V (n) Envinferior I (n)

DifEnv V (n) = DifEnv I (n) =


Envsuperior V (n) - Envinferior V (n) Envsuperior I (n) - Envinferior I (n)

difV (n) = difI (n) =


DifEnv V (n) - DifEnv V (n-1) DifEnv I (n) - DifEnv I (n-1)

difI>1x10-7 NÃO
e
difV<-1x10-7

SIM

td(n)=t(n)

NÃO

SIM NÃO difI<-1x10-5 SIM


PE t=tI (n) - tn (n) e OEP
difV>1x10 -5

Fonte: Autoria Própria

Para classificação dos eventos em questão, são obtidas as diferenças entre


as envoltórias superior e inferior de cada sinal. Essa diferença é calculada conforme
a Equação 11.

𝐷𝑖𝑓𝐸𝑛𝑣( = 𝐸𝑛𝑣𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) − 𝐸𝑛𝑣𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) (11)


𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛)

A partir do cálculo da diferença entre as envoltórias, dado pela Equação 12, a


perda parcial ou total de excitação é detectada quando o valor de ∆dif i(n) é maior
que 1x10-7 e ∆difV(n) for menor que -1x10-7 em pelo menos 10 ciclos. Se essas
condições não forem satisfeitas no intervalo de tempo dado, então será verificada
47

uma oscilação estável de potência, ocorrendo sempre que ∆dif i(n) for menor que -
1x10-5 e ∆difV(n) for maior que 1x10-5.

∆𝑑𝑖𝑓(𝑉 𝑜𝑢 𝐼) = 𝐷𝑖𝑓𝐸𝑛𝑣 (𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛) − 𝐷𝑖𝑓𝐸𝑛𝑣 (𝑉 𝑜𝑢 𝐼) (𝑛 − 1) (12)

A presente metodologia foi implementada no software Matlab® e comparada


com as técnicas de Mason e Berdy, para sinais amostrados em 96 amostras/ciclo,
em diferentes condições de carregamento e níveis de excitação do gerador síncrono.
Também foram analisadas situações envolvendo oscilações estáveis de potência. O
Capítulo 5 mostra os resultados obtidos, comprovando a robustez da técnica, dada a
velocidade de detecção e classificação da mesma.
Na Figura 26, td é o tempo de detecção de uma possível perda de excitação
da máquina e ti é o tempo de permanência da perturbação. Se intervalo entre t d e ti
for igual a 10 ciclos, o transitório é classificado como uma PE. Caso não for atendido
esse critério, as condições de OEP são verificadas.
48

4. ANÁLSE DOS RESULTADOS

Este Capítulo apresenta os resultados obtidos pelo FMEE ao processar sinais


provenientes da simulação de perdas parciais e totais de excitação, bem como para
situações envolvendo oscilações estáveis de potência. Os resultados obtidos para a
metodologia proposta são comparados com o desempenho das técnicas clássicas
de Mason (1949) e Berdy (1975).

4.1. Caso 1 – PE para um gerador de 390MVA operando com 100% de


carregamento

Os sinais de corrente e tensão obtidos a partir da simulação do sistema teste


descrito anteriormente no software DigSILENT PowerFactory®. A Figura 27
apresenta o sinal de corrente nos terminais do gerador síncrono para uma perda
total de excitação. Pela figura, pode-se perceber o crescimento da envoltória
superior dos sinais até o regime permanente. O sinal da tensão nos terminais da
máquina para o referido caso é mostrado na Figura 28. De forma oposta ao ocorrido
para os sinais de corrente, percebe-se que a envoltória superior do sinal de tensão
sofre decréscimo até o regime permanente.

Figura 26– Sinal de corrente senoidal para uma perda total de excitação em um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria


49

Figura 27– Sinal de tensão senoidal para uma perda total de excitação em um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria

Os sinais das Figuras 27, 28, foram processados pelo filtro morfológico para
extração de envoltória. A partir desse processamento, foram obtidas as envoltórias
superior e inferior para os sinais de corrente e a tensão do sistema. Assim, as
Figuras 29 e 30 mostram as envoltórias superior e inferior dos sinais de corrente e
tensão, respectivamente, obtidas a partir do FMEE.

Figura 28 – Envoltórias de corrente superior e inferior para uma perda de excitação em um gerador de
390 MVA.

Fonte: Autoria própria


50

Figura 29 – Envoltórias de tensão superior e inferior para uma perda de excitação em um gerador de
390 MVA.

Fonte: Autoria própria

As diferenças entre as envoltórias superior e inferior para os siais de tensão e


corrente em questão são mostradas nas Figuras 31 e 32, as quais são obtidas a
partir da subtração algébrica da envoltória inferior pela envoltória superior,
calculadas de acordo com a metodologia proposta.

Figura 30 – Diferenças das envoltórias de corrente para uma perda de excitação, em um gerador de
390 MVA.

Fonte: Autoria própria


51

Figura 31 – Diferença das envoltórias de tensão para uma perda total de excitação em um gerador de
390 MVA

Fonte: Autoria própria

As variações entre as amostras consecutivas para os sinais de diferença


entre as respectivas envoltórias são obtidas através da subtração da amostra atual
pela diferença anterior. O sinal da variação entre as diferenças de corrente é
mostrado na Figura 33, para a perda total de excitação. Já a Figura 34 apresenta os
resultados para o cálculo da variação entre as diferenças das envoltórias para os
sinais de tensão.

Figura 32 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para uma perda total de
excitação em um gerador de 390 MVA.
-3
x 10
5

3
Dif. entre Amostras de Corrente

-1

-2

-3

-4

-5
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo (s)

Fonte: Autoria própria


52

Figura 33- Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de tensão para uma perda total de
excitação em um gerador de 390 MVA.
-3
x 10
1.5

Dif. entre Amostras de Tensão


0.5

-0.5

-1

-1.5
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo (s)

Fonte: Autoria própria

As Figuras 35 e 36 apresentam os primeiros 10 ciclos, mostrando os detalhes


dos sinais de variação entre as diferenças das envoltórias de corrente e tensão para
uma perda de excitação em um gerador de 390MVA. Ambas as envoltórias
satisfazem as condições para classificação do evento como uma PE durante a
temporização ajustada (10 ciclos). Dessa forma, o FMEE classifica corretamente o
transitório, permitindo a atuação correta da proteção.

Figura 34– Detalhe do Sinal de Variação entre as Diferenças das Envoltórias do Sinal de Corrente,
durante perda de excitação total para um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria


53

Figura 35– Detalhe do Sinal de Variação entre as Diferenças das Envoltórias do Sinal de Tensão,
durante perda de excitação para um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria.

Por fim, a Tabela 6 apresenta de os instantes de atuação do FMEE para o


caso de perda total de excitação no gerador de 390MVA com 100% de
carregamento, bem como os instantes de atuação das metodologias de Mason e
Berdy.

Tabela 6– Instantes de detecção e classificação de PE para os gerador de 390 MVA.


Atuação FMEE Mason Berdy

Caso Classificação tclassificação (s) tatuação (s) tatuação (s)

PE 0 p.u.100% PE 0,3523 4,72 4,72

Fonte: Autoria própria

Nota-se que, a partir da atuação do FMEE, a proteção poderia atuar em um


intervalo de tempo, aproximadamente, dez vezes menor do que aqueles verificados
pelas metodologias clássicas de Mason e Berdy, tendo em vista o atraso da atuação
desses métodos em relação à atuação do FMEE. Isso evitaria o sobreaquecimento
da máquina, comprometendo sua vida útil, além de evitar afundamento duradouro de
tensão no barramento da subestação e outros problemas decorrentes da
subexcitação da máquina síncrona.
54

4.2 Caso 2 – Perda parcial de excitação para um gerador de 390 MVA operando
com 100% de carregamento

Para obtenção dos sinais de corrente e tensão para as perdas parciais de


excitação, foi utilizada a mesma metodologia aplicada para a perda total, exceto pelo
fato de alterar-se a excitação da máquina de 1 p.u. para uma valor entre 0 e 1.
Nesse contexto, a Figura 37 apresenta o sinal de corrente para o gerador de 390
MVA operando com um nível de excitação de 0,5 p.u. Já a Figura 38 apresenta o
sinal de tensão.

Figura 36– Sinal de corrente senoidal para uma excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria

Figura 37– Sinal de tensão senoidal para uma de excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria


55

As envoltórias dos sinais apresentados nas Figuras 37 e 38 foram obtidas


através do FMEE e são apresentadas nas Figuras 39 e 40, respectivamente, para os
referidos sinais de corrente e tensão. Pode-se perceber em ambas as Figuras, que o
comportamento das envoltórias para o caso da perda parcial de excitação se
assemelha ao verificado na perda total.

Figura 38– Envoltórias de corrente superior e inferior para uma excitação de 0,5 p.u., em um gerador
de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria.

Figura 39 – Envoltórias de tensão superior e inferior para uma excitação de 0,5 p.u., em um gerador
de 390 MVA.

Fonte: Autoria própria.


56

Já as diferenças para as envoltórias superior e inferior dos sinais de corrente


e tensão são mostradas, respectivamente, nas Figuras 41 e 42. Ainda, as variações
entre as amostras consecutivas para os sinais de diferença entre as respectivas
envoltórias, para este caso, aparecem nas Figuras 43 e 44.

Figura 40– Diferenças das envoltórias de corrente para uma excitação de 0,5 p.u., em um gerador de
390 MVA.

Fonte: Autoria própria

Figura 41– Diferenças das envoltórias de tensão para uma excitação de 0,5 p.u., em um gerador de
390 MVA.

Fonte: Autoria própria


57

Figura 42 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para uma perda de
excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA
-3
x 10
5

Dif. entre Amostras de Corrente 3

-1

-2

-3

-4

-5
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo (s)

Fonte: Autoria própria

Figura 43 - Variação entre as diferenças das envoltórias do sinal de corrente para uma perda de
excitação de 0,5 p.u., em um gerador de 390 MVA.
-3
x 10
1.5

1
Dif. entre Amostras de Tensão

0.5

-0.5

-1

-1.5
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo (s)

Fonte: Autoria própria


Nos casos analisados para o gerador trabalhando com uma excitação de 0,5
p.u. percebe-se que o comportamento das envoltórias é semelhante ao ocorrido
para a perda parcial de excitação, uma vez que a diferença entre as envoltórias de
corrente cresce e que para os sinais de tensão essa diferença diminui, enquanto o
58

gerador opera sob perda de excitação, indiferentemente se esta é total ou parcial.


Isso significa que para os casos de perda de excitação, essas envoltórias
apresentam características bem definidas. Dessa forma, o FMEE atua corretamente,
mais uma vez classificando o evento como perda de excitação, conforme a Tabela 7.
Nessa Tabela, os tempos de atuação das três metodologias analisadas para o caso
da perda parcial de excitação em questão são expostos. Constata-se que as
metodologias de Mason e Berdy detectam PPE em instantes de tempo muito
maiores que o FMEE, mostrando a robustez da metodologia proposta.

Tabela 7 – Instantes de detecção e classificação de PPE para o gerador de 390MVA


Atuação FMEE Mason Berdy

Caso Classificação tclassificação (s) tatuação (s) tatuação (s)

PPE 0,5
PE 0,3523 8,3819 8,3819
p.u.100%

Fonte: Autoria própria

4.3. Resumo da atuação dos métodos para os casos de Perda de Excitação


analisados

A Tabela 8 apresenta de maneira resumida os instantes em que é detectada


uma possível PE e também, o instante de classificação do evento como PE pelo
FMEE para os dois geradores testados.
Já a Tabela 9 mostra os instantes em que são detectadas as perdas de
excitação por todas as metodologias testadas, para os geradores de 390MVA e
500MVA, em todos os casos analisados. Através dessa Tabela, constata-se que a
metodologia aplicada detecta perda de excitação para todos os níveis de excitação,
enquanto as metodologias de Mason e Berdy falham em alguns casos, além de
demorar mais tempo para identificar a respectiva perda, nos casos em que atuam.
Ressalta-se, ainda, que, por terem o mesmo princípio de funcionamento, as
metodologias de Mason (1949) e Berdy (1975) apresentam o mesmo tempo para as
detecções de PE nas zonas de operação instantânea (Tabela 9). Por fim, destaca-se
a confiabilidade do FMEE, o qual detectou todos os níveis de perda parcial de
excitação, bem como o fez com um tempo significativamente menor, quando
comparado às metodologias de Mason e Berdy.
59

Desta forma, é confirmada a robustez e velocidade de detecção da


metodologia proposta, a qual se mostrou eficaz na classificação e detecção da perda
parcial e total de excitação nos geradores síncronos. Assim, caso a metodologia seja
utilizada em relés, aumentar-se-ia a confiabilidade dos sistemas de proteção contra
a perda de excitação, uma vez que ela diferencia a perda de excitação da oscilação
estável de potência, em todos os níveis de excitação da máquina síncrona.

Tabela 8 – Instantes de detecção e confirmação de PE para os geradores de 390MVA e 500MVA


Gerador 390 MVA Gerador 500 MVA

Carga Excitação Detecção Confirmação Tempo Detecção Confirmação Tempo


(p.u.) de Após Acumulado de Após Acumulado
Possível Possível (s) Possível Possível (s)
PE (s) Detecção (s) PE (s) Detecção (s)

0 0,5776 0,2492 0,8268 0,5861 0,2047 0,7908


0,2 0,5776 0,2493 0,8269 0,5861 0,2577 0,8438
25%
0,5 0,5776 0,2993 0,8769 0,5861 0,291 0,8771
0,9 0,5776 0,3162 0,8938 0,5861 0,2582 0,8443
0 0,1859 0,1665 0,3524 0,1943 0,1665 0,3608
0,2 0,1859 0,1665 0,3524 0,1943 0,1665 0,3608
50%
0,5 0,1858 0,1665 0,3523 0,1943 0,1665 0,3608
0,9 0,1859 0,1665 0,3524 0,1943 0,1665 0,3608
0 0,7528 0,1665 0,9193 0,1858 0,1665 0,3523
0,2 0,7528 0,1665 0,9193 0,1858 0,1665 0,3523
75%
0,5 0,7528 0,1665 0,9193 0,1858 0,1665 0,3523
0,9 0,586 0,3331 0,9191 0,1858 0,1665 0,3523
0 0,1858 0,1665 0,3523 0,5858 0,3415 0,9273
0,2 0,1858 0,1665 0,3523 0,5856 0,3498 0,9354
100%
0,5 0,1858 0,1665 0,3523 0,5858 0,3413 0,9271
0,9 0,1858 0,1665 0,3523 0,5858 0,3413 0,9271
Fonte: Autoria própria.

Vale ressaltar que, na Tabela 9, os tempos verificados para a atuação da


unidade temporizada no Método de Berdy, representam o instante em que a
impedância vista pelo relé entra na respectiva zona de operação. Sendo assim, o
real tempo de atuação desta zona (instante em que é enviado o sinal para abertura
do disjuntor) é dado pelo instante representado na referida Tabela mais a
temporização ajustada para a respectiva zona, o que resulta em tempos de
desligamento maiores do que os verificados para as zonas instantâneas.
60

Tabela 9– Instantes de detecção da PE para as metodologias de Mason, Berdy e FMEE


Temporização de Detecção (s)
Excitação Berdy
S (MVA) Carregamento Mason FMEE
Temporizada Instantânea
25% 2,3693 2,8474 2,8474 0,8268
50% 5,4670 7,0146 7,0146 0,3524
0 pu
75% 5,8941 6,3469 6,3469 0,9193
100% 4,6030 4,7200 4,72 0,3523
25% 3,0809 3,9455 3,9455 0,8269
50% 9,0366 12,6411 12,6411 0,3524
0,2 pu
75% 7,8222 8,3864 8,3864 0,9193
100% 5,5297 5,6559 5,6559 0,3523
390
25% -- -- -- 0,8769
50% -- -- -- 0,3524
0,5 pu
75% 17,6471 18,5846 18,5846 0,9193
100% 8,2352 8,3819 8,3819 0,3523
25% -- -- -- 0,8938
50% -- -- -- 0,3524
0,9 pu
75% -- -- -- 0,9191
100% -- -- -- 0,3523
25% 1,9640 2,9097 2,9097 0,7908
50% 4,0038 6,6783 6,6783 0,3608
0 pu
75% 4,8924 5,8628 5,8628 0,3523
100% 4,0939 4,3071 4,3071 0,9273
25% 2,4314 4,0038 4,0038 0,8438
50% 5,6800 10,9665 10,9965 0,3608
0,2 pu
75% 6,3299 7,5510 7,551 0,3523
100% 4,8573 5,0856 5,0856 0,3498
500
25% 4,4868 -- -- 0,8771
50% -- -- -- 0,3608
0,5 pu
75% 12,5449 14,6256 14,6256 0,3523
100% 6,97310 7,22920 7,2292 0,9354
25% -- -- -- 0,8443
50% -- -- -- 0,3608
0,9 pu
75% -- -- -- 0,3523
100% -- -- -- 0,9271
Fonte: Autoria própria.

4.4. Oscilação Estável de Potência

Para comparar os resultados mostrados para a PE com os casos de OEP,


foram realizadas simulações desse fenômeno para os mesmos carregamentos.
Conforme mencionado anteriormente, a classificação pela metodologia proposta,
dos eventos na máquina síncrona, dá-se através das diferenças das envoltórias de
corrente e tensão realizados pelo FMEE, impedindo que o gerador seja
61

desconectado indevidamente do sistema. As Figuras 45 e 46 apresentam detalhes


das envoltórias de corrente e tensão, respectivamente, para ocorrência de um
evento de oscilação de potência. Nessas Figuras, é possível perceber que o
comportamento das envoltórias é totalmente diferente daquele ocorrido para as
perdas total e parcial de excitação.

Figura 44 – Detalhe das Envoltórias de corrente para uma oscilação estável de potência em um
gerador de 390 MVA com carregamento de 100%.

Fonte: Autoria própria

Figura 45 – Detalhe das Envoltórias de tensão para uma oscilação estável de potência em um
gerador de 390 MVA com carregamento de 100%.

Fonte: Autoria própria.


62

A fim de comparação entre as variações das diferenças das envoltórias


apresentadas nos casos de perda de excitação e de oscilação estável de potência,
as Figuras 47 e 48 mostram o detalhamento dos sinais das variações das diferenças
entre as envoltórias de corrente e tensão, para OEP das Figuras 45 e 46.

Figura 46– Detalhe do sinal de diferença entre as amostras das envoltórias do sinal de corrente,
durante uma oscilação estável de potência em um gerador de 390 MVA com carregamento de 100%.

Fonte: Autoria própria

Figura 47– Detalhe do sinal de diferença entre as amostras das envoltórias do sinal de tensão,
durante uma oscilação estável de potência em um gerador de 390 MVA com carregamento de 100%.

Fonte: Autoria própria


63

Analisando as Figuras 47 e 48, percebe-se que os sinais de corrente e tensão


não permanecem com a mesma característica após 10 ciclos. Logo, fica
caracterizada uma oscilação estável de potência, sendo detectada corretamente
pela metodologia proposta.
Assim, a Tabela 10 apresenta os instantes de tempo em que é a OEP é
classificada pelo FMEE, para os geradores de 390MVA e 500MVA, com diferentes
níveis de carga.

Tabela 10 – Instantes de detecção e classificação da OEP


S (MVA) 390 500
Classificação
Classificação
Detecção como OEP
como OEP Tempo Tempo
Detecção de de após
Carga após detecção Acumulado Acumulado
Possível PE (s) Possível detecção de
de possível PE (s) (s)
PE (s) possível PE
(s)
(s)
25% 0.5693 0.1899 0.7592 0.5693 0.1842 0.7535
50% 0.1859 0.3228 0.5087 0.1943 0.1665 0.3608
75% 0.5691 0.1907 0.7598 0.1858 0.1665 0.3523
100% 0.1858 0.1665 0.3523 0.5961 0.2523 0.8484
Fonte: Autoria própria

Ressalta-se que todos os casos de OEP apresentam características de


envoltórias diferentes quando dos casos de PE, total ou parcial. A metodologia
proposta classifica os eventos a partir das diferenças das envoltórias de corrente e
tensão, por exemplo, para o gerador de 390MVA com carregamento de 50%, o
FMEE detecta uma possível PE em 0,1859s. Porém, os sinais não permanecem com
a mesma característica durante um período superior a 10 ciclos, caracterizando uma
OEP.
Por fim, a Tabela 11 resume a atuação das metodologias analisadas para os
casos de OEP. Verificando os tempos de atuação expostos nessa Tabela, constata-
se, mais uma vez, a eficácia da técnica proposta, visto que o FMEE classifica
corretamente as OEPs em todos os casos, permitindo que a proteção não atue
indevidamente. Em contrapartida, as metodologias clássicas atuam incorretamente
para todos os casos. Ainda, vale ressaltar que a classificação das OEPs pelo FMEE
ocorre em tempos bem inferiores aos apresentados pela atuação das metodologias
clássicas, evidenciando ainda mais a qualidade do método proposto para detecção
das perdas de excitação.
64

Tabela 11- Instantes de detecção e classificação da OEP


S (MVA) 390 500
Classificação Berdy Classificação
Berdy
Carga Mason (s) como OEP Mason (s) (Instantânea) como OEP
(Instantânea) (s)
(s) (s) (s)
25% 0,751 0,751 0.7592 2,6238 26238 0.7535
50% 0,7501 0,7501 0.5087 6,1241 6,1241 0.3608
75% 0,7501 0,7501 0.7598 2,6795 2,6795 0.3523
100% 0,7501 0,7501 0.3523 2,508 2,508 0.8484
Fonte: Autoria própria
65

6. CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos, conclui-se que geradores síncronos


operando subexcitados podem comprometer a estabilidade do sistema, uma vez que
provocam o afundamento de tensão na barra da estação geradora. Logo precisam
de uma proteção específica contra a perda de excitação, a fim de desconectar o
gerador o mais rápido possível do sistema, já que máquinas operando em condições
de subexcitação perdem capacidade de geração de potência ativa. Além disso,
passam a consumir potência reativa, o que pode provocar sobreaquecimento da
máquina.
As técnicas clássicas de proteção contra perda de excitação utilizam relés de
admitância do tipo MHO, sendo estes ajustados a partir dos parâmetros de reatância
do eixo direto transitória e subtransitória da máquina.
Todavia, caso ocorram oscilações estáveis de potência, a proteção utilizando
relés de admitância pode interpretá-las como uma perda parcial de excitação,
desligando o disjuntor do gerador de maneira indevida. Assim, a técnica proposta
detecta e classifica as perdas de excitação bem como oscilações estáveis de
potência, evitando assim, a desconexão indevida dos geradores síncronos pelas
oscilações estáveis de potência.
A metodologia proposta utiliza operadores morfológicos para extrair as
envoltórias dos sinais de corrente e tensão, sendo que cada uma possui
características próprias sob condições de PE e OEP.
Nos casos simulados, o filtro detectou a PE de forma rápida e robusta,
classificando corretamente todos os casos de PE ou OEP. A metodologia utilizada
também mostrou-se mais rápida na identificação da perda de excitação quando
comparadas as técnicas de Mason e Berdy.
Portando, a técnica proposta apresenta uma característica rápida e precisa.
O tempo para a detecção da PE é menor, assim a máquina é desconectada do
sistema de maneira mais rápida, reduzindo os efeitos prejudicais ao SEP. Por fim,
elimina as atuações indevidas da proteção para oscilações estáveis de potência.
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