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João e Maria

João era um jovem descolado, típico popular americano; com olhos claros, cabelos
castanho-claros e estilo desleixado. Sempre havia alguém a sua volta, visto que todos
adoravam sua companhia, fosse um menino do time de futebol da escola, do qual
fazia parte, ou uma garota que se derretia por ele; a propósito, eram várias.
Entretanto, mal se importava com estas; sonhava com o dia em que encontraria sua
musa, tão bonita e inteligente quanto podia imaginar, de olhos cálidos e fervorosos e
cabelos longos esvoaçantes, fazendo-o a pessoa mais feliz do mundo.
Numa aula de português, a professora acabara de decidir qual seria o trabalho
bimestral e escolheu as duplas. João estava furioso: dentre todos os alunos da sala, a
professora tinha de escolher aquela menina como seu par? Ao invés de uma
admiradora ou um jogador do time, tinha de ser logo aquela aluna nova desajeitada,
de risada espalhafatosa, cujo nome vagamente lembrava ser Maria? Que azar!
Como não havia outra saída, deram início ao trabalho. João, num primeiro momento,
foi rude, áspero como uma bucha; talvez só quisesse descontar toda sua raiva em
Maria, que escutava pacientemente seus resmungos. Quando se acalmou, puderam
conversar civilizadamente, e então percebeu que Maria não era tão desinteressante
quanto pensava; na verdade, ela tinha tamanha criatividade e conhecimento que mal
cabiam em sua cabeça de 16 anos. João sentiu-se confortável a ponto de contar suas
piadas que, posto que sem graça, provocavam altas risadas nela – talvez risse
somente para vê-lo sorrir também – que não o incomodavam como antes.
Com o passar das semanas, João começou a se distrair frequentemente, absorto em
seus pensamentos. Quais eram eles? Nem ele sabia responder. Ouvia vozes e de
repente se deparava com uma imagem que ficava cada vez mais nítida... Era Maria!
Mas como poderia ser? Alguém tão distante da musa de seus sonhos! Rejeitou a ideia
prontamente, mas não demorou para que esta o consumisse; tinha de agir logo, mas
não encontrava motivos para tal...
Não até o dia de seu casamento. Ali, diante de todos os convidados e padrinhos –
dentre os quais, curiosamente, se encontrava a professora – e de frente para Maria,
finalmente conseguiu responder as perguntas que o atormentavam, fazendo surgir
outra de imediato: como pudera ser tão tolo? Não haveria melhor explicação para o
amor, senão o próprio amor. Não formavam um casal perfeito, mas talvez a perfeição
fosse superestimada.
João carregou sua resposta consigo durante todas as brigas e reconciliações, até que,
numa triste tarde, sua esposa viera a falecer. Meio aos prantos, tinha a certeza de que
alcançara a verdade sobre aquele sentimento eterno.

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