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Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de implantação

Conference Paper · August 2018

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Daniel Turczyn Evandro Ziggiatti Monteiro


University of Campinas University of Campinas
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A Produção do Território: Formas, Processos, Desígnios

Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de


implantação

Daniel Teixeira Turczyn 1 *, Evandro Ziggiatti Monteiro 2 *

1
danieltturczyn@gmail.com, 2 evanzigg@g.unicamp.br
* Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas

O objetivo da pesquisa foi analisar as áreas de urbanização recente do município de Campinas, estado de São
Paulo/Brasil, e evidenciar as tipologias e os padrões de implantação que conformam o seu espaço. A
urbanização de Campinas ocorreu de forma periférica, fragmentada, dispersa e potencializada pelos eixos
rodoviários, conformando várias áreas que podem ser consideradas como mutações urbanas. Mutação urbana
é um conceito forjado por Solà-Morales (2002) que auxilia o entendimento das dinâmicas de formação da cidade
contemporânea, que vem se conformando através de formas e paisagens urbanas que são distintas das
encontradas nos tecidos urbanos tradicionais do seu entorno. Os eixos rodoviários são a espinha dorsal para o
funcionamento das mutações urbanas. Os shopping centers, seu elemento catalisador mais comum. O método
proposto baseia-se numa abordagem que utiliza o conceito da mutação como chave para uma sintaxe de leitura
espacial. A partir dela é possível enfatizar e delimitar as aglomerações urbanas contemporâneas que
compartilham o mesmo conjunto de características morfológicas, possibilitando a demarcação das áreas de
estudo. O método inclui procedimentos de análise de imagens aéreas e de fotografias urbanas disponibilizadas
pelas ferramentas Google Earth e Google Street View. Os resultados apontam a formação de doze mutações urbanas
em Campinas, conformadas por um conjunto de nove tipologias residenciais e quatro tipologias comerciais que
se estruturam no território através de dezoito padrões de implantação. No geral, as mutações são aglomerações
peri-urbanas que se ligam às rodovias através de avenidas arteriais, formadas por tipologias residenciais e
comerciais muradas e controladas, suportadas por grandes shopping centers e lojas de departamentos, e imersas
em vazios urbanos. São áreas que contrastam com o restante da cidade, seja pelo espaço público mínimo
voltado apenas para a locomoção dos automóveis, pela ausência de comércio e vida pública, ou pela paisagem
genérica e de baixa expectativa.

Introdução

O crescimento urbano contemporâneo da cidade de Campinas (estado de São Paulo, Brasil)


ocorre de forma periférica, fragmentada e potencializada pelos eixos e conexões rodoviárias,
conformando aglomerações urbanas que não são mais constituídas pelos mesmos espaços de
habitação, sociabilização, troca e movimento que estruturaram o crescimento urbano até a década de
1990. Essas expansões urbanas estão sendo conformadas a partir da lógica do mercado imobiliário,
que oferta uma série de empreendimentos privados que descartam qualquer relação com a cidade
pública ou com a parcela da população que julga incômoda. As formas e as paisagens urbanas
resultantes dessa dinâmica são diferentes das que fundamentaram a cidade tradicional, onde a forma
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urbana e as relações sociais mantinham certo grau de dependência, sendo constituída em sua grande
maioria por espaços públicos mínimos, forjadas para o trânsito rápido de automóveis e para inibir
qualquer resquício de urbanidade, sociabilidade e vida púbica.
Essa dinâmica de expansão urbana pode ser entendida através do conceito de peri-
urbanização, que trata da expansão que se desenvolve a partir de áreas urbanas periféricas já
consolidadas e que foram seguindo um processo circular e acumulativo de crescimento (Randolph,
2011). São aglomerações urbanas que estão além dos subúrbios modernos ou industriais e se
localizam nas bordas da cidade ou no limite entre o urbano e o rural, transformando áreas que eram
tradicionalmente utilizadas para atividades agrícolas em áreas de atividades industriais e residenciais
de baixa densidade (Ojima, Hogan, 2008).
A produção habitacional de baixa densidade ocorre principalmente através da implantação
de tipologias fechadas, produtos do alto capital, forjados pelo mercado imobiliário. Para Caldeira
(2000), o principal produto da arquitetura de mercado são os enclaves fortificados, uma categoria
ampla de novos empreendimentos urbanos, como conjuntos de escritórios, shopping centers, e cada
vez mais outros espaços que têm sido adaptados para se conformarem a esse modelo, como escolas,
hospitais, centros de lazer e parques temáticos, que não dependem mais da proximidade com as
centralidades urbanas ou com grandes concentrações populacionais, mas sim do rápido acesso viário
(Fishman, 2005). Os enclaves fortificados compartilham de algumas características: “[...] São
propriedades privadas para uso coletivo e enfatizam o valor do que é privado e restrito ao mesmo
tempo que desvalorizam o que é público e aberto na cidade. São fisicamente demarcados e isolados
por muros, grades, espaços vazios e detalhes arquitetônicos. São voltados para o interior e não em
direção à rua, cuja vida pública rejeitam explicitamente. São controlados por guardas armados e
sistemas de segurança, que impõem as regras de inclusão e exclusão.” (Caldeira, 2000, p. 258)
A principal justificativa para a popularização das tipologias fechadas é o medo da violência
urbana, principalmente pela elite que abdica dos espaços livres, de acesso e circulação, que são
características da vida urbana e do espaço público moderno. O abandono dos valores vinculados ao
espaço público aberto conduz à separação dos grupos sociais e promove homogeneização social, o
que impede a manifestação dos contrastes e a percepção do outro como ator complementar,
dificultando a formação de indivíduos capazes de perceber a importância das cidades e de sua atuação
pública, prevalecendo o individualismo como base para as relações sociais e, consequentemente, para
as formas urbanas.
As tipologias fechadas funcionam como ferramentas que atribuem status social,
estabelecendo uma nova forma de constituir fronteiras entre grupos sociais, criando novas hierarquias
e categorizando, explicitamente, as diferenças como desigualdade. Como é evidenciado nos anúncios
imobiliários, o uso de instrumentos de separação física é completado por uma elaboração simbólica
que transforma enclausuramento, isolamento, restrição e vigilância em símbolos de status. Para Davis
(2009), a defesa do estilo de vida luxuoso provocou a proliferação de novas formas de repressão,
tanto no espaço como no movimento dentro da cidade, apoiada em uma obsessão sem precedentes
por sistemas de segurança física e, consequentemente, do policiamento arquitetônico das fronteiras
sociais. O autor caracteriza esse fenômeno como o ‘espírito da época’ na reestruturação urbana e
coloca como uma das principais consequências da busca incessante pela segurança a destruição do
espaço público acessível. Essa forma de habitar é típica de uma sociedade altamente dividida e se
torna paradigma do crescimento urbano contemporâneo em todo o mundo, inclusive nos países
desenvolvidos (Secchi, 2009).

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As formas e paisagens urbanas moldadas por essas dinâmicas de urbanização não são
facilmente compreendidas e analisadas através dos conceitos e ferramentas tradicionais da morfologia
urbana, como os que foram propostos por Camillo Sitte, Gordon Cullen, Kevin Lynch, Saverio
Muratori etc. Nesse sentido chamamos a atenção para a compreensão dessas dinâmicas e dos seus
resultados formais a partir da abordagem de Solà-Morales (2002). Seu texto propõe cinco categorias
de análise que buscam compreender esse novo território urbano. Para ele, as cidades de hoje são
marcadas por problemáticas bastante distintas das cidades tradicionais e modernas, já que são as
complexas malhas de redes conformadas pelos fluxos materiais e imateriais, assim como os espaços
arquitetônicos inserido nas interconexões desses fluxos, que delineiam os lugares, as funções e as
formas das aglomerações urbanas, que atualmente extrapolam os limites políticos das cidades,
apresentando uma escala de trabalho nunca antes vista. O autor aponta também para a necessidade
de relacionar a produção da arquitetura e do urbanismo com a natureza social contemporânea, cada
vez mais marcada pelas relações virtuais, pelo individualismo, pelos rituais de consumo e gratificação
instantânea dos desejos.
As cinco categorias de análise propostas pelo autor são: ‘mutações’ – a forma das
transformações, ‘fluxos’ – a forma do movimento, ‘habitações’ – a forma da residência,
‘contenedores’ – a forma do intercâmbio e as ‘terras vagas’ – a forma da ausência. A categoria
‘mutações’ busca compreender as dinâmicas de transformação do território urbano através de uma
leitura conjunta das outras categorias, ou seja, é a expressão física da junção dos fluxos, contenedores
e habitações. Nesse artigo usamos essa categoria para enfatizar e delimitar as aglomerações urbanas
contemporâneas que compartilham o mesmo conjunto de características morfológicas, possibilitando
a criação das áreas de estudo aqui analisadas.
A categoria ‘fluxos’ abrange toda a noção de movimento dentro das cidades, desde as redes
de transportes até as redes de informações. Para o autor, é na justaposição desta multiplicidade de
fluxos que se formam os lugares nodais mais poderosos da cidade contemporânea. A categoria
‘habitações’ busca compreender as transformações das habitações contemporâneas e a relação delas
com a cidade. Para o autor, a produção habitacional contemporânea pode ser distribuída em quatro
áreas: (1) as propostas arquitetonicamente renovadoras que pretendem resolver a habitação coletiva
atípica; (2) as habitações que possuem grande liberdade de criação arquitetônica, concedidas por um
cliente ou promotor atípico; (3) as habitações autoconstruídas pelos mais desfavorecidos e que são
caracterizadas pela baixa qualidade do ambiente construído; e (4) as habitações que são concebidas
através de ‘componentes’, como os mobiliários, os equipamentos eletroeletrônicos e os elementos
decorativos.
A categoria ‘contenedores’ aborda os espaços de intercâmbio do capital, os templos de
consumo da sociedade contemporânea. Solà-Morales (2002) alerta que não se trata apenas de um
mercado que se limita aos produtos supostamente necessários para as necessidades básicas das
pessoas, mas sim um equipamento focado no desejo e na gratificação. Espaços onde os limites entre
o público e o privado se confundem, especializados em oferecer todos os tipos de consumo, sejam
eles materiais ou imateriais. O contenedor mais emblemático é o shopping center, cuja proliferação
nas periferias das grandes cidades do mundo constitui, segundo o autor, um dos fenômenos
arquitetônicos e metropolitanos mais poderosos e determinantes dos últimos quarenta anos.
Entretanto, segundo ele, é possível encontrar as mesmas características em museus, estádios, teatros,
parques temáticos de entretenimento, edifícios históricos e centros turísticos, apesar de serem mais
difíceis de serem encontrados nas cidades brasileiras.

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A categoria ‘terra vaga’, traduzida do francês ‘terrain vague’, trata dos territórios que já tiveram
funções importantes no passado, mas que atualmente não possuem mais atividades, ou seja, estão
vagos. São lugares residuais da cidade contemporânea que evocam memórias do passado. As grandes
cidades apresentam muitas áreas que podem ser classificadas por esta categoria, como as áreas
industriais abandonadas, os leitos férreos, as áreas portuárias, as áreas abandonadas por consequência
da violência, os espaços residuais das margens dos rios etc. Essa categoria geralmente está mais
relacionada com as cidades que possuem longa história urbana. Em cidades cujo crescimento urbano
é mais recente, como as cidades brasileiras, é provável encontrar poucos exemplos dessa categoria,
podendo ser confundida com o conceito de vazios urbanos que, por outro lado, são espaços que
nunca foram urbanizados e, consequentemente, nunca tiveram usos. Os vazios urbanos estão
intrinsicamente relacionados com a especulação imobiliária e representam no território as áreas vazias
dentro do perímetro urbano. Caracterizam-se como áreas de reserva para a multiplicação do capital
e não como áreas verdes e abertas com funções ambientais e de lazer. Nas cidades com crescimento
urbano recente, as áreas de vazios urbanos parecem prevalecer sobre as de terras vagas. Enquanto as
terras vagas representam a memória, os vazios urbanos são a moeda de troca dos especuladores
urbanos.

As Tipologias que Conformam as Mutações Urbanas

A localização e a tipificação das habitações e dos contenedores promovidos pelo alto capital
foram o primeiro passo para a delimitação das mutações urbanas. A busca partiu do centro expandido
e foi até o limite municipal de Campinas. Foram encontradas quatro tipologias residenciais
horizontais, cinco tipologias residenciais verticais e quatro tipologias comerciais. [Fig. 1]
As tipologias residenciais horizontais encontradas foram: loteamentos fechados, bolsões de
segurança, condomínios fechados e vilas. A modalidade de loteamentos fechados foi incluída na lei
federal de Parcelamento do Solo Urbano (nº 6.766/1979) através da promulgação da lei de
Regularização Fundiária Rural e Urbana no Brasil (nº 13.465/2007), que institui que o controle de
acesso será regulamentado pelo poder público municipal, sendo vedada a proibição do acesso de
pedestres e condutores de veículos não residentes, devidamente identificados ou cadastrados, o que
não ocorre na prática. Na cidade de Campinas a lei nº 8.732/1996 autoriza o fechamento de
loteamentos urbanos. Na questão morfológica, os loteamentos são grandes áreas muradas
conformadas através de um desenho urbano tradicional, geralmente orgânico ou diagramático, com
no mínimo duas entradas e amplas áreas de lazer e convívio. Os lotes privativos não apresentam
divisão frontal com muros e portões, mantendo relação direta da calçada com a parte frontal da casa.
Os bolsões de segurança são aglomerações urbanas que já integraram a malha pública e,
posteriormente, foram transformadas em ‘bairros fechados’, ou seja, são áreas que foram parceladas
como loteamentos abertos, através da lei federal de parcelamento do solo urbano, e que depois de
um tempo foram fechadas. Em Campinas, a criação dos bolsões de segurança reflete o apelo de uma
parcela da população por espaços mais demarcados e seguros e foi concedida pelo poder público
municipal em 1999, através da criação da lei nº 10.264. Com a aprovação do fechamento, as ruas que
faziam a ligação com a malha urbana passam a ser obstruídas através da construção de muros,
alambrados, floreiras, cancelas, guaritas etc., privando o acesso público a essas áreas e a todos os
equipamentos e infraestruturas urbanas presentes. Essa modalidade não é reconhecida na esfera

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federal e mesmo no âmbito municipal é uma tipologia controversa, visto que alguns bolsões tiveram
que ser reabertos por ordens judiciais.
Os condomínios fechados são regulamentados pela lei nº 4.591/1964, conhecida como ‘Lei
dos Condomínios’, que permite que um ou mais lotes urbanos, portanto dentro de uma área já
loteada, sejam fechados. São encontrados em diferentes formatos, desde pequenos condomínios com
casas idênticas até grandes condomínios com residências de tipologias variadas. Possuem pelo menos
uma entrada controlada, os lotes privativos normalmente não possuem divisão frontal com muros e
portões e possuem áreas de convívio e lazer, variando conforme o tamanho do condomínio.
As vilas são regulamentadas pela lei municipal nº 12.164 de 1994, conhecida como ‘Lei das
Vilas’, que permite que um ou mais lotes urbanos, com no máximo três mil m² somados, sejam
fechados. São formadas por residências geminadas de mesma tipologia, conformadas por ruas sem
saída, geralmente em ‘cul-de-sac’, por uma pequena entrada que pode ou não ter guarita e geralmente
não apresentam áreas de convívio e lazer. As vilas são a tipologia horizontal fechada que menos
impacta o tecido urbano público, proporcionando ainda o aumento da densidade urbana, entretanto
a estética arquitetônica é a mais pobre e genérica.
Já as tipologias residenciais verticais encontradas foram: conjuntos habitacionais,
condomínios verticais de uma torre, condomínios verticais de múltiplas torres, condomínios mistos
e condomínios temáticos. Os condomínios verticais de uma torre foram as primeiras tipologias
multifamiliares a terem controle de acesso e são regulamentados pela mesma lei dos condomínios
citada anteriormente (nº 4.591 de 1964). Em Campinas, os condomínios verticais (aqui nomeados
como tradicionais) começaram a ser implantados na década de 1940 no centro e nos seus bairros
adjacentes. A partir da década de 1990 os condomínios verticais começaram a tomar novas formas,
com múltiplas torres e áreas de lazer privativas, com piscinas, quadras poliesportivas, praças, áreas
gourmets etc., se aproximando dos conceitos de exclusividade e segurança que já estavam sendo
vendidos nos loteamentos e condomínios horizontais.
Os conjuntos habitacionais são um tipo de condomínio bastante parecido morfologicamente
com os conjuntos residenciais voltados aos programas sociais. Em Campinas essa tipologia ganhou
espaço com o programa habitacional federal ‘Minha Casa Minha Vida’, entretanto há casos que não
se relacionam com nenhum programa social. A característica mais marcante é a presença de
apartamentos nos térreos dos edifícios. São conformados por um conjunto de três ou mais edifícios
verticais idênticos, geralmente com até cinco pavimentos. Possuem uma entrada controlada por
guarita, grandes áreas de estacionamento de superfície que ocupam quase toda área aberta e enxutas
áreas de lazer e convívio.
Os condomínios verticais de uma torre representam a tipologia vertical que mais se aproxima
dos condomínios verticais tradicionais. São conformados por uma única torre, com quinze a vinte
pavimentos, uma entrada controlada por guarita, estacionamentos subterrâneos e áreas de convívio
e lazer. Dentre as tipologias verticais é a que possui uma estética menos genérica, o que pode estar
relacionado com a exclusividade que esse tipo de condomínio busca oferecer. Os condomínios
verticais de múltiplas torres diferem por apresentarem pelo menos duas torres idênticas, com quinze
a vinte pavimentos, e geralmente ofertarem menos espaços de convívio e lazer. Já os condomínios
mistos são a tipologia menos recorrente das estudadas, conformada por torres de apartamentos e
casas unifamiliares. A parte vertical é conformada por pelo menos três prédios idênticos, já a parte
horizontal é constituída por lotes para serem construídas casas após a entrega do empreendimento,

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ou por casas já prontas de mesma tipologia. As áreas comuns são utilizadas, em sua grande parte,
para locomoção e estacionamentos, com poucas áreas de convívio e lazer.
Os Condomínios Temáticos, por sua vez, são a tipologia mais nova e a que melhor representa
o apelo midiático à exclusividade e ao luxo, é o condomínio resort. Representa um novo paradigma
das tipologias fechadas que cooptaram diversos aspectos dos clubes de recreio, como a oferta de
diferentes quadras esportivas, piscinas de diversos tamanhos, grandes áreas de convívio com
paisagismo rico e diversificado, churrasqueiras etc. Esta tipologia pode ser conformada apenas por
edifícios verticais ou por edifícios verticais e casas unifamiliares, ou seja, com o uso misto. Possuem
uma grande entrada controlada por guarita, geralmente imponente e acompanhada de ornamentos e
rico paisagismo.
As tipologias comerciais encontradas foram os shopping centers, as grandes lojas e
hipermercados, os malls e os condomínios comerciais. O shopping center é o contenedor (Solà-
Morales, 2002) mais poderoso da cidade contemporânea, é o equipamento catalisador mais
expressivo na formação das mutações periféricas (Turczyn, 2013). Em Campinas eles compartilham
características formais básicas, bastante alinhadas com o conceito de ‘galpão decorado’ (Venturi et al,
2003), ou seja, são grandes edifícios comerciais que possuem uma forma alongada e baixa, com
arquitetura pós-moderna rebuscada por grandes letreiros e propagandas, colocados nas posições e
tamanhos exatos para serem vistos a longas distâncias e altas velocidades. Os edifícios são rodeados
por outdoors, totens publicitários e por vastos estacionamentos a céu aberto, em alguns casos
complementados por estacionamentos subterrâneos ou verticais, cujos limites são marcados por
grades, muros e aparatos de segurança.
As grandes lojas e hipermercados possuem as mesmas características formais dos shoppings
centers, se aproximando ainda mais do conceito de ‘galpão decorado’. As grandes lojas representam
as lojas de departamentos que ofertam produtos voltados para um uso mais específico, como artigos
esportivos (Decathlon) e materiais de construção (Leroy Merlin), enquanto os hipermercados
pontuam os grandes comércios alimentícios que cada vez mais funcionam como uma espécie de
shopping, oferecendo bens que vão além de alimentos e produtos para a casa, como roupas,
ferramentas, pneus, produtos de jardinagem, eletroeletrônicos, bicicletas etc., além de alugarem lojas
nos seus átrios de entrada que ofertam funções complementares, como lotéricas, farmácias, lojas
diversas, tabacarias etc. Assim como os shoppings, os hipermercados pretendem ter uma parte
significativa das funções da cidade.
O mall é uma pequena tipologia comercial, com no máximo dois pavimentos, que está
alinhada ao conceito norte-americano de ‘open-mall’, ou seja, de um centro comercial com lojas
direcionadas para o ambiente externo. Não apresenta delimitações físicas e o estacionamento é
distribuído em torno do edifício. Suas fachadas e limites também são decorados com propagandas e
outdoors. O mall funciona como um centro de facilidades para uma aglomeração urbana que não é
mais movida pela vida pública, uma tipologia com acesso fácil ao carro e que oferta os serviços
básicos, como padarias, farmácias, mercearias, papelarias, cafés e algumas lojas mais exclusivas. É o
shopping center do dia a dia. Por fim, os condomínios comerciais são os contenedores do trabalho
global e coorporativo, podem ser conformados por um ou mais prédios e ofertam uma variedade de
tipos de salas comerciais. São geralmente cercados por grades e não por muros, e apresentam entradas
controladas para os automóveis. Podem apresentar estacionamentos de superfície ou subterrâneos.

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Fig. 1 – Exemplo das tipologias que formam as mutações urbanas. Fonte: elaborado pelos autores.

As Mutações Urbanas de Campinas

A leitura feita para a cidade de Campinas demonstra que, nos últimos 30 anos, a formação
do seu território foi fundamentada basicamente pela expansão rodoviarista, periférica e fragmentada
do seu tecido urbano, conformando aglomerações com características distintas do restante da cidade.
A utilização das categorias propostas por Solà-Morales (2002), como ferramenta para essa leitura,
possibilitou a demarcação de doze áreas que concentram o mesmo conjunto de tipologias e de
formas, denominadas de mutações urbanas [Fig. 2].
As mutações urbanas representam o último momento de expansão de Campinas e são
conformadas pela junção das outras três categorias propostas pelo autor: habitações, fluxos e
contenedores. Em Campinas, a categoria terras vagas não demonstrou possuir relação física ou ser
um indutor na formação das mutações.
A categoria habitações evidencia a forma de morar das mutações, com a oferta única e
exclusiva de empreendimentos mercadológicos do tipo enclaves fortificados, ou seja, de tipologias
habitacionais fechadas e controladas, que se isolam do restante da cidade através de muros e aparatos
de segurança. A categoria fluxos traz a forma de se mover das mutações, materializada principalmente
pelas rodovias, o jeito mais fácil e rápido de transitar com automóveis privativos pela periferia das
cidades. Os equipamentos de conexão dos fluxos rodoviários, como os terminais e aeroportos, não
demonstraram qualquer relação com a formação das mutações urbanas em Campinas, o que evidencia
a forte vocação das mutações para o transporte individual. A categoria contenedores representa os
espaços comerciais, de trabalho e de lazer das mutações, caracterizada especialmente pelos shopping
centers, as novas centralidades periféricas.

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Fig. 2 – Mapa da cidade de Campinas com a localização das Mutações Urbanas. Fonte: elaborado pelos autores.

As mutações campineiras são conformadas por um conjunto de nove tipologias habitacionais


e de quatro tipologias de contenedores [Fig. 3, Fig. 4 e Fig. 5]. As tipologias habitacionais mais
impactantes na sua formação, seja pelo seu tamanho ou quantidade presente, são os loteamentos
fechados, condomínios fechados, vilas e condomínios verticais com múltiplas torres, o que define o
caráter essencialmente horizontal e de baixa densidade dessas aglomerações, características típicas do
espraiamento urbano. Já o contendor mais emblemático e impactante na formação das mutações é o
shopping center, que funciona tanto como catalisador quanto como suporte para o funcionamento
das mutações. As tabelas 1 e 2 mostram a quantificação das tipologias nas mutações urbanas
estudadas.
Em Campinas, as mutações urbanas aparecem de três formas diferentes no território:
próximas aos limites urbanos – mutações peri-urbanas, inseridas na malha urbana consolidada –
mutações intra-urbanas, e dentro de distritos com vocações específicas – mutações distritais. As mais
emblemáticas e impactantes para a paisagem são as mutações peri-urbanas Iguatemi, Galleria, Dom
Pedro, Alphaville, Swiss Park, CEASA e Carrefour Valinhos, juntas elas possuem 74% das unidades
habitacionais e de contenedores encontrados, ocupando 64% da área. Além da proximidade com o
limite urbano, essas mutações possuem outras duas características essenciais: são estruturadas pelos
eixos rodoviários - sua espinha dorsal, e apresentam possibilidades de expansão e conurbação com
outras mutações, já que são entremeadas e rodeadas por vazios urbanos.

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As mutações Iguatemi, Galleria, Dom Pedro, CEASA e Alphaville estão localizadas na região
norte de Campinas, vetor de crescimento da população de renda média-alta e alta. As quatro primeiras
estão implantadas nas margens da rodovia Dom Pedro I, uma das rodovias que formam o anel viário
de Campinas, tornando esse eixo o mais importante na estruturação das mutações, não apenas pela
quantidade de mutações, mas também pela quantidade de vazios urbanos que possibilitam suas
expansões. As mutações Swiss Park e Carrefour Valinhos estão situadas nas regiões sul e sudeste
respectivamente, áreas que foram ocupadas majoritariamente por população de baixa renda, mas com
o desenvolvimento das mutações começaram a atrair também a classe média.
Campinas apresenta três mutações intra-urbanas, as mutações Unimart, Parque Prado e
Extra Abolição, juntas elas possuem 13% das unidades habitacionais e de contenedores, ocupando
apenas 4% da área total. Além de ocuparem pouca área, elas também representam as mutações que
melhor se conectam com a malha urbana tradicional, ou seja, é a forma mutacional mais branda com
o entorno. As mutações intra-urbanas são estruturadas nas margens de avenidas arteriais, aqui
nomeadas de avenidas de ligação, pois conectam as áreas centrais com as rodovias. Apesar das
rodovias não funcionarem como eixo estruturador para a forma das mutações, elas estão muito
próximas e o acesso é feito de forma rápida e fácil pelas avenidas de ligação, sendo essenciais para o
seu funcionamento. Outra característica que marca as mutações intra-urbanas é a baixa ou nenhuma
possibilidade de expansão, já que acontecem em áreas inseridas dentro do tecido consolidado da
cidade. Essas três mutações estão localizadas também na região sul e sudeste de Campinas,
fortificando a vocação desses vetores como eixo de expansão da classe média campineira nas últimas
décadas.
As duas últimas mutações urbanas, nomeadas de Sousas e Barão Geraldo, se desenvolvem
nos distritos com seus respectivos nomes. Diferente dos outros dois tipos de mutações, que se
conformam como uma entidade própria e mais independente do restante da cidade, as mutações
distritais se estruturam entorno do tecido tradicional dos distritos, apresentando uma dependência
maior das suas infraestruturas viárias e de serviços. Apesar dessa característica, possuem grande
impacto na conformação do território, já que apenas essas duas mutações possuem 32% de toda a
área ocupada pelas tipologias estudadas, o que representa 13% das unidades totais. Assim como nas
mutações intra-urbanas, as distritais se estruturam nas margens das avenidas de ligação, mas com o
suporte essencial das rodovias. Esses dois distritos de Campinas sempre foram marcados pela
apropriação da população de renda média-alta e alta.
Além dessas características que diferenciam as mutações urbanas, uma outra questão que
distingue o desenvolvimento e a forma delas é o fator catalisador, aquilo que impulsionou o seu
surgimento e crescimento. Foram encontrados cinco catalisadores diferentes: os shopping centers,
os hipermercados, os grandes empreendimentos imobiliários, a idealização da natureza e as
instituições de ensino, pesquisa e tecnologia. Os dois catalisadores mais fortes e que impulsionaram
as maiores mutações intra e peri-urbanas são os shopping centers (mutações Iguatemi, Galleria, Dom
Pedro e Unimart) e a implantação de grandes empreendimentos imobiliários (mutações Alphaville,
Swiss Park e Parque Prado). As mutações catalisadas pelos shoppings possuem uma variedade maior
de tipologias e possuem nesse equipamento a sua centralidade principal, são as mutações que
apresentam a conformação mais emblemática e completa, segundo os conceitos de Solà-Morales
(2002). Já as mutações catalisadas por grandes empreendimentos apresentam uma variedade menor
de tipologias, geralmente focados em um ou dois tipos, e tem nos malls a sua principal centralidade.
As mutações catalisadas pelos shoppings apresentam um processo de crescimento mais lento e com

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várias etapas, já as dinamizadas pelos grandes empreendimentos possuem um crescimento curto e


rápido, com a implantação da maior parte das tipologias já no começo do processo mutacional.
As mutações que possuem os hipermercados como catalisadores são pequenas e não
possuem variedade tipológica, são as mutações CEASA, Extra Abolição e Carrefour Valinhos, juntas
elas possuem apenas 4% das unidades e da área ocupada pelas tipologias. Um outro fator notado foi
que a primeira tipologia implantada nessas mutações foi o contenedor e apenas após um intervalo de
tempo houve a inserção das tipologias residenciais na área. O hipermercado é a centralidade dessas
mutações, que funciona como uma espécie de shopping, com uma variedade de produtos e serviços
que vão muito além do típico mercado.
Já as mutações distritais tiveram outros catalisadores, que não são contenedores ou
empreendimentos imobiliários, mas sim a vocação do próprio distrito. A mutação Sousas foi
impulsionada por ter relação estreita com a natureza, já que está inserida totalmente em uma Área de
Proteção Ambiental (APA). Esse distrito sempre teve vocação recreativa em Campinas, não apenas
pelos grandes loteamentos que buscam características campestres, mas também pelos vários clubes
de campo, pesqueiros, restaurantes temáticos, campings etc. O catalisador aqui é a idealização da
natureza e da qualidade de vida advinda dela. Por outro lado, a mutação Barão Geraldo foi
impulsionada pela implantação de instituições de ensino, pesquisa e tecnologia, e o seu crescimento
acompanhou a importância que essas instituições ganharam no decorrer do tempo, não apenas para
a cidade, mas para todo o país.

Quantidade Total Relativa


Quantidade Total Ocupada
Tipos Horizontais Tipos Verticais Contenedores
Condomínio Fechado

com Múltiplas Torres


Loteamento Fechado

Condomínio Vertical

Condomínio Vertical
Bolsão de Segurança

por Mutação (un)

por Mutação (%)


Condomínio Misto

Shopping Center
com uma Torre
Habitacional

Gdes Lojas e
Condomínio

Condomínio

Hipermerc
Comercial
Temático
Conjunto

Mall
Vila

Mutações Urbanas
Iguatemi 12 5 57 16 1 3 9 4 0 5 2 4 1 119 22%
Galleria 0 6 18 6 1 0 0 3 1 4 1 2 1 43 8%
Dom Pedro 4 0 32 52 11 14 39 4 0 1 2 2 1 162 30%
Unimart 0 0 0 0 0 2 6 0 0 0 1 3 1 13 2%
Alphaville 0 9 15 4 0 0 4 1 0 5 1 1 0 40 8%
Swiss Park 0 15 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 16 3%
Parque Prado 0 1 2 1 22 1 7 11 0 0 0 1 1 47 9%
CEASA 0 0 0 0 2 0 0 0 0 1 0 5 0 8 2%
Extra Abolição 0 0 0 0 1 0 3 0 0 0 0 2 0 6 1%
Carrefour Valinhos 0 0 0 0 4 0 2 0 0 0 0 1 0 7 1%
Sousas 0 8 13 0 0 0 0 0 0 0 3 4 0 28 5%
Barão Geraldo 2 4 29 3 0 0 0 0 0 0 1 4 0 43 8%
Qtde por Tipologia (un) 18 48 166 82 42 20 70 23 1 17 11 29 5 532 100%
Qtde Total Relativa (%) 3% 9% 31% 15% 8% 4% 13% 4% 0% 3% 2% 5% 1% 100,0%
Tabela 1 - Quantidade de unidades por tipologia e por mutação. Fonte: elaborado pelos autores.

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Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de implantação. Daniel Teixeira Turczyn et al

Tipos Horizontais Tipos Verticais Contenedores

Área Total Ocupada por

Área Total Relativa por


Condomínio Fechado

com Múltiplas Torres


Loteamento Fechado

Condomínio Vertical

Condomínio Vertical
Bolsão de Segurança

Condomínio Misto

Shopping Center

Mutação (ha)

Mutação (%)
com uma Torre
Habitacional

Gdes Lojas e
Condomínio

Condomínio

Hipermerc
Comercial
Temático
Conjunto

Mall
Vila
Mutações Urbanas

Iguatemi 99,7 219,6 94,0 3,0 0,5 0,7 9,6 4,2 0,0 2,8 0,9 15,1 11,8 461,9 17%
Galleria 0,0 139,7 33,9 1,2 0,7 0,0 0,0 17,3 8,9 5,7 0,4 9,6 9,6 226,9 8%
Dom Pedro 68,8 0,0 31,3 8,9 9,1 5,6 24,7 6,4 0,0 0,7 0,9 1,3 46,2 204,0 7%
Unimart 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,8 2,9 0,0 0,0 0,0 0,5 5,2 2,9 12,3 0%
Alphaville 0,0 476,4 33,9 0,8 0,0 0,0 5,1 1,0 0,0 17,2 0,3 3,7 0,0 538,3 19%
Swiss Park 0,0 255,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,6 0,0 0,0 0,0 261,1 9%
Parque Prado 0,0 17,3 3,5 0,3 32,4 0,6 10,7 10,7 0,0 0,0 0,0 1,6 1,6 78,7 3%
CEASA 0,0 0,0 0,0 0,0 5,6 0,0 0,0 0,0 0,0 5,2 0,0 55,7 0,0 66,5 2%
Extra Abolição 0,0 0,0 0,0 0,0 2,0 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,5 0,0 16,5 1%
Carrefour Valinhos 0,0 0,0 0,0 0,0 6,9 0,0 5,5 0,0 0,0 0,0 0,0 9,8 0,0 22,1 1%
Sousas 0,0 636,5 21,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,1 2,3 0,0 665,7 24%
Barão Geraldo 13,8 120,8 75,6 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 2,0 0,0 213,3 8%
Área por Tipologia (ha) 182,2 1865,8 294,0 14,9 57,2 7,8 63,5 39,5 8,9 37,2 8,5 115,8 72,1 2.767,3 100%
Área Total Relativa (%) 7% 67% 11% 1% 2% 0% 2% 1% 0% 1% 0% 4% 3% 100%
Tabela 2 - Área ocupada (em hectares) pelas tipologias por mutação. Fonte: elaborado pelos autores.

Fig. 3 – Mutações urbanas de Campinas e suas tipologias (Parte 1/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

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Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de implantação. Daniel Teixeira Turczyn et al

Fig. 4 - Mutações urbanas de Campinas e suas tipologias (Parte 2/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

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Mutações Urbanas em Campinas: suas tipologias e padrões de implantação. Daniel Teixeira Turczyn et al

Fig. 5 - Mutações urbanas de Campinas e suas tipologias (Parte 3/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

A Forma da Implantação das Mutações Urbanas

A partir de todas as características formais que foram descritas para as mutações urbanas de
Campinas, foi realizada uma análise para apurar quais são os padrões de implantação mais recorrentes
e que melhor caracterizam o espaço construído dessas áreas. A busca pelos padrões de forma das
mutações está focada nas questões de implantação, portanto são padrões que foram compreendidos
a partir das imagens aéreas. Foram encontrados dezoito padrões que dão forma à implantação das
mutações, divididos em cinco grupos. O primeiro grupo trata da Situação Espacial das mutações em
relação ao perímetro urbano. O segundo traz os Espaços dos Fluxos, as formas que viabilizam a
mobilidade. O terceiro trata da Composição Territorial das mutações, como as tipologias são
colocadas no espaço. O quarto aborda a Relação entre os Enclaves, como eles se conectam. E o
último trata dos Limites das mutações, como elas se relacionam com o entorno [Fig. 6]. Cada padrão
é explicado nas próximas páginas [Fig. 7, Fig. 8 e Fig. 9].

Fig. 6 – Esquema dos padrões de implantação das mutações urbanas. Fonte: elaborado pelos autores.

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Fig. 7 - Padrões de implantação das mutações urbanas (Parte 1/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

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Fig. 8 - Padrões de implantação das mutações urbanas (Parte 2/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

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Fig. 9 - Padrões de implantação das mutações urbanas (Parte 3/3). Fonte: Elaborado pelos autores.

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Conclusões

A utilização do conceito ‘mutações urbanas’ para a análise das formas e paisagens das áreas
de crescimento recente da cidade de Campinas mostrou-se eficaz e capaz de delimitar aglomerações
que compartilham de um mesmo conjunto de tipologias e de características morfológicas. As
mutações urbanas representam um modo de fazer cidades que se estrutura através de formas e de
elementos que são fundamentalmente diferentes dos que conformaram as cidades e as aglomerações
urbanas tidas como tradicionais, ou seja, aquelas que eram moldadas em função da criação de espaços
públicos que davam suporte à vida urbana.
Os elementos tradicionais que fundamentavam a urbanidade da cidade, como ruas
comerciais, praças, lotes residenciais voltados para a rua, fachadas, marcos, quintais, portas, janelas,
bancos, floreiras e, o mais simbólico, pedestres, cederam lugar à um conjunto tipológico e
morfológico que enfatiza o espaço privado em detrimento do público, bem como o espaço do
movimento rápido e irrestrito no lugar dos espaços de permanência. São aglomerações urbanas
estruturadas por rodovias, avenidas arteriais, grandes empreendimentos murados fora da escala do
entorno, espaços de convívio e lazer privados e enclausurados, muros, grades, guaritas, aparatos de
segurança, policiamento privado, outdoors, marcos publicitários, grandes estacionamentos e, claro,
muitos automóveis individuais, que são escala base de projeto das mutações.
O ambiente urbano das mutações é basicamente genérico e não apresenta qualquer tipo de
singularidade significativa, podendo ser locado em qualquer lugar. São aglomerações que foram feitas
para a ausência de pedestres, onde cada elemento e cada espaço projetado foram pensados para inibir
qualquer manifestação de vida pública que não seja a do movimento rápido. Por outro lado, os
empreendimentos privados que compõem as mutações estão cada vez mais inseridos na lógica do
mercado que, através de uma orquestração meticulosa dos meios midiáticos, dos órgãos públicos
generosos e permissivos e da população ignorante em viver em comunidade, ofertam a um preço alto
uma série de amenidades e facilidades que visam substituir as qualidades e os ambientes que eram
inerentes da cidade. O modo que essa dinâmica ocorre é perversa, aferindo status e prestígio a
questões que já foram e deveriam ser universais e públicas como, por exemplo, a segurança e os
espaços de convívio e lazer.
O território mais fértil para a criação de mutações são os vazios urbanos localizados
próximos ao limite urbano municipal e margeados por rodovias, nomeadas nesse trabalho como
mutações peri-urbanas, pois são os espaços ainda não parcelados que podem ser divididos conforme
a necessidade do mercado imobiliário, criando manchas urbanas privativas totalmente fora da escala
do entorno e do pedestre. Estão localizadas próximas das áreas rurais, de proteção ambiental e de
riquezas naturais, que são rapidamente apropriadas como moeda de valoração pelo mercado,
aparecendo nos folhetos e propagandas promocionais de forma idílica, suave e harmoniosa,
entretanto não existe qualquer relação entre os empreendimentos e essas áreas, que são negadas assim
como os bairros tradicionais do seu entorno.
O catalisador mais poderoso e emblemático na formação das mutações urbanas é o
contenedor shopping center, o equipamento privado responsável por abrigar as facilidades
necessárias da vida urbana, como os comércios e serviços. As tipologias fechadas mais comuns são
os loteamentos fechados, condomínios fechados, conjuntos habitacionais e condomínios verticais de
múltiplas torres. Enquanto os shoppings são a reprodução mercadológica da rua comercial e dos

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espaços de lazer e convívio, as tipologias residenciais fechadas são a versão mercadológica do habitar
e do viver em comunidade.
Apesar dos resultados evidenciarem uma dinâmica de crescimento urbano pautado no
desenvolvimento de mutações urbanas com baixa qualidade urbana, paisagística e funcional, entende-
se que é necessário compreender essa dinâmica e seus resultados sem condená-los, já que representam
o ‘espírito da época’ em fazer cidades. As tipologias e os padrões de formas encontrados discutidos
nesse artigo podem ajudar na discussão sobre o desenvolvimento urbano, evidenciando os resultados
e impactos que esse tipo de urbanização vem impondo na formação das cidades, assim como a
reflexão sobre se esse é o paradigma de urbanização que devemos continuar adotando como
instrumento de expansão urbana.

Referências

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