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YAGO RADIUC

RESUMO: HERANÇA JACENTE E VACANTE

Utilizado para disciplina de Direito civil


sucessões, do curso de Graduação em Direito,
do Centro Universitário UniDomBosco
(UNIDBSCO).

CURITIBA
2018
HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
Yago Radiuc1

INTRODUÇÃO

A Abertura da Sucessão (também chamada de delação ou devolução sucessória)


se dá no momento da constatação da morte comprovada do de cujus (expressão latina
abreviada de cujus successione agitur – aquele que cuja sucessão se trata, ou seja, a
pessoa que faleceu).
O Princípio Básico do Direito das Sucessões é conhecido como Droit de Saisine ou
apenas Saisine (direito de posse imediata), sendo assim transmite-se de forma
automática e imediata. O domínio e a posse da herança aos herdeiros legítimos e
testamentários do de cujus, sem solução de continuidade (sem interrupção) e ainda que
estes (os herdeiros) ignorem o fato (art. 1.784 CC).

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde


logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

Não necessita da prática de qualquer ato, deverá especificamente proceder a


abertura de inventário para se verificar os bens deixado e o que será transmitido. Cabe
ressaltar que apenas será aberta a sucessão se o herdeiro sobrevive ao de cujus. O
herdeiro que sobrevive ao de cujus, ainda que por um instante, herda os bens por ele
deixado e os transmite aos seus sucessores, se o mesmo falecer em seguida, neste caso
haverá a necessidade de apuração da capacidade sucessória.

1 – HERANÇA JACENTE

Conforme (Bevilacqua 2000, p.52) a herança jacente é aquela cujo os herdeiros


são ainda desconhecidos.

1 Acadêmico de Direito do Centro Universitário Unidombosco


Quando o falecido não deixar testamento nem herdeiros conhecidos (legítimos ou
testamentários) até mesmo se os herdeiros recusarem a herança, seus bens serão
arrecadados, sendo nomeado uma pessoa conhecida como curador que terá o encargo
de conservá-los e administrá-los.
A principal característica da herança jacente é a transitoriedade da situação dos
bens, que não goza de personalidade jurídica; é uma universalidade de direitos, embora
seja um patrimônio especial. Para a citação são expedidos e publicados editais
convocando eventuais sucessores.
Sendo reclamada, no entanto, pelo respectivo herdeiro, será a ele disponibilizada,
não o sendo, será convertida em herança vacante.
Conforme Stolze (2015);

A herança jacente é aquela em que o falecido não deixou


testamento ou herdeiros notoriamente conhecidos.

O código civil brasileiro definiu a herança jacente e enumera os casos em que ela
ocorra a partir dos artigos 1819 ao 1823:

Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem


herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança,
depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração
de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.

1.1 – Arrecadação da herança jacente

Conforme Cahali e Hironaka (2012, p.88):

Não é de interesse do Estado manter o patrimônio de pessoa


falecida exposto a eventuais abusos de terceiros, até por que,
na falta de outros herdeiros legítimos ou testamentários, será
ele o titular da herança, em beneficio, indiretamente, da própria
sociedade.
Estando instaurado o processo, o CPC, estabelece o procedimento a ser adotado
para a arrecadação dos bens, sendo assim:

Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança,


o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá
imediatamente à arrecadação dos respectivos bens.

Sendo assim o artigo 738, estabelece o procedimento para a arrecadação de bens,


a ser promovido pelo juiz que estabelecerá ao oficial de justiça que acompanhado do
escrivão ou chefe de secretária e do curador para arrolar os bens e descrevê-los em
autocircunstanciado. O Ministério Público e o representante da Fazenda Pública serão
chamados para assistir a arrecadação, não sendo entretanto, necessária a presença
deles, bastando a respectiva intimação. Caso não apareçam herdeiros e não haja
nenhuma habilitação, será a herança declarada vacante, isto depois de transcorrido o
prazo de um ano da primeira publicação, conforme expresso no artigo 1.820 do Código
Civil e reforçado pelo 743 do CPC

Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e


ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei
processual, e, decorrido um ano de sua primeira publicação,
sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a
herança declarada vacante.

Art. 743. Passado 1 (um) ano da primeira publicação do edital e


não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente,
será a herança declarada vacante.

Em síntese, a herança jacente é aquela em que os herdeiros não são conhecidos,


ou, quando conhecidos renunciaram a mesma, assim sendo, o Estado arrecada o
patrimônio com o intuito de conservá-lo e entregá-lo posteriormente aos que
comprovarem sua qualidade de herdeiro, ou, permanecendo ausentes os sucessores será
declarado o acervo vacante, transferindo-a ao domínio a esfera municipal, do distrito
federal ou União.
Logicamente, a administração pública não é herdeira, pois não lhe é concedido o
direito de saisine (direito de posse imediata), desta forma, não se torna proprietária dos
bens da herança no momento da morte do de cujus, como acontece com aos demais
herdeiros.
Estabelece, segundo Monteiro, a diferença entre a herança jacente e a herança
vacante.

A primeira consiste num estado de fato meramente transitório,


no qual a herança é conservada, até que, observado o devido
processo legal, venha a ser declarada sua vacância,
declaração judicial que defere a propriedade dos bens jacentes
ao ente público. (MONTEIRO, 2003, p. 2).

Nas palavras de Cahali e Hironaka (2012, p. 91), “superada a fase de investigação


e habilitação de herdeiros, sendo aquela frustrada e esta rejeitada, a herança jacente tem
seu fim com a declaração de vacância”. Conforme institui o Código Civil:

Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem


herdeiro legítimo notoriamente conhecido, os bens da herança,
depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração
de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente
habilitado ou à declaração de sua vacância.

1.2 – Declaração de herança vacante

Herança vacante se torna aquela que não possui herdeiros ou os mesmos não se
apresentaram. Passado um ano da primeira publicação de editais e não havendo
herdeiros habilitados, nem a habilitação pendente, esta herança será considerada
vacante; poderá existir herança jacente, sem a vacante, mas o inverso é inconcebível. A
sentença que reconhece vacante a herança tem como principal característica o fato de
ser constitutiva. Os efeitos da decisão advêm de seu trânsito em julgado, ainda que sob
condição resolutiva, conforme artigo 1822 e 1823 do Código Civil de 2002.

Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não


prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem; mas,
decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito
Federal, se localizados nas respectivas circunscrições,
incorporando-se ao domínio da União quando situados em
território federal.
Parágrafo único. Não se habilitando até a declaração de
vacância, os colaterais ficarão excluídos da sucessão.

Quando todos os herdeiros chamados a suceder renunciam a herança, ela é


declarada vacante de imediato, por isso é também denominada de vacância sumária,
conforme ensina Hironaka (2012, p. 192):

Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem


à herança, será esta desde logo declarada vacante.

O sentido do prazo na declaração da vacância está na possibilidade de existir


algum herdeiro, mas partir do momento em que todos renunciam, não se justifica a
espera, sendo assim podendo a herança ser declarada vacante.
Com o transitado em julgado da sentença de declaração da vacância, os bens são
destinados para a Entidade Pública onde se localizarem os bens, passando ao domínio
do Município ou do Distrito Federal.
Essa destinação gera a propriedade resolúvel, pois, se no prazo de cinco anos da
abertura da sucessão aparecer algum herdeiro ele poderá manejar ação de petição de
herança. Porém, transcorridos os cinco anos a propriedade se efetiva assim não havendo
mais possibilidade dos herdeiros manejarem ação de solicitação desta herança em face a
vacância, esta herança será definitivamente incorporada ao patrimônio público.

1.3 – Procedimento

O procedimento se inicia com a portaria lavrada pelo juiz nomeando curador para a
herança e designando data e horário para realização da arrecadação. O CPC é bastante
objetivo e minucioso na descrição do procedimento para essa arrecadação:

Art. 740. O juiz ordenará que o oficial de justiça, acompanhado


do escrivão ou do chefe de secretaria e do curador, arrole os
bens e descreva-os em autocircunstanciado.
A arrecadação será suspensa se por ventura algum herdeiro reclame os bens
durante o seu trâmite. O objetivo do procedimento de arrecadação é organizar e alinhar
os bens que compõem esta herança jacente e direcioná-los para o curador. Ele deverá
cuidar da guarda, conservação e administração desses bens.

Como salientam Cahali e Hironaka (2012):

[...] na falta de outras pessoas sucessíveis, por lei ou por


testamento, herda o Município em reconhecimento da
colaboração prestada ao indivíduo na aquisição e conservação
da riqueza. Por índole e por conteúdo seu direito sucessório
não diversifica do outorgado aos demais herdeiros e com
precedência legal. A bem dizer, como lembra BUTERA, o
Município é verdadeiramente o único herdeiro forçado. Para
qualquer outra pessoa sucessível, física ou jurídica, vigora o
princípio ‘só é herdeiro quem quer’. Como relação à pessoa de
direito público, entretanto, exclui-se o princípio. O Município,
sive velit, sive nolit, é sempre herdeiro, independentemente de
aceitação, não se lhe concedendo direito de renúncia.

Após a arrecadação dos bens, o juiz mandará expedir edital que será amplamente
divulgado em conformidade com art. 741 do CPC. O objetivo do edital é tornar público o
procedimento da herança jacente para que possíveis sucessores do falecido se habilitem
no procedimento no prazo de 06 (seis) meses.

Na hipótese de habilitação do herdeiro julgado procedente e ainda quando


reconhecida a qualidade do testamenteiro ou provada a identidade do cônjuge ou
companheiro, a arrecadação será convertida em inventário. O juiz pode autorizar a
alienação dos bens arrecadados nas hipóteses previstas no art. 742 do CPC.

2 – HERANÇA VACANTE

Conforme determina o art. 1.822 do Código Civil, a declaração de vacância da


herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem.
Art. 1.822. A declaração de vacância da herança não
prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem [...]

Superada esta primeira fase, os bens são transmitidos para a propriedade do


Estado (em sentido amplo), porém, ainda não de forma plena, apenas resolúvel
(propriedade resolúvel —> é a que pode se “resolver”, ou seja, se extinguir).
Somente após 05 (cinco) anos da abertura da sucessão a propriedade passará
para o domínio público (Município, Distrito Federal ou União). Caso compareça algum
herdeiro, converte-se a arrecadação em inventário regular.
O Poder Público, pelo atual Código, não consta mais do rol de herdeiros apontados
na ordem de vocação hereditária, assim portanto se tornando um sucessor irregular,
desde que haja sentença que declare a vacância dos bens.
Aos herdeiros que não se habilitaram até a declaração de vacância, poderão
pleitear os seus direitos através de ação autônoma (petição de herança) e não mais por
simples habilitação no processo, esta garantia não se aplica aos herdeiros colaterais, que
serão excluídos da sucessão, caso não se habilitem até a declaração de vacância.

2.1 – Destinação

Decorridos cinco anos da abertura da sucessão e não havendo herdeiros, os bens


arrecadados serão destinados ao domínio do Município ou do Distrito Federal, como já
explicado anteriormente.

A segunda parte do art. 1.822 do Código Civil determina ainda que se os bens
estiverem localizados em algum território federal, eles serão incorporados à União.

Art. 1.822. [...] mas, decorridos cinco anos da abertura da


sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do
Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas
circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando
situados em território federal.

É importante salientar, nossa Constituição cidadã de 1988 colocou fim aos


territórios federais então existentes. Desta forma, no momento, essa segunda parte do art.
1.822 do Código Civil não será aplicável, haja vista atualmente inexistem territórios em
nossa federação.

Os credores da herança poderão habilitar-se como nos inventários até a


declaração de vacância ou propor a ação de cobrança para recebimento dos valores,
quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo
declarada vacante conforme artigo 1823 do CC.

Art. 1.823. Quando todos os chamados a suceder renunciarem


à herança, será esta desde logo declarada vacante.

Sendo assim, o Município está obrigado a destinar o dinheiro da herança para


fundações destinadas ao desenvolvimento do ensino universitário, sob a fiscalização do
Ministério Público.

No entanto, há três correntes doutrinárias a respeito da destinação do dinheiro; a


primeira defende que o Município deve alterar seu plano diretor e criar uma universidade
na cidade. Já a segunda corrente, denominada de moderadora e que tem o maior número
de adeptos, defende que, se o Município não tem universidade, deve aplicar o dinheiro na
educação de base. Por fim, a terceira corrente defende que, se o Município não tem
universidade, deve aplicar o dinheiro como bem entender.

CONCLUSÃO

Em suma, a jacência é transitória por natureza. Sílvio de Salvo Venosa esclarece


que o estado de jacência é simplesmente uma passagem fática, transitória. Assim, os
bens dessa herança serão entregues aos herdeiros que se habilitarem, ou então será
declarada a herança vacante.

Portanto, a vacância é o estado definitivo da herança que já foi jacente, onde a


sentença que declara vaga a herança põe fim à imprecisão que caracteriza a situação de
jacência, estabelecendo a certeza jurídica de que o patrimônio hereditário não tem titular
até o momento da delação ao ente público, quando o curador é obrigado a entregar a
herança ao Poder Público.
BIBLIOGRAFIA

BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das sucessões. v. I. Campinas: Red Livros, 2000.

BRASIL. Código Civil 2002.

BRASIL. Código Processo Civil 2015.

CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda M F Novaes. Direito das Sucessões. 3.


ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

STOLZE, Pablo. Novo curso de Direito Civil, vol. VI. São Paulo: Ed. Saraiva, 2015.

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