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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RELATÓRIO PRIMEIRO
CONTATO
Psicologia do Desenvolvimento II

Pedro Scarpa

VE41

São Paulo
2019
Dados de Identificação
Nome da criança: Melissa
Data de nascimento: 17/07/2010
Sexo: Feminino
Idade: 9 anos

Nome da mãe: Keyla


Sexo: Feminino
Idade: 38 anos
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Secretária de Escola Estadual

Nome do pai: Jader


Sexo: Masculino
Idade: 48 anos
Escolaridade: Médio-completo
Profissão: Guarda municipal

Nome da irmã: Ingrid


Sexo: Femino
Idade: 4 anos

Melissa tem uma irmã chamada Ingrid, que tem 4 anos de idade. Segundo a
mãe, Keyla, ambas se dão bem. Keyla e Jader estão casados há 15 anos e
dizem ter um bom relacionamento.

De acordo com Keyla, a condição socio-econômica é estável, a partir do


trabalho de ambos eles levam uma vida confortável.

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1. Histórico Desenvolvimental
A entrevista teve início com a chegada do aplicador, e o local escolhido foi a
casa da mãe de Keyla, porque segundo ela sua própria casa estava em reforma, e
esta atrapalharia a conversa. Keyla havia sido informada com antecedência sobre
como proceder com Melissa durante a aplicação das atividades, então julgou ser
melhor que fossem realizadas num espaço sem barulho mas que ainda era familiar a
criança. Essa atitude pode destacar um zelo e um comprometimento com a
atividade, visto que o comportamento inicial de Keyla foi muito receptivo e
entusiasmado com a aplicação.

A criança foi introduzida e já a plena vista parecia ter uma idade superior a de
9 anos pela desenvoltura física e altura. Foi cordial nas apresentações, sempre
mantendo a linha dos olhos baixa e com as pernas próximas e os braços juntos e
segurados, o que evocou uma atenção especial do aplicador a prestar atenção a
autoestima na hora da confecção dos desenhos e do diálogo com a criança, como
um primeiro dado importante.

A criança acompanhou o aplicador e a mãe até a sala onde estes


conversariam, e nunca olhava diretamente para o aplicador, denotando vergonha ou
estranhamento frente a figura estranha. Melissa foi solicitada a deixar a sala visto
que começaríamos pela entrevista, mas rejeitou fortemente a ideia balançando a
cabeça negativamente e dizendo que não queria. A mãe ralhou com ela e mandou-a
para fora, e ela saiu da sala, mas foi percebido que ficou no corredor, ouvindo a
conversa, e depois de um tempo a mãe com um ar cansado pediu para que ela
voltasse, e a criança parecia feliz de ser solicitada. Então a entrevista foi realizada
em sua maior parte, com a presença de Melissa.

Keyla relata que realizou o pré-natal com acompanhamentos mensais ao


médico, que não fez uso de nenhuma substância ilícita, álcool, drogas ou remédios
que poderiam prejudicar o desenvolvimento. A mãe também relata que a gravidez foi
planejada e muito aguardada.

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Melissa nasceu com 58cm e 3,85kg e APGAR de 9 com um parto normal, que
segundo a mãe foi “muito rápido”, dando entrada no hospital pela noite e tendo
liberação médica pela manhã. Relata que já estava em casa no dia seguinte com a
filha, e que não houve complicações posteriores. A mãe diz também ter estranhado
a filha, e em um tom jocoso comenta “Achei que não era minha filha. Grande desse
jeito, e branca, falei - Não é minha, devolve que a mãe dela tá sentindo falta!”, esse
momento é marcado por uma demonstração de afeto onde Keyla e Melissa riem
juntas e se abraçam, o que possivelmente destaco um vínculo saudável e afetivo.
Keyla relata também que quando Melissa nasceu, havia um surto de gripe suína, e
que ela tinha muito medo de que a filha recém-nascida fosse infectada, então
passou os primeiros dois meses quase sem sair de casa, o que ela relata como uma
experiência desgastante e cansativa.

Referente a Jader, o pai, é informado que durante esse processo, a função de


suprir financeiramente ficou a cargo dele, e este por sua vez trabalhava muito,
segundo a mãe, e, portanto, era “insuportável”. Melissa chorava muito, e Keyla relata
que isso deixava o pai muito irritado por conta do cansaço, mas que ela também
ficava irritada com ele. O problema se resolveu quando ela saiu de casa e foi morar
com a mãe, sem um rompimento formal, visto que é a casa da frente, e esta seria
uma mudança provisória.

Melissa tinha muitas cólicas, e segundo a mãe chorava muito, mas era um
bebê “comportado” e “bonzinho”, em suas palavras, e começou a engatinhar com 6
meses de idade, onde por relato foi dito que ela era “um gênio”, e que desenvolveu
sua motricidade sem muitos “erros”, caindo relativamente pouco, e dominando o
caminhar num tempo que a mãe julgou recorde. Referente a andar, Melissa
começou com 11 meses.

Considerando o aspecto da fala, Keyla relata que Melissa balbuciava


frequentemente, e que com 1 ano, a menina conseguia “decorar” as figuras e sabia
qual desenho estava passando na TV por conta dos personagens. A mãe chega
inclusive a dizer que Melissa decorava o formato das letras e sabia o nome do
desenho em questão por conta disso, e chama isso de “memória fotográfica”. A

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formação de frases completas se deu com 1 ano e 3 meses, e a mãe ressalta que
não houve muitos problemas, que ela sempre “falou certinho”.

Nesse ponto da entrevista, a mãe devaneia a respeito das capacidades


cognitivas da filha, e diz que todas as professoras de primário de Melissa indicavam
pra ela fazer um teste de QI, pois ela aprendeu a ler e escrever com 5 anos de
idade. Keyla por sua vez relata que teve medo por conta da filha nesse momento,
porque segundo ela, isso faria Melissa pular uma série e perder uma parte
importante da vida dela, onde era importante ser ser criança. Segundo a mãe,
Melissa é muito inteligente mas também é “muito criança”.

Sobre a preferência de atividades, Melissa afirma gostar muito de “slimes” e


youtubers de jogos eletrônicos (ela cita Minecraft e Roblox como seus favoritos). Diz
adorar usar o celular, tanto para jogar como para assistir coisas de entretenimento
ou tutoriais. Diz também ter uma preferência sobre vídeos de desafios. Keyla diz que
não tem dificuldades de lidar com a preferência da menina pelo telefone celular,
porque o “confisca” toda noite, para que este não atrapalhe o sono. Também diz
confiscar o celular quando acha que a menina está há muito tempo nele, e estimula
que ela brinque com a irmã mais nova, afirmando que “faz parte da infância brincar”.
Melissa por sua vez não apresenta queixas a represália da mãe em confiscar-lhe o
celular, e inclusive brinca com o fato. A atividade que Melissa mais relata gostar, é o
escotismo, que é realizado aos sábados de manhã. A criança se empolga e fala com
orgulho das atividades, que envolvem uma série de testes, provas e brincadeiras, e
diz ser aficionada por “coletar emblemas”, uma espécie de mérito por completar uma
atividade difícil.

Através do escotismo Keyla relata que Melissa aprende muitos valores como
dividir as coisas, respeito e gratidão pela comida, consideração pelos esforços
alheios, respeito a autoridade dela e às regras, senso comum para com as
atividades do dia-a-dia, etc. Conta também que isso aproxima as relações familiares
pois a volta do escoteiro é um compartilhamento de experiências que diz gostar de
fazer com a criança, e também a desempenhar as ditas tarefas para ganhar os
emblemas. Ela relata que a tarefa que mais gostou de fazer foi a árvore genealógica,

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onde Melissa juntamente a sua mãe desempenharam uma pesquisa sobre as
gerações da família, conversaram com a tataravó da menina (ainda viva), e fizeram
uma apresentação em cartolina com fotos e colagens.

Melissa também desempenha algumas tarefas domésticas, sendo


responsável por secar e guardar a louça, e manter o próprio quarto organizado. A
mãe afirma que o escotismo foi determinante nessa questão de responsabilidade.

Com relação aos estudos, Melissa possui um bom rendimento escolar, que
segundo a mãe, chega a ser tão bom que a faz esnobar as matérias, caindo em uma
“inércia” pela falta de desafios. Diz gostar muito de Matemática e de Ciências,
porque é onde se sente mais mobilizada. Manifesta aversão a artes e educação
física, e é repreendida pela mãe que como profissional da educação afirma que
essas matérias são importantes.

Referente a prática de desenho, é dito que Melissa se afeiçoou muito cedo ao


telefone celular, ganhando o primeiro aos 4 anos de idade, mas que já usa desde os
2, e, portanto, não tem muita habilidade e nem foi muito estimulada a isso. A prática
do desenho é exercida exclusivamente em ambiente escolar, na aula de artes, que
tem uma opinião negativa por parte da menina, que diz não gostar de desenhar. É
dito que geralmente as temáticas dos desenhos se referem a percepção sensorial e
espacial, desenhando o ambiente ou coisas que estão no ambiente, e que ela não
tem familiaridade com os lápis de cor.

Keyla comenta que as perguntas atuais de Melissa estão mais em âmbito


escolar e social, e a mãe afirma que ela “não lida muito bem com gente”, ou é “muito
tímida”. Não há perguntas sobre sexualidade, mas Keyla afirma já ter visto o
histórico de pesquisas no celular com perguntas do tipo “o que é sexo?”, e tentou
abordar o assunto com a criança, que se mostrou indisposta e envergonhada. Sobre
masturbação, a mãe relata que suspeita que tenha começado recentemente, mas
que nunca a viu fazendo de fato, mas que pretende conversar em breve sobre a
temática. Com relação a morte, Keyla afirma que sempre falou abertamente sobre o
assunto “como uma coisa natural”, e que quando o avô materno morreu ela explicou

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de fato o que era a morte, sem se usar de analogias ou fantasia, e que julgou que
“por ser inteligente” Melissa entenderia.
Os controles de esfíncteres são bom, segundo a mãe, que afirma que Melissa
tirou as fraldas com 1 ano e 8 meses, e que foi estimulada a usar o vaso sanitário
sistematicamente. Relata também que houve poucos casos de incontinência
noturna, e que desde os 6 anos a menina consegue ir e se limpar sozinha.

Com os hábitos alimentares, Keyla a princípio fica envergonhada, mas admite


que a coisa que mais comem é pizza, coxinha, frituras, doces e coisas rápidas, visto
que ela chega cansada do trabalho e indispota para cozinhar, e, portanto, Melissa
não tem o hábito de comer legumes, verduras e saladas. A menção desses
alimentos faz Melissa rir e dizer o quanto são ruins, que é interrompida pela mãe,
que diz que a maioria das coisas ela nunca comeu. Keyla então conta que a maioria
das coisas que ela afirma não gostar, Melissa diz não gostar também, mesmo que
nunca tenha provado, e que a menina “a cópia”. Dado que pode destacar um alto
grau de identificação com a mãe.

Sobre a imposição de limites, Melissa fica de “cara feia”, mas cede muito
rápido. Keyla afirma que esporadicamente precisa dar umas palmadas na criança,
mas a menina nega para todas as pessoas que a mãe eventualmente a bate,
mesmo que abertamente a mãe fale isso.

É cabível recorrer a um subsídio teórico na hora de se olhar para a relação de


Keyla com Melissa. Toda a teoria de psicanálise infantil, mas mais precisamente
Melanie Klein e Winnicott, apontam para identificação da mãe com o bebê. O bebê
de antemão é desejado, idealizado, e querido, então ocorrem estranhamentos
quando este é reconhecido também como uma pessoa, alguém que veio “diferente”
do pensado. Podemos através da fala de Keyla “Achei que não era minha filha”,
destacar essa quebra de expectativa ante ao bebê idealizado e o bebê real. Cabe
também destacar termos cunhados pelo próprio Winnicott, holding, handling e
apresentação de objetos, destacando mecanismos onde uma mãe, tida como
suficientemente boa pelo seu caráter constituinte, ainda assim não-perfeita, promove

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um ambiente de bom desenvolvimento para o bebê, o que pode ser suposto pelo
desenvolvimento de Melissa e pelo vínculo afetivo testemunhado na entrevista.

2. Linguagem
Melissa é uma criança tímida e não faz muito contato visual, mas com
estímulos da mãe e do aplicador, verbaliza durante a confecção dos desenhos.
Melissa se queixava sobre ser “incapaz” ou os desenhos estarem “horríveis”,
destacando também uma autoestima baixa, ou uma potencial necessidade de
aprovação. Ao ser questionada sobre o que desenhava, ela afirmava
categoricamente o que eles representavam, sem se delonga em explicações. O
relato abaixo, se deu quando fora perguntado sobre o escotismo:

Aplicador: Então você faz escoteiro, Melissa? Que legal!


Melissa: Sim, é muito legal, eu gosto muito.
Aplicador: E aonde você faz? Aqui em Mauá mesmo? Ou em São Bernardo?
Melissa: É aqui em Ribeirão, perto da minha escola antiga.
Aplicador: E o que você faz no escoteiro? Algum tipo de atividade? Aprendeu a dar
algum nó?
Melissa: (Risos) Sim, a gente faz um monte de coisas. Eu adoro colecionar
distintivo, tenho muitos.
Keyla: Sim, ela gosta muito. Eu sempre ajudo ela quando tem que fazer alguma
coisa de artesanato ou cozinha.
Aplicador: E qual foi o distintivo que você mais gostou de fazer a atividade? O mais
difícil, ou o que você mais gostou, Melissa?
Melissa: Hm, deixa eu ver… (Batendo os nós dos dedos contra a mesa de forma
pensativa). Ahn…
Keyla: Teve a árvore genealógica, Mel…
Melissa: Ah! É verdade, teve a árvore genealógica!
Aplicador: Hmm… Você teve que fazer em cartolina, com fotos e tudo?
Melissa: Sim, mas antes eu tive que conversar com a minha “tatatataravó”!
Keyla: É tataravó.

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Melissa: Isso, tataravó. Ela é bem velhinha, mas teve um montão de filho, e a
mamãe disse pra eu perguntar pra ela sobre a família, aí eu conversei com ela.
Aplicador: E então? Como você fez?
Melissa: Eu perguntei sobre os meus “tatatataravós” e…
Keyla: Bisavós
Melissa: Isso! Bisavós. Eu perguntei pra ela sobre os meus bisavós, e sobre os
avós, e sobre minha mãe, daí a gente montou uma cartolina grandona e colou foto
de todo mundo, mas não tinha do meu avô - minha mãe falou que ele não tinha mais
foto. Aí eu levei a cartolina e ganhei o distintivo, todo mundo gostou muito.
Aplicador: O que falaram sobre o seu trabalho?
Melissa: O chefe adorou! Eu colei papel crepom colorido pra enfeitar, e glitter. Ficou
muito bonito. Eu ganhei o distintivo dourado, e ninguém fez uma cartolina mais
bonita que a minha!
Aplicador: Dourado?
Melissa: Isso. Tem bronze, prata e ouro. Cada cor serve pra mostrar o quanto você
foi bem na atividade!
Aplicador: E você tirou a máxima?
Melissa: Sim!

Em relação à sintaxe, a gramática está no estágio II, já que apresenta


conjunções como “Ela é bem velhinha, mas teve um montão de filho, e a mamãe
disse pra eu perguntar pra ela sobre a família”, o que apresenta frases já complexas,
além de apresentar flexões, palavras funcionais, que estabelecem relações entre os
elementos do discurso. Melissa também faz uso de plural, como por exemplo em
“[...] a gente faz um monte de coisas. Eu adoro colecionar distintivo, tenho muitos”,
além de tempos passados, como em “[...] aí eu conversei com ela”, e preposições,
como em “a gente montou uma cartolina grandona e colou foto de todo mundo”, o
que sugere que a narrativa de Melissa já é constituída por frases que se ligam por
subordinação e coordenação. A partir disso, é possível identificar na narrativa um
começo, meio e fim, em que Melissa apresenta primeiro suas atividades preferidas,
depois conta sobre seu processo de pesquisa genealógica, e por fim termina
dizendo o que ganhou com isso.

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Em relação aos aspectos fonéticos, Melissa articula bem os sons e é
compreendida com facilidade. No começo da narrativa, falava sem contato visual,
mas de forma audível. Melissa consegue ser compreendida com facilidade, não
apresentando omissões, trocas e inversão de letras ou sílabas.

Em relação à semântica, Melissa emprega palavras de forma convencional.


Em apenas um momento, usou gestos para suprir a falta de vocabulário, quando
disse: “Hm, deixa eu ver… Ahn…”, durante seu processo de pensamento, onde
bateu com os nós dos dedos sobre a mesa de forma impaciente, para expressar que
a palavra havia lhe fugido.

Em relação aos usos, a linguagem é parcialmente egocêntrica e parcialmente


socializada. Egocêntrica porque disse “Eu ganhei o distintivo dourado, e ninguém fez
uma cartolina mais bonita que a minha!”, num quesito de avaliação qualitativa e
com a aprovação pública do seu esforço, justificou dizendo que era uma
característica baseada em sua capacidade em detrimento superior aos outros. Fora
essa justificativa, o relato de Melissa considera todas as necessidades de
compreensão do ouvinte.

Em conclusão, considerando o histórico e as características apresentadas, a


linguagem de Melissa está se desenvolvendo normalmente, de acordo com os
padrões normais, e dentro dos estágios pré-estabelecidos por Helen Bee e Denise
Boyd. Melissa está atualmente com 9 anos, e já alcançou o estágio de linguagem da
narrativa do discurso. Existiram influências ambientais como o aparelho celular, o
que pode ter comprometido a complexidade da fala em relação ao uso de gírias ou
repetições, na tentativa de imitar os criadores de conteúdo do YouTube, porém nada
muito marcante que esteja fora dos padrões normais de uma criança de sua idade e
contexto social.

3. Desenho
3.1. Descrição
A postura física de Melissa enquanto desenhava era com a coluna reta, mas
ligeiramente inclinada para frente, sentada com as pernas no chão. Melissa é destra.

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Pega no lápis como “pinça fina”. Em relação ao papel, mudava os ângulos da folha
ligeiramente, mas no geral, a folha se manteve no plano horizontal. Não apresentou
sincinesias, porém parecia envergonhada enquanto realizada o primeiro desenho,
evitando olhar para o aplicador. Ao pegar no lápis, pensou por algum tempo no que
desenharia, e perguntou para a mãe, e esta não querendo interferir no processo da
filha, disse “desenha o que você quiser, Mel”, e Melissa procurou pelo quarto algo
para desenhar, optando pelo ventilador. Melissa demonstra organização, ao sempre
colocar os lápis de volta nos respectivos lugares após utilizá-los. No segundo e
terceiro desenhos, hesita mais e parece planejá-los, além de não sorrir tanto quanto
no primeiro. A partir dessa descrição, indica-se que Melissa dispõe das condições
motoras necessárias para realização do desenho.

3.2. Classificação
Os três desenhos coletados podem ser classificados no estágio de desenho
de realismo intelectual, sendo os dois primeiros (Ventilador e Jurar Bandeira) no
estágio intelectual B (II), e o último desenho (Escola) no estágio intelectual A (I). O
primeiro desenho se apresentou em plano deitado simples, que apresenta a cadeira
com uma tentativa de profundidade. O segundo se apresenta em plano axial, e
Melissa afirmou que a bandeira “tremulava com o vento”. O terceiro desenho apenas
em plano axial, com as pernas da mesa apresentando profundidade. De acordo com
Luquet, no estágio do realismo intelectual, a criança desenha não o que vê, mas
aquilo que sabe, como foi desenhado elementos que compõem a realidade da
criança

3.3 Conclusão
Considerando o histórico e a realização dos desenhos, a capacidade de
desenhar de Melissa está dentro dos padrões normais da idade. O estágio do
realismo intelectual se dá, de acordo com Luquet, de 4 a 10/12 anos, e Melissa se
encontra com 9 anos de idade, apresentando características de plano simples e
axial, porém ainda não apresentando plano reflexo, sobreposição de planos, e
transparência.

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