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Resumo: “Magic The Gathering” é um jogo norte-americano de Estampas Ilustradas com alto grau
competitivo em vários níveis: de lançamentos trimestrais a torneios profissionais em nível
internacional acompanhados pela Internet em todo o mundo. Apesar de mulheres participarem de
eventos mais casuais (como os lançamentos acima citados), dentro da comunidade de jogadores
competitivos a participação feminina é menor que 10%. Recentemente, a jogadora estadunidense
Melissa DeTora foi a primeira mulher a se colocar entre os 8 melhores jogadores de um torneio
profissional no Canadá. A recepção da comunidade jogadora na Internet a este fato não foi somente
de congratulações, mas também de outras mulheres jogadoras em níveis mais casuais que se
declararam inspiradas por Melissa a participar de torneios de maior competitividade. A presente fala
mostrará a reação das demais jogadoras e da própria Melissa, além de sugerir que a
representatividade feminina nos torneios profissionais que tende a aumentar com o sucesso e o
destaque recente desta jogadora por meio dos comentários de mulheres nas notícias sobre seu êxito
e das entrevistas realizadas com DeTora.
Palavras-chave: Representatividade feminina. Assimetrias de gênero. Comunidade gamer.
*
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Inglês: Estudos Linguísticos e Literários.
1
Wizards of the Coast. M13 Basic Rulebook. Disponível em
<http://media.wizards.com/images/magic/resources/rules/EN_MTGM13_Rulebook.pdf> Acesso em 19 de março de
2013.
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
De acordo com Bernal (2006)2, a média de idade de jogadores é de 33 anos, sendo 38%
mulheres. Devido ao registro DCI (Duelists' Convocational International, organização criada pela
empresa detentora dos direitos sobre o Magic a fim de organizar torneios e pontuações gerais entre
jogadores competitivos), é possível que haja dados estatísticos específicos em relação ao perfil de
jogador de Magic. Infelizmente, o departamento de mercado da Wizards of the Coast não pode
revelar esses dados, como informado por comunicação pessoal (e-mail) pela gerente de marca
Jennifer Meyen. Além disso, a porcentagem de jogadoras de Magic é estimada abaixo da média da
indústria de jogos em geral (em cerca de 5%, com base na experiência pessoal da autora como
jogadora em nível casual). Esta porcentagem pode ser ainda menor em formatos competitivos de
jogo, especialmente em Grand Prix e outros torneios profissionais.
2
BERNAL-MERINO, Miguel Angelo. On the Translation of Video Games. Em: The Journal of Specialized
Translation, (6), pp. 22-36. Disponível em <http://www.jostrans.org/issue06/art_bernal.php> Acesso em 29 de agosto
de 2012.
3
DETORA, Melissa. My Magic life story - Gatheringmagic.com. Disponível em
<http://www.gatheringmagic.com/melissadetora-030812-my-magic-life-story/> Acesso em 18 de fevereiro de 2013.
4
Wizards of the Coast. Monumental Top 8 Set at Pro Tour Gatecrash - Daily MTG Magazine. Disponível em
<http://www.wizards.com/Magic/Magazine/Article.aspx?x=mtg%2Fdaily%2Feventcoverage%2Fptgtc13%2Fwelcome
> Acesso em 17 de fevereiro de 2013.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
Facebook5. Esta página tem moderação rígida de comentários, e toda sorte de comentários racistas,
sexistas e infantilmente relacionados com a aparência física de todos os jogadores e jogadoras são
deletados - e alguns comentadores são banidos da página. Por este motivo, esta observação terá foco
na celebração do êxito de DeTora, e não no sexismo que ela sofreu por meio dos comentários sobre
o evento.
A maioria dos comentários gira em torno de congratulações; várias pessoas dizem ter torcido
por ela, e/ou estar torcendo por ela no dia seguinte, e há uma quantidade muito grande de
comentários relacionados com a seleção de cards que DeTora fez, e como ela os utilizou, pois
algumas partidas são filmadas e ficam disponíveis no canal oficial do jogo no Youtube6. A maior
parte do foco nos comentários que passaram pelo filtro do então moderador da página do Facebook,
Michael Robles, se dedica ao jogo em si, ou a parabenização pelo sucesso da jogadora 7. Alguns
comentários fazem menção desonrosa a outros comentários anteriores, já deletados, que davam foco
à aparência física da jogadora. Outros celebram a importância da realização de Melissa em
comparação com outros esportes de mesa, onde mulheres ainda não têm vez e voz. É interessante
observar que todos os comentários acima foram feitos por homens; apenas um comentário feminino
repudiou comentários sexistas sobre a adequação de DeTora em não exibir decote durante o torneio
- o que implica a opinião do comentador sobre mulheres utilizarem seus corpos para obter alguma
vantagem no jogo.
No dia seguinte, Melissa foi eliminada nas quartas de final por Tom Martell, que veio a ser o
vencedor do Pro Tour, mas a história já havia sido reescrita. Na cobertura do site oficial do jogo,
DeTora comentou que gostaria que seu êxito fosse visto como o de qualquer outro jogador, mas que
se sente feliz em ter sido protagonista desta história pois Magic "precisava de algo assim para
crescer como jogo" (DAVID-MARSHALL, 20138, tradução minha)9.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
Nas entrevistas realizadas após o evento, DeTora declarou que o maior peso no torneio não
era se tornar a primeira mulher a ficar entre os 8 melhores, mas obter determinada pontuação a fim
de classificar-se para os demais torneios do ano. Entretanto, após o êxito, os objetivos mudaram
para não apenas classificar-se, mas vencer um torneio profissional. Magic é considerado pela
imprensa especializada como um jogo dominado pelo público masculino, o que para Melissa não
parece mais um problema, dada sua experiência em longo prazo e qualidade de jogo. Apesar disso,
o tratamento diferencial de homens que reclamaram após perder para ela, ou chegaram a reações
agressivas como jogar suas próprias cartas no chão, são mencionadas frequentemente em entrevista
(HONZA, 2013)10. Alguns jogadores pedem desculpas e até autógrafos após descobrirem sua
pontuação ou desempenho nos torneios (DETORA, 2012).
Em um artigo anterior de Laura Mills, outra jogadora de destaque no circuito de Magic, um
argumento importante é levantado:
Todos precisamos de modelos de comportamento - e quando uma mulher vai bem, é
importante mostrar o fato para outras mulheres, para que a geração de jogadoras mais novas
saiba que tem alguém em quem elas podem se inspirar. Ter uma mulher no campeonato
nacional é realmente um êxito. Ter uma mulher no torneio profissional também é um êxito.
Não há motivo para que não demos atenção às pessoas que conseguem entrada nestes
eventos (MILLS, 2002)11.
Melissa DeTora ganhou este papel com seu desempenho no Pro Tour Montreal de fevereiro
de 2013, pois os padrões foram reescritos: a partir daí, não é somente importante que uma mulher
seja classificada ou convidada para participar nestes eventos, mas também quando ela termina com
bom desempenho, já que agora DeTora mostrou que isso é possível. Apesar de pessoalmente ter
uma relação mais neutra em relação a gênero sobre o jogo no momento atual, há frequente menção
nas entrevistas sobre a recepção do público feminino a essa colocação. Melissa declarou ter
recebido diversas mensagens de mulheres jogadoras que tinham receios em participar de torneios
profissionais ou Grand Prix, mas que o sucesso dela as inspirou a tentar. Além disso, jogadores
mencionaram o fato de suas namoradas, filhas ou esposas terem dado atenção especial à cobertura
online do Pro Tour Montreal a fim de acompanhar e torcer por ela. Por fim, uma jogadora disse a
ela na semana seguinte que era sua heroína, o que parece ter impactado DeTora para compreender
completamente a inspiração que ela é para outras jogadoras desde então (DAVID-MARSHALL,
2013).
10
HONZA, Adam. Interview with Melissa DeTora - MUDRC. Disponível em
< http://www.mysticshop.cz/blog/interview-with-melissa-detora/> Acesso em 12 de março de 2013.
11
MILLS, Laura. Oh My Gawd! A Woman on Women in Magic - Star City Games. Disponível em
< http://www.starcitygames.com/php/news/print.php?Article=3276> Acesso em 17 de fevereiro de 2013.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
4 Considerações finais, limitações da observação e sugestões para pesquisas futuras
O sucesso de Melissa DeTora ser um caso isolado em um jogo com 20 anos de existência é
apenas mais um exemplo de mulheres que começam a trilhar seus caminhos em ambientes
predominantemente masculinos. Como no Magic estes exemplos estão espalhados pelo mundo,
temos o exemplo local da jogadora Michelle Olsen: jogadora desde 2003, é atualmente a líder do
ranking no circuito estadual no formato Legacy12. A realidade de jogadoras no sul do Brasil é tão
escassa quanto no exterior, mas parece ser diferente: de acordo com Olsen, há tratamento
diferenciado para jogadores novos de todos os gêneros até que comecem a ganhar torneios, sem
levar o gênero muito em conta. Além disso, ela crê que a maioria das jogadoras da região começam
a jogar por influência de namorados, de modo similar a sua própria história, já que pratica, joga e
compete na companhia e colaboração do marido.
Devido a questões de escopo e limitações de tempo, este trabalho não pôde se dedicar ao
outro lado da recepção de mulheres no âmbito dito masculino do Magic; foi uma escolha consciente
da autora dar foco à celebração do êxito feminino vindo de todos os gêneros ao invés de realizar
investigações aprofundadas sobre discriminação, bullying e tratamento rude, sexista ou
condescendente com as jogadoras. Portanto, esta seria uma primeira sugestão de pesquisa futura a
todos interessados no assunto.
Outras sugestões de pesquisa podem trilhar rotas de entrevistas estruturadas com jogadoras
de todos os níveis e idades, a fim de traçar projeções de participação feminina dentro do circuito de
jogadores de uma determinada localidade. Por fim, uma última sugestão seria a realização de
observações similares em comunidades de jogadores de outras mídias e outros jogos.
E assim, com os caminhos abertos por bandeirantes como DeTora e Olsen, vamos seguindo
seus passos. Torcendo por elas, torcemos por todas nós e por uma comunidade de jogo cada vez
mais amigável, aberta e receptiva.
Referências
Álbum de fotos Pro Tour Gatecrash - at Montreal. Magic The Gathering - Facebook. Disponível
em
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152555341225307&set=a.10152552845735307.95
1254.201120755306&type=3&src=https%3A%2F%2Ffbcdn-sphotos-b-
a.akamaihd.net%2Fhphotos-ak-
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Entrevista concedida à autora por e-mail.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
ash3%2F557873_10152555341225307_2065454378_n.jpg&size=620%2C412> Acesso em 17 de
fevereiro de 2013.
BERNAL-MERINO, Miguel Angelo. On the Translation of Video Games. Em: The Journal of
Specialized Translation, (6), pp. 22-36. Disponível em
<http://www.jostrans.org/issue06/art_bernal.php> Acesso em 29 de agosto de 2012.
DAVID-MARSHALL, Brian. Cross 'Em Off - Daily MTG Magazine. Disponível em <
http://www.wizards.com/Magic/Magazine/Article.aspx?x=mtg%2Fdaily%2Ftwtw%2F237> Acesso
em 8 de março de 2013.
Melissa DeTora em Álbum de fotos Pro Tour Gatecrash - at Montreal. Magic The Gathering -
Facebook. Disponível em
<https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10152552845735307.951254.201120755306&type=
3> Acesso em 17 de fevereiro de 2013.
MILLS, Laura. Oh My Gawd! A Woman on Women in Magic - Star City Games. Disponível
em < http://www.starcitygames.com/php/news/print.php?Article=3276> Acesso em 17 de fevereiro
de 2013.
Wizards of the Coast. Monumental Top 8 Set at Pro Tour Gatecrash - Daily MTG Magazine.
Disponível em
<http://www.wizards.com/Magic/Magazine/Article.aspx?x=mtg%2Fdaily%2Feventcoverage%2Fpt
gtc13%2Fwelcome> Acesso em 17 de fevereiro de 2013.
"Magic The Gathering" Female Players: Gender Asymmetry, Prominence, and Inspiration
Abstract: “Magic The Gathering” is a North-American Trading Card Game with high competitive
degree, in several levels: from trimester Prereleases to Professional Tournaments in international
level that are watched through the Internet in several countries. Although women participate in
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
more casual events (such as the aforementioned Prereleases), within the community of competitive
players women's participation is under 10% players. Recently, the North-American player Melissa
DeTora was the first woman to ever place within the Top 8 players in a Professional Tournament in
Canada. The player community on the Internet has received such news not only with
congratulations, but also with several other female players of more casual levels who declared
themselves inspired by Melissa to participate in more competitive tournaments. This presentation
will focus on the reaction by these female players and by Melissa herself, as well as suggest that
women's representation in Professional Tournaments tends to increase with the accomplishment and
prominence of this one female player, through analyzing comments by female players on the news
about her success, and through the interviews DeTora has given to various online sources.
Keywords: Women’s representation. Gender asymmetries. Gamer communities.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X