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Resumo: A crise financeira iniciada nos Estados Unidos em meados de 2007, causada
principalmente pelo aumento da inadimplência e desvalorização do mercado imobiliário
americano, em um cenário de regulamentação e fiscalização frouxas do sistema bancário,
espalhou suas consequências para diversos países do mundo, com efeitos severos nos países
europeus. Órgãos internacionais reagiram aos acontecimentos e, nesse contexto, o International
Accounting Standards Board substituiu o pronunciamento IAS 39 - Financial Instruments:
Recognition and Measurement pelo IFRS 9 - Financial Instruments. Uma das principais
diferenças entre os pronunciamentos é a mudança do modelo de perdas incorridas para o modelo
de perdas esperadas para a constituição de provisão para perdas de crédito. Assim, tendo em
vista que o novo padrão contábil entrou em vigor em 2018, o presente estudo teve como objetivo
avaliar o impacto da aplicação do IFRS 9 no provisionamento para perdas de créditos dos
maiores bancos brasileiros. Para isso, foram coletados dados referentes à provisão para perdas
de crédito no período de 2014 a 2017 (IAS 39) e 2018 (IFRS 9), em uma amostra de 30
instituições financeiras do universo das 50 maiores do país. Diante da aplicação do Teste dos
Sinais de Wilcoxon, os resultados demonstraram que não há diferença significativa entre o nível
de provisão para perdas de crédito praticado pelos bancos brasileiros na vigência do
pronunciamento IFRS 9 em comparação com os níveis de provisão praticados sob a vigência
do IAS 39.
Palavras-chaves: Risco de crédito; provisão para perdas de crédito; IAS 39; IFRS 9.
1. INTRODUÇÃO
Em meados de 2007, o mundo presenciou o estouro da crise financeira nos Estados
Unidos, iniciada principalmente pela elevação do nível de inadimplência e da desvalorização
dos imóveis e dos ativos financeiros associados às hipotecas americanas de alto risco, no
chamado mercado subprime. Batizada de “a Grande Recessão”, evoluiu de uma crise de crédito
para uma crise sistêmica, a qual se espalhou pelo mundo, afetando a economia americana e
muitos países da Europa. Conforme explicado por Cintra e Farhi (2008), em uma crise de
crédito clássica, o montante dos prejuízos potenciais correspondente aos empréstimos
concedidos com baixo nível de garantias já seria conhecido; porém, naquela ocasião, os
derivativos de crédito e os produtos estruturados lastreados em diferentes operações de crédito
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Risco de Crédito e Provisão
Faz parte da natureza do sistema financeiro atuar sob diferentes tipos de risco, como o
risco de crédito, de liquidez, de mercado, operacional. De acordo com Giesecke (2003, p. 3),
“o risco de crédito é a distribuição de perdas financeiras devido a mudanças inesperadas na
qualidade de crédito de uma contraparte em um acordo financeiro”. Está centrado na
probabilidade de inadimplência, ou seja, na ocorrência de qualquer tipo de falha da contraparte
em honrar os termos do contrato, e permeia virtualmente toda e qualquer transação financeira.
O Comitê de Basileia (2005, p. 5) afirma que “perdas de juros e de principal ocorrem o tempo
todo nos negócios de crédito, pois há sempre uma parcela de devedores que inadimplem os seus
compromissos”. Assim, esse é um risco intrínseco tanto à atividade bancária de conceder
financiamentos e empréstimos quanto à negociação de instrumentos financeiros, e, dessa forma,
a maior parte do ativo de um banco está exposto ao risco de crédito, o que impõe a necessidade
de práticas de mitigação desse risco.
Uma das ferramentas para antecipação dos possíveis prejuízos advindos do risco de
crédito é o provisionamento, ou provisão para créditos de liquidação duvidosa (PCLD),
constituído para fazer frente às estimativas de perdas no portfólio de crédito das instituições.
Segundo Annibal (2009), a constituição correta de provisões não considera apenas a possível
inadimplência de uma obrigação, mas também a exposição que a instituição apresentará junto
à contraparte no momento da inadimplência e o montante que poderá ser recuperado.
Considerando que as provisões se configuram como despesas no balanço das instituições
financeiras, mas que poderão ser revertidas como receita, caso a perda não se concretize,
impactando em ambos os casos no resultado das entidades, os reguladores costumam
estabelecer critérios e modelos para a formação dessas provisões.
2.2 Modelos de perda incorrida e de perda esperada
Após a Grande Recessão, o IASB iniciou o trabalho de substituição do IAS 39 -
Financial Instruments: Recognition and Measurement pelo IFRS 9 - Financial Instruments, em
atenção às críticas de que o modelo de perda incorrida para a determinação da provisão vigente
à época da crise reforçou o ciclo de perdas, configurando-se um regime pró-cíclico. A nova
regra afetará bancos em quase todo o mundo, ficando de fora os Estados Unidos, que terá um
novo normativo próprio, e o Japão, onde a maioria dos bancos continuará a apresentar relatórios
segundo o padrão japonês, o qual incorpora um elemento de perdas de crédito esperadas, ou o
padrão norte-americano (SATTAR; EDWARDS, 2018).
Segundo Beerbaum e Ahmad (2015), no modelo de perda incorrida, os ativos são
considerados prejudicados quando não houver mais garantia razoável de que os fluxos de caixa
futuros serão recebidos na sua totalidade ou no prazo devido, e, nesse passo, as entidades
buscam evidências de eventos que indicariam essa perda de capacidade de pagamento, como
dificuldades financeiras notáveis, atraso na realização de pagamentos de juros ou capital,
probabilidade de reorganização societária ou financeira, falência ou pertencimento a um setor
que está passando por dificuldades. Nos termos do Pronunciamento Técnico CPC 38 -
Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração, versão correlata à norma IAS 39 -
Financial Instruments: Recognition and Measurement, emitido pelo Comitê de
Pronunciamento Contábeis:
Um ativo financeiro ou um grupo de ativos financeiros tem perda no valor recuperável
e incorre-se em perda no valor recuperável se, e apenas se, existir evidência objetiva
de perda no valor recuperável como resultado de um ou mais eventos que ocorreram
após o reconhecimento inicial do ativo (evento de perda) e se esse evento (ou eventos)
de perda tiver impacto nos fluxos de caixa futuros estimados do ativo financeiro ou
do grupo de ativos financeiros que possa ser confiavelmente estimado. Pode não ser
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possível identificar um único evento discreto que tenha causado a perda no valor
recuperável. Em vez disso, o efeito combinado de vários eventos pode ter causado a
perda no valor recuperável. As perdas esperadas como resultado de acontecimentos
futuros, independentemente do grau de probabilidade, não são reconhecidas (CPC,
2009, p. 27).
Ou seja, conforme explicado por Costa Jr. (2019), as perdas com os instrumentos
financeiros só são reconhecidas quando efetivamente ocorre o não encaixe (shortfall) dos fluxos
de caixa previstos contratualmente. Diante disso, contabilmente, não há qualquer efeito no
resultado, desde a originação ou aquisição do instrumento financeiro até a deterioração
creditícia do devedor; todavia, ocorre uma queda brusca e progressiva do resultado a partir do
momento de default. Assim, como a provisão só é formada após as evidências de eventos de
perdas, em períodos de crise – quando aumentam os eventos de default e as perdas se
materializam em maior volume – os bancos precisam provisionar mais, o que aumenta as suas
despesas e reduz o resultado e o capital, e, por consequência, são obrigados a diminuírem as
novas concessões de crédito, aprofundando o cenário econômico adverso (BEERBAUM;
AHMAD, 2015).
Importante ressaltar que, mesmo antes da crise financeira global, o Comitê de Basileia
para Supervisão Bancária (2005) já previa um modelo de perdas esperadas dentro da abordagem
de ratings internos (IRB) para as exposições ao risco de crédito no cálculo do montante dos
ativos ponderados pelo risco, no escopo do Acordo de Basileia II. O IRB permite que, sob
determinadas condições, as instituições financeiras usem suas medidas internas de
direcionadores de risco de crédito como um dos insumos primários utilizados para o cálculo do
capital. As instituições que aderiram à abordagem IRB podem determinar a probabilidade de
inadimplência (probability of default - PD) dos seus devedores e as que adotaram o IRB
avançado podem utilizar as suas próprias estimativas de prejuízo em caso de default (loss given
default - LGD) e a exposição no momento da perda (exposure at default - EAD).
Essas métricas foram determinadas pelo Comitê de Basileia às instituições financeiras
que adotaram o IRB para a estimativa das perdas de crédito esperadas (expected credit losses –
ECL), que compõe o risco de crédito, o qual é um dos riscos que o capital regulamentar busca
proteger. Porém, em última instância, o requerimento mínimo de capital é exigido para absorver
perdas “não esperadas”; diferentemente, o Comitê afirma que as perdas esperadas, por serem
inerentes à atividade bancária, devem ser consideradas como um componente de custos dos
negócios e gerenciadas por meio do preço das exposições de crédito e do provisionamento
(BCBS, 2005).
Dessa forma, percebe-se que o conceito de perda esperada não é algo totalmente inédito
para os grandes bancos; entretanto, desde 2018, o modelo deve ser aplicado à carteira de ativos
financeiros dos bancos brasileiros constituídos sob a forma de companhia aberta ou que sejam
obrigados a constituir comitê de auditoria, nos termos das normas do Conselho Monetário
Nacional (CMN). Assim, nos termos da norma IFRS 9, as entidades devem reconhecer uma
provisão para perdas de crédito esperadas em ativo financeiro mensurado ao custo amortizado
e ao valor justo por meio de outros resultados abrangentes, em recebível de arrendamento, em
ativo contratual ou em compromisso de empréstimo e em contrato de garantia financeira,
aplicando os requisitos de redução ao valor recuperável, os quais objetivam:
(...) reconhecer perdas de crédito esperadas para todos os instrumentos financeiros
para os quais houve aumentos significativos no risco de crédito desde o
reconhecimento inicial, avaliados de forma individual ou coletiva, considerando todas
as informações razoáveis e sustentáveis, incluindo informações prospectivas (CPC,
2016, p. 18).
Conforme apresentado no IFRS 9 – Project Summary (2014), a regra geral do IFRS 9 é
que as entidades apliquem os critérios em um modelo de três estágios, conforme a variação no
risco de crédito:
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Estágio 1 – Tão logo um instrumento financeiro seja originado ou comprado, devem ser
reconhecidas, no resultado, perdas de crédito esperadas para 12 meses e reconhecida uma
provisão para essas perdas.
Estágio 2 – Se o risco de crédito aumentar significativamente em relação à avalição feita
na originação ou compra do instrumento financeiro e a qualidade de crédito não for mais
considerada como sendo de baixo risco, devem ser reconhecidas perdas de crédito esperadas ao
longo da vida do instrumento financeiro (lifetime expected credit losses).
Estágio 3 – Se o risco de crédito de um ativo financeiro aumentar a ponto de ser
considerado como uma perda de crédito, a receita de juros deverá ser calculada com base no
custo amortizado, isto é, o valor contábil bruto ajustado pela provisão para perdas, e devem ser
reconhecidas perdas de crédito ao longo da vida do instrumento financeiro (lifetime expected
credit losses).
O IASB esclarece que as perdas de crédito esperadas para 12 meses não são as
expectativas de prejuízos de crédito nos próximos doze meses, mas sim o efeito de toda a perda
de crédito em um ativo ponderada pela probabilidade de que essa perda ocorra nos próximos
12 meses. Por outro lado, as perdas de crédito esperadas ao longo da vida ou perdas de crédito
“prazo total” são uma medida do valor presente esperado das perdas advindas caso um credor
descumpra as suas obrigações em algum momento ao longo de todo o contrato do instrumento
financeiro (IASB, 2014).
Beerbaum e Ahmad (2015) destacam que o principal novo gatilho para sair do Estágio
1 e entrar no Estágio 2 é o aumento significativo do risco de crédito e, como esperado, não há
uma orientação detalhada na norma de como medir esse critério, dado o seu caráter
principiológico. Nos termos do Pronunciamento Técnico CPC 48: Instrumentos financeiros,
versão em português do IFRS 9, emitido pelo CPC:
Em cada data do balanço, a entidade deve avaliar se o risco de crédito de instrumento
financeiro aumentou significativamente desde o reconhecimento inicial. Ao fazer essa
avaliação, a entidade deve utilizar a alteração no risco de inadimplência que ocorre ao
longo da vida esperada do instrumento financeiro, e não a alteração no valor de perdas
de crédito esperadas. Para fazer essa avaliação, a entidade deve comparar o risco de
inadimplência que ocorre no instrumento financeiro na data do balanço com o risco
de inadimplência que ocorre no instrumento financeiro na data de reconhecimento
inicial e deve considerar informações razoáveis e sustentáveis, disponíveis sem custo
ou esforço excessivos, que sejam um indicativo de aumentos significativos no risco
de crédito desde o reconhecimento inicial (CPC, 2016, p. 18).
Como ilustrado por Costa Jr. (2019), para o cálculo da perda esperada, deve-se
multiplicar a perda em um evento de default (LGD), líquida da realização de colaterais dados
em garantia, pela probabilidade de ocorrência do default (PD) e pela exposição em default
(EAD), conforme a seguinte fórmula: ECL = LGD x PD x EAD.
2.3 Impactos esperados pelo mercado na aplicação do pronunciamento IFRS 9
Desde o anúncio da substituição do modelo de perdas incorridas para o de perdas
esperadas pelo IASB, houve muita especulação a respeito do impacto no montante das
provisões das instituições financeiras após a entrada em vigor do IFRS 9. Em relação às
primeiras pesquisas globais, os números estimados para esse impacto caíram drasticamente,
conforme apresentado a seguir:
a) Em 2015, Osman Sattar, diretor especialista em contabilidade do grupo de
instituições financeiras da Europa, Oriente Médio e África da Standard & Poor's
Ratings Services, em entrevista para a Global Banking & Finance Review, divulgou
estudo afirmando que o novo modelo provavelmente resultaria em maiores
provisões para perda de crédito na adoção inicial, e que, nas previsões do impacto
do IFRS 9 coletadas de 54 bancos globais, mais da metade dessas instituições
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significativamente diferentes (FÁVERO et al., 2009). Entretanto, esse teste exige que a
diferença entre as amostras relacionadas apresente distribuição normal, o que não foi atendido
quando aplicado o Teste de Shapiro-Wilk (apropriado para amostras com até 30 variáveis), pois
o resultado apresentou p-valor de 0,0024, não atendendo o pressuposto da normalidade. Assim,
optou-se pelo Teste dos Sinais de Wilcoxon, alternativa ao Teste t de Student para comparação
de duas amostras dependentes, aplicado quando os pressupostos do Teste t não se verificarem
(FÁVERO et al., 2009).
Dessa forma, tendo em vista o objetivo deste estudo e as expectativas de que a aplicação
do IFRS 9 altere o nível de provisionamento para perdas de crédito nas instituições financeiras
(item 2.3), a seguinte hipótese foi testada, ao nível de significância de 5%, por meio da
utilização do software Gretl:
H1: Houve alteração no nível de provisão para perdas de crédito diante da aplicação do
pronunciamento IFRS 9 em 2018, em comparação com os níveis de provisão praticados sob a
vigência do IAS 39 entre 2014 e 2017 pelos maiores bancos brasileiros.
Para isso, foram coletadas as informações a respeito da provisão para perdas de crédito
dos últimos quatro anos da aplicação do IAS 39 (2014 a 2017) e do primeiro ano de vigência
do IFRS 9 (2018), diretamente das demonstrações financeiras disponíveis nos sites das
instituições. Por causa da diferença de tamanho das instituições financeiras brasileiras e da
concentração do mercado bancário nos cinco maiores bancos, conforme demonstrado na Tabela
1 a seguir, foram utilizados dados relativos, e não absolutos, isto é, o percentual correspondente
à provisão para perdas esperadas (PCLD no IAS 39) sob as operações de crédito a clientes.
Cumpre esclarecer que a provisão constituída para outras classes de ativos, como títulos
e valores mobiliários, operações compromissadas, empréstimos a instituições financeiras e a
provisão para perda esperada em operações passivas estão fora do escopo do presente trabalho,
dado que a maioria das instituições pesquisadas não divulgou esses dados e, para aquelas que
divulgaram, o percentual de provisão é residual quando comparado ao volume das provisões
para perdas em operações de crédito a clientes. Como exemplo, a provisão para perdas em
operações de créditos a clientes constituída pelo Banco do Brasil corresponde a 2,27% do seu
ativo total, enquanto a provisão para perda esperada em operações passivas a 0,035% e a
provisão para perdas em operações compromissadas corresponde a 0,0001%.
Em relação à amostra, no Brasil, estão obrigadas a elaborar e divulgar anualmente
demonstrações contábeis consolidadas adotando o padrão contábil internacional, de acordo com
os pronunciamentos emitidos pelo IASB, as instituições financeiras e demais instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (BCB) constituídas sob a forma de
companhia aberta ou que sejam obrigadas a constituir comitê de auditoria e, ainda, as
instituições constituídas sob a forma de companhia fechada, mas que sejam líderes de
conglomerado integrado por instituição constituída sob a forma de companhia aberta (CMN,
2009).
Em consulta ao site do BCB, obteve-se a lista das cinquenta maiores instituições
financeiras em ordem de porte, na data-base março de 2019, utilizando-se o ativo total como
parâmetro. Embora o tipo de consolidação seja diferente do que segue o padrão IFRS, pois os
dados do BCB utilizam o conceito de “conglomerado financeiro”, o qual tem escopo próprio
definido por esse órgão regulador, a classificação é adequada para estabelecer o recorte da
amostra:
Tabela 1 – 50 maiores instituições financeiras do Brasil
Ordem de porte Instituição financeira Tipo de consolidado Segmentação Ativo Total
1 BANCO DO BRASIL b1 S1 1.516.712.869
2 ITAU b1 S1 1.490.701.848
3 CEF b1 S1 1.292.892.761
4 BRADESCO b1 S1 1.141.998.376
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5 BNDES b4 S2 848.625.362
6 SANTANDER b1 S1 788.948.157
7 BTG PACTUAL b1 S1 189.653.938
8 SAFRA b1 S2 163.291.714
9 VOTORANTIM b1 S2 93.417.091
10 CIELO S.A. n4 84.269.008
11 CITIBANK b1 S2 78.253.982
12 BANRISUL b1 S2 77.405.003
13 REDECARD S.A. n4 67.411.482
14 JP MORGAN CHASE b1 S3 60.719.281
15 BNB S.A. b1 S2 59.771.516
16 BANCOOB b1 S3 50.738.875
17 BANCO SICREDI S.A. b1 S3 49.422.929
18 BNP PARIBAS b1 S3 44.428.657
19 BANCO MUFG BRASIL b1 S3 42.477.631
20 BANCO RABOBANK b1 S3 34.441.401
21 ABC-BRASIL b1 S3 33.844.323
22 CREDIT SUISSE b1 S3 31.829.184
23 CREDIT AGRICOLE b1 S3 30.360.919
24 ING BANK N.V. b1 S3 30.044.048
25 DAYCOVAL b1 S3 29.109.323
26 PAN b1 S3 28.804.909
27 BANESTES b1 S3 25.413.832
28 GETNET S.A. n4 24.749.426
29 CCB b1 S3 23.542.204
30 MORGAN STANLEY b1 S3 23.173.784
31 BANCO DA AMAZONIA b1 S3 19.539.737
32 BOFA MERRILL LYNCH b1 S3 19.123.608
33 XP INVESTIMENTOS n2 S4 18.419.712
34 SOCIETE GENERALE b1 S3 17.553.977
35 BANCO VOLKSWAGEN b2 S3 17.114.938
36 BRDE b4 S3 17.071.220
37 BMG b1 S3 16.829.550
38 GOLDMAN SACHS b2 S3 16.205.066
39 ALFA b1 S3 14.894.973
40 STONE PAGAMENTOS n4 14.350.259
41 BANCO GMAC S.A. b2 S3 12.875.058
42 PAGSEGURO S.A. n4 12.755.810
43 NU PAGAMENTOS S.A. n4 12.550.368
44 BANCO CLASSICO S.A. b1 S3 11.637.612
45 ORIGINAL b1 S3 10.936.404
46 CENTRAL SICREDI b3C S3 10.721.599
47 MERCEDES-BENZ b2 S3 10.571.129
48 BANCO CNH CAPITAL b2 S3 9.724.083
49 PINE b1 S3 9.452.150
50 MERCANTIL DO BRASIL b1 S3 9.379.949
Fonte: Banco Central do Brasil (2019)
Destaca-se que, dentre os cinco maiores bancos, Itaú, Bradesco, BNDES e Santander
estão entre os bancos que tiveram aumento no percentual de provisão em 2018, ficando apenas
o Banco do Brasil no conjunto dos bancos que reduziram o nível de provisão.
Além disso, analisando-se o período completo apresentado na Tabela 2, percebe-se que
os maiores bancos do país apresentaram um comportamento mais constante do percentual de
provisão para perdas de crédito em operações de créditos a clientes, enquanto alguns bancos de
menor porte demonstraram comportamento desordenado do nível de provisionamento, como
por exemplo:
a) O BTG Pactual saltou de uma provisão de 5,62% em 2014 para 10,41% em 2015,
mas em 2018 voltou ao patamar de 5,16%;
b) O Citibank reduziu drasticamente a provisão ao longo dos anos, chegando a 0,56%
com a aplicação do IFRS 9;
c) O banco JP Morgan, desde 2015, praticamente não constitui provisão para perdas
de crédito;
d) O Bancoob trabalhava com índices de provisão perto de zero na vigência do IAS 39,
aumentando ligeiramente a provisão em 2018;
e) O banco Credit Suisse, ao contrário, apresentava certa constância na vigência do
IAS 39, mas quase zerou o nível de provisão em 2018;
f) O banco Merrill Lynch praticamente não constitui provisão para perdas de crédito.
A análise desses resultados de forma isolada distancia-se do objetivo deste trabalho, e,
ainda, seria necessário investigar os motivos das variações em cada instituição financeira,
considerando tanto as características das operações de crédito, dos clientes, quanto fatores
macroeconômicos. Entretanto, a Tabela 2 sugere, mesmo antes da aplicação do teste estatístico,
que a entrada em vigor do IFRS 9 não impactou os bancos brasileiros de forma uniforme, assim
como não se percebe um aumento do percentual de provisão na maioria dos bancos brasileiros.
No entanto, para comprovar essa impressão, é necessária a aplicação do teste estatístico,
conforme a seguir.
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A Tabela 3 apresenta a média da provisão aplicada nos anos de 2014 a 2017 (IAS 39) e,
na quarta coluna, a diferença em relação aos valores de provisão praticados em 2018 (IFRS 9):
Comparando-se o ano de 2018 com a média dos quatro anos anteriores sob vigência do
IAS 39, percebe-se que 20 bancos aumentaram o nível de provisão e 10 bancos reduziram.
Entretanto, submetendo os dados ao Teste dos Sinais de Wilcoxon por meio do software Gretl,
chegou-se aos seguintes resultados:
Tabela 4 - Teste da diferença entre IAS 39 e IFRS 9
Teste dos Sinais de Wilcoxon
Hipótese nula: a diferença da mediana é zero
n = 30 Variância = 2363,75
W+ = 166, W- = 299 z = -1,35751
(zero diferenças: 0, empate não-nulo: 0) P(Z < -1,35751) = 0,0873095
Valor esperado = 232,5 P-valor bicaudal = 0,174619
passadas e futuras seja igual ao risco percebido quando se observa apenas fatos que
efetivamente já ocorreram.
Por fim, este estudo contribui para o avanço da literatura sobre o tema, ao apresentar
resultados empíricos sobre o efeito de um novo padrão contábil que repercutiu no mundo todo.
Considerando a limitação de, até a conclusão deste trabalho, haver informações apenas sobre o
exercício 2018, nos próximos anos, a pesquisa poderá ser ampliada por novos estudos,
aumentando o período de análise de aplicação do IFRS 9.
Além disso, dado que os resultados apresentados demonstram não haver impacto no
primeiro ano de aplicação do IFRS 9 nos bancos brasileiros, futuras pesquisas poderiam
investigar os motivos que explicam esse comportamento, como a possível redução na
inadimplência, melhorias no cenário econômico do país, melhor gestão da carteira de crédito
pelos bancos, apresentação de melhores garantias pelos devedores, ou ainda, o descumprimento
dos critérios estabelecidos pelo IFRS 9 pelas instituições financeiras brasileiras, entre outros
fatores.
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