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err) J memoria da " www.vivermentecerebro.com.br nascar Aa AWN OO eee TaD aU Rc ea Dae COO W Le NF er LE UN CIP eee Ts NOR C ae CPSC ey ay EO DESPERTAR DC DO Nee] N Cronologia 1856: Nasce Schlomo 1887: Primeiro encontro Sigismund Freud em com Wilhelm Fliess Freiberg, atual 1889; Inicia o tratamento Slovaquia de Fanny Moser $872: Visita swacidade 1 801, Primeiro liv, seal, onde se apaixona Sobre a Formagao das Afasias fla primeira vez— por ae 1895: Publica, com eae: Tees Blas Shee i Histria. Um sonho ge: stra na estranho em 24 de julho Frauldade de Medicina Singer 9876: Estuda a profundamente. Sesualidade das enguias 1896: Usa pela primeira $578: Sigismund muda __vez 0 termo "psicandlis Sex nome para Sigmund 1899: Publica $551; Obtémo A Interpretago des Sorbo ag Zotorado em medicina livro que mares 0 mee 552: Conhece Martha _“nascimento" da : fem 1919 HBemays. Breuer comeca a Psicandlise Ses de Bertha 1901: Publica 1909: Visita osEstados 1920: Alén do Principio Peopenheim. Psicopaiologia da Vida Unidos com Jung alo Prazer ¢ Psicologia de $554: Pesquisa as Cotdiana ce Ferenczi Grupo ea Andlise do Ego Fpedes da cocaina 1905: Chistsesua Relago 1910; Fundagao da 1923; Primeira 535. Pacsa atrabalhar com olnconscentee Tits Tternational manifestacao de um Bcharcot Ensaios sobre a Teoria da Psychoanalytical tumor no maxilar «ee Sexuaidade Assocation (IPA) 1925: Sabstlarsieling, Bletho Bernays © 1908: Primeiro 1912: Langamento de _sua autobiografia, € Congresso Internacional ‘Imago, revista dedicada 8 _InibgGes, Sintomas de Psicanilise psicanilise aplicada Angistia g 1913: Sobreo Narciso 1927: O Futuro de ee Totem e Tabu sema llsto E1914: Contibnigao& Histéia 1933: Os livros de dolMooinnis Piconaltioe© ‘Freud so queimados na Mois de Michdavgdo Alemanha, entio 1915; Consideagtes dominada pelo nazismo Atuais sobre a Guerra esobre 1937; Deixa Viena e a Morte ¢ Metapsicologia vai para Londres. Dissolvida a Sociedade Psicanalitica de Viena, ENTRE OS NETOS Ernst e E Heinz, flhos de Max 1939: Morre Sigmund Halberstadt e de Sophie, Freud em Londres em 1922 VIVER MENTE&CEREBRO 5 Zeus quando o crinio divino foi cindido por Hefaistos. Podemos supor que a psicanslise teria surgido de modo semelhante, irrompendo da cabeca de um “genio da humanidade’, figura central da ciéncia do século XIX? Teria nascido por milagre, promessa de um mundo por vir, jorando do cérebro de Freud como se nada nem ninguém 0 precedesse? Tal maneira de idealizar o homem de ciéncia, sem inscrevé-lo em uma continuidade e em uma cormunidade Cientifica, nfo permite compreender como e por que ele € Linico, Sem remontar 20 mitico Quiron que, no quarto de Epidauro, prescrevia o sono para incitar seus pacientes a produzir sonhos, lembremos o grego Antifonte de Corinto (século V a.C.) convidando seus concidadios a contar Ihe seus sonhos: em troca, prometia curé-los de suas angUstias e de seus pesares. Chamava a isso techne alias, a técnica que suprime a dor. A experiéncia durou pouco, pois um F reud gostava da deusa Atena, nascida do cérebro de tirano mandou maté-lo. Fim de um sonho. A ciéncia do século XVII, vista através do estudo da Joucura e da histria, anuncia-se como um vasto processo de apropriacao das prerrogativas divinas pelo homem: consideradas doencas incuriveis na [dade Média, porque desejadas por Deus, a histeria e a loucura adquirem a partir de entao dimensio humana. O Grande Arquiteto domundo desceu de seu pedestal. Tamanha destituico do divino comegara no século XVII, quando os fisicos Johannes Kepler (1571-1630) Isaac Newton (1642-1727) expulsaram Deus do "paraiso da explicacao terrestre’ ‘enunciandoas leis da gravitacio universal: os planetas tém uma trajetdria eliptica e no seguem o cfrculo perfeito dos filésofos, monoceatrado (um s6 centro — que no é 2 Terra -, um s6 Deus, um 56 rei de direito divino, um sé chefe de familia, uma s6 causa!) Poressas leis, o mundo € © homem no sio mais reflexos de Deus J Claro, seri preciso tempo para que homem ocidental hipfose porvoke dees ae1e apreenda todas as conseqiéncias dessa nova liberdade e se JO SECULO XVIII, OS TRABALHOS DE Pl SUR SOBRE A HIPNOSE RENUNCIAM A PSICANALISE AO MOSTRAREM QUE HISTERIA E JUCURA PODEM SER TRATADAS PELA ESCUTA DO PACIENTE Dela palavra VIVERMENTECEREBRO.COM.BR VIVER MENTESCEREBRO 7 nt Lic Caer Pot EM TROCA DOS SONHOS DE SEUS PACIENTES, a | DE CORINTO PROMETIA CURAR ANGUSTIAS E PESARES aproprie das causalidades desi e do mundo. Com Freud, 0 «que eraum problema de f, de crenga em um Deus revelador da verdade por meia dos sonhos, tornou-se, com a Iintepretagao dos sonbos, de 1900, uma rigorosa anélise das palavras pronunciadas pelo sujito, de suas associagdes de ideas, de seus pensamentos ou de seus sentiments, ‘Osobstéculos andlisesio numerosos. Diante do tribunal ca ciéncia, Sigmund Freud, acusado de “herético" por seus mestres por ter ousado interrogar um saber além das leis da Natuteza, podcria tr thes respondido que recusava o pacto do cientificismo, tl como formulado pelo fisiologistaalemao Emil da Bois-Reymond (1818-1896): "impor esta verdade, 2 saber, que as forcasfisicase qumicas, exclusao de qualquer ‘outra, agem sobre o organismo”, A biologia, ciéncia do “vivente-flante" (do grego bias, conhecimento da vida), rio impede que se seja sensfvel aos efeitos da palavra sobre ©-corpo: ea no se resume unicamente a zoologia, ciéncia dovvivente privado de palavra ‘Antes de Freud, as psicoterapias faziam uso, com freqdéncia, da sugestio, em geral da sugestio verbal: uma pessoa “sugestionavel” sofre passivamente a influéncia das idéias do psicoterapeuta, aceitando-assem_ discernimento(asugestbilidade' €aap- tidio para reagir a um sinal de forma mecinica ou por reflexo, sem par- ticipaco da vontade), Paracelso (1493- 1541), célebre médico alquimista do Renascimento, jé escrevera em sua obra Liter Paranirun: “A sugestio confere a0 homem um poder sobre seu semelhante, com- pardvel aquele de um ima sobre o ferro", Em 1766, © vienense Franz Anton Mesmer afirma, em sua tece de doutorado em medicina, que a atrac3o universal, pela qual Kepler e Newton demons- traram 0 efeito sobre os corpos celestes pode cexercer inlugncia semelhante sobre 0 corpo e a alma humana. Kepler descreveu a gravitagio em termos de imantacio, Mesmer chamau essa influéncia de “magnetismo anima ‘A tcoria da “atracio universal animal”, acrescida de um dispositivo concreto que permite REPLICA ROMANA da estétua de ‘Atena, Na mitologia grege, a deusa nasceu do eérebro de Zeus, quando 0 ranio dvino foi cindido por Hefalstos \VIVER MENTE&CEREBRO a observagio dos fatos, €© ponto de partida da aventura de Mesmer, Para ele, os seres vivos veiculam um “fluido universal", suscerivel de ser transmitido de um corpo Jhumano a outro por meio de um fa, essa transmisso, que produz um afluxo de energia, éterapéutica e restabelece a ‘livre circulagio" do fluido bloqueado no érgo doente — adoecido por essa 'fixagio” do fluido. A eficécia maxima seria obtida por meio de um ima representando a forma do Grgio doente Respondendo is primeiras objegdes sua teoria, Mesmer concederé que 0 ma nio é, de fato, necessério, mas continuaréautilizé-o, pois concretizaa “orca de influéncia’ do fluido invistvel que corre no organismo. EM PARIS, A CUBA DE MESMER A censura social, as rvalidades médicas € as cabalas 0 forcam a trocar em 1778 sua Viena obscurantista por Pars, idade das Luzes’,Insala sua “cuba terapéutica no Hotel Ballion, ua Coq-Héran, ali, os doentes 0 unidos por uma corda ¢ ligados 8 cuba por meio de uma barra de metal em contato com 0 6rgio ou parte do corpo doente;a outra cextremidade da barra mergulha no iquido da cuba, onde se mesclam pedagos de viero, aeia,limalha de ferro ¢ bastBes de enxofre moidos. Grandes espelhos revestem co.cémodo e refletem a imagem do grupo, enquanto a mésica de uma harménica envolve os pacientes. Mesmes, munido de uma vara de ferro mag- netizado, circulaentreos doentes, stimula com passes’ as tio esperadas crises, O dispositive materializa 0 fluido © seu percurso, Jevidenciando a forca que age sobre 0 érgio enfermo, Quando a crise advém, 0s pacientes sio transportadas a pequenos cémodos adjacentes a0 salio — alcovas acolchoadas, para mais seguranca — denominadas “quartos de crises’, onde so isolados junto com o terapeuta. Em 1784, acensura moral do relatorio secreto do astrénomo Jean Sylvain Bailly ao ret'da Franga deplora essa promiscuidade entre 0 doente ¢ o terapeuta, Mesmer deseja a aprovagio de seus pares € a criagao de uma comissio cientifica real para financiar 0 desenvolvimento de sua pratica. Mas os ‘cientistas reunidos para analisaro projeto — entre eles, Bailly — véem nessa “terapéutica" um atentado aos bons ESPECIAL FREUD costumes, desconfiados de um lago de tipo sexual entre 0s doentes e Mesmer ou o magnetizador. Se os esforcos de teorizagio do fluido mesmeriano sao interrompidos, nem por iso os magnetizadoresestdo menos persuadidos da eficcia terapéutica, sob pressdo, modificam © quadro do aparecimento da crise simplificando dispositivo ¢ interiorizando a crise, mascarando suas conotacdes sexuais. Entretanto, a cuba, como o vitero materno onde a crianca se movimenta para nascer, representa o higar material onde a histérica remobiliza sua forca selvagem ea extcrioriza: se a cuba desaparece, como pode a histérica encontrar caminho dessa exteriorizacao? Em 1784, os discipulos de Mesmer interessam-se pelo pr6prio fluido, chamado pelo mestre de “o sexto sentido" Os mesmerianos observaram que certos pacientes, em contato com a cuba, cafam em estado de sono aparente, de sonambulismo artificial’, que thes permitia contudo expressar-se coerentemente. tabu do toque, originado na censura, obriga os mesmerianos a desenvolver uma “sensibilidade peculiar” a distancia que os mantenha em contato com os doentes, 0s quais se comunicam com 0 grupo abrindo seu “balaio de fantasis’, narrando suas “visdes sonhadzs’ O MARQUES CHASTENET DE PUYSEGUR No mesmo ano, um discfpulo de Mesmer, Armand Marie-Jacques de Chastenet, marqués de Puységur, antigo general de artilharia dos exércitos de Lufs XVI, publica Mandvia para serir & striae ao estableiment do magnetismo animal. Arvorando uma adesdo completa & teoria da crise terapéutica de seu mestre, prope contudo uma mudanga na terapia: Puységur ndo considera a crise convulsiva um ponto de chegada para o tratamento, mas sim uma resistencia & cura, resultado das condigdes préticas que envolver os tratamentos parisienses, condigdes que néo permitem mais ao magnetizador consagrar tempo. atengdo suficientes aos doentes. Ele os imerge em estado de sonambulismo e os deixa guiar as sessGes, A crise, tornada sonambilica, significa que 0 paciente ainda nio resolvew seus problemas ¢ deve ser novamente acompanhado por uma presenga mais intensa do magnetizador. O caso de Joly, jovem burgués de 19 anos que sofria de surdez parcial em conseqiiéncia de uma "doenca aguda" contrafda 2089 anos, ilutra o tratamento propugnado pelo smarqués de Puységur. Com a surdez bruscamente agravada doisanos antes, 0 jovem precisou interromper seus estudos; no dia 12 de agosto de 1784, Joly apresentou-se a0 castelo deBuzancy, onde o marqués exercia sua prética, e desafiou terapeuta a adormect1o, Emboraomarqués tenha obtido sucesso, ao despertar continuava incrédulo: dormira, de fator O jovem dispés-se, no entanto, a comprovar o poder .WWW/VIVERMENTECEREBRO.COM.BR 3 | i q | a EXTRACAO DA PEDRA DA LOUCURA OU UMA OPERACAO NA CABECA, de Pieter Brueghel (ca. 1515-1569). A extragdo da peda nao passava de uma parabola: acura era obra da sugestao magnético de Puységur. Deixou-se amarrarem uma cadeira, preso por intimeras cordas, o marqués adormeceu-o, intimou-o a desprender-se ¢, quando foi liberado, pedi The que atestasse 0 fato por escrito. Uma tarde, sob estado sonambiilico, Joly declarou que tinha "na cabega um abscesso de humor branco’ e que ele deveria “Softer para expulsé-lo”, “Se descer pela garganta acrescentou, vou morrer, mas se for pelo nariz estou curado,” "O abscesso saird pelo nariz’, assegurou finalmente antes de se deixar amarrar& cadeira,esperando que o banulho ea dor de sua liberacao o despertassem, © marques mais uma vez triunfou e, na mesta noite, Joly anunciou a data de sua cura No dia previsto, em sua casa, ¢ portanto "fora de quad" signo supremo de resisténcia, 0 paciente teve uma crise cconvulsiva, Puységur transformou a crise em sonambulismo «fez 0 jovem beber um copo de agua, Entao, liberado de seu “humor branco”, Joly recuperox sua acuidade actstica, Este tratamento, que evoca as curas xamanicas, assemelha-se a um psicodrama no qual é tramado um jogo de submissio-resisténcia do paciente em relacao 20 terapeuta € no qual a crise convulsiva, interpretada como mudanga patolégica, conseqiiéncia deum erro do terapeuta deve ser evitada. "Os doentes, conservando nesse estado [sonambrilico] seu juizo e sua razio, [...] perceberiam rapidamente que podem ser alvo de mas intengdes, que sua saiide com isso sofreria, e despertariam imediatamente’ esclarece Puységur. Assim, € 0 paciente quem determina o que se passa durante as sess6cs. Esse controle do desenrolar do tratamento, no qual o magnetizador nao faz mais que VIVER MENTE& CEREBRO devolver:Ihe seu préprio saber, anuncia a psicandlise, tal como se apresentaré a Joseph Brauer e a seu amigo ¢ discipulo Sigmund Freud por volta de 1880. Quando Joly avisou que corria risco dde morrer, acrescentou que a posstvel ‘morte, que esperava como fato consu- mado, “evitava-lhe morte certa ~ que viria a ocorrer seis meses mais tarde ccontudo, quando seu caso se agravou, escreveu: "A doenca é agora maior do que quando chega [...] O magnetis- mo animal nao apenas cura a doenga, ele provoca as doengas das quais pos- suimos 0 germe, € por esse caminho cura-as em seu proprio principio". Joly sofreu entdo uma regressio im- portante: catalepsia (letargia), crises a cada ts horas, vocabulério reduz do a poucas palavras, como beber, comer, quente, frio, O préprio jovem explicou a regressao: na infancia, qua- se tivera a lingua cortada, o que 0 deixou mudo duran- te algum tempo. Repetia, entdo, os traumatismos vivi dos nos primeiros anos de vida. O fim de seu tratamento foi marcado pela “liquidacio” da relacdo estabelecida ‘com o terapeuta. Era cada vez mais diffcil magnetiza: lo ¢, cessando suas crises convulsivas, terminow por desafiar Puységur para uma corrida. Vencendo-o, o jovem selou sua cura. ‘Depois desa espécie de morte simbélica do pai, poderé voltara Paris para retomar seus estudos’, firrou. psicanalita René Roussillon, Entretanto, Puységur, como os terapeutas da aurora do século XIX, no compreende de fato a dimensdo psiquica dacura de Joly mesmo quando este espontaneamente evoca a severa educagio que recebeu em famfia, ou relata um sonho repetitive em que Ihe cortamacabeca Todosesses elementos so anotadosem seu didrio de tratamento, mas nio sabe o que fazer com eles. Ainda é dificil, para o saber médico, isolar PRIMEIRA PAGINA de ‘A Interpretacdo dos Sonhos, Liepzig e Viena, 1900. Freud considerava este trabalho como o mais importante, tendo the dedicado interesse especial bac. Cont, Wao 0 s RETRATO DE FRANZ FRIEDRICH ANTON MESMER (1734-1815), médico, austriaco e fundadar do “mesmerismo” ou hipnotismo 2 a dimensdo psiquica dos casos clinicos tratados, $6 a lenta progressao da anatomia patol6gica permitirdlocalizar 0 caréter no somético (mas objetivo) dos distirbios. Puységus,contudo, esti no caminho certo. Ao interrogar 0 menino a respeito da causa de suas cses de raiva convulsiva, ele anota “Parece que esta crianga vive moral- mente de reminiscncias' O MAGNETIZADOR-ESPELHO ‘Omarqués de Puységur exercia seu magnetismo no campo, emum castelo; seu akuno Joseph Deleuze o praticaré na cidade, adaptando seu método aos limites inerentes a0 novo cenério. Suas obras, Histéia etica do magntisno anal (1813) ¢ Instrugées prdticas sobre 0 ‘magneto aninal (1825) mostram como, com o cuidado de organizacio € otimizagio das sessbes, ele padroniza os dadlos espago-temporais da situagio, A fim de moderar a exploséo das crises favorecer a ago do fluido magnético, ‘no qual ele cré mais que na eficécia de sua ago pessoal, institui sessBes periédicas: uma hora no inicio, depois trés quartos de hora, até aproximar-se do ritmo biolégico natural. Ess ritualizagio do quadro, por economia psiquica ou para 0 conforto do clinico, deve reforgar a inibig30 motora ¢ sensorial que acompanha o estado sonambilico. Econvém, antes demais nada, evitar aos dois protagonistas tudo que distraia a atengio, aumentando assim osentimento, de seguranca ~ de fabilidade — da situagao. O sonimbulo senta-se diante do magnetizador, ligeiramente abaixo dele, com os joelhos entre os do terapeuta. Os polegares de cada um sao colocados um contra 0 outro durante alguns minutos, o magnetizador rmantém 05 olhos fixos no sonambulo, até que o calor de seus dedos se iguale. Depois, o magnetizador afasta as ios, coloca-as sobre os ombros do paciente, desce 20 longo de seus bragos ¢ de seu corpo, até os pés. Quando deseja um efeito calmante, os “passes magnéticos" s30 efetuados a pouca distancia do corpo, mas sem tocé-l. O magnetizador procura em seguida a sede do thal, “partindo do centro para a periferia’, explica Deleuze. “Acumule ¢ concentre 0 magnetismo sobre a parte dolorida, depois estenda as extremidades’, prossegue. O. fluido drena com ele os “humores" e outras causas do mal «em direcio 3s extremidades do corpo, por onde poderao escapar, Deleuze afirma que’“as doengas crénicas[...]tém freqiientemente como causa pesares secretos, dores morais, sentimentos oprimidos’ ESPECIAL FREUD IMESMER APLICA SEU CELEBRE TRATAMENTO DAS DOENCAS nervosas em sua moradia parsiense, entre 1778 ¢ 1784, Reine vétios pacientes em torno de uma cuba e “magnetiza-os” em conjunto: da cuba coberta saem virias barras de ferro que concluzem fluido agniético de Mesmer aos doentes. Em 1784, Mesmer delxa Paris, para escapar 3s crticas de seus detratores Prevenindo as diividas que o ritual suscitaré, 0 rmagnetizador multiplica as precaucBes morais, combatendo assim os fantasmas amorosos que poderiam atingir os dois protagonistas, A presenca de terceiros, testemunhos sociais escolhidos para que nao sejam fonte de excitacio, faz parte do quadro mudo do tratamento. Um contrato tacito instaura-se entre 0 paciente ¢ o magnetizador, e qualquer transgressio € assinalada pelo aparecimento de crises convulsivas ou pela incoeréncia do discurso. Essas reagdes terapéuticas negativas indicam que o paciente mantém-se vigilante: ele supervisiona o tratamento, impondo, se necessério, seu veto. As diretivas de Deleuze sio precisas: "Evite questionat 0s segredos do son’imbulo quando nao € evidentemente itil para ele que sejam conhecidos (...} Ouca-o sem agradecer-he, sem Ihe fazer nenhum clogio" ¢ atingida a cura, arelacaa deve serinterrompida, qualquer prolongamento pode ser nocivo ao sonambulo. (O magnetizador, em disponibilidade e, partirda troca de olhares, em concentracio “flutuante’, lanca e dirige para fora dele o fluido vital. Por sua aptidao & simpatia e 2 identificagio, ele percebe as zonas sofredoras do corpo com ajuda dos indiciosvisuais ou tateisrecebidos do paciente, \WWW-VIVERMENTECEREBRO.COM BR O DEFENDER QUE O MAGNETIZADOR DEVOLVE AO PACIENTE SEU PROPRIO SABER, PUYSEGUR ANUNCIA A PSICANALISE ‘que indicam “o estado das descargas fluiicas" que emanam dessas zonas. O magnetizador néo € geralmente afetado por esses humores assim revelados, mas, observa Deleuze, antigos sonambulos transformados em magnetizadores podem ainda, por simpatia, “experimentar as dores do doente, as vezes de modo tao vivo que as sentem mesmo depois das sessbes’ Se o magnetizador serve de espelho 20 paciente, seu corpo 6, reciprocamente, uma espécie de duplo do corpo magnetizado, o que pode trazer problema se ele se esquecer de seu papel de espelho Mas Deleuze ndo consegue compreender a contratrans- feréncia que provoca ao fazer-se de espelho do outro: © tmagnetizador nao pode ser um espelho ideal, puramente refletor, a menos que conheca a si mesmo perfeitamente Fazendo do sono o cere de sua terapéutica, o abade Faria (1756-1819) pouco a pouco distingue o psiquismo do invélucro corporal, até entao visto como a fonte de todo © mal, Abrindo caminho para uma reflexao sobre a influéncia sugestiva da linguagem, da palavra do terapeuta, € ele © precursor da psicoterapia verbal, ainda que sew método inclua as massagens terapeuticas eo relaxamento ‘Além disso, o abade evidencia as propriedades da anestesia VIVER MENTE&CEREBRO u AIMPORTANCIA DO TOQUE “0 que ha de mais profundo no homem & a pele”, escreverd Paul Valéry (1871-1945). Coloque a mao a alguma distancia da fronte de um cego, ele indicara sua posicao, mesmo se.estiver afastada 50 cm. Irradiar 0 calor de sua mao é tocar a distancia; inti falarce um fluido ou cde misteriosa energia,tratase de um fenomeno elementar mensuravel. Mesmo quando nao ha contato entre 0 paciente © 0 magnetizador, Deleuze utiliza o termo. “toque”, evocando a funcao tranquilizadora do “pele com | pele” © a importancia da identificacao afetiva, materializada pela igualizacao do calor das maos. O. sonambulo, ausentando-se do mundo para estar em ‘contato apenas com o hipnotizador, torna-se dependente ‘daquele que para ele é tudo. Alguns anos mais tarde, 0 doutor Ligbeault também insistira sobre a importancia do ‘ato na relacao terapéutica. Joseph Breuer e, depois dele, Sigmund Freud, utilizarao 0 toque para suplantar as resistencias do paciente: colocam a mao sobre atesta do doente e afirmam que ele pensa em algo. THE HYPNOTIST An eching by Damier. ‘O HIPNOTIZADOR. Gravura hist6rica de um hipnotizador induzindo mulher ao transe por meio da movimentacao de suas mios diante do rosto dela, Trabalho de data, desconhecida, de autoria de Honoré Daurier (6c. X1X) sob sono induzido, muito antes do professor Azam, que retomarda pratica em 1856. Tendo vivido em Goa, na india, até os 15 anos, profundamente marcado pela cultura do extremo Oriente, 0 abade Faria inscreve-se na tradiglo tcrapéutica de Esculgpio e de Quiton. Seu quadro de referéncia € 0 sono, mas um sono que qualifica como "Iicido", 0 que torna initil o fluido magnético: "No posso canceber como a espécie humana foi to bizarraa ponto de ir buscaras causas desse fendmeno fem uma cuba, em uma vontade exterior, em um fluido magnético, em um calor animal e em mil outras cextravagancias desse género, se esta espécie de sono é comum a toda natureza humana pelos sonhos’. Assim, os procedimentos relativos ao adormecimento nao sio mais meios de transferir um fluido, mas um modo de liberar a capacidade autoterapéutica do "Sono liicido". Mas ele ndo desmaterializa completamente o quadro da acio: segundo sua teoria, os pontos de massificaggo, de fixagao, de enquistamento so indicados ao terapeuta pela espessura ou pela debilidade do sangue que circula no corpo. Confortavelmente instalado em seu assento, eni!um cémodo calmo, o concentrador diz: ‘Durma’, ou mostra, a certa distancia, sua mio aberta, recomendando a0 paciente que olhe para ea fixamente, sem desviaros olhos, sem reter o piscar das pélpebras. Se os olhos néo piscam, ‘CARICATURA DE UM ASNO CURANDO uma muiher com seu “dedo magico”, por meio do magnetismo animal proposto por Franz Anton Mesmer ESPECIAL FREUD i i ¢ convém ajustar a distancia da mao para mudar a curvatura do cristalino ¢, se essas aproximagées especulares ainda no bastam, 0 “toque” da mio toma-se necessério. E justifica: "Isto visa apenas atrai, pelo contato, a atengéo do paciente,inteiramente distante, nessa situagao, de tudo que o cerca’. O sono estabelece-se. E tudo converge para 1 criagio de um "buqué de sonhos", em substituigao & ‘cuba de Mesmer". Por que os sonhos tém tanta importancia, ¢ de qual emanacio profunda sao eles o signo manifesto? Segundo certas teorias religiosas da época a respeito do poder do pensamento, a alma, no estando submetida as caracteristicas de nosso invélucro corporal, € dotada de uma faculdade de percepcio imediata das realidades presentes e passadas, nomeadas ‘intuigdo pura’. Todavia, essa intuigo pura ndo pode ser apreendida seno com a ajuda da “intuicdo mista", segunda forma de intuigdo que busca a matéria de sua figuragao na meméria e na sensorialidade. ‘A intuigo mista exprime-se principalmente na arquite- sura dos sonhos e dos devaneios. Em troca, se apenas a intuigio pura é capaz de aprender o futuro ou 0 pasado, capaz de apoderarse, além do visivel edo sensivel, dos indicios do male das causas do sofrimento, ela s6 pode dar a conhecer sua verdade tomando de empréstimo uma for. ma figurativa, utilizando a sensorialidade, isto é, utilizando 2 intuigo mista. As impresses sensoriais so memoriza- dias sob a forma de imagens internas e conservadas no flui- do sangiifneo mesclado ao fluido nervoso, o que explica 0 papel que desempenha nas doencas. A fluidificacao do san- ‘gue durante 0 sono licido liberaria esses vestigio, que a intui¢Go pura transmitiria & intuigao mista. O magnetiza- dor nao conhece a verdade da intuigao pura, mas discere, através das ilusdes dos sonhos, a verdade dita a despeito de sua propria vontade. Ele nao € mais o operador do sonam- bulismo, no possui mais poder magnético, mas auxilia 0 sonmbulo, com sua presenca e suas palavras, a desenvol ver potencialidades ignoradas. A teoria metafisica que sustenta essa pritica ancora-se na magia do verbo, na forca poderosa da palavra e em uma ‘confusa construgio em camadas do aparelho da alma. Seré preciso esperar 0 doutor Liébeault para ver surgir um verdadeiro estudo psicolégico da hipnose. °O VELHO LIEBEAULT” Nascido em Favitres em 1823 de uma familia de camponeses da Lorena, no norte da Franca, Ambroise Liebeault, depois de uma passagem pelo semindrio, segue «studos de medicina em Estrasburgo, onde se interessa pelo ‘magnetismo. Liébeault propée & sua clientela que escolha ‘entre a medicina “ofical’, pela qual cobra honorérios, ou ‘quilo que se chama agora a hipnose sono provocado € WWWVIVERMENTECEREBRO.COM.BR ‘A ARVORE DE PUYSEGUR, POR LAURENT GSELL (1890). Puységur trocou a cuba de Mesmer por uma drvore, oolm ide Byzancy. “Nao ha uma s6 folha que nao comunique saiide",escreve. Os cientstas condenaram 0 magnetismo, ‘que renasce sob a forma do sonambullsme artificial que, ‘mascarando a crise, ludibria a censura socal. O marquis de Puységur, descobrindo 0 “sonambullsm induzido” e ‘buscando preservar a relacio de confianga entre magnetizador e magnetizado, deu um grande passo em direcio & psicanilise modema AHIPNOSE SEGUNDO FARIA: MAGNETISMO E INTUICAO Faria situa-se na confluéncia de duas correntes. R. Roussillon explica, em seu livro Da cuba de Mesmer 4 “cuba” de S. Freud (1992): “{Faria] mantém a ‘concentraciio mental’ no quadro das técnicas de tratamento, mas tentando, a0 mesmo tempo, conectar, com 0 sonho e os enigmas do mundo interno, as pontes avangadas da eficécia terapeéutica. ‘A capacidade do pensamento de Faria em manter reunidos 0 campo terapéutico e sua conexao com: aquilo que chama intuigio é certamente a forca principal da mutagao teérica que propde da descontrugie de magnetismo animal que introduz”.. VIVER MENTE& CEREBRO sugestio hipndtica —, que oferece gratuitamente aos pacientes. Em 1866, publica Do sono e dos esados andlagos Consideados sbretudo do pono de vista da ago do moral sobre 0 Joico, mas 0 livro € qualificado de arcaico pelos meios médicos. Foi o médico da Lorena, contudo, quem liberowa hipnose de todos os artficios formais ou teGricos ites € introduziu os conceitos de vigilincia ¢ de relagoes inter € intrasubjetivas, desconstruindo radicalmente © quadro do sonambulismo: contenta-se em sugerir aos doentes 0 desaparecimento dos sintomas que apresentam. No livro, Ligbeault refere-se a James Braid, médico escocés que em 1842, durante oreinado da rainha Vitoria, ppublicou um panfleto, A props da obra de Sate domesmerisno, em resposta ao sermao do pastoranglicano Hugh MacNeile acusando 0 mesmerismo de ser obra do demdnio e seus partidérios gente desonesta. O texto contém as primeiras pesquisas do médico escocés sobre a hipnose, termo que cle introduz para descrever os fenémenos magnéticos observados no magnetizado. Segundo Braid, tais fené: menos, inegaveis, dependem de um estado fisiol6gico part callar do cérebro ¢ da medula espinhal. A hipnose tomna-se um termo médico oficial, ea nogio de idéias dominantes’, que governam o espirto € controlam o corpo, entraem cena, Fixemos de modo decidido algumas idéias no espitito do paciente que nao participa voluntaria- mente, ¢ elas agirdo como estimulantes ou sedativos’, escreve Braid, Um fumante, por exemplo, recebendo 2 idéia de que “o tabaco me desagrads’ debard de fumar Ligbeault inspira-se também no "modelo criginario da hipnose’ proposto pelo general Noizet em seu Monéia sobre sonanbulimno €0 magnetsno arial (1854), Noizet compara o hipnotizador a uma mic nutrindo seu filho: "Uma mie que doxme ao lado do bergo do filho, mesmo durante 0 sono, no deixa de velar a crianca,e, embora sermantenha insensivel azonas muito maisativas, escutaomenor ruido vindo de seu filho”. Assim, Ligbeault recomenda que se ponha 0 paciente “em condigSes que favorecam © sono comum': modo escuro € temperatura amena, que permita isolamento parcial dos sentidos. Assim 0 "ALMIPNOSE de Charles jacques, 1843 VIVER MENTESICEREBRO paciente concentra sua atengo em um _pensamento "no hd necessidade de anunciaro sono, qualquer que sea a idéia que se apresente ao sujeito: contanto que sua atengio af se concentre fixamente, 0 estado de sonambulismo sempre ‘ocorrerd”. A fascinacio dos olhares pc em ato o fantasma ‘de serem um (n6s somos tudo um para o outro). Adormecido, © sujeito nfo esquece aquele que 0 adormeceu, a nao ser aparentemente: “Quando os sonémbulos dizem que no pensam em nada, de fato eles pensam naquele que © adormeceu’, nota Freud jem 1895, a propésitodosiléncio dos pacientes durante as sessbes de ands. ¥E quando isolamento esti em seuauge que a sugestio apresenta mais possibilidades de sucesso”, prossegue Liebeault Assugestses visam modificarofluxo da atencéo, desviar 0 sujeito de certas idéias patogenicas ¢ concentré Jo em outras: a vigiléncia flutuante, "acumulando-se & rmaneita de um fluido, pode exageraraltemadamente aacio propria a cada Grgio". Mas do fluido magnético, sangiinco, nervoso,avigilancia fuida, ainda perdura o modelo liquid! Na relacio hipnética,o doente ‘guarda em sua mente a BAAREGBOPERAORRAGCR B®BBMERBREBSROESSASET Iembranga daquele que o adormece, € volta sua atengao e seus sentidos a servigo desta idéia, sem transigo do sono 2 vigtia, da mesma forma que 0 sono usual prossegue 0 trabalho intelectual iniciado antes de dormir’. O responsdvel pelo adormecimento age indiretamente sobre o sondmbulo, continuando em contato com ele por meio do toque. Liébeault mostra, com feito, que o toque ocupa um lugar especial na sensorialidade. O tato é investido de vigilancia residual € permite aquele que produz o ador: rmecimento continuar em contato com © paciente, mesmo se este esté mer gulhado em sono profundo. E possivel demonstrar o que Freud deve aquele ao qual se refere como 0 ‘velho Liébeaul’: para este, a atengio retira-se da conscigncia para “investiros pensamentos latentes'; 0 sono ‘abriga uma intligéncia, um pensamento que pode ultrapassar o pensamento da vita’, que permite entender racionalmente os sonhos adivinhatérios cu preditivos. Sono e sono nao sio, para Li¢beault, “baixas de guarda do pensamento, Ao contrério, 0 pensamento, liberado da tarefa de se manter também na sensorialidade, freqiientemente ocupado pela mulkiplicidade de tarefas que deve cumprir, pode continuar seu trabalho de maneira muito eficaz no sono e no sonho’. O estudo dos sonhos-visio oriundos da situaglo terapeutica da hipnose sonambslica permite aproximarse da natureza do sonho. Nada pode ser representado no sonho que j4 nfo tenha constitu(do, anteriormente, uma percepcao: “O que nao estd nos sentidos nao pode existir na inteligéncia’, explica Liébeault. “As Jembrangas rememoradas durante 0 sono hicido existem também no estado de vila, mas sem que haja atencio acamulada que hes dé vivacidade." Osartistasconservam esta ‘capacidade no estado de vigla sob a forma de semi-alucinacao rio patol6gica, “Loucura, criacSo artistica, sonho, pertencem ‘3 mesma familia psiquica, todos os trés sendo conectados is ‘experitncia do pasado’, conclui Ligbeault Charlatéo para alguns, ‘papalvo que nem cobrar as cconsultas cobra” para outros, o “velho Liébeault” nunca causa indiferenga. Mas se tanto izonizam o velhote, € muitas vezes para melhor Ihe roubarem as idéias... As ‘opinides em torno do médico atraem a atengio de Hippolyte Berheim, professor na Faculdade de Medicina de Nancy. Em 1882, Bernheim visita seu colega hipnotizador c, depois de té-lo ouvido e visto trabalhar, declara-se publicamente um seu admirador, seu discipulo \WWW.VIVERMENTECERESRO.COM.BR (© ABADE FARIA (1756-1819) atribuia © sonambulismo induzido a fatores psiquicos. Pedia ao paclente que fechasse os olhos, pensasse no sono, depois ordenava: “Durmat’. Em seguida, o paciente obedecia as suas ordens. O despertar também era comandado pela voz € amigo dedicado. Convertido & hipnose, introduz os métodos de Ligbeault no hospital universitério. em que trabalha e consagra sua vida ao estudo dos estados de consciéncia hipndticos. Ele publica, 1884, um artigo no quel ‘a grande histeria' 0 “grande hipnotismo' de Charcot sio apresentados como fendmenos de cultura suscitados }= pela sugestao médica’, JE Porta-voz da Escola de Nancy, reconhecida no meio cientifico intemacional, Bernheim toma-se apdstolo inconteste da stugest2o pelo sono induzido, que ele chama de ‘psicoterapia’. Nesse inicio do século XX, €0 grande terapeuta, Segundo o ‘Tratewextopsiguice, publicado por Freud em 1890 depois de sua viagem Lorena (onde Bemheim o recebeu'eo descreveu como um ‘adorével rapaz"), 0 “perspicaz”clinico de Nancy é ‘quem teria dado a Freud a idéia desse tratamento da alma, assim como um vivo interesse pela magia das palavras. Bernheim desempenhou, portanto, um importante papel nos projets de Freud desce perfodo. Sem daivida, uma leitura atenta do livro de Liébeault mostra que ele antecipou indimeros desenvolvimentos teGricos de Freud em que o infantil eo passado reminiscente so vistos como causas da doenga. O pensamento do velho médico da Lorena teria profeticamente iluminado os espititos mais kicidos da época Paralelamente & Escola de Nancy —em geral oposta & escola parisiense de Jean Martin Charcot, dita “Escola da Salpétritre’, que cultiva 0 “adestramento” hipnotico — 0 filésofo, matemético rigoroso € légico Joseph Delboeuf, nascido em Litge, em 1831, professor de psicologia expe- rimental em Gand ¢ estudioso das ilusdes de dptica, apaixona-se pela hipnose; sua interpretacdo do sonho interessard enormemente Freud. Que um fildsofo cientista se interesse por fenémenoos «que no encontram lugar na ciéncia académica, que um libertério — racionalista da melhor cepa ~ estude hipnotismo, um assunto para tolos au velhacos, € coisa que intriga, O interesse de Joseph Delboeut pela hipnose deve-se a um acaso: em 1850, entrando na universidade, VIVER MENTES&CEREBRO. 15

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