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CONCEITOS
DEFINIÇÃO
Neste tema, são abordadas a distinção entre linguagem verbal e linguagem não
verbal, as principais concepções de linguagem e as implicações dessas
concepções no uso da língua. Esses elementos são fundamentais para
compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da Língua Portuguesa.
PROPÓSITO
Este tema tem como propósito a compreensão da diferença entre linguagem verbal
e não verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos, e as
consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua.
OBJETIVOS
INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar em quantos anos estudou a Língua Portuguesa na
escola? Sabe a quantidade de regras gramaticais que tentou decorar ou de páginas
que escreveu nas aulas de redação?
Para muita gente, estudar Português é algo chato, relacionado à decoreba de regras
gramaticais ou à produção de textos com pouca conexão com o mundo real da
comunicação.
Se essa foi a sua experiência, já adiantamos que você é convidado a olhar a Língua
Portuguesa de outra forma. Caso sua relação com o idioma ao longo de vários anos
na escola tenha contribuído para melhorar o uso da nossa língua, aqui você vai
aprender ainda mais.
Vamos, então, começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre
nossa experiência com a Língua Portuguesa. O título do poema é Aula de Português
e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade.
Aula de Português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
REFLEXÃO
O signo representa algo que não está presente. A palavra mesa ou a imagem de
uma mesa não são propriamente o objeto que designamos como mesa. Os
signos são usados para designar ou significar alguma coisa.
Por outro lado, a música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que
pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como
linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como
linguagem da música, linguagem corporal, linguagem pictórica etc.
A distinção entre linguagem verbal e não verbal não deve levar você a concluir que
a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de
linguagem.
PELO VERBAL.
(PALOMO, 2001)
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem
verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração de linguagem verbal e não
verbal.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Com as tecnologias digitais e a Internet, essa integração entre linguagem verbal e
não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons
e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum
trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons.
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca
os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas e balança pernas e pés num
movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está
calma.
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que
permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na
palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos
de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal,
como é o caso da pintura e dos gestos.
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se
intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática.
MÓDULO 2
OBJETiVO: Reconhecer as três principais concepções de linguagem
MAS HÁ UM PROBLEMA.
esta concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem
funciona, pois há outros aspectos envolvidos na linguagem além da intenção de
exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está
errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de
compreender a linguagem.
LiNGUAGEM COMO iNSTRUMENTO
DE COMUNiCAÇÃO
Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo,
como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem
comunicadas.
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro,
precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a
comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social,
envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário
que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada
para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente
alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores
“interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’
desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a
sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito
maior. Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos
uma mãe e uma filha interagindo, em que a primeira faz referência ao
comportamento da segunda, com uma ordem direta. A reação da filha cria em nós,
observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos
remetem à própria relação familiar.
Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças,
despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e ações. Quando
consideramos as palavras de um juiz ao proferir a célebre frase “eu vos declaro
marido e mulher”, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que
expressão do pensamento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala
da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. Se um agente da lei,
dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está
simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não
é mesmo?
Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para
além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagem verbal e não
verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como
instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação
humana.
As três concepções da linguagem estão resumidas no quadro a seguir:
EXPRESSÃO DO
COMUNICAÇÃO INTERAÇÃO HUMANA
PENSAMENTO
A expressão nasce da
A expressão se constrói A expressão é também
necessidade de se
no interior da mente ação
comunicar
AS CONCEPÇÕES DE LiNGUAGEM
E SUAS iMPLiCAÇÕES NO USO DO PORTUGUÊS
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como
estas linguagens possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma,
passamos a perceber como a concepção da linguagem como interação pode nos
auxiliar nesta construção.
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e
nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro.
Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch em seu livro A interação pela
linguagem sobre esse aspecto:
DURANTE SÉCULOS, A LiNGUAGEM FOi CONSiDERADA UM
iNSTRUMENTO PASSiVO DE COMUNiCAÇÃO, QUE PERMiTiA AO
[...]
SOCiAL.
(KOCH, 2003)
CORTESiA, OU SEJA,
CLAREZA E PRECiSÃO
POLiDEZ E TOM ABERTURA AO
NO QUE QUEREMOS
CORDiAL NA DiÁLOGO
COMUNiCAR
LiNGUAGEM
SUSTENTAÇÃO DE UM
POSiCiONAMENTO USO DE RECURSOS
SEM DESMERECER A PERSUASiVOS
OPiNiÃO DO OUTRO
No meio de uma discussão, alguém diz o seguinte para outra pessoa: “Sua opinião
está completamente errada e só vai piorar as coisas”.
Por isso, ao estudar sobre a linguagem é preciso compreender que não basta
escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas
qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a
interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante
lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser
desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou
usando linguagem antissocial e inadequada.
CONSiDERAÇÕES FiNAiS
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a Língua
Portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e
nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os
recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde vivenciar parte desse conhecimento.
Use o que você aprendeu para novas experiências com a Língua Portuguesa.
AUTOR
REFERÊNCiAS
KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003.