Você está na página 1de 19

LINGUAGEM E LÍNGUA

CONCEITOS

DEFINIÇÃO

Neste tema, são abordadas a distinção entre linguagem verbal e linguagem não
verbal, as principais concepções de linguagem e as implicações dessas
concepções no uso da língua. Esses elementos são fundamentais para
compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da Língua Portuguesa.

PROPÓSITO

Este tema tem como propósito a compreensão da diferença entre linguagem verbal
e não verbal, as concepções de linguagem que geralmente adotamos, e as
consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua.

OBJETIVOS

● MÓDULO 1: Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal;

● MÓDULO 2: Reconhecer as três principais concepções de linguagem;

● MÓDULO 3: Identificar implicações de diferentes concepções de


linguagem no uso do português.
MÓDULO 1
OBJETiVO: Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal

INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar em quantos anos estudou a Língua Portuguesa na
escola? Sabe a quantidade de regras gramaticais que tentou decorar ou de páginas
que escreveu nas aulas de redação?

Para muita gente, estudar Português é algo chato, relacionado à decoreba de regras
gramaticais ou à produção de textos com pouca conexão com o mundo real da
comunicação.

Se essa foi a sua experiência, já adiantamos que você é convidado a olhar a Língua
Portuguesa de outra forma. Caso sua relação com o idioma ao longo de vários anos
na escola tenha contribuído para melhorar o uso da nossa língua, aqui você vai
aprender ainda mais.

Vamos, então, começar com a leitura de um poema para pensar um pouco sobre
nossa experiência com a Língua Portuguesa. O título do poema é Aula de Português
e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade.

Aula de Português

Carlos Drummond de Andrade

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,


e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,


em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

REFLEXÃO

O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do dia a dia,


que não precisa ser aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou
dos livros, aprendida na sala de aula. No último verso, isso é resumido na frase
“O português são dois”.

O PORTUGUÊS QUE VOCÊ APRENDEU NA ESCOLA AiNDA É UM

MiSTÉRiO, ALGO DiSTANTE?

Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e do


cotidiano), precisamos entender que há diversos tipos de linguagem. Vamos
conhecê-los para compreender por que uma língua como o português é uma das
linguagens que dispomos para a comunicação.

LiNGUAGEM VERBAL E LiNGUAGEM NÃO VERBAL


O ser humano utiliza diversos tipos de linguagem para se comunicar. A linguagem
constitui todos os sistemas de sinais ou signos convencionais que nos permite a
comunicação.

MAS O QUE SÃO SiGNOS?

Os signos são os sinais que os seres humanos produzem quando se


comunicam. Ao falarmos ou escrevermos, usamos o signo linguístico. Ao
desenharmos um objeto, usamos um signo imagético. Assim, “ao produzir
signos, os seres humanos estão produzindo a própria vida, como eles
representam seus pensamentos, exercem seu poder, elaboram sua cultura e sua
identidade etc.” (ORLANDI, 2009).

O signo representa algo que não está presente. A palavra mesa ou a imagem de
uma mesa não são propriamente o objeto que designamos como mesa. Os
signos são usados para designar ou significar alguma coisa.

Ficou complexo? Veja um exemplo.


O pintor belga René Magritte tem um famoso quadro, que faz parte da série A
traição das imagens, em que sugere o caráter representativo dos signos. O
quadro Isto não é um cachimbo (Ceci n'est pas une pipe) nos ajuda a
compreender que a linguagem representa o que percebemos da realidade, ou
seja, a imagem de um cachimbo não é o próprio cachimbo. Por razões óbvias,
não dá para usar o cachimbo que foi pintado.

Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes


tipos de linguagem. A linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não
verbal.

● A linguagem verbal se vale da palavra, seja escrita ou falada, como ocorre


com o texto de um livro ou em um bate-papo;

● A linguagem não verbal é aquela que utiliza um tipo de código diferente


da palavra. Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal.
O semáforo é outro exemplo de linguagem não verbal.
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que
utiliza a palavra, perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única
linguagem de que dispomos.

Assim, a língua é uma linguagem humana específica, baseada na palavra. Língua e


linguagem verbal são termos correspondentes.

Por outro lado, a música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que
pertencem a outro tipo de linguagem humana, já denominada aqui como
linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões como
linguagem da música, linguagem corporal, linguagem pictórica etc.

A distinção entre linguagem verbal e não verbal não deve levar você a concluir que
a comunicação acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de
linguagem.

QUE OUTRO SER TEM GESTOS SiGNiFiCATiVOS, PiNTA,


FOTOGRAFA, FAZ CiNEMA? COMPREENDE-SE, ASSiM, QUE O

HOMEM E A LiNGUAGEM SE RELACiONAM DE FORMA A NÃO SE

CONCEBEREM UM SEM O OUTRO E QUE A LiNGUAGEM ESTÁ

iNDiSSOLUVELMENTE ASSOCiADA COM A ATiViDADE MENTAL

HUMANA, A QUAL, ABSOLUTAMENTE, NÃO SE MANiFESTA SÓ

PELO VERBAL.

(PALOMO, 2001)

Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem
verbal (a fala) e da linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração de linguagem verbal e não
verbal.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Com as tecnologias digitais e a Internet, essa integração entre linguagem verbal e
não verbal fica muito evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons
e outros recursos para interagir nas redes sociais. É cada vez mais comum
trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou emoticons.

A versão original deste conteúdo didático é um exemplo da integração entre


diferentes tipos de linguagem, articulando texto escrito com vídeo, podcast,
imagens e símbolos. Tudo isso é possível por causa de outra integração:
convergência entre diferentes mídias formando o que tem sido chamado de
hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador
estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, se
fala de uma linguagem hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de
linguagem verbal e não verbal.

É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de


comunicação. Mas você deve reconhecer que a linguagem não verbal está
associada intimamente a nossas atividades e possui também sua relevância.
Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto escrito também
dizem muito e, às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos.

Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca
os olhos num ritmo acelerado, tem as mãos trêmulas e balança pernas e pés num
movimento frenético. Dificilmente essa pessoa vai convencer o outro de que está
calma.

ASSiM, AO FAZERMOS A DiSTiNÇÃO ENTRE LiNGUAGEM VERBAL E

NÃO VERBAL NÃO QUEREMOS SUGERiR QUE APENAS UMA DELAS

SEJA iMPORTANTE E PRECiSE SER CUiDADA.

Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que
permitem a comunicação entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na
palavra escrita ou oral, ele é identificado como linguagem verbal. Os demais tipos
de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem não verbal,
como é o caso da pintura e dos gestos.

A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se
intensificou com as tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática.
MÓDULO 2
OBJETiVO: Reconhecer as três principais concepções de linguagem

Depois de fazer a distinção entre linguagem verbal e não verbal, é hora de


prosseguir e apresentar as três principais concepções de linguagem. Veja quais são
elas a seguir.

LiNGUAGEM COMO EXPRESSÃO


DO PENSAMENTO

De acordo com essa concepção, a linguagem corresponde a uma expressão


que se constrói no interior da mente e tem, na exteriorização, apenas uma
tradução. A linguagem é entendida como uma forma de expressar
pensamentos, sentimentos, intenções, vontades, ordens, pedidos etc.

Nesta forma de entender a linguagem, a intenção de expressar alguma coisa é um


ato monológico. Isso quer dizer que a enunciação ou o ato de fala (o modo como
nos expressamos) está centrado na pessoa que se expressa por meio da
linguagem, sem dar tanta importância ao outro e às circunstâncias sociais nas
quais a enunciação acontece.

O USO DA LÍNGUA É ViSTO COMO ALGO QUE SE LiMiTA A QUEM

FALA OU ESCREVE. NÃO HÁ PREOCUPAÇÃO SOBRE COMO O OUTRO

VAi LER OU OUViR NOSSA MENSAGEM.


Assim, a exteriorização do “pensamento por meio de uma linguagem articulada e
organizada” depende da capacidade de organizar, de maneira lógica, esse mesmo
pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21).

Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem


conforme a gramática normativa) depende das regras às quais o pensamento
lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as pessoas não se expressam bem ou
não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão pensando
corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está
pensando seria a internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso.

MAS HÁ UM PROBLEMA.

esta concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem
funciona, pois há outros aspectos envolvidos na linguagem além da intenção de
exteriorizar o que pensamos. Não é o caso de afirmar que a concepção está
errada. Precisamos avançar e verificar outras formas complementares de
compreender a linguagem.
LiNGUAGEM COMO iNSTRUMENTO
DE COMUNiCAÇÃO

A linguagem deve ser compreendida além de sua função de expressar o que


pensamos ou sentimos, pois, ao nos expressarmos, nos dirigimos a alguém, ou
seja, comunicamos algum tipo de mensagem para uma ou mais pessoas.

Por isso, há outra concepção de linguagem que compreende a língua, por exemplo,
como um código por meio do qual elaboramos nossas mensagens para serem
comunicadas.

A língua, então, é tomada predominantemente como um código, que deve ser


utilizado com eficiência, ou seja, deve tornar inteligível a mensagem que se quer
comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao objetivo da
comunicação.

Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro,
precisa ser conhecido ou dominado pelo nosso interlocutor para que a
comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria língua, “é um ato social,
envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário
que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada
para que a comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).

A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma


limitação. É uma concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente
para o funcionamento interno da língua ou de outra linguagem utilizada, deixando
de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto social e histórico.
Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem, que permite
avançar na compreensão da linguagem e seus usos.
LiNGUAGEM COMO LUGAR OU
EXPERiÊNCiA DE iNTERAÇÃO HUMANA

Nessa concepção, a língua é mais do que tradução e exteriorização do


pensamento e, também, vai além da transmissão de informação ou da
comunicação. Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, age, atua sobre o
interlocutor.

A linguagem é um “lugar de interação humana, de interação comunicativa pela


produção de efeitos de sentido entre interlocutores, em uma dada situação de
comunicação e em um contexto socio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 2003, p.
23).

Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente
alguma coisa, na verdade, ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores
“interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’
desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a
sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).

Para ilustrar melhor, veja um exemplo:

Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem


oral entre dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto.

No entanto, notamos que a interação social faz com que aquilo que é dito seja muito
maior. Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos
uma mãe e uma filha interagindo, em que a primeira faz referência ao
comportamento da segunda, com uma ordem direta. A reação da filha cria em nós,
observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e interações que nos
remetem à própria relação familiar.
Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças,
despertar sentimentos e paixões, desencadear processos e ações. Quando
consideramos as palavras de um juiz ao proferir a célebre frase “eu vos declaro
marido e mulher”, temos um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que
expressão do pensamento ou comunicação de uma informação. Nesse caso, a fala
da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico. Se um agente da lei,
dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não está
simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não
é mesmo?

O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social,


constituindo-se numa dimensão privilegiada do uso da língua. Para estar inserido
na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura
ao diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou
seja, o que falamos e escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao
longo da vida.

Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para
além da sua finalidade de comunicação e da divisão entre linguagem verbal e não
verbal. A linguagem pode ser concebida como expressão do pensamento, como
instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de interação
humana.
As três concepções da linguagem estão resumidas no quadro a seguir:

EXPRESSÃO DO
COMUNICAÇÃO INTERAÇÃO HUMANA
PENSAMENTO

Exteriorização do Meio objetivo para a Experiência de interação


pensamento comunicação humana

A expressão nasce da
A expressão se constrói A expressão é também
necessidade de se
no interior da mente ação
comunicar

Ato monológico, Troca de mensagens Privilegia o diálogo e a


individual entre emissor e receptor interatividade

Regras para a Valorização do contexto


Existência de códigos
organização lógica do dos usuários da língua e
para a eficiência da
pensamento: gramática adequação no uso da
comunicação
normativa língua

Para quem se fala, em


Preocupação com o
que situação e para que Preocupação com as
meio, o destinatário, a
se fala não são dimensões afetivas e
mensagem e a utilização
preocupações no uso da sociais
eficiente do código
língua
MÓDULO 3
OBJETiVO: Identificar implicações de diferentes concepções de
linguagem no uso do português

AS CONCEPÇÕES DE LiNGUAGEM
E SUAS iMPLiCAÇÕES NO USO DO PORTUGUÊS
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como
estas linguagens possuem um aspecto prático no uso cotidiano do idioma,
passamos a perceber como a concepção da linguagem como interação pode nos
auxiliar nesta construção.

Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e
nosso humor. O que falamos também provoca efeitos e reações no outro.

Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch em seu livro A interação pela
linguagem sobre esse aspecto:
DURANTE SÉCULOS, A LiNGUAGEM FOi CONSiDERADA UM
iNSTRUMENTO PASSiVO DE COMUNiCAÇÃO, QUE PERMiTiA AO

SER HUMANO APENAS DESCREVER O QUE PERCEBiA, SENTiA OU

PENSAVA. HOJE SE RECONHECE QUE, AO FALAR, O iNDiVÍDUO

NÃO SÓ DESCREVE O QUE OBSERVA, MAS ATUA NO MUNDO E

FAZ COM QUE CERTAS COiSAS ACONTEÇAM. POR MEiO DA

LiNGUAGEM, ELE TAMBÉM PODE MODiFiCAR SUAS RELAÇÕES

COM OS DEMAiS E DESENVOLVER SUA PRÓPRiA iDENTiDADE.

[...]

É PRECiSO PENSAR A LiNGUAGEM HUMANA COMO LUGAR DE


iNTERAÇÃO, DE CONSTiTUiÇÃO DAS iDENTiDADES, DE

REPRESENTAÇÃO DE PAPÉiS, DE NEGOCiAÇÃO DE SENTiDOS,

POR PALAVRAS, É PRECiSO ENCARAR A LiNGUAGEM NÃO

APENAS COMO REPRESENTAÇÃO DO MUNDO E DO

PENSAMENTO OU COMO iNSTRUMENTO DE COMUNiCAÇÃO,

MAS SiM, ACiMA DE TUDO, COMO FORMA DE iNTERAÇÃO

SOCiAL.

(KOCH, 2003)

QUAL É A iMPLiCAÇÃO DiSSO NO USO DA LÍNGUA


PORTUGUESA?
Quando entendemos que a linguagem é mais do que expressão ou espelho do
pensamento, que vai além de ser veículo de comunicação, devemos considerar
nossas intenções na produção dos textos e o impacto naqueles que vão ouvir ou
ler nossas palavras. Também devemos dar atenção ao contexto em que a
mensagem é produzida e às possíveis situações em que será recebida.
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos
podem ser desejáveis no seu uso:

CORTESiA, OU SEJA,
CLAREZA E PRECiSÃO
POLiDEZ E TOM ABERTURA AO
NO QUE QUEREMOS
CORDiAL NA DiÁLOGO
COMUNiCAR
LiNGUAGEM

SUSTENTAÇÃO DE UM
POSiCiONAMENTO USO DE RECURSOS
SEM DESMERECER A PERSUASiVOS
OPiNiÃO DO OUTRO

Veja mais um exemplo:

No meio de uma discussão, alguém diz o seguinte para outra pessoa: “Sua opinião
está completamente errada e só vai piorar as coisas”.

Se o autor dessa fala, além de expressar o que pensa e de comunicar sua


mensagem, estiver preocupado com as reações que pode produzir, poderia refazer
sua afirmação. Uma opção seria: Sua opinião provavelmente está equivocada e
pode trazer alguns problemas. Ou ainda: Tenho dificuldade de concordar com sua
opinião porque ela não parece ajudar a melhorar as coisas.

Caso o objetivo seja advertir ou chamar a atenção de alguém que recorrentemente


deixa de seguir alguma norma ou ordem de seu superior, as palavras serão mais
assertivas e o tom de voz mais firme, já que objetivo da mensagem ou o resultado
que se deseja produzir na outra pessoa é uma mudança de atitude e
comportamento.
SE QUEREMOS MANTER O DiÁLOGO E CONSTRUiR PONTES,
DEVEMOS CUiDAR DA MANEiRA COMO FALAMOS, ESCOLHENDO AS

PALAVRAS E O TOM MAiS APROPRiADO.

Por isso, ao estudar sobre a linguagem é preciso compreender que não basta
escrever e falar com correção gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas
qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral deve promover o diálogo, a
interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante
lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser
desclassificado ao escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou
usando linguagem antissocial e inadequada.

CONSiDERAÇÕES FiNAiS
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a Língua
Portuguesa na expressão do nosso pensamento, nas situações de comunicação e
nas interações com as pessoas, precisamos conhecer a língua e aproveitar os
recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde vivenciar parte desse conhecimento.
Use o que você aprendeu para novas experiências com a Língua Portuguesa.
AUTOR

Luís Cláudio Dallier Saldanha

REFERÊNCiAS

DA SILVA. Filosofia da linguagem (1) - Da Torre de Babel a Chomsky. Disponível


em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-da-linguagem-1-
da-torre-de-babel-a-chomsky.htm. Acesso em: 08 dez. 2019.

KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003.

ORLANDI, Eni P. O que é Linguística. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.

PALOMO, Sandra M. S. Linguagem e linguagens. In: Eccos Revista Científica. São


Paulo, UNINOVE, vol. 3, nº 2, dez. 2001.

PETTER, Margarida. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, José L. (org.).


Introdução à Linguística I. São Paulo: Contexto, 2003.

TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

TRIGUEIRO, Osvaldo. O estudo científico da comunicação: avanços teóricos e


metodológicos ensejados pela escola latino-americana. Pensamento
Comunicacional Latino Americano, v. 2, n. 2, jan.–mar., 2001.

VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita.


São Paulo: Martins Fontes, 1987.

Você também pode gostar