Onde vás pescar com ela, Que é tão bela, Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela? Colhe a vela, Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela... Mas cautela, Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela Só de vê-la, Ó pescador!
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela, Foge dela, Ó pescador!
GARRETT, Almeida. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos
textos. 29ª ed. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 253.
Tormento do Ideal
Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés da terra E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,
Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre:
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao por do sol e sobre o mar discorre.
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura, E encontro a imperfeição de quanto existe. Recebi o batismo dos poetas, E assentado entre as formas incompletas Para sempre fiquei pálido e triste.
QUENTAL, Antero. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 29ª ed. São Paulo: Cultrix, 2004. p. 348.